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EN
~~ST
S1\ PA'\' f.0
NO
TESTAMENTO
por
LINOGRÃFICA EDITORA LTDA.
r-:sc_rithrio e O fiei.nas:
Rua. BreBBer, 1281-1299 - Fi·n~:: 733-1~32
SXO PAULO
GERHARD KITTEL
EDITOR
A
IGREJA
NO
NÔVO TESTAMENTO
POR
Tnrclução
de
HELMUT!! ALFRE.lJO SIMON
ASTE
SÃO PAVLO
PREFACIO DO TRADUTOR
AAB =
Abhandlungen der Koeniglichen Preussischen Akademfe der
Wissenschaften zu Berltn (philosophiscli-historlsche Klasse) (1804ss)
APF Archiv fuer Papyrusforschung
.l\T Antigo Testamento
B = Códice Vaticano
BCH = Bulletin de Correspondance Beilénique (1877ss)
BFTh = Beitraege zur Forschung christlicher Theologie (1897ss)
BGU ::::: Ae1J1Jptisohe Urkunden aus den Koeniglichen Museen zu.
(W95ss)
Bibl. Zeitfr. = BibZische Zeitfragen
BW/U'IT Beitraege zur Wissenscha,ft·
{1908ss; 1926ss)
CIG = Corpus Inscriptionum Graecarum (1828.Ss)
CIL Corpus 11wcríptionum Latinarum (1862ss)
D = Códice de Beza
Dissert. Dissertationes (obra principal de
DLZ ::e:: Deutsche Literaturzeitung (188Dss).
EJ = Encyclopaedía Judaica U928ss)
Ep. Epistula (e)
ERE Encyclopaedia of Relígion and Ethics; ed. J. Hastings (1908sS}
FRL =Forschungen zur Religion und Líteratur des Azten un,d Neuen ·Tes-
taments (1903ss)
G = Códice G,
JBL = Journal of Biblical Literaiure CN'ew Haven, 1881ss)
JQR = Jewish Quarterly Review (Londres - Filadélfia, 1905ss}
IG :::: Inscrfptiones Graecae (Berlim, 1873ss)
IPE = Inscríptiones Orae Septentr.íonalis Ponti Euxini (1885).
Lex. ThK = Lexfkon fuer Theologíe unà Kirche 0907ss; 1930ss)
m = manãata (uma. das partes do Pastor de Hermas)
MGWJ :::::: Monatsschrf.ft fusr Gesch'khte nnd Wissenschaft àes .Judentums
MO = Migne, pars graeca
MI ::::: pars latina
•.lllff• • Noc/1 rlrhten von der Koeniglíchen Gesellschaft der Wissen-
r •r•l11r f/1•11 .:u Goettingen (1894ss)
~ lh11'111 Kl Alt = Neue Jahrbuecher àes Klassischen.. Altertums (1898ss>
ltP ora tio ( nes)
l'tt• 1.or1<1 Ureek Par.tri in the British Museum (-1893ss)
t'ttl' 11xy 1r1 The Oxyrzmchus Papyri (1898ss)
'fUtl lirnlcncyclopaedie fuer Protestantische Theologie und Kirche
1 l ll!Hl:;s)
CONSELHO DELIBERATIVO
Júlio Andrade Ferreira
Pnsídente
EDIÇõES DA A.S.T.E.
A vend.a
J."fl-lo prelo
Em preparação
·.---· .~
por
LUDWIG SCHMIDT .
íNDICE
IGREJA
Preliminares 15
Nôvo Testamento 17
1. Atos dos Apóstolos, 18
2. Cartas paulinas I, 20
3. Cartas paulinas II: Colossenses e Efésios, 25
4. Outros livros do NT, 30
B. NôVO TESTAMENTO ,_
.,,.__,..,
:. : :: :.-.:;-_·-
.. :, . .. ·,,··
Con siderando o uso do têrmo ekklesia .no NT''conatata,.:.se · que
0
· êle não aparece em Me, Lc," Jo; 2Tm, Tt( lFe, :2Pey1Jo; 2Jo~\ Jdo3.
•· . •, , .. · .- ~ ., ~ --- ~~ - ·-: ·~~'"'• ·: ' r< ~ r -:___;--:· " - · :l ~ ~ -
Que falte em lJo e 2Jo não tem maior importância, já. que aparece
em 3Jo. Tal é também o caso de 2Tm- e Tt, pois 1Tm contém o têr-
. mo. Tem pouco significado estatístico o fato de que uma car'-...a tão
pequerta como Judas nao registre o· têrmo . . Menos expliCável é a
.. ausência do têrmo em lPe ·e .2Pe~ Mas .como precisamente em lPe
se dá ênfase particular à comunidade do VT e se descreve a natu-
reza dessa comunidade corn ·idéías vétero-testamentárias, deve-se per-
guntar se a idéia não está implícita, embora fa.1te a palavra. A
rn.esma pergunta surge a propósito dos dois sinóticos, Marcos e
Lucas, e também do quarto evangelho. . · ·
1. A.tos dos Apóstolos. Visto que o triplo uso de ekklesia em
Mt 16.18 e 18.17 é objeto de acirrada discussão e realmente suscita
questões difíceis, é recomendável começar pelo tão freqüente e va-
riado uso de ekklesia nos Atos dos Apóstolos.
•Tá as primeiras passagens (2.47; 5.11; 7.38; 8.1; 8.3; 9.31)
são de grande alcance: · Em primeiro lugar se fala da ekklesia, em
Jerusalém (que em 8.1 é designada como tal). Em 7.38 se fala
- · sem que seja citado literalmente o VT- da "ekklesia do povo
de Israel" que Moisés levou pelo deserto, o que corresponde a Dt
9.10, onde a Septuaginta usa ekklesia e o texto massoréticd tem
qakaL Em 9.31 por sua vez não só .a comunidade. de Jerusalém
mas também as de tôda a Galiléia, Judéia e Samaria são chamadas
elcklesia. !.
Por conseguinte, se de um lado se fala de uma comunidade
pal'l:icular como ekklesia, o mesmo têrmo é também aplicado a di-
versas comunidades particulares, de modo que devemos falar antes
em .. igreja" do que em "comunidade". Em 9.31 os melhores ma-
nuscritos hesitam entre o singular e o plural 5," de modo que eklclesia
é sinônimo de ekklosiai. Maior certeza temos a respeito do plural
em 15.41 ('•passava através d.a: Síria e Cilícia fortalecendo as igre-
jas"), onde somente os manuscritos B, D e alguns minúsculos têm
o singular. Inteiramente certo é o plural em 16.5 ( .. das·igrejas esta'-
vam firmes na fé"). Nos outros passos o singular é mais freqüente,
quer se mencione a comunidade de Jerusalém (11.22), quer seja ela
subentendida como e"m 12.l (D e poucos minúsculos acrescentam: na
Judéia); 12.5; 15.4,22; quer sé fale expressamente da comunidade
de Antioquia · da Siria (13.1), quer seja ela subentendida (11.26;
se encontra
nas Salomão, etc; 18;
para o alto como o seu corpo. Cristo é
fiéis e cuja é êle mesmo. A como ocorpo
só vem a por êle e nê!e. A Igreja de um lado é idêntica com
o corpo do e com êle mesmo; .de
pode ser substituído pelo seu parceiro feminino,
do corpo
prudentemente, com reserva. Do ponto de
nem muito ron-.....~..... ,.,,w.on
representar. de falar. figu-
e mal interpretado a ponto de se pen-
um crescimento no sentido natural. · Ser
ouvir o chamado Deus. Não existe uma.
''""''"u';:."""'""" da Cristologia, uma mística. de
pois em Cristo o da Antiga Aliança, o
.Alianç.a'.j fala, e a neotestamentária
de Deus em nada mais é cumprimento perfeito
assembléia vétero-testamentária de O mesmo Deus falou e
fala a· Israel com palavra da promessa e aos cristãos com a pa-
Ia vra âO cümprimento desta promessa, Tal como permanece o Deu.s
do VT apesar da existência da chamada mística de Cristo,
também permanece a comunidade Deus do VT, apesar do assim
de Crisfo. À se atribui a santidade, sem que
qualidade da Em outras palavras, a idéia cor-
que é Igreja, Assembléia de Deus em Cristo,
aeioerme inteiramente da idéia correta do que é justificação. É êste
tal como era já nas lutas de quer contra os
uu1;1,u"~"'""''" quer contra os gnósticos.
4., Outros livros contêm o
têrmõ ekkle8ia nos r.n-t"'r'rHS
nôvo ao que jáfieou.dito. No Apocalipse
témo têrmo: 13 vêzes o plural e uma vez o singular, aplicado a
cada uma das comunidades de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira,
Sardes, Filadélfia e Laodicéia. 3João fala três vêzes de ekklesia,
duas vêzes com artigo e uma vez sem êle, sem que se veja a dife-
rença. Tg 5.14 fala dos "presbíteros da igreja", e se refere à
comunidade particular, mas à comunidade em geral. pois êste escrito
e
falavam escreviam g':rego? 38 Paréci{<lifícil atribuí-lo a uma pessoa
individual. É mais provável que o;; jrideu.:.cristãos que falavam gre-
" go, oriundos da sinagoga helenística, e gentio-cristãos que se uniram
a êles, se tenham chamado ekklesia, formando comunidades segundo
o tipo da sinagoga helenística, ·(!tii1mnidades que existiam antes de
Paulo e no tempo dêle 39. Como antigos judeus, êsses cristãos he-
lenistas tinham sido formados pela Septuaginta. Não se designavam
mais como synagogê (expressão ·sôbre a qual ainda teremos de fa-
lar), mas ekklesía. Como cristãos recorreram a um têrmo que já
não era mais tão usado pelos judeus. ··Em oposição ao uso da Septua-
ginta, synagogê recebera um sentido .sempre mais restrito e local.
Dêste ponto de vista ekklesia. se.recomendava muito mais. Do ponto
de vista do grego o têrmo tinha· mais pêso 40. Além disto é de notar
que na Septuaginta ekklesia .é acompanhada de predicados laudati-
vos 41.
Por que os judeus que fizeram a. tradução da Septuaginta, qua-
se sempre traduziram. o têrmo heb:i,·aico dlaha.t por ekklesia? Abs-
traindo d9 significado .da raiz, y~rb.al, que em cada uma dessas lín-
guas está na origem do têrmo, é muito provável a conjetura de que
a semelhança do som entre qahal e ekklesia tenha tido papel im-
. .. , ~ :.
s~ Kattenbusch (I :144, .nota 1) SI? jnclina parp. e~ta opinião. Sôbre isto ver
F. Torm: H.ermeneut'ik des .NT (1930), pág. 80. . Ates~ de H. Dieckmann: "Nomen
Ecclesiae ad ipsum' Christmri ut auctoréln reducitu-r' (De Ecdesia I, 1925, pág. 280),
é rejeitada até mesmo pelos 'autores católicos, pois Jesus dificilmente teria usado
o grego; cf. K. Pieper: Jesus unà àie Kirche (1932), pág. 11.
:rn Cf. K. L. Schmidt: Die Stel!W'l!J des Aposteis Pau!us im Urchristentem
(1924)' pág. 16.
·lO Wellhausen (Matthaeus, 84) opina: "Em grego o têrmo ekklesia é mais
nobre". A passagem. de Tertuliano (Apologeticum, 39) deveria ser entendida
como uma paráfrase de· ek1desia: "Hoc sumas congregati quod et dispersi, hoc
1w'h,ersi quod et singuli ... cum probi cumboni coeunt.• rum pii cum castí congre-
gantwr, non est factio diaenda, sed curin.", assim somos, quer congregados quer
dispersos; todos em conjunto somos o que são os indivíduos ... quando se congregam
pessoas honestas e boas, piedosas e castas, isto não se pode chamar "facção" mas
"cúria". O mesmo sentido tem a explicação que dá Agostinho sôbre a razão
por que a comunidade cristã se chama ekldesia, enquanto que a judaica se chama
synagogê; canvocatio (ekklesia) é um têrmo mais nobre do que congreg~io (syna-
gogê), pois aquêle se refere a chamamento de homens para se reunirem, enquanto
que êste significa "ajuntamento'' de rebanhos de gado (Enarrationes in Psalmum
82, 1).
4J Também Lietzmann · chama atenção para isto (Korintherbríefe, a propósito
de l Co 1.1). · Igualmente K. Pieper, (op. cít., pág, 20, ver nota 38). Já antes o
fizera A. von Harnack (c:f, nota 29), pâgs. 419s, mas cuja tese de que a escolha do
têr;-io _ ekklesia t;nha sido « coi~ r;:a~ist:t;!<,1" é, ct11:vidp8!", senã?. fora •de propósito.
cr1stãos e ate mesmo gnost1cos. Sendo assim, ele devia falar ao
Esta é reforçada
gostavam de
ou aramaicos nomes gregos e
43,
EXPRESSõES
como ao e,
ga, não é de
pressão para """''"'f',U"'"
qüeutemente que,
sa por êle significada
que os esforços
depende a tendência e
de afastar o loeu,.s primado
51 - - da crítica Muitos se impressionam com o fa-
16.18 se em meio a uma falta em
e Lucas. Disto se podem tirar duas (a) Mt
foi interpolado posteriormente no texto Mateus;, (b)
o próprio Mateus, ou sua fonte, interpolou essas palavras "não-
genuínas" num texto pré-exístente em Marcos e Lucas e que
é próprio Jesus, ou pelo menos mais que a "interpola.-
A primeira hipótese é por demais para poder ser
Justamente num importante é
u~'·"'·"'"i,.,.; com efeito, em outros casos um teÀ'to
não é como interpolado só porque apresenta uma
ção peculiar 52. Mas também a segunda hip6tese, mais c01rne<1l<:ta,
não tem a que freqüentemente se atribui. Realmente, não
resta se trata de um de Mateus ou sua
mas ainda não se a questão da
É preciso contar com a possibilidade de que
provindo de uma tradição genuína, cujo valor
independentemente da moldura textual em
O fato de, em razão peculiaridade da
não estarmos em de :resolver
r.:' Cf. K. L. Schmidt, Der Rahmen der Geschichte Jeb'U (1919), 'págs. 21'l'si;.
Não assim Bulimann, Gesch. der synopt. Tradition, pág. 277, a propósito de
Me 8.27-30: contra isto ver K. L. Schmidt, Die Kirche, pág. 282, nota 1.
M Cf. Strack-Billerbeck, ad loC".im: Bultmann, op. cit., pág. 277; Joach.
Jeremias (cf. nota 50).
,.;; Bem expostas por Linton, op. cit., págs; 175ss.
:;<1 Cf. Linton, pág. 176. O problema da Igreja no Evangelho" de João ~ tratado
por E. Gaugler, Die Bedeutung der Kirche in den joh.an11ei.schen Schriften, em
lnternat. Kircltt. Zeitsch.r. 14 (1924), págs. 97as e 181; 15 (1925), págs. 277ss.
Igreja 48
a•ltort>s são seguidos por Gloege {cf. bibliografia), págs, 218 e 228 ("0 salvador
só é salvador se é criador de um povo nôvo, salvo, justificado. Assim como
o pastor, não é pastor sem o rebanho, também o Christos não é o Cristo sem a
ekklcsia") e Linton, pág. 148 ("0 :Messias não é uma pessoa privada; a ê!e pertence
uma comunidade. Ao pastor pertence um rebanho").
60 É mais uma vez Kattenbusch ·que penetra mais profundamente: "Quando
êie funda a ekk!esia, :isto é, uma comunidade, em seu nome, -na última Ceia, não
deixa de aludir ao título que escolheu para si da visão de. Daniel, e o põe em
primeiro plano (Mc .. 14.21).,. indicandp. a natureza do. "Filho .d.o. Homem" por uma
referência a Is 53" (I 171). Esta expllcação seria mais probativa se Kattenbusch
fizesse uma análise mais completa do texto da última Ceia. Cf. K .. L. Schmidt,
artigo "AbendmahZ im NT", em RGG I, págs. 6ss.
61 Ver uma resposta afirmativa bem precisa para esta questão em K. L.
Schmidt, artigo "JeBUs Christus" em RGG III, págs. 149s, em oposição a J, Wellhau-
sen. W. Wrede, R. Bulimann.
6'.2 Por êste mesmo motivo são duvidosas as etapas descritas por H. D. Wendland
(cf. bibliografia), por mais atrativas que sejam.
44 Karl Ludwig Schrnidt
0:1 Bultm@n, em sua Geschichte .d. -syn. Tradíiion, págs. 149s, bem como na
recensão do livro de Wendland, constrói uma teoria que deixa de lado este aspecto
da questão (ef, DLZ 55, 1934, pág. 2019ss). A opinião aí exposta de que "O
problema propriamente dito da ekktesia. . . consiste em que a ekklesia é posta
em lugar da 'basileia tou theou . esperada como próxima por Jesus", correspondo
a um ponto de visia evolucionista passado, e no qual não se interpreta corretamente
a passagem de Jesus para a comunidade, isto é, para a comunidade primitiv•,
tanto de Pedro como de Paulo. Se Buitmann atribui à ekkiesia: - e segundo
êle a comunidade primitiva se considerava como tal - um "caráter -radicalmento
escatológico", resta-lhe responder à pergunta de como esta comunidade primitiva
distingue Reino de Deus e Igreja entre si, se ambas são realidades escatológícaa.
Cf. o prefácio da 2." edição de K. L. Schmidt, Die Kirche.
J. Haller, Das Papstum I (1934), afirma categoricamente: "Uma critica
escl.arecida, que . tem em mente todo o conjunto dos ensinos do Salvador, nunca
pode acreditar que Jesus mesmo tenha proferido as palavras que lhe são atribuidu
por Mt 16.18s... Temos aqui uma profecia posterior que pressupõe seu cumpri•
menta" (pág. 4). Completando êste pensamento, di.z ainda: "Ainda nlio .fol
provado que ai temos uma palavra genuína de Jesus. Segundo minha opinião a
palavra final só pode ser contra a autenticidade, a não ser que se dê a e1ta1
palavras um tratamento diferente do exigido pelas leis <la crítica, válidas em
outras circunstâncias. É verdade que sempre há ainda alguns que proccrlcm
assim, por ex. Kattenbusch... O mesmo se deve dízer do amplo e pretensioso
ensaio de K. L. Schmidt, apesar de ser engenhoso ... " (pág. 442). Qunnlo ••
"leis da crítica, válidas em outras circunstâncias", às quais Haller apelu nu
interêsse de uma "crítica esclarecida", basta dizer que um veredicto bem di!crento
é dado pelo jurista G. Holstein (Die Gr'llndtagen des evangelischen Kircherrrerhtn,
(1928) e pelo historiador E. Gaspar (Geschichte àes Papstums, 1930-1933). A
respeito do último Haller diz simplesmente: "Nossos "caminhos são, de ruato,
tão divergentes e as diferenças na avaliação e tratamento das fontes süo tlu
fundamentais que penso fazer bem em :renunciar a discussões críticas, l!XCC-ÇllO
.feita de algumas poucas passagens. Existem diversas maneiras de escrever hl5tórl1
e "cada qual veja como o :faz", (pág. 441). :Esta tomada de posiçíío mostra quo
não convém discutir mais com Haller. Cf. também K. Pieper, Dic crnacllltclu1
Eínsetzunq àes Petrus?. (1935) e Jesus unà àie Kírche (1932). Igualmente na
recente obra de W. K. Kuemmel, Die Eschatotogieder Evangefien, cm Th, BI. 111
<f936)' pág: 225ss, não fica esclarecido o caráter especial escatolé.glco dà P.kkluln,
em comparação com a basileia tou theoti,. Kuemmel escreve: "K. L. Schmldt,
por meio de investigações lingüfsticas, tentou provar a idéia de que Jesus quarl11
rondar uma comunidade especial, sendo uma das provas as palavras de Jesu 1 a
Pedro <Mt 16-18s), admitidas como autênticas. É típico como em tôd11 a11••
discussão as construções sistemáticas substitu.!:ram as questões exegéticas. :P:m
oposição a isto, é preciso que uma séria pesquisa bibllco-teológica tome aau
ponto de partida das realidades exegéticas" (pág. 231). Contra ês~e verrdlcto
"crit~co" só se pode dizer que a explicação por nós proposta do iocus cla1ncu1
da Igreja não parte de "construções sistemáticas" e que se buscou sérl1mente
partir das "realidades exegéticas" para chegar a uns "série pesquisa bfbllco-teO•
iógica".
lgreia .~5
W. Le<>nha:rd estar descontente com K. L. Schmidt, "o qual não pode deixar de
afi:rrnar que precisamente a elevação. da pessoa de Pedro destrói qualquer pretensão
da hierarquia romana" - e isto é chamado "um tributo protestante• - pertence
a outro campo. Sôbre isto diz muito bem K. Heim, Das Wesen des eva11getf.tchtn
C'hristent11:1n,s pág. 36: "É uma notável ironia da história unil'ersa! que
precisamente esta de Cristo esteja escrita em letras colossais na srande
basilica do papa; justamente esta palavra de Cristo, a qual, entendida em 1w
sentido original, exclui e destrói o papado sob forma, porque como
nenhth'na outra atribui ao Apóstolo uma posição sL'T!ples:mente !rrepetlvol
no edifício espiritual de Deus". w·. G. Kuemmel (cf. bibliografia), páe. 282 t6
sabe dizer: "Totalmente inconcebível seria que Jesus tivesse reconhecido ~um
homem a capacidade de dispor sôbre a entrada no Reino de Deus". l'or oub'•
deve-se apontar para o :fato de que tudo se torna ainda mais inconoeblv•l
em Mt 16.13 um produto da comunidade. K. Pieper (ct. blbll.oarafla),
60ss, polemiza ·1ongamcn.te contra K. L. Schmidt e K. Heim. parUndo de
nreu.w.:;,iais católicas. É bem característico o fato de que J. Geiselrrumu (cl, no\a IO) 1
27 - a Pieper (loc. cit., 67) -- note que "devemos estar con1clontel
dos limites uma demonstração meramente escriturística sôbre a forma do
prfrnado petr!no a promessa do Senhor". Além disto, J. Slclctnbtrltr1
Leben Jesu, V, em Zeitfr.agen 13 (1929), pâgs. 16ss, em suaa expo1lolt1 ·'' 1
74 Cf. Strack-Billerb!?ck !, pãg. 734; além disto Schuerer U, pág. 504: "Enquanto
a comunidade é tomada em sentido religioso, ela se chama 1més81et".
