Cada permutação tanto pode ser pensada como uma simples troca na ordem dos elementos: de
1234 para 2143. Como também pode ser pensada como uma função σ : {1, 2, 3, 4} → {1, 2, 3, 4}
tal que σ(1) = 2 σ(2) = 1 σ(3) = 4 σ(4) = 3.
Essa segunda forma é mais vantajoso pois podemos, por exemplo, compor duas funções: se
compor as duas σ◦τ em uma nova permutação, σ ◦ τ (1) = σ(3) = 4, σ ◦ τ (2) = σ(2) = 1, σ ◦ τ (3) =
σ(4) = 3, σ ◦ τ (4) = σ(1) = 2.
Vamos então olhar para uma permutação do conjunto {1, 2, . . . , n}, com n elementos como uma
função bijetiva do conjunto nele mesmo, isto é, as permutações de n elementos são as funções bijetivas
σ : {1, 2, . . . , n} → {1, 2, . . . , n}. O conjunto de todas as permutações é denotado por Sn e tem n!
elementos. Sn com a operação de composição de funções é chamado de grupo simétrico.
Observe que com a introdução dessa linguagem a denição de polinômio simétrico ca muito
mais precisa: denimos agora um polinômio f (t1 , . . . , tn ) com sendo simétrico se f (tσ(1) , . . . , tσ(n) ) =
f (t1 , . . . , tn ), para toda permutação σ ∈ Sn .
. . .
. . .
eo (t1 , . . . , tn ) = 1, . . .
P
e1 (t1 , . . . , tn ) = t1 + · · · + tn , ej (t1 , . . . , tn ) = i1 <i2 <···<ij ti1 ti2 · · · tij ,
. . .
. . .
P
e2 (t1 , . . . , tn ) = i<j ti tj , . . .
. . .
. . .
Qn
. . . en (t1 , . . . , tn ) = i=1 ti
Esses polinômios são chamados de polinômios simétricos elementares e são os coecientes da equação
geral de grau n nas indeterminadas x, t1 , . . . , tn :
1
xn − e1 (t1 , . . . , tn )xn−1 + e2 (t1 , . . . , tn )xn−2 + · · · + (−1)j ej (t1 , . . . , tn )xn−j + · · · + (−1)n en (t1 , . . . , tn ).
Sabemos que nos complexos, C, todo polinômio de grau n fatora-se completamente em polinômios de
grau 1: g(x) = xn + an−1 xn−1 + · · · + ao = (x − b1 )(x − b2 ) · · · (x − bn ), onde b1 , . . . , bn são as raízes de
g(x). Vemos assim que substituindo-se t1 , . . . , tn por b1 , . . . , b n na equação geral obtemos g(x). Isto
é g(x) = F (x, b1 , . . . , bn ). Como consequência os coecientes de g(x) são obtidos pela substituição
Podemos então concluir que os valores ej (b1 , . . . , bn ) são conhecidos, mesmo se as raízes b1 , . . . , b n
não são conhecidas.
Antes de prosseguirmos convém observar que para toda permutação σ ∈ Sn vale que
Segue-se disso que ej (tσ(1) , . . . , tσ(n) ) = ej (t1 , . . . , tn ), isto é, acabamos de vericar que ej (t1 , . . . , tn )
é um polinômio simétrico, para todo j.
Vamos agora enunciar o Teorema de Newton:
Teorema: [Newton] Para todo polinômio simétrico f (t1 , . . . , tn ) existe um polinômio h(t1 , . . . , tn )
(não necessariamente simétrico) tal que
O teorema está dizendo que os polinômio simétricos são gerados pelos polinômio simétricos ele-
mentares. Outro aspecto interessante é que o polinômio h é efetivamente calculável, pelo menos em
De fato, já vimos que ej (b1 , . . . , bn ) = (−1)j an−j . Logo pelo Teorema de Newton,
muito rico em propriedades e por isso Sn foi muito estudado e suas propriedades foram completamente
determinadas (em Garcia-Lequain todo o item 11 do capítulo 5 é dedicado ao Sn , pp. 198-214).
Vamos então olhar para uma permutação do conjunto {1, 2, . . . , n}, com n elementos como uma
função bijetiva do conjunto nele mesmo e representar o conjunto de todas as permutações por Sn
e tem n! elementos. Sn com a operação de composição de funções é chamado de grupo simétrico.
Recordemos que uma das vantagens de olhar permutações como funções bijetivas de um conjunto
com n elementos, {1, 2, . . . , n}, nele mesmo é podermos compor funções e temos assim uma operação
Sn × S n → Sn . Observe que essa operação é associativa.
