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| “Vex To4 Sociologia das Relégiors Fowle . Raviste Relipids 2 So vtedade, RA i Iseq n- 4, Vol. 81, eo F426 ~ abril} eos D; "Boa" E DA "MA VONTADE" PARA CoM A RELIGIAO Nos CrenTisTas Socials DA RELIGIAO BRASILEIROS (Comentitios a propésito do balango realizado por Antonio Flévio Pierucci sobre a producio académica da Sociologia da Religiio no Brasil, nos éltimos 25 anos) Marcelo Camurga | Introducao Convidado pela ANPOCS « redligit uma andlise da produgéo académica acerca da sociologia da religiio nos tltimos 25 anos, pare fgucat, a0 lado de outras avaliagées sobre demais areas do conhecimento das ciéncias sociais no pafs, na publicacio O Que Ler na Cigncia Social Brasileira (1970-1995), o renomado socislogo da USE Anténio Flavio Pierucci, através de "Sociologia da Religiéo ~ Area Impuramente Académica”, busca realizar um “balango bibliogréfico (..) dos estudos antropolégicas e sociolbgicos sobre religido no Brasil” (Piecucct 1999:250), onde se detecta a clara intengo de um exereicio crftico de “sociologia da sociologia da religito” (:246) como fio condlutor. | Inicialmente, gostaria de chamar ateng&o para dois aspectos neste met comenttio sobre o ensaio de Pierucci, aspectos estes, inclusive, que motivaram- me a esctevé-lo. Um primeiro, de ordem mais factual, encontra-se na centralidade da revista ReligiZo ¢ Sociedade no balango do autor, Citada com destaque — seus artigos, seus editoriais, suas entrevistas, a composicao de seu Conselho de Redacéo ce Religitoe Sociedade, Rio de Janeiro, 21(1}:67-86, 2000 = como exemple vivo dos argumentos de Pierucci, nfio poderia perder a oportunidace de trazer de volta para suas paginas um comentétio as reflexses langadas por ele sobre os contetidos de fundo abordados na revista ao longo de sua trajet6ria, quando se trata de debater e refletir sobre seu objetivo precipuo: ciéncias (sociais), modernidade, sociedade ¢ religiio, ‘O segundo diz respeito as idéias veiculadas pelo eutor no artigo, expressando uma preocupagao constante e recorrente nos seus dltimos trabalhos: “Interesses Religiosos dos Socidlagos da Religiio" e "Reencancamento © Dessecularizacéo: a proptsito do auto-engano em sociologia da religiao” (Pierucci 19972, 19976) © que, neste terceiro, realiza 0 ensejo de conecté-las ao desenvolvimento ¢ aos ramos petcorridos pelas ciéncias sociais da religiio no pais, apontando o que para ele € 0 dilema crucial que aflige o campo de estudos: a dificuldade de “grande parte dos cientistas sociais que estudam a teligiéo no Brasil (..) decidir até onde, em seu trabalho incelectusl vai a cigmcia e até onde vem a religio (.) onde comega uma ¢ onde termina outrs® (Pierueci 1999:237). Para uma compreensiio mais acabada do pensamento do autor acerca da temética, seria de bom alY@S}que o leitor conhecesse os dois artigos anteriores, principalmente ‘0 segundo, ramente © melhor e mais sofisticado teoricamente dos trés. Penso, contudo, que este conjunto de reflexdes de Pierucci ~ que culmins com seut kalango critico dos 25 anos de produgio académica na srea das ciéncias sociais da reli no Brasil — pela extensia do’ que aborda e a contundéncia do que coloca, ainda néo mereceu de seus pares ¢ da comunidade académica dos cientistas sociais da religiéo a devida apreciacio. ‘Af no meu entender, reside a relevancia deste meu empreendimento: dar prosseguimento, nas paginas de Religido e Sociedade, a wm debate fomentado pela teflexio de Pierucei sobre o papel de virios de seus articulistas em como do carter dos estudos acerca do fenémeno religioso no Brasil nos tiltimos 25 anos. Considero que esta tarefa seria melhor conduzida pelos seniors envalvidos na revista Religito e Sociedade, experientes no trato com a produgéo académica das ciéncias sociais da teligifio no pais, No entanto, pela urgéncia do momento — situados jé em um novo milénio, completando 25 anos da revista e 30 anos do ISER ¢ com o balango de Pierucci datado de 1999 -, far-se mister uma reagio, mesmo que nos limites de um comentério, esperando que outras vozes mais abalizadas possam entrar em cena, para continui-lo com a pertinéneia que ele merece. Argumentagio central do autor © argumento central de Pierucei 6 que a area da sociologia da religiio se constituiu como “itnputamente académica", carente de credibilidade cientifica perante #8 ciéncias sociais (245) devido & presenga emseu meio de “religiosos Ds "Boa" e da "Md vontade" para com a Religto no. o praticantes" ¢ “profissionsis da religifio” que, movidos por “interesses religiosos” — motivagoes pastorais, otientagdes eclesidsticas — comprometem a “esfera intelectual auténoma” do labor cientifico com uma contaminagao religiosa da prética intelectual, que redunda no “sacrifcio do intelecto que toda religiio implica e requer” (:247). Desta forma, a pretexto de fazer sociologin e antropologia, realizariam tna "(pscudo) empiria” com o fito de valorizar a religiéo (249). Para ele, o standpoint da sociologia da religiio na década de 60, no pais, cenguanto uma “Sociologia do catolicismo", quando ala modernizante do clero brasticiro, por interesses pastonais, recorre no método € As pesquisas soclolbgicas para a andlise da crise eclesifstica (crise do modelo paroquial e das vocagées religiosas, etc), € detetminante para a “malformagio congénita” (:258) que softeram as ciéncias socizis da teligiao no pais, quando se colocou a imprescindtvel isengio da pesquisa 2 servico de necessidades das instituigoes religiosas, numa “indisfarcével sociologia religiosa™ (:257). Pietucei também vé na experiéncia dos primérdios de Religiéo e Sociedade tum estudo de caso do que se passou no campo académico das cigncias sociais da religiio: a convivéncia de uma “avantajada representagio da intelectualidade crista” (circuit catélico e protestante) com pesquisadores laicos e agnésticos provenieates de um “circuito institucionalizado de intelectuais” da “esfera intelectual auténoma” (:242). A diferenga deste quadro para o atual — na érea das cigncias sociais da religiéo — que redunda no seu agravamento, é que 0 que antes encontrava-se explicito, hoje esté escamoteado (:248): as tenses inevitaveis da interface entre estas duas formas de conhecimento inconciliéveis (p.250). Pata ele, hoje impera a indistinglo (:246), devido ao espaco obtido pelos “sociélogos religiosos", que, através de sua pseudo-sociologia ~ ma verdade uma “jubilosa” “cclebrativa” propaganda religiosa — impediram a area das ci€ncias sociais da teligiio de tomar-se “puramente académica” (:245), reduzindo e comprometendo © rigor académico daqueles que sto “profissionais da cincia exclusivamente vocacionades para a ciéncia, seriamente apaixonades pelo valor da cigncia, empenhados full time em dedicar suas vidas académices cientificamente orientadas no sentido de fazer avangar a sociologia e antropologia, em quaisquer de suas sub-Gireas, como cincias sistemsticas da sociedade” (:247). Para © autor o envolvimento “afetivo-existencial” destes “sociélogos-da- religiéo-religiosamente-comprometicos” (250) paca com o seu objeto pode “afetar seriamente (..) 