Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRIA DA ÁFRICA
Batatais
Claretiano
2017
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.
960 S579h
Silva, César Agenor Fernandes da
História da África / César Agenor Fernandes da Silva, Tiago Tadeu Contiero – Batatais,
SP : Claretiano, 2017.
282 p.
ISBN: 978‐85‐8377‐538‐6
1. Religiosidade. 2. Colonização. 3. Imperialismo. 4. Cultura brasileira. 5. Africanidade.
I. Contiero, Tiago Tadeu. II. História da África.
CDD 960
INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: História da Afríca
Versão: dez./2017
Formato: 15x21 cm
Páginas: 282 páginas
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo à obra História da África. Nela, estudare-
mos a fundo a “diversidade”, uma vez que a história do continen-
te africano é muito rica e variada, assim como também o são os
povos que habitam o continente desde tempos imemoriais.
Nosso caminho está cheio de idas e vindas no tempo. Par-
tiremos das divisões políticas regionais da África atual para co-
nhecermos a situação do continente e, sobretudo, para termos
a exata noção de que a construção, a demarcação e a territoriali-
zação deste mapa é relativamente recente.
Desse modo, afirmamos que angolanos, congoleses, ruan-
deses, sul-africanos, argelinos, marroquinos, entre tantas outras
nacionalidades africanas são, antes de tudo, estabelecimentos
históricos. Não são naturais nem sempre foram assim.
Depois disso, mergulharemos no poço profundo do passa-
do pré-histórico do continente, a fim de conhecermos as teorias
9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
10 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 11
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Abordagem Geral
Prof. Ms. César Agenor Fernandes da Silva
12 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 13
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
14 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 15
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
16 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 17
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
18 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 19
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
20 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 21
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
22 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 23
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
24 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área
de conhecimento dos temas tratados na obra História da África.
Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) África Subsaariana ou África Negra: a região localizada
geograficamente ao sul do deserto do Saara (por isso
Subsaariana), cuja população é majoritariamente com-
posta por negros (daí África Negra).
2) Branqueamento: ideia defendida por intelectuais e
políticos brasileiros do final do século 19 e início do
século 20, com bases em preceitos científicos, para
transformar paulatinamente a população brasileira em
um povo de homens caucasianos a partir da imigração
de europeus e da predominância das características da
raça superior que se expressariam na miscigenação.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 25
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
26 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 27
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
28 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Formação dos Estados
africanos
Falência do
Resistências e contemporâneos
Discurso
Revoltas
Colonialista Racismo
Miséria/Falta de Científico
infraestrutura/Subdesenvol‐
Independências/Descolonizações vimento
Apartheid
AIDS
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 29
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas ques-
tões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais
podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas
dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Licenciatura em História
pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,
mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tra-
30 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bi-
bliografias complementares.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 31
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Dicas (motivacionais)
O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais
apurada, a Educação como processo de emancipação do ser hu-
mano. É importante que você se atente às explicações teóricas,
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa,
permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprenden-
do a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Obser-
var é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Licenciatura em História na
modalidade EaD e futuro profissional da Educação, necessita de
uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você
contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial
e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois,
que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas
estipuladas.
É importante, ainda, que você anote suas reflexões em seu
caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão
ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções
científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você am-
plie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático,
discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às
videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas ques-
tões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise
sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram
significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e
32 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DICIONÁRIO AURÉLIO. Curitiba: Positivo, 2014.
MELLO E SOUZA, M. África e Brasil africano. 2. ed. São Paulo: Ática, 2007.
RAMOS, A. As culturas negras no novo mundo. 3. ed. São Paulo: Cia Ed. Nacional,
1979.
4. E-REFERÊNCIA
BARBOSA DA SILVA, D. Encontros e confrontos linguísticos: o local e o global na África. In:
XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Fortaleza: ANPUH, 2009. Disponível em: <http://
www.ethnologue.com/>. Acesso em: 24 ago. 2010.
IBGE. Planisfério político. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/
atlasescolar/mapas_pdf/mundo_planisferio_politico_a3.pdf>. Acesso em: 12 mar.
2012.
SUA PESQUISA. O que é a OPEP. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/
geografia/petroleo/opep.htm>. Acesso em: 04 jul. 2012.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 33
© HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1
UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
1. OBJETIVOS
• Caracterizar o continente africano na atualidade.
• Apontar e discutir a situação atual das regiões africanas,
com ênfase na economia e na indústria.
• Reconhecer a ligação da África com a história da
humanidade.
• Estudar as origens do homem moderno.
2. CONTEÚDOS
• frica e suas divisões regionais.
Á
• Darwinismo e evolução das espécies.
• África no século 20.
• Pré-História africana.
35
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
36 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 37
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
38 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 39
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
40 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
África do Norte
A região denominada África do Norte é composta atual-
mente pelos seguintes países:
1) Argélia;
2) Egito;
3) Líbia;
4) Marrocos;
5) Mauritânia;
6) Saara Ocidental;
7) Tunísia.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 41
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
42 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 43
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
Civilização egípcia
A civilização egípcia desenvolveu-se entre aproximada-
mente 3200 a. C. (quando houve a unificação do norte com o sul)
e 30 a. C. (período de dominação romana). Os egípcios desen-
volveram uma sociedade extremamente complexa, que incluía
um sistema de escrita e o desenvolvimento literário, médico,
astronômico e matemático. Ao final da unidade, na leitura com-
plementar, você encontrará uma descrição detalhada dos signifi-
cados em torno da vida e da morte expressos por meio do ritual
da mumificação (cf. CÉSAR, 2010).