Outra vantagem de olharmos permutações como funções bijetivas é que toda função bijetiva tem
uma inversa, fato que não é tão aparente se falarmos somente em permutar a ordem dos elementos
Neste caso vamos descobrir que σ = σ −1 , outro fato não tão aparente. Já para τ, também da
página 1, teríamos τ −1 (3) = 1, τ −1 (4) = 3, τ −1 (1) = 4, e τ −1 (2) = 2. Neste caso temos ainda uma
surpresa. Pois fazendo-se as contas verica-se que τ −1 = τ ◦ τ . Vamos parar de escrever ◦ para
indicar a composição, assim σ ◦ τ = στ e τ ◦ τ = ττ. Vamos também usar a notação de potência, por
função identidade de {1, 2, . . . , n} sempre por 1. Ficamos assim com a igualdade τ 3 = 1, coisa bem
típica da matemática.
e σ e τ são apenas dois exemplos. Outro exemplo também poderia ser ρ(1) = 3, ρ(3) = 1, ρ(2) = 4
e ρ(4) = 2. Claro que escrever todos os 24 elementos é demorado e seria tedioso.
Questão 1. Verique diretamente que as funções τ −1 e ττ são iguais. Verique também que a
equações e ganhou uma importância muito maior depois do trabalho de Galois. Uma nova teoria foi
iniciada: a teoria de grupos. Vamos a seguir denir formalmente esses novos objetos matemáticos,
os grupos, e com um pouco de trabalho e paciência vamos descobrir sua importância dentro da
matemática avançada.
(iii) qualquer que seja x∈G existe x−1 ∈ G tal que xx−1 = x−1 x = 1.
Observação. O item (i) acima garante em que G não é vazio. O elemento 1 de que fala o axioma
chama-se elemento neutro da operação e podemos provar que é único. Muitas vezes é denotado por
e.
O axioma (ii) diz que a operação é associativa.
Nos axiomas (i) e (iii) foram escritas as igualdades dos dois lados porque a operação de um grupo
Observe que no estudo do Sn temos uma só operação que não é comutativa (se n > 2). Logo
temos aqui uma estrutura de natureza diferente dos anéis e corpos. Uma estrutura com uma só
Questão 2. Verique que S4 não é comutativo. Faça um teste com σ e τ , por exemplo. Verique
Questão 3. Para um grupo G mostre que o elemento neutro é único. Mostre também cada
elemento tem um único inverso e conclua disso que (xy)−1 = y −1 x−1 . (Lembrar o que como era o
4
O nome grupo deve ter-se originado da idéia de um grupo de elementos que interagem entre si.
Por exemplo, poderíamos tomar o grupo das pessoas que vivem em uma cidade com a operação de
casamento. Mas esse grupo não é um grupo. O que seria o elemento neutro?
Temos grupos que são nitos, como no caso acima que Sn tem n! elementos e temos grupos que
são innitos. Veremos logo a seguir grupos innitos. No caso nito denimos:
de falar. A operação é a composição de funções. O 1 aqui é a função identidade: 1(i) = i, para todo
i ∈ {1, . . . , n}. Sabemos que a composição de funções é associativa e como todas as funções de Sn
são bijetoras, cada uma delas tem sua função inversa que é o inverso em relação a operação.
Outro exemplo é o conjunto GLn (K) = conjunto das matrizes n×n que tem determinante 6= 0,
ou equivalentemente, conjunto das matrizes n×n que tem inversa. A operação aqui é o produto
GLn (K) tem uma matriz inversa, por denição de GLn (K), esse conjunto é um grupo. Esse é um
O conjunto dos inteiros com a operação usual de soma é um grupo tendo o 0 como elemento
neutro. Mas geralmente todo anel A é um grupo abeliano em relação a operação de soma. Exemplos
O mesmo podemos dizer do conjunto dos racionais, dos reais ou dos complexos. Na verdade todo
Quando estudamos anéis surgiu um exemplo de grupo, que na época passou desapercebido. Para
um anel A o conjunto A× com a operação de multiplicação é um grupo tendo o 1 como elemento neu-
tro. Veja que embora não falássemos explicitamente em grupo, a natureza de grupo já se fazia presente
Também são grupos todos os espaços vetoriais em relação a soma de vetores tendo o vetor nulo
como elemento neutro. Todos os exemplos desta última lista são comutativos ou abeliano. Alguns
5
Já Sn e GLn (K) não são comutativos, Sn é nito e GLn (K) só é nito se K for um corpo nito.
Por exemplo GL4 (F5 ) tem ordem 516 , isto é, tem 516 elementos. Por outro lado GL2 (Q) tem ordem
innita.
Outro exemplo que também surgiu naturalmente nos nossos estudos de extensões de corpos
√
ocorreu quando tomávamos a conjugação em K( c), onde K é corpo e c ∈ K× não é um quadrado.
