Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
0 ESTUDO DA HISTÓRIA
DAS RELIGIÕES NO MUNDO:
Notas em celebração da afiliação da Associação Brasileira
de História das Religiões (ABHR) à International Association
for the History of Religions (IAHR)
Armin W. Geertz
Para mim é um prazer especial trazer à nossa nova afiliada brasilei
ra as saudações da IAHR, na qual tenho a honra de atuar como secretário-
geral. A ABHR foi formalmente afiliada durante o Congresso Mundial da
IAHR em Durban, África do Sul, em agosto de 2000 e é agora a primeira
afiliada nacional da IAHR na América do Sul. No contexto latino-americano
mais amplo, temos duas afiliadas nacionais: a associação mexicana (Dra_.
Yolotl González Torres, presidente) e a associação cubana (Dr. Jorge Ramírez
Calzadilla, presidente), e uma afiliada regional: a associação latino-ameri-
cana (Dr. Elio Masferrer Kan, presidente).
A IAHR é um corpo mundial de sociedades nacionais para o estudo
da religião e é membro do Conseil International de la Philosophie et des
Sciences Humaines/The International Council for Philosophy and Humanistic
Studies (CIPSH), sob os auspícios da Unesco. A IAHR foi fundada em 1950,
durante o sétimo congresso internacional de história das religiões em Ams
terdã. Seu objetivo é a promoção do estudo acadêmico da história das reli
giões por meio da colaboração internacional de todos os eruditos cuja pes
quisa se relaciona com o tema.
Durante o recente congresso em Durban, África do Sul (2000), a
IAHR aumentou para 38 associações nacionais e regionais, e muitas outras
aguardam por reconhecimento. A IAHR realiza congressos mundiais inter
nacionais a cada cinco anos; durante esse período, também patrocina con
ferências regionais e conferências especiais e prossegue com a tradição de
realizar seus congressos e conferências, sempre que possível, nas mais
diferentes partes do mundo, a fim de encorajar o intercâmbio cultural e
promover ao máximo as afiliadas da IAHR.
Temos trabalhado arduamente para promover a IAHR e desenvolver
afiliadas nas diversas partes do mundo. De 1990 a 1995, concentramo-nos
na América Latina e, em 1995, realizou-se o Congresso Mundial da IAHR na
Cidade do México. De 1995 a 2000, voltamos nossas atenções para a Áfri-
13
ARMIN W. GEERTZ
14
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
15
ARMIN W. GEERTZ
16
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
“ Para detalhes sobre as histórias dos tópicos em diversos países, ver: Religious studies in public universities,
ed. por Milton D. McLean (Carbondale: Southern Illinois University Press, 19671: Claude Welch. Graduate
education in religion: A critical appraisal (Missoula. University of Montana Press. 1971): The history of
religion: An international survey, edição especial de Religion. A lournal of religion and religions, 1975 (com
artigos sobre a história das religiões na Inglaterra, Sul da Ásia, Escandinávia. Europa. Japão, EUA. Austrá
lia e Nova Zelândia. África e Israel): Jacques Waardenburg, Religionswissenschaft ln Continental Europe,.
Excluding Scandinavia. Some Factual Data, Numen. International Review for the History of Religions 23:
219-238,1976: Jacques Waardenburg. Religionswissenschaft New Style. Some Thoughts and Afterthoughts,
The Annual Review of the Social Sciences of Religion 2: 189-220.1978: J. Prytz Johansen. Religionshistorie
(Kobenhavns Universltet 1479-1979. bd. XI). Copenhagen, 1979: Joseph M. Kitagawa, Humanistic and
theological history of religions, with special reference to the North American Scene, Numen 27: 198-221,
1980: Jacques Waardenburg. Religionswissenschaft sell 1970. Eine Auswahl. VerkBndlgung undForschung
26: 2-43,1981-, Marburg revisited: Institutions and strategies In the study of religion, edited by Michael
Pye (Marburg. diagonal-Verlag, 1989, com artigos sobre a situação na Itália, Israel. Polônia, Quebec, Ale
manha, África, China e países islâmicos): Turning points in religious studies: essays In honour of Geoffrey
Parrinder, editado por Ursula King (Edinburgh, T &T Clark, 1990): Michael Pye, Religious studies in Europe:
Structures and desiderata, in: Religious studies: Issues, prospects and proposals, editado por Klaus K.
