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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SANTO ANTÔNIO

Rua Prefeito Edmilson Severiano de Melo, 10, Centro


Santo Antônio-RN, CEP: 59255-000 Tel: (84) 3282 4935

O presente instrumento é celebrado entre o MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DE RIO GRANDE DO NORTE, neste ato
representado por Emanuel Dhayan Bezerra de Almeida, PROMOTOR DE
JUSTIÇA DA COMARCA DE SANTO ANTÔNIO, doravante denominado
MPRN, e DARIO JOSÉ DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, CPF n.º
131.203.794-68, empresário idealizador do evento denominado “SÉTIMA
ETAPA DO CIRCUITO ASSOVARN 2016” e PAULO DE MORAIS
SALDANHA, brasileiro, casado, CPF n.º 655.288.594-68, comerciante,
Presidente da ASSOVARN – ASSOCIAÇÃO DOS VAQUEIROS AMADORES
DO RN, doravante denominados “Promoventes”.

O MPRN e os Promoventes, firmam o presente TAC – Termo de


Ajustamento de Conduta, que regulamenta o evento “SÉTIMA ETAPA DO
CIRCUITO ASSOVARN 2016”, de acordo com os termos a seguir
acordados.

CONSIDERANDO a afirmação histórica dos direitos dos animais,


sedimentando o entendimento de que, embora não sejam racionais ou
detenham consciência como os humanos, são seres vivos sencientes, isto
é, que detêm senciência – “capacidade de sofrer ou sentir prazer ou
felicidade” (SINGER, Peter. Vida ética: os melhores ensaios do mais
polêmico fi lósofo da atualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p 54);

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CONSIDERANDO a Declaração Universal dos Direitos dos Animais,
proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas, em 27 de
janeiro de 1978, consoante a qual “O homem, enquanto espécie animal,
não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou explorá-
los, violando este direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a
serviço dos outros animais” (art. 2º, “b”);

CONSIDERANDO que a Constituição Federal assegura a proteção da


fauna e da flora, vedando “as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais a
crueldade”, constituindo a defesa animal atribuição do Ministério Público
não somente sob a óptica da proteção da fauna enquanto componente do
meio ambiente natural, mas também sob o prisma da dignidade e bem
estar dos animais enquanto seres sencientes, inseridos num meio
ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput e § 1º, VII);

CONSIDERANDO serem os direitos dos animais interesses de caráter


difuso, cuja proteção autoriza a utilização pelo Ministério Público de
instrumentos processuais para sua defesa em juízo, como a Ação Civil
Pública, e de mecanismos como o Inquérito Civil, a Recomendação e o
Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, para sua defesa
extraprocessual, sem prejuízo da Ação Penal na hipótese de crimes
ambientais, em especial o tipo previsto no art. 32 da Lei 9605/98 (“Art.
32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de
três meses a um ano, e multa”);

CONSIDERANDO que em situações específicas de embate entre


manifestações culturais envolvendo animais e o meio ambiente, a posição
do STF foi favorável aos animais, como nos casos de briga de galo no Rio
de Janeiro (ADI 1856) e farra do boi em Santa Catarina (RE 153531). Já o
sacrifício de animais em cerimônias religiosas tem apresentado
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divergências em outros tribunais. No entanto, no contexto das vaquejadas
percebem-se distinções capazes de classificá-la ora como prática
esportiva, ora como crime ambiental de maus-tratos, a depender do ponto
de vista abraçado.

CONSIDERANDO o recente julgamento do Supremo Tribunal Federal (ADI


4983), que declarou a inconstitucionalidade de Lei do Estado do Ceará
relativa à Vaquejada, em sede de Controle Concentrado de
Constitucionalidade, restrito, por sua natureza, a aspectos legais
específicos da norma posta em julgamento;

CONSIDERANDO que o recente posicionamento do Supremo Tribunal


Federal na ADI 4983 não teve o acórdão publicado, oficialmente;

CONSIDERANDO que o evento “SÉTIMA ETAPA DO CIRCUITO ASSOVARN


2016” estava programado desde janeiro de 2016 e vai ocorrer nos dias
14, 15 e 16 de outubro de 2016.

RESOLVEM:

CLÁUSULA 1ª – DO OBJETO

O presente TAC tem como objeto a regulamentação do Evento “SÉTIMA


ETAPA DO CIRCUITO ASSOVARN 2016”, idealizado e realizado pelos
Promoventes.

Parágrafo Único: Por esse instrumento, os Promoventes comprometem-


se a observar não apenas as regras aqui contidas, mas também aquelas
definidas pela Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ) e pela
Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Quarto de Milha (ABQM).

CLÁUSULA 2ª – INSPEÇÃO PRÉVIA

Todos os animais participantes do evento, sejam equinos ou bovinos,


passarão por prévia análise veterinária, que verificará suas condições
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físicas, de modo que só seguirão para a competição aqueles aprovados,
livres de quaisquer impedimentos.

CLÁUSULA 3ª – PLANTÃO VETERINÁRIO

Os Promoventes garantem que haverá Médicos Veterinários de plantão por


todo o período do evento, assim considerado o lapso compreendido entre
a chegada do primeiro bovino e a saída do último. Estes profissionais
atenderão prontamente a toda e qualquer emergência, bem como
garantirão o chamado “bem estar animal”.

CLÁUSULA 4ª – GARANTIA DE DESCANSO AOS BOVINOS

Os bovinos participantes do evento correrão em dias intercalados,


restando vedada a sua utilização em dois dias subsequentes.

Parágrafo único: Para efeito de controle, ao final do dia de competição


os animais utilizados serão identificados por tinta específica e passarão
por análise veterinária.