√ √ √ √
A função σ(a + b c) = a − b c é uma bijeção de K( c). Tomando-se o conjunto G(K( c); K) =
{id, σ}, onde id é a função identidade temos um grupo com a operação de composição de funções.
√ √ √
Os elementos de G(K( c); K) são homomorsmos de anel de K( c) em K( c). (Recordar a
√ √
denição de homomorsmo de anel.) Como id, σ são bijetivos de K( c) em K( c) são chamados
de automorsmos, i.e., um automorsmo de um corpo K é um homomorsmo de anel θ:K →K
√
que seja bijetivo. No exemplo G(K( c); K) os automorsmos tem uma particularidade a mais: sua
√
restrição a K é a identidade. Por causa disso G(K( c); K) é chamado de grupo dos K -automorsmos
√
de K( c). Por exemplo G(C; R) = {id, σ}, onde σ(a + bi) = a − bi, é o grupo dos R-automorsmos
de C. Se procurássemos por G(C; Q) teríamos um grupo innito. Para se ter uma idéia, para cada
√ √
c∈Q que não é um quadrado existe um automorsmo σc ∈ G(C; Q) tal que σc ( c) = − c.
√
Grupos desse último tipo, como G(K( c); K), são chamados de grupos de Galois da extensão
√
K( c) de K.
Da mesmo forma que temos subanel e subcorpo (ou subespaço vetorial) temos também subgrupo.
Q× é um subgrupo de R× .
Outro exemplo de subgrupo: dado um domínio de integridade A, temos A× é um subgrupo de
Observe que um grupo innito como C× (com operação dada pela multiplicação) pode conter
6
√
subgrupos nitos. Por exemplo, seja ξ = cos(2π/n) + sen (2π/n) −1. Esse número é chamado de
uma raiz primitiva n-ésima da unidade, pois ξ é raiz do polinômio Xn − 1 e para todo 1 ≤ k < n,
ξ não é raiz de Xk − 1 (para vericarmos esses dois fatos basta vermos que para todo k ≥1 vale
√
ξ k = cos(2kπ/n) + sen (2kπ/n) −1).
√ √
Por exemplo ξ4 = −1 é uma raiz primitiva quarta da unidade e ξ3 = (−1/2) + (1/2) −1 é
uma raiz primitiva terceira da unidade. Já ξ2 = −1 é a raiz quadrada da unidade. Temos assim que
{ 1, −1 } é um subgrupo de C× (também de R× e Q× ).
Temos que < ξ >= { 1, ξ, . . . , ξ n−1 } é um subgrupo nito de C× . Esse grupo é chamado de cíclico
porque é gerado por um único elemento, todos os elementos de <ξ> são potência de ξ.
Outros exemplos de subgrupos podem ser obtidos no estudo de Sn ou no estudo dos grupos de
um subgrupo de G.
T
Mais geralmente dada uma família Hi , i ∈ I de subgrupos de G mostre que i∈I Hi também é
um subgrupo de G.
Por outro lado, mostre através de um exemplo que H1 ∪H2 não é em geral um subgrupo (verique
Denição. (I) Seja G um grupo e S ⊂ G um subconjunto xado. Chama-se subgrupo gerado por
S ao subgrupo
\
hSi = H,
H
Exemplos: Seja G=Z com a operação de soma e S = { 1 }. Temos que h1i = Z (agora é o
número 1!).
elementos são todos distintos: 1, τ , τ 2 , σ , στ , στ 2 . Como todos eles fazem parte de S3 e |S3 | = 6,
7
concluímos que S3 = { 1, τ, τ 2 , σ, στ, στ 2 } = hSi.
Por outro lado hσi = { 1, σ } e hτ i = { 1, τ, τ 2 }.
Vamos explicar melhor o sentido de τ 2. Mais geralmente, dada uma permutação ϕ ∈ Sn e s≥1
o signicado de ϕs é
ϕs = ϕ ◦ ϕ ◦ · · · ◦ ϕ
| {z }
s vezes
Isto é, uma composição de funções. Sabemos que a composição de funções bijetivas também é bijetiva.
Por isso todas as potências de ϕ são funções bijetivas de {1, 2, . . . , n} em {1, 2, . . . , n}. Logo ϕs tem
Vamos então denotar expoentes negativos como sendo a inversa de (ϕ−1 )s . Isto é: Para toda ϕ ∈ Sn
e todo s∈Z denimos
ϕ ◦ ϕ ◦ ··· ◦ ϕ se s ≥ 1;
| {z }
s vezes
ϕs = 1 = função identidade se s = 0;
ϕ−1 ◦ ϕ−1 ◦ · · · ◦ ϕ−1
se s<0
| {z }
|s| vezes
Na verdade a denição acima aplica-se a todo grupo G. Isto é, dado um grupo G e g ∈ G, denimos
g · g···g se s ≥ 1;
| {z }
s vezes
gs = 1 = elemento neutro se s = 0;
g −1 · g −1 · · · g −1
se s<0
| {z }
|s| vezes
Com essa denição temos que hgi = { g s | s ∈ Z }, pois o exercício abaixo garante esse fato.
