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DIREITO AMBIENTAL

PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS

Por Fernanda Evlaine


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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................ Error! Bookmark not defined.


2. ÁREAS FLORESTAIS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÓDIGO FLORESTAL ............................................ 5
3. GESTÃO DAS FLORESTAS PÚBLICAS – LEI 11.284/06 ......................................... Error! Bookmark not defined.
4. DISPOSITIVOS PARA O CICLOS DE LEGISLAÇÃO ................................................. Error! Bookmark not defined.
5. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA .........................................................................................................................25
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ATUALIZADO EM 30/11/20171

PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

A Lei 12.651/12, inicialmente denominada “Novo Código Florestal”, teve sua ementa alterada,
suprimindo a menção ao termo “Código”. Assim, a nova lei não se denomina Código, pois o texto não é
um conjunto sistematizado de normas relativas às florestas. Na verdade, a legislação sobre o tema se
encontra dispersa e a abrangência da Lei 12.651/12 é limitada.

Abrangência da Lei 12.651/12

O antigo Código Florestal (1934) disciplinava todas as modalidades de florestas brasileiras,


com ênfase na produção de madeira. Tratava dos monumentos naturais, florestas protetoras, florestas
de rendimentos (produção de madeira), florestas remanescentes (as demais).

O de 1965 manteve basicamente os institutos do anterior, mas sua abrangência diminuiu com
o tempo, devido à criação de leis especiais que tiraram aos poucos seu âmbito de atuação, como a Lei
das Unidades de Conservação, Lei da Mata Atlântica, Lei de diversidade biológica, Lei de Gestão das
Florestas Públicas, dentre outras.

Dessa forma, o novo “Código Florestal” ficou reservado, praticamente, para áreas
particulares. Porém, mantendo a tradição, nos referimos à Lei 12.651 como NCF (Novo Código
Florestal).

O principal ponto negativo foi a instituição das chamadas “áreas consolidadas”, espaços
degradados por desobediência à legislação anterior e cujos infratores foram anistiados. Houve, assim,
o reconhecimento de fatos consumados sem medidas de recuperação do que foi desmatado no
passado, premiando quem descumpriu a lei. Por outro lado, os defensores da anistia argumentam que
as áreas consolidadas foram criadas para compatibilizar a proteção do meio ambiente com as
atividades já realizadas, por motivo de segurança jurídica. A ampla anistia foi abrandada por alguns
vetos e pela MP 571.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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O art. 1º-A estabeleceu que o fundamento central no Novo Código é a proteção e uso
sustentável das florestas e o desenvolvimento sustentável é o objetivo a ser alcançado (art. 1º-A,
parágrafo único).

Foram poucas as mudanças com o Novo Código em termos gerais e estruturais, já que a lei
aprovada permitiu somente ajustes pontuais para adequação da situação de fato à situação de direito
pretendida pela legislação ambiental.

Nesse sentido, a proteção do meio ambiente natural continua sendo obrigação do


proprietário, mediante a manutenção de espaços protegidos de propriedade privada, divididos entre
Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). Uma novidade está na implementação e
fiscalização desses espaços, agora sujeitos ao Cadastro Ambiental Rural (CAR).

#NÃOCONFUNDA

Precisa ser registrada no Cadastro Ambiental


Reserva Legal (RL)
Rural - CAR
Não precisa ser registrada no Cadastro Ambiental
Área de Preservação Permanente (APP)
Rural - CAR

O Código Florestal protege: florestas, demais formas de vegetação e as terras propriamente


ditas. Vejamos:

Art. 2o As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa,


reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes
do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e
especialmente esta Lei estabelecem.

Exprimir que as florestas e demais formas de vegetação “são bens de interesse comum a
todos” significa que, embora o domínio da floresta seja público ou privado, o interesse deve ser
compreendido como a faculdade legal e constitucionalmente assegurada a qualquer indivíduo de
exigir, administrativa ou judicialmente, do titular do domínio, que ele preserve a sua boa condição
ecológica.

#ATENÇÃO: As APP’s e as áreas de Reservar Legal, bem como outros espaços territoriais
especialmente protegidos, estão isentas do pagamento do Imposto Territorial Rural – ITR, de acordo
com a Lei n. 9.393/96.
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2. ÁREAS FLORESTAIS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÓDIGO FLORESTAL:

Área de Preservação Permanente - APP: “área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica
e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas” (Art. 3º, II).

A APP é caracterizada pela intocabilidade dos recursos naturais da área, salvo casos de
utilidade pública ou interesse social ou outros definidos na Lei 12.651/12.

Basicamente a APP tem a função de preservar a água, o solo, a paisagem, a fauna e a flora.
São dois os tipos de área de preservação permanente: as legais (ex lege), que são as áreas
taxativamente previstas pelo Código Florestal, e as administrativas, que são as áreas criadas por ato
do Poder Público municipal, estadual ou federal, de acordo com a conveniência e oportunidade do
caso concreto.