Uma questão a ser considerada sobre este povo e sua tra-
jetória histórica refere-se ao fato de que, em tempos antigos, o
Egito foi controlado por gregos, persas, macedônios (Alexandria)
e, posteriormente, por romanos na época de sua expansão im-
perial. Além disso, durante a Idade Média, a África Setentrional
foi conquistada e ocupada pela população árabe e testemunhou,
portanto, a expansão árabe no Ocidente.
Já durante o período colonial (séculos 19 e 20), a região foi
dominada em sua maior parte pela França e pela Inglaterra.
44 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
África Ocidental
A denominada África Ocidental está localizada no noroeste
do continente e, atualmente, pertencem a essa região 15 países:
1) Benin;
2) Burkina Faso;
3) Cabo Verde;
4) Costa do Marfim;
5) Gâmbia;
6) Gana;
7) Guiné;
8) Guiné-Bissau;
9) Libéria;
10) Mali;
11) Níger;
12) Nigéria;
13) Senegal;
14) Serra Leoa;
15) Togo.
Vamos localizá-los no mapa da Figura 4:
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 45
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
46 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 47
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
48 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
África Central
A África Central é composta pelos seguintes países (veja a
Figura 5):
1) Angola;
2) Chade;
3) Congo;
4) Camarões;
5) Gabão;
6) Guiné Equatorial;
7) São Tomé e Príncipe;
8) República Centro-Africana;
9) República Democrática do Congo.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 49
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
50 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 51
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
África Oriental
A maior região geográfica do continente africano, a África
Oriental, é composta por 19 países:
1) Burundi;
2) Comoros;
3) Djibuti;
4) Eritreia;
5) Etiópia;
6) Quênia;
7) Madagascar;
8) Malauí;
9) Ilhas Maurício;
10) Mayotte;
11) Moçambique;
52 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 53
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
54 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 55
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
África do Sul
A África do Sul ou África Meridional (Austral) é composta
pelos seguintes países (veja a Figura 7):
1) África do Sul;
2) Botsuana;
3) Lesoto;
4) Namíbia;
5) Suazilândia;
6) Zimbábue.
56 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 57
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
58 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 59
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
60 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 61
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
62 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 63
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
64 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 65
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
66 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 67
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
68 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 69
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
Área
Grupos Capacidade Estágio do
Geográfica Dentição
Taxonômicos Craniana Bipedalismo
de Ocupação
Australopithecus África (parte Muito
? Inicial
anamensis leste) pequena
70 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
Área
Grupos Capacidade Estágio do
Geográfica Dentição
Taxonômicos Craniana Bipedalismo
de Ocupação
Molar menor do
África (parte que a linhagem Bípede
Homo habilis 750 cm 3
leste) robusta dos Avançado
australopitecinos
Surgiu na Dentição robusta
África e (área molar
Homo Maior do que ?
migrou para maior do que os
rudolphensis a Ásia H. habilis (?) incisivos)
Dentição
Surgiu na
posterior
Homo erectus Ásia e migrou 1000 cm 3
Bípede
menor do que
para a África
australopitecinos
Homo ergaster Áfric 1067 cm3 ? ?
Os dentes da
mandíbula iam
Europa,
para frente para
Homo no Oriente
encaixar no
Médio e no 1520 cm3 Bípede
neanderthalensis maxilar superior
Uzbequistão
e os incisivos
(Ásia)
eram largos, com
raiz larga
Homo sapiens Surgimento: Arcada Bipedalismo
1400 cm3
sapiens África? Ásia? superciliar excelente
Fonte: CANTO, A. (1995, anexo).
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 71
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
7. TEXTO COMPLEMENTAR
Os egípcios tinham em sua sociedade uma série de cerimô-
nias ritualísticas que simbolizavam a passagem dos vivos para o
mundo dos mortos.
72 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 73
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
74 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
O Mundo Inferior ou Duat era limitado pelo corpo de Osíris, porque ele isola o
Duat do caos de Num e, nesse mundo, os mortos desempenhavam funções
semelhantes às de quando habitavam a vida terrena. O Campo dos Juncos
situa-se a leste e é uma localidade de passagem ligada ao Sol. O Campo das
Oferendas está a oeste e esse já é um local de estadia.
O Campo das Oferendas era reservado aos mAa-Xrw, que significa “justo de
voz”, “justificado” ou “triunfante”, ou seja, aquele que já havia passado pelo
julgamento do coração. Para eles a justificação era uma etapa decisiva para
que o morto não sofresse a sua segunda morte. A segunda morte é a definitiva
e nela a pessoa seria esquecida.
Processos de mumificação
No mundo ideal e simbólico egípcio, a mumificação era realizada em uma única
noite, a anterior ao sepultamento, ocorrendo no mesmo momento em que o cora-
ção do morto era pesado na sala do julgamento de Osíris. Todavia, hoje se sabe
que o processo de mumificação poderia levar em média 70 dias ou até muitos
meses. Os fatores que influenciavam este tempo poderia ser o preparo da múmia
e da tumba.