Queremos ressaltar que quando G tem operação aditiva, como no caso Z, vamos escrever sg no
8
e então hgi = { sg | s ∈ Z }.
igualdades valem:
1. ∀ r, s ∈ Z, g r · g s = g r+s .
2. ∀ r, s ∈ Z, (g r )s = g rs . Em particular (g r )−1 = g −r .
3. ∀ r, s, t ∈ Z, (g r+s )t = g rt+st .
Questão 6. Dado um corpo K dena para toda A ∈ GLn (K) e todo s∈Z a potência As como
Seja G um grupo nito, para todo g ∈ G existe um inteiro positivo r ≥ 1 tal que gr = 1
(= elemento neutro). De fato, considere o conjunto {. . . , g −2 , g −1 , g 0 , g 1 , g 2 , g 3 , . . . , } = hgi. Como
hgi ⊂ G e |G| é nito também |hgi| tem que ser nito. Logo existem t 6= s, dois inteiros, tais que
ordem innita.
Denimos também que a ordem de 1 é 1 (Atenção: cada um dos 1 tem um signicado diferente).
9
Observe que GL2 (R) é um grupo innito, mas
0 1
g=
1 0
possível que todos os elementos de um grupo innito tenham ordem innto, como no caso G = Z.
Propriedade. Seja G um grupo e g ∈ G, temos que |g| divide todo t∈Z tal que g t = 1 (=
elemento neutro de G).
seja t∈Z tal que g t = 1. Pelo algorítimo de Euclides podemos escrever t = |g|q + r, com r=0 ou
0 < r < |g|. Para r = t − |g|q vamos ter g r = g t−|g|q = g t (ϕ|g| )−q = 1, pois gt = 1 (por hipótese) e
g |g| = 1. Logo g r = 1. Suponhamos agora que r 6= 0, isto é, r ≥ 1. Obtemos então uma contradição,
pois r < |g| e r ∈ { t ≥ 1 | g t = 1}. Logo r=0 e assim |g|, divide t, como armado.
gt = gr .
Propriedade. Todo subgrupo de um grupo cíclico é cíclico. Isto é, dado G = hgi um grupo cíclico
e H⊂G um subgrupo com H 6= { 1 }, temos que H = hg r i, onde r = min{ t ∈ Z | t ≥ 1 e g t ∈ H }.
fato, temos H = { gt | t ∈ Z | e g t ∈ H }.
10
Portanto, dado h ∈ H, necessariamente existe t∈Z tal que h = gt. Queremos demonstrar que
Z são 1 e −1. Dado H ⊂ Z, com H 6= { 0 } (o elemento neutro de Z para a soma é o número 0),
a propriedade acima diz que H = hr · 1i, onde r = min{ t ∈ Z | t ≥ 1 e t · 1 ∈ H }. Isto é, para
cada h ∈ H, existe q∈Z tal que h = q(r · 1). Vemos então que H = rZ é nosso velho conhecido,
o conjunto dos múltiplos de r. Isto é, cada subgrupo de Z é igual ao conjunto dos múltiplos de r.
Conclusão: os subgrupos de Z coincidem com os ideais de Z. Esse fato também vai se repetir para
Observação. Um fato que convém destacar é que um grupo cíclico tem, em geral, mais de um
gerador. O grupo Z (em relação a adição) tem 1 e −1 como geradores. Para cada n, Z/nZ tem, em
geral, vários geradores. De fato, 1 é um gerador natural de Z/nZ; para cada 0≤m<n podemos
escrever m = m1. Por outro lado para cada 1≤r<n que seja relativamente primo com n temos
que r é um gerador de Z/nZ. Como r e n são relativamente primos, sabemos que existem t, s ∈ Z
tais que 1 = tp + sr. Portanto 1 = sr = sr. Dessa forma Z/nZ =< 1 >⊂< r >⊂ Z/nZ, implicando
O resultado que vamos apresentar é muito importante na teoria dos grupos e é conhecido como
Teorema de Lagrange. É um fato interessante que esse teorema leve o nomo de Lagrange pois no
tempo dele ainda não se falava em grupos. Na verdade Lagrange trabalhou com permutações nos
seus estudos sobre equações onde obteve certas propriedades que outros matemáticos acabaram por
11
Seja G um grupo nito e H⊂G um subgrupo. Vamos denir uma relação entre os elementos de
G da seguinte maneira:
x ≡ y(modH) ⇔ x−1 y ∈ H.