08 resultados da pesquisa cientifica” (:264), Esta confusio entre cigncia e fé religiosa acarreteria a impossibilidade do leitos, sem uma identificagéo prévia sobre a procedéncia do texto, reconhecé-lo como pertencendo a sociologia 10 Religie e Sociedade, Rio de Js ro, 21 (1): 67-86, 2000 ou A teologia, se escrito por cientista social ou por um padre, pastor ou pastoralista (251). A prova maior segundo Pierucci, da motivagso religiosa como pano de fundo deste oficio sociol6gico nos *socislogos teligiosos” foi a “descoberta’, por parte deles, “nos menores sinais que repontam de sobrevivéncia do esplrito religioso” (:264), de um ressurgimento da religido: o retomo do sagrado, “um dos motes preferidos dos estudiosos da religito [que] se tornaria uma espécie de marca registrada da 4rea” (:263). A temética do “retorno do sagrado" e da revanche do sagrado na cultura profane” expressa nos artigos de Rubem Alves € Leszek Kolakowski em Religito ¢ Sociedade (:263-4) denotaria, segundo Pierucci, muito mais uma intencéo e desejo do que anélise isenta e distanciada. Problemética levantada pelo autor © lugar teérico da crftica de Pierucci aguilo que chama de “sociologia religiosa”, levando-o "a fazer um discurso sobre o persistente declinio da religid, que tem como pretexto 0 contraste com 0 também persistente auto-engano (..) dos risonhos académicos portadores mais que celebrantes do alegado ‘retorno do sagrado” (Pierucei 1997b:100), encontra-se na teoria da secularigagio, de inspiragio weberiana. Formulada ce um modo mais complexo no artigo "Reencantamento ¢ Desscculatizago", a critica que atravessa seu balanco da producio académica das ciéncias sociais da religiéo se assenta nas andlises de Beatrie Muniz de Souza sobre a dinamica social ¢ a religifo no Brasil, “a saber: a crescente secularizacio de uma sociedade em que no entanto persistem e se renovam formas religiosas fortemente sacrais de orientagao de vida (1999:261). A teoria que vé no processo de secularizagio uma tendéncia hegeménica do mundo moderno funciona para Pierucci como um instrumental para a superagio da “sociolagia religiosa’, “coisa hbrida e indefinide” (-247), em prol de uma “sociologia do fato religioso” (:259). Ancorado nos trabathos de Candido Procépio Camargo ¢ Beatrie Muniz de Souza, busca demonstrar que o *reavivamento teligioso” € a “efervescéncia religiosa” nao desenvolvem nenhuma onda de reencartamento, mas so produto do “aprofundamento da seculatizagéo" (261) que confina a religlio no individuo, apartando-a das “éreas de influéncia anteriormente ela atributdas” na sociedade (:261) Por fim, para explicar a hybris que resulta da contaminagio da ciéncia pela religifo, Pierueci recorre & sociologin de Pierre Bourdieu, particularmente © texto *Sociélogos da crenca e crengas de socidlogos” (Bourdieu 1990), no qual avalia a “boa vontade cultural” ea relacho de “cumplicidade” para com a religiio por parte de pesquisadores que patticipam do campo religioso (:274). Para 0 socilogo francés, pertencer a um campo religioso e fazer sociologis cientifica dele um empreendimento mutto dificil, pois, 20 participar de sua crenga, corre-se 0 risco de introduzicla no modelo de anilise sobre ela propria. Da "Boa" ed "Mé vontade" para com a Religio nos. a A crenga que uma instituigfo religiosa organiza tende a mascerar a crenga nela prépria, instituigfo, e os interesses ligados A sua reprodugto, Desta forma, 0 esquisador que esté inserido no campo religioso pode ser tentado a fazer um “jogo duplo” e retirar dele uma “dupla vantagem”: a da cientificidade apacente do que resliza, aliada 4 manutengdo de uma lealdade & sua instituigho, pela aptectagio favorivel dela, contida na sua pretensa anélise sociolégica, A isto Pierucct acrescenta, para o caso do Brasil, uma arguta percepgio sobre "fronteitas borradas", “ilexibilizacéo” e “teinsico” entre o campo religloso € instituigées civis, gerando igrejas-empzesas ¢ adeptos-clientes (273), 0 que, para ele, agravaria o quadro de indefinigio sobre os limites de pertenga ao ‘campo religioso e cientifico, Como saida para essas limitagées, Pierucci, através de Bourdieu, recomenda ao socidlogo de filiacfo religiosa “assumir hem-analisadamente a prépria pertenca religiosa” (:277), objetivé-la, no sentido de também tomé-la objeto de sua andlise, "submeté-la a um esforco de objetivagio reflexiva’ (:277), buscando controlar seus efeitos para dentro da pesquisa, 86 desta forma seri possivel uma sociologia da religio enquanto critica - moderna e cientifiea — da teligito, liberca da condigo tradicional de vassal{@Sp aquela que fot por muitos séculos - ¢ ndo € mais ~ 2 instincia estrutoraliged da sociedade. Problematizando a problematica do autor Para compor sua andlise da produce académica das ciéneias sociais da religiio nos altimoy 25 anos, Pierucci elege um recone ~ a critica & perda de rigor académico devido aos Minteresses religiosos" dos socidlogos da religiio - e através dele desenvolve toda sua argumentagéo. Uma primeira indagacio me ocorte: de toda a complexidade e transformagées que se operaraim nas cigncias sociais € na sua aplicag’o ao fendmeno religioso nestes Gltimos 25 anos, seria este o grande dilema que se avulta na Area? TTodavia, o autor assume 0 caréter subjetivo € pessoal do seu balango (244), movido por um sentimento: “sentimento de insatisfagio com a insuficiéncia de commitmemt cientiico na érea” (:244), sentimento constante: “dem@nio que me ronda insistentemente, cronicamente, ¢ que vai perpassar de flo a pavio este balango encomendado pela diego da ANPOCS” (244). Sendo Antdnio Flavio Pierucei quem é, um dos autores de referéncia para a area das ciéncias sociais dda religiéo, suas inquietagées, “sentimertos” © *deménios" so, sem davida, indicadores de uma tendéncia na frea, especialmente quando estas inquictagaes sio traduzidas numa avaliacéo geral dela e expresses numa publicagio desse porte, sob a chancela da ANPOCS. De minha parte, sem intengio de estimular quslquer clima de