Klostermaier & Larry W. Hurtado (Manitoba. University of Manitoba. 1991. p. 39-55); La tradition francaise
en sciences religieuses. Pages d’histolre, editado por Michel Despland, Quebec, Université Laval. 1991:
Ray L. Hart. Religious and theological studies in American higher education. Journal of the American
Academy of Religion 69: 715-827,1991; Robert S. Shepard. God's people in the ivory tower: Religion In the
early American un/Vers/iylNewYork: Carlson Publishing. 1991): Religious studies, theological studies, and
the university divinity school, ed. por Joseph Kitagawa (Atlanta. Scholars Press. 1992): The secularization
of the academy, ed. por G. M. Marsden, org. por B. J. Longfield (Oxford. Oxford University Press. 1992):
Vittorio Lanternari, La parole des exclus de l'histoire. Débuls de l'anthropoiogie religieuse en ltalie, Ethnologle
francaise 25: 497-513, 1994: Peter Antes, Approcheset traditions dans l'histoire des religions en Europe
continentale, in: The notion of "religion"in comparative research, ed. por Ugo Blanchi (Rome. "L'Erma" dl
Bretschneider. 1994. 641-644): Armin W. Geertz, Religionshistorlens religlonsvldenskabelige profit:
tiltrasdeisesforelassning (Aarhus, Institut for Religlonsvidenskab. 1995): Jacques Waardenburg. Profiles
and International developments In the scholarly study of religion (Forschungspolltlsche Frilherkennung
155) Berne: Schwelzerlschen Adakemie der Gelstes- und Sozialwissenschaften. 1995: Gary Lease edltou
uma edição especial de Method & Theory In the Study of Religion 7 (4): 1995 intitulada Pathologies In the
academic study of religion: North American Institutional case studies, sobre a situação institucional na
University of California Santa Cruz, the University of Pennsylvania. Arizona State University nos EUA e
University of Lethbridge. University of Alberta and University oflbronto no Canadá: uma edição recente da
mesma revista 10 (4): 1998 contém artigos sobre a situação institucional na Holanda, Polônia e Itália, e o
próximo número trará artigos sobre a República Tcheca e Noruega: e Donald Wlebe. Against science In the
academic study of religion: On the emergence and development of the AAR. in: Perry Festschrift, editado
por George Bond e Thomas Ryba, no prelo.
17
ARMIN W. GEERTZ
18
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
19
ARMIN W. GEERTZ
20
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
21
' " 'WKMTU'WiUBBKTIi "'
10 Althusser, L. Pour Marx. Paris. 1965: Althusser, L. & Balibar, E. Lire le capital. Paris. 1968.
11 Lacan, Jacques. Le séminaire de Jacques Lacan. Paris, 1973-1991: Livre h Les écrits techniques de
Prend ( 1953-1954): Livre 2: Le mol dans la théorie de Freud et dans la technique de la psychanalyse
(1954-1955): Livre 3: Les psychoses {1955-1956): Livre 7: L'éthique de la psychanalyse ( 1959-1960);
Livre 8: Le transfert (1960-1961); Livre il: Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse
(1964); Livre 17: L'envers de la psychanalyse (1969-1970); Livre 20: Encore (1972-1973).
12 Gadamer. Hans-Georg. Wahrheit und Methode. Tübingen, 1960: Kleine Skrlften. Tübingen. 1969: Habermas,
Jürgen. Philosophische Rundschau. Frankfurt, 1967; Erkenntnis und Interesse. Frankfurt. 1968.
11 Foucault, Michel. Histoire de la folle. Paris. 1961 ; Naissance de la clinique. Paris. 1963; Les mots et les
choses. Paris, 1966; org. L’archaeoiogie du savoir. Paris, 1969.
14 Derrida, Jacques. La voix et le phénomèna. Paris, 1967; De la grammatologle. Paris. 1967; L’ecriture et
la différence. Paris, 1967.
15 Greimas. A. J. Sémantique structurale. Paris, Librairie Larousse. 1966.
1(1 Geektc, Clifford. Religion as a cultural system. Anthropological approaches to the study of religion. Banton,
M. (ed. ). London, Tavistock Publications. 1966 p. 1-46: Islam observed: Religious development In Morocco
and Indonesia. New Haven. Yale University Press, 1968. Ver: Geertz, Armin W. Hermeneutics in
ethnography: Lessons for the study of religion. In: Vergleichen und Erstehen in der Religionswissenschaft.
Vorträge der Jahrestagung der DVRG vom 4. bis 6. Oktober 1995 in Bonn. Klimkeit. Hans-Joachim (ed.).
Wiesbaden. Harrassowitz Verlag. 1997. p. 53-70.