É importante destacar que as APPs ex lege possuem natureza jurídica de limitação


administrativa, que são restrições gerais impostas à propriedade privada pelo Poder Público mediante
lei, tendo em vista a promoção do bem comum, de maneira que em regra o proprietário não terá
direito à indenização.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA
(...) 2. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às
APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou
posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambiental.
Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de
recuperar a área de preservação permanente. (AgRg no Resp 1.367.986/SP - Relator: Min. Humberto
Martins – decisão publicada no DJe de 12.03.2014)

#ATENÇÃO
Ainda que haja instituição de APP em parte de imóvel urbano privado, a área não passa para o
domínio público e continua submetida ao pagamento de impostos:
O fato de parte de um imóvel urbano ter sido declarada como Área de Preservação
Permanente (APP) e, além disso, sofrer restrição administrativa consistente na proibição de construir
(nota non edificandi) não impede a incidência de IPTU sobre toda a área do imóvel. (AgRg no REsp
1.469.057-AC, Segunda Turma, DJe 20/10/2014. REsp 1.482.184-RS, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 17/3/2015, DJe 24/3/2015. - Info 558).
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2.1. FLORESTAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE PELO EFEITO DO CÓDIGO FLORESTAL:

Os Estados poderão estabelecer, em sua legislação própria, outros critérios para que se
definam locais nos quais a flora será considerada de preservação permanente, já que o Código
Florestal é tido como lei geral (nacional).

O disposto no artigo 19, parágrafo 1º da Lei Estadual nº 10.561/91 não conflita com o
preceito contido no artigo 21, parágrafo único do Código Florestal. Trata-se aquela de lei especial,
compatível com o tratamento genérico da norma federal. (REsp 246531/MG)

Nesse sentido, estabelece o art. 4º a definição de Área de Preservação Permanente:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os


efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os


efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: [...]

A preocupação do art. 4º, I, “a”, “b”, “c”, “d” e “e” do Código Florestal situa-se na preservação
da vegetação que protege os cursos d’água, diante de sua relevância. A remoção da cobertura vegetal
reduz o intervalo de tempo observado entre a queda da chuva e os efeitos nos cursos d’água (deflúvio
de base), diminui a capacidade de retenção de água nas bacias hidrográficas e aumenta o pico de
cheias. Ademais, a cobertura vegetal limita a possibilidade de erosão do solo, minimizando a poluição
dos cursos de água por sedimentos.

Note-se que a Lei n. 12.727/12 fez sensível alteração para estabelecer que apenas as faixas
marginais de curso d’água natural perene (que possui água corrente durante todo o ano) e
intermitente/temporário (aquele que, naturalmente, não apresenta escoamento superficial em alguns
períodos do ano; seca em período de escassez de chuva) são APPs, excluindo os rios efêmeros (que
têm escoamento superficial apenas durante ou imediatamente após períodos de precipitação).

Vejamos tabela que resume as hipóteses do inciso I:

Largura do curso d’água Extensão da APP


Curso d’água com menos de 10 metros de largura Faixa de 30 (trinta) metros
Cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 Faixa de 50 (trinta) metros
(cinquenta) metros de largura
Cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a Faixa de 100 (cem) metros
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200 (duzentos) metros de largura
Para os cursos d’água que tenham largura Faixa de 500 (quinhentos) metros
superior a 600 (seiscentos) metros

Vale ressaltar que a linha inicial de demarcação da largura das APPs foi alterada, reduzindo a
dimensão das APPs: mede-se, agora, não a partir do nível mais alto do corpo de água (nível alcançado
com a cheia sazonal), mas sim da “da borda da calha do leito regular”. OFF TOPIC: eu sei, não tá fácil
pra ninguém... kkkkk mas quem reclama não aprende, então vamo simbora!

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares
de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou


represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento;

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua
situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem
por cento) na linha de maior declive;

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca
inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros
e inclinação média maior que 25°.

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros.

XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50


(cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

§ 1º Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de reservatórios artificiais


de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais.
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§ 4º Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare,
fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput, vedada nova
supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema
Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

A proteção das florestas e demais formas de vegetação que se encontrem no topo dos morros,
montes, montanhas e serras tem a finalidade de preservar a integridade dos acidentes geográficos,
evitando, ainda, enchentes e inundações nos térreos mais baixos (a vegetação constitui barreira
natural).

Ademais, o simples efeito da vigência do Código Florestal fez com que as restingas, fixadoras
de dunas ou estabilizadoras de mangue, fossem consideradas como de preservação permanente.

As florestas de preservação permanente por efeito da lei só podem ser suprimidas por outra
lei, diante do princípio da similitude das formas.

2.2. FLORESTAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE POR ATO DO PODER PÚBLICO:

A instituição dessas áreas de preservação permanente, através de ato administrativo


(Decreto, via de regra), possui conteúdo declaratório. Preenchidos os requisitos do art. 6º, a
Administração deverá editar o decreto declaratório da área de preservação permanente. É
declaratório, pois “as áreas que ora estão sendo tratadas já são consideradas protegidas desde a
edição do Código Florestal”.

