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Flavio Villaca Introdugao Espaco intra-urbano: esse desconhecido A questao semantica Espacos regional e intra-urbano Especificidades do espaco intra-urbano Abordagens dos espacos intra-urbano e regional Espago e sociedade Os processos espaciais de conurbacao DiregGes de expansao urbana Introdugao Os setores vidrios Localizagao, valor e prego da terra urbana Vias regionais ¢ urbanizacao O periodo pré-ferrovidrio Setores oceanicos A estrutura urbana basica A metrépole interior Sao Paulo Belo Horizonte A metrépole litoranea Os setores industriais. A articulagao espacial entre metrépole e regifio A segregacao urbana O conceito de segregagao Os setores 17 18 20 22 26 45 49 69 69 70 80 86 107 113 il4 116 118 130 135 141 142 153, ~ Capitulo 8 Capitulo 9 Capitulo 10 Capitulo 11 Capitulo 12 Capitulo 13 Os bairros residenciais das camadas de alta renda ORio de Janeiro O século XIX O século XX Deslocamentos, incorporaio imobilidria, forma urbana e estilos de vida Sao Paulo Belo Horizonte Porto Alegre Salvador Recife Os bairros residenciais das camadas populares ~ Os centros principais Anatureza do centro principal O valor simbélico do centro O surgimento dos centros principais Rio de Janeiro Sao Paulo Porto Alegre Belo Horizonte Os centros principais e as camadas de alta renda O centro principal e a nova mobilidade territorial centro principal e as camadas populares O centro do Recife Os subcentros A evolugao dos subcentros Rio de Janeiro Sao Paulo Porto Alegre e Belo Horizonte O shopping center Segregacao e estruturagao do espaco intra-urbano Reflexées finais O consumo ¢ a estruturagao do espaco intra-urbano A segregacao ¢ 0 controle do espaco intra-urbano Segregagalo, controle do Estado e ideologia © controle do espaco intra-urbano eo controle do tempo Referéncias bibliogréficas 157 157 159 177 180 192 199 203 207 2u 225 237 237 247 252 255 261 266 267 270 277 283 284 293 294 294 297 300 302 311 327 328 334 343 352 363 Capitulo 5 A estrutura urbana bdsica Esta obra parte da premissa de que, por terem sido produzidas pela mesma formacio social, pelo mesmo Estado e no mesmo momento histérico, nossas me- trépoles devem apresentar importantes tragos comuns de organizacdo intra-urba- na, Tais tracos esto representados na Figura 23, que mostra sinteses das estruturas intra-urbanas de algumas metrépoles brasileiras. Trata-se de figuras baseadas no modelo por setores de circulo de Hoyt (1959). Como sinteses que sao, tais modelos reduzem o espaco metropolitano a seus elementos mais fundamentais, além de exa- gerar na segregacao e na simplificagdo das formas. Os subcentros de comércio e servicos — elementos importantes da estrutura urbana — sao desprezados, neles aparecendo apenas 0 centro principal. £ curioso que o modelo de Burgess (1967) tenha se tornado mais famoso € difundido do que o de Hoyt, apesar de este corresponder mais a realidade do que aquele. E que Burgess e seus colegas de Chicago tinham maiores ambiges intelec- tuais que Hoyt. Tinham, inclusive, pretensGes a uma teoria da organizagao intra- urbana, que desenvolveram sob o nome de “ecologia humana’ (Park, 1967, 2). Hoyt nao conseguiu ultrapassar a mera descrigao. Na verdade, nossas metrdpoles tm uma organizagao interna que é um pou- co um misto de circulos concéntricos e de setores de circulo, apesar de os ultimos predominarem sobre os primeiros e apresentarem maior potencial explicativo — _ até hoje pouco utilizado — dos processos espaciais intra-urbanos, como veremos. sta obra procura explorar esse poder explicativo. O modelo de circulos concéntri- "os, entretanto, vale mais do que a simples descriciio de nossas metrépoles sendo constituidas de centro e periferia. Ha também uma disposigao de bairros de classe =média em torno do centro em reas outras que nao o setor de alta renda. No Rio, “=ssses bairros