polémica, também sem a pretenséo de propor um modelo analttico alternativo, passo, em n Religio Sociedade, Rlo de Janeiro, 21(1}: 67-86, 2000 seguida, a problematizar alguns pontos da argumentagio do autor, no sentido de alimentar o necessério didlogo para que se vf construinde uma interpretagio geral acerca das cigncias soclais da religifo no Brasil. Pois, quet se consagre a visGo de Pierucei, quer se a rejeite ou entdo, coteje-a com outras ¢ se produza uuma nova sintese, o importante € que o proceso esteja em curso. Rigor ou “Patrulhamento Cientifico”? Quando Pierucci retoma a caracterizacéo de “quem € quem” (catdlicos, protestantes e laicos) na génese do Conselho de Redacio de Religido e Sociedade, feita por Rubem César Fernandes em entrevista « Regina Novaes, comemorativa do 20° aniversério da revista ~ que, na intengio do Secretério Executive do ISER, nfo visava quelificar ou desqualificar 0 trabalho intelectual destes nas, tio somente tracer suas trajetSrias e procedéncias -, o faz consciente de que & uuma apropriagZo a servico de suas postulngdes: "Eu o li com forga” (:244), “nesta usurpacio IHp que opero na bela entrevista de Rubem Cesar, are sabe traindo-theBAspitito com os intencionais deslizamentos sem{ayjeos que introduzo” (245). Asgume também as “desculpas por aqueles momentos do texto em que [s}eus comentérios, por menos sutis ¢ complexos, [tenham sido] mais injustos com os métitos dos colegas” (:244). Contudo, isto nic o dd@fe de seguir em frente na sua démF} contra o que lhe aponts este seu “sentient”: a ameaga del{®5p da preseHGr de “interesses religiosos” na producéo cientiica da sociologia ReAreligiso, Pierucet dé como certo nos socislogos com confissfo religiosa a existéncia de vin “encavalamento de lealdades existenciais" entre ciéncia e religiéo; assim como um condicionamento ~ quase que natural — a “interesses religiosos": “os pesquisadores, eles mesmas so portadores de (..) interesses religiosos” (1246), pelo fato de pertencerem ao campo religioso e ni fazetem com isengio cientifice a crftica deste envolvimento (embora admita 0 autor que alguns deles realizem pesquisas dentro do rigor cientifico da sociologia ¢ antropologia). Como prov ‘material desta sua critica e dercincia, ele exibe a defesa “incontidamente jubilosa e celebrativa do ‘retorno do sagrado™ (:251) por uma grande parte dos “sociélogos religiosos” dedicados ao estudo da religiio no pats Passando ao exame de casos concretos e perfodos representatives, Pierucci aponta o fato de socidlogos ligados ao catoticismo produzirem anlises sobre Igreja Catélica e movimentos populares, elaboradas “a propésito do IV Encontro Intereclesial de Comunidades de Base (CEBa)” e apresentadas “em 1981 (..) no GT Religio ¢ Sociedade” da ANPOCS (:252), como um exemplo da contaminagéio por “interesses religiosos” do que deveria ser uma isenta produgéo cientifica. Néo apresenta sequer uma avaliagio substantiva sobre 0 contedido dos erabslhos mencionados ~ nem para dizer que estes também fazem propaganda do “retorno Da "Boo" ed 3 xdo” — apenas # mengio dos nomy& dos autores e de suas instituigbes: Luiz Alberto Gomez de Soyef do Centro Jodo XXII, Luiz Gonzaga eriey da PUC-SP”, alcunk{@] por Pierucci (252). Do mesmo modo, 2 refetéfteia 20 “duplo seat socllogo e protestante ~ ¢ a sua mengio ao fato de que o estudo do protestantismo sempre encontrou-se limitado aos préprios protestantes (:271) reforgam em Plerucel a suposigéo de quase uma contfiséio de César de que 2 sociologia do campo protestante feita por sociélogos protestantes resulta numa produgéo edificante da religiéo deles pr6pris. Desta maneira, a énfase demasiada ne identificagdo ¢ deraincia dos “sociotogos amantfssimos do valor da religito” (:238), das “ligagSes perigosas” entre ciéncia e religifo (242), da procedéneia confessional da “contaminagio religiosa de uma prética intelectual” (:247) — talvez por isto o belanco seja assumido pelo autor como “menos corporativamente solidério" (244) — resulta num produto por demais partidério, partisan, para 0 que deveria ser um grande painel de avaliagéo, no nivel das idéias. Tamabém a excessiva adjetivagéo utilizada com o fito de fronizar posigGes contrérias, para quem diz valorizar uma postura de rigor e distanclamento cientifico, income no risco de sair do terreno de uma apreciagio das grandes tendéncias tedrico-metodolégicas em jogo para cait no "combate militante” do “falso e verdadeito". Disso pode degenerar para a exposigao ¢ julgamento de consciéneias a pretexto de um compromisso com definigées corretas, 6 que uum certo intelectual da érea da cultura em décadas passadas nomeou de “patrulhamento ideol6gico”. Por outro lado, para manter uma coerézcia académica, esta “cobranga” epistemologica feita aos cientistas sociais com confissio religiosa, no limite, deveria ser estendida a pesquisadores com outras pertengas: uma militante feminista que faga uma antropotogia de género, um ativista negro ou gay que realizem pesquisas sobre comportamento étnico e sexualidade, todas passiveis de suspeigtio metodolégica e suas areas sob o risco de se torarem “impuras” academicamente. Instado a se pronunciar sobre © assunto, Jean-Paul Willaime, socidlogo e professor da divisio de ciénclas religiosas da Escola Prética de Altos Estudos, assim declarou: “(...) nfio concordo que um ateu (ainda que ‘apenas’ metodologicamente) ‘fuga’ methor as ciéncias da religiéo. (..) atitudes que so ppetmitidas aos demais cientistas patecem proibidas aos que se dedicam ao estudo da religiéo’. Prosseguindo, passa a relacionar, no sentido inverso de Pierucei, ccerias vantagens, que a sensibilidede de alguém do meio religioso pode fornecer para o estudo da religido: “a experigncia (..) ttpica da pessoa religiosa & fundamental para tum cientista compreender o que se passa com a religido. Nao ter uw Religho e Sociedade, Rio de Jancivo, 21 (1): 67-86, 2000 ess experiencia pode se tomar um importante limite intelectual pora compreender o sistema simbélico de sentido em jogo numa religiio espectfica. O cientista pode perder 0 foco da consisténcia propria da religiio e nfo ver nela neda além de um fendmeno social qualquer, no quel sua logica intrinseca especifica se dissolve nos reducionismos socials ou econémicos" Pessoalmente também tenho minhas reservas a essa posigio, que numa coutra ditegéo terminaria dizendo que s6 quem tem uma experiéncia (religiosa) rativa pode alcancar © émago da questo que estuda. Todavia, registro esta postora de inspirago fenomenoJ™Wja, para pontuar sua legitimidade, consisténcia