75 Da!man, Woerterbuch, refere-se, em todo o caso, a.llsses vocãbulos aramaicos.
Levy, Chald. Woerterb., não as menciona. Wellhausen, Matt.háeua, pág. diz:
"eàta não é palestinense, mas sirfaco".
48 Karl Ludwig Schmidt
- 76 Cf. Levy, Woerterb., sub voce; Dalman, Woerterb., traz kenishta e kenista;
(samec cm lugar de shin; cf. imesset) no sentido de casa de; reunião (sinagoga).
17 Edição de · P. de (1892). Cf. sôbrc éste ponto
F. Schwally, Iclioticon des Aram. (1893) e F. Schulthess.
Lexico11,. Syropaiaestinum as versões sirfacas, cf. O. Klein,
Syrisch-griechísches Woerterbuch zu den vier kanonfach;eTI. Evange!íen 0916).
78 Assim E. Nestle, Einfuehrnng in das gr. NT (1909), pág. 115; F. Schulthess~
Grammatik dea chri.sfüch-pa:laestinischen Aram. (1924), pág. 3.
79 Cf. Schuerer II, pág. 504: "Parece que no aramaico palestinense kn11sht',
que corresponde ao grego synagogê, era a palavra usual para Igreja". Wellhausen,
Matthaeus, pág. 84: "A palavra original aramaica kertishtd r'lesigna tanto a
comunidade judaica como a cristã. Os cristãos palestinenses sempre a usaram
sem distinção tanto para a Igreja como para a Sinagoga".
so Cf. ainda Zahn, Mat:thaeu.s, pág. 546 e A. Merx, Die vier kaoonischen Evttn~
gelieri nach der syrúchen im Sinaikloster gefundfmen Pttlympsestiumàsch:riften,.
Mf (1902), pág. 268. Joacb. Jeremias (cf. nota. 50), pág. 69, afirma: "provàvelmente-
çibburd, 'em todo o caso' kenisht4"~
zureja 49
H1 Bultmann, op. cít., pág. 150, diz que a afirmação de que 0ma sinagoga
separatista se tenha julgado como a "qehaL YHWH" .[! difícil de acreditar; os
urgumentos que aduz em contrário - nos quais se acentua o elementº doutrinário
da sinagoga - não convencem.
82 Texto em S. S('hlechter, Documenis of Jewish Sectaries, I 0910)'. do qual
tireimos a numeração. L. Rost, Die Darnaskusschrift, Kl Texte, 167 (19~3) apresenta
um texto melhor. As diferentes tentativas para datar os te:xtos di<"ergem entre
si por séculos; A. Bertholet, em RGG I, págs. 1775· s, pensá no primeiro século
a. C.; G. Hoelscher, Geschichte der israe!itíschen imd ~uedischen Reti~n (1922) •
púg. JB9, pensa, com outros <rf. L Rost, loc. cit., pág. '4), que o escritd' de Damasco
provém da seita dos "!ilhos de Sudoc" que são tidos por Kirkisànl (século X)
como precuraorea dos carafta~. .:,.: r .. · '
•
50 Karl Ludwig Schmidt
TESTAMENTO E JUDAíSlVIO
83 Fato totalmente ignorado por Bultmann, op. cit., pág. 149, quando afirma:
"Que a palavra ekk!esía corresponda a qahal, ou a 'edã, ou a 1eenishtâ é indiferente
para Mt 16.18s".
84 1!!xemplos para esta opini5o "critica" bastante comum não precisam ser
citados.
Sctunl:dt. p;,e Verkuendig1ing des NT in ih.rer :Einheit und Beson-
derheit', ' col. 120; além disto, K. L. Schmidt, Das Christus-
zeugnis Evangelien, cm Ki'rchenblatt :fuer die reformierte sc1iw1?itz
89 (1933),
_:1
52 Karl fj1ulwig Schtnidt
!lo Não assim M. Noth, Das Systen-. d,er zwoelf Staemme faro.els, em BW.A..NT·,
4. Folge, Heft 1 (1930), págs. 102s, nota 2: " ... não me parece duvidoso ..• que
se possam deduzir as palavras 'dh e qhl do uso lingüístico da anfictionia primitiva
dos israelitas... O têrmo qhi designa a reunião e 'dh o povo reunido". O presente
artigo já estava terminado quando L. Rost - que viu as provas - pôs à minha
disposição as seguintes linhas: "Como raízes vétero-testamentárias de ekklesia.
sé costuma apresentar 'edâ e qahal. A primeira pertence à história primitiva da
sinagoga e só nos precisamos ocupar da segunda. qahat - um nome refacionadO
com qôt, voz, e cujas formas verbais são muito freqüentes no hifil e n.iial -
significa, nos textos mais antigos, a "convocação" do povo, isto é, de seus varões
para conselhos de guerra. Tal é o sentido de Gn 49.6 e Nm 22.4. Em Nm rn;33
qa.hai parece ser a comunidade do povo num sentido que recebe luz de Mq 2.5:
:aí Miquéias fala da qehal YHWH no sentido de totalidade do povo de Javé, ·sendo ,
Javé o convocador. No mesmo sentido Deuteronômio (23,2ss) usa a e:icpres..'>ão
qehat YHWH quando apresenta condições para a admissão de mutilados ou es~
tranI1os. Deuteronômio também justifica a conexão dos dois tênnos (ver 5.19;
9.10; 10.4; 18.6): a qahal que primeiro estabeleceu a conexão entre Javé e seu.
povo foi a assembléia do Sinai, no diw em que se deu a união entre Javé e Israel,;
o yôm haq-qahal, dia da qahal. É em razão disto que a reunião festiva por ocasião·
da consagração do templo de Salomão é chamada qahrri (1 Rs 8.14ss), e mais
tarde a reunião por ocasião da festa das tendas do ano 444, dia em que Esdras
leu a Lei para homens, mulheres e crianças. Se o uso de qahal aparece por ocasião
das grandes datas do culto, a linha profana do têrmo continua paralelamente;
qrthat continua sendo a "convocação do povo para a guerra" (exemplo: 1 Sm 17.47; ···
Ez 23.24, 46). Uma convocação de espécie diferente temos quando designa uma
reunião extraordinária do PQvo (Jr 26.17; 44.15), no primeiro texto sem a part:!cl- ·
pação de mulheres e crianças, no segundo com a sua presença. Resumindo podemos
definir qahal como: assembléia convocada em ocasiões extraordinárias, seja somente
<le homens (convocação para a guerra, convocação para assembléias judiei.ais);
seja de todo o povo (como em Esdras); qahal é a assembléia constituída por
convocação: daí se pode justificar a aplicação do têrmo para os que nela tomam
54 Karl. Ludwig Schmidt
G. ETIMOLOGIA
que. ainda !alam grego não sentem nenhuma necessidade de explicar historicamente
o percorrido pelo têrmo. elckJeaia chegar a ter o sentido que hoje ·
tem. P. Bratsiotis, de Atenas, a comunicaçâo ao "Ekk!eria
mó<leino, éiíl.bora no designe um lugar culto (naoa,
, tem tambérn todos ..os sentidos de vossa palavra Igreja. Para designar.
a comunidade dizemos . ora eklc!esia, ora enoria, embora esta última sig1ütique
"paróquia". Infelizmente não existe no grego moderno uma obra
ekkleria, exceto o se pode encontrar em manuais de teologia, .nos quais
não se trata de rriodo a etimologia do têrmo". Assim como. os israelitas
e os cristãos gregos se apropriaram de uma terminologia política, hoje . em dia
os neoconver!idos de outras ··culturas encontram· expressões ·apropriadas para
designar ·seu cristianismo. Uma ilustração pode ser encontrada numa carta ·do
missionário E. Peyer de St. Gallen: "Entre os duala (Afr!ca Ocidental) os cristãos ·
são chamados bonci-Kristo, homens da clã de Cristo. A palavra bona '"l':'.u.i."""
"tribo", "clã". Para designar a comunidade escolheu-se mwemba; esta
originalmente um. grupo de idade, isto é, os que :nasceram no mesmo ano cu
no mea:mo meio-ano e que devem realizar na juventude certo :número de :ritos.
O têrmo, como se vê, designa um grupo bem definido e restrito".
56 l{arl Sch·midt
em seguida aos
- aparece nos apostólicos
um deslocamento característico no
01: A Epístola de Barnabé moc;tra que a palavra ekklesia não é a umca que
vem em questão, como no NT; aí os cristãos nunca são chamados ekklesüi, mas
freqüentemente !aos, povo, a quem Deus confia o "seu Filho amado" (5,7; 7.5).
Em outros lugares se fala de naos tou theon, templo de Deus (4.11) QU de polis,
cidade (16.5).
97 Muito bem diz Kattenbusch, I, pág. 155: "É verdade que a partir de
certo tempo o pensamento de que a Igreja era anothen, do alto, tornou-se espe-
culação; no início não era assimn.
especulações as afirmações sôb:re a
cam sempre mais confusas. Isto ocorre tanto nos ·padres giegos
como nos latinos. O maior dentre éles - Santo Agostinho - cujo
pensamento é o da . posição que a
ocupa na mente . padece de uma surpreendente
clareza sôbre a entre iirej,.i. empírica e ideal. Se
um lado as fantasias ·- não conseguiram ~por
outro lado o platonismo o campo com especulações,
ensejo a uma gama especulativa .concernente ao abis-
mo entre realidade e O protestantismo com sua distinção entre
i'l'ivi.sibilis participa, a seu modo, do
J. CONSEQUÊNCIAS E CONCLUSõES
invisível; foi por isto que êle se tornou católico. Mas a descoberta de Lutero
rte que a Igreja é invisível incluía em si o fim do catolicismo". Contra essa visão
falsa e êsse falso julgamento é preciso 1nanter o que diz Kattenbusch. II, pãg. 351:
"Paulo é superior a qualquer outro, mesmo a Lutero, que "doutrinou" sõbre a
Igreja". Sôbre a controvérsia a respeito da Igreja "visível" e "invisível" veja-se
K. L. Schmidt, Kirchen!eitung und KirchenZehre im NT, em Cristentum und W!s-
sensdw.ft B (lff32), págs. 24lss, esp. 254ss, contra E. FoeSter, Kirche wideT Kirche,
em Theol. Rundsc1>.a.u (1932), págs. 155s; C. E. Dodd, Essays Congregationa.Z and
Catholic (1931), trata de tôda a questão da (s) igreja (s) desde o início até a
presente situação eclesiástica e com razão evita a distinção entre "visível" e
"invisível", que se tornou tão comum e causou tanto mal entre as igrejas da
Reforma. Deve-se notar que o próprio Lutero identificou a ecclesia invísibilta
com a eccZesúr (spiritualis) sola. fide perceptibilis (o texto mais antigo é do ano
1521, em Weimar Ausga.be VII, 710). Totalmente diferente é a posição de J. Boenl,
De'I' Kampf um die Kirche - Studien zum Kirchenbegriff des christlichen
Aitertums (1934), pág. 130: "Quando no NT se fala de Igreja tem-se a impressão
que só se trata de uma Igreja invisível". (0 livro de Boeni - que contém 326
páginas -- é um dos mais recentes e mais compreensivos tratados do conceito de
Igreja, sendo obra de um antigo sacerdote católico que agora é pastor protestante.
Sua preocupação não é tanto fazer progredir o estudo científico do problema
como apresentar o resultado de muitos anos de leitura, onde transparece a evolução
do autor de tradicionalista-conservativo para modernista-liberal.
llll Cf. A. Schlatter, Die Kirche Jerusalems vom Jahre 70-130, em BFTh 2
(1898), pág. 90: "Quando Israel morreu, morreu também a igreja primitiva e
sua morte foi um desastre para tôda a Igreja, pois a lacuna por êle deixada foi
preenchida pelo cristianismo de seitas - ali "MaoJTlé, aqui bispo, monge e papa".
Não obstante a rude sinceridade com que isto é dito, trata-se de uma afirmação
verdadeira, apesar de E. Peterson! ~ste escreve (Die Kirche (1929), pág. 69):
"Quem vê a relação entre Igreja e SLriagoga como realidade meramente histórica
e não teológica é obrigado a ressuscitar o ponto de vista gnóstico que tenta
eliminar o VT e o Messias "segundo a carne". Não foi por acaso que o "histórico"
Harnack se tenha mostrado simpático para com o gnóstico Márcion, do ponto
de vista teológico". Nãa muito claro é o seu pensamento quando .Peterson quer
falar como teólogo e não como historiador: os padres apostólicos, em contraste
com a sinagoga "entenderam a ecctesia como significando evocatio, um chamamento
para fora do mundo com suas estruturas naturais e criações sociológicas humanas"
(págs. 24s); ou quando escreve: "C:f. também C. Passaglia, De Ecclesia Christi I
(1953), pág, 10. Quanto a mim julgo que esta interpretação patrística da palavra
ekldesia., que ajuda a ver a diferença constitucional entre Igreja e Sinagoga, é
mais significativa do que as constatações modernas de que na Septuaginta as
palavras ekk!esia e synagogê são usadas promiscuamente. O verdadeiro significado
de uma palavra não se estabelece por uma citação mas pela situação concreta
em que é proferida". Mas, deve-se dizer que a relação entre o VT e o NT envolve
muito mais do que uma simples "citação"; quanto à "situação concreta",· esta
tem um sabor mais "histórico" do que teológico. Peterson uniu num só artigo
(Schweiz. Rundsch., jan. 1935, págs. 875ss) três conferências que proferira em
Salzburg sôbre o tema "Die Kirche aus Juden. ·und Heiden"; êsse artigo é útil
para uma visão de conjunto das relações entj'e Igreja e Sinagoga, mas suas
lgrefa 61
conclusões não são muito claras. Em todo o caso, no NT os dois têrrncs ekklesia e .
:rynagogl! não são tão agudamente distinguidos como Peterson opina. De outro
lado, os Padres da Igreja que êle segue - conscientemente aceitando os métodos
de interpretação bíblica da igreja antiga e da Idade Média - consideravam a
ekktetrl4 como o verdadeiro (espiritual) e a $11Mgog8 como o falso
(Cll1f1Q~), em Rm 9-11; êste modo de ver se tornou depols est(!J"eotlpado, .
embora possa ser a verdadeira ·intenção do NT.
BI G.R IA
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Igreja U
_,
REI
REINO
por
•
1NDICE
REI
REINO
A. No Nôvo Testamento 91
1. O reino terreno, 91
2. O reino de Cristo, 93
3. O reino de Deus, 93
NO GREGO
o têrmo basile'us 1 desig1ia o rei como a autoridade legal e
ralmente no bom sentido, isto é, que chegou à sua
por mn direito Na teoria e na prática política pos-
terior opõe-se ao tyrannos, que é um usurpador violento do poder 2.
Homero, nos conhecidos versos da Odisséia (19,108ss), apresenta-
onde faz o do bom rei e da u1:::a.1va.v
Com efeito, a justiça ou a injustiça do
na vida de seu povo, juntamente com êle
ou infeliz. ·· ·
autoridade do rei é proveniente de Zeus (Ilíada 2,197·) e a
estabelecida é freqüentemente descrita pelo adjetivo
por Zeus" (Ilfuâa 2,196 et passi?n). Em Hesfodo, onde
o é' fundamentalmente concebido como uma personalidade cava-
lhei:reséa, encontramos uma doutrina elaborada sôbre a sabedoria
regia: não os bardos, mas também os são inspirados
pelas Musas: Calíope assiste aos reis e aos bardos (Teogonia 80).
O dom divino das Musas .aos reis consiste em "falar com retidão••
(ib. 86). . . . .
Nes~e âe rei; nos g:fegos antigos, repousa à rf'i•~"1 ·1 '"''
a essência do ba.sileits ideal 3 .na Política, de
4 Euerget>es se torna epíteto muito preterido e típ 1co dos reis helení>fü:os como,
por ex : Antigemo e Demétrio, que :foram celebrado;:; como "deuses rnlvadores
e benfeitores".
~ E. Lohmeyer, op. cit. 12. Ct.. ainda em Platão <Politicus 267 d, e 275 b) e
em Aristóteles a imagem do regente ideal que não pode ser submetíd-0 a lel.s, porque
êle mesmo é lei (Poliff.C(l III 13 p. 1284 a 13).
e C.omo título e predicado divino de reis helenisticos ao tempo da era cristã
(cf. Deis:s:mann, Licht vom Osten 210s).
Rei e Reino '1'1
B. REI
comum a tôdas as
e seu significado,..-0riginal,
Raramente no têrmo é '"""""'""JV"'""'·
salvador e paralelismo se
creve mais a natureza da Deus. Mas pode::.se
afirmar que é sempre representada como imanente. . Mesmo em
passagens tardias como Is 24.23 e Zc reina sôbre tôda
a terra, e conquanto seu trono em ..éai ..,.,-1,.w·<>
por todos os povos (semelhantemente Oh
. Dêste problema se ocupou recentemente Martin Buber em sua,
extensa obra sôbre o de Deus 2s. Deve~se que de suas te-.
uma teológica que dá ao ni.elek, quan-.
«uu:1,;auv a Javé, uma que não é VT. Mea.::
não se segue a 26 - que, de manei-
ra lexicográfica, em Is 6.5 o primeiro exemplo dessa
aplicação - permanece o fato de que ;no VT Javé não é designado-
como rei antes do tempo dos reis. Em todo o caso · bs textos nã0>
oferecem. base exegética para afirmar que a aliança sinaitfoa era
preci!)amente uma aliança real. De modo geral deve:--se dizer qué
as designações de Javé como rei se encontram nos hinos, onde
dominá :Uma poética -de exageros. retóricos e· que, por
não podem ser considerados como expoentes importantes de
tude religiosa básica. Buber contrasta fortemente o malk, a "divin-
dade líder", com Baal. Se em lugar de malk dissesse-..Javé", pode-
ríamos concordar. Onde, porém, na dura luta contra a religião de·
Baal - pense-se em Oséias e no Deuteronômio - se recorre à f ór-
teológica de que é o malk? Buber muitas passagens .
que, de certo modo, afirmam que Javé "guiou" a Mas com.
não se afirma ainda que êle é malk no sentido dado ao têrmo.
interpretando tais passagens nessa linha, tira-se-lhe seu pêso·
es1pe(~ll1co próprio, que se encontra precisamente no sentido cúitico
1'8 Tratado Sanhedrin 10.1: "todo Israel tem lugar no mundo futuro".
49 Strack-Billerbeck: I, 175. Também nos Salmos de Salomão Se "i;ie.11~a assim
(5, l!!s; 17, 3). É clara ai a conexão com a piedade cultud dos. salmos reais.
I. 173).
. . ..
50 Sifre Deuteronomium 313, sôbre Dt 32.10 (Strack-Billerbcck I, 173) .
. 51 Strack-Billerbeck I, 172 e 174: Sifre LevitiNts 18, 6.
Rei e Reino
o
4. definido com
respeito à no dos tempos.
ouanto "reino é, como pura.mente escatológico,
isto é, algo que não se rnaliza no decorrer da história, contudo, a
esperança um rei-messias se paulatinamente da es~
perança um rei israelita puramente profano - que restabele-
ceria o reino de Israel em tôda a sua grandeza e ·esplendor tal comó
fôra o davídico - para uma expectativa no tempos.
esperança não é no sentido A· "vinda
Messias" no pensamento judaico sempre precede o eschaton 52.
A dife:rença consiste em última análise nisto : o pensamento mes-
"'"~"'"'"" no judaísmo era a expressão de uma esperança final
que via em Deus primeiramente o rei de Israel e tinha, por isto,
como escopo último plano salvífico o restabelecimento
do r.eino do povo de Israel com o Messias por rei, rei ao qual se
submetem todos os povos. No "reino de Deus", ao cont:rário, o
conceito puramente religioso do eschaton é expresso em tôda a- sua
plenitude (" tudo em tudo"), a posição especial Is-
rael já não encontra lugar.
conseguinte, os dois
É que, não raras vêzes, aparecem lado a como sendo
os dois alvos a que se dírige a esperança, nacional e religiosa, dos-
judeus piedosos 53, Mas nunca são postos em conexão íntima. Não
aparece, por exemplo, a idéia de que o reino do seja o ''rei~
no dos céus", ou que o Messias introduza, por sua obra; o ''reino
dos céus". Tal conexão é inteiramente impossível em VJsta .do con-
ceito especialíssimo de "reino dos céus·~. ·
aos filhos do reino {Lc 10. 24). Reis, cuja ocupação é a guer1·a
(Lc 14.31), devem escutar, assim como os gentios e os judeus. a
mensagem do reino de Deus (At 9 .15; cf. Ap 10 .11). No fim dos
tewpos os reis do Oriente serão a vara de Deus e êles mesmos; serão
depois aniquilados (Ap 16.12; cf. 16.14; 17.2,9,12,18; 18.3,9;
19; 18s). Resta, porém, a no:-sibilidade de êles se submeterem a
Deus em obediência {Ap . 24).
b. Tal como um rei terreno, um ser intermediário como Aba-
don é o senhor dos espíritos subterrâneos (Ap 9 .11).
e. Trata-se de algo especial quando homens como Davi e
Melquisedec trazem a dignidade régia. Pouco importa como, no
tempo de Israel, o reinado surgiu e se manteve (cf. At 13 .21: os
israelitas pediram a Deus um rei e receberam Saul); para a visão
neotestamentária, Davi, como tronco da linhagem de Jesus Cristo,
é um rei prédestinado por Deus (Mt 1.6; At 13.22) 62. Melquisedec
é, como rei de Salém - da paz e da justiça (Hb 7.1,2) - o "tipo"
de Cristo consoante a linha de explicação alegórica da Bíblia.
