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Vieira)
FAT O R E S P S I C O L Ó G I C O S PA R A
DESENCADEAMENTO DO CÂNCER?
A VISÃO REICHIANA SOBRE A ETIOLOGIA DO
CÂNCER
I sa Ka p lan Vie ir a
INTRODUÇÃO
! Esse artigo busca analisar e comparar a visão clássica acerca do câncer e suas
etiologias com a de Wilhelm Reich. Propõe-se uma análise da visão atual da psicologia
neste sentido e, brevemente, a da medicina, e, com isto, uma reflexão sobre o fazer
científico, com sua metodologia, no caso do estudo do câncer assim como de outras
biopatias. Em todos esses casos, conclui-se tratar-se de questões complexas e
multifatoriais que parecem necessitar de um olhar distinto daquele definido por Reich
como ‘mecanicista’, que até hoje vigora. Busca-se uma nova abordagem através de uma
visão que possa transcender as separações disciplinares para uma consideração integral
do ser humano.
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Fatores psicológicos para desencadeamento do câncer? - A visão reichiana sobre a etiologia do câncer (Isa K. Vieira)
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o
crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo
espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas
células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de
tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. (...) Os diferentes tipos
de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo (...) Outras características
que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação
das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).
Uma célula normal pode sofrer alterações no DNA dos genes. É o que chamamos
mutação genética. As células cujo material genético foi alterado passam a receber
instruções erradas para as suas atividades. As alterações podem ocorrer em genes
especiais, denominados protooncogenes, que a princípio são inativos em células normais.
Quando ativados, os protooncogenes transformam-se em oncogenes, responsáveis pela
malignização (cancerização) das células normais (...) As células cancerosas são,
geralmente, menos especializadas nas suas funções do que as suas correspondentes
normais. Conforme as células cancerosas vão substituindo as normais, os tecidos
invadidos vão perdendo suas funções.
! O trecho acima, por mais claro, didático e atualizado que possa ser, parece deixar
lacunas, duvidas no leitor leigo; o processo de malignização parece relativamente claro,
mas... Por que ele acontece? Por que há uma mutação no DNA destas células, de forma
a fazê-las perderem suas funções? Se não se trata de uma bactéria ou vírus, qual é a
força propulsora desta mutação?
! As explicações cientificas mais difundidas das causas do câncer são muitas vezes
vistas pelo publico leigo como demasiado difusas e confusas. É comum ouvir
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! Na explicação do INCA:
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! É interessante notar também que o texto ressalta que estes aspectos genéticos
estão ligados, na maioria das vezes, à capacidade do organismo de se defender das
agressões externas. Mais adiante veremos essa questão como essencial na compreensão
da visão Reichiana da causa do câncer, e quais seriam, em sua visão, os fatores
envolvidos na capacidade do organismo de se defender das agressões externas (ou
internas, como veremos mais a fundo posteriormente).
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mecanicista’ que com seus métodos muito estritos acabaria por ser pouco sensível a
questões urgentes e essenciais. Segundo Reich, deveríamos buscar apreender as funções
e funcionamentos e suas lógicas, sempre complexas e multifatoriais, ao invés de manter
a busca de fatos quantificáveis, relacionáveis em simples equações de causas e efeitos.
Sobre isto, Reich afirma:
! Se faz importante ressaltar que Reich não pregava uma maior flexibilidade nos
métodos científicos, mas uma outra compreensão destes, o uso de uma outra
metodologia. Entendia que a percepção do cientista constitui parte importante de sua
compreensão; desta forma, a clínica não pode ser destituída de cientificidade já que
inclui observação, experimentação baseada em hipóteses, construção de conjunto de
conceitos teóricos, etc. A ciência mecanicista veria a clínica psicológica como espaço
pouco apto a construção de conhecimento pela não neutralidade do cientista/terapeuta,
envolvido nas questões do paciente através da relação terapêutica. Reich aponta,
entretanto, assim como posteriormente tantos outros nas ciências humanas (destaca-se
Foucault e Latour), e em convergência com a mudança de paradigmas na física, acerca
da impossibilidade de neutralidade do cientista. Aponta, também neste sentido, para a
necessidade de tomada de consciência destas implicações bio-psico-sociohistóricas do
cientista através do olhar voltado para si, do conhecimento de seus próprios bloqueios e
condições caracteriais.
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! Ele faz uma análise de que a dificuldade de reconhecer fatores comuns nos
estudos que relacionam à ‘esfera da mente’ com o surgimento do câncer se daria pela
diversidade de pressupostos teóricos e, desta maneira, de formas de definir a natureza
do objeto e construir a variável.