representatividade nas citneiabetiais da religibo em Ambito internacional. ‘Outros questionamentos também podem ser levaztados a esta maneira muito rigida preticada por Pierucct de atribuir as principais fathas do fazer cientifico na sociologia da religito exclusivamente a falta de controle, pelos sociélogos, para com sua condicio religiosa, permitindo influéneins de crengas religioses no sew trabalho cientifico: por exemplo, se a “valorisacéo simpatizante do ‘retomo do sagrado" (Pierucei 1997:103) praticada pelos “sociélogos religiosos" se explica pela impossiblidade destes socislogos superatem, em suas anilises cientificas, sua pertenga a um credo e a uma instituiglo religiose, como, entéo, a *sociologia Ga sociologia da religiio" de Pierucci explicaria, também, que varios sociélogos relacionados por ele no ensaio “Reencantamento ¢ Desseculatizagaa” como figurande no rol desta afinidade com a idéia de “retorno do sageado” — destacamos dentre estes Alejandro Frigerio e Lisias Nogueira Negrio — nfo tenham nenhume relagéo confessional, nem dependam do consentimento ou usuftuam de henesses de instizuigdes religiosas? Mas Pietucci admite que, para sua critica das “interesses religiosos" dos socidlogos da religifo, “nfo se trata de saber se as pessoas que favem sociologia da religiéo (..) pettencem ou nZo a uina formacto teligiosa determinada" (:275); admite também que “hé muitos religiosos praticantes (..) profisionais da religiio (») convictamente religiosos (..) que, nfo obstante, praticam competentemente em ako nivel quer a antropologia, quer a sociologia da religito” (:247). Entio, se a questo de Pierucci nfo ests aferrada a um determinismo sécio-religiose — ppodlenco uns cientistas socials com pertenca religiosa (outeos no) estarem passfveis da illwio de julgarem-se “inseridos plenamente no campo cientifico e fora do campo teligioso, quando na verdade de M4 nunca sairam epistemologicamente falando" (-275) — trata-se, entGo, de um debate marcado pela subjetvidade, Isto coloca uma questo: qual instancia estaria hebilitada a estabelecer eritérios de cientificidade que auferissem que alguém com pertenga religiosa pudesse estar realizando ow nfo um trabalho cientifico? A “teoria da secularizagio", como sugere Pietueci? Isto me parece condusit de novo 20 terreno do patruthamento Da "Bice eda Mi vontade" para com a Regio n06 us entffico tio nocivo ao pluralismo teérico-metodolégica que caracterica as ciéncias sociais, quando, no limite, poder-se-ia chegar ao aforismo: “Fora da teoria da secularizagio, nfo hé ciéncias sociais da religidol”, apenas “iceologia religiosa” travestida de cincia social. Para escapar 20 dualismo desta polaridade convém lembrar que mesmo nos marcos da teoria da seculariancao, a questo da relagéo entre a crenga religiosa e posigfo social € extremamente complexa, nfo podendo ser reducida a um “a favor" do processo de secularizacéo, logo “néo comprometido com a teligiao” e, por outro lado, “contra” e, dessa forma, “comprometido com & religifio". “Corte espistemolégico” ou “fronteiras borradas”? Fica perceptivel, para quem lee este ¢ os dois outros ensaios de Pierucct mencionados acima, que ele parte de um locus teérico — a teoria da secularizacio = para a realizagio do seu balango das ciéncias sociais da religido no Brasil. E 6 set compromisso com essa perspectiva parece tio fundamental que, na petiodizacfo e tipologia estabelecidas neste balanco, ele termina por tragar uma espécie de “corte epistemolégico” entre uma sociologia/antropologia realizada por cientistas sociais com confissfio teligiosa, a servico de demandas de agéncias eclesidsticas, logo “impuramente académiea”, e outra, gestada em ambiente universitario - a Escola de Sociologia e Politica de Sao Paulo — através de pesquisadotes laleos ~ como Candido Procépio Camargo e Beatriz Muniz de Souze - referida como o isromper de “vide inteligente e sofisticagio intelectual” tna sociologia da religiao brasileira (:261). Sociclogia esta s6 sendo possivel de set realizada devido & *medanga social, logo mudanga religiosa (..) naquela conjuntura — cuja resultante (..) era uma sociedade de cultura plural (..) Com este mote estava definitivamente aherto na academia o caminho (...) pata fa pesquisa cientffica em sociologia da religio” (:260). Evidencia-se, no pensamento de Pierucci, que a condigo para existéncia e possibilidade de exercicio de uma sociologia da religifio esti subordinada ao éxito do proceso de secularizagao, A presenca de indicadotes do processo de seculatizagio, através de seus agentes ¢ iniciativas, mesmo. em instituigées e agéncias ecleststicas, pode transmuté-las e conferir ao seu trabalho foros de cignela. Tal & o caso do estudo Kardecismo ¢ Umbanda: wma interbretacdo socioldgica, de Candido Procépio Camargo, que, mesmo com “inspiraco e financiamento catélicos (..) realizada (..) sob a diregio de um sacerdote belya, o cénego Frangois Houtart, diretor do CRSR (Centre de Recherches Socio-Religieuses) de Bruxelas/Lovaina” (:260), garante ~ pelo seu executor, Procépio Camargo, € pelo método que empregou = um produto de carter cientffico, a despeito dos “interesses religiosos" naturals 6 oligo e Sociedade, Rio de Jancizo,21(1) 67-86, 2000 da instituigo promotora, Também a editora Vores € saudada por Plezuesi como “uma editora catélica entio em fase risonha e franca de secularieagio de seus titulos” (grifo meu) (:269). © dualismo entre uma sociologia eivada de “interesses religiosos" e outra orientada por critérics cientificos, que leio s0 longo desta avallacio de Pierucci, parece ser relauivizado por ele mesmo quando, ao comentar sobre o caso acima itado da pesquisa de Procépio Camargo, a situa em meio a uma “constelagdo de interesses”: “inspiragio e financiamentos catélicos para uma pesquisa académica sobre espititismo (kardecista e umbandista), fevada a cabo no interior de uma universidade laica por um ex-catélico, agnéstico: eis a constelagso de interesses que presidiu & Largada” (:260). ‘Ao meu ver, este processo de miltiplas combinagées torna-se mais claro quando Pierucei reconhece, no Brasil contemporineo, que as fronteiras entre as alteridades religiosas ¢ laicas se encontram cada vez mais “imprecisas”, “eldsticas” e “borradas” (:273). Esta tendéncia tio bem detectada por ele, no entanto, demanda uma compreensdo (verstehen) deste espitito de época que parece envolver nossa sociedade. Portanto, para além do método clissico do conhecimento, do stujeito cognoscente ¢ do objeto cognosctvel, a nova configuragio societaria clama por uma “epistemologia