CLÁUSULA 5º – DAS REGRAS GERAIS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS

Deverão ser observadas as seguintes regras na “SÉTIMA ETAPA DO


CIRCUITO ASSOVARN 2016”:

I – É vedada a utilização de luvas de prego, ralo, parafusos, objetos


cortantes ou qualquer equipamento que possa danificar a maçaroca.
Quanto à maçaroca (cauda), fica estabelecido que todos os bovinos
deverão ser munidos de protetor específico;

II – As luvas a serem utilizadas devem ser baixas ou, no máximo,


terem 5cm de altura no pitoco (ou toco), e não podem ter quina ou
inclinação;

III – É proibido ao Vaqueiro bater no boi, tocar sua face ou apoiar-se


em seu lombo. O boi é intocável, salvo para evitar a queda do
vaqueiro;

IV – É proibido ao Vaqueiro bater, esporear ou puxar as rédeas do


cavalo de maneira que possa causar ferimento;
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V – É vedado o uso de instrumentos cortantes ou que possam
provocar qualquer ferimento nos animais envolvidos, a exemplo de
cortadeiras, correntes e esporas não isoladas, chicotes ou outros
equipamentos que provoquem dor ou perfuração;

VI – É igualmente proibido tocar o boi com equipamentos de choque,


perfuro-cortantes ou que causem qualquer tipo de machucado no
animal, seja em transporte, espera ou competição;

VII – A organização do evento deverá disponibilizar aos animais água


e comida em quantidade e qualidade condizentes com a sua
necessidade, de acordo com o estabelecido pelo Veterinário
Responsável Técnico;

VIII – É proibido o uso de bois com chifres pontiagudos, que possam


causar risco aos competidores, aos cavalos ou à equipe de manejo,
devendo esses animais ser previamente separados da boiada;

IX – Todos os envolvidos na vaquejada têm a obrigação de preservar


os animais participantes, devendo os Promoventes fomentarem, com
o apoio do MPRN, a conscientização de todas as partes relacionadas.

CLÁUSULA 6ª – INSPEÇÃO POSTERIOR

Todos os bovinos participantes do evento passarão por análise veterinária


após concluírem suas participações.

Parágrafo Primeiro: Será de responsabilidade dos Promoventes a


recuperação dos bovinos participantes do evento, mediante a aplicação
dos cuidados veterinários necessários, até o seu total reestabelecimento.

Parágrafo segundo: Fica claro, para os efeitos deste instrumento, que a


responsabilidade pela análise e pelos cuidados dedicados aos Equinos é
exclusiva dos respectivos proprietários.

Parágrafo Terceiro: O Veterinário Responsável Técnico do Evento


emitirá laudo final, no qual deverá constar o número total de bovinos

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machucados e/ou prejudicados psicologicamente, inclusive com descrição
do grau de comprometimento.

Parágrafo Quarto: O laudo final emitido pelo veterinário responsável


técnico pelo evento, será encaminhado ao MPRN, para fins de chancelar,
ou não, o ali concluído.

CLÁUSULA 7ª – PROMOÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Como forma de promover o Meio Ambiente, os Promoventes doarão


duzentas mudas de árvores nativas para fins de reflorestamento da Mata
da Pilão.

CLÁUSULA 8ª – DAS PENALIDADES POR DANO AMBIENTAL

Como penalidade para a hipótese de danos ao meio ambiente, as partes


ajustam que:

a) Caso um bovino se machuque, a critério do Médico Veterinário, os


Promoventes deverão reflorestar uma área de 0,5he;

b) Na remota hipótese de um bovino falecer em competição, o


Promovente deverá reflorestar uma área de 2he;

Parágrafo Único: Os animais machucados receberão imediato


atendimento, por profissional Veterinário, e serão acompanhados e
medicados até o seu total reestabelecimento.

CLÁUSULA 9º – RESPEITO ÀS NORMAS TRABALHISTAS

Fica estabelecido que o Promovente respeitará todas as normas legais


para a contratação de pessoal dedicado à atividade fim do evento, bem
como fornecerá todos os instrumentos de EPI – Equipamentos de Proteção
Individual para o pessoal atuante sob sua responsabilidade.

Parágrafo Único: Não é de responsabilidade do Promovente a


observância do caput quanto a trabalhadores que atuem no evento sob
responsabilidade de terceiros, sejam estes participantes do evento ou
empresas contratadas.

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CLÁUSULA 10º – DA FILMAGEM DO EVENTO

Fica o Promovente obrigado a filmar o campo de competição, além dos


locais em que ficarão alojados os animais, devendo remeter à Promotoria
de Justiça da Santo Antônio, no prazo de 5 dias, cópia dos vídeos, sem
cortes.

CLÁUSULA 11º – DO PRAZO DE VIGÊNCIA DESSE INSTRUMENTO

O presente instrumento vigorará até a publicação oficial da decisão final


da ADI 4983 do STF, momento em que o tema será reapreciado pelo
Ministério Público da Comarca de Santo Antônio.

CLAUSULA 12º – DO FORO

Fica estabelecido o foro da Comarca de Santo Antônio para dirimir


quaisquer dúvidas oriundas deste instrumento, com renuncia expressa a
qualquer outro.

E, assim, por estarem justos e acordados, firmam o presente instrumento,


em 03 (três) vias de igual teor e forma, para que produza todos os seus
efeitos legais e jurídicos.

Santo Antônio, 13 de outubro de 2016.

EMANUEL DHAYAN BEZERRA DE ALMEIDA

PROMOTOR DE JUSTIÇA DA COMARCA DE SANTO ANTÔNIO

DARIO JOSÉ DE OLIVEIRA

SÉTIMA ETAPA DO CIRCUITO ASSOVARN 2016

PAULO DE MORAIS SALDANHA

ASSOVARN – ASSOCIAÇÃO DOS VAQUEIROS AMADORES DO RN


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