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Otivro do arquiteto Camillo Site, A construito das ci- Pee enor eee eC CN primeira vez ha mais de um séeulo, €um marco nas teo- Peer heat net e sth d Seen ee eee eter eee ete we ot Pern ent erent eects eee ene en ad eect Peete Meme ren monee Miecn neice te rete et ee een Pioneiro na defesa da preseryasio de centros his- eee earner sados por obras vdrias ede saneamento, itt influen- Sees te Cette primeiras décadas do século XX, mas também 0 urba- eer rete eM ttt ENC Corea ose Ne 85 08 04266 3 52) Escrito ha mais de um século, o livro. fe Camillo Sitte permanece a principal ‘bra teérica sobre o desenho das ccidades. Desde os anos 60, suas idéias tm sido retomadas com as eriticas a0 5} urbanismo contido na Carte de Atenas, levando A construcio das cidades segundo seus prinetpios artisticas a receber cada vez mais consideragio dos que se preocupam = com as questdes de desenho urbano e com a vida publica nas metropoles By contemporaneas. Sua concepeio de cidade como obra dearie (enfatizando os aspectos plasticos ¢ estéticos das formas urbanas ce chamando a atencio para a construgio de uma paisagem pinturesca) e seu método de andlis, que parte da experiéncia sensivel dos cidados, despertam ainda hoje o interesse de arquitetos, urbanistas ¢ historiadores da arte. Percorrendo fragmentos de cidades a cliversas, em uma deambulacdo analitica pela histéria urbana européia, v extra prineipios de CAMILLO SITTE A construgao das cidades | segundo seus principios artisticos Organizacao e apresentacao de Carlos Roberto Monteiro de Andrade ‘Traducao de Ricardo Ferreira Henrique Mlustragbes fac-similadas da edicéo-padrao austrlaca (1909) Série Temas Volume 26 Arquitetura e Urbanismo ‘Titulo original: Der Stidichate nach seinen kitnstlerischen Grundsilzen Primeira edi¢go, 1889 ‘Traduzido da quarta edigo alema, de 1909 ‘TEXTO Editor Fernando Paixdo ‘Assiatencia editorial sa Mara Lando Organizagio, apresentagao e revisio téenica Carlos Roberto Monteiro de Andrade ‘Tradugio do original alemio Ricardo Ferreira Henrique Revisdo de tradugdo Niloe Teeira Tradugto de anere de 8. D; Adshesd Jono Roberto Martins Pitho oes cas as Cotas ee Carlos Roberto Monteiro de Andrade Preparacio dos originaia ‘Séraio Roberto Torres ARTE Capa Ettore Botti Edigdo (miolo) ‘Milton Takeda Coordenagso réfien Jorge Okura Composiglo e paginagio em video Bails Batista dos Santos ISBN 85 08 04266 3 1992 Todos os direitos reservados Editora Atica S.A. Rua Barfo de Iguape, 110 — CEP 01507-900 Tel.: (PABX) (011) 278-9322 — Caixa Postal 8656 End. Telegrafico “Bomlivro”” — Fax: (011) 277-4146 ‘Sao Paulo (SP) SUMARIO APRESENTACAO, 4 Pr6logo, 11 A primeira edigdo, 11 A segunda edicao, 12 A terceira edicao, 12 A quarta edicao, 13 Introdugao, 14 A relacdo entre construgdes, monumentos e pracas, 25 O centro livre, 35 A coesao das pracas, 47 Dimensdo e forma das pracas, 55 Irregularidades das pracas antigas, 63 Conjuntos de pragas, 69 Pragas do norte da Europa, 75 A escassez de motivos e a monotonia dos complexos urbanos modernos, 93 Sistemas modernos, 100 10. Os limites da arte na construgao urbana moderna, 112 11. Melhorias no sistema moderno, 119 12. Exemplo de uma reforma urbana segundo principios artisticos, 145 Conclusio, 161 Apéndice — O verde na metrépole, 165 Nota sobre as ilustragies, 184 ANEXO 1: “Ruas” (por Camille Martin), 185 ANEXO 2: “Camillo Sitte e Le Corbusier” (por S. D. Adshead), 194 ANEXO 3: “De Viena a Santos: Camillo Sitte e Saturnino de Brito” (por Carlos Roberto Monteiro de Andrade), 206 ANEXO 4: “Indicagbes bibliogrdficas”, 235 Indice das cidades, 237 eSnoupenp a) Apresentacao O livro do arquiteto Camillo Sitte, A consirupto das cidades segundo seus principios artisticos, publicado pela primeira vez ha mais de um século, 6 um marco nas teorias urbanisticas da segunda metade do século XTX. Ao chamar a atencao para a dimensao esté- tica da cidade, ao considerd-la como uma obra de arte e nao ape- nas um grande artefato para atender