Art. 6º Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse


social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de
vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.
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2.3. REGIME DE PROTEÇÃO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE:

A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo


proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado.

Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o


proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição
da vegetação, ressalvados os usos autorizados pelo código (obrigação propter rem). A obrigação
prevista tem natureza real (propter rem) e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de
domínio ou posse do imóvel rural.

A supressão só pode ser autorizada mediante prévio procedimento administrativo, no qual


fique comprovada a utilidade pública ou interesse social e a inexistência de alternativa técnica e
locacional para o empreendimento.

A autorização é da competência do órgão ambiental estadual, com anuência prévia, quando


cabível, do órgão federal ou municipal competente (arts. 10; 11-A, III; 26, N. Código Florestal).

No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é


vedada a concessão de novas autorizações de supressão de vegetação, enquanto não cumpridas as
obrigações de recomposição.

A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente


somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental.

Houve grande alargamento das hipóteses de utilidade pública e interesse social, que
permitem a intervenção na APP e a supressão de sua vegetação.

É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de


urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à
prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para


obtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto ambiental.

Supressão de vegetação em área de preservação Supressão da própria área de preservação


permanente permanente

A supressão de vegetação em APP pode ser A supressão de uma APP só pode ser autorizada
autorizada mediante ato administrativo. mediante lei, de acordo com o inciso III do § 1º do
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art. 225 da CF.

2.4. APP’S E REGRAS PARA ÁREAS CONSOLIDADAS:

O tema é tratado no Capítulo XIII, Seção II, do novo Código Florestal, nos artigos 61-A usque
65, tendo sido tomado como marco legal divisor de regime jurídico o dia 23 de julho de 2008, quando
foi publicado o Decreto nº 6.514, que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio
ambiente, que instituiu uma série de novos tipos administrativos para punir os infratores da legislação
ambiental, tendo o artigo 61 sido vetado pela Presidenta da República.

E o que são áreas consolidadas, afinal?

O art. 3º, inciso IV do NCF as define como:

IV – área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de
julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último
caso, a adoção do regime de pousio;

Além da previsão no Novo Código Florestal, a consolidação da utilização antrópica (aquilo que
decorre da ação humana) das Áreas de Preservação Permanente foi aspecto principal da Medida
Provisória 571/12 e dos vetos da Presidente da República ao projeto de lei aprovado no Congresso
Nacional. Assim, podemos visualizar dois regimes jurídicos que tratam da situação, vejamos:

Regime Jurídico mais flexível Regime Jurídico menos flexível

(Antes de 23/07/2008) (Depois de 23/07/2008)

#RESUMINDO: O regime jurídico mais flexível, que prevê a “anistia” de multas, infrações
ambientais e até mesmo alguns crimes ambientais, caso haja uma reparação parcial do dano causado
ao meio ambiente vem disciplinado nos artigos 59 ao 69 do Novo Código Florestal e se aplica as
situações ocorridas até a véspera da publicação do Decreto 6.514/08 (22/07/08).

Dessa forma, foram estabelecidas diversas condicionantes e limitações para a continuidade


do uso dessas áreas. O art. 61-A traz disciplina detalhada da recomposição das áreas consolidadas,
com tratamento isonômico (mais brando para pequenos proprietários e mais severo para os grandes
proprietários), especificado para cada tipo de APP. Em matéria de APP, ficou bem clara a inexistência
de direito adquirido a poluir, devendo a propriedade se adequar à conformação legal de sua função
social ambiental.

Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a


continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais
consolidadas até 22 de julho de 2008.
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No ponto, aliás, merece destaque importante julgado do STJ relativo à aplicação
intertemporal do novo Código Florestal, especialmente no que diz respeito às regras menos protetoras
do meio ambiente:

O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos
ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias
compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de
extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da ‘incumbência’ do
Estado de garantir a preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I).
(AgRg no AREsp 327687)

Em suma, todos aqueles que exploraram ilicitamente a vegetação em APP com consolidação
até o dia 22 de julho de 2008 foram premiados com o reconhecimento jurídico da situação
consolidada, observados os condicionantes.

Conforme já visto, nos moldes do art. 7º, §3º, do novo Código Florestal, no caso de supressão
não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é vedada a concessão de novas
autorizações de supressão de vegetação enquanto não cumpridas as obrigações de recomposição de
vegetação.

Ademais, nos termos do seu artigo 8º, §4º:

§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções ou


supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.

Vamos estudar, abaixo, as formas de recomposição parcial do dano florestal que deverão ser
adotadas pelos proprietários e possuidores rurais em razão das situações consolidadas até 22 de junho
de 2008:

2.4.1. Matas Ciliares (art. 61-A, §§1º a 4º, do novo CFlo):

Os proprietários e possuidores rurais com áreas consolidadas em APP ao longo dos cursos
d´água deverão recompor as faixas marginais a partir da borda da calha do leito regular, variando a
dimensão da mata ciliar a ser recomposta de acordo com o tamanho do imóvel rural, da seguinte
forma:

Dimensão do Imóvel Rural APP a ser recomposta

Até 1 módulo fiscal 5 metros

Acima de 1 módulo fiscal até 2 módulos fiscais 8 metros


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Acima de 2 módulos até 4 módulos 15 metros

Acima de 4 módulos fiscais Metade da largura do curso de água, com o


mínimo de 20 e o máximo de 100 metros

Para os imóveis com mais de 4 módulos fiscais, o tema é regulamentado pelo artigo 19, §4º
do Decreto 7.830/2012.