incluem aTijuca, o Rio Comprido, $40 Cristévao, a Ilha do Governador 113 ¢ Niterdi. Em $40 Paulo, hé claras concentragées de classe média na zona Norte — Santana, Cantareira, Jardim Sao Paulo, Tremembé —, nazona Leste—Alto da Mo6ea eTatuapé, Contudo, a alta burguesia néo esta ali presente e nao se organiza em cft- culos concéntricos; esta concentrada num tinico setor, Claro que, em termos de fa- inflias isoladas, familias da alta burguesia podem ocorrer em qualquer parte dame- tropole. Enquanto classe e enquanto bairro, porém, isso nao € possivel. Como pretendemos mostrar nesta obra, 6a organizacio por setotes que dominaa estrutu- rag do espaco intra-urbano. ‘A metodologia cientifica nao pode prescindir de boas observagées, descri- ges € classificacoes dos processos. Uma observacdo defeituosa leva a uma explica- Gao ignalmente defeituosa. As consideragdes deste capitulo nao objetivam ser mui: to mais que simples descrigdes e definigGes de tipologias, Para isso, os chamados modelos simplificados de estrutura urbana sio titeis, desde que nao se pretenda tirar deles mais do que podem oferecer. Para desenvolver tais modelos, considerou-se que, tendo em vista as limita- ges do meio fisico, as metrépoles brasileiras apresentam-se segundo trés catego- ras: as que tém 360 graus para se desenvolver — Sao Paulo, Belo Horizonte ¢ Curitiba —, as que tém 180 grauis— Recife, Fortaleza e Porto Alegre — eas que tém apenas 90 graus— Rio de Janeiro e Salvador. Os modelos apresentadosna Figura 23 atendem a essa classificagao. Se for feita— como deve ser—a abstragio da baia da Guanabara 0 Rio de Janeiro, fundido a Niteréi, terd a disposicao 180 graus. A metr6épole interior ‘Tanto So Paulo como Belo Horizonte apresentam semelhangas de estruturs que permitem enquadré-las em um mesmo modelo. Na verdade, os pontos em co mum apresentados por ambas as metrépoles sao maiores do que os que aparece na Figura 23, Alids, esses pontos sao comuns a iniimeras cidades do sul do Brass atravessadas por ferrovias, no final do século XIX, nas quais estas se alojaram nuns fundo de vale, préximo ao centro, dividindo 0 espaco urbano em duas metades aquela onde estd o centro da cidade e a outra. Estes so os pontos em comut 1. A metrépole ¢ interiorana; isso significa que dispoe de area para expansaa, em todas as diregbes: 360 graus. 2. No inicio de sua expansao, o espaco urbano depara com uma barteira que © divide ao meio: um vale por onde corre um pequeno rio — Arrudas om Tamanduatei—, cujo transbordamento freqiientemente inunda as terras a jacentes, ¢ uma ferrovid que se aloja junto ao rio. Evidentemente o centro da) cidade fica em um.desses dois lados. O conjuntovale-ferrovia funciona entae como uma barreira que define — tendo como reférencia 0 centro da cided —o “lado de 1a” (posto ao centro) e 0 “lado de ca” (0 lado onde esta 0 cen | tro). A barteira divide o espaco urbano em duas partes que tém custos ¢ tex pos de deslocamento ao centro diferenciados, Num estagio inicial da exp: 114 Figura 23 — Pstruturas espaciais de algumas areas metropolitanas segundo o modelo de Hoyt 115 sfo urbana —as primeiras décadas do século XX —, dados dois pontos aigual distancia do centro, porém um localizado além da barreira e outro aquém, 0 primeiro apresenta maior tempo e custo de deslocamento do que 0 segundo. Define-se, entdo, um lado do espaco urbano mais vantajoso que 0 outro, do ponto de vista deste fator fundamental que é a acessibilidade ao centro. 3. Em virtude dessa vantagem, o lado em que esté o centro tende, inicialmente, aabrigar maior parcela do crescimento urbano do que o“lado dela”: Veremos como, no caso de Belo Horizonte, isso foi sé inicial e efemeramente prejudi- cado pelo planejamento da cidade. ze 4, Ascamadas de mais alta renda tendem a se concentrar no lado mais Vantajo- > 30, embora a recfproca nao seja verdadeira, ou seja, no lado onde se localiza o centro ha também camadas de baixa renda. 