2 . a. Destas premissas resulta por si mesmo que no NT Jesus
Cristo é considerado como o Rei. Antes de mais nada, como Messias,
Jesus é o rei dos judeus (Mt 2.2; 27.11,29,37; Me 15.2,9,12,18,26;
Lc 23.3,37 s; J o 18.33,37,39; 19.3,14s,19,21) . Mas êsse têrmo é bas-
tante equívoco. Filatos, contemporâneo de Jesus, no caso desinte-
ressado em nuanças, simplesmente aplica a Jesus êsse título porque
o ouvira na bô.ca de seus acusadores judeus (Lc 23.2s). Para os
obstinados inimigos de Jesus entre os judeus - neste ponto fariseus
e saduceus são aliados - êsse título é uma pretensão blasfema do
falso pretendente ao cargo de Messias. Segundo a opinião dos judeus,
Jesus é um homem que se faz rei a si mesmo (Jo 19.12). O povo
simples e hesitante, que entrevia a pretensão de Jesus de ser o ·
Messias - povo a que pertenciam os discípulos de Jesus e a quem
êle procurava ensinar -··· interpreta a designação "rei dos judeus"
mais ou menos politicamente. O povo quer fazer de Jesus um rei
e não tem noçãoexata do que faz (Jo 6.15).
Em resumo: o fato de Jesus ser designado rei liga-se· à questão
do Messias, na qual está a essência da missão de Jesus. Quando se
quer sublinhar a pretensão messiânica, unida ao título de rei, deve;;:se
falar de Israel em vez de judeus. Com efeito, embora raramente,.
essa designação também aparece: rei de Israel (Mt 27.42; Me ltt82;
Jo 1.49; 12.13). Em todo o caso, o judeu que conhece a prm;nessa
dada .a seu povo, . devia falar do rei de Israel. À filha de Sião:,.. como
___ I
e Reino 89
que, os evangelistas,
fale de como "rei dos ju-
ll':sse título kerygrna. primitivo
como o nos Atos dol:l .a.1.Jv,,•v><v.~, e também em
Inferir daí que a comunidade cristã - à ·qual também
pertencem os -. não
título, .não como argumento.
ocasional ao de que a àesignação de Jesus como rei não era
desconhecida do kerygmoJ, em At 17.7 onde os judeus
acusam os cristãos como réus traição porque que
outro rei, isto é, Jesus. todo o caso a abstenção quanto
ao uso do título é notável. conjeturar que a dificuldade
quanto à realidade messiânica de Jesus de Nazaré - a que já alu-
dimos como sendo o problema messiânico - trouxe consigo certa
incerteza, e assim a do titulo.
Dêste fato surge, todo o com-
plexo do mistério - não bem co1nn,re1ern:1ldlo pela primeira
comunidade cristã - pertence realmente à história do Cristo
terreno, isto é, que mesmo se corno o rei dos judeus
e de Israel, bem como Messias de seu povo. O quarto evangelista
eoncorda aí inteiramente com os evangelistas, só que, além
dêstes, na resposta à pergunta de dá uma definição
lógica tta'Tealeza de Jesus -(<To 18:37).
posição especial é ocupada peio Apocalipse, ao dar ao
título de rei um sentido cosmol6gico. O Rei-Messias dos últimos
+ ""'"'"ª exerce sua função
01
o mundo inteiro. chamado
Apocalipse sin6tico (ou pequeno Apocalipse) não se trata objetiva-
mente de outra coisa. A isto também se refere Paulo com sua
afirmação do juízo através de Cristo (1Co 15.24), onde Cristo no
fim. dos tempos restitui o poder real a Deus. Neste sentido em
REIN
Quanto ao uso geral do têrmo deve-se notar que a palavra. que
comumente traduzimos por "reino" e "reinado" significa em pri~
meiro o ser, a natureza, o de rei. Quando se tratá de
um seria melhor falar de sua ~·realeza_,., de seu "poder rég1ce,
É o caso texto mais antigo em que o têrmo aparece: ''possuía o
"reino" lídios" (Her6doto I, 11). Assim também em X~nofonte
(Merrwrabilia Socrcttis, 6, 12): "julgava que existiam dois po~
dêres, a realeza e a mas que os dois se distingúiàm "' (ef.
õ'Upra, notá 2, o que a respeito da distinção entr.fi·,brt8üeus
e t·umnnos). Espontâneamente surge um segundo sentido muito
comum: a dignidade real se manifesta no "território" dominado
pelo rei, em seu "reino" fül. Tal mudança sentido é evidente, por
exemplo, no conceito moderno de "reino". Em basíleia êsses dois
sentidos são comuns, sendo que, em Ap 17.12 e 17.17 ambós apare..
cem quase Lmediatamente lado a lado 67, : ·
Compulsando o VT canônico (texto hebraico e aramaicó, a
Septuàginta; cf. págs. 77-79), a literatura extracanônica e apócrifa,
bem como a literatura rabínica (cf. págs. 79-83) e ainda os êseritores
helenísticos (especialmente Filão; cf. págs. 84-86), vemos que sen- o
tido de "r.ea1eza", "dignidade régia", "poder" é qúe estii ·ém' pri-
meira linha; Também· para o N'r é êste o sentido principál6S:;
A. NO NôVO TESTAMENTO
Visto que o têrmo está qualificado pela sua relação com o ser
1111 a ação de Deus - quer isto esteja expresso ("de Deus", "dos
• ··1w") quer não (uso absoluto de "reino") são muitos raros outros
11 trilmtos diretos. Ao lado do texto já citado de Hb 12.28 ("inaba-
l:'l vel ") deve-se citar ainda 2Tm 4.18 ("celeste"); 2Pe 1.11 ("eter-
110 "). Quando se trata do :reino de Deus tais atributos têm rr.aís
,·;dor de pleonasmo retórico do que importância teológica. O NT
" igualrnente parco em predicados diretos. De quem é o "reino de
1>eus ?" De Deus, naturalmente; mas também dos homens, dos
li"rn<::ns que são pobres (no espírito) (Mt 5.3; Lc 6.20), que são
11vrscguidos por causa da justiça (Mt 5.10).
Afirmações atributivas e predicativas mais detalhadas nos de-
frontam com uma complexa sinonímia que bem serve para nos tor-
nar conscientes da complexidade da mensagem sôbre o Reino de
1>cus. É indiferente se expressões sinônimas são introduzidas por
uma hendíadis ou são acrescentadas predicativamente. É também
indiferente a seqüência em que se encontram tais expressões bem
i·omo a seqüência em que são aqqi tratadas; o que está sempre em
foco é a multiforme, e apesar disto inequívoca, natureza e ação de
1 >cus, seu chamado e apêlo aos homens.
Os homens devem buscar o Reino de Deus e sua justiça (Mt
6.33). Esta justiça, juntamente com a paz, e a alegria no Espírito
~anto, é que constituem o Reino de Deus (Rm 14.17). Tudo isto
não significa uma qualidade inata, ou adquirida ou por adquirir,
e~ sim a regeneração, de que se fala em Mt 19.28 (cf. Jo 3.3ss), e
cuja passagem paralela, Lc 22.30, fala de "reino". Neste sentido
e) autor do Apocalipse fala aos cristãos como irmãos e companheiros
"na tribulação, no reino e na perseverança em Jesus" (Ap. 1.9).
Proclama-se que veio a salvação, o poder e o reino de nosso
Deus e a autoridade de seu Cristo (Ap 12.10). Dêste poder de Deus
também se fala em outros .textos quando se quer dar uma definição
do reino de Deus: o reino de Deus vem em poder (Me 9.1) ; não
~onsiste em palavra (de homens), mas em poder (de Deus) ( 1 Co
4.20) 76. Ao reino de Deus pertence a glória de Deus (1Ts 2.12);
·eino" e "glória" podem substituir-se mutuamente, como o mostra
711 Seria falsificar inteiramente esta palavra de Paulo se nela sê quisesse ver
conhecida oposição entre palavras e obras, entre falar e agir. Aqui não se
iz que os homens não d_evem falar mas agir; ao contrário, afirma-se que a obra
umana não tem valor quando oposta ao poder de Deus. O sentido pleno da
1
xpressão está na seguinte paráfrase: O reino de Deus não consiste na fôrça
o hor:iem mas na palavra de Deus. O reino de Deus é aqui o sujeito lógico úrJoo
dommante.
l
96 Karl Ludwig Schmidt
. .Ao ,.
1;:;1,11.;<u::"
prói1mo de uma
conhecida dos ouvintes, dos judeus contemporâneoR
fato concreto é de decisiva importância.
O de positivo dado a e a Batista
pela ApocaHpsismo e pelo RabinisrJ10, naquilo que os dois movimentos
tinham de comum e que ambos
a;:;t:t:Jt1u•c:n1 ao Profetismo Portanto, se quiser-
mos te~· uma idéia clara dêsse pont? ~e é preciso ler o
ficou dito sôbre o e 0 Ri>b1msmo. Para autores
tamentários, que tinham como língua materna o deve-se ter
em mente a tradução do v'T. Assim quando Hb 1.8, em meio
a uma longa citação fala do cetro de seu reino, trata-se de
Sl 44.7 da Septuaginta 77, Por lado, como vimos, encontram-
se na Septuaginta algumas passttgens especificamente helenísticas
que não devem ser consideradas corno pontos de partida para a ima-
gem do Reino Deus no NT. o mesmo se aplica a Filão e a Flá-
vio Josefo.
d. Como vimos, o próprio uso têrmo "Reino de Deus" mos-
tra que o sentido primeiro é "reaJeza divina". O mesmo transpa-
rece das descrições que se dão dêsse reino. As expressões co-
muns no NT são que o Reino de Deus se aproximou, está próxi-
até nós, vem, se manifestará, virá ( êggiken.: Mt 3.2;
Me 1.15; Mt 10.7; Lc 10.9,10; eggys estín: Lc 21.31; e1·cho-
Mc 11.10; êrchetai: Lc 11.20; e-phthasen: :Mt 12.28 = Lc
; rnellei cipophanestai: Lc J9.11; elthato: Mt 6.10; Lc 11.2).
Paralelamente à pregação de João Batista, na pregação de Jesus
de Nazaré transmitida a seus discípulos, o caráter da realeza divi-
na é descrito de maneira a um te:rr..Pº negativa e positiva, sendo que
o caráter negativo é o primário, 0 que a ciara expressão
do positivo
Negativamente, o Reino a tudo o que é presente
e terreno, a tudo o que é de agora. e aqui, e por isto é algo
maravilhoso. Dêste ponto de vistB- é impossível entender o
de Deus como um summum bonitm que se tenta alcançar ou do qual
se pode aproximar gradualmente, Das "narrativas sintéticas" que
que o Reino de Deus nada mais é que milagre, deve ser mantida em
sua forte negatividade. A afirmação de que o Reino de Deus é
algo totalmente diferente, supramundano e antimundano, é o que
de mais positivo pode ser afirmado. A realização do Reino de Deus
é futura e êste futuro é que determina o presente do homem. Ao
homem, colocado diante de Deus e sua realeza, é dirigido o apêlo
da conversão. Quando o homem responde a êste apêlo em fé, isto é,
em obediência, êle entra em contacto com o Reino de Deus, que vem
sem ação sua; então o Evangelho se lhe torna mensagem de boas
novas.
e. Uma rica terminologia mostra de que modo o homem pode
entrar em contacto com o Reino de Deus. A afirmacão fundamental
é que ê1e recebe. um dom de Deus. Deus dá o seu R~eino: "aprouve
ao Pai dar-vos o Reino" (Lc 12.23). A Pedro, que confessara a sua
fé, Jesus Cristo promete: ·"dar-te-ei as chaves do Reino dos céus"
(lVft 16.19). O Reino será tirado dos judeus obstinados e será dado
as que crerem: "o Reino vos será tirado e será dado a um povo que
produza os seus frutos" (Mt 21.43). Cristo confia o Reino aos
discípulos tal como o Pai lho confiou: "eu vos confio um Reino
como o Pai me confiou" (Lc 22.29) . Deus chama os cristãos para
o seu Reino e para a sua glória: "Deus que nos chama para seu
reino e glória" ( 1Ts 2.12) . Deus nos colocou no Reino do Filho de
seu amor: "transferiu para o Reino do Filho de seu amor" (Cl 1.13).
Os crentes são feitos dignos do Reino de Deus: "tornar-vos dignos
do Reino de Deus" (2Ts 1.5). O Senhor salvará o crente no seu Rei-
no celeste: " ... o Senhor me livrará. . . para salvar-me no seu rei-
no celeste" (2Tm 4.18). Deus prometeu o seu Reino (Tg 2.5). Deus
não faz como os fariseus que se arrogam o poder de fechar o ca-
minho do Reino para os homens: "ai ... porque fechais o Reino dos
céus diante dos homens" (Mt 23.13; cf. Lc 11.52). A essas expressões
correspondem outras que descrevem os sentimentos do homem crente.
Êste recebe o Reino de Deus como uma criança: "quem não receber
o Reino de Deus como uma criança" (Me 10.5 = Lc 18.17). José
de Arimatéia está na posição do que espera o Reino de Deus (Me
15.43 = Lc 23.51). Usa-se também com "receber" (Hb 12.28i.
Especialmente freqüente, e correspondente à aliança (do Reino de
Deus), é a expressão "herdar'': Mt 25.34; lCo 6.9,10; 15.50; G1
5.21; semelhantemente "ter herança no Reino" (Ef 5.5) e "her-
deiro do Reino" (Tg 2.5). Ser assim escolhido por Deus significa
"ver'' o Reino de Deus. Alguns serão escolhidos para ver o Reino
de Deus antes de sua morte (Me 9.1 e paralelos). Só o que nasceu
de nôvo é tido como digno desta visão ( J o 3.3) . Também é fre-
qüente a expressão "entrar" no Reino de Deus (Mt 5.20; 7.21.
18.3 e paralelos; 19.23s e paralelos; 23.13; cf. Lc 11.52; Me 9.47;
'1 og Karl Ludwig Schmidt
1wr entendida como norma ética, mas como um apêlo terrível e con-
t 1111dente. Importa saber que homens que tornaram inteiramente a
Jl••rio o Reino de Deus chegaram por vêzes até a emasculação, ato
111w, se não é censurado, também não é louvado. Esta interpretação
110 difícil logion é mais aceitável que a apagada, embora, não im-
l"''isí··el, explicação: aqui e ali houve homens que espontâneamen-
1•' t'\~nundaram à vida sexual, como João Batista e o próprio Jesm;
e 'risto.
Em todo o caso, encarar de frente e seriamente o Reino de
1)cus significa uma dificílima decisão, uma rigorosa seieção de pou-
''11:> dentre a massa dos muitos (Mt 22.14) 79. Diante da chocante
:illcrnativa exige-se uma decisão implacável: "Quem põe a mão
110 arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus" (Lc
!Ui2). Não se trata de entusiasmo nem de arrebatamento, mas de
rdlexão séria e madura: assim como um arquiteto que antes de
romeçar a construção faz um orçamento correto, ou como um rei
que não entra para a guerra sem ter um plano (Lc 14.28-32), assim
aquêle que foi convidado para o Reino de Deus deve refletir se aceita
prudentemente o convite. Quem aceita o convite mas não sabe cla-
ramente a responsabilidade que assume, ou quem ouve, mas não
obedece, é semelhante a um homem que constrói sua casa sôbre
areia (1\/ft 7.24-27 = Lc 6.47-49). Nem todo aquêle que diz "Se-
nhor, Senhor" entra no Reino dos céus, mas somente aquêle que faz
a vontade de Deus (M:t 7.21). Exige-se prontidão para o sacrifício
o mais extremado, até o sacrifício de si mesmo, ou ódio contra a
própria familia (Mt 10.37 = Lc 14.26). Quem o pode? Quem se
aventura a ser obediente a Deus até êsse ponto? Ninguém, exceto
o próprio Jesus Cristo ! l
f. Com o que acabamos de dizer chegamos a um ponto que
deve ser agora tratado: referimo-nos à incontornável e muito es-
pecial relação entre Reino de Deus e o próprio Jesus Cristo. Isto
não só significa meramente que o Reino de Deus é também o Reino
de Cristo, mas que determinadas passagens pressupõem a identi-
ficação entre Reino de Deus e Cristo. Enquanto que em :Me 11.10
se louva o "reino de nosso pai Davi que há de vir", Mt 21.9 e Lc
19.38 falam (paralelamente a Me 11.9) somente da pessoa de Jesus
Cristo. Ainda mais clara é a comparação sínótica entre os seguin-
tes textos: "por causa de mim e por causa do evangelho"' (Me
10.29) e "por causa de meu nome" (Mt 19.29), e o texto de Lc
18.29: "por causa do Reino de Deus". Aqui o nome e a mensa-
gem de Jesus Cristo, e o próprio Jesus Cristo, são identificados com
o Reino de Deus.
7!1 Cf. as palavras sôbre n porta estreita e a estrada larga, Mt 7 13s''"" Lc 13.23s,
ro,~. Karl Ludwig Schmidt
B. NA IGREJA ANTIGA 86
11
Martirio de Policarpo, 20,2); celeste (1b. 22,3); celestial ('ib.,
1lflíiogo 4) . Quanto aos sinônimos deve-se notar que em 11
\rlemente, ''5,5 a promessa de Cristo é entendida como o descanso
1\b futuro e da vida eterna. Também em I Clemente, 42,3 se
rz que o Reino de Deus por vir.
1
\\ s5 Deve·s~ man!er êste texto - citação do VT como original, perante
:Ítra tradição manuscrita que tem basiteion ou basH.eis.
\i .«n Sôbre hasileus nos padres apostólicos, cf. 90.
il
li
106 Karl Lud·wig Sckinidt
SR Ver sôbre isto E. Fuchs, Glaub€ und Ta:t in den Mandata àes Hirten dei
:rm.as (dissertação em Marburg, 1931).
89 Cf. !oc. cit. 35-45,
'108 Karl Lua;wig 0cn-iniai
Monografias em inglês
F. E. SCOTT, Th.e Kingdom of God {1931).
T. W. MASON, T"ne Teach.ing of Jesus (1931L
C. H. DODD, T1'...e Parables oj the J{ingdom (1935).
F. T. GUIG:NEBERT, The Jei.vish World in the Time of Jesus (1939)
e. J. CADOUX, Thie Historie Mission of Jesus (1941) com bibliografia).
R. OTTO, The Kingdúm of God and the Son of Man (rev, 1942).
S. H. HOOK, The Kingdúm of God (1949).
T. W. MANSON, The Sayings of Jesv,s (1950); The Servant Messiah (1953).
R. H. FULLER, The Mission i:ind Achievement of Jesus (1954).
J. JEREMIAS, The Parables of JeS'U.s (1954).
APóSTOLO
e os correlatos
FALSO APõSTOLO
APOSTOLADO
ENVIAR
por
KARL HEINRICH RENGSTORF
ÍNDICE
APóSTOLO
O U~111111 e~ o conceito de apóstolo no grego clássico e no
lu1lr11l1m10 ........................................ 115
1 1, uno ch'lssico do têrmo, 115
'J M1•mml(círos religiosos no helenismo, 117
FALSO APÓSTOLO
Uso geral do 171
APOSTOLADO
Uso geral do têrmo 172
ENVIAR.·
A. /Jl.J•>v<>••v e pempa no grego 173
l. u~·odos têrmos, 173
2. A iàéia de autorização, 174
1 Preuschen-Bauer, 156.
5 Sôbre ês+..e ponto ver pág. 126.
ll Em 5, 21 se diz a respeito do keryx que Allates envia a Mileto: êste era
"apostoios" para Mileto; aqui apostolas é predicado e seu sentido se aproxima
do de apesta!memos (part. perf. pass. de aposte!lo; cf. K. W. Krueger em sua edição
de Heródoto, Berfün, 1855s, ad locum). Em V, 38 o sentido é semelhante.
7 Prelslgke, Woerterb. I, 195 só registra um exemplo que, de resto, provém
do sééulo VIII d. C. (Pap. Lon<l. IV) ; outros exemplos me são desconhecidos.
r,, Cf. Preisigke, Woerterb. I, 195; Fa.chwoerter 30.