§ 4o Para fins do que dispõe o inciso II do § 4º do art. 61-A da Lei nº 12.651, de 2012, a
recomposição das faixas marginais ao longo dos cursos d’água naturais será de, no mínimo:
I - vinte metros, contados da borda da calha do leito regular, para imóveis com área superior
a quatro e de até dez módulos fiscais, nos cursos d’água com até dez metros de largura; e
II - nos demais casos, extensão correspondente à metade da largura do curso d’água,
observado o mínimo de trinta e o máximo de cem metros, contados da borda da calha do leito
regular.

2.4.2. Nascentes e olhos d’água perenes (art. 61-A, §§5º, do novo CFlo):

Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de


nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossivilpastoris, de
ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 metros.

2.4.3. Entorno de lagos e lagoas naturais (Art. 61-A, §6º, do Novo Código Florestal):

Dimensão do Imóvel Rural APP a ser recomposta

Até 1 módulo fiscal 5 metros

Acima de 1 módulo fiscal até 2 módulos fiscais 8 metros

Acima de 2 módulos até 4 módulos 15 metros

Acima de 4 módulos fiscais 30 metros

Cuidado para não confundir com a hipótese das matas ciliares, pois são muito parecidas!

2.4.4. Veredas (Art. 61-A, §7º, do Novo Código Florestal):

Dimensão do Imóvel Rural APP a ser recomposta

Até 04 módulos fiscais 30 metros

Acima de 04 módulos fiscais 50 metros


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2.4.5. Regularização Fundiária:

A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e


sociais que são tomadas com o objetivo de resolver a situação de assentamentos irregulares,
conferindo titulação aos seus ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno
desenvolvimento das funções sociais da propriedade e o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
A regularização fundiária pode ser urbana (se o imóvel estiver na zona urbana) ou rural (se
estiver na zona rural).
*A Lei 13.465/2017 trouxe algumas alterações na regularização fundiária, alterando alguns
artigos do Novo Código Florestal, vejamos primeiro o art. 65 que trata da regularização fundiária de
interesse social:

Art. 64. Na Reurb-S dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas de Preservação
Permanente, a regularização fundiária será admitida por meio da aprovação do projeto de
regularização fundiária, na forma da lei específica de regularização fundiária urbana.

§ 1o O projeto de regularização fundiária de interesse social deverá incluir estudo técnico que
demonstre a melhoria das condições ambientais em relação à situação anterior com a adoção
das medidas nele preconizadas.

§ 2o O estudo técnico mencionado no § 1o deverá conter, no mínimo, os seguintes elementos:

I - caracterização da situação ambiental da área a ser regularizada;

II - especificação dos sistemas de saneamento básico;

III - proposição de intervenções para a prevenção e o controle de riscos geotécnicos e de


inundações;

IV - recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de regularização;

V - comprovação da melhoria das condições de sustentabilidade urbano-ambiental,


considerados o uso adequado dos recursos hídricos, a não ocupação das áreas de risco e a
proteção das unidades de conservação, quando for o caso;

VI - comprovação da melhoria da habitabilidade dos moradores propiciada pela regularização


proposta; e

VII - garantia de acesso público às praias e aos corpos d'água.


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#RESUMINDO

Regularização de Interesse Social

Regularização de Interesse Específico

Depende da aprovação do projeto de regularização fundiária


na forma da lei específica de regularização fundiária urbana.

2.5. EXERCÍCIO DO DIREITO DE PROPRIEDADE EM ÁREA FLORESTAL:

2.5.1. Noções Gerais sobre Reserva Legal Florestal:

Pelo Código Florestal, a propriedade florestal é regida pelas limitações gerais existentes, tais
como normas de vizinhança e o desempenho da função social da propriedade, delineada na
Constituição e regulada pelo Código Florestal.

A propriedade florestal possui 3 limitações principais: áreas de preservação permanente,


reservas legais e corte somente com autorização do poder público.

Verifica-se, portanto, que o direito de propriedade não é caracterizado somente pela


liberdade de ação do proprietário, contraposta a um dever geral (“erga omnes”) de todos respeitarem
o domínio, mas também pelos deveres e obrigações a cargo do titular do direito de propriedade.

Dessa forma, é a função social princípio que se manifesta na estrutura do direito de


propriedade, mas as interferências causadas no próprio domínio por esse princípio são diversas dos
seus limites externos, pois são “limitações” que surgem com o próprio direito, sendo-lhes intrínsecas.
(AC 00005315320094047007, 3ª Turma do TRF4).

Reserva legal florestal (RLF) é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural, delimitada nos termos do art. 12 do Código, com a função de assegurar o uso econômico de
modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de
fauna silvestre e da flora nativa.