Questão 7. Mostre que a relação acima é uma relação de equivalência. (é reexiva, simétrica, e
transitiva).
x = {y ∈ G | y ≡ x }.
Vericação: temos que mostrar a igualdade de dois conjuntos. Vejamos primeiro que x ⊂ { xh |
h ∈ H }. Seja y ∈ x = {y ∈ G | y ≡ x }. Logo h = x−1 y ∈ H , pela própria denição de ≡. Logo
Dena agora x
b= classe de equivalência dada por ≡1 a qual x pertence, e mostre que b = { hx |
x
h ∈ H }.
Para ≡1 do exercício acima a notação será mudada para x
b = Hx e é chamada de classe lateral a
esquerda de G módulo H.
Propriedade. Seja G um grupo nito. Para todo x∈G a classe lateral a direita x tem |H|
elementos.
Vericação: estamos dizendo que todas as classes tem o mesmo número de elementos e que esse
12
Pela propriedade que mostramos acima, (†), f é uma função sobrejetora. Veriquemos que é injetora:
se f (h1 ) = f (h2 ), então xh1 = xh2 . Multiplicando-se essa igualdade pela esquerda por x−1 vamos
obter h1 = h2 , e assim f é injetora. Portanto f é bijetora e os dois conjuntos tem o mesmo número
Questão 9. Mostre a mesma coisa para as classes laterais a esquerda, isto é, mostre que x
b tem
Recordemos agora que uma relação de equivalência particiona o conjunto sobre o qual está
denida. No nosso caso isso signica que dados x, y ∈ G temos duas possibilidades excludentes:
x=y ou x ∩ y = ∅.
Esse fato, das duas possibilidades excludentes, é facilmente vericado no nosso caso. Realmente,
Observemos em seguida que para G nito, também o conjunto de classes laterais a direita de G
módulo H será nito. Vamos denotar por G/H ao conjunto de todas as classes laterais a direita
Finalmente, note que como todo x∈G está em alguma classe (na sua própria classe) temos que
S
G= x∈G x. Juntando tudo chegamos a conclusão
X
|G| = |x| = (G : H)|H|,
x∈G
onde |x| indica o número de elementos do conjunto x que sabemos ser igual a |H|.
Questão 10. Repita as discussões das últimas 15 linhas para classes laterais a esquerda de G
módulo H. Em particular mostre o Teorema de Lagrange trabalhando com x
b no lugar de x. Conclua
13
disso que o número de classe laterais a direita, de G módulo H, é igual ao número de classes laterais
a outra.
Questão 11. Usando o Teorema de Lagrange e a propriedade |g| = |hgi|, vista anteriormente,
conclua que |g| divide |G|, para todo g ∈ G, onde G é nito. Portanto g |G| = 1, para todo g ∈ G.
Aplicações. (I) [Pequeno Teorema de Fermat] Para um irredutível p∈Z se a∈Z é tal que
Vericação: (I) Conforme vimos na Questão 23, página 20 das Notas 2, para todo n∈Z o grupo
das unidades Z× tem ordem ϕ(n). Para cada a∈Z satisfazendo MDC(n, a) =1 a classe de restos
a está em Z× . Logo, pelo exercício acima a ϕ(n) = 1 (= 1). Dessa forma aϕ(n) ≡ 1 (mod n). Em
contudo, na Observação da página 10 que |g| = |hgi|. Portanto hgi ⊂ G tem também p elementos, e
assim, hgi = G.
• Mais ainda, se < x > ∩ < y >= { 1 }, então |xy| = mínimo múltiplo comum de |x| e |y|.
nita.
14
Para mostramos a segunda parte recordemos que para um elemento g ∈ G, < g >= { g t | t ∈ Z}
é o sugbrupo gerado por g. Mais ainda, no caso de |g| = n ser nito, então < g >= { 1 =
g 0 , g, g 2 , . . . , g n−1 }.
Estamos supondo < x > ∩ < y >= { 1 } e que |x| = n, |y| = m são números inteiros positivos.
agora (xy)k = xk y k = (xn )a (y m )b = 1. Assim (xy)k = 1. Para que k = |xy| devemos mostrar que k
é o menor inteiro t≥1 tal que (xy)t = 1. Seja t um tal inteiro. Como xt y t = (xy)t = 1, vamos ter
xt = y −t . Mas xt ∈< x > e y −t ∈< y >. Logo xt = y −t ∈< x > ∩ < y >= { 1 }. Portanto xt = 1 e
é divisível por k (que é um mínimo múltiplo comum de n e m). Mas se k|t, e k, t ≥ 1 vale que k ≤ t,
como queríamos demonstrar.