A mumificação artificial egípcia era necessária no momento em que as tumbas
se tornam superestruturas e não mais há o contato do corpo com as areias ári-
das e aquecidas do deserto que promoviam a conservação desses remanes-
centes. E, após uma série de tentativa e erros, os egípcios antigos perceberam
que a chave para essa preservação era a retirada dos fluidos corporais. Esse
processo pode ter vindo provavelmente da análise do processo de secagem
das carnes e peixes (COCKBURN, 1998, p. 18).
Não foram encontrados até hoje relatos completos de todos os passos para a
preparação de uma múmia. Há partes desse processo em papiros e paredes
de tumbas, assim como citações em rituais e oferendas. Mas nada que mostre
como era tratado o corpo físico. Portanto, para fazer uma reconstituição dos
métodos de mumificação, são utilizados textos de escritores como Heródo-
to e Diodoro, além das análises dos remanescentes físicos feitas por DNA,
compostos químicos na pele das múmias, tomografias computadorizadas e
arqueologia experimental.
O texto escrito por Heródoto no século cinco a.C. é reproduzido por todos os
autores que tratam dos processos de mumificação. O relato do escritor gre-
go diz que algumas pessoas eram apontadas pelas leis para exercerem essa
profissão. Quando o corpo de um morto era levado para eles, eles exibiam
aos amigos da pessoa morta diferentes modelos em madeira. O mais perfeito
deles assemelha-se a um cujo nome não poderá ser mencionado nesse con-
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 75
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
texto (sabe-se que é Osíris). O segundo era inferior em execução e com preço
menor e o outro tinha qualidade ainda mais inferior. Após a demonstração eles
perguntavam com qual modelo o morto gostaria de ser representado. Quando
o preço era determinado, os embalsamadores começam seu trabalho. A des-
crição do processo de mumificação detalhado adiante se refere ao mais custo-
so, sempre lembrando que esse não era um processo técnico, envolvia muitos
rituais em cada estágio de seu preparo. Afinal, estava mumificando Osíris.
O corpo do morto era levado até a “Casa Boa” (pr-nfr), onde no local de embal-
samento começavam as etapas de dissecação do corpo. O primeiro passo era
a retirada do cérebro por meio do orifício nasal. Introduzia-se uma ferramenta
metálica e com ela fazia-se uma série de movimentos destinados a dissolução
do cérebro. Quando ele estava em estado mais líquido, era colocada uma es-
pécie de coletor nas narinas. Outro método para a retirada do cérebro era fazer
uma incisão na base do crânio. A cavidade craniana era lavada e preenchida
com resinas. Os olhos eram mantidos no lugar até a 22ª dinastia, quando es-
ses são substituídos por postiços ou por uma pasta vítrea.
A retirada dos demais órgãos era feita por meio de uma incisão no lado esquer-
do da cavidade abdominal do morto, de onde as vísceras e o intestino eram
descartados. Os outros órgãos eram lavados, drenados, recebendo substân-
cias aromáticas. Geralmente, eram envoltos em linho e guardados nos chama-
dos Vasos Canopos.
Os Vasos Canopos, a partir da 4ª dinastia, aparecem como parte da arqui-
tetura, em nichos das câmaras funerárias, em forma de caixas retangulares.
Na 5ª dinastia e depois ao longo do período faraônico eles aparecem em cai-
xas aos pés do caixão, porque as arcas que contêm esses vasos nunca se
afastam dos caixões. Isto pode ser visto em papiros, onde na procissão há o
caixão e logo atrás os canopos. No Novo Império as tampas eram feitas em
formato da cabeça dos quatro filhos de Hórus e cada uma abrigava um órgão
especificamente. Os deuses são Qebehsenuef, que possui a cabeça em forma
de falcão e abrigaria os intestinos; Duamutef, com a cabeça de chacal, onde
estaria o estômago; Hapy, com cabeça de babuíno, guardava os pulmões; e
Imset, com cabeça de homem e abrigaria o fígado. A 20ª dinastia caracteriza o
momento em que Anúbis aparece na parte de cima das caixas canópicas e os
quatro filhos de Hórus nas laterais. Contudo, esses vasos perdem a utilidade
na 21ª dinastia porque os órgãos passam a ser recolocados dentro da cavida-
de abdominal. Na 26ª dinastia há a retomada da tradição de utilizar os Vasos
Canopos e de utilizar nichos como na 4ª dinastia. No período que compreende
da 27ª a 30ª dinastias eles são guardados entre os pés da múmia e, no Período
Ptolomaico, são substituídos por arcas com um falcão na tampa, nas quais os
órgãos eram colocados.
76 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
Na cavidade abdominal restava somente o coração. Não era prática comum retirá-
-lo e, caso isso acontecesse, ou ele era colocado novamente no tórax ou em seu
lugar era colocado um escaravelho-coração. O corpo era então lavado, óleos e
especiarias eram aplicados e, posteriormente, era coberto com Natrão. O Natrão
é uma substância salina composta de NaCL, Na2CO3 e NaP2SO4, usada para
acelerar o processo de retirada dos fluidos corporais que poderiam posteriormente
causar a decomposição do corpo. Após a secagem do indivíduo, havia a aplicação
de resinas para que esse pudesse ter elasticidade novamente e, com isso, dar
continuidade à mumificação. O abdômen era recheado com linho, flores, serragem
e outros materiais para que pudesse ser mantido o mais próximo possível do que
era em vida.