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de
Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente,
observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos
previstos no art. 68 desta Lei:
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I – localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de
florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por
cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

II – localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Área de florestas 80% de RLF


Amazônia Legal Área de cerrado 35% de RLF
Campos gerais 20% de RLF

Demais regiões 20% de RLF

Ficou definitivamente superada a concepção inicial do Código Florestal de 1965, de que a


Reserva Legal era um limite para o desmatamento. Agora se trata claramente de um ônus inerente ao
exercício da propriedade, cuja responsabilidade é propter rem, acompanha a coisa,
independentemente do vínculo pessoal. Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título,
inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada a área do imóvel
antes do fracionamento.

Uma novidade relevante é a possibilidade do cômputo da APP na reserva legal. Esse


benefício, que poderá ser muito útil à regularização de imóveis rurais, está, no entanto, limitado às
hipóteses em que:

a) o cômputo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

b) a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação; e

c) o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental


Rural (CAR).

Reserva Legal acima do mínimo legal: Área excedente poderá ser utilizada para fins de
constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental ou outros instrumentos congêneres.
Poderá ser instituída Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais,
respeitado o percentual previsto no art. 12 em relação a cada imóvel.

2.5.2. Regime de Proteção da Reserva Legal:

A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do
imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado.
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Admite-se, no entanto, a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo
sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do SISNAMA.

Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os
órgãos integrantes do SISNAMA deverão estabelecer procedimentos simplificados de elaboração,
análise e aprovação de tais planos de manejo. É obrigatória a suspensão imediata das atividades em
área de Reserva Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.

Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado
processo de recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data da
publicação desta Lei, devendo tal processo ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de
Regularização Ambiental – PRA.

A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de
inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de
transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei. Na
posse, a área de Reserva Legal é assegurada por termo de compromisso. A transferência da posse
implica a sub-rogação das obrigações assumidas no termo de compromisso.

O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de


Imóveis. Além disso, o manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito
comercial depende de autorização do órgão competente.

O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comercial, para
consumo no próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser
declarados previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada
a exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA
Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião
João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se
tornar o proprietário do terreno. A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a
propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de
Imóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu
favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no
Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário.
17
Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no
Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural).
Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor
inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?
SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no
Cadastro Ambiental Rural (CAR). STJ. 3ª Turma. Resp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Assim, há a necessidade de prévio registro da reserva legal no CAR, como condição para o
registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis. (Resp 1356207)

2.5.3. DAS ÁREAS CONSOLIDADAS EM RESERVA LEGAL:

O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de


Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação,
independentemente da adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), adotando as seguintes
alternativas, isolada ou conjuntamente:

I – recompor a Reserva Legal;

II – permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal; e

III – compensar a Reserva Legal.

2.5.4. INDENIZABILIDADE DA PROTEÇÃO FLORESTAL:

A proteção florestal, seja por RFL ou por APP, não implica desapropriação, nem deve ser
indenizada, exceto se restringir o domínio ou causar alguma espécie de prejuízo.

Sendo imposições de natureza genérica, as limitações administrativas não rendem ensejo à


indenização, salvo comprovado prejuízo. Se alguma perda sofreu o proprietário de terras situadas em
área de preservação permanente, tal prejuízo remonta à edição da Lei 4.771/65, marco inicial do prazo
de prescrição. Extingue-se em cinco anos o direito de propor ação que vise a indenização por restrições
decorrentes de atos do Poder Público. (Resp 1233257)

A jurisprudência do STJ sedimentou o entendimento de que não há indenização pela só


limitação administrativa. Se a limitação vai ao ponto de privar o seu proprietário do uso pleno,
indeniza-se na mesma proporção do prejuízo causado. 3. Área de preservação permanente que
18
impede o uso da propriedade, mas onde não é possível haver exploração econômica do manancial
vegetal. Indenização limitada à terra nua, não se estendendo à cobertura vegetal. (Resp 167070/SP)

A desapropriação indireta pressupõe três situações, quais sejam: (I) apossamento do bem
pelo Estado sem prévia observância do devido processo legal; (II) afetação do bem, ou seja, destiná-
lo à utilização pública; e (III) irreversibilidade da situação fática a tornar ineficaz a tutela judicial
específica. A edição do Decreto Federal n. 750/93, que os embargantes reputam ter encerrado
desapropriação indireta em sua propriedade, deveras, tão somente vedou o corte, a exploração e a
supressão de vegetação primária ou em estados avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica,
sendo certo que eles mantiveram a posse do imóvel. Logo, o que se tem é mera limitação
administrativa. As vedações contidas no Decreto Federal n. 750/93 não são capazes de esvaziar o
conteúdo econômico da área ao ponto de ser decretada a sua perda econômica. Recurso de embargos
de divergência conhecido e não provido. (STJ. EREsp 922.786/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
Primeira Seção, Dje 15/9/2009).