Questão 12. Sejam x1 , . . . xn ∈ G, onde G é um grupo. Suponhamos que quaisquer que sejam
Dica. Trabalhe recursivamente, para n=2 é a propriedade demonstrada acima. Suponha que
vale para todo n≤k e demonstre que vale para n=k+1 fazendo o seguinte: dena y = x1 · · · xk e
mostre que y e xk+1 comutam e < y > ∩ < xk+1 >= { 1 }. Termine usando o caso n = 2.
15
Para os homomorsmos de grupos temos propriedades bem semelhantes ao caso de anéis. A com-
smos nos casos em que o homomorsmo é sobrejetivo e injetivo. Temos também isomorsmo no
caso bijetivo.
homomorsmo de grupos.
Temos para o núcleo propriedades análogas àquelas do ideais. Os itens (1) e (3) do resultado
abaixo são simples vericação. Quanto ao item (2) basta aplicarmos o Teorema de Lagrange.
1. N (ϕ) é um subgrupo de G tal que gN (ϕ)g −1 = N (ϕ) para todo g ∈ G. Por outro lado
2. Se G é nito, então |G| = |N (ϕ)||Im (ϕ)|. Portanto |Im (ϕ)| divide |S| e |G|.
o conjunto Aut constituído dos automorsmos de Z[t1 , . . . , tn ] (isto é, o conjunto dos isomorsmos
do anel Z[t1 , . . . , tn ] nele mesmo) com a operação de composição de funções (isomorsmos são antes
de mais nada funções) é um grupo tendo como elemento neutro a função identidade de Z[t1 , . . . , tn ].
Mostre também que a relação σ 7→ σ
e é um homomorsmo injetivo do grupo Sn em Aut (isto é, as
16
Vamos usar os fatos acima para construir um homomorsmo Sn → { 1, −1 } que está relacionado
com permutações pares e permutações impares. Para esse estudo consideremos o polinômio em n
variáveis
Y
Φ(t1 , . . . , tn ) = (ti − tj ).
i<j
1≤i,j≤n
para n = 3 temos Φ(t1 , t2 , t3 ) = (t1 −t2 )(t1 −t3 )(t2 −t3 ). Tomando-se σ = (123) temos σ
e(Φ)(t1 , t2 , t3 ) =
(t2 − t3 )(t2 − t1 )(t3 − t1 ) = Φ(t1 , t2 , t3 ). Já para o caso τ = (12) teríamos τe(Φ)(t1 , t2 , t3 ) = (t2 −
t1 )(t2 − t3 )(t1 − t3 ) = (−1)Φ(t1 , t2 , t3 ).
O que acabamos de observar nos dois exemplos podemos colocar como regra:
σ
e(Φ)(t1 , . . . , tn ) = (±1)Φ(t1 , . . . , tn ),
para toda σ ∈ Sn . De fato, a única alteração que fazemos em Φ(t1 , . . . , tn ) é trocar a ordem das
Dessa forma σ
e(Φ)(t1 , . . . , tn ) = ε(σ)Φ(t1 , . . . , tn ), para toda σ ∈ Sn .
Denição. Dizemos que uma permutação σ ∈ Sn é par se ε(σ) = 1; caso contrário dizemos que
σ é impar.
Vericação. É uma vericação direta, que ca como exercício, que vale a relação ε(στ ) = ε(σ)ε(τ ).
Dessa relação decorre que ε é um homomorsmo de grupos. Por outro lado é claro que se σ é uma
transposição (2-ciclo), por exemplo σ = (12), então ε(σ) = −1. Logo ε é sobrejetiva.
17
Mostraremos mais adiante que o lema acima implica que An é um subgrupo normal de Sn e veremos
n!
também que tem ordem .
2
Questão 14. Sejam ϕ e θ dois homomorsmos sobrejetivos de grupo que tem um grupo G
como domínio e os grupos S e T como contra-domínios. Mostre que existe um único homomorsmo
A importância dos subgrupos normais vem do fato de que se H C G, então as duas relações de
equivalência ≡ e ≡1 denidas na página 4 coincidem e assim toda classe lateral a direita é igual a
alguma outra classe lateral a esquerda, isto é, para todo g ∈ G, existe g 0 ∈ G tal que gH = Hg 0 . Como
consequência se denirmos em G/H × G/H → G/H a aplicação (g1 H, g2 H) 7→ (g1 g2 H) teremos uma
função que torna G/H um grupo. Esse grupo é chamado de grupo quociente. Temos também que
π : G → G/H dada por π(g) = gH = g é um homomorsmo sobrejetivo de grupos que tem H como
Para os grupos temos também um teorema do isomorsmo cuja demonstração é igual ao caso de
anéis.