0 lado oposto ao centro, entre- tanto, passa a ficar “fora de mao” e os bairros de alta renda tendem a nao vingar ali, como a regio de Pampulha, em Belo Horizonte (veja capitulo 8, secao “Belo Horizonte"). _No lado oposto ao centro, num ponto estratégico para o qual converge 0 sis- “tema vidrio do “lado de 1a’, surge o primeiro grande subcentro de comércio € servigos. Esse subcentro 6 popular, por atender & populacao de baixa renda localizada além-barreira, que nao tem acesso econémico ao centro principal, ja que este pertence as camadas médias e altas. No caso de Sao Paulo, 0 subcentro foi o Brds e, no de Belo Horizonte, a Lagoinha. a Vejamos como ¢ por que esse padrdo territorial se formou em Sao Paulo e em Belo Horizonte. Sao Paulo Em 1867, quando foi inaugurada, a Estrada de Ferro Sao Paulo Railway veio acentuar ainda mais a biparticao do espaco dispontvel para a expansio de Sao Pau- lo. Implantada no“ale'do Tamaduatef, a ferrovia aumentou a barreira representada néo s6 pelo rio, mas também por sua ampla vérzea inundével (Figura 13). Com isso, dificultou-se 0 acesso ao centro pela regido situada além dessas barteitas — a zona Leste —, uma vez que sua superacao se limitava a alguns locais onde havia pontes, possibilidade de cruzamento da ferrovia e aterto da varzea. Do lado oposto, ou seja, a oeste do Tamanduatef, também havia um obstéculo: o vale do Anhangabati. Esse vale, porém, apresentava uma dificuldade de superagio bem menor do que o do Tamanduatef. Em primeiro lugar, nao havia ferrovia. Em segundo, tratava-se de um vale menor, de um cérrego menor, com um vale mais fundo ¢ estreito, quase sem varzea alagivel. A expansao urbana ocortett, entio, predominantemente além do: Anhangabau, isto é, do mesmo lado da barteira (Tamanduatef-ferrovia) onde se en- contrava o centro. A cidade tinha entdo, no final do século XIX, trés dreas para ex- pansio: 1. Azona Leste, plana, ¢ cuja ocupacio exigia a transposigao do obstaculo re- presentado pela barreira Tamaduatef-ferrovia-varzea inundavel. 116 2. Azona Oeste, que exigia a transposi¢ao do vale do Anhangabau. 3. Acumeeira divisora de aguas entre os dois rios (onde alias ja estava a cidade), na diregio do Bixiga e da Liberdade, que nao exigia a transposicao de ne- nhum obstaculo. Tratava-se, entretanto, de um sitio estreito, vincado de vales. A cidade se expandiu em todas essas diregdes, porém, seletivamente. A ex- pansao além do Anhangabati era do mesmo lado da maior barreira onde estava o centro da cidade. Apenas isso ja tornava essa drea mais vantajosa que a do “lado de 14”, Além disso, o Anhangabati era uma barreira mais suave e, uma vez transposta, dava acesso a uma regidio de topografia levemente ondulada, de altitude crescente, de grande beleza natural e que conduzia ao espigao da regiao, onde mais tarde se aloja- ria a avenida Paulista. Por outro lado, a diregtio oposta tinha grandes desvantagens. Havia um rio maior, a ferrovia e uma ampla varzea inundavel. Superados esses obs- tdculos, tinha-se acesso a uma regiao plana, sem qualquer atrativo natural. Na pri- meira regiao surgiram os loteamentos das camadas de mais alta renda. A segunda regio foi desprezada por essas camadas e deixada &s classes populares. Uma parcela minoritaria da classe média ocupou parte da regiao desvantajosa, fazendo surgir na década de 1940, bairros como 0 Alto da Modca e o Tatuapé; a alta burguesia, todavia, restringiu-se a regio vantajosa, Como ja dissemos, a reciproca nao é verdadeira. Durante varias décadas, a cidade de Sao Paulo organizou-se em apenas duas partes bastante separadas pela barreira corrego-ferrovia, Até atingir uma populagao da ordem de 2 milhées de habitantes, era possivel dividir a cidade apenas em lestee este. Essa conformacao inicial teve duradoura influéncia sobre a estrutura urbana; tanto