altemativa” (Velho 1998:15). Deste modo, dentro dos miltiplos arranjos sécio-culturais produzidos pelo transito e interpenetragdes dos individuos nos campos teligioso, politico, académico, etc, como bem visualizou Pierucci, redundaria reducionista uma interpretagio que se fixasse em apenas um vetor: o “contrabando” de idéins numa via de méo iinica, da religiéo & ci€ncia, ‘Convém lembrar que nesta dindmica social das “fronteiras borradas” ocorre um fluxo migratério de conceitos, idéias e formulagdes de uma érea A outra, num constante vai-e-vem; dentre estas, as que migram do nicho da ciéncia em dlicegéo a0 mundo da religiio. Basca fembrar a explicita inluéncia do marxismo na “teologia da libertacio” catdlica, ou, de uma maneira mais geral, a capacidade que tem “para o bem ou para o mal” o pensamento cientifico de produsir seus efeitos no meio religioso a pretexto de estudé-lo. Como chamou atencio Léa Perez, recorrendo ao antropdlogo Roberto Motta, “tudo se passa como se atacar [determinadas relies] correspondesse no pensamento dos intelectuais (..) ao gue Roberto Motta (..) chama de bem pensar do intelectual que (..) realiza uma espécie de santa-alianca com um certo néimero de religides e, acrescentla ela], declara guerra santa a outras (..). Ele (..) caracteriza os intelectuals como ‘doutores da fé', uma vez que ‘ordenam e classiffcam os ritos € mitos seguindo um logos derivado da ciéneia « filosofia européias” (Perez 1996:12).. Da "Boa" eda "Mi vontade" para com a Regio nos n Isto nos remete a Pierre Bourdieu quando diz que a teoria cientifica nfo funciona apenas como “um programa de percep¢io da realidade”, mas, devido a0 poder estrunsrante de suas palavras, conserve uma “capacidade de prescrever sob aparéncia de descrever, ou de denunciar sob a aparéncia de enunciar” ourdien 1961:69). Também Vagner Goncalves da Silva, citado por Bernardo Lewgoy, destaca que sio “os préprios fiéis das religides afro-brasileiras que comegam a utilizar- se das etografias para legitimar publicamente suas crencas (. Vagner relatou que, em debate inter-rligioso, (..) 0s representantes das diferentes linhas cristis brandiam a bfblia dizendo ‘este € 0 meu livro'. Em resposta, 0 representante das religiGes afro-brasileiras sacudiu o livro de Bastide dizendo ‘e este € o meu livro”(Lewsoy 1998:95}, Sintomaticamente, Orfivio Velho aponta a obra de Roger Bastide como exemplo de como “o controle que se tem sobre as recepydes & que esto sujeltos rnossos trabalhos é minimo” (Velho 1998:14). E que esta polissemia em toro da recepgio miiltipla do texto socio-antropolégico ajuda a instituir “uma nova critiea que abandone () a iusto do texto em si, implicando em “uma organizagio mais complexa do nosso saber ¢ das estruturss que o apolam” (14). Diance da hierarquizacdo entte um conhecimento cientifico puto ¢ a religiéo enquanto objeto deste conhecimento, preconizada por Pierucci, Otévio Velho propae, no seu instigante ensaio intitulade “O que a Religifo pode fazer pelas Ciéncias Socinis?” (1998), a “comunicacdo” e didlogo entre as duas esferas, para se aleangar uma "proximidade” e “semethanga”, que significa nem “aposigfia” nem “identificagio", nem visa “congelar as diferengas” entre ambas (:13). Para tah © cientista social “deve abdicar da pretensio a uma posicio privilegiada’’ (G12) face a0 conhecimento religioso, quando “critérios de rigor ¢ de discipline tero que ser mexidos" (:13). Onde Pierucei reprova nos “sociélogos religiosos” uma “dificuldade séria de demsrcar o contraste com a nao-ciéncia, de se demarear reflexivamente” gerando “dificuldade correlata de saber se os autores no estariam na verdade falando sobre si-mesmas” (grifo meu) (237), Velho vé como uma abertura o se “deixar afetar pelo native” (no caso em foco: pela poredo nativa que existe em cada socislogo afim com a dimensio religiosa), pressupondo que este “tenha algo a nos ensinar. No apenas sobre ele mesmo, ‘mas sobre nés* (grifo meu) (+12). Para Velho, o cientista social pode “experimentalmente usar outras epistemologias [inclusive religiosas] para interrogar a sua e outras sociedades” (:15), como no “exemplo [que] revela o lugat central da religido nessas grandes questées” (:15) da distingo entre self e ego proveniente Ha Religitoe Sociedade, Rio de Janeto, 21 (1) 67-86, 2000 dos diversos “orientalismos", que pode complexificar as discusses académicas a respeito do individualismo moderna (115). “Desprestigio académico” ou questio de “mudanga de paradigmas”? Em algumas passagens do seu texto, Pierucci ressalta a falta de prestigio académico da dtea da sociologia da religido (:239, 266) devido & desconsideracio, pelos profisionais que a compéem, do “método cientifco, rigor cientifico, validade cientifica (..) de cientificidade e objetividade na prética das ‘ciéncias’ sociais em geral” (:239) e de sua relutancia “em seguir as regras do jogo do campo cientifico” (239), insuficiéncta justificada pelos *socidlogos religiosos” como recusa a um “positivismo” imperante (:239). Pata marcar a falta de credibilidade da rea no meio cientifico, Picrucci recorre ao cotejo com o que considera como o paroxismo de cientificidade, as cifncias duras: “se para o oficio do cientista social tout court, tem sido complicado conseguir das ciéncias duras, exatas (..) 0 reconhecimento de sua legttima pretensfo de cientificidade, 0 que dizer desse obscuro & marginal offeto de socidlogo da religido?” (:238). Contudo, come indica Vetho na seguinte passagem, também as ditas cffneias exatas nao podem tanto ser consideradas como modelos rigidos © seguros de regularidades no processo de conhecimento, pois parecer viver um momento de intensa transformagio nos seus pacadigmas: “Impressionou-me a radicalidade de nossos ‘hart-scientists' nacionais estrangeiros, Por umn lado, est colocada a idéia de que a ciéncia experimental (...) no estudo dos estados de consciéneia deveria apelar para os conhecimentos advindos de outras tradigdes, como por exemplo o budismo ¢ 0 xamanismo (...) por outro lado (..) 