22
U EgTUUU UA HI8TOKIA DfflKELKJlOEB RO MUNDO
23
ARM1N W. GEERTZ
24
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
mero enorme de autores cujos países de origem e/ou estudo são bastante
diversificados: Bélgica, Escócia, Inglaterra, França, Rússia, China, Japão,
Formosa, Alemanha, Itália, Polônia, Suíça, Holanda, Estados Unidos, Cana
dá, Israel, Nigéria, Dinamarca, Finlândia, Noruega, índia, Austrália, Nova
Zelândia e México. E, talvez, ainda mais importante, os locais onde a IAHR
se reúne, tanto em seus congressos plenos a cada cinco anos como em suas
reuniões menores, regionais e anuais, verdadeiramente refletem seu caráter
internacional. Olhando para os últimos quarenta anos, os congressos ocor
reram não apenas na Europa, como acontecia antes, mas foram realizados
em diversos lugares: Cidade do México (1995), Roma (1990), Sidney (1985),
Winnipeg (1980), Lancaster (1975), Estocolmo (1970), Claremont (1965),
Marburgo (1960) e Tóquio (1958), e, como mencionado anteriormente, em
Durban, na África do Sul, em 2000.
É em tais reuniões, incluindo as diversas reuniões regionais realiza
das desde a década de 1960, que o compromisso da IAHR com método e
teoria mostra-se mais evidente. Por exemplo, na reunião em Varsóvia em
1989, intitulada “Estudos sobre religião no contexto das Ciências Sociaisj
relações teóricas e metodológicas" (1989), foi alcançada concordância so
bre o seguinte:
A convergência de opinião torna-se aparente em relação à natureza de "história” que
permite a reconcepção da história das religiões como uma ciência humana e cultural.
Também houve um acordo determinando que um estudo da religião reconcebido com
preenderia "religião" como uma realidade que interconecta tanto implícita como ex
plicitamente as atividades sociais... Houve concordância em que a análise de proces
sos sociais que são correlativos com fenômenos religiosos exigiria a avaliação e o uso
de modelos e teorias sociais inovadoras, como também aquelas de disciplinas cognatas.
Se tal orientação metodológica se mostrará frutífera ou não será revelado no contex
to da pesquisa futura.23
Não diferentemente da já mencionada declaração de Werblowsky, a
declaração de Varsóvia representa um firme compromisso, há muito tempo
associado com a IAHR, de conceituar a religião como um fenômeno históri
co, de engajá-la em pesquisa empiricamente embasada, e, talvez mais
significante, a declaração de Varsóvia percebe o estudo da religião como o
projeto mais amplo (teórico) de estudar a sociedade e a cultura humanas.
23 Michael Pye cita a declaração completa em seu artigo Religious studies In Europe: Structures and
desiderata, in: Religious studies: Issues, prospects, and proposals, editado por Klaus Klostermaier &
Larry Hurtado (Atlanta: Scholars Press. 1991. p. 39-55); em particular, ver sua nota 2. Para um relató
rio dessa reunião, ver Armln W. Geertz, The Second Conference on Methodology and Theory, 7Temenos.
Studies In Comparative Religion Present by Scholars in Denmark. Finland, Norway and Sweden 25:
107-108, 1989.
25
ARM1N W. GEERTZ
26
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
27
ARMIN W. GEERTZ
28
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
mais refinado. Uma das coisas que muitas pessoas esquecem é que a críti
ca orientalista alveja primariamente a literatura colonial escrita por volta
do fim do século XIX. Em muitas situações são os eruditos orientalistas que
têm procurado durante muito tempo do século XX corrigir os estereótipos
que foram produzidos na literatura popular.
O exame crítico da voz é uma preocupação central na reflexão femi
nista, a segunda principal fonte da crítica pós-moderna. Das preocupações
emancipacionistas em sua fase mais inicial, a reflexão feminista tornou-se
muito mais refinada e tem encorajado o interesse em gênero como uma
referência conceituai importante no estudo da religião em termos da cons
trução social ou cultural de gênero,32 a construção histórica de gênero em
relação à classe, ao poder e mudanças em modos de produção,33 e análises
comparativas transculturais das variáveis no status, papel, autoridade e
poder das mulheres em diferentes culturas.34 Esses tópicos são tão impor
tantes que estou surpreso de que tão poucos estudiosos homens tenham
assumido essas preocupações. Mas penso que a situação esteja mudando e
estamos assistindo a uma cooperação entre homens e mulheres na pesqui
sa acadêmica sobre gênero. Como se pode ver no esquema final, há uma
variedade de tópicos interessantes sobre gênero com ênfase em gênero em
religiões e regiões geográficas específicas.