necessidades exclusivamente funcionais, Sitte ird situar-se criticamente em relagao aos princi- pios que entio norteavam a construcao de novos bairtos ou novas cidades, polemizando com arquitetos seus contemporaneos, inclu- sive aqueles que realizavam a conclusao das obras da Ringstrasse de sua Viena. Pioneiro na defesa da preservacao de centros histéricos e cascos urbanos antigos, ja entao sendo arrasados por obras visrias € de saneamento, Sitte influenciara decisivamente nao s6 todo urbanismo europeu das primeiras décadas do século XX, mas tam- bém o urbanismo americano e até mesmo 0 urbanismo soviético dos anos 1920. ‘Mas nfo apenas os especialistas se interessaram pelo livro de Sitte. O sucesso editorial que ele obteve na Viena finissecular deve-se sobretudo porque, embora sendo um tratado sobre a:cons- trugao de cidades, Der Stddiebau fala da cidade como é apreen- dida pelo cidad4o comum, a cidade como € vista por aquele que transita por suas ruas, atravessa seus territérios, repotisa em suas. pracas, realizando percursos variados por esse espago que tem algo de labirinto. Enfim, a cidade como higar, ou como a diversi- dade de lugares, endo um espago liso, homogéneo, indiferenciado, Para 0 cidadao comum, homem da rua — ainda que também da casa —, a cidade nao é vista como totalidade; e 0 modo de se ver a cidade a partir do fragmento é que Sitte ira explorar. Dat seu uso intenso de perspectivas formando um quadro delimitado, contido, ou entao seus intimeros exemplos de plantas de pracas, Aprocantagae 5 pedagos recortados de um tecido urbano mais vaste, em yez de perspectivas em vdo de pdssaro, ou as plantas do conjunto da cidade reunindo dados diversos. Vale observar que a maior parte da forte influéncia exercida por Der Stadtebau se fez através da tradugdo francesa, realizada pelo arquiteto suico Camille Martin e cuja primeira edicao é de 1902. Este fato relevante, pois se trata de uma tradugao nem sempre fiel ao original, embora mantenha o sentido dos principios sittianos, Suas principais alteracdes residem no expurgo que faz dos exemplos do Barroco, em grande parte referentes a cidades alemas. Daf o acento gue ela dé as pracas e ruas da Idade Média, © que deve ter colaborado para a leitura equivocada que se fez do urbanismo de Sitte enquanto uma manifestacao neomedievalista. Pretendendo “‘completar” o livro de Sitte, Martin chegou a incluir um capitulo escrito inteiramente por ele proprio. Nesse capi- tulo, porque Sitte trata quase exclusivamente de pracas, Martin abordou 0 tracado de ruas. A polémica criada por Le Corbusier com os epigonos de Sitte, em seu livro Urbanisme, referese a esse capitulo. Criticando mordazmente os principios de Sitte, Le Corbusier identificava o tragado de ruas que aquele propunha — alids, quem propunha era Camille Martin — com 0 caminho dos asnos, por sua irregularidade, enquanto para 0 homem modemno — claro, 0 homem moderno corbusiano — a reta deveria ser a tinica direcao, aquela de quem sabe aonde quer chegar e nao se deixa levar pelo acaso. De fato, trata-se de uma antiga quest4o de desenho urbano, aquela da oposicdo entre ruas retas € Tuas curvas, ou, em outros termos, a questio acerca de como incorporar, ou nao, o acidental nos tracados urbanos. A critica de Le Corbusier 6, no entanto, totalmente improcedente, nao apenas por seu racionalismo abso- luto, mas sobretado porque nem o capitulo escrito pelo tradutor Camille Martin nem Sitte em todo set livro excluem a rua reta. Apenas entendem que esta nao deveria ser sada indiscriminada- mente, sem consideracdo com o relevo do terreno ou as circuns- tancias locais. E nesse sentido que julgamos oportuno incluir, como um complemento a esta edicao brasileira do livro de Sitte, a traducdo do capitulo escrito por Camille Martin intitulado “‘Ruas”, Até mesmo porque Sitte ndo desaprovou a tradugao francesa de seu livro. Do mesmo modo, pareceu-nos interessante anexar um artigo do urbanista inglés S. D. Adshead, publicado em 1930 na impor- tante Town Planning