3¢ ptopde que um estado de consciéneia s6 pode ser conhecido em profundidade quando o observador encontra-se no mesmo estado de consciéncia (...). Parece que nossos coleges de outras étcas, aparentemente mais ortodoxas segundo um modelo genérico de ciéncia, sentem-se mais & vontade para se permitirem ousadias raramente contemplacas com. bons olhos entre 0s cientistas soctais" (Velho 1999:3). Segundo Pierucci, o “desapreco pela distintividade da cincia e do método cientifico” tem rendido & sirea uma: baixa na sua credibilidade clentifica, que 1 toma “pouco prestigiadfa] no ‘meio™ e portadora de uma “déhil institucionalidade académica” (:239). Esta conduta tem levaclo os socidlogos da religiso a constituirem-se num “cfrculo estreito de interessados (...), escanteados nessa Pequena nebulosa. sem poder de fogs” (:239). Porém, as prdprias palavras de Da "Bose da"Mé vontade" para com s Religtio nos. ” Pierucci, em outro trecho de sua andlise, parecem contraditar 0 quadro de fsolamento e descrédito pintado acima: “érea em que por sinal a produgo $6 tem feito crescer quantitativamente nos iltimos anos a uma taxa superior & de diversas outras subéreas da sociologia” (:238). Estas palavras precisas do autor dispensam-me de estender consideragdes sobre a vitalidade da produgao € pesquisa na tea, apenas mencionendo ~ para niio falar dos Grupos de Trabalho sobre Religiio na ANPOCS e na ABA ~ 0 evento das Joadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina ¢ de sua cortespondente Associagio dos Cientistas Sociais da Religiio do Mercosul, onde ocortem, com a regularidede de um ‘encontro anual, um sem-niimero ~ quantitativa e qualitativamente falando ~ de conferéncias, mesas-redonclas, comunicagdes € cursos dentro do clima de isengio € rigor face ao fendmeno religioso, como reclama Pietucci. Em que pese a mengio, por Pierucci, do surgimento e consolidacio nos anos setenta de um campo de estudos das cléncias sociais da religiso junto com constituigao de um aparato instituctonal para The dar suporte ~ criago do Setor de Religifio no CEBRAP fondagio do ISER na UNICAMR, do CER na USP e criagko da revista Religito ¢ Sociedade e, em seguida, dos Cademos do ISER (:264-5) — este campo e seus institutos so colocadas pelo autor num grat: de inferioridade em relagio cutras instituigées e sub-éreas das ciénelas sociais brasileias: “Em sf consciéncia, ninguém vai dizer que o setor de religiio do CEBRAP fosse a parte mais nobre daquela instituigio (..), ninguém pode dizer que o ISER € 0 CER tenham nalgum momento gozado de tanto prestigio intelectual quanto outros centros de pesquisa em cigncias sociais como 0 CEBRAR 0 TUPERJ, 0 CEDEC, o IDESR etc. © mesmo se poderia dizer do. GT sobre Religifio no conjunto de outros GTs da ANPOCS” (p.266) Para Pierucei, “a sociologia da religiio continuou tendo importéncie secundaria (..).exilada do centro das atengoes da cena cientifiea”. (:266). Trata-se, na realidade, de uma falta de prestigio da drea das ciéncias socials da religifo frente A comunidade cientifica ow a avaliago de Pierucet sugestionada por um sentimento que ele diz presidir sua andlise da érea no esté a softer de um erro de avaliagéo em relagio A “especialidade disciplinar & qual tem] dedicado (..) grande parte de [eua] vida de socilogo”? (:238). A julgar pela presenga da Sociologia da Religido - ¢ da Antropologia das Religides — nos tomos de O que ler na citneia social brasileira (1970-1995), combreadas com as demais sub-éreas das cléncias sociais brasileiras, 0 veredito de Pietucci resulta infundado. No que tange & presenga de pensadotes, tedticos, também esta érea possul tantos virtuoses — para usar um termo weberiano, tio 80 Religito e Sociedade, Rio de Janeito,21(1): 67-86, 2000 ao gosto do autor ~ na mesma estatura intelectual dos das outras sub-éreas das ciéncias socigis, ¢ para nfo citar nomes, posso ficar apenas com o do pt6prio Anténio Flavio Pierucci, pesquisador reconhecido e respeitado nas mais significativas instancias das ciéncias sociais brasileiras - membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Ciéncias Sociais e escothido para redigir essa andlise da produgéo académica da referida Srea pela Associacio representativa dos cientistas sociais brasileiros ~ devido 20 reconhecimento de todo um trabalho realizado na “especialidade cientifica que escolh[eu] como métier” (238). Discutindo 0 caso francés, Danigle Hervieu-Léger considera que “a ‘marginalidade evencuai dos socidlogos das religises na comunidade sociol6giea podria bem se dever nko & particularidade de seu objeto, mas 20 estatuto de exceqdo que eles mesmos reivindicam para sua disciplina, quando colocam que sua definigio € impossfvel” (grifo meu) (Hervieu-Léger 1993:48). Se a leio corretamente, perso que menos que uma inferioridade, esta autora coloca a ‘questo em termos cle uma particularidade ou especifcitade dos socidlogos da religlio franceses em relagio aos seus pares de outras areas, devido a uma caracteristica desta rea de estudos: “sta dificuldade de delimitar 0 religioso, de isolé-lo, de assinalar 8 indicadores permitindo especifed-lo em relagio a outros fendmenos, colocaria os socidlogos das religi6es em uma posicéo particular em relagfo aos seus colegas especialistas de outros objetos” (grifo meu) (1993:48). Por outro lado, a razfio do sucesso ou do ocaso de teorias ¢ teméticas nas comunidades cientificas e na sociedade em geral ~ como no mencionado desprestigio que Pierucct imputa ao campo das citnetas soctais da religiio dentro dda Sociologia no pafs — envolve quest6es muito mais complexas do que uma “coreeta” colocagéo desta teoria dentro dos “ctnones cientificos” vigentes — como estudou ‘Thomas Kuhn na sua perspectiva da mudanga dos paradigmas (Kuhn 1987). Da “crenga dos sociélogos das crengas” a0 “senso comum douto” em Pierre Bourdieu Penso que, mesmo dentro de uma 6tica bourdiana, Pierucct superdimensiona, para a rea das cifncias sociais da religio, impasses tebrico- metodol6gicos do offcio do sociélogo, que estéo presentes de uma forma genetalizada no campo das ciéncias sociis. Convém lembrar que » adverténcia de Bourdieu nfo se circunsereve apenas 28 “erengas dos sociélogos das crengas"; ele a estende a todo um “senso Da Boa" e da "Ma vontade" para com a Religito nos. 81 comum douto” repradusido por socidlogos-amadores, que, a pretexto de objetivar © conhecimento social, terminam por transcrever 0 discurso ¢ @ auto- representagio das grandes instituigdes de prestigio na sociedade. H4 aqui, sem diivida, um "Jogo duplo” & merc® das “gratificagdes compensatsrias” conferidas pelas instituigées do poder “ao sociélogo que soubefs} dar uma realidade objetiva = piblica ~ & representagio subjetiva que elas tém do seu proptio set social” (Bourdiew 1989-41). Para Bourdieu, a “sociologia reflexiva” ~ 20 contrério de uma “sociologie ordinaire”, reiterativa do discurso prestigicso ~ deve buscar desvelar os interesses, colocados em suspenso, através das representagdes acerca de si, difundidas pelas instituigdes consagradas da sociedade, Para tal, a sociologia deve por em causa 4 si