A Figura 4 (SMITH, 1914, p. 194) mostra as incisões que eram feitas no morto
tanto para a retirada dos órgãos quanto para a posterior colocação do material
que preenchia as cavidades. Com a ajuda das mãos ou alguma outra ferra-
menta, o embalsamador inseria linho, manteiga ou até mesmo lama na região
T e outro material na W, para que esse segurasse o enchimento da região
do pescoço. A localização da letra Y, que são as pernas, era preenchida pela
mesma incisão X. Em alguns casos era feita uma nova incisão para os pés.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 77
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comen-
tar as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida
nesta unidade.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades
em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos es-
78 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
2) Q
uem construiu essas imagens ao longo do tempo? Essas imagens têm
razão de existir? Justifique.
3) Q
uais são as divisões geográficas e políticas da África atual? Elas obede-
cem a quais critérios?
5) Q
uais as diferenças fundamentais entre a África do Norte (ou África Bran-
ca) e a África Subsaariana (ou África Negra)?
6) O
que é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)? Quais são os crité-
rios utilizados para definir o nível de desenvolvimento?
7) Q
uais são os elementos utilizados pela ciência ao afirmar que a África é o
berço da humanidade?
9. CONSIDERAÇÕES
Para fecharmos esta unidade, é importante entendermos
o movimento que faremos ao longo do estudo da obra História
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 79
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
10. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Mapas físico e político do continente africano. Disponível em: <http://www.
ibge.gov.br/mapas_ibge/>. Acesso em: 26 mar. 2012.
Figura 2 Mapa da África do Norte (ou África Setentrional). Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/mapas_ibge/>. Acesso em: 26 mar. 2012.
Figura 3 Sarcófago de Sha-amun-en-su. Disponível em: <www.museunacional.ufrj.br>.
Acesso em: 26 mar. 2012.
Figura 4 Mapa da África Ocidental. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/mapas_
ibge/>. Acesso em: 26 mar. 2012.
Figura 5 Mapa da África Central. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/mapas_
ibge/>. Acesso em: 26 mar. 2012.
80 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
Sites pesquisados
AFRICAN STUDIES CENTER – University of Pennsylvania [Centro de Estudos Africanos
da Universidade de Pennsylvania – EUA]. Homepage. Disponível em: <http://www.
africa.upenn.edu/NEH/neh.html>. Acesso em: 12 mar. 2012.
APONTE, C. Y el África parió al hombre. Revista del Instituto Nacional de Higiene Rafael
Rangel, Caracas, v. 35, n. 2, jul. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.org.ve/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S079804772004000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12
mar. 2012.
IBGE. Mapas. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/mapas_ibge/>. Acesso em: 12
mar. 2012.
______. Planisfério político. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/
atlasescolar/mapas_pdf/mundo_planisferio_politico_a3.pdf>. Acesso em: 12 mar.
2012.
______. Estatísticas do século XX. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/>.
Acesso em: 12 abr. 2012.
MARHOUM, A.; SAMPER, D. A. About “Teaching & Learning about East Africa” Project.
In: East Africa Living Encyclopedia. Pennsylvania: University of Pennsylvania, 2009.
Disponível em: <http://www.africa.upenn.edu/NEH/abouttheproject.html>. Acesso
em: 12 mar. 2012.
METROPOLITAN MUSEUM & AMERICAN MUSEUM OF NATURAL HISTORY. Homepage.
Disponível em: <http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Lab/3891/diariodebordo/
museus/museus.html>. Acesso em: 25 mar. 2010.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 81
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCASTRO, L. F. O trato dos viventes: a formação do Brasil no Atlântico Sul. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
CANTO, A. Tópicos da arqueologia. Rio de Janeiro: CBJE, 2003.
______. Considerações arqueológicas sobre o quaternário brasileiro. Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, 1995.
CÉSAR, M. B. O escaravelho-coração nas práticas e rituais funerários do antigo Egito.
2009. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. v. 1.
DAMATTA, R. A. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro:
Rocco, 1991.
DARWIN, C. As cartas de Charles Darwin: uma seleta, 1825-1859. Organização de
Frederick Burkhardt. São Paulo: Ed. da Unesp, 2000.
FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala. 34. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.
______. A origem do homem e a seleção sexual. São Paulo: Hemus, 1974.
82 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 1 – UM CONTINENTE CHAMADO ÁFRICA
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 83
© HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2
ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO
BRASIL
1. OBJETIVOS
• I dentificar e compreender a relação do Mundo Antigo
com a África.
• Reconhecer os principais povos africanos no período
pré-colonial.
• Apontar e refletir sobre as matrizes linguísticas e cultu-
rais africanas.
• Construir conhecimentos sobre a pluralidade e a hete-
rogeneidade cultural e étnica africana.
• Interpretar e compreender as influências dos povos afri-
canos na formação da cultura brasileira.