Por outro lado, o STJ já decidiu em inúmeras oportunidades que a indenização referente à
desapropriação de propriedades detentoras de APP’s não deve abranger a área de preservação
permanente por esta não ser passível de exploração econômica, senão vejamos: Nas demandas
expropriatórias, é incabível a indenização da cobertura vegetal componente de área de preservação
permanente. (Resp 1090607/SC)

Com relação à cobertura vegetal (RFL), quando o imóvel for desapropriado, o STJ diz que é
necessária a demonstração de exploração econômica (lícita) para o recebimento de indenização:

#SELIGANADIVERGÊNCIA

É possível a indenização em separado da cobertura vegetal somente se: a) demonstrada a


exploração econômica anteriormente aos atos de expropriação; b) comprovada a viabilidade de
exploração da mata nativa, tanto sob o aspecto da licitude, à luz das normas ambientais pertinentes,
quanto do ponto de vista econômico, sopesados os custos de exploração em confronto com as
estimativas de ganho (Resp 1395597/MT).

O STF segue orientação diametralmente oposta, pugnando pela indenizabilidade das áreas de
APP e da cobertura vegetal nos processos de desapropriação: O Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que as áreas referentes à cobertura vegetal e à preservação permanente devem
ser indenizadas, não obstante a incidência de restrição ao direito de propriedade que possa incidir
sobre todo o imóvel que venha a ser incluído em área de proteção ambiental. (AI 653062)
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Uma situação interessante no que diz respeito às desapropriações indiretas é referente à
legitimidade passiva ad causam da União quando estas são manejadas tendo por causa de pedir atos
decorrentes da implantação do Parque Nacional, isto é, quando os atos constitutivos da hipótese de
desapropriação indireta decorrem da constituição de UC por meio de Decreto da Chefia do Poder
Executivo Federal.

Nestas hipóteses, a União é indubitavelmente parte legítima, uma vez que a unidade de
conservação da natureza foi por ela instituída mediante decreto da Chefia do Poder Executivo Federal
e tendo em vista que a própria Lei nº 9.985/2000 (SNUC), enquadra os Parques Nacionais na
categoria de Unidade de Proteção Integral, com posse e domínio públicos, afirmando a necessidade
de que as áreas privadas, abrangidas nos limites dos Parques, sejam desapropriadas.

3. GESTÃO DAS FLORESTAS PÚBLICAS – LEI 11.284/06:

A Lei 11.284/2006 estabelece no plano jurídico um sistema de gestão de florestas destinado


a criar produtos e serviços em proveito do desenvolvimento sustentável, concebendo a floresta
como um instrumento de exploração econômica eficiente e de largo alcance, compreendendo: I – a
criação de florestas nacionais, estaduais e municipais (...) e sua gestão direta; II – a destinação de
florestas públicas às comunidades locais, nos termos do art. 6º desta Lei; III – a concessão florestal,
incluindo florestas naturais ou plantadas e as unidades de manejo das áreas protegidas referidas no
inciso I do caput deste artigo.

A lei 11.284/2006 é tida como norma geral, de modo que as leis estaduais e municipais
deverão se adequar às suas normas de contornos gerais, bem como, pela competência suplementar,
poderão elaborar normas supletivas e complementares e estabelecer padrões relacionados à gestão
florestal.

3.1. PRINCÍPIOS DA GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS:

O Art. 2º da Lei 11.284/2006 estabelece os princípios da gestão de florestas públicas. Vejamos:

I – a proteção dos ecossistemas, do solo, da água, da biodiversidade e valores culturais


associados, bem como do patrimônio público;

II – o estabelecimento de atividades que promovam o uso eficiente e racional das florestas e


que contribuam para o cumprimento das metas do desenvolvimento sustentável local, regional e de
todo o País;

III – o respeito ao direito da população, em especial das comunidades locais, de acesso às


florestas públicas e aos benefícios decorrentes de seu uso e conservação;
20
IV – a promoção do processamento local e o incentivo ao incremento da agregação de valor
aos produtos e serviços da floresta, bem como à diversificação industrial, ao desenvolvimento
tecnológico, à utilização e à capacitação de empreendedores locais e da mão-de-obra regional;

V – o acesso livre de qualquer indivíduo às informações referentes à gestão de florestas


públicas, nos termos da Lei no 10.650, de 16 de abril de 2003;

VI – a promoção e difusão da pesquisa florestal, faunística e edáfica, relacionada à


conservação, à recuperação e ao uso sustentável das florestas;

VII – o fomento ao conhecimento e a promoção da conscientização da população sobre a


importância da conservação, da recuperação e do manejo sustentável dos recursos florestais;

VIII – a garantia de condições estáveis e seguras que estimulem investimentos de longo


prazo no manejo, na conservação e na recuperação das florestas.

3.2. DA GESTÃO DIRETA:

O Poder Público poderá exercer diretamente a gestão de florestas nacionais, estaduais e


municipais, sendo-lhe facultado, para execução de atividades subsidiárias, firmar convênios, termos
de parceria, contratos ou instrumentos similares com terceiros, observados os procedimentos
licitatórios e demais exigências legais pertinentes.