2. Iífensageiros religiosos Assim como
"''ª"'··""'' entre a apostolos do grego e do cristianismo
unicamente à forma exterior do vocábulo,
fracos os contactos objetivos do apostolado neo-
eon1 o mundo grego.
antigüidade não conhece nada que se possa, pôr em
paralelo com o apóstolo Nôvo Testamento. Os prophetai gregos
são os anunciadores uma e como tais. se rela-
""'"""" com um são a bôca ·da divindade. a que servem 10.
vale igualmente da (sacerdotisa de Apolo em Delfos)
nada mais era que uma pessoa ~ntermediária entre o deus e o ........a ... 1•..,
que buscava sabef algo 11 • Pe10 fato ela nunca ter nome, nem
indicação de idade ou época, vemos que não nenhum signifi-
cado Todo o problema da pessoa interme-
diária nem sequer era cogitado. é que natural no papel
que tnesmo quando a mediação era obra de um
deuses mensageiros, como é típico principalmente hele~
Os têrmos aggelos e keryx, que ao
comtm1ente aparecem nesses contextos
1.11), pelii sua mostram que não se um en-
cargo - que só pode ser quando ligado a uma pessoa -
de uma men5agem, que por mesma estabelece o contacto e
seu portador não tem significação própria. tste fato se
0
em
última na estreita i·elação entre ofício de
mensageiro e inspiração na religiosidade enquanto se trata
de intermediários humanos 12 • Por aí se o :fato de que nos
9
Ex 0
u corresponde literalmente ao nosso "conforme
consta da nota»; em Preisigke, Woe-rt.erb. l,; 1115.
10 Sõbre todo êste assunto cf. E. Faschex-, Prophetes (1927), :P«l!dm,
1s Dissert. III, 22: Peri kynismou, sôbre a escola dos cínicos. Cf. Wendland,
H.eHer.istische Kuttur, 75ss.
14 Sôbre isto, e o que se segue, d. apostei!o (apêndice C).
1:; Cf. pág, 175.
11! O cínico é "mensageiro, observador e arauto dos deuses"· (!II, 22, 69)
Como kataskopos i:eus
correligionários o enviam a~ ~undo, por exemplo, a Ro~
(I, 24, 3ss). Cf. De1ssner 783 e Norden 377s (onde sao citadas passagens de Diógene~
Laércio e Plutarco). '
17 Já em .tultfstenes o têrmo é empregado como autodesignação, parfü1'l
certamente das representações populares dos intermediários entre os deuses e Qt>
8
homens (Norden 37.Sss; 381).
18 Holl, Geschichtlíche Auffsaetze II, 261; no cap. I há uma série de exemp~
bem como ::m Pauli-Wlssowa XII, 14).
0 s,
Apóstolo, Falso Apóstolo, Apostolado e Envial' 1 [!)
io Cf. Norden 378. kataskopos e episkopos, não obstante tõda a sua semelhança,
devem ser distinguidos, ponto em que Norden 378 insiste. Isto se vê no fato
de que fempre se emprega o verbo epislcopein e não o substantivo episkopos.
Por conseguinte, .episkopein é em certo sentido a função do ka.taskopos, enquanto
que kataskopos é muito mais que a descrição de uma função. . i/: verdade que
cm Diógenes Laércio VI, 102 se diz que o cíniço Menedemo (circ. 300 a. C.) voltou
do Hades como episkopos. . . t6n hamarto11llmenon, vigia . . . dos que pecam. Mas
êste exemplo é tardio (século III d. C.) e, de resto, a designação nasce de
representações que se distanciam não pouco das dos adeptos mais antigos da
escola cínica <ct. Norclen, 379).
20 Episkopein aparece ainda em III, 22, 72, 97.
21 O cínico como kervx t6n the6n em Epicteto, DLssert. III, 22, 69; com o
encargo de' kerussein em III, 13, 12; IV, 5, 24 (Delssner 783). Ct. ainda III, 21, 13.
Exemplos de emprego análogo em circulas não estóicos, cm Preuschen-Bauer 674s.
22 Parece que o próprio Dlógcmes Insistiu em sua missão divina apolando-sa
em seu nome ("filho de Zeus"; Nordcn 380, nota 1).
120 Karl Heinrich Rengsforf
B. (SHA.LIAH) NO JUDA1SMO
:11 Dott!os tôn theõn, ou expressões sem~lhantes, !}g() ap~:i."éÔem'nos t:fuicos como
autcdeslgnação; ii;to seria totalmente ímpo~ível de seu cporito~~ Cf.
Deissncr 787. · ·· .· •·· · ,
::s Assim êle é, como Zeus, em certa medida, o p·ª··J·····.·.de- fu···d·
(Epicteto, Dissert. III 22, 81). - · ·. ···. · .. ·. · · /
·.ºJ os . homens
. j
39 É sintomâtko que o desprêzo " a injúria só a!!ngem o·cin!ro como.pessoa
e nunca aquêle que êle representa (Cf. por exemplo, ]l:pfct~to, pisgert. DI 22, 53Bs);
também a fórmula, "a companhia c;;m deus", ire refere a Isso (cf. 'lJ!, 22, 22).
40 Dêste ponto de vista a escolha do têrmo. kat:asfi;oti;:>s
característica recebe nova luz. Vê-se que 'kataskopoa
í.:pO!Jtolos (de apo.~ti!llesthai) são tormações 1.málogas,
Heinrich Reng.~torf
1.~ Não nssim sob os Macabeus e seus sucessores (ct. A. Schlatter, a1roMohN
lr.raei, 3:'' ed., 1925, 132ss) que tinham moíívos especiais.
10 Cf. Strack-Bi!lerbeck I 926; aí a a"l.1sêncla de missões nos anos pc1ttr1ort1
ll Septuaglnta é explicada pela situação do judaísmo.
"º C:f. as passagens em Strack-BiUerbeck III, 5s.
>1t Comparar com isto a Oração da!I Dezoito onde Deus é priliolptl•
irwnte lcuvado como ressuscitador dos mortos e doador de orvalho e chuva• No.....
1.11mbl.>m que na Primeira Carta de Clemente .Rom.irno 17, l são nomeadOJ oomt•
mtemplos dos cristãos s6 cs três primeiros dêstes homens, ao lado dOlf ptofttll.
H2 Naturalmente também os anjos são sheluhim, como em Deu.tercmcnn.tum f'abbltl
ti, 1, n propósito. de Dt 34.5, :talando do "anjo da morte". Mais tais texto•. ft
llfl t1•t1•r1:m ao nosso assunto.
134 Reitirich Rengstorf
~1 Texto principal: Tosefta, Sot<L 13, 2: "depois que morreram Ageu, Zacarlal
e Malaquias - os últimos profetas - desapareceu em Israel o .Espírito Santo".
s5 Cf. a fórmula preferida dos rabinos: "É isto que o Espírito Santo diBÂ
através de ... " (Str:ack-Billerbeck I, 74s).
1111 Aqui apostolos é certamente uma antiga glosa alexandrina (J. Weiss, Dcur
F.nang,elium eles Lukas, 9.ª ed., 1901, ad loeum) .
•
111 Von Soden admitiu apostolous; mas cf. H. H. 1Vendt, KommentaT %'Uf'
Apostelgesehiehte, 9.ª ed. 1913, 53 e F. Blass, Aeta Apostolorum (18!15) 88, ad loeum. _
811 Sôbre a questão das inscrições pauUnas e sua evolução, cf. O. Roller, Da'
1''ormular der paulinischen BTieje, BWANT 4, Folge 9/10 (1933).
136 Karl Heinrfoh Rengstorf
89 Por si, a resenha dos diferentes significados do têrmo só devia se:r dada
no fim do tn•tado, como resultado das pesquisas que se vão seguir. Mas ilrto
tornaria necessária uma exposição muito prolixa. Por isso as exposições seguintes
devem servir como demonstração da gênese do uso neotestamentário.
Apóstolo, Falso Apóstolo, Apostolado e Enviar 137
''deixa-me ir" (Gn 32.37), deve-se deduzir que o que envia é maior
que o que é enviado" (no TH está "envia-me") 90.
e. Assim corno shaliah, também apostolos designa o enviado
de uma comunidade.
Tal é o sentido de "apostoloi daR igrejas", de 2Coº ~~~3_LCQ_fil
que Paulo se :refere aos homens que segundo o seu desejo devem
acompanhar a Jerusalém as ofertas das igrejas gregas coligidas por
sua própria iniciativa para os "santos" 91 • No mesmo sentido apare-
ce Epafróditó como "ap'ústolos" dos filipenses a Paulo (Fp 2.25).
Aqui, pela natureza da coisa -- trata-se de provas de amor-fraterno
- , o apostolas não é só uma figura jurídica, mas também religiosa.
d. Finalmente, de modo geral chamam-se apostolai os portado-
res da mensagem neotestamentária. Levam êsse nome antes de
tudo os do círculo dos Doze, os assim chamados "primeiros apóstolos"
(incluindo a Matias, o substituto de Juda~ Iscariotes, At 1.26; .cf.
"os Doze" de 1Co 15.5). Aí se pressupõe o envio por parte de Jesus.
l!:ste uso predomina nos escritos de Lucas, tanto no Evangelho
como em Atos dos Apóstolos. Só os Doze aparecem como "apósto-
los" constituindo um colégio fechado em si, de tal modo que pode
ser justaposto a um outro colégio, o dos anciãos· (At 15.2,4,6,22s;
16.4). Entre êles sobressai a pessoa de Pedro (2.37; 5.29). Como
sede dêsse círculo Jerusalém é expressamente nomeada em At 8.1.
Também J\It 10.2 e Me 6.30 apostolai se aplica aos doze primeiros
discípulos de Jesus. Em todos êsses casos a fórmula se torna abso-
luta e é usada sem qualquer outro qualificativo e portanto traz seu
sentido em si mesma. Aparece, de resto, sempre no plural.
São chamados, além disto, apostolai os missionários da Igreja
primitiva, ou pelo menos os seus mais importantes representantes,
sendo que nunca pertenceram nem mesmo ao círculo mais amplo dos
discípulos de Cristo.
Até mesmo em Atos dos Apóstolos encontra-se êsse uso, pelo
meros em 14A,14, onde Paulo e Barnabé são chamados apostoloi sem
que o autor considere essa expressão como pouco usual s2. Por con-
seguinte, os Doze são certamente para Lucas apostoloi, mas o cír-
culo dos apostolai não se r~stringe a êles. Antes de mais ninguém
------------~---~ ~---
140 Karl Heinrich Rengstorf
tura considerado como tal pelo próprio Jesus 102. Neste ponto deve-
se observar em primeiro lugar que, visto do lado de fora~ êsse cír-
culo em nada se dístinguia dos círculos qua os mestres de então jun-
tavam ao seu redor. Isto aparece até na designação~ visto que os
membros do círculo mais estreito ao redor de Jesus eram designados
como mathetai, da mesma forma como os discínulos dos rabinos. Dis-
tinto contudo é o n, ;do como surgiu êste cír~ulo -{cf. kaleo, chamo;
akoloutheo, sigo) e como evoluiu. Não foi a capacidade espiritual
especfal, nem a vontade dos membros, mas tão-somente a iniciativa
de Jesus, que o criou e formou. 'Para o modo. de agir de Jesus é sig-
nificativo que êle não entregou imediatamente a iniciativa a seus
seguidores, mas que êstes primeiro se tornaram mathetai, isto é,
discípulos que deviam ouvir, embora a própria escolha fôsse na rea-
lidade um apêlo para a ação 103, Se apesar disto os discípulos se
abstiveram de tôda iniciativa, isto se deve ao fato de que "êles
aceitaram com tôda a sinceridade o seu apêlo para arrependimento e
o aplicaram a si mesmos" 104 e assim aprenderam o que é obediên-
cia; aprenderam-no porque Jesus lhes mostrou Deus ao mesmo
tempo como o Santo e o Pai 105. Quando não se compreende isto
cerram-se as portas que levam ao conhecimento da natureza mais
intima do apostolado do NT. De fato, aí se encontram as derra-
deiras razões por que o apostolado não se cristalizou num ofício, mes-
mo depois da morte de Jesus quando se formaram comunidades fir-
memente organizadas 106. Tal não era possível, porque o aposto-
lado se originara em círculos de crentes que sabiam que tinham sido
~hamados por Deus e para os quais o amor se tornara a única regra
nas relações com o próximo 101. · Daí resulta que o fato de pertencer
aos mathetai de Jesus, no sentido pleno da palavra, era o pressu-
posto para qualquer participação prática em sua obra. ·'
Com isto já se disse o essencial sôbre a relação entre "os dis-
cípulos'', "os apóstolos" e "os Doze". Os "discípulos" são a comu-
102 Cf. A. Schlatter, Die Geschichte des Christus, 2." ed. (1923) 406 s.
1os O comportamento dos discípulos o demonstra, sobretudo .a espada na mão
de Pedro (Jo 18.10 e paralelos).
104 A. Schlatter, ioc. cit. 312 e 313, nota 1.
105 Compare-se a êste respeito o Sermão do Monte como um todo e as grandes
parábolas, sobretudo em Lucas.
106 A narrativa sôbre os fatos de Jerusalém mostra em At 15 uma comunidade
"institucionalizada"; cf. também At 6.1.
101 Cf. Mt 22.4-0.
142 Karl Heinrich Rengstm·f
nidade maior, compreendida por essa designação mais geral 163 , sem
a qual nem os apóstolos, nem os Doze são imagináveis. Portanto -
pressuposto o correto uso do têrmo - um apóstolo é também sem-
pre um discípulo, mas não qualquer discípulo é um apóstolo. Em
conseqüência, a expressão "os doze apóstolos", não deve causar admi-
ração (Mt 10.2). Ela não nos obriga a identificar "os doze .. e "os
apóstolos"; isto é excluído pela combinação dos dois tê:rmos, de mo-
do que em M:t 10.2 não se encontra nenhum pleonasmo.
b. A atividade dos discípulos começa somente no momento em
que Jesus se decide a fazer dêles seus colaboradores 109. Os Sinó-
ticos não apresentam :razões para tal resolução. Estritamente fa-
lando, nem mesmo se menciona uma decisão especial de Jesus, mas
só o fato de que êle chamou os "Doze" e os "enviou". Somente Mar-
cos descreve êsse ato como apos"tellein, enviar, enquanto que Ma-
teus e Lucas - como também urna segunda expressão de Marcos -
apresentam como sinal característico dêsse ato a exousia, poder, con-
ferida aos discípulos e possuída pessoalmente por Jesus. Fica assim
claro que se trata de envio autoritativo, no sentido de estar revestido
de autorização plena. Os homens que assim foram enviados, tal co-
mo transparece de seu envio, devem ser considerados sheluhim no
sentido jurídico do têrmo. Só assim se entende que os enviados mais
tarde tenham voltado e "informado" (apaggello, Me 6.30; diegeomai,
Lc 9.10) sôbre o que fizeram.
A questão se o envio dos Doze por Jesus deve ser considerado
um fato histórico, ou se nêle devemos ver somente uma invenção
posterior, proveniente do interêsse de demonstrar que o colégio dos
Doze da comunidade primitiva foi autorizado pelo próprio Jesus
durante sua vida 110, não pode aqui ser investigada pormenorizada-
mente. Contudo, deve-se dizer que, formulada assim, a questão está
falsamente colocada, pois pressupõe a possibilidade, se não a ueces~
sidade, de identificar "os Doze" e "os apóstolos", e para tanto não
existem razões, exceto as fórmulas usuais, para as quais há outras
explicações. Somente queremos dizer que as questões históricas se
tornam mais obscuras se negarmos o envio dos Doze por Jesus, visto
que não se apresentam outros motivos para o envio senão a vontade
de Jesus.
108 R. Bultmann, Die Geschic:htie der synoptischen Tradítícrn., 2.a ed., 1930, 390s,
aponta especialmente para o uso de Lucas.
109 Mt 10.1; Me t>.7; Lc 9.1.
Assim, depois de :muitos predecessores, recentemente Schuetz 72ss; e;:n 71s
110
há uma breve história do problema.
Apóstolo, Falso Apóstolo, Apostolado e Enviar 143
221 Dêste ponto de vista as objeções críticas contra êsse têrmo são inteira-
mente justificadas.
12::? C:f. pág. 147.
123 A expressão hoi dodeka: apostolai testemunhada por A, C e o Textus Recep-
t11s é. cerúimente, secundária.
colha dos Doze, lhes comunicara seus planos a seu respeito e que é
êste o significado "chamou-os apóstolos":· porém de uma
simples conjetura.
De resto, a proposição relativa de Lucas na tradição ma~
Me 3.14, um completo, uma vez que, depois
, é· ela documentada uma série de
n:ianuscritos
W, Codex
muitos e Tatiano) "'!.J"'''"..,.
canônica pela textual
contribuído para sua rejeição as
apostolai. a entendermos
vez se possa variante maior
aconteceu.
Deve, pois, ficar certo que não somente o .... .,v..,•vv•uuv,
seu conteúdo, ascende Jesus, mas que
por êle usado, embora não na sua forma mas como uma
aplicação da instituição do shaliak às relações seus discípulos para
com êle, ao tempo que os na sua obra atribuindo-lhes tôda a
sua autoridade.
d. Dos Evangelhos se pode deduzir mais um elemento que se
tornaria grande importância posteriormente, a saber, a associa-
ção do shalía.k/a,postolos com a da palavra, como obra de
Jesus. Marcos dá como tarefa dos apóstolos, segundo a
vontade de o pregar (3.14) e aos que voltam: "tu-
do o que e ensinaram". Lucas mostra como Jesus os envia
para "anunciar o de Deus e curar" (9.2); o mesmo encargo
recebem em Mt, embora com perspectiva mais ampla e com alusão
clara à obra {10.7s). Com isso o apostolado recebe co-
mo conteúdo um elemento de absoluta objetividade e ao apostolos se
qualquer influxo sôbre a natureza de seu
encargo. Quando a perto o :reino
aos discípulos para ser anunciada, êstes .são por assim
no mesmo nível de com efeito, sob a vontade de Deus
que elimina a autonomia restando-lhes apenas entregar-se
plenamente ao seu encargo. 130.
Ao encargo da palavra está indissofüvelmente ligada a plena
autorização por para que seus mensageiros ajam. Também a
1211 Cf. Mt 10.9ss e paralelos. Poder-se-ia acrescentar muito do que foi dito
aos mathetai como tais e não como apoato!oi; Mt 18.lss e paralelos.
uo Mt 25.14ss; Lc 19.12ss. Note-se que se trata. da de um homem e do
encargo dado a seus servos para o de sua aw:êncl!'i
Ap6stol-O, Falso Apóstolo, Apostolado e Enviar 149
145 "Em Paulo os fatos da Páscoa são encarados lli.""licamente do ponto de vista
de que por êles Jesus criou seus mensageiros" (A. Schlatter, Die Gescliichte des
Christus, 2a. ed. 1923, 532).
146 Cf. o acento dado a tois apostotois pasin, a todos os apóstolos, em 1 Co
15.Th, depois de 7a.
147 Gl 1.19 não é uma prova decisiva, pois do ponto de vista lingüístico não
se pode decidir se o ei me se deve referir a tôda a sentença anterior, ou somente
a apostoion (cf. Lightfoot, ad. toe.).
i.is Cf. os discursos de Atos dos Apóstolos, como também o kata tas graphaa,
segundo as escrituras, de 1 Co i5.Ss; e ainda Rm 1.2; 3.21.
HO 8.1 afirma expressamente que os apostoloi tinham ficado em Jerusalém.
152 Karl Heinrich Rengstorf
hoi a.postoloí, mas não os Doze; tenha-se ainda presente que Tiago,
filho de Zebedeu, já tinha sido executado antes do assim chamado
Concílio de Jerusalém (At 12.ls). Uma atividade missionãria de
Pedro é testemunhada por Paulo em lCo 9.5, se é que se pode ver
no periagein, "levar na viagem", uma alusão às viagens apostóli-
cas 150. Neste te~'to fala-se também dos .. outros apóstolos", e dos
"irmãos do Sd11ho:r", os quais não são identificados sem mais com
os apóstolos .. Pedro como missionário talvez esteja em relação es-
pecial com os judeus babilônicos 151. É, de resto, basta:nte signifi-
cativo que nada saibamos dos outros apóstolos depois do evento de
Pentecostes. O motivo talvez esteja claramente indicado em Mt
28.19.s pois a Igreja nascente dificilmente teria tolerado tal palavra
no Evangelho se ela não correspondesse à realidade 152.
Com o elemento missionário aparece algo que distingue o apos-
tolado neotestamentário fundamentalmente da instituição judaica
do shaliah. Isto vale também no que diz respeito à forma que êle
tomara no contacto de Jesus com os seus discípulos e na participação
dêstes na preparação do iminente reino de Deus. Bàsicamente o
mesmo, antes e depois da Páscoa, o apostolado, contudo, depois da
Páscoa leva a conseqüências totalmente diferentes de antes. Da si-
tuação pós-pascal - que não pode ser separada da experiência que
os discípulos tiveram do caráter absoluto de Jesus - provém a
natureza permanente do encargo que agora lhe foi confiado. O
Ressuscitado não mais chama os seus representantes por um deter-
minado espaço de tempo, mas para todo o tempo que está entre a
Páscoa e a sua volta e da qual ninguém sabe quanto demorará 153•
Dai porque êle os envia uma única vez; isto tem como conseqüência
que o apostolado fôra limitado à primeira geração e não se tornou
um ofício eclesiástico.
Então se repete tudo o que se dera no primeiro envio dos men-
sageiros: a concessão do poder 154, bem como a obrigação de prestar
contas pela entrega do encargo ao conlissionador 155. Em ambas
essas coisas afirma-se que o objeto do apostolado não é a iniciativa
l<W At 4.19s.
154 Karl Heinrich Rengsto1j
dêles como "enviado" (14.26; 15.26) 176; tanto mais que Jesus po-
de dizer que a vinda do paráclito não só é obra do Pai (14.16,26),
mas também - em vista de sua exaltação que o coloca ao lado do
Pai ("junto do Pai,,) - que êle mesmo o enviará aos seus ("envia-
rei": 16.26). No paráclito, que é o Espírito da verdade (14.17), J e-
sus mesmo, como a verdade em pessoa, continuará com êles ainda
que se ausente corporalmente (14.5s; 16.7). Assim, na imagem joa-
nína do apostolado, combinam-se a visão cristológica do evangelista
sôbre o Filho que está ao lado do Pai e age como o Pai, de um lado,
e a. representação judaica do mensageiro píenipotenciár io, de outro.