• Relacionar os principais debates historiográficos com
a participação das populações africanas na sociedade
brasileira.
2. CONTEÚDOS
• Famílias linguísticas africanas.
• Povos e etnias africanas.
• Cultura e religião africanas.
85
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
Florestan Fernandes
(São Paulo, 22 de julho de 1920 – São Paulo, 10 de
agosto de 1995): foi um sociólogo e político brasileiro
(por duas vezes, deputado federal). Para mais informa-
ções biobibliográficas de Florestan Fernandes, consulte
o site mantido pela USP em homenagem ao sociólogo:
FLORESTAN FERNANDES VIDA & OBRA. Home page.
Disponível em: <http://www.sbd.fflch.usp.br/florestan/>.
Acesso em: 25 mar. 2010 (imagem e texto disponíveis
em: <http://www.algosobre.com.br/biografias/florestan-
-fernandes.html>. Acesso em: 13 ago. 2012).
86 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Olá! É uma satisfação prosseguir o estudo da História da
África. Nesta unidade, vamos continuar o processo de constru-
ção do conhecimento sobre esse magnífico continente.
Iniciaremos, portanto, nosso estudo com a descrição da
origem do nome África.
Desde o Mundo Antigo, a África, assim como o continen-
te americano, recebeu diversos nomes por habitantes de outras
localidades, e sua grafia e significado definiram-se no século 1º
d.C. — atribuídos por romanos.
Partindo desse ponto, conheceremos os grupos etnocultu-
rais e as famílias linguísticas que se desenvolveram no continen-
te no período entre o século 7º e o início da Idade Moderna, nos
séculos 15 e 16.
Vale salientar que o estudo das línguas nos permite vislum-
brar os povos que se desenvolveram e, sobretudo, povoaram, re-
povoaram e conquistaram o continente em sucessivos movimen-
tos históricos marcados pela formação de culturas complexas.
Além disso, vamos estudar a importância dos rios no de-
senvolvimento das populações e quebrar a ideia de que o con-
tinente africano é uma região “atrasada”, uma vez que em de-
terminados momentos históricos suas redes de comércio e as
técnicas de produção superavam as da Europa.
Veremos, ainda, como os povos africanos, cujos membros
foram trazidos compulsoriamente ao Brasil na condição de es-
cravos, influenciaram e ainda influenciam a cultura brasileira,
que se formou à medida que os povos passaram a habitar aqui,
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 87
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
88 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 89
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
90 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 91
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
92 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 93
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
94 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 95
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
Glotocronologia–––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De acordo com o Dicionário Aurélio (2009), glotocronologia significa: “[De
glot(o)- + cronologia.] método que procura relacionar, por meio de técnicas es-
tatísticas, a percentagem de cognatos presentes em duas línguas com o tempo
em que ambas se originaram de uma única fonte. [Assim, se duas línguas têm
atualmente em comum 80% de cognatos, ambas devem ter começado a diver-
gir cerca de 7,4 séculos atrás, i. e., por volta do séc. XIII.]”.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Estudaremos, a seguir, as línguas faladas na África!
Línguas afro-asiáticas
O primeiro grupo que destacaremos é o tronco formado
pelos povos falantes das línguas afro-asiáticas, que está dividido
em cinco subgrupos e cuja língua se desenvolveu em grande par-
te no primeiro milênio da Era Cristã:
1) Berbere.
2) Egípcio Antigo (língua extinta).
3) Semítico.
4) Cuchítico (subdividido em cinco ramos: setentrional,
central, oriental, meridional e ocidental).
5) Chádico.
Observe que a comunidade dos povos falantes de línguas
afro-asiáticas não apresenta necessariamente uma unidade ét-
nica e cultural, embora suas línguas façam parte de uma matriz
comum.
96 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 97
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
98 © HISTÓRIA DA ÁFRICA
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
dor deles proviam água e terras férteis, além de formarem vastos lagos, como
no caso do Rio Nilo na África Oriental.
O Rio Nilo e o Rio Níger foram os que mais se destacaram desde a Antiguida-
de. O Nilo, que nasce no território do atual Burundi, corta os territórios de Egito,
Etiópia, Quênia, República Democrática do Congo, Ruanda, Sudão, Tanzânia
e Uganda e despeja suas águas ao norte do continente no Mar Mediterrâneo,
depois de percorrer cerca de 6.700 km em seu percurso. Já o Níger nasce nas
montanhas na fronteira entre a Guiné e Serra Leoa e percorre os territórios de
Benim, Guiné, Níger, Nigéria, Mali e deságua no golfo da Guiné. O seu delta
(observe a Figura 3) foi testemunha da presença de vários povos africanos
das línguas níger-kordofaniano, como os Bantos, Iorubas, Mali, ibo, ijan, entre
tantos outros.
Mário Curtis Giordani (1985, p. 35) faz uma descrição dos caminhos percorri-
dos pelo rio Níger:
O Níger percorre uma extensão de 4.200 quilômetros descrevendo uma extensa
e original curva. Suas nascentes situam-se na faixa montanhosa do Atlântico;
dirige-se para o Saara, atravessando entre Tombuctu e Burem uma zona subd-
sértica, diminuindo, então, seu caudal; volta-se, depois, para o Golfo da Guiné
onde forma um vasto delta. As inúmeras quedas d’água só possibilitam a nave-
gação em alguns trechos.