A duração dos contratos e instrumentos similares fica limitada a 120 (cento e vinte) meses.

Nas licitações para as contratações, além do preço, poderá ser considerado o critério da
melhor técnica previsto no inciso II do caput do art. 26 desta Lei.

3.3. DA DESTINAÇÃO ÀS COMUNIDADES LOCAIS:

As comunidades locais são “populações tradicionais e outros grupos humanos, organizados


por gerações sucessivas, com estilo de vida relevante à conservação e à utilização sustentável da
diversidade biológica” e, antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas
ou utilizadas por comunidades locais serão identificadas para a destinação, pelos órgãos
competentes.

A destinação pode ser feita nas seguintes formas: I – criação de reservas extrativistas e
reservas de desenvolvimento sustentável; II – concessão de uso, por meio de projetos de
assentamento florestal, de desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros similares; III –
outras formas previstas em lei.
21
O Poder Público poderá, com base em condicionantes socioambientais definidas em
regulamento, regularizar posses de comunidades locais sobre as áreas por elas tradicionalmente
ocupadas ou utilizadas, que sejam imprescindíveis à conservação dos recursos ambientais essenciais
para sua reprodução física e cultural, por meio de concessão de direito real de uso ou outra forma
admitida em lei, dispensada licitação.

Estas destinações serão feitas de forma não onerosa para o beneficiário e efetuada em ato
administrativo próprio (art. 6º, § 1º).

A previsão dos instrumentos de destinação acima mencionados não impede que as


comunidades locais participem das licitações destinadas à concessão florestal, por meio de associações
comunitárias, cooperativas ou outras pessoas jurídicas admitidas.

3.3.1. Concessão florestal:

É a delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal
sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à
pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado.

A concessão florestal é uma espécie de contrato administrativo por meio do qual o Poder
Público, por meio de licitação, concede ao particular o direito de explorar os recursos florestais
(produtos e serviços) de forma racional e sustentável, de acordo com o Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS aprovado pelo governo.

Já a unidade de manejo é o “perímetro definido a partir de critérios técnicos, socioculturais,


econômicos e ambientais, localizado em florestas públicas, objeto de um Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS, podendo conter áreas degradadas para fins de recuperação por meio de
plantios florestais” (art. 3º, VII e VIII).

A concessão florestal será autorizada em ato do poder concedente e formalizada mediante


contrato, que deverá observar os termos desta Lei, das normas pertinentes e do edital de licitação (art.
7º). O poder concedente publicará, previamente ao edital de licitação, ato justificando a conveniência
da concessão florestal, caracterizando seu objeto e a unidade de manejo (art. 12). Também, as
licitações para concessão florestal serão realizadas na modalidade concorrência e outorgadas a título
oneroso, sendo vedada a declaração de inexigibilidade prevista na Lei 8.666/93.
22
A publicação do edital de licitação de cada lote de concessão florestal deverá ser precedida de
audiência pública, por região, realizada pelo órgão gestor, nos termos do regulamento, sem prejuízo
de outras formas de consulta pública.

São elegíveis para fins de concessão as unidades de manejo previstas no Plano Anual de
Outorga Florestal – PAOF, que é proposto pelo órgão gestor e definido pelo poder concedente,
contendo a descrição de todas as florestas públicas a serem submetidas a processos de concessão no
ano em que vigorar (art. 10), o qual será submetido ao órgão consultivo da respectiva esfera de
governo. Se for federal, ainda requer a manifestação da SPU/MPOG. Se situado em faixa de fronteira,
deverá ouvir o Conselho de Defesa Nacional.

3.3.1.1. Objeto da Concessão florestal:

A concessão florestal terá como objeto a exploração de produtos e serviços florestais,


contratualmente especificados, em unidade de manejo de floresta pública, com perímetro
georreferenciado, registrada no respectivo cadastro de florestas públicas e incluída no lote de
concessão florestal.

Art. 16, §1º É vedada a outorga de qualquer dos seguintes direitos no âmbito da concessão
florestal:

I – titularidade imobiliária ou preferência em sua aquisição;

II – acesso ao patrimônio genético para fins de pesquisa e desenvolvimento, bioprospecção


ou constituição de coleções;

III – uso dos recursos hídricos acima do especificado como insignificante, nos termos da Lei
no 9.433, de 8 de janeiro de 1997;

IV – exploração dos recursos minerais;

V – exploração de recursos pesqueiros ou da fauna silvestre;

VI – comercialização de créditos decorrentes da emissão evitada de carbono em florestas


naturais.

3.1.1.2. Licenciamento ambiental


Prevê-se, ainda, licenciamento ambiental, compreendendo a licença prévia e a licença de
operação, não se exigindo a licença de instalação.

A licença prévia para uso sustentável da unidade de manejo será requerida pelo órgão gestor,
mediante a apresentação de relatório ambiental preliminar ao órgão do SISNAMA.
23
O início das atividades florestais na unidade de manejo somente poderá ser efetivado com a
aprovação do respectivo PMFS pelo órgão do SISNAMA e com a obtenção da licença de operação
pelo concessionário.