Esta é posta em segundo plano, mas sem que o oficio de mensageiro
se reduza a mero caso de entusiasmo. João não favorece tal :redução.
Seu interêsse é conhecer e expor aos leitores o Filho como sendo o
que age incessantemente desde o início de tôdas as coisas (logos,
Verbo) até a sua consumação. Pode ser que em razão disto o têr-
mo apostolos não lhe tenha parecido apropriado, pois nêle se entre-
via pelo menos o perigo de que o discípulo de servo se fizesse senhor,
atribuindo-se poder próprio, esquecendo-se o aposto"los que atrás
dêle está um pempsas. que o enviou, o qual já existia antts dêle
(13.16).
e. Sôbre a questão de corno do têrmo hebraico shaliah se che-
gou ao têrmo grego apostolos não se pode dizer muito com seguran-
ça. A única coisa certa é que a escolha da palavra apostolos não
foi obra dos judeus, pois do contrário teríamos mais provas dêste
uso. É bastante raro que uma palavra que originàriamente só ser-
via para designar urna ação ou um grupo de homens, sem possuir
qualquer colorido religioso, se tenha tornado designação de um in-
divíduo com funções expressamente religiosas. A aceitação do têr-
mo taivez se tenha dado em Antioquia da seguinte maneira: apos-
tolos teria designado primeiramente a expedição missionária como
tal e, só depois, os participantes da expedição em particular 177;
finalmente apareceu como sendo o têrmo próprio para traduzir sha~
liah, visto que também era um substantivo masculino. É até possivel
que Paulo tenha participado dêsse processo de tradução, processo,
aliás, que pode ter sido rápido. Em todo o caso é êle o primeiro
que usa o têrmo aplicado claramente a um mensageiro individual
de Jesus no singular, enquant:o os evangelhos sinóticos sempre o
empregam no plural.
to de nós " (At l.2ls). Aqui, port anto, o pressuposto mais impor-
tante para a concessão do apostolado é o contacto mais estreito com
Jesus durante sua vida. Isto quer dizer que na prática a comuni·
dade primitiva não viu na missão do Ressuscitado algo radicalmente
nôvo. Embora não possamos concluir, por falta de informações, que
assim reaimente as coisas se processaram, contudo estaremos mais
perto da realidade se admitirmos que para a . .c• nunidade primitiv&
a nova missão nada mais era .que a repetição ou a continuação da
antiga, a do tempo da vida terrena de Jesus. Daí se pode deduzir
que a comunidade primitiva ainda não tinha compreendido em tô-
da a sua profundidade a radical mudança verificada na situação do
mundo, mudança que consistia em que o Ressuscitado fêz de outros
homens seus representantes. Além disso é preciso concluir dai o
significado que a história de Jesus teve desde o comêço para o con-
teúdo próprio da mensagem cristã primitiva 179: o apóstolo de Je-
sus sempre é testemunha de fatos históricos e não de mitos, embo-
ra estivesse inteiramente consciente de que aquilo que anunciava
contradizia a tôda a experiência humana.
Esta conexão do apostolado com a participação pessoal na his-
tória de Jesus foi sentida também por Paulo de dois modosº Em
primeiro lugar, a oposição à sua pretensão de ter como apóstolo
os mesmos direitos que os Doze. pode ter-se baseado em argumen-
tos relativamente sólidos neste ponto. Com efeito, Paulo tinha pe-
rante os Doze a desvantagem de não ter privado com o Jesus his-
tórico. Mas foi precisamente isto que o levou a fundamentar seu
apostolado de um modo que, ao mesmo tempo que o livrava do ve-
redicto de ser apóstolo de segunda categoria, tornou-se de funda-
mental importância para a concepção e as aspirações do apostolado
cristão primitivo. O outro aspecto - que, no caso, liga Paulo à
comunidade primitiva - é a resoluta afirmação de sua participa-
ção na corrente da tradição cristã primitiva a respeito de Jesus
(lCo ll.23ss: 15.lss, etc.). ~ste fat o mostra a sua íntima adesão
à história de Jesus como único funda mento e conteúdo de sua pre-
gação; é esta adesão à história de Jesus que, não obstante teclas as
oposições entre Paulo e os apóstolos da comunidade primitiva, fazia
de todos os apóstolos um corpo unido (At 15.12; cf. Gl 2.9 e espe-
cialmente !Co 15.11).
3. Pwr1lo, exemplo clássico do apostolado - O representante
clássico do apostolado no NT é Paulo. É o único apóstolo que nos
é conhecido precisamente em sua qualidade de apóstolo, enquanto
que de todos os outros nada sabemos sôbre o modo de seu aposto-
17il C:f. sôbre lsto G. Kittel, DeT "hfstorische Jesus", em Mysterium Christt
{1931) 49ss.
160 Karl H einrich Rengstorf
1111 Sôbre seu conhecimento da Lei no judaísmo farisaico fala em Gl 1.14; Fp 3.6.
Não se deve esquecer que, em oposição aos Doze, Paulo era o único dos apostoloi
de Jesus que tinha origem "acadêmica" (escriba) e não provinha do "am-ha-crres'',
povo simples.
1a2 Isto também se aplica à questão de ·saber qual das trbs narrativas de Atos a
rcspeíto da conversão de Paulo merece maior fé C9.lss; 22.5ss; 26.12.ss). Sôbre
éste ponto veja-se E . Hirsch, Die ctr-ei Berichtie der Apostelgeschichte ue ber dte
Bekehru.ng des Paitlus, em ZNW 28 O 929) 305ss.
var que tanto quanto se pode deduzir das fontes, a atribuição das
origens do apostolado a Deus aparece pela primeira vez em Paulo
(lPe 1.2 depende das exposições paulinas).
O lugar predominante da noção de Deus na consciência de mis-
são de Paulo é especialmente acentuado pelo fato de êle saber que é
separado para o evangelho de Deus. e de chamar a Deus como o
que "me separou desde o ventre de minha mãe" (Gl 1.15). Com tais
fórmulas, Paulo se coloca dentro do plano universal de Deus como
um elo não só lógico, como imprescindível; imprescindível, diga-se,
do ponto de vista de Deus e nunca do seu próprio (lCo 3.5) 189. Por
isto não pode deixar de ver no seu apostolado a prova da graça di-
vina, que não está ligada a quaisquer pressupostos e que, precisa-
mente em razão disto, leva o homem à sujeição obediente a Deus (lCo
15.10) rno. É neste ponto que a consciência de missão em Paulo tem
conexão com a dos profetas, especialmente de Jeremias e Dêutero-
Isaías. Esta conexão só se pode entender a partir do modo parti-
cular da vida de Paulo e como sendo obra própria sua, e nela não
só a consciência de missão dos apóstolos mas mesmo do cristianismo
primitivo atingiu seu clímax.
Os traços paralelos entre Paulo e Jeremias foram notados já
de há muito 1s1, mas sempre do ponto de vista exterior 1s2 e nunca
do ponto de vista da consciência de missão. É, porém, justamente
neste ponto que Jeremias foi o grande exemplo de Paulo.
O significado de Jeremias na· história da profecia véter o-tes-
tamentária consiste na sua renúncia radical a dar qualquer impor-
tância ao homem, e na dedicação à mensagem recebida, com a clara
consciência da posição precária do profeta, e da predominã.ncia abso-
ltrta da idéia de Deus 193. Isto se exterioriza no total desapareci-
mento do elemento extático, característico nos profetas mais anti-
gos IM, e mesmo em Isaías 195, e que reaparece nos sucessores de Je-
1116 Sôbre Ezequiel, cf. R. Kittel, op. cit. III (1927) 15lss.
191 R. Kittel, op. cit., II, 336. Cf. também J. Hempel,' Altes 'l'estament und
Geschichte (1930) 65s.
198 R. Kittel, op. cit., II 33i e nota 1.
199 Cf. como êle se volta contra os visionários 23.25ss.
164 Xarl H einrich Rengstorf
::o; 2 Co 12.9.
Apóstolo, Falso Apóstolo, Apostolado e Enviar 165
209 Cf. sôbre isto P. Feine. Der Apostei Paulus (1927) 407ss.
210 1 Co 4. l s.
ll.U Rm 10.15 cita Is 52.7 ("aquêle que anuncia o bem") para descrever a sal~
vação messiânica como objeto da mensagem apostólica. Cf. Rm 1.15; 1 Co 1.17:
916; 15.ls; 2 Co 11.7, etc.
166 Karl Heinrich Rengst01·f
212 Dêste ponto de vista é difícil concluir algo de decisivo contra a autenti·
cidade de Elésios. A, fórmula em si só afirma que a cnrta pertence a um tempo
em que se ~locavam objetivamente lado a lado os apóstoios neotestamentár ios e
os profetas vétero-testamentários, e êste é o tempo das cartas paulinas.
213 Rm 8.9, etc ..
Apóstolo, Falso Apóstolo, A.postolaào e En/1.1ia.r 167
214 Cf. o kata tas graphas, segundo i:1s Escrituras, de 1 Co 15.3s, e, além disto,
tenha-se presente o fato de que Paulo. afora 1 Ts 4.14 (onde se diz: "que Jesus
morreu e ressuscitou") , sempre se fala da ressurreição de Jesus como ato de Deus
(Gl 1.1, etc.).
21 Cf. também 1 Ts 3.2.
216 Note-se o tí de l Co 3.5; kyrios é aqui naturalmente Jesus r;omo o Enviado
e o plenamente autorhado. Cf. também 1 Co 1.13.
217 Muito significativa é a relação entre aposto!ê e charis que Paulo quase
tem por sinônimos.
21s Cf. 2 Co 1.24. "somos cooperadores de vossa alegria" ; e ainda 2 Co 8.9.a;
7.4. Essas passagens se encontram numa carta mtúto severa em que Paulo luta
pelo reconhecimento de seu apostolado.
2111 S6bre a conexão entre os sofrimentos de Paulo e os sofrimentos de Jesus,
veja-se principebnente Fp 3.10 .•
168 Karl Heinrich Rengsto1·f
<lo conceito de 'Paulo assim como no caso dos cm1cos com relação a
Sócrates; com a agravante de que o desconhecimento da situação
teve a1 conseqüências mais sérías do que no caso dos cínicos.
------
Exemplos em Bultmann, op. cit.,
2 z5 106.
2.26 Ve r também Constitutiones Apostolorum VIII, 1, 10: - " foi elevado para
jI~1to daquele que o enviara".
2:21 Cf. pág, 140.
2:28 W~tter, op. cit. 15ss. Mani tinha outros enviados a seu lado (cf. Bauer,
d'' cii.t. 55) .
!!::lll PreiS'igke, Sammelbuch ureichischer Vrkunden aus Aegypten, 0915ss).
rf 72"'10, 5.
2ruo Cf. W. Bacher, Nizdmi's Leben und Werke und der zmeite Te iZ des Nizâ-
ni liiJch.en Aiexanderbuches (Dissert., Leipzig 1871} 90.
:ia.1 Isto v ale até mesmo de Alexa ndre que é considerado como o representante
d• ve:rdadeira religião <Bacher, op cit. 9(' 94ss passim).
170 Karl Heinrich Rengstorf
dinada tôda a sua vida e obra 232. Ainda que sua finalidade seja
entendida de modo diverso da do "enviado" dos mandeus e de Mani
- e isto em razão da natureza de sua pessoa - contudo, o paralelo
objetivo existe. Por isto nem em Justino, nem nas fontes mandéias,
nem nos fragmentos maniqueus há a idéia da autorização para falar
e agir por encargo e como representante de quem enviou, mas quan-
do aparece o ''enviado", apenas se fala de sua vinda de uma outra
esfera que permanece misteriosa e da qua.i só indícíos se dão aos
seus seguidores 233, De resto, o têrmo apostellein (apostolos) em
Just ino e nos outros autores cristãos se apóia claramente na termi-
nologia do Evangelho de João.
2. Contra a referida concepção mandéia o Evangelho de João
se opõe, não do ponto de vista formal, mas quanto ao fundo. É
certo que aí Jesus aparece como enviado pelo Pai ; mas a idéia do
envio só visa explicar o significado de sua pessoa e dos fatos
decisivos que nêle se realizam, uma vez que é o próprio Deus que
fala. e age nêle. Isto se pode mostrar de três modos: (a) nos sinais
do Jesus joanino Deus o revela como prometido. e também como
aquêle em quem e por quem o pr6p~o Deus age 234; (b) na pessoa
de Jesus e na atitude que se toma em relação a êle - e não em
relação à doutrina por êle ministrada - decide-se a sorte daqueles
que o encontram 235. Assim é precisamente porque nêle Deus está
presente e porque êle r epresenta literalmente em sua pessoa o
Pai236; (e) da palavra de Jesus não se pode separar nenhuma de
suas obras nem a sua morte. Em João a morte e a glorificação de
Jesus - isto é, sua elevação para junto do Pai para participar na
sua glória e para que seja plenamente revelado como Filho - são
e constituem unidade indissolúvel 237.
Tais afirmações sôbre Jesus seriam vagas se no Evangelho de
João êle fôsse apresentado anàlogamente ao " enviado" da gnose
oriental. Jesus é muito mais do que isto, mesmo quando apostellein
é um àos têrmos mais importantes com que se descreve sua função.
2 3:? Apologia I 63, 5: "0 Filho d e Deus é chamado anj o e apóstolo, pois êle
anuncia tudo o que deve ser conhecido e é enviado para explicar tudo o que é
anunciado ... " Também em outras passagens de Justino, Jesus é chamado aggelos
(Wetter, op. cit., 28s).
233 Cf. G. P. Wetter, "lch. bin es". Th. St. Kr. 88 (1915) 224ss, 235.
234 Cf. Jo 4.34; 5.36; 9.3s; 10.37, etc •.
2Sii 3.18; cf. 3.17; 12.47 e de modo geral a preponderância da idéia do jufzo em
João .
2sa 8.16, 9; cf. 5.36s; 8.13; 10.25; 12.49; 14.10, etc .•
237 12.23ss; veja~se dêste ponto de vista 18.lss com Mt 26.36ss e pnraleloE.
Apóstolo, Falso Apóstolo, A2Jostola.do e Enviar 171
FALSO APóSTOLO
O têrnw pseudapostolos, falso apóstolo ou pseudo-apóstolo. per-
tence aos yocábulos compostos com pseud( o) dos quais o NT tem
pseuàadelphos, :falso irmão, psoododidaskalos, falso mestre e pseu-.
domartys , falsa testemunha 238, Não se registra seu uso fora do N'l'.
Aparece sr,mente em 2Co 11.13 onde o próprio Paulo o explica:
"transfigurando-se em apóstolos de Cristo,,. Portanto, por falsos
apóstolos êle entende aquêles que se apresentam como apóstolos de
Cristo sem serem autorizados por êle. A falta de autorização se
mostra no fato de que não estão ligados total e exclusivamente a
Cristo e a Deus e por isto procuram o que é seu, em vez de servirem
com desprendimento (cf. "trabalhadores dolosos", 11.13) ; por não
saberem que é àa essência do apostolado de Cristo que .o a póstolo
seja h umilde e sofra, recebem ainda o epíteto de "super-apóstolos "
( 11.5,íl ) , fórmula que já do ponto de vista lingüístico exprime o
absurdo de tais apóstolos, de vez que um aposto los de Jesus não
poder ser suplantado por coisa alguma.
Com essas duas fórmulas, Paulo tem em vista seus opositores
judaizantes que lhe tinham contestado o direito de apóstolo (cf. Gl
1.1) ou tentado indispor as comunidades contra êle.
APOSTOLADO
No grego profano o têrmo apostolê é relativamente freqüente
com seus sentidos mais diversos deduzidos de apostellein. Significa:
(a) envio de naves {Tucídides VIII, 9); {b) envio simplesmente,
até mesmo o envio de um projétil (Filão, Mechanicus, Belopoica
68,33; ed. Diels-Schramm em AAB, 1918, N. 0 13,46), como também
o afastamento ativo de um homem {Aristóteles, Rhetorica II, 23 p
1400b,lls: "errou Medéia no afastamento dos filhos"), ou ainda
:para o sepultamento de uma múmia (Papiro Oxyrin, 736,13). De
apostellesthai, ser enviado, vem o significado "expedição" (Tucí-
dides VIII, 8). Em todos êsses casos é um nonumi actionis.
Entre os judeus aparece primeiramente no sentido comum
(Carta de Aristeas 15). Mas, influenciado por shalah/apostellein
no sentido técnico. passa a significar "entregaº, como aparece nas
Epístolas de Juliano 204 (pág. 281, 4a. ed. Bidez-Cumont) em rela-
ção com o ofício judaico dos shelu.him 230 • Na Septuaginta aparece
doze vêzes 240, sempre com referência a shalah quando é tradução,
exceto em Jr 39.36 (Jr 32.36) onde em lugar de "pela espada, pela
fome e pela peste", temos: "na espada, na fome e na apostolê'" ~ aí o
tradutor modificou o texto original e em lugar de deber (peste)
interpretou dabar, palavra (de Deus). Em lRs 9.16 aposto lê sig-
nifica " <;lom, presente"; em outros lugares simplesmente "envio"
(Sl 77.49) 241; finalmente significa "envio de presentes". Flávi1J
Josefo emprega o têrmo em Antiquitates 20,50 para significar "des-
pedida solene" (cf. Vita 268) 242.
ENVIAR
A. APOSTELLO E PEMPO NO GREGO PROFANO
..
Apóstolo, Fa.lso A..póstolo, Apostola.do e Enviar 175
...
17'8 Karl Heinrich Rengstorf
:!Sã Deve-se notar que o sentido básico da raiz é "soltar" e que só no sentido
translato chega a significar, no intensivo, "enviarH, significado que prevaleceu com
o decorrer do tempo. Contudo, o têrmo nunca chegou a negar sua origem . Como
ficou dito, mes mo no sentido de "enviar" a ênfase é ainda determinada por SU5
origem; o sujeito agente, e não o objeto, está no centro da afirmação.
!:136 Cf. nota 258.
:ier Cf. também SI 55.4.
A.póstolo, Falso A.póstolo, Apostolado e Enviar 17.'J
270Js 6.8; .Jr 1.7; Ez 23: cf. Ag 1.12; Zc 2.15 (11); 4.9; MI 323 (3.4); :l!:x
3 .10; Jz 6.8, 14.
211 Cf. pág. 175.
272 Ver ainda nota 34.
180 J(arl Heinrich Rengstorf
C. APOSTELLO E PEMPO NO NT
2& 1 Cf., por ex., hot pemphthentes, os enviados (pelo centurilo de Cafarnawn)
cm LC 7 .. 10, depois de usar apesteilen em 7.3; comparar êste uso com Flávio Josefo,
Vita iao:s.
2s2 'I:"alvez não seja impossível fazer-se distinção compsrando-se Mt 21 .36ss e
Me 1~.4s:s, de um lado, e Lc 20.11, de outro.
2s3 Iwlt 10.40; Me 9.3, (Lc 9.48); Mt 15.24; d. Jo 1.6.
•I Apóstolo, Falso A.póstolo, Apostolado e Enviar 18S
284 D~s duas passagens não !nteiramente claras deve-se dizer o seguinte: em
Rm 8.3 a tônica não cai tanto sôbre o env!o de Jesus como sôbrc sua vinda,
::onnide:::ada como uma obra de Deu s; neste sentido pempein tem aqui um bom
sentido. E."ll 2 Ts 2.11, ao contrário, apostellein também da::-ia um bom sentido.
:s3 5.36, 3B; 6.29, 57; 8.42; -1-0.36.
2611 3.17; 2Q.21.
2lr7 1U2; 17.3, 8, 18, 21, 23, 25.
288 5.37; 6.44; 8.18; 12.49; 14.24. A fórmula é tão complexa que no decurso
da história do texto o simples ho pempsas me foi freqüentemente aiongado pelo
acréscimo de ho pater; por ex., em 5.30; 6.29; 8.16.
2ss Dwe-se.,. jqntar: ainda 7.18 e · 13.16' embora eom ho pempsas auton s~ fale
de um hemem que envi:a, p<iis ambas as passagens se entendem a partll' da
posição de Jesus a quem "o Pai enviou"; o primeiro é uma ilustração, o segundo
uma conseqüência para a atitude interna e externa do "apóstolo".
184 Karl Heinrick Rengstorj
D. O COMPOSTO EXAPOSTELLO
* * *
soo Marcos, na passagem pa171lela a Lc 2.10 tem apcsteilan kenon <Me 12.3>.
s111 Th. Zahn, Ga!uteT 199, ad Zoe.; bem como muitos outros antigos e lhodernos .
so2 Mutatis mut4ridis, esta tese também vale para 4.6: "enviou ... e EsPfrito
de seu Filho".
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BI SPO
por
HERMANN WOLFGANG BEYER
fNDICE
BISPO
3 Cf. a respeito E. Norden, Jahrb. fuer Phil. Supplementband XIX (1893) 378,
com numerosos exemplos; Wendland, Hellenisttsche Kultv.r, 2" edição, 82; sobretudo
o artigo Apóstolo (pág. 118-123).
1 Epicteto, Dissertationcs III, 22, 2; aggelos apo Díos, mensageiro da parte de
Zeus ; Epicteto, Díssertationes III, 22, 23; III, 1 37.