Review, em que a oposi¢ao apontada acima € discutida, contrapondo os principios urbanisticos de Site com 6 A construgte das cidacles segundo seus principlos artlticos os de Le Corbusier. Por este texto podemos perceber a influéncia das idéias sittianas na Europa dos anos 1920 e as dificuldades do Movimento Moderno na arquitetura para impor seus principios. Se estes se tornaram praticamente hegeménicos a partir dos anos 1930 até o perfodo da reconstruc4o no apés-guerra, nao foi sem resistencias. Também anexamos um texto de nossa autoria onde apresen- tamos a influéncia do livro de Sitte nas idéias e projetos do enge- nheiro sanitarista brasileiro Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, 0 qual realizou planos urbanos para algumas dezenas das principais cidades brasileiras nas trés primeiras décadas deste sécuilo. Procuramos af apontar a modernidade do urbanismo sani- tarista de Saturnino de Brito, implantando pioneiramente o plane- jamento urbano no Brasil, através da conciliagao de uma visio pin- turesca’ da cidade com exigéncias utilitérias. Nossa intenc&o com esses anexos foi enriquecer a leitura do livro de Sitte, chamando a atengao para os desdobramentos de seus posttlados, que nos podem explicar nao s6 sua larga influéncia no urbanismo das primeiras décadas do século XX, como fornecer algumas referéncias importantes para entendermos a cultura urbanistica moderna, Se esta foi marcada pela Carta de Atenas, 86 € poss{vel compreendermos as criticas aos princfpios do urbanismo moderno, surgidas de modo cada vez mais intenso a partir dos anos 1950, se nos remetermos, como aliés fizeram grande mimero daqueles criticos, 4 obra de Camillo Sitte. Na sua leitura talvez percebamos que, por trés de seus sutis e irénicos comentarios a0 moderno, haja mais modernidade do que suspeita- ram seus criticos, ou mesmo seus partidarios. Por fim, inclufmos um breve comentério da bibliografia a respeito de Camillo Sitte, que poder4 ser itil para aqueles que pre- tendam se aprofundar em sua obra. Sao Carlos, janeiro de 1990. Carlos Roberto Monteiro de Andrade * Ver nota 6 da p. 29. Rprosontagto A Praga de 8. Pedro, om Roma CAMILLO SITTE A construcao das cidades segundo seus principios artisticos Uma contribuicao a resolucdo das questées modernas da arquitetura e da plastica monumental, com especial atencao a cidade de Viena Acrescido de “O verde na metrépole’”’ Prdlogo A primeira edicdo Pinte ast questoes mais empolgantes| de nosso tempoyecontras se a discussao acerca dos sistemas da construcao urbana. Como em todas as polémicas de uma determinada época, os juizos em pauta nao raro assumem o carater de controvérsias arrebatadas. Em termos gerais, todavia, pode ser observado um reconheci- mento undnime e respeitoso dos muitos éxitos técnicos alcancados no Ambito do tréfego, do aproveitamento lucrativo dos terrenos construidos e, sobretudo, das grandes melhorias sanitérias; em contrapartida, nota-se também uma condenacdo, por uma unani- midade que chega as raias do desprezo e do escarnio, dos fracas- sos estéticos da construcdo urbana moderna. Trata-se de uma ava- liagao procedente, pois, de fato, muito foi realizado sob o ponto de vista téenico, mas quase nada sob a perspectiva da arte, e na maioria das vezes as grandiosas construgdes monumentais rec tes encontram-se nas pracas mais inadequadas e em terrenos divi- didos da pior maneira possivel. Tal contexto fundamenta 0 empe- nhho em pesquisar-se a fundo uma série de pragas antigas e anti- gos conjuntos urbanos, verificando-se causas de seus belos efeitos, cauisas que, corretamente examinadas, nos proporcionariam um. corpo de regras cuja observancia deveria garantir a obtengao de semelhantes efeitos precisos. Assim, de acordo com esse propé- sito, o presente trabalho no se revela nem uma historia da cons- trucdo urbana, nem tampouco um tratado polémico, mas oferece: aos profissionais da drea algumas dedugées tedricas e um mate- rial para estudo; deve ser considerado enquanto parte do amplo edificio