Para um grupo abeliano G todos os subgrupos são normais. Em geral a melhor maneira de ver que
18
com domínio e um grupo conhecido como contradomínio. Por exemplo, para mostrar que o conjunto
Como aplicação do teorema acima vamos classicar os grupos cíclicos, pois eles são muito parti-
uma função ϕ : Z → G dada por ϕ(n) = g n para todo n ∈ Z (ver o segundo exemplo da página 16).
Questão 16. Verique que a função ϕ denida acima é um homomorsmo sobrejetivo de grupos.
Caso G seja nito de ordem n, então ϕ tem núcleo nZ (agora estamos vendo Z como grupo aditivo
Podemos chegar então a seguinte conclusão: dois grupos cíclicos nitos de mesma ordem são
isomorfos e todo grupo cíclico innito é isomorfo a Z. Podemos mesmo dizer que para cada n,
Z/nZ é o único, a menos de isomorsmo, grupo cíclico de ordem n. Também Z é, a menos de
G/H é abeliano, então [G, G] ⊂ H . Dessa forma G/[G, G] é o maior grupo quociente de G que é
abeliano.
Questão 18. Fugindo um pouco a sequência mostre que se G e S são dois grupos, então G × S =
{ (g, s) | g ∈ G, s ∈ S } com a operação (g, s)(g 0 , s0 ) = (gg 0 , ss0 ) é também um grupo.
19
Vamos a seguir fazer outra aplicação do Teorema do Isomorsmo. Sejam m, n dois inteiros
positivos primos entre si. Considere a função θ : Z → Z/mZ × Z/nZ denida por θ(s) = (s + mZ, s +
nZ).
Questão 19. Mostre que θ é um homomorsmo sobrejetivo de grupos cujo núcleo é mZ ∩ nZ.
Para mostrar a sobrejetividade lembre que existe u, v ∈ Z tais que 1 = um + vn. Por causa disso,
dados a, b ∈ Z tomando-se c = vna + umb vamos ter que c − a = (vn − 1)a + umb ∈ mZ e igualmente
c − b ∈ nZ.
Mostre em seguida que mZ ∩ nZ = mnZ (lembre que m e n são relativamente primos). Podemos
onde n = n1 n2 · · · nt (Compare os fatos acima com o item (d), página 23, da Questão 24, número 8
Voltando aos subgrupos normais temos que outro ponto vantajoso sobre eles é que podemos
As duas armações acima são de fácil vericação, assim como o seguinte resultado:
ST /S ' T /(S ∩ T ).
aplicação (st)S 7→ t(S ∩ T ) é o isomorsmo do teorema. Esse resultado é conhecido como Segundo
Teorema do Isomorsmo
Exemplo: todo diedral Dn = hτ i o hσi, onde τ é uma rotação de ângulo 2π/n e τ uma reexão
20
(rotação espacial de ângulo π ). Logo |τ | = n e |σ| = 2.
Questão 20. Sejam S, T dois subgrupos normais de um grupo G tais que S ∩ T = { 1 }. Mostre
que ST ' S × T .
Caso tomemos um grupo abeliano G vamos observar que a condição de normalidade trivializa-
se, isto é, todo subgrupo é normal. Logo, dados quaisquer S, T subgrupos de um grupo abeliano,
S1 ⊕ S 2 ⊕ · · · ⊕ St para indicar esse fato (compare tudo isso com o caso de subespaços de um espaço
vetorial).
de um homomorsmo com subgrupos do contradomínio. Tínhamos visto alguma parecida para ideais.
Na verdade trocando-se grupos por anéis e subgrupos por ideais o resultado continua valendo.
1. Mostre que existe uma correspondência biunívoca entre o conjunto dos sugrupos de G que
2. Explore essa correspodência vericando coisas como: ela preserva inclusões, preserva inter-
seções, preserva normalidade, preserva o índice, etc. (Aqui também usamos que se T é um
3. Seja H um subgrupo normal de G que contém N (ϕ) e T = ϕ(H). Mostre que G/H ' S/T .
(Use a Questão (14), página 17 para obter um homomorsmo ψ : G/H → S/T e depois
21
verique que é um isomorsmo.)
1≤i≤t seja
Juntando as conclusões dos itens (3) com (4) podemos concluir que |G(pi )| = pni i (estamos
(3). Uma questão que ainda não respondemos é se para todo irredutível p que divide |G| existe
g ∈ G tal que |g| = p. Isto é, se as componentes G(pi ) são triviais ou não. Vemos demonstrar abaixo
que a resposta a essa pergunta é não, não são triviais, e com isso demonstramos também o fato de
Lema: [Cauchy] Seja G um grupo abeliano nito e p um irredutível de Z que divide |G|. Então
Vericação. Se |G| = p, pelo que vimos na Aplicação (II), página 14, G ' Z/pZ. Logo G tem
elemento de ordem p. Suponhamos agora que |G| > p e vamos proceder por indução sobre |G|.