Bfapo 197
13 . Digesta Iu.stiniani Augu.sti 50, 4, 18, 7 (ed. Mommsen II, 1870, 914); sõbre
(·ste ponto d. W. Liebenam, Staedteverwaltung im roemischen Kaiserreiche (1900)
370.
H J)eissrnann (Neue Bíbelstudien, 57) chama a atenção para o tato que é
um só - embora a última letra seja um tanto duvldosa, podendo-se também ler
episkopoi (cf. H. Lictzmann, ZwTh. 55 , 1914, 102i. Deissmann diz !linda: "Não
faço conjeturai; ~úbrc a função dêsse episkopos. Só o !ato de que o têrrno aparece
C'm contexto i,acrol, já ontcs do cristianismo, ó bastante slgniticr:tivo".
200 Herrnn.n n Wolfgang Beyer
B. EPISKOPOS NO JUDAfSl\10
a respeito de Deus como quem, pelo seu olhar, tudo contempla, levou
no judaísmo à formação do vocábulo panepiskopos, observador de
tudo, que aparece freqüentemente nos Livros Sibilinos (1, 152: "poi8
t udo sabe o imortal salva<lor que tudo observa"; 2, 117; 5, 352).
É sobretudo para o coração humano que se volta o olhar de
Deus. Também nes1.. c0ntexto a Septuaginta combina rnartys kaí
episkopos: "Deus é testemunha de seus (i.é, do ímpio) rins. obser-
vador veraz de seu coração e ouvidor de sua língua" (Sab 1, 6). Cf.
a respeito At 1.24, onde Deus é chamado kardiagnostes, conhecedor
do coração. Deus vê o que se oculta na alma do homem, diz :F'ilão
(l"it1:gratio Abrahae 115) . Só Deus vê os pensamentos do homem
(ib., 81).
C. EP!SKOPOS NO NT
~o K. G. Goetz, Petrus al.s Gruender und Oberhaupt der Kirche und Schauer
von Gesich.ten (1927) 49ss.
31 J. Elbogen, Der juedische Gottesdienst in seiner geschichtlichen Entwicklung
(1024) 483; Strack-Billerbeck IV. 1, 145ss.
3:! J. Jeremias, JeT-..isalem zur Zeit Jesu ll, 1 (1929) 139ss. K. G. Goetz defendeu
sua opinião contra a de Jeremias em ZNW 30 (1931) S9ss. Nesse meio tempo
Jeremias continuou com suas pesquí.sas e tentou provar a opinião acima exposta.
O autor lhe é gr:.to pelos conselhos dados.
/li.'f'[IO 2 O!I
n:i Escrito de Damasco 13, 7ss <Schcchter, 1910). Novn tradução: W. Sl.aerk:,
BFTh 27, 3 (1922) 287s.
:1.. St<.erk traduz: ephoTos .
a;i Cf. o que diz Jeremias, loc. dt., 121, nota 4.
210 liermann H'olfgang Beyer
te fórmula: o
se em raziio de
um verdadeiro
a organização
grande perigo
tade comum, mas para decidir
o que é a verdade não está
em poder de l\:tesrno de bispo deve uni~
camente estar
* * *
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PRESBíTERO
por
GUENTER BORNKAMM
f NDICE
PRESBíTERO
Bibliografia 267
PRESBÍTERO
A. SIGNIFICADO E USO DO T~RMO
:;9 Sôbre sentido e uso dessa expressão, cf. Rost (cf. bibliografia) 58-59.
4o Aparece em Crônicas, na re-elaboração de textos mal;; antigos de Sm e Ra,
no documento P só raramente, em Ne não mais, em Ed só em 10.S, 14 (em 3.12
trata-se de velhcs no sentido natural). Cf. Rost, 61-64.
H Sómente aí aparece o título arcaico ::erl'mim, anciãos, mais uma vez para
designar os representantes de todo o povo.
280 Guenter BornJcamm
composta
Êsses
como
n1tütoa
nú·
uma assem-
42 Flávio Josefo, Antiquitntes 12, 138-144; CI. ScJrtm~r(:~ (c:t ,bibliografia) Il, 239.
4.44; 1L27 e compnrar
com Macabeus 14, 20.
44 'Flávio Josefo diz e~pressamente que os "nobre;;» pertenciam ao partido
:;aduceu (Jl.ntiquitates 18, 17). Com a ruína do estado juóaico (70 d. CJ desapnrece
a orientação saducéia e a nobreza a ela ligada, A partir talvez se
explique. o desaparecimento de uma especial sôbte os "anciãos" na Oração
das dezoito súplicas, PQr obra dos Beraka que, s~gundo Tosefta BeTakot,
estava em diversas versões. ct. K. G. Aehtzehn.Jebet 1md Va:terun~eT und
(1950) 18s, 21s.
1r><Há diversos sinônimos que mostram que os andiios constitufam a nobreza
leiga: os do (Le 19 , ao iado de ~'chiereis, gnmnn.a«•is); os
Josefo, 9); os chefes cm povo (ib., 194): o~ nobres
etc. Os grupos são 4'amados dynatoi. o~ pode-
Presbítero 231
rasos, os chefes dos sacerdotes e os nobres dos fariseus (ib., 2, 411). No Talmude
os membros leigos são repetid11mente chamados "os grandes da geração", "os
grandes de Jerusalém", "os nobres de Jerusalém"; outros exemplos em J. Jeremias,
83-100 .. ·
46 lWas também é postivcl mudança na ordem (por ex., Me 8.31 e-paralelos:
presbyieroi, archíereis, grammateis). A designação dos membros do Sinédrio
niio cscifa pouco nos três prímeirosc Evangelhos. Enquanto Me geralmente nomeia
lado a lado as três ordens (11.27; 14.43, 53; 15.1 e também MJ 16.21; 27AíJ; iv:rf
prefere a fé>tmula archiereis kai hoi presbyteroí (tau laou), os chefes dos sacerdotes
e cs anciãos (do povo) (21.23; 26.3;. 27.1, 3. 12, 20; 28 lls). Em Mt é noiável a
freqüente omissão dos grammateis, doutôres da Lei. Lc é certamente o menos
correto na designação das autorídades no seu Evangelho (cf.. 7.3: 9.22; 20.1; 22.52);
nos Atos se diz archontes, presbyteroi, grammateis, chefes, anciãos, doutôres da Lei
(4.5~ ;·:iirchontes tou 1aou kai presbyteroí, chefes do povo e anciãos (4.8); arclii€Téi8,
pnesby.~rrni (4.23; 23.14; 25.15); cf. ainda 6.12; 24.1.
17 Orla, 2,5; Sukka 2,8 <Shammctí); Arahim 9,4; Shebi 10,3 <Hillel); seus
disdpulos ~e chnnnm bcney haz-z.eqenim, filhos dos anciãos (Sukka 2,7).
·ill ..Cf. A Sr;mmter. Dic sechs Ordnungen der Míschna l (1927) 181, notn a,
-ill Ci. S. Krauss, Synagoga1e Aitertuemer (1922) 143s. :
232 Guenter Bornkani1n
conselho dos velhos 52. Para a situação reinante no tempo dos Ma-
cabeus são característicos os livros de Judite e dos Macabeus: Aqui
a expressão patriarcal presbyteroi é aplicada tanto aos membros
da autoridade suprema do povo, i. é, ao senado de Jerusalém 53; co-
mo para as autoridades locais do país 54, isto é, como designação de
cargos públicos. Mas presbyteroi também pode, em sentido mais
amplo, designar as pessoas de destaque e ser distinguido dos rnem---
bros da gerousia (3 Macabeus 1.8,23) e dos a·rchontes, chefes (1 Ma-
cabeus 1.26). Também o uso geral de "velhos" (em oposição a
"moços") é corrente, como mostram 1 Macabeus 14.9; 2 1\ifacabeus
5.13; 8.30. Portanto presbyteroi conserva o seu sentido amplo. A
história de Susana, que pertence à diáspora babilônica, fala expres-
samente de anciãos que "naquele ano foram constituídos juízes"
(Susanna 50 (Theod.) e 29.34 (LXX).
A antiga constituição comunal das comunidades locais judaicas
conserva-se na constituição da sinagoga. À autoridade local, que ge-
ralmente consta de 7 membros, corresponde - nos lugares que têm
uma comunidade judaica cultualmente organizada - a autorida<ie
siRagogal. Também se conserva o título presbyteroi para os líderes
da comunidade e os que na sinagoga têm o poder de disciplinar
(cf. Lc 7.3) 55. É notável, porém, que o título se torne muito raro
nas sinagogas da diáspora durante os primeiros séculos da era cris-
tã; ao passo que ocorrem com freqüência os títulos que na lingua-
gem institucional grega eram mais correntes (gerou.sia, conselho
de velhos, gerousiarches, chefe da "gerusia", a,rchontes, chefes,
phrontistês, curador, gramrnateus, letrado, prostatês, presidente) 56,
f1·nh1, tradição dos anciaos (Me 7.8; cf. 9.13). O uso que,nesta
passagem se faz de presbyteros é corrente mais tarde no judaismo,.
tmm o significado de "doutôres da lei" (cf. supra págs. 230s).
A "tradição" dêles é equiparada pelos rabinos à Torá 67, en-
f\uanro que os saduceus rejeitam qualquer ampliação da Torá 6S, A
~rítica de Jesus opõe-se aos dois grupos, já que não discute a -au'-
t.oridade formal da Torâ ou da tradição mas sujeita ambas a cri-
térios superiores. Por isto êle pode ora aduzir a Lei e os Profetas
\•onfr::i. a tradição (Me 7.6-13), o:ra opor a Lei propriamente dita às .
Pxplicações da Torá de Moisés. Êste último caso se verifica de mo-
do mais claro em Me 10.1-12, como também no logion de Me 7.15,
{1ue nega qualquer impureza produzida por alimentos, com o que não
116 é atingida a tradiçã-0 , mas também a lei cultual de Moisés 611. Por
outro la.do, a ampliação da Torá não é criticada em si mesma, mas
antes pressuposta como evidente 70, e Jesus pode até mesmo ·fazer.
usn de profecias da Halaká em suas polêmicas n, apesar de criti-
(•ii-las severamente em outro lugar (Me 7).
Que aqui não temos a teologia da comunidade primitiva, m.as a
J>osição do próprio Jesus, transparece do fato de que Marcos corren-
temente afirma a oposição entre mandamento de Deus e manda-
mento humano (7.9,13) e interpreta a palavra de Jesus de 7.15 por
meio de um catálogo de vícios helenístico (ve:rs. 20-23) 72; Mateus,
ao contrário, sem abandonar sua fonte, que é Marcos, nega, é ver-
d:u:le, que se fique impuro por não lavar as mãos ( 1\'It 15.20), mas
omite a afirmação gerai de que todos os alimentos são puros (Me
7.19) e não critica a tradição dos anciãos nem o magistério dos dou-
tôrcs da Lei em si mesmo (Mt 23.2) 73 , mas tão-somente sua inter-
D.
63 A ação tem sentido exorelstico e busca acura do doente.:··· Não se ta~ ~qúi · ·
da "extrema-unção" de moribundos.·
s-i. Dibelius, Jakobusbríef, ad Eocum.
sa Sôbre a milagrosa intercessão. de alguns rabinos, ct.
lfagiga 3.1'; Cf, A. Meyer, Das RaetireE des JJs. {1930) 164s. ·
StJ Assim :a.
Poschmann, Paenitentia secunda (1940) 54 ....,, 62. .
in Assim Knop! (ct. blbliografla} 176s.
240 Gue-nter Bornka,mm
96 Cf. Spicq, 91 - 96, que entende episkopos como primus inter pares, não
distinto ainda dos presbíteros pela dignidade sacerdotal, mas distinguido dos outros
cerno presbyteros ka.t' exochên, presbítero por excelência, por causa do kalon ergon,
obra boa (1 Tm 3.1) da oikodomê, edificação da comunidade, com o que se toma
colaborador e sucessor dos apóstolos.
01 Nada nos obriga a considerar as passagens que falam do episkopos - como
sendo interpolações posteriores.
98 Dibelius, Past., 46.
99 Cf. Michl (cf. bibliografia) onde se encontrará uma exposição pormenorizada
da histór'a das interpretações.
Presbíte,ro 245
cit., 16 - 29.
100 :Boll, Zoe.
1otJCf. Schuerer, II, 286 - 290.
101 l Cr 24.5; cf. Ed 8.24, 29; 10.5; 2 C:r 36.14.
1oa Yoma. 1, 5; Tamid 1, 1; Middot 1, 8.
109 Isto dizemo& contra Michl, 38 e von Campenhausen, 00: "0 que êles fazem
se deve espelhar sem dúvida no presbitério terrestre da Igreja".
110 O conceito de apóstolo não é claro no Apocalipse. Em 2.2 alguns pregadores.
ambulantes, desmascarados pela como mentirosos, :reivindicam para si êsse
titulo. Portanto, pressupõe-se o lato de apóstolo como "mísaionário". Em
21.14, ao contrário, os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro estão escritos
nas pedras fundamentais da nova Jerusalém.
111 Apóstolos e profetas são nomeados em conjunto em 18.20 como em Ef
2.20; 3.5. Em ambos os escritos (Ap e Ef) "profetas" se deve entender como
sendo pro:fetas cristãos. Dos profetas vétero-testamentárlos não se fala no Apo-
calipse como de figuras próprias. No máximo afio :figurações dos profetas cristãos
(11.10, 18). O uso freqüente e livre de ditos de profetas neotestamentários pertence
ao estilo do Apocalipse (mas que nunca são citados como Escriturai). Ap l,S;
10.7; 16.6; 19.10; 22.6s, 9, 18s mostram que os profetas fàz!am parte da comunidade
criw..ã e que sua profecia tinha valor.
u~ como dos presbíteros celestes não se podem fazer itlfe:rêneias wbn ,
presbíteros terrestres, também dos. aggeloi das cartas iniciala não se pode inferir
nada sôbre os "epíscopos".
Presbítero 247
113 O Apocalipse nada deixa entrever sôbre a atividade de Pau:lo há fi..sia :M:enor-
e a fundação por Paulo da comunidade de É:!'.eso. Cf. W. B:mer, Rechtgfaeubígiteit
und Itietzerei (1934) 87s.
H4 Portanto, é preciso desfazer-se da idéia de que o João a:Pocalfptico e seu.
livro sejam representativos da Igreja de seu tempo e de sua rea,l.ão. Cf. Bauer,
Zoe. cit., 8ls. · ·
115 Sôbre a estreita relação entre .Asia Menor e Palestina, cf. K. Hon, Der
Kirchenbegriff des Paulu.s in seinem Verhaeitnu zu dem der Urgeweinde, em
Gesammelte Aufs«etze II (1928) 66s. A influência do judeu-cristianismo palesti-
nense sôbre a Asia Menor é mostrada claramente no século II pelos quartodec:!manos;.
sôbre ísto cf. B. Lohse, Das Passafest der Quartadecim.aner (1953) !14 - 98.
1Hl C:i. von Campenhausen 196 - 198.
111 C:i. H. Y...raft, Die altkirchiiche Prophetie unà die Enúrtehu.-ng des Mcnitanf,a~ ·
mus, em THZ 11 (1955) 249 - 271; êste autor explica a :!.ns!stência de Inãcio no.
cargo episcopal pela sua oposição às comunidades proféticas do Apocallpse.
248 Guenter Bornkamni
ia~ JF:to é considerado com razão por von Campenhausen 102s como a contri-
l111li;lio própria de I Clemente.
ta·I Vc:r a expressão "para que ninguém os deponha do lugar que lhes foi
l"lll(JU" ('14, 5).
mil "Os que foram postos por aquêles ou em seguida por cutros
vurõc11 ilustres com o consentimenio de tóda a Igreja" (44, 3). A analogia com a
1,ri1n<•irn gerac;ão exige que também os "ilustres varões" posteriores fóssem pres-
lilteros cfíciais da comunidade local. Cf. Mueller (bibliografia) 276. Contra a
<·oncc·pdio de G. Dix em Kirk (cl. bibliografia) 257-266, de que esta passagem não
trato da colação de cargo local, mas de especial poder apostólico pleno de insti-
1.uir sucessores, com razão argumenta von Camptnhauscn 97, nota 2. A parti-
l'1puc;ão d:i comunidade na instituição <los presbíteros deve .ser entendida s'.m-
pl1.•1 mente como voto de aprovação (aclamação).
·uu Sõbre o conceito de diakonia cf. F. Gerke, Die Ste!lung des 1 Ci innerhaH>
der Ent~vfcklung der a!tkircMichen Gem.eindeverfaSS"Ung und im Kirchenrecht em
TU ·47, 1 0931) 116-122; cf. ainda TWNT IV, 235, 26ss.
137 O têrmo la'ikos, laico-leigo, aparece pela primeira vez em I Clemente
40,5 em
oposição aos encarregados do culto no VT, mas também em relação com a
situoçiio comunitária cristã (c:f. Preuschen-Bauer, sub n1ce).
Presbítero 2li3
1:1:1 Su se pode tratar dos presbíteros que permaneceram em seus cargos (contra
v1111 llnrnack, Einfuehrung in àie A1ten Kirchengeschichte (1929) 95).
1:111 Dns duas pas$agens se deve deduzir que os presbíteros cumprem o ato
111·.,•iplinar, mas diante de tôda a comunidade. Cf. ainda 63, 1.
Ho A expressão em v IL 4, 3 "com os presbíteros que dirigem a Igreja"- (IÕ-
hre iHto cf. ainda 1 Tm 5, 17; I Clemente 54, 2) mostra que se faz distinção entre
pn·~:IJ!Lnros que exerciam o ofício e um círculo mais amplo de pessoas tidas ena
lio11r11,
111 Aqui aparecem debaixo da "pedra branca quadrada" também os doutõre1
111' ludo dos apóstolos. Parn Hermas os doutôres são figuras ideais do passado
"qw· pregaram a todo o mundo" e portanto não são portadores de um cargo (d.
1; IX, rn, ri; 2~. 2). l'v!as os portadores de tais cargos ·- "epíscopos" e diáconos -
llten l'iio postos ao lado.
11:1 ('(. von Cnmp0nham('D lü4s.
:!!i.~ Guenter Bornkamm
da hierarquia que tem seu cume 147, de modo que_a êles convêm
como a um estado espiritual e santo 148 a obediência da comunidade
(Efésfos 2,2; Mag1iésio8 7,1; Traler.JJes 2,2; Policarpo 6,1) 149.
~aaoncial e característico para o conceito que Inácio teni do cargo
6 o fato de que o dever de obediência da comunidade nunca é fun-
damentado no mandamento do respeito para com os velhos (como
cm 1 Pd; I Clemente) , como também não no argumento jurídico-
ocleeiástico de sua instituição pelos apóstolos e de -sua- autoridade
como portadores da tradição, mas unicamente no mistério
dade da Igreja, na qual se :reflete o mistério da ordem
Cristo e os apóstolos e a como realidade
porul 150, Hierarquia terrestre e celeste se correspondem ex:at.a~mcm
t.c m. Por isto vale o princípio: "Segui todos ao bispo como Jesus
Crhito ao Pai, e ao presbitério como aos ap6stolos; diante dos . diá-.
conos porém tende respeito como diante do mandamento de Deus"
(Smirnenses 8,1). Que comparação valha mais do que uma
.iimples comparação e que ela encerre a idéia da verdadeira repre-
aentação é mostrado sobretudo em lr!ag1iésios 6,1: " ... enquanto o
hh1po preside em lugar de Deus e os presbíteros no lugar da assem-
b16ia consultiva dos apóstolos" 152• Esta comparação do presbitério
com os apóstolos ocorre freqüentemente em Inácio i:;a.
comum de bi2pos se dirigirem aos seus presbíteros (cf. s<.I.pra pág. 241). Por
con~eguinte não se deve entender a fórmula simplesmente como a que está em
Inflrio: "se estiverem em unidade com o bispo e com os presbíteros e diáconos
11uc (estão) com êle". Aqui os presbíteros e diáconos são o clero ordenado para
o bispo e a êle subordinado; em Policarpo os presbíteros são colegas aos quais
f·lc modestamente se equipara como prim'I.!$ in.fier pares. O fato de o bispo per-
1.Pnccr ao presbitério dá a medida de sua posição e dignidade. Ainda Irineu na
Episiol-0; ad Víctorem (Eusébio, Hist. EcLV, 24, 14-16) chama o bispo de Roma
e seus sucessores sempre presbyteroi. Kraft, loc. cit. (nota- 117) 267s compara
com isto a preeminência da dignidade episcopal na carta mais ou menos contem-
porânea de Policrates de Éfeso (Eusébio, Hiilt. .Eci. V, 24, 2-7) e suspeita uma
hist6ria institucional tendenciosa em Irineu, em razão das designações "pelo
menos antiquadas" dos cargos usadas pelo bispo Iríneu oriundo da Ãsia Menor e
amigo dos montanlstas. Contudo, deve-se dizer que êste modo de falar corresponde
ao que pelo ano 200 sabemos a respeito ~· relações entre presbíteros e bispos
em Alexandria e Roma. Sôbre cf. Mue!ler (bibliografia) 274-296.
lü!I Aqui locus = tcpos como na carta de Inácio a Policarpo 1, 2.
160 Sôbre a direção da solenidade eucarística nunca se fala, no que se dis-
tingue de Inácio.
