Você está na página 1de 8

Elementos da Culpabilidade

São 3

IMPUTABILIDADE

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE

EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

IMPUTABILIDADE
possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração
penal.

necessários 2 elementos para haver imputabilidade


elemento INTELECTIVO

higidez psíquica

consciência do caráter ilícito

elemento VOLITIVO

agente que domina sua vontade

exerce controle sobre a disposição surgida do entendimento do caráter ilícito do fato, e se determina de
acordo com este entendimento.

Momento de constatação
ao tempo de ação ou omissão

Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o
acusado se restabeleça

Critérios das hipóteses de inimputabilidade


Critério BIOLÓGICO

observa apenas o desenvolvimento mental do agente (doença mental ou idade).

Critério PSICOLÓGICO

considera apenas se o agente, ao tempo da da conduta, tinha capacidade de entendimento e


autodeterminação, independente de idade ou condição mental

Critério BIOPSICOLÓGICO

considera inimputável aquele que era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Causas de INIMPUTABILIDADE
ANOMALIA PSÍQUICA

adoção do critério biopsicológico


doença mental em sentido amplo

não importa a causa geradora desse estado, se natural ou tóxica

Observações

sonambulismo exclui a tipicidade

surdo-mudo - deve ser feita perícia p/ fixar o grau de retardamento

inimputável será denunciado e processado, devendo ser absolvido (ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA), com
cumulação da sanção penal de medida de segurança.

IDADE

adoção do critério biológico

presunção absoluta p/ menores de 18 anos

fundamento em orientações de política criminal

eventual antecipação civil da capacidade NÃO gera repercussões penais

a imputabilidade deve ser aquilatada no momento da conduta

em se tratando de delito permanente, será quando cessa a prática criminosa

comprovada por meio de certidões

Tratados Internacionais

Convenção Americana de Direitos Humanos não estabelece idade limite para imputabilidade penal,
respeita a autonomia de cada Estado

Estatuto de Roma (que criou o Tribunal Penal Internacional) prevê a IMPOSSIBILIDADE de julgamento do
menor de 18 anos perante o TPI.

EMBRIAGUEZ

Classificada em espécies e graus

A) NÃO ACIDENTAL (voluntária ou culposa)

o agente ingere a substância com intenção de embriagar-se, ou por negligência/imprudência acaba por
embriagar-se.

JAMAIS exclui a imputabilidade, seja ela completa ou incompleta

B) ACIDENTAL (caso fortuito ou força maior)

Caso fortuito

sujeito desconhece o efeito inebriante da subst. que ingere

Força Maior

sujeito é obrigado a ingerir subst. inebriante

se COMPLETA

ISENTA o agente de pena


se INCOMPLETA

diminui a pena

C) PATOLÓGICA

Embriaguez DOENTIA

pode configurar anomalia psíquica

gerando inimputabilidade

ou reduzir sua pena

D) PREORDENADA

Embriaguez com finalidade de cometer um crime

incide agravamento da sanção penal

seja completa ou incompleta, não há inimputabilidade nem redução da pena

Apenas a embriaguez acidental, por caso fortuito ou força maior exclui a imputabilidade.

SEMI-IMPUTÁVEIS

Índio não integrado


NÃO há presunção de incapacidade penal. A regra é sua imputabilidade. Contudo, poderá haver causa
excludente de culpabilidade, analisando-se o caso concreto, por ausência de potencial consciência da
ilicitude ou inexigibilidade de conduta diversa.

PERÍCIA MÉDICA
adoção do sistema biopsicológico

o juiz afere a parte psicológica

reserva-se à perícia o exame BIOLÓGICO

existência de problema ou anomalia mental

necessidade de laudo médico

porém, o juiz NÃO atua como perito

juiz pode discordar e determinar novo exame

incidente de insanidade mental tramita em autos apartados e NÃO suspende a prescrição

incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da defesa

depende de solicitação/concordância para sua realização

réu não pode sofrer perícia contra sua vontade

imputabilidade é presumida
EMOÇÃO E PAIXÃO
NÃO excluem a responsabilidade penal

Emoção

estado súbito e passageiro

circunstância atenuante

ou causa de diminuição de pena

Paixão

sentimento crônico, duradouro

depende do grau e capacidade de entendimento do agente

pode ser considerada DOENÇA MENTAL

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE (rol é taxativo)


- Possibilidade que tem o agente imputável de compreender a reprovabilidade de sua
conduta.
Critérios para determinação da consciência da ilicitude:

a) Formal: o agente deve ter conhecimento que viola uma norma penal. Não se aplica pois apenas quem possuísse
formação jurídica poderia ser-lhe atribuído infrações penais (Binding, Beling e von Liszt).
b) Material: pressupõe o conhecimento de que, com a conduta, pratica-se um ato antissocial, imoral e injusto, que
viola um interesse. Também não é aplicado pois desconsidera a existência de delitos que não são estabelecidos com
base na materialidade do injusto (Max Ernst Mayer e Kaufmann).
c) Critério Intermediário: Não se exige do sujeito ativo uma compreensão técnica, apenas que tenha condições de
perceber que o seu comportamento não encontra respaldo no direito. É a valoração paralela na esfera do profano
(percepção leiga) – Hans Welzel. Critério com maior aceitação.