intelectual da estética pratica e serve aos técnicos da cons- truco urbana como uma contribuicao util a sua propria somatéria 12 A construga ds cldad cogundo prieipis atatons ncias € normas, balizas esseuciais para a coucepgau de seus projetos de parcelamento, Com isto em mente, foi incluido um yasto material de ilustracdes e, principalmente, detalhes de planos urbanos, nos quais se procurou utilizar, sempre que possi- vel, a mesma escala, cuja unidade pode ser encontrada junto a nota sobre as ilustragdes.! Nos casos excepcionais em que isso nao foi possivel, determinou-se uma escala aproximada com base em alguns fatores mais significativos, como 0 comprimento médio de uma igreja e outros dados semelhantes. Os exemplos limitam- sea Austria, Alemanha, Itélia e Franga, pois o autor seguiu o prin- cipio de discutir apenas coisas por ele vistas, cujo efeito estético foi avaliado por seu préprio olhar. Somente esse principio tornou possivel oferecer aos colegas das dreas técnicas ¢ artisticas um material itil e aprecidivel, que s6 poderia ser de todo esgotado por uma historia da construcao urbana, mas nao por uma obra tedrica como essa. Viena, 7 de maio de 1889. C. Sitte A segunda edicao Poucas semanas apés a stia publicacdo, o livro jé esta esgotado na editora. F uma feliz. comprovacao de que o tema abordado des- pertou grande interesse. No entanto, como até o momento nao se manifestou a opiniao de profissionais, ¢ nao me parecendo itil um acréscimo ao material apresentado, esta segunda edic4o segue sem modificacoes. Viena, final de junho de 1889. O Autor A terceira edicao Detranetral extremamentevantinad oratetourpreen center pare pessimismo do autor, o pensamento fundamental deste livto— pro curar a escola da natuyeza ¢ dos mestres antigos também no dmbito da construgao urbana — teve repercussoes praticas vigorosas desde a sua publicacao. A opiniao de colegas profissionais de primeira Ver pigina 184. (N. do T.) Prbloga 13 ordem de que esta obra abriu um novo caminho para a construcao. urbana e de que é este seu grande mérito tem sido divulgada publicamente em diversas ocasides. No entanto, esta deve ser reti- ficada, pois uma obra literéria so pode surtir tal efeito se toda a questo, por assim dizer, j4 estiver no ar. Efeitos assim animado- res apenas s4o possfveis quando todos sentem e reconhecem a mesma coisa, até que alguém, por fim, o manifesta abertamente. E, como o atual estagio desse assunto ndo demanda o acréscimo de novos pormenores, esta terceira edieao também segue sem modificagoes. Viena, 24 de agosto de 1900. 0 Autor A quarta edigao No ano de 1902, Der Stadtebcu foi publicada em francés: Lart de batir les villes — traduit et completé par Camille Martin. Nesta ocasiao, nosso pai, falecido a 16 de novembro de 1903, manifestou 0 desejo de fazer algumas modificagdes para uma prdxima edigao alemA de seu livro, o que foi realizado nesta quaria edicao, Seu ensaio “O verde na metrépole”, até agora acessivel apenas a um restrito circulo de leitores, foi anexado ao livro na forma de apén- dice; acrescentaram-se também novos planos do recinto do Festi- val em Olimpia, da Acrépole de Atenas e do Férum Romano, de acordo com as descobertas mais recentes das pesquisas cienti- ficas nestes locais; algumas plantas foram redesenhadas e, na medida do possivel, substituiram-se alguns dos desenhos por foto- grafias. Mantendo a inten¢ao expressa nos prefacios das edicoes. anteriores, esta também segue sem alteragdes no texto. Viena, dezembro de 1908. Siegfried e Heinrich Sitte Introdugao A gotsveis Iembrangas de viagens so parte integrante de nos- sos mais belos sonhos. Ante nosso olhar espiritual deslizam pra- as, monumentos, imagens urbanas adordveis e belas paisagens, e frufmos novamente o prazer de se demorar junto a tudo aquilo de gracioso e sublime que, outrora, nos fizera tao felizes. Demorar-se! Caso pudéssemos fazé-lo mais amitide nesta ou naquela praca, cuja beleza nao nos cansamos de admirar, decerto suportariamos com 0 coracao mais leve