mesma, enquanto também interessada e envolvida no processo, quando, através de sua “ret6riea de objetvidade”, estabelece uma “visto redutora e parcial” ~ por adesio ou concorréncia ~ do objeto com o qual ela se envolve. Desta maneira, a necesséria “sociologia dos socidlagos” no deve se restringit # uma “sociologia da sociologia da religtio” voltada para si mesma, mas situé-la a partic do “espago universitétio, como (..) campo de forcas € campo de lutas para conservar ou transformar este campo de forgas” (:52); campo académico este, que, por sua yer, interage com o campo politico ou 0 campo religiaso, do qual € muitas vezes concorrente, “mals ou menos diretamente envolvido em sivalidades com eles, mais ou menos tentado a entrar no jogo (..) com aparéacia de o objetivar” (grifo meu) (57) Nesse sentido, aconselha Bourdieu, para evitar de “fazer da sociologia uma arma nas Tutas no interior do campo em vez de fazer dela um instrumento de conhecimento destas lutas” (52), toma-se imperioso ao socislogo uma “tomada de conscigncia des atitudes favordveis ou desfavordveis que esto associndas 2 suas caracteristicns socials, escolaves ou sexwas” (grifo meu) (51) — "interesses" em geral ¢ no apenas “interesses religiosos” como a pertenca € promogio de credos — para que ele busque um controle do seu bids ¢ nfo transporte para a pretensa retsrica de objetividade preferéneias ov animosidades. No meu entender, nao sio apenas “envolvimentos afetivos-existenciais com 0 objeto de pesquisa aque podem afetar seriamente os resultados (..) objetivos e pretensdes da pesquisa cientifica” (Pierucct 1999:264); mas, também, preconceitos, ressentimentos, “contas a ajustar®, concorréncias (inclusive dentro da esfera “afetivo-existencial”, mas na razéo inversa do sentido proposto por Pierucci, de “interesse religioso", cripto-adesio € propaganda subliminar religiosa), que podem se esconder por detrés de roupagem cientifleista, “positivista? (Pierueci 1999:239) © — porque nfo? — de um “diseurso competente” como frisou, hé algum tempo, Marilena Chauf (1978:3-13). Portanto, 0 risco de fazer uma sociologia interessada nfo esti em fazé-la apenas no seu préprio universo, mas também no universo concortente ou ho set. 2 Religto e Sociedade, Rio de Janeito, 21(1) 67-86, 2000 antigo territétio, e isto “pode ser a maneira mais perversa de satisfazer, por ccaminhos sutilmente desviados, esses pulsées reprimidas. Por exemplo, um ex- tedlogo que se fez socislogo pode, quando comeca a estudar os tedlogos (..), servir-se da sociologia pata acertar suas contas de teélogo” (Bourdieu 1989:51). Fechando um balango do Balango Geral de Pierucci Para dizer algumas palavrss sintéticas em direcéo a uma conclusto deste comentério: a “sociologia da sociologia da religtio” brasileira dos tltimos 25 ‘anos operada por Pierucci, no meu entender, resulta um tanto unilateral, pois centrando seu foco prioritariamente nos ditos “interesses religiasos” dos saci6logos da teligiéo, termina por desconsiderar outras facetas da mesma ordem, como, por exemplo, o inverso disto: possiveis interesses concorrenciais dos socidlogos @ esfera institucional religiosa, implicando em uma anilise desfavorsvel da religiéo sob 2 capa de um discurso cientifico e abjetivo. Outros autores construfram seus balangos académicos sobre 2 produgio litetétia das ciducias soctais da religifo identificando probleméticas estruturais, tendéncias de época, interferéncias de dimensées societérias ¢ culturais nesta produc, como: a colocagio dos dilemas internos a érea das ciéncias sociais da religiio dentro da impossibilidade de comunicagSo entre seus diferentes enfoques dlisciplinares (Montero 1999:327-367); a perspectiva do “entrosamento entre as pesquises de religiio no Brasil © 0 quadeo ideol6gico dentro do qual elas emergiram (..) indagando acerca das condig6es sociais e poltticas que fizeram com que a construcio cientifica do objeto religiio se tenha dado de forma como se deu © das tastes de suas sucessivas metamorfoses" (Alves 1978:110); € a desconstrugdo de uma dicotomia tigida entre “teligiéo popular” “religito erudita” nos estudos académicos que romanticamente qualificavam a primeira e desqualificayam a segunda (Fernandes 1984:3-26).. Os estudos de Alves ¢ Fernandes sio reconhecidos pelo proprio Pierueci como balangos pfoaeiros "visando a um reassessment crftico © a uma mise en perspective da producao literdria brasiletra em cigncias sociais da religiio” (1999:250), assitn como também salienta o levantamento de Solange Rodrigues que *saiu publicado em bos hora pele revista Religiio @ Sociedade” (1999:250). Ineeressante notar que, spesar de Alves ¢ Fernandes colocarem seus bbalangos da proxiugdo académica da rea das ciéncins socinis da religio em um ‘espeetto amplo, mosaico de temas e comunidades de problemas em constante processo de mudanca (clivagem entre religites eruditas e populares, hierarquia € igualitarismo nas religides, movimentos messianicos,religides populares, relagbes [Da "Boo" eda "Ms ventade" para com Relgiio nos. 3 entre a teligifo € as classes sociais, entre as Igrejas e 0 Estado, além do cléssico percurso pelo catolicismo, protestantismo ¢ religibes afro-brasleiras), o teor geral de suas conclusdes colocaria ambos, na visto de Pierucei, enquanto movidos por “interesses religiosos”. Pois no caso do ensaio de Fernandes, suas palavras conclusivas expressam um nftido sentimento de inconformismo diante do que chama de “processo de substituicio da religiio pela politica” operado pela racionalidade laicizada e identificam sinais de esgotamento ¢ falta de perspectivas renovadoras neste processo, assim como vislumbram que um “retorno do misticismo entre as pessoas letradas (..) hi de ter consequéncias para a pesquisa cientitica” (Femandes 1984:14). E no caso da avaliagio de Alves, este destaca # teabilicagio da teligido: de “fendmeno exético, ircacional, conservador € arcaico” & “sua captacéo como fendmeno politicamente significativo’, em meio & crise da *ciéncia pura e da cultura erudita (..), fdolos que a comunidade cientifica havia erigido como absolutes” (Alves 1978:141-2), No que tange ao ensaio de Paula Montero, este € um balango para rea da Antropologia, similar ao realizado por Pierucci, na mesma colegdo em que esté.o seu ensaio, Nele, a autora situa “a literatura recente a respeito das religides no Brasil [como] (..) nitidamente estruturada a partir de recortes disciplinares bem Gemarcados, com poucas zonas de interconexio € dislogo (.) pade[ndo]-se localizar 0 campo de uma sociologia da religtio, seja