- 161 Isto foi demonstrado por von Campenhausen (nota 155). O valor desta
prova independe da aceitação ou rejeição de sua tese particular de que Policarpo,
ou uma personalidade próxima a êle, seja o autor das pastorais,
!58 Giunter Bornka1trvm
aer melhor traduzido pela palavra corrente no judaísmo "pais"
(Cf TWNT V 977, 13ss) 102.
a. A passagem importante em Pápias é a conhecida cita~
çllo que faz Eusébio de Cesaréia (História Eclesiástica III, 39,3ss)
dn prólogo de Pápias em sua obra "Exposição das Palavras do
8~nhorº. Aí Pápías que tudo o que outrora aprendeu e be..vn
SlUardou "dos antigvs" (apo ton presbyterôn) quer colecionar em
MUnH .. gxposições" para assim garantir sua verdade Pápias
rhama a êsses presbyteroi seus garantidores, embora aqui não se
roflra diretamente ao conhecimento teve dêles, mas uu)-sou1e:i::tw
n ncuR discípulos 164: ""Se vinha acaso um daqueles que
nntigos (presbyterous) eu costumava inquirir sôbre as
cloH antigos : o que dissera André ou ( eipon) , ou o que Filipe,
m1 o ·que Tomé, ou Tiago, ou o que João ou Mateus, ou um outro
doa discípulos do Senhor, e o que Aristion e o Velho João (h.o pres-
1>11tcros Joannes), os discípulos do Senhor, dizem (legousin). Pois
c•u era de opinião que o que se pode tirar dos livros não me era tão
úLil como o que (procedia) da voz viva e permanente". Em nenhu-
ma hipótese se deve confundir os presbyteroi aqtli lembrados com
os apóstolos citados por seus nomes ainda que sem outra designa-
ção 165 , Antes devem ser como também mais tarde
os isto é, como "discípulos dos apóstolos" (cf. infra,
págs. . Pápias, apelando "antigos" expressamente
se separa· tradição e da heréticas (Eusébio, !Iist. Ecles.
III, 39,3); contudo o método por observado para chegar a uma
doutrina digna confiança se parece inteiramente com o costume
dos seus concorrentes gnósticos. Precisamente entre êstes se dá
grande pêso em apelar para um apóstolo individual e para uma
tradição por êle garantida e êles se representavam os apóstolos
como doutôres que reuniam ao seu redor um "circulo de discípulos••
que transmite suas e elabora o que recebera
162 Assim, depois de Zahn, Forsclmng VI, 83, também von Campenhausen 177s;
contudo a expressão usada por von Campenhausen, "os líderes" (Fuehrer) da Igreja,
pode ser mal entendida porque não toma em conta o significado único dêsses pres-
bíteros no que concerne à transmissão da doutrina de que são garan.tidores.
16~ A frase: "Fortalecido pela aua deve ser entendida das "hermen-
eiai" de Pápias e não da doutrina dos presbiteros (ver o contexto).
164 l'!: isto que diz o próprlo :fragmento; que Pápias não pertence. diretamente
aos discípulos dos apóstolos é afi.."lnado com razão por Eusébio, Hist. Ed. m,
39, 2; portanto não se trata de afirmação tendenciosa.
1e:1 A clara distinl:ão entre o Apóstolo João e o Presbítero João - o que 3â
transparece da mudança ·tlo tempo 'do verbo e o Eullléb!o (Hist. Ect m, 39, 5)
com razão anota - não deve- 6'1!l:' apagada pela de ambos, o que sem~
pre de nôvo é tentado Pol'. alguns.
Presbítero - 259
166 Que Pápias e seus antecessores devem suas afirmações a respeito dos Evan-
gelhos a um "aprendizado escolar", tram,11arece de seu testemunho sôbre o Evan~
gelho de Marcos: Marcos teria coligido e escrito os "ensinamentos" de Pedro,
tlrando tudo da memória. A expressão "intérprete de Pedro", faz de Marcos
o intermediário dos ensinamentos apostólie:os.
157 Cf. nota 166. -- Seg-Jndo Eusébio, Hist. Ecl. III, 39, 15 Pápias expressamente
atribui a noticia sôbre Marcos só à informação "do presbítero"; o mesmo vale cer-
tamente ta."llbém de Mateus. Segundo o contexto "o Presbítero" não pode ser
outro senão João de que se fala em III, 39, 4 e outras vêzes ainda; comparar sobretudo
III 39, 14 onde as exposições de Aristion e as tradições do Presbítero João são
citadas.
168 A designação de João ainda vivo pelo apelido ho presh1fteros de pre!e~
rência a outros "anciãos" não torna certo que seja o autor das cartas. Para
Pápias o Presb1tero João é slmplesmente a autoridade decisiva para os dois pri·
meiros Evangelhos.
169 Não :me parece suficientemente fundamentada a tese de Harnack de que
tôda. a tradição dos presbíteros de Irineu se baseie cm Páplas.
PresbíterQ 251
1:l3 Isto é considerado com razão por von Campenhausen 102s como a contri-
buição própria de I Clemente.
134 Ver a expressão "para que ninguém os deponha do lugar que lhes foi
fixado" (44, 5).
135 "Os que foram postos por aquêles ou em seguida por cutros
varões ilustres com o consentimento <le tôda a Igreja" (44, 3). A analogia com a
primeira geração exige que também os "ilustres varões" posteriores fôssem pres-
bíteros cficiais da comunidade local. Cf. Mueller (bibliografia) 276, Contra a
concepção de G. Dix em ;Kirk (é:f. bibliografia) 257-266, de que esta passagem não
trata da colação de cargo local, mas de especial poder a.postólico pleno de insti-
tuir sucessores, com razão argumenta von Campenhausen 9'1, nota 2. A parti-
cipação d:i comunidade na instituição dos presbíteros deve ser entendida s'.m-
plermente como voto de aprovação (aclamação).
·130 Sõbre o conceito de diakonia cf. F. Gerke, Die SteHung des 1 ci innerh<ifü
der Entwícklu:ng der altkirchHchen Gemeindeverfasmmg und im Kírchenrecht em
TV ·47, l (1931) 116-122; cf. ainda TWNT IV, 235, 26ss.
137 O têrmo iaikos, laico-leigo, aparece pela primeira vez em I Clemente
40,5 · ém oposição aos encarregados do culto no VT, mas também em relação com a
situação comunitária cristã (ct. P:reuschen-Bauer, sub i'oce).
mngístcrial do presbítero nunca se fala - e sua elericali-
znçiio dão à I Clemente a de proclamar a inamovibili-
<.lude dos portadores do cargo e a vitaliciedade de seu cargo ( 44,5}
enquanto não se tornaram culpados da quebra do dever e de alguma
indignidade. Assim a do conflito em Corinto só pode con-
11hd.ir nn reabilitação dos e na submissão dos revoltosos
am1 presbíteros (é·7,l) 138 e o exílio para um lugar de~
t.•rminado pela comunidade (cap. 54) 139, para que "o rebanho de
Crh1to viva em paz e com os presbíteros constituídos" :(54,2), .
2. Mais ou mcmos i-dêntica constituição
ria ú de l Clemente nos oferece o Pastor de He:rrrw,s, composto
dP1°1!níoH mais em Roma· contudo, · se distingue
J <:fomente no fato de que o cargo como tal não é de modo algum
problemático e não precisa ser fundamentado, e ainda no de que
o livre profetismo - que o Hermas representa - ainda
fala diretamente "aos (v III,8,11), independentemente dos
oficiais comunitários mas não em oposição a êles. A direção da
1·onumídade também nas mãos de um colégio de presbíteros
<v IIA,2s; III,1,8). colégio pertencem e diáconos
1 v 11 l,5,l; s 27 , ambos cuidado dos
fll'bn~~' e a finanças da Como líderes
da comunidade os são chamados "pastôres", têrmo com
sempre o ofício cuidados espirituais
ocupam o lugar de nas reuniões da comu-
140. A alta posição que ocupam transparece em
nua comparação com o;; apóstolos (v III,5,1,} 141 • Sua na
rnmunidade não é contestada, ainda que sejam
rados por causa de suas rivalidades ao serem opostos aos simples
npôstolos e doutôres de outrora (s VIII,7,4; v JII,9,7 e passim) lcrn.
t·:m todo o livro não há indício de luta entre e oficiaís da
1:JH Só se pode trator dos presbíteros que permaneceram em seus cargos (contra
von narnack, EinJ1iehmng in die Alten Kirchengeschichte U929) 95).
13~ Das duas se deve deduzir que os presbíteros cumprem o ato
tôda a comunidade, Cf. ainda 63, l.
Ho A expressão em v II. 4, 3 "com os presbíteros que dirigerri a Igreja'' (llÕ·
bre isto d. ainda 1 Tm 5, 17; I Clemente 54, 2) mostra que se faz distinção entre
prcsbíi"ros que exerciam o ofício e um círculo mais amplo de pessoas tidas em
honra.
H! Aqui debaixo da "pedra branca quadrada" também os doutôÍ'es
no lado dos Parn Hermas os doutôres são figuras ideais do passado
"que pregaram a todo o mundo" e portanto não são portadores de um cargo (Cf,
s IX,,l6, 5; 25, 2). Mas os portadores de tais cargos,_ "epíscopos" e diáconos -
lhea· dio postos ao lado.
H2 Cf, vrm Campenh;iusen 104s.
2.'14 Guenter Bornkamrn
da hierarquia que nêle tem seu cume 147, de modo que a êlés convêm
como a um estado espiritual e santo 148 a obediência da comunidade
(Efésios 2,2; Magnésios 7,1; Tralerises 2,2; Policarpo 6,1) 149.
Essencial e característico para o conceito que Inácio tem do cargo
é o fato de que o dever de obediência da comunidade nunca é fun-
damentado no mandamento do respeito para com. os velhos (como
em 1 Pd; I Clemente), como também não no argumento jurídico-
ecleaiástico de sua instituição pelos apóstolos e de -sua- autoridade
como portadores da tradição, mas unicamente no mistério da uni-
dade da Igreja, na qual se reflete o mistério da ordem entre Deus.
Cristo e os apóstolos e a representa como realidade cultual-tem·
poral 150. Hierarquia terrestre e celeste se correspondem exat.amen-
te 151. Por isto vale o princípio: "Segui todos ao bispo como Jesus
Cristo ao Pai, e ao presbit.ério como a.os apóstolos; diante dos diá-
conos porém tende respeito como diante do mandamento de Deus"
(Smirnenses 8,1). Que esta comparação valha mais do que uma
8imples comparação e que ela encerre a idéia da verdadeira repre-
sentação é mostrado sobretudo em Magnésios 6,1: " ... enquanto o
bispo preside em lugar de Deus e os presbíteros no lugar da assem-
bléia consultiva dos apóstolos" 152 • Esta comparação do presbitério
com os apóstolos ocorre freqüentemente em Inácio 153 •
<:um um de se dirigirem aos seus presbíteros (cf. S'.Jpro pág. 241). Por
conseguinte se deve entender a fórmula simplesmente como a que está em
TnMio: "se esti,1erem em unidade com o bispo e com os presbíteros e diáconos
<1ue (estão) com êle". Aqui os presbíteros e diáconos são o clero ordenado para
o bispo e a êle subordinado; em Policarpo os presbíteros são colegas aos quais
l"le rnoJestamente se equipara como prtmus in.Ver pares. O :tato de o bispo per-
ti•ne1~r no presbitério dá a medida de sua posição e dign!dade. 'Ainda Irineu na
1'Jpis'tola ad Victorem (Eusébio, Hin. Ed., V, 24, 14-16) chama o bispo -de Roma
e seus sucessores sempre presbllteroi. . Kra!t, loc. clt. (nota 117) 267s compara
com isto a preeminência da dignidade episcopal· na carta mais ou menos contem-
porânea de Policrates de :éfeso (Eusébio, Hia:t. Eci. V, 24, 2-7) e suspeita uma
hist&ria institucional tendenciosa em Irlneu, em razão das <:iesignações "pelo
menos antiquadas" dos cargos usadas pelo bispo Irineu oriundo da Asia Menor e
amigo dos montanistss. Contudo, deve-se dizer que êste modo de falar corresponde
ao que pelo ano 2{)0 sabemos a respeito d4s.. relações entre presbíteros e bispos
em Alexandria e Roma. Sõbre cf. l'.-fue!ler (bibliografia} 274-296.
lõO Aqui locus= topoi como na carta de Inácio a Policarpo 1, 2.
it10 Sôbre a direção da solenidade eucarlstfoa nunca se fala, no que se dl!!-
tingue de Inácio.
- 161 Isto foi demonstrado por von Campenhau11en (nota 155). O valor desta
prova independe da aceitação ou rejeição de sua tese particular de que Polica.'"P<>,
ou uma personalidade próxima a êle, seja o autor das pastorais.
258 G'!Unter Bornkamrn
102 Assiro, depois de Zahn, FOTschung V!, S3, também von camponblUllD "'lt
contudo a expressão usada por von Campenhausen, "os lideres" (Fuehror) da .......
pode ser mal entendida porque não toma em conta o significado ónloo .u... ,,...
b!teros no que concerne à transmissão da doutrina de que são garantldoret.
163 A frase: "Fortalecido pela sua verdade" deve ser entendldll dH "ht""l"9
eiai" de Pé.pias e não da doutrina dos présbiteros (ver o contexto),
164 :t isto que diz o próprio fragmento; que Pé.pias não pertenci ~
aos discípulos dos apóstolos é afirmado com razão por Eusébio, HtlL lel, Ili,
39, 2; portanto não se trata de afirmação tendenciosa.
ie11 A clara distinção entre o Apóstolo Joio e o Presbítero .Tolo - o - 1111
transparece da l!O tempo do ve:rbo í! o que Eusébio (Jiftt • .lol, DJ1 • • li
com razão anota ....... deve ser apagada pela identificação de ambot, o •• _.
pre de nõvo é tentado por. algw:aa.
Presbíte1'VJ · -~59
166 Que Pápias e seus antecessores devem suas afirmações a respeito dos Evan-
gelhos a um "aprendizado escolar", transparece de seu testemur.ho sôbre o Evan-
gelho de Marcos: Marcos teria coligido e escrito os "ensinamentos" de Pedro,
tirando tudo da memória. A expressão "intérprete de Pedro", faz de Marcos
o intermediário dos ensinamentos apostólieos.
167 C:f. nota 166. ·- Segundo Eusébio, HiBt. EcZ. III, 39, 15 Pápias expressamente
atribui a noticia sôbre Marcos só à informação "do presbítero"; o mesmo vale cer-
tamente também de Mateus. Segundo o contexto "o Presbítero" não pode ser
outro senão João de que se fala em III, 39, 4 e outras vêzes ainda; comparar sobretudo
III 39, 14 onde as exposições de Aristion e as tradições do Presbítero João são
citadas.
168 A designação de João ainda vivo pelo apelido ho presbyteroit de prefe-
rência a outros "anciãos" não torna certo que seja o autor das cartas. Para
Pápias o Presbítero João é simplesmente a autoridade decisiva para os dois pri-
meiros Evangelhos.
169 Não me parece suficientemente fundamentada a tese de Harnack de que
tôda a tradição dos presbíteros de Irineu se baseie em Pápiag,
260
nr. Ad. Haer. lV, 32, 1: post deínde et omn.is sermo ei constabít, d d scrip-
u.u.toe11oi.:r Iegerit apud eos, qui in ecelesia sunt preslnJteri, apud qu.os ellt
rni Adv. Haer. IV, 26, 2: Quapropter eis qu.i in ecciesia. su:rit, presbyfierls
obamlire h.is qui sttccessionem habent ab apostoHs, sicut. cniúindimur, qui
<7Um successione charisma verltatis. . . acceperunt.
111 Sôbre o significado da expressão charisma-vérltatis, K. Mueller, J{letne
Beitraege zur. alten. Kirchengeschichte 3: Das chari.sma ·veritaUB und der Epíikopat
des lrlnaeus, em ZNW 23 (1924) 216-222; von Campenhausen, 188. Ver ainda a
descrição do verdadeiro presbítero em Adv. Haer.. .. IV, 26, 4: qui et aposrol.orum,
sícut praediximus, doctrlnam custodiunt ei cum presbyterli . ordine senncnem &a-
ninn et ronversationem sine offensa pra;estan.t ad conf!rm.a.tionem et COfT'ep~
reliquorum. A seguir, depois de citar a passagem profética•já usada por I cie..
mente 42.5 (Is 60.17)' os presbíteros são caracterizados como "ep!seópos .fui jililtlÇa». e-
a verdadeira doutrina s6 é reconhecida para aquêles apud quos est e~ q:u.ae est ab
apostolis ecc!esíae succesrio. Segue~se então um resumo muito caraeter!atico de
sua doutrina: Hi ením et eam quae est .i-ii unum d.eum, qui omnia fecit, ff,dem MI•
trem custodiunt: et eam quae est in fiZJ,~m deJ dUectk>nem adaugent•• ! iet scrip. .
tu7am sine perlcu.to nobis exponunt nequ!\.D .o,eum. 'blruphemantes neque .Prttrta.rc'hal
4!Xhonorantes nequ.e prophetcre contemnente-1\ (26, 5). _
11s Além de Adv. Haer. IV, 26, 2.4 a!n~a V, 20, 1.2.
J
mi Cf. von Campenhausen 188.
lflt Guenter Bornkamm
e. Em oposição à clara tendência em Irineu de identificar. a·
HUccssão doutrinal e jurisdicional, em Clemente Alexandrino o cargo
magisterial se conservou ainda em sua forma livre. Também êle
apela para os antigos como os doutôres dos tempos passados 180 ;
"~stes guardaram a verdadeira tradição da bem-aventurada dou-
trina que êles receberam dos santos apóstolos Pedro e Tiago; João
e Paulo, como filhos dos pais. . . e assim com o auxílio de Deus
chegaram também até nós a fim de depor em nós aquela semente
paterna e apostólica" 181. Também aqui os presbyteroi são as auto-
ridades que 1'ecolhem e transmitem as notícias sôbre os apóstolos
e para a correta exposição da Escritura do Velho e do Nôvo Tes-
tamento 182. Aí presbyteroi não só é designação para os discípulos
dos apóstolos, mas é usada também por Clémente Alexandrino pa-'
ra designar mestres da geração anterior 183, na medida em que são os
intermediários da tradição e da verdadeira gnose ; assim é chama-
da sobretudo o seu mestre Pantainos, o "bem-aventurado presbíte- ·
ro" 184. Segundo sua obra Eccles. Proph. 27 êles transmitiam suas
tradições oralmente e deixavam que outros escrevessem livros, mas
o "penhor" por êles deixado exigia elaboração literária.
Nas suas linhas essenciais a imagem dos presbyteroi em Cle-
mente Alexandrino se parece com a que pinta Pá pias ( cf. supra,
págs. 257s) e Irineu (págs, 259s) 185 ; contudo, de Irineu se distingue
1so Como tradição dos mais antigos presbíteros aduz êle a afirmação de que
os primeiros Evangelhos eram os que continham o registro genealógico; em seguida
a notícia um pouco modificada - conhecida de Pápias - sôbre a origem de Me;
finalmente, caracteriza Jo como o último "Evangelho espiritual"; c:f, Clemente Ale-
xandrino, fragm. 8 (Hypot",1poseis).
1s1 Strnmmata I, 11, 3 - é de notar como a verdadeira doutrina, tal como na
gnose, é atribuída a um circulo mais fechado dos apóstolos.
182 O conceito "Nôvo Testamento" cerno designação canônica se encontra pela
primeira vez em Clemente Alexandrino.
183 A particular posição dos presbíteros no processo da tradição é sublinhada
por atributos como "os presbíteros de antanho" (Clem. Alex. fragm. li); "os an-
tigos presbíteros" (fragm. 25; de pascha). A expressão "discípulos dos apóstolos"
não aparece em Clem. Alex. por mais que pretenda estar próximo da tradição
apostólica (cf. Eusébio, Hist. Eccl. VI, 13, 8).
184 Clem. Alex. fragm 22 <Hypot;ypo:;;eis). Pantainos talvez seja subentendido
sempre que se diz simplesmente "o Presbítero". Clemente Alexandrino o. chama
"abelha siciliana" pois que "das flôres dos prad<ls proféticos e apostólicos êle cl:ni-
pou mel e na alrl".a de seus O\!.Vintes gerava um puro tesouro de con..llec!mento"
(Strommata I, 11, 2). ~
Também Justino conhece êss tipo: Em Día!ogus 3 êle :faz sua doutrina
1815
ascender a "um antigo ancião"; de u Nlartyrium (cap. :n sabemos que recebeu
seus conhecimentos em Roma num escola especial.
Presbítero eos
profundamente pelo fato de que em Clemente Alexandrino - embora
61• conh<..>cease a Irineu - nunca se verifica a identificação entre
1uaoaalo de presbíteros e sucessão no cargo episcopal 186, Pelo con-
trArlo, a função magisterial é livre em face dos cargos comunitários,
doa quais se fala estranhamente pouco. Ainda mais: os cargos
ooloal,sUcos valem para Clemente Alexandrino como cópias do mun-
\lo celeste; o verdadeiro presbítero e diácono é para êle o gnóstico ;
late, mesmo sem ter ocupado cargo, será colocado entre a multidão
du1 24 anciãos do Apocalipse (cf. supra, págs. 244ss) 181 • Tanto do
s>ont.o do vista do conteúdo como da forma os doutôres de Clemente
Aletxandrino estão muito próximos dos da gnose, embora sua: fide-
lldado no cânon do Antigo e do Nôvo Testamento torne possível que
Olumunto Alexandrino tome parte intensa na luta antignóstica da
lrroJa ioo.