os momentos diff ceis, e seguiriamos fortalecidos na eterna peleja da vida. A sereni- dade inquebrantavel das terras do sul — da costa helénica, da Itd- lia meridional e de outros climas abengoados — é, sem diivida, um dom da natureza; no entanto, as cidades antigas atuavam sobre © espirito humano com a mesma forca suave e irresistivel desta natureza encantadora, a cuja imagem foram construidas. Quem jé foi vivamente sensibilizado pela beleza de uma cidade antiga dificilmente contestaria tal suposicao da forte influéncia do meio externo sobre 0 espirito humano. Quanto a isso, talvez 0 mais sugestivo sejam as rufnas de Pompéia. Ali, um individuo que, 2 noite, a caminho de casa apés um dia de trabalho drduo, passa pelo férum descoberto, sente-se atraido irresistivelmente em dire- 40 a escadaria do Templo de Jupiter, para contemplar, do alto de sua plataforma, este conjunto magnifico, de onde flui a nosso encontro uma harmonia plena, como os acordes cheios e limpidos da mais bela mésica. Em um lugar assim, compreendemos as pala- vas de Aristételes, que resume os princfpios da construgao urbana ao dizer que uma cidade deve ser construfda para tornar o homem ao mesmo tempo seguro e feliz. Para que esta tiltima condicio se efetive, a construcdo urbana nao deveria ser apenas ma ques tao técnica, mas também artistica, em seu sentido mais proprio e elevado. De fato, assim foi na Antigitidade, na Idade Média, na Introdusso 1s Renascenca, enfim, em toda parte onde as artes receberam a aten- cdo merecida. Apenas em nosso sécullo matematico qtie os con- juntos urbanos? e a expansdo das cidades se tornaram uma ques- tao quase puramente técnica, e assim parece importante lembrar que, com isso, apenas um aspecto do problema € solucionado, enquanto 0 outro, o artistico, deveria ter, no minimo, a mesma importancia. Com isso fica esclarecido 0 objetivo da pesquisa subseqiiente, da qual, todavia, € mister dizer logo de inicio que n4o tem por meta reiterar 0 que ha muito foi dito e freqientemente repetido. Também nao intencionamos lamentar a proverbial monotonia dos conjuntos urbanos modernos, condenar isto ou aquilo, ou crucifi- car tudo 0 que ja foi realizado em nosso tempo dentro deste Ambito. Um trabalho assim negativo deve ser deixado apenas ao critico que sempre nega e nunca concorda. Quem, pelo contrario, traz em sia conviceao de que ainda hoje se podem criar coisas belas e boas, precisa também crer em tais coisas e entusiasmar- se por elas. Desta forma, nao serd apresentado aqui em primeiro plano um ponto de vista critico ou histérico, mas sim a andlise, sob um aspecto puramente técnico-artistico, de cidades antigas é de cidades modernas, com o intuito de por a descoberto os moti- vos de sua composicao — das primeiras, com base na harmonia e no efeito sedutor sobre os sentidos; das segundas, na confusao e na monotonia —, enquanto a andlise do todo serviré 4 busca de uma saida para nos libertar do sistema moderno de blocos de edi- ficios e, a medida do possivel, para nos resgatar da tendéncia ao aniquilamento das belas cidades antigas, ao mesmo tempo permi- tindo 0 florescimento de uma producao equivalente a dos mestres antigos. Em consonancia com este programa pragmatico-artistico, nos deteremos apenas no estudo dos conjuntos urbanos é da dispo- si¢do dos monumentos durante os periodos mais recentes da Renascen¢a e do Barroco; entretanto, somente uma pequena par- cela dos conceitos antigos gregos e romanos sera retomada, pois em parte subjazem a compreensio do conjunto renascentista e por outro lado serao titeis na andlise de periods posteriores, dado que, desde entao, em muito se alteraram a finalidade e o signifi- cado de alguns dos principais elementos da construcao urbana. Portanto, tornou-se essencialmente outro 0 significado das pracas abertas (um férum ou uma praca de mercado) em meio & cidade. Hoje raramente utilizadas para grandes festas piiblicas, ¢ 2 No original, Siadteantagen. (N. do T.)

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