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! Trataria-se, ainda, para o autor, do que ele, ainda baseado em Ratcliffe &
Gonzales-del-Vale, definiria como um ‘erro de terceira espécie’, ou seja, um erro
fundado na incongruência entre o paradigma metodológico e a natureza do problema.
Isso se daria pela transformação de uma variável não quantificável em quantificável:
! Nesse sentido, são apontadas duas importantes cisões nestes estudos analisados,
ligadas a esta incompatibilidade entre a metodologia e a natureza do problema. Estas
são: entre o doente e seu entorno, e entre os sintomas somados em cada categoria de
variável (depressão, etc) e os sintomas como um todo. O trecho abaixo explica isso:
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! Em seu livro “O éter, deus e o diabo” Reich aponta para alguns equívocos
famosos na história da ciência, por exemplo a teoria de Copérnico da centralidade do
sol, assim como o princípio de moral absoluta de Kant, e analisa-os supondo nestes algo
em comum: trata-se dos elementos estático e absoluto. Desta maneira, exemplifica a
associação que faz entre a lógica que figura na base de toda formulação de uma tese
científica e a estrutura caracterial daquele que a propõe, assim como da sociedade em
que surge e ganha espaço certa explicação de determinados fenômenos naturais. Nesse
sentido, um fator importante para o erro mecanicista estaria baseado na negligência ou
ignorância do cientista acerca de seu próprio sistema de percepções sensoriais e
consciência, como dito acima.
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! Aqui voltamos a outra questão colocada no início do artigo: o que faz uma
pessoa mais resistente, ou com maior capacidade para defender-se de um processo de
malignização das células? Para Reich, o fator mais essencial para esta compreensão é a
capacidade de pulsação do organismo, como entendemos em relação aos testes com
glóbulos vermelhos. Tal pulsação é descrita por Reich como relacionada à vitalidade do
organismo e ausência de bloqueios mais graves. A capacidade de pulsação, além de
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mesmo com os bloqueios que dificultam sua circulação, e o organismo reage a isto com
fortes contrações. Assim se dão crises de angústia, explosões de raiva, ou
hipertireoidismo, diarréia, etc. Já no caso do câncer, há uma diminuição da produção
energética, como no caso da histeria. Neste sentido, Reich afirma:
Desde um ponto de vista funcional, uma crise de angustia é uma descarga de energia,
mesmo que de natureza patológica. A quietude emocional crônica, ao contrário, é
acompanhada de calma bioenergética no sistema celular e plasmático (p. 155).
! Reich utiliza de uma metáfora para tornar essa compreensão mais clara: compara
uma água em movimento e a água parada, como em uma lagoa, considerando que na
segunda os processos de putrefação não só não são eliminados como são acelerados;
amebas e protozoários se desenvolvem muito mais facilmente em águas paradas. Reich
mais uma vez ressalta a forma com que não tem ainda muita clareza acerca de em que
consiste exatamente este processo de “asfixia” no organismo, mas afirma estar
convencido de que esses pressupostos podem nos indicar uma nítida direção para a
melhor compreensão da etiologia de um câncer.
CONCLUSÃO
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O ‘vírus do câncer’ teórico está sem duvida relacionado aos bacilos T de Reich, que
produziram tumores cancerosos em animais de laboratórios, fortalecendo desta forma a
teoria atual da infecção. No entanto, para se ajustar aos pontos de vista de Reich, a teoria
da infecção teria que incluir o fato de que o bacilo T se origina de maneira endógena a
partir da desintegração bionosa da substância viva (É claro que isso desacredita a teoria
metafísica dos “germes aéreos”, a partir dos quais se presume que todas as bactérias se
desenvolvem). A depressão psíquica ou falta de agressão, observada por especialistas em
psicossomática, é a “resignação caracteriológica” de Reich (REICH, 2009).
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Reich afirma enfaticamente que a solução definitiva para o problema do câncer está na
prevenção da doença, e não em sua cura. Os meios para se chegar a essa solução devem
ser buscados em primeiro lugar no campo social, pois é nossa ordem social repressora
que cria a miséria sexual e a consequente estagnação da energia biológica em que se
origina o câncer (REICH, 2009).
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Fatores psicológicos para desencadeamento do câncer? - A visão reichiana sobre a etiologia do câncer (Isa K. Vieira)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-REICH, W. A biopatia do câncer. 1ª edição.São Paulo, SP: Martins Fontes, 2009. 479p.
-REICH, W. Éter, deus e o diabo. 1ª edição. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2003. 334p.
-REICH, W. Análise do Caráter. 4ª edição.São Paulo, SP: Martins Fontes, 2001. 492p.
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