Uom respeito à posição e função dos "antigos" em Clemente
Aloxuudrino e seus antecessores apontou-se com razão para a su-
coHsi\o doutrinal no rabinado mais ou menos ao mesmo tempo, e que
oferece uma grande analogia; entenderam-se assim as "palavras
dos presbiteros" à maneira das "sentenças dos pais" 189, Com efei-
to, para os escritores cristãos de Alexandria é muito característica
n coexistência da leitura direta da Escritura e o apêlo para a tra-
tliçüo oral, como já o fizera Filão 190,
1111 IC Q11cnr,cll, Die wahre kirchliche StieHung und Taetigkeit des faallchHch
11111••1111nn.t1·n Bischofs l'ilethodius von Olympus, dissertação em Heidelbers (1053)
11111h!r11 'I"" ainda Metódio de Olimpo pertence a êsse tipo de presbítero.
tu~ l'nr.~,~r.cns em Harnack. Der kirchengeschichtliche Ertrag der e.:z:ea1U1ch111
A d1dl.rn 111~s Origenes !, em TU 42, 3 (1918) 23; II, TU 42, 4 (1919) 14.
1u:i cr. von Campenhausen 274s; id., Griechísche Kirchenvaeter (19511) 1101.
lliilm• 11 concepção origeniana de episcopado e sacerdócio, cf. Mueller (blbllol(1'1fl1)
:111n :wa.
1114 Instrutivas são as alusões de Hipólito aos "anciãos" Cf. A. Hamel, Df.I
l\ln·hr IH"i Hippolitus von Rom (1951) lOlls) como sendo os que estiveram tm
c'<>rttnrto com os apóstolos ou os seus discípulos (tal como pensam Páplas, Irlnau,
1 :l1•1111•11tc Alrxandrino); mas os presbíteros de Esmirna, excomungando D Nooto,
nlr'•m de serem os guardas da verdadeira doutrina possuem poder dlsclplln1r, 1
níw ~,.r quP. a expressão presbyteroi deva ser entendida no sentido da ant111
"l11nnfmia entre presbyteros e episkopos como um colégio judiciário de blspo1 (aulm
11111111'1, loc. cit. 172s).
11111 Ct. A. Achelis e J. Flemmlng, Die syrísche Didaskalia, em TU 2tl, 2 (1000
2'10; von Campenhausen 264-272.
IOR Didaskalia II, 28, 4; nam et ipsi tamquem apostoli et conctli((rlt-h0nor1nl•"
nt roronr1 rcclesiac; sunt enim consíiium et curia ecdesiae. (
As Orderu:içóes Eclesiásticas de Hipólito, originárias de Roma,
mas que logo foram aceitas nos livros de direito orientais 197, mos-
tram, finalmente, a imagem de um clero hierarquizado por ordena-
ções sacramentais, em que os bispos como "sacerdotes supremos" pos-
suem só êles o poder de transmitir cargos 198 e os presbíteros que
lhes são, m0ordinados como "conselheiros" e pal'ticipap.tes no .. es-
pírito da magnitude" (alusão expressa a Nm 11.16s,24sf têm -a-or-
dem sacerdotal (cap. 32 e 33) que os capacita para administrar
o batismo e para cooperar na Eucaristia (segurando o cálice, ofe-
recendo o pão) (cap. 46).
SERVIÇO
DI CONO
por
HERMANN WoLFGANG
f ICE
SERVIÇO
1. Serviço à mesa,
2. Serviço por amor, 21.ll
S. Serviço na comuni.dade,
4. Coleta como serviço, 282
A. 283
1. O que serve à me~a. 28~
2. O que serve a um senhor. 283
3. O que serve a v_rn pod:.::r M..,,.,,.,M,
4. O apóstolo como ministro
t'L Outros ministros de Cristo,
6. As autoridades como ministros de
7. Paulo como ministro da co:m;:in1dade.
B. o um na comunidade 284
1. O ca&o de diácono na Igreja primitiva, 284
2. O cargo de diaconisas, 290
Bibliografia ...... , " ..... . , ....... ~ .... , .. '> • •" • • * •• , • " ilt • • 291
SERVIR
A. DIAKONEO FORA DO NT
B. DIAKONEO
4 A. Schlatter, Wie spra.ch Josephus von Gott? (1910), 13, pensa que em Flávio
.Tose:fo a passagem do sentido restrito de "servir à mesa" para o mais amplo
de "trabalhar segundo a vontade de Deus" - que é desconhecido da Septuaginta
- deu-se sob o influxo do verbo hebraico shim1n~m também de duplo sentido.
Mas isto não corresponde ao fato de que o sentido mais geral de "servir" já existia
há séculos no grego profano.
Servir, Serviço-e Diácono -2'!-'/ . .
10 Preuschen-Bauer traduz diakanetn aqui por "ajudar alguém com suas posse»".
u A propósito de Mt 2.5.42ss, cf. Platão, G6Tgias 517d.
f
u Brandt, 'll.
180 Jlermann Wolfgang Be1Jd1'
para o
e são
gação do Evangelho (At
go a Onésimo na prisão
e da causa (Fm
forme 2Tm 1.18 -
amor e não o
do têrmo -'-""'""'"
e as profecias profetas antigos
comunidade. é também o cargo comu-
nidade de é descrita por como
zida por nosso ministério" ( diakonetheisa)
4. serviço necu1iar na vida de um
grande : a coletâ para os de Jerusalém (2Co 8.19:
"nest~, graça ministrada ( diakonoumene) por -nós"; também em
8.20). Quando Paulo se a Jerusalém para a entrega das ofer-
tas, exprime o seu escopo com as palavras: "agora, porém, viajarei
Jerusalém a serviçt:' (diakonôn) dos santos" (Rm 15.25). Em
6.10 se diz, de modo semelhante, dos destinatários da carta:
"'tendo servido e servindo aos santos"; aí não se afirma que também
os destinatários tenham feito coletas para Jerusalém ou auxiliado
SERVIÇO MINISTÉRIO .
A. USO GERAL
tianismo, nos seus inícios, adotou êsse têrmo em seu sentido bási-
• • •
.
-
PEDRO
por
ÜSCAR CULLMANN
fNDICE
PEDRO
A. Questões filológicas
B. A pessoa do discípulo e sua posição entre os Doze . . ...
1. Traços biográficos, 293
2. A posição peculiar de Pedro, 299
3. A mudança do nome, 301
1 Eusébio, História Eclesiástica I, 12,2: sôbre as listas dos nomes dos apóstolos,
cf. Th. Schermsrin, Propheten-und Apostel!egenden nebst Juengeskatalogen (1907)
302. Em tempos recentes, mais uma vez D. W. Riddle, The Cepllas-Peter Problem,
and a Possible Solution, em JBL 59 (1940) 169.
" _·1.s~im Znhn, Matthaeus, a propósíto de ~'1'.t 16.18, sem contudo fornecer prova.
TRmbém M. J . Lagrange, Évangilc se!on Saint Matthieu (1923) ad !ornm, sustenta
o mesma coisa sem contudo prová-la.
G Aqui escreve Petros porque talvez cita um documento oficial. Contra todos
os textos, A . Merx sustenta que originalmente aí estava a palavra Kephas (Die
v ier kanonisch.en Evange!ien II, 1 (1902) ad locum).
7 Petrus como nome próprio (abreviação de Petronius) dificilme nte se encontra
cm tempos pré-cristãos. Merx, op. cit., 160, tentou provar sua existência, recorrendo
a Flávio Josefo (Antiq11itates 18, 6), onde o exemplo não passa de um êrro
de cópia, em lugar de protos. Cf. também A. Meyer, Jesu Muttersprache (1896) 51.
Contra essa tese: A. De!!, op. cit., 14-47.
8 A t·xistência em arnmaico do nome próprio petr6s (cf. Strack-Billerbeck l,
530) que talvez significasse "primogênito" (cf. Levy, Woerterb., sub voce peter;
Dalman, Woert., sub voce), pode também ter influenciado na preferência pela forma
petros; mus nada há de certo sôbre essa hipótese.
11 O aramáico bar-yonâ - que geralmente é explicado cm têrmos de yonâ =
Joannes (Jo 1.42; 21.15) - é interpre tado como significando "extremista" por
R. Eisler, !~sous basi!eus ou basi!cusas II (1930) 68.
Ped1·0 2!J!J
10 Cf. nota 4.
11 Sucede também que num evangelho só Pedro fala, enquanto que no texto
paralelo falam todo:; os discípulos: Me 7,17; Mt 15.15; Mt 21.20 e Me 11.21.
300 Oscar Cullmann
12 R. Bultmann, Die Frage nach dem messianischen Bewusstsein Jesu und das
P,eirusbekenntnis, em ZNW 19 (1919/20) 170, fala de uma "animosidade" de Marcos
contra Pedro; pelo contrário, M. Goguel, L'1füise primiti.ve (1947) 191, afirma que
não há nenhum traço de antipetrinismo em Marcos.
1& H. Strathmann (cf. bibliografia) 223s, admite diversidade de atitudes nos
diferentes Evangelhos a respeito de Pedro, conforme a igreja em que o respectivo
Evangelho se originou.
14 Variante: "converte-te". Stauffer (cf. bibliografia) 20, nota 58, apresenta
diversas razões para se preferir esta variante.
15 Cf. infra, pág. 305,
Pedro .'101
::i2 K. Kattenbusch, Die Vorzugste!lung des Petrus tmd der Ch(nakter der
Urgemeinde zu Jerusalem, em Festgabe fu.er K. Mueller 0922) 328; id., Der Spru.ch
ueber Petrus und die Kirche bei Mt, cm ThStKr 94 (1922) 130, nega-o sem razão
ao tentar interpretar o ,eita, depois, não em sentido cronológico. Para a enumeração
em 1 Co 15.5-8 a seqüência tem valor histórico evidente. Também A. Harnack,
Die Verklaeri.ingsgeschichtc Jesu, em SAB (1922) 63; Goetz (e!. bibliografia} 4s,
e Stauffer (cf. bibliografia) 8-9 deram a devida importância ao fato d!! que Pedro
viu o Ressuscitado em primeiro lugar.,f
23 De Me J4.28 e 16.7 se pode deduzir, com segurança, tal ?Parição. Tanto
Stauffer (e!. bíbliografia) 11-12, como Goetz (cf. bibliografia) 73, contam com
esta possibilidade, K. L. Schmidt, Kanonische und Apokryphe EvangeHen una
Apost,elgeschichten (1944) 27, e N. B. Stonehouse, The Witness of Matthew anã
Mark to Christ (1944) 86, afinnam que as palavras ephobounto gar, pois tinham
mêdo, são a conclusão do Evangelho.
2.1 Assim já A. 1/feye:r, Die Aufstehung Christi (1905) 168.
!lú O. Cullmann (d. bibliografia) 62s.
20 O. CulLvnann, Les problemes littéraire et historique du roman pseudo-clií-
mentin (1930) 248s; C. Holsten, Die Messiasvisíon des Petrus und diie Genesis des
petrinischen Evcmgeliums 0867) 120. Os escritos ext:racanônicos contêm multo
material sôbre a visão de Pedro. Cf. G<>etz, op cit., 89-93.
304 Oscar Cullniann
sa Cf. artigo ekkltesia, supra, págs. 11-65; L. Rost, Die Vorstufen von Kirch.e
und Synagoge im AT, em BWANT IV, 24 (1938). Nfio me parece necessário
preferir o equivalente kenishtâ como têrmo original. Seria em todo o caso
melhor deixar aberta a escolha da palavra original. Cf. M. J. Lagrange (cf. nota 5)
a:d. loC'U.m. A questão não é de importância tão fundamental porque todos os
equivalentes (qahal, kenistti, çi'b'burO., 'edUD pertencem nos conceitos que expri-
mem a idéia do povo de Deus. À luz dos textos de Qumran recentemente desco-
bertos, todo o material deve ser novamente revisto. A designação mais :!'reqüente
dessa comunidade é yahad; aparecem ainda: sod, 'edd, berith, 'eça. ~ notável quG
qa:h.ai só apareça duas vêzes nos textos encontrados até agora.
:31 W. G. Kuemrncl, Verlieissung u.nd Erfuellu.ng (1953).
SOH Oscar Cullmann
:l5 Jesus tem a consciência de que tuào se realiza em sua própria pessoa,
enqmmto que a ccmunidade primitiva vê o cumprimento na Igreja. Ora, o cum-
primento na pessoa de Jesus leva diretamente ao cumprimento da comunidade,
e vice-versa, ê'.'ie aponta para aquêle. É preciso que se acentue isto contra W. G.
Kuemmcl, Kirchenbegriff und Gcschichtsbewusstsein in der Urgemeinde und b:ei
Jesus, cm Symbolae Biblicac Uprn!ienses, 1 (1943), o qual vê aqui uma inconciliável
justaposição de duas formas afins de consciência histórica e a partir dai contesta
a genuinidade de Mt 16.17-19.
3~ R. Buitmann (cf. nota 30) 275 opina, seguindo a A. Loisy, Les Évangiles
Synoptiques (1908) 23, que o fato de Jesus ter juntado discípulos ao seu redor
nada tem a ver com "igreja".
10 Bttltmann, op. cit., (nota 30) 268 .:ontesta em tô<la a linha que nas passagens
sinóticas exista a idéia de um grupo permanente; em João;· de resto, as palavras
teriam um sentido inteiramente diferente.
41 L. Rost, Die Damaskusschrift, em Kl. T 167 (1933) K. G. Kuhn, Diie in
Palaestina gefundenen Hebraeishe Texte und das NT, em ZThK 47 (1950} 199.
12 Assim A. Schweitzer. Das L1.bendmaht im Zv..sc.mmenhang miv dem Leben
Jesu. und d,er Geschichte des Urchriste·ntums (1901) 61s.
43 W. Michaelis, Der Herr verzieht nicht di.e Verheissung (1942); Kuemmel
(d. nota 37) 38-40; O. Cullmann, Christ>..ts und die Zeit 0948) 13ls.
Pedro 309
47 Strack~Billerbeck (!, 732) tenta dar apoio filológico a esta interpretação pela
retradução para o aramaico.
Pedro 311
t\1 O motivo por que Pedro abandona Jerusalém onde, desde a sua prisão,
Tiago tem a talvez C'steja em conexão com a perseguição que atínge
só a êle e não a Não se teria repetido então o que jã sucedera na
perseguição de Estêvão? Naquela ocasião só os helenistas foram dispersos, enquanto
que os Doze J;iUderam permanecer em Jerusalém (At 8.1). Neste caso êste pormenor
também demonstra que Pedro estava mais próximo de Paulo ~gue dos membros
da comunidade de Jerusalém.
õ2 Sôbre o estado atual dos estudos no que concernem a esta questão, uma boa
orientação é dada por Kuemmel, Das Urchristentum, em ThR 14 (1942) 82; 17
(1948/49) 3s, 103s; 18 (1950) 1s..
53 Num texto como êste a seqüência não pede ser casual. É o que sentiram
os antigos copistas; dai as variantes do texto. O manuscrito D que aqui coloca
Pedro antes de Tiago, apresenta certamente a lectio fa:citior.
54 Com razão é acentuado por E. Hirsch, Petrus und. Paulus, em ZNVI 29 (1930)
64, contra H. Lietzmann, Zwei Notizen zu. Pa.ulu.s, em SAB, (1930) 154, que é
falso ver em Pedro simplesmente um representante do ponto de vista dos de
.Jerusalém.
Pedro 91.1
55 Cf. sobretudo F. Overbeck, Ueber die Auffassung des Streites des Pau!us
mit Petrus in Antiochien bei den Kirchenvaetern (1877); A. M. Voellmecke, Ein
neuer Beitrag, zur alten Kephasfrage, em Jahrb. von. St. Gabriei (1925) 69-104.
llí> Sõbre esta questão, levantada por H. Lietzmann, Petrus und Paulus in Rom
0927), e sõbre a controvérsia que ele suscitou afirmando a tese da estada de
Pedro em Roma - na qual se distinguiu sobretudo K. Heussi (War Petrus in Rom?
1936) - e que ainda continua em nossos dias, cf. a bibliografia em Cullmann (cf.
bibliografia) 73-169.
61 Sôbre as diferentes explicações, cf. Cullmann, 88-92.
S16 Oscar C11llmann
K. G. GOETZ, Petrus ais Gruender und Oberhau:pt der Kirche und Schcmer von
Gesichten nach den aitchristilichen Berichten und Legend;en (192'7).
F. J. FOAKES-JACKSON, Peter, Prince oj Apostles - A Study in the His!or11
and Traditíon of Christianity (192'1).
por
ÜSCAR CULLMANN
f NDICE
PEDRA
l F. Passow, WoeTterb. d. griech. Sprache, sub 'liOClf:!; por ex., Homero, Odiuéia
3, 293; 4, 501.:ê
2 Homero, Iiíada J'i, ..13; Odisséia 9, 243; 10,88; 13, 196; também Xenofonte,
Annates 1, 4, 4.
s Hofmann, sub uoce; e!. também os dados de Boisacq, 776.
r
4 Xenofonte, Anna!es VII, 7, 54; Platão, Leges vm, 843."'; Homero, lt"4dc 7,
270; Píndaro, Olvmpia 296.
!1 Homero, Odisséia 9, 243; Hesfodo, 'l'heogonia 675; Sófocles. OediJ)'!U coloneua
15115, etc.
824 Oscar Cullmann
9 A Septuaginta também não traduz em geral çur por petra, mas substitui a
imagem por conceitos que devem reproduzir o sentido da imagem, como por ex.,
theos, Deus (Dt 32.4, 30), antilemptor, aquêle que recebe (Sl 88.27).
10 Cf. Levy, Woertb., sub voce.
ll A. Dell, Mt l~U7-19, em ZNW 15 0914) 19.
lZ Lithos designa mais freqüentemente a pedra separada (rocha sepnrada) de
diferentes tamanhos, trabalhada ou não.
l3 Coz:tra DeU, !oc. cit., 19. Sôbre o problema lingüístico, cf. H. Clavier,
Petros kai petra, em Neutestamentliche Studien juer .R. Buitmann {Beihefte zur
ZNW 21 0954) 101 ~ 107.
Pndra BIIS
R:::bi Yiçhaq, o Ferreiro Zcirc. 300 d. C.), em Jeremias, loc, cit., 54.
17 Genesis 120. a propósito de Gn 28.22 (cf. Jeremias Zoe. cít. 55).
rn Sôbre a rocha e o altar dos sacrifícios, cf. Jeremias 53-65.
rn Jeremias, Zoe. cit. 53.
20 Ib., 53-54.
21 Ib., 56-57.
" 22lb., 57-~8. Co~tra a tentativa de Jeremias de querer encontr
no VT vestígios. . . sobre a linguagem simbólica d ar mesmo
e roe11a sagrada", cf. H. w.
He1:zberg, Der heilige Fels und das AT, em The Journa.t of the Palcstine Oriental
Sor::iety 11 ( 1931) 31-42.
C. PETRA NO NT
1. Petra no sentido próprio. Com exceção de lCo 10.14; Rm
; 1Pe e Mt 16.18, petra é usado no NT no sentido pr6p:rio. Me
15.46 e Mt 27.60 tratam do sepulcro escavado na rocha; Ap 6.15s da
.,....,.,,..,.,,,.,." de proteção nas fendas das rochas e nas montanhas; Mt 27.51
ruptura de uma rocha produzida por um terremoto e do abrir-se
das sepulturas. Na do semeador {Le 8.6) não se fala de
uma rocha única, mas de ehão rochoso 27• Na comparação de Mt
7.24-27 e Lc 6.4749, a casa edificada sôbre rocha é oposta à cons-
truída sôbre areia ; petra serve de base onde lançar o fundamento.
A palavra de Cristo é o único fundamento para a existência da co-
munidade (Mt 7.24). Análoga à parábola da edificação da casa é
a palavra a Pedro (Mt 16.18), sendo que aí petra é usado
no sentido impróprio {cf. irnfra).
2. rocha do Horeb que segue os isra.elitas(1Co 10.4). O
contexto desta representação é o milagre da água~-que sai rocha
(:ex 17 e Nm 20) e que no VT aparece com variantes 28, Segundo
:ex 17.6 o lugar dêsse milagre é a rocha no Horeb ('al haç-çur beho-
29 Es~ localização topográfica entra em choque com a que é dada em ll:x 17.S:
(Refidim), e com a passagem paralela de Nm 20.
8il Cf. as passagens citadas na nota 28, sobretudo Is 48.21; SI 81.17; 114.8.
81 Tratado Su.kka 3, llss, em Strack-Billerbeck III, 406.
32 Jeremias, loc. cit'., 84.
33 É sabido que na história da exegese esta alegoria é muito utilizada. JfJ. no.
judaísmo tardio Filão (Legum Allegoriae II, 86) lnterpreta a petm como logos,.
palavra, e sophia, sabedoria.
84 Sôbre a interpretação messiânica das passagens vétero-~stamentáriaa que
têm !ith::is, cf. TWNT IV, 276, lOss.
-828 Oscar
pêço e uma rocha e todo o que crer nôlo niio /l(ll'Íl f'll·
em
- b. lJ?e -2 . 7s - O autor
nados Sl 118.22 e
fala da pedra
reconstruç1fo destruído.
e111bora seja êle lithos 110 edifício espiritual, o corpo de Cristo (lPe
2J)). é sõr:nen.te c:risto. Porta11.to! se 1'1t 16.18
11os ob.rig·2 a forn1al e objetivan1er1te ,pei:ra corí1 JJCtr'os,
mostra qu;c"";to o apostolado -- e dentro clf)le sobretudo a posi-
ç5.o que ocupa Pedro - faz parte da revelação de Cristo e _parte 1
D. os 1\POSTóLICOS .AFOLOGETAS
Na Ca.rta 11,5,
rece se referir a
to,
geração,
35 que são Corno quar~
ta camada do fundamento aparecem e doutôres,
Nem os Doze Pedro ocupam.
a cir-
Jus-
deus r~íitra de
* * *