© HISTÓRIA DA ÁFRICA 99
UNIDADE 2 – ÁFRICA, AFRICANOS E A ÁFRICA NO BRASIL
O animismo e o Islã
O historiador Ki-Zerbo (1980), já muito mencionado por
nós, é preciso ao realizar uma leitura histórica da África a partir
de dentro, sem ser analisada pelos parâmetros europeus, algo
que até o momento ainda não foi feito de modo apropriado.
Com isso, concluímos que a história da cultura africana é ain-
da muito estudada por um ponto de vista externo, o que oculta
grande parte de sua história, ou simplesmente a julga com olhar
preconceituoso.
Temos obrigação de construir uma imagem do continen-
te africano, principalmente de seu período pré-colonial, que vá
além do “senso comum”, daquela que nos é transmitida em fil-
mes, séries e documentários e que nos mostram uma África mui-
to distante dos padrões culturais tidos como “civilizados”.
A primeira coisa a sabermos é os motivos pelos quais so-
mos constantemente “bombardeados” com imagens negativas
da África. Já pensaram nisso? Por que motivos sempre vemos
informações “ruins” sobre a África e sua cultura? A resposta é
muito simples: quanto mais descaracterizamos o continente,
mais fácil é aceitar sua dominação, a destruição de suas caracte-
rísticas mais valiosas.
Segundo Tylor (1958): “Cultura é o todo complexo que in-
clui conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quais
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro
de uma sociedade”. Assim sendo, a cultura é tudo aquilo que
produzimos no interior de um grupo, seja produção material ou
imaterial. Revalorizar a cultura africana é descobrir e compreen-
10. TEXTO COMPLEMENTAR
No trecho a seguir, de autoria do antropólogo Edson Ro-
berto de Jesus, você conhecerá um pouco sobre a origem do
samba e sua inserção no espaço urbano da capital do Estado de
São Paulo, especialmente após a abolição da escravatura:
“BAMO SAMBÁ”––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Abolida a escravidão, outras organizações tomam corpo, como um aproveita-
mento da oportunidade de se organizar em conformidade com o grau de autono-
mia, liberdade e independência possibilitado pelo novo regime. Várias organiza-
ções são criadas, com caráter e organização inerentes às aspirações sociais dos
membros. Organizações informais destinadas apenas a promover a agregação
da população negra, que se reuniam regularmente para cantar, conversar, tocar
música, organizar bailes, viagens, levantar fundos etc., posteriormente desen-
cadearam processos de formação dos grupos de carnaval. Em sua maioria, tais
organizações tinham por recorte a sua concentração em atividades de lazer e
de recreação.
Imperceptível para a “nova” ordem urbana, a população negra, cujas conquis-
tas são tímidas, busca tornar sua história também história da cidade de São
Paulo. A história da população negra não está registrada nas faces dos edifí-
cios, nos viadutos, nos nomes internacionalizados das companhias de serviços
urbanos e das companhias teatrais. No entanto, essa população buscava ou-
tras formas de se manifestar e inscrever na cidade suas experiências.
Assim, além de marcar presença nos espaços urbanos da cidade concentrando-
-se em regiões que se tornavam autênticos territórios negros, onde podiam viver
de acordo com regras que eles próprios estabeleciam informalmente, abrindo
possibilidades para o exercício de suas práticas sociais e culturais, constitui-
-se uma leitura, ainda que diminuta e rarefeita, mas certamente diferenciada da
cidade, renovando seus trajetos e formas culturais, recriando suas práticas com
o fim de tentar sobreviver e de afirmar e reafirmar sua, ainda que precária, cida-
dania, elaborando, de modo modesto e criativo, novas formas de “manter vivas
suas tradições”.
Danças, cantos e músicas, independente de suas variações locais, provindas
do Batuque negro-africano, outrora comumente denominados por batuques,
passam, a partir do século 19, a ser conhecidos e denominados como Sam-
ba. Não obstante essa condição, o Batuque assumiu, nas diversas regiões do
país, feições diversas, próprias e bastante particulares.
Diverso, em São Paulo, o Batuque assumiu feitio, tempero e sabor peculiar,
elementos presentes em inúmeras abordagens narrativas que, apesar do ran-
ço racista e preconceituoso dos autores, trataram de registrar essas diversas
manifestações. Affonso A. de Freitas descreve que, por volta do final do século
19:
[...] o samba, amálgama das múltiplas danças regionais, da capoeira,
do lundu, do jongo, batucado em quase todas as fazendas e sítios do
Estado de São Paulo e fundamente desfigurado pelo perpassar do tem-
po e da civilização, é tudo quanto resta dos costumes característicos do
povo oprimido.
A pomba vuô; vuô, sentô
Arrebente o samba qu’eu já vô
Eh! Pomba! Eh!
11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Qual a origem do vocábulo “África”?
3) Q
ual a relação dos povos europeus da Antiguidade com as culturas desen-
volvidas ao norte do continente africano?
4) O
que representou para os povos do norte africano a dominação
mulçumana?