A terceira principal fonte da crítica pós-moderna vem dos filósofos
da ciência. Dessa área partem ataques devastadores sobre um dos alicer
ces do projeto iluminista, ou seja, a racionalidade. Primeiro, tentativas para
o uso das ciências naturais como modelo têm sido questionadas, uma vez
que predição, teoria, resultados e conclusões são todos embasados em con
venções sociais.35 Segundo, tem sido ressaltado que a cognição humana
não é suficientemente capaz de alcançar conclusões complicadas.30 Tercei
ro, a linguagem científica não é menos metafórica do que qualquer outra
32 Duas principais coleções aqui são Nature, culture and gender, editada por Carol P. MacCormack &
Marilyn Strathern (Cambridge. Cambridge University Press. 1980); e Sexual meanings, editada por
Sherry Ortner & Harriet Whitehead (Cambridge. Cambridge University Press. 1981).
33 Duas obras importantes são Sisters and wives: The past and future of sexual equality, de Karen Sacks
(Westport. Greenwood Press. 1979), e Women and colonization, editada por Mona Etienne & Eleanor
Leacock (New York. Praeger. 1980).
3< Três exemplos disso são Female of the species, editado por Kay Martin & Barbara Voorhies (New York.
Columbia University Press. 1975); Sexual stratification: A cross-cultural view, editado por Alice Schlegel
(New York, Columbia University Press); e Female power and male dominance, editado por Peggy Reeves
Sanday (Cambridge. Cambridge University Press, 1981).
35 Pinch, Trevor. Theory testing in science—The case of solar neutrinos: Do crucial experiments test theories
29
ARMIN W. GEERTZ
37 VerGeorge Lakoff. Women, fire and dangerous things: What categories reveal about the mind (University
of Chicago Press. Chicago, 1987); Lakoff & Mark Johnson. Metaphors we live by (University of Chicago
Press, Chicago. 1980); Lakoff & Mark Turner. More than cool reason: A field guide to poetic metaphor
(University of Chicago Press, Chicago, 1989); Roger M. Keesing. Conventional metaphors and
anthropological metaphysics: the problematic of cultural translation, Journal of Anthropological Research
41 (2); 201-217, 1985; Keesing. Exotic readings of cultural texts, Current Anthropology 30 (4); 459-
479,1989; e Eve Sweetser. From etymology to pragmatics. Metaphorical and cultural aspects of semantic
structure (Cambridge. Cambridge University Press, 1990.
” Shweder, Richard A. Divergent rationalities, in; Metatheory In social sciences: Pluralisms and subjectivities.
Ed. por Donald W. Fiske& Richard A. Shweder. Chicago, University of Chicago Press, 1986. p. 163-196.
30
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
31
ARMIN W. GEERTZ
32
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
17 Religions and languages: A colloquium. Ed. por Bruce S. Alton. New York etc., Peter Lang. 1991.
Boyer. Pascal. The naturalness of religious Ideas: A Cognitive Theory of Religion. Los Angeles, University
of California Press. 1994.
® Rivai,, Laura. The growth of family trees: Understanding Huaorani perceptions of the forest. Man 28 (4),
1993, 635-652.
50 Berger, Peter L. & Luckmann, Thomas. The social construction of reality. A treatise in the sociology of
knowledge. Harmondsworth, 1966. 1987: Goodman. Nelson. Ways of woridmaking. New York, Bobbs-
Merrlll, 1978.
51 Barber. T. X. Toward a theory of pain: Relief In chronic pain by prefrontal leucotomy, opiates, placebos,
and hypnosis. Psychological Bulletin 56, 1958. 430-460: Religion, altered states of consciousness, and
social change. Ed. por E. Bourguignon. Columbus, 1973: Locke, R. G.& Kelley, E. F. A preliminary model
for the cross-cultural analysis of altered states of consciousness. Ethos 13, 1985. 3-55: Pomeranz, B.
Acupuncture and the endorphins. Ethos 10 (4), 1982, 385-393: Prince, R. The endorphins: A Review for
psychological anthropologists. Ethos 10 (4). 1982,303-316: Shamans and endorphins: Hypothesis for a
synthesis. Ethos 10 (4). 1982. 409-423: Trance and possession states. Ed. por R. Prince. Montreal,
1968: Tart, C. T. Altered states of consciousness. New York. 1969.
3.3
ARMIN W. GEERTZ
34
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
35
ARMIN W. GEERTZ
36
0 ESTUDO DA HISTÓRIA DAS RELIGIÕES NO MUNDO
37
ARMIN W. GEERTZ
38