sobre a distribuigao territorial das classes sociais como sobre o desenvolvi mento dos subcentros de comércio e servicos. Vamos dedicar outras partes deste livro a esse assunto, mas € possivel aborda-lo brevemente. A partir do final do século passado iniciou-se a constituicao e o enorme crescimento das camadas populares uurbanas no Brasil, de maneira que o crescimento da cidade na parte pior —o leste — passou a ser maior que na parte melhor — 0 oeste. Em 1890, 72% dos 60 564 habitantes de Sao Paulo moravam a oeste do Tamanduatef e apenas 28% a leste (a paréquia do Senhor Bom Jesus de Mattozinhos do Bras). Em 1920, 57% e, em 1950, 40,6% da populacao de Sao Paulo se encontrava a oeste, como mostra o Quadro 15. Isso mostra como a maior participacaio das camadas populares aleste fez com que essa regifio crescesse com maior velocidade que a oeste. Entretanto, a partir de 1950, j4 nao se podia mais dividir S40 Paulo apenas em leste e oeste. Ja nesse ano, 0 ABC abrigava 8% da populagdo da metrépole e a zona Notte, 11%. As histérias dos bairros da cidade de Sao Paulo pouco esclarecem sobre os bairros e loteamentos populares, enquanto ha abundantes informagdes sobre Cam- pos Eliseos, Higiendpolis, Jardim América e avenida Paulista, etc. —a historia nao é feita pelos vencedores sobre os vencedores?) Richard Morse (1970, 259) avalia que “a distribuigao de classes na cidade em 1890 era a seguinte: 5% a superior, 25% a =xédia e 70% a inferior”. Por maiores que sejam as reservas que se possam fazer a ‘esses dados e conceitos, ¢ por mais imprecisos e vagos que possam ser, é forcoso 117 Quadro 15 — Distribuigao territorial da expans4o da populacao da Area Metropo- litana da Grande Sao Paulo Sub-regioes 1920(**) 198444) 1950(**4) absolutos % absolutos % — absolutos 9% A oeste do Tamaduatel 345226 57,13 548470 48,97 978066 40,60 A leste do Tamanduatel 192893 31,92 368410 32,89 805506 33,44 Ao norte do Tiet@ 36 736 6,07 100727 8,99 278097 11,54 Santo Amaro (*) Por — 26918 240 81494 3,38 Suburbios a oeste 4178 069 12091 1,07 41326 171 Subtirbias a sudeste (ABC) 25215 417 59814 5,34 216159 8,97 Suburbios 2 nordeste (Perus e Jaragua) oe — 3504 0,31 8150 0,33 Total 604248 100.0 1119934 100,0 2408798 1000 _ Notas —Dado néio disponivel * Em 1920 1934, inclufa os distritos e subdistritos de 1970 de Santo Amaro, Ibirapuera, Capela do Socorro ¢ Parelheiros, quando formavam 0 municipio de Santo Amaro, ** Populacao total, Nesses anos, 0 entdo municipio de Sio Bernardo do Campo englobava todos os atuais municipios do ABC, De todos, somente a populacao urbana de Sao Caetano e Santo André representava, em 1934, 59% do total, ou seja, 35 204 habitantes. *** Populacdo urbana apenas. Fonte: IBGR, censos demogrificos nacionais para 1920 ¢ 1950. Para 1934, renso do Estado de Sao Paulo, reconhecer que, se 72% da cidade se encontrava a oeste doTamanduatef, uma signi- ficativa parcela das camadas de baixa renda também ali estava. Quanto & classe média, a simples observacao dos bairros que aparecem nos mapas da cidade do inicio do sécuilo—Vila Mariana, Vila Clementino, Ipiranga, Per- dizes, Cerqueira César, Agua Branca, Vila Romana, etc. — indica que a maior parte dessa classe também estava a oeste da cidade. Finalmente a oeste e depois a sudoeste, surgiram os primeiros bairros exclu- sivos da aristocracia paulistana: Campos Elfseos, Higiendpolis e avenida Paulista. A localizagao desses bairros pioneiros definiu uma tendéncia que, como veremos a- diante, se mantém até hoje, quando aalta burguesia atinge Aldeia da Serra, os varios Alphavilles, Granja Viana e Itapecerica da Serra, jé fora do municfpio de Sao Paulo. Para concluir a apresentagao das regularidades espaciais comuns a estrutu- ragao inicial de $40 Paulo e Belo Horizonte, cabe registrar que foi também além do Tamanduatef, polarizando a populacio do “lado de 14", que surgiu o primeiro