5) C
omo definimos os diferentes povos que vivem na África e como eles
eram definidos no período que se estende do século 19 até metade do 20?
6) Q
uais são as bases que permitiram encarar a diferença entre os seres hu-
manos como questões puramente culturais em vez de raciais?
7) C
omo os povos africanos são estudados e divididos pela Historiografia
Contemporânea?
13) Mutilar mulheres é um costume antigo entre os Khoisans. Quais são seus
significados nos dias de hoje?
12. CONSIDERAÇÕES
Como estudamos nesta unidade, as línguas são mais que
simples formas de expressão, elas simbolizam parte de um gran-
de universo cultural desenvolvido no tempo e espaço pelas so-
ciedades humanas.
A forma como nomeamos as coisas, expressamos sentimen-
tos e construímos nossos sistemas de crenças (religiosa ou racio-
nal) traz muito sobre nós mesmos ou sobre os que são diferentes
de nós.
Nesta segunda unidade, pudemos investigar e aprender
sobre a grande diversidade cultural existente no continente afri-
cano. Seus quase incontáveis dialetos, etnias e suas maneiras
próprias de se relacionar com o mundo representam uma entre
muitas outras possibilidades de vida.
Em um segundo momento, estudamos sobre a influência
dos povos africanos em nossa sociedade e como a presença de
13. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Mapa da expansão do Império Árabe na África. Disponível em: <http://www.
historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=87>. Acesso em: 15 mar. 2012.
Figura 3 Rio Níger. Disponível em: <http://earth.google.com/intl/pt/>. Acesso em: 25
mar. 2010.
Figura 4 Antropofagia, quadro da artista plástica Tarsila do Amaral exibido na
semana de arte moderna. Disponível em: <http://www.parana-online.com.br/
colunistas/12/20209/>. Acesso em: 25 mar. 2010.
Sites pesquisados
ALGO SOBRE. Florestan Fernandes. Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/
biografias/florestan-fernandes.html>. Acesso em: 15 mar. 2012.
APCAB – Associação Portuguesa de Cultura Afro-Brasileira. Homepage. Disponível em:
<http://www.apcab.net/>. Acesso em: 25 mar. 2010.
CARTOLA. Homepage. Disponível em: <http://www.cartola.org.br/>. Acesso em: 25
mar. 2010.
FLORESTAN FERNANDES VIDA & OBRA. Homepage. Disponível em: <http://www.sbd.
fflch.usp.br/florestan/>. Acesso em: 25 mar. 2010.
FREYRE, G. Social life in Brazil in the middle of the 19th century. New York: Author
Edition, 1922. Disponível em: <http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/obra/index.
htm>. Acesso em: 10 ago. 2002.
______. Entrevista: Gilberto Freyre – O anarquista construtivo. Veja [edição de
aniversário 35 anos], São Paulo, 24 de dez., 2003. Disponível em: <http://veja.abril.
com.br/especiais/35_anos/p_026.html>. Acesso em: 12 abr. 2012.
FUNDAÇÃO GILBERTO FREYRE. Homepage. Disponível em: <http://www.fgf.org.br/>.
Acesso em: 15 mar. 2012.
HISTÓRIA NET. A expansão árabe. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/
conteudo/default.aspx?codigo=87>. Acesso em: 15 mar. 2012.
JESUS. E. R. “Bamo sambá”. Revista Histórica - Revista online do Arquivo Público do São
Paulo, n. 40, fev. 2010. Disponível em: <http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.
br/materias/anteriores/edicao40/materia02/>. Acesso em: 15 mar. 2012.
MESTRE DIDI. Literatura oral. Disponível em: <http://www.mestredidi.org/literatura.
htm>. Acesso em: 15 mar. 2012.
PARANA ON-LINE. Homepage. Disponível em: <http://www.parana-online.com.br/
colunistas/12/20209/>. Acesso em: 25 mar. 2010.
RELEITURAS. Gilberto Freire. Disponível em: <http://www.releituras.com/
gilbertofreyre_bio.asp>. Acesso em: 15 mar. 2012.
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, P. L. A construção social da realidade. Tratado de Sociologia do Conhecimento.
19. ed. São Paulo: Vozes, 2000.
CANDIDO, A. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000.
COQUERY-VIDROVITCH, C. O postulado da superioridade branca e da inferioridade
negra. In: FERRO, M. (Org.). O livro negro do colonialismo. Tradução de Joana Angélica
D’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
DALBY, D. Mapa lingüístico da África. In: KI-ZERBO, J. (Org.). História geral da África.
São Paulo: Ática; Paris: Unesco, 1980.
DIAGNE, P. História e lingüística. In: KI-ZERBO, J. (Org.). História geral da África. São
Paulo: Ática; Paris:Unesco, 1980.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa - conforme a nova
ortografia. São Paulo: Positivo, 2009 [CD-ROM].
FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala. 43. ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2001.
______. Interpretação do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
______. O mundo que o português criou: aspectos das relações sociais e de cultura
do Brasil com Portugal e as colônias portuguesas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940.
(Documentos Brasileiros, 28).
______. Sobrados e Mucambos. 12. ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2000.
______. Sociologia (Introdução aos seus princípios). Rio de Janeiro: José Olympio,
1962.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Ática, 1964.