Seja u ∈ G com u 6= 0. Se |u| = pm para algum m ∈ Z, então g = mu tem ordem p. Suponhamos
que |u| = n e p - n.
22
Como G é abelianos < u > CG. Tomemos o grupo quociente G/ < u > que tem ordem |G|/n
(lembrar que | < u > | = |u|). Temos agora que p divide |G/ < u > |, pois p e n são relativamente
primos. Temos também que |G/ < u > | < |G|. Logo, pela hipótese de indução G/ < u > tem
elemento de ordem p. Isto é, existe h ∈ G tal que |h+ < u > | = p. Como |h|h = 0 temos que
|h|(h+ < u >) = 0 (= 0+ < u >) em G/ < u >. Novamente pela Propriedade no m da página 10
temos que p | |h|. Logo |h| = pm, como no início da demonstração, e assim g = mh tem ordem p,
como queríamos demonstrar.
Voltando então ao Teorema da Decomposição Canônica, o lema acima nos diz que G(pi ) 6= { 0 },
para todo i = 1, . . . , t, e como todos os elementos de G(pi ) tem ordem potência de pi , necessariamente
|G(pi )| é uma potência de pi .
Para mostrar o item (4) usamos uma forma generalizada do Teorema de Bezout: Para cada
nj
n = pni i ai
Q
1 ≤ i ≤ t seja ai = j6=i pj . Observe que e que os números a1 , . . . , a t não tem fator
comum diferente de ±1. São em conjunto relativamente primos. Por isso existem inteiros m1 , . . . , m t
tais que 1 = m 1 a1 + · · · + m t at (Observe que o ideal I = a1 Z + · · · + at Z, sendo principal, tem a
forma I = uZ para algum u ∈ Z. Como ai ∈ I , para todo i = 1, . . . , t teremos que u | ai , para todo
Para fazer a vericação desse fato vamos em primeiro lugar vericar que dados g, h ∈ G, grupo
Mais geralmente dados g1 , . . . , gm ∈ G tais que |gi | = ai seja c o mínimo múltiplo comum de
a1 , . . . , a m . Então c(g1 + · · · + gm ) = 0.
Vamos agora usar essa observação na vericação de que vale a equação (3). Sejam gj ∈ G(pj )
para j = 1, . . . , t tais que gi = g1 + · · · gi−1 + gi+1 + · · · gt .
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Seja c o mínimo múltiplo comum de |g1 |, . . . |gi−1 |, |gi+1 |, . . . , |gt |. Então c é um produto de
potências de p1 , . . . , pi−1 , pi+1 , . . . , pt . Pelo que vimos acima c(g1 + · · · gi−1 + gi+1 + · · · gt ) = 0. Logo
cgi = 0, também. Dessa maneira, pela Propriedade no m da página 10 temos que |gi | divide c. Mas
Questão 21. Usando a Questão (17), página 19, e a terceira Propriedade que aparece na página 10
(subgrupo de cíclico é cíclico), mostre que um grupo abeliano G é cíclico se e somente se G(pi ) é
fato, um grupo abeliano de ordem 4, por exemplo, tem que ser da forma Z/4Z ou da forma Z/2Z ×
Z/2Z, pois 4 = 22 . Já um grupo de ordem 30 só pode ser da forma Z/2ZZ/3ZZ/5Z que é isomorfo a
Z/30Z, pela Questão 20 e comentários abaixo dela. Para ordem 12, temos duas possibilidades Z/4Z×
Z/3Z ∼
= Z/12Z (Questão 20, como acima) ou ou da forma Z/2Z × Z/2Z × Z/3Z ∼
= Z/2Z × Z/6Z,
quando juntamos as duas últimas parcelas. De uma maneira geral, para encontrarmos os grupos
Questão 22. Escolha alguns números pequenos e descreva todos os grupos abelianos com as
ordens escolhidas.
Vamos terminar estas notas recapitulando as famílias de grupos nitos que camos conhecendo.
Os grupos cíclicos Z/nZ, com os quais fabricamos todos os grupos abelianos nitos. Os grupos
diedrais Dn com ordem 2n os grupos simétricos Sn com ordem n! e os grupos alternados An com
ordem (1/2)n!. Fora o caso cíclico, todos eles não abelianos. Mas existem muitos outros, só que são
muito mais complicados de descrever. Temos por exemplo os grupos quaterniônicos Qn (ainda não
√
tão complicado) que têm ordem 2n . Para n = 3, chamando-se −1 = i, como de costume, podemos
descreve-lo
±1 0 ±i 0 0 ±1 0 ±i
Q3 = , , , .
0 ±1 0 ±(−i) ±(−1) 0 ±i 0
24