subcentro de comércio e servicos da regidio metropolitana: 0 Brds. Esse subcentro cra, e ainda 6, eminentemente popular. Como se vé, 0 modelo por setores mantém-se até os dias atuais. Belo Horizonte Amesma anilise pode ser utilizada para explicar a estruturagao territorial de Belo Horizonte em suas primeiras décadas e a permanéncia, até hoje, de alguns 118 tragos importantes dessa estruturagao, embora com certas variantes iniciais, de- correntes do planejamento da cidade. Alids, esta andlise serve para mostrar como as forcas do mercado, conduzidas pela preferéncia das burguesias, superaram as do planejamento, de maneira que Belo Horizonte nao constitui excecao dentre nossas metrdpoles, no que tange a sua estruturagio. A capital mineira, tal como Sao Paulo, implantou-se num sitio constituido por um vale —o do ribeirao dos Arrudas — com varzea freqtientemente inundada, e onde vieram se alojar os trilhos de uma estrada de ferro, a entao Central do Brasil. Esse vale desenvolve-se aproximadamente no sentido leste-oeste, de maneira que a cidade ird se desenvolver ao norte ¢ ao sul dele (veja as figuras 24 a 26). A drea cons- tante do plano de Aardo Reis era constituida por trés zonas: a primeira era a zona urbana, limitada pela avenida do Contorno e mais freqientemente associada a area “planejada” de Belo Horizonte; envolvendo essa zona havia uma outra que o plano chamava de “suburbana’, com um plano vidrio menos elaborado e que foi mais de- sobedecido que na zona urbana. Finalmente, havia uma zona chamada “de sitios’, envolvendo a suburbana. A diferenca de padrao urbanistico entre a zona urbanaea suburbana é revelada pelo Quadro 16. De acordo com ele, azona suburbana, apesar de ter uma drea trés vezes maior que a urbana, tinha uma extensao de ruas menor que o dobro, além de apresentar muito menos pragas e avenidas. O plano revela, portanto, a semente de um modelo de circulos concéntricos. A zona urbana era cla- ramente a zona “nobre” da cidade e a suburbana, a popular. A quase-totalidade da zona urbana, de planejamento mais aprimorado, ¢ a maior parte da zona suburba- nae de sitios estavam localizadas ao sul da barreira constituida pelo ribeirao e pela ferrovia ao longo dele. Dentro da zona urbana, a Comissao Construtora da Nova Capital fixou que inicialmente s6 seriam cedidos ou vendidos os lotes situados den- tro de uma faixa compreendida entre as avenidas Crist6vao Colombo — nome que na €poca se estendia a toda a atual avenida Bias Fortes — e Araguaia — atual Fran- cisco Salles (veja.a Figura 26). O sentido dessa faixa era SE — NO. A rea em questao destinava-se a comportar uma populagao inicial de 30 mil habitantes, estipulada nas diretrizes tracadas pelo governo estadual para o plano da nova capital. Nessa 4rea comegaram as primeiras obras de urbanizagao. Numa parte dessa faixa foram selecionados os primeiros lotes a serem ocupados por residéncias. Os primeiros ocu- pantes eram integrantes de camadas médias, pois eram ou funciondrios ptiblicos transferidos de Ouro Preto — a antiga capital —, ou proprietarios de iméveis nessa cidade ouno antigo Arraial do Curral del-Rei, totalmente desapropriado para a cons- trucao da nova capital, ou ainda pioneiros que se aventuraram a comprar os primei- ros lotes vendidos em hasta publica. $6 mais tarde, a medida que a cidade se forma- va e se constitufa como uma capital, é que vieram a alta e a média burguesias, ou seja, os altos funcionarios e comerciantes e, posteriormente, os grandes industriais. O bairro pioneiro, onde predominavam os funciondrios ptiblicos, tem até hoje o nome de “Funciondrios” e ocupa principalmente a encosta leste da clevagao em cujo cume esta o Palacio da Liberdade (figuras 26 ¢ 39). Quando a burguesia chegou, instalou-se na mesma faixa pioneira, ocupando porém mais a encosta oeste. Essa 119

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