Sistema Clássico Sistema Finalista

Consciência da ilicitude: situada na culpabilidade, no Potencial consciência da ilicitude: inserida na


interior do dolo, de cunho normativo. culpabilidade, mas separada do dolo, o qual foi
transferido para a conduta (fato típico), e passou a ser
natural, isto é, sem a consciência da ilicitude.

Exclusão:
A potencial consciência da ilicitude é afastada pelo erro de proibição escusável (art. 21, caput, CP).

Erro de proibição: o Código Penal o chama de “erro sobre a ilicitude do fato”. É a falsa percepção do agente
acerca do caráter ilícito do fato típico por ele praticado, de acordo com um juízo profano.

Erro escusável (inevitável ou invencível): funciona como causa de exclusão da culpabilidade. Mesmo que o sujeito
se esforçado não poderia ter evitado, não tem condições de compreender o caráter ilícito do fato.
Erro inescusável (evitável ou vencível): funciona como causa de diminuição da pena (1/6 a 1/3 da pena). Poderia
ter evitado com o normal esforço de consciência por parte do agente, sendo possível obter a compreensão do
caráter ilícito do fato.
Critérios de aferição: características pessoais do agente, idade, grau de instrução, local em que vive, elementos
culturais de formação da personalidade, e NÃO o critério inerente ao homem médio.
Critérios para determinar se o erro é inescusável, vencível ou evitável:
ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL

1) O agente atua com uma “consciência profana” acerca do caráter ilícito do fato.

2) O agente atua sem a mencionada consciência profana, quando lhe era fácil atingi-la, nas circunstancias em que
se encontrava, com seu próprio esforço de inteligência e com os conhecimentos hauridos da vida comunitária de
seu próprio meio.

3) O agente atua sem a “consciência profana” sobre o caráter ilícito do fato, por ter na dúvida, deixado
propositadamente de informar-se para não ter que evitar uma possível conduta proibida.

4) O agente atua sem essa consciência por não ter procurado informar-se convenientemente, mesmo sem má
intenção, para o exercício de atividades regulamentadas.

Espécies de erro de proibição

a) Erro de Proibição direto: o agente desconhece o conteúdo de uma lei penal proibitiva, ou, se o conhece,
interpreta-o de forma equivocada. Ex.: holandês acredita ser possível fumar maconha no Brasil.
b) Erro de proibição indireto: o agente sabe que a conduta é típica, mas supõe presente uma norma permissiva, ora
supondo existir uma causa excludente de ilicitude, ora supondo estar agindo nos limites da descriminante. Ex.:
marido que mata esposa pela “legítima defesa da honra”.
c) Erra de proibição mandamental: o agente envolvido em uma situação de perigo a determinado bem jurídico,
erroneamente acredita estar autorizado a livrar-se do dever de agir para impedir o resultado, nas hipóteses prevista
no art. 13, §2º do CP, só sendo possível nos crimes omissivos impróprios. Ex.: pai de família, válido para o trabalho,
mas em situação de pobreza, abandona o filho de pouca idade à própria sorte, matando-o, por acreditar que nesse
caso não tem a obrigação de por ele zelar.
DIFERENÇA ENTRE ERRO DE PROIBIÇÃO E CRIME PUTATIVO POR ERRO DE PROIBIÇÃO

Erro de proibição: o sujeito age acreditando na licitude Crime putativo por erro de proibição (ou delito de
do seu comportamento, quando na verdade pratica alucinação): o agente atua acreditando que seu
uma infração penal, por não compreender o caráter comportamento constitui infração penal, mas, na
ilícito do fato. realidade, é penalmente irrelevante. Ex.: pai que
mantém relações sexuais com a filha maior de 18 anos e
capaz, acreditando cometer crime de incesto, fato
atípico no DP pátrio.

Erro de Tipo e Erro de Proibição


Erro de Tipo Erro de Proibição
Causa O agente desconhece a situação fática, o O agente conhece a realidade fática, mas não
que lhe impede o conhecimento de um compreende o caráter ilícito da sua conduta. Sabe o
ou mais elementos do tipo penal. Não que faz, mas não sabe que viola a lei penal.
sabe o que faz.
Efeitos  Escusável: exclui o dolo e a culpa;  Escusável: exclui a culpabilidade;
 Inescusável: exclui o dolo, mas permite  Inescusável: não afasta a culpabilidade, mas
a punição por crime culposo, se previsto permite a diminuição da pena, de 1/6 a 1/3.
em lei.

Observação: excepcionalmente, o preceito primário de um tipo penal inclui na descrição da conduta criminosa
elementos normativos de índole jurídica, ou mesmo palavras ou expressões atinentes à ilicitude. É o que ocorre, por
exemplo, nos crimes de violação de correspondência (“indevidamente” – art. 151, CP), divulgação de segredo,
violação do segredo profissional, abandono material e abandono intelectual (“sem justa causa” – arts. 153, caput, e
§2º, 154, 244, caput e 246). Em tais hipóteses, o erro sobre a ilicitude do fato caracteriza erro de tipo, com todos os
seus efeitos, e não erro de proibição, porque a ilicitude funciona como elemento do tipo penal. O erro, portanto,
incide sobre os elementos do tipo.

EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA


A exigibilidade de conduta diversa é o elemento da culpabilidade consistente na expectativa da sociedade acerca da
prática de uma conduta diversa daquela que foi deliberadamente adotada pelo autor de um fato típico e ilícito.

Quando o caso concreto indicar a prática da infração penal em decorrência de inexigibilidade de conduta diversa,
estará excluída a culpabilidade.

Reinhart Frank foi o responsável pela inserção da exigibilidade de conduta conforme ao Direito no juízo da
culpabilidade, ao desenvolver, em 1907, sua teoria da normalidade das circunstâncias concomitantes, criando a
teoria psicológica-normativa da culpabilidade.

Excludentes

Coação moral irresistível: isenta o coagido de pena, punindo-se apenas o coator (autor da coação).

Possui 2 requisitos:

1) Coação moral: é uma ameaça, promessa de realizar um mal. Se a coação for física elimina-se por completo a
vontade do agente coagido, excluindo-se a conduta e o próprio fato típico praticado pelo coagido.
2) Irresistibilidade da coação: o coagido oprimido pelo medo não tem como subtrair-se, mas apenas realizar a
conduta criminosa para satisfazer a vontade do autor da coação, além de ser inevitável o perigo, na posição em que
se encontra o coagido.

O coator responde pelo crime cometido pelo coagido (como autor mediato), em concurso material com o crime de
tortura, decorrente do constrangimento a que foi submetido o coagido.

Na coação resistível, os dois personagens respondem pelo crime: o coator com a agravante do art. 62, II, CP, e o
coagido com a atenuante do art. 65, III, “c”, do CP. Há concurso de pessoas.

Observação: temor reverencial NÃO exclui a culpabilidade.

Obediência hierárquica

Ocorre quando um funcionário público subalterno pratica uma infração penal em decorrência do cumprimento de
ordem, não manifestamente ilegal, emitida por superior hierárquico.

Fundamentos dessa regra:

1) Impossibilidade, no caso concreto, de conhecer a ilegalidade da ordem;

2) Inexigibilidade de conduta diversa.

Requisitos
1) Ordem não manifestamente ilegal: aparente legalidade, conforme as circunstâncias do caso concreto.

2) Ordem originária de autoridade competente: mandamento emana de funcionário público legalmente


competente para fazê-lo. O cumprimento de ordem advinda de autoridade incompetente pode resultar no
reconhecimento de erro de proibição invencível ou escusável.

3) Relação de Direito Público: não é admitida no campo privado. Essa hierarquia, exclusiva da área pública, é
mais frequente entre os militares, no qual o descumprimento de ordem do superior pode motivar prisão
disciplinar ou até mesmo crime do CPM.

4) Presença de pelo menos 3 pessoas: mandante da ordem (superior hierárquico), seu executor (subalterno) e
a vítima do crime por este praticado.

5) Cumprimento estrito da ordem: o executor não pode exceder-se na execução do mandamento, sob pena de
responder pelo excesso.

OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA
Se a ordem NÃO for Se a ordem for manifestamente Se a ordem for legítima
manifestamente ilegal ilegal
Superior Responde como autor Responde pelo crime praticado Não há crime (estrito
mediato, pelo crime praticado pelo subordinado. cumprimento do dever legal).
pelo subordinado.
Subordinado Isento de pena por Responde pelo crime praticado, Não há crime (estrito
inexigibilidade de conduta mas poderá ter a pena cumprimento do dever legal).
diversa. atenuada (art. 65, III, c, CP).

Dirimentes supralegais:
Modernamente tem sido sustentada a possibilidade de formulação de causas excludentes de culpabilidade não
previstas em lei (supralegais), diversas da coação moral irresistível e da obediência hierárquica.
Fundamento:
1- A exigibilidade de conduta diversa constitui-se em princípio geral da culpabilidade, que dela não pode se
desvencilhar. Em verdade, não se admite a responsabilização penal de comportamentos inevitáveis;
2- A aceitação se coaduna com a regra nullum crimen sine culpa, acolhida pelo art. 19 do CP.
São cabíveis nos crimes culposos (mais frequente) e dolosos.
Exemplos de causas supralegais de exclusão da culpabilidade:
a) Clausula de consciência: estará isento de pena aquele que, por motivo de consciência ou crença, praticar
algum fato previsto como crime, DESDE QUE NÃO VIOLE DIREITOS FUNDAMENTAIS INDIVIDUAIS.
b) Desobediência civil: representa atos de insubordinação que têm por finalidade transformar a ordem
estabelecida, demonstrando a sua injustiça e necessidade de mudança. Exige-se para o reconhecimento
dessa dirimente: I- que a desobediência esteja fundada na proteção de direitos fundamentais; II- que o dano
não seja relevante. Ex.: ocupações de prédios públicos, invasões do MST.

Você também pode gostar