Há descrição de procedimento licitatório específico, utilizando-se da Lei 8.666/93


supletivamente, inclusive no que tange ao contrato administrativo, nos arts. 19 a 35.

O prazo dos contratos de concessão florestal será estabelecido de acordo com o ciclo de
colheita ou exploração, considerando o produto ou grupo de produtos com ciclo mais longo incluído
no objeto da concessão, podendo ser fixado prazo equivalente a, no mínimo, um ciclo e, no máximo,
40 (quarenta) anos. Mas se for contrato de concessão exclusivo para exploração de serviços
florestais, será de, no mínimo, 5 (cinco) e, no máximo, 20 (vinte) anos.

Prazos do contrato de concessão florestal

Exploração de produtos florestais Apenas serviços florestais

Mínimo: 01 ciclo Máximo: 40 anos Mínimo: 05 anos Máximo: 20 anos

3.3.2. Conceitos relevantes (art. 3o):


I – florestas públicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas
brasileiros, em bens sob o domínio da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal ou das
entidades da administração indireta;

II – recursos florestais: elementos ou características de determinada floresta, potencial ou


efetivamente geradores de produtos ou serviços florestais;

III – produtos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros gerados pelo manejo
florestal sustentável;

IV – serviços florestais: turismo e outras ações ou benefícios decorrentes do manejo e


conservação da floresta, não caracterizados como produtos florestais;

V – ciclo: período decorrido entre 2 (dois) momentos de colheita de produtos florestais numa
mesma área;

VI – manejo florestal sustentável: administração da floresta para a obtenção de benefícios


econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema
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objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas
espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de
outros bens e serviços de natureza florestal;

VII – concessão florestal: delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de
praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo,
mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo
edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo
determinado;

VIII – unidade de manejo: perímetro definido a partir de critérios técnicos, socioculturais,


econômicos e ambientais, localizado em florestas públicas, objeto de um Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS, podendo conter áreas degradadas para fins de recuperação por meio de plantios
florestais;

XI – auditoria florestal: ato de avaliação independente e qualificada de atividades florestais e


obrigações econômicas, sociais e ambientais assumidas de acordo com o PMFS e o contrato de
concessão florestal, executada por entidade reconhecida pelo órgão gestor, mediante procedimento
administrativo específico;

3.3.3. Recursos financeiros oriundos dos preços da concessão florestal


Os recursos financeiros oriundos dos preços da concessão florestal, via de regra, serão
destinados aos Estados, aos Municípios e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal no
sentido de propiciar recursos econômicos em face do uso da floresta como bem ambiental.

A Lei 11.284/06 e o Decreto (regulamentador) Federal nº 6.063/2007, preveem o pagamento


de duas formas de preço pela outorga:

1. O preço sobre os custos de realização do edital de licitação da concessão florestal federal


de cada unidade de manejo, que deve ser pago ao concessionário, excluído do custo do edital aqueles
relacionados às ações realizadas pelo poder público e que, por sua natureza, geram benefícios
permanentes ao patrimônio público (art. 37, Decreto 6063/2007).

2. O preço da concessão florestal: calculado em função da quantidade de produto ou serviço


auferido do objeto da concessão ou do faturamento líquido ou bruto.

Resultado da exploração, excluído o valor mínimo do art. 36, §3º; (art. 39, II)
Estados = 30% Municípios = 30% FNDF = 40%
Resultado da exploração, excluído o valor mínimo do art. 36, §3º, no caso de concessão florestal de
unidades localizadas em florestas nacionais criadas pela União; (art. 39, §1º, II)
25
Estado = 20% Município = 20% FDF = 20% ICM-Bio = 40%

O art. 36, §3º da Lei 11284/06, prevê que “será fixado, nos termos de regulamento, valor
mínimo a ser exigido anualmente do concessionário, independentemente da produção ou dos valores
por ele auferidos com a exploração do objeto da concessão”, valor este que integrará os pagamentos
anuais devidos pelo concessionário. A distribuição se dá pela seguinte forma:

IBAMA= 30%; para utilização restrita em atividades de


controle e fiscalização ambiental de atividades
Órgão gestor da floresta = 70%
florestais, de unidades de conservação e do
desmatamento.
Se oriundos dos preços da concessão florestal de unidades localizadas em florestas nacionais criadas
pela União: o valor integral vai para o órgão gestor (art. 39, §1º, I).

4. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Artigo nº 225
Lei 12.651/12 Leitura Integral
Lei 11.284/2006 Leitura Integral
Decreto nº 6.514/2008 Arts. 1º ao 4º

5. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Esse material é uma fusão das seguintes fontes:

1. Direito Ambiental, coleção Sinopses – Talden Faria e outros – Editora Juspodivm.

2. Resumo de Direito Ambiental Esquematizado – Frederico Amado – Editora Juspodivm.

3. Coleção resumos para concursos, Direito Ambiental – Frederico Amado.

4. Informativos esquematizados do Dizer o Direito – Márcio André Cavalcante Lopes.

5. Anotações pessoais de aulas.

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