de inspirago weberiana, seja em didlogo com 0 marxismo, © uma antropologia das religises de inspiragio durkheimiana e (...) bastidiana” (Montero 1999:330). Essa comparrimentagio disciplinay, devectada pela autora, “acompanhe-se de uma certa especializagio religiosa (..) [onde] a sociologia weberiana ocupa-se das religides protestantes, a matxista, das relagdes entre Tgreja envblica, Fstado e sociedade, enquanto a antropologia dedica-se A anélise dos ritos, crengas © préticas da religiosidade dita ‘popular’ (..) as religides afto-brasileiras (..) fe | catolicismo popular” (:330). Para a autora, desta forma “fracionado”, o campo de estudos fica “ineapaz de construis uma problemética que associe uma leitura fina dos processos de significagio a anélise das determinagGes mais estruturais que orientam a acio social” (347), carecendo de uma “imaginagio te6rica renoveda” que permita “uma convergéncia disciplinar entre antropologia ¢ sociologia, ao fazer coincidir religiéo e modernidade” (:338). 24 Religio Sociedade, Rio de Janeiro, 21 (1): 67-86, 2000 Conelusio ‘Sem pretender qualquer defesa corporativa da érea, nem “tomer as dores” de pesquisadores e instituigdes alvos do balango critico que © proprio Pierucci cchamow de “menos corporativamente solidétio” (:244) — pois apenas uma viséio estreita e tacanha poderia acusé-lo de arrvista, “quinta-coluna’, de “jogar contra © seu préprio time”, pelo alerta contundente ao que considera esta séria deficiéncia que perpassa a rea das ciéncias socinis da religiio — mas, também, sem estar convencido das postulagdes do autor, pelo menos no nivel em que as coloce ~ pols nfo hé como discordar que dificuldades com a falta de rigor cadénico € distanciamento ciendfico existem de forma generalizada nesta ¢ em coutras sub-dceas das cincias sociais -, considero que a avaliagio produzida por cle pode ser citcunscrita como mais um indicador de boudeversement, dinamismo, vitalidade dentro da reflexo do campo — des cigncias sociais em geral e das ciéncias sociais da religito em particular, que cresce ¢ se alimenta dos dissensos © controvérsias, Referéncias Bibliogréficas ALVES, Robem A, (1978), “A Volta do Sagrado: os Carsinbas da Sociologia da Relig no Bra Relgao ¢ Seciedade, 3: 109-141, BOURDIEU, Pierre. 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Aextensdo em niimeroe vatiedade das “uovas religies", com sua roitividade, levam a um declinio do compromisso religioso ¢ © impedimento de eetrussraso de grandes religides hegemdnicas logo areligio torsanéo-so spenss um item de consumo, sem consequéacias para as instituigdes sociais e estuturas de poder (Pierucci 1997), Se 0 leio bem, pereabo om recente artigo de Piorueci, uma cert Mexibilizagio no seu argumento ‘qvando assume uina aberture para a ida de reencantemeno, no sentido da preseaca mdgica & cexporinc'as mistieas emiutidasnas encase priticas emergentes com deslobramentos para vida sociale cultural: “posso até mesmo falar em reencantariento—ndo orsiomo. um mundo encantado, ‘eo sentido unr weiénoia moder disipou Je uma ve por todas,mas.sin¢ o-sba remagitieayfo ‘docarnporeligiso, de oferta rligiosa,” ("Religigo” em Caderno Mais-"MilBni para nicizntes, Um ia para entender o futno”, Folk de Sto Paulo, 31.12.2000, 9.21) 2 "0 Enfraquosimento do Protestantism" - Entrevista com Jean-Paul Willaime, Luiz Felipe Pond, Caderno Mais, Folta de Sto Poxto, 21.01.2001, p31 ste grupo parece compor parte sinificativa, “waciga preseusa” entre os socidlogos da religito (238), pois se assim ndoo Toss fron as cits socias de eligi nao estara,segunde Pieruec, ‘io muaginalizada frente 20 campo cienifico ee “imporamenteacadémica” A presenga da Sociologia da Relig em outeasinstincias da esfora a cuftura~ mercado ediorale ‘grand>impronsa om que Pieruocisstve envolvido e que demonctram a importincia desta trea de ‘canhocimento ia evidenciada nes seguintes casos: publicero pela conceituada eitora Compania das Lotras do Livro das Religides de antoria dos esritores Vitor Heliem, Henry Notakere Jostein ‘Guard, que conta com um apéndice& edo brasileira, initulado “Ae Religiesno Brasil” redigido por Pierueci_ sclicitayio pelo rscanhecido érgo de imprensa Fotha de Sao Paulo a Picruec pata Figuear es andlises sobre fenBeneno rligioso no pas: “Guerra Santa” no Especial de 22.10.1998, {que conta com uma entrevista com ele sobre os pentecostas, inttulada "Novas igseas trocam étice pela migioa”;« matoria “Fim da uigo Estado-Igreje ampliou aferta de religides” assinada por ele no Especial iniulado “Busca pela Fé", de 26.12.1999, como também o rtge sobre a Religito no Caderno Mais de 31.12.2000, nttulado * Milenio para Inciantes. Un: guia para entender o futuro”. ‘Obelango de Solange Rodrigues, ntitulado “Trabalhos apresentados no GT Religie Sociedade da ANPOCS (1980-1997)",publicado em Relig e Sociedade, volume 18, imeto2 de 1997, embora ‘aprosene um quadro panoriimico scbre os distntos temas roligiosas abordados pelo G7, reflte 86 Religiioe Sociedade, Rio de Janeiro, 21 (1): 678 2000 sobre um sspecto mais particular desta temtica: 0 delineamento de “ama nova problemitica no ‘eurmpo intelectual braieiro, cyj eixo de andlise era 0 deslocamento das relagbeshistoieamente cstabelecidas nice Jereja Catli e sociodede brasileira”, quando “uroaparcea significative dos ‘estudosrealizados desde acusle petiodo referents ds comunidades eclesiais de base (EBs) enquanto tum forma peculiar de presensa ce grea Catblica entre as classes populates” (Rodrigues 1997157) Tnformamosagui que, na mesma perspective de balengo da produto académica, Religido e Sociedade publicow um outro argo, de Sonia Ferrer, inttulado “Os estudos de religito no dietério dos ‘Grupos de Pesquisa ée CNPq, 1997", no volume 20, nimero 2, de 1999. "No caso do balango de Rubem Alves, a aprecizeda que dele faz Pieruoci 6a seyuinte: “Bjé que se trata agul de fazer retroypectiva, cunopre registrar que essa (pseudo)empiria com vistas a valor igo vem sendo praticada em nosso pals hi pelo menos vinte anos, como demonsts este artigo-balango que Rubem Alves publicou no 1.3 de Religdo & Sociedade, em outubro de 1978" {¢251)- Quanto ae balango de Rubom César, ni hi consideragSes do socibloge paulista na sua “sociologia da sociologia da religiéo” publicada no livro da ANPOCS. | Recebido em jencizo de 2001, ! Marcelo Camurca Doutor em Antropologia, professor do Programa de Pés-Graduagio em Cie cia da Religiéo (PPCIR} da Universidade Federal de Juiz de Fora (UEJF). E-mail: meamurca@artnet.com.br

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