______. O negro e a democracia. In: Humanidades, Brasília, v. 4, ago./out., 1987.
______. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972.
______. A revolução burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
GAUTIER, A. Mulheres e colonialismo. In: FERRO, M. (Org.). O livro negro do
colonialismo. Tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
GIORDANI, M C. História da África anterior aos descobrimentos. Petrópolis: Vozes,
1985.
GREEMBERG, J. H. Classificação lingüística da África. In: KI-ZERBO, J. (Org.). História
geral da África. São Paulo: Ática; Paris: Unesco, 1980.
KI-ZERBO, J. Introdução geral. In: ______. (Org.). História geral da África. São Paulo:
Ática; Paris: Unesco, 1980.
LEVI-STRAUSS, C. Raça e história. Tradução de Inácio Canelas. 2. ed. Lisboa: Presença;
Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1997.
OLDEROGGE, D. Migrações e diferenciações étnicas e lingüísticas. In: KI-ZERBO, J.
(Org.). História geral da África. São Paulo: Ática; Paris: Unesco, 1980.
PACHECO, F. J. K. Mapa África Linguístico. In: SCARAMAL, E. (Org.). Para estudar a
História da África (Projeto Abá). Anápolis: UEG, 2008, p. 48.
SILVA, A. da C. e. A lança e a enxada: a África antes dos portugueses. 2. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
SILVA, E. D. Oba II D’África, o príncipe do povo. Vida, tempo e pensamento de um
homem livre de cor. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
1. OBJETIVOS
• A
pontar e compreender a relação dos povos africanos
com a cultura da escravidão.
• Reconhecer e refletir sobre o processo histórico que le-
vou à expansão marítima europeia e a sua relação com
a África.
• Identificar as principais discussões científicas sobre a
questão racial.
• Construir conhecimentos sobre as origens do discurso
científico moderno.
2. CONTEÚDOS
• E scravidão e escravismo na África.
• A relação existente entre a Europa e a África no período
da expansão marítima.
• História da ciência.
145
UNIDADE 3 – ÁFRICA NO MUNDO MODERNO: DA ESCRAVIDÃO ÀS VÉSPERAS DAS COLONIZAÇÕES
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Olá! Nesta unidade, daremos prosseguimento ao estudo
de História da África e investigaremos o desenvolvimento da re-
lação que a América e a Europa estabeleceram com a África a
partir das grandes navegações europeias.
A origem e o desenvolvimento da escravidão na África
serão o primeiro passo que daremos na construção do nosso
conhecimento.
A escravidão, como vimos na unidade anterior, era uma
prática comum entre os povos africanos. Mas foram os europeus
que iniciaram o tráfico em larga escala, ao redimensioná-lo e in-
seri-lo em uma dinâmica econômica e cultural.
Essa nova etapa da escravidão no mundo moderno está in-
timamente ligada à expansão europeia em direção ao Oriente,
especialmente à Índia, que ocorreu quase concomitante com o
processo de colonização das Américas.
A vinda forçada de membros de diversos povos africanos
na condição de escravos criou uma sociedade de tipos únicos no
continente americano.
5. ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA
Legitimação da escravidão
Como vimos, não há uma única hipótese que explique os
motivos da expansão europeia, principalmente portuguesa na
África. Esses discursos diversos e com fundamentos diferentes
entre si também foram usados na legitimação da escravidão.
Em muitas ocasiões, a questão religiosa fundamentava, ou me-
lhor, dava legitimidade à escravização de homens e mulheres
africanos.
Em alguns casos, raros, mas existentes, padres jesuítas
(Cia. de Jesus) e de outras ordens religiosas católicas valiam-se
de interpretações da Bíblia para explicar por que os negros pode-
Fonte: ENCICLOPÉDIA DA HISTÓRIA DO BRASIL DIGITAL. [CD-ROM]. São Paulo: Digerati, s/d.
Figura 1 Principais rotas do tráfico negreiro (séculos 16 ao 19).
IV
nos para obter escravos. Assim, alguns povos africanos não fo-
ram escravizados e até mesmo lucraram consideravelmente com
o processo em curso.
A costa oriental da África forneceu poucos escravos e num
curto período de tempo. A “África Branca” ao norte passou pra-
ticamente imune à escravidão atlântica. Dados mostram que,
ao longo de todo o período de tráfico atlântico de escravos, a
população da África Ocidental cresceu, inclusive ocorrendo um
desenvolvimento econômico e social nessa época.
A “África Negra”, ou subsaariana, foi de longe a mais afe-
tada pelo tráfico. A escravidão, tanto interna quanto externa,
desestruturou radicalmente a região, que passou a ser tomada
por constantes conflitos e revoltas. Os reinos subsaarianos nun-
ca mais se reestruturaram e ainda seriam novamente golpeados
pelo imperialismo no século 19.
Já nas Américas, a despeito da riqueza cultural trazida e
incorporada na formação de uma nova cultura, uma das conse-
quências mais marcantes é a questão do preconceito e da margi-
nalização econômica da maior parte dos afrodescendentes.
Nos Estados Unidos, a questão do preconceito é ainda la-
tente e tem na organização ilegal Ku Klux Klan (fundada em 1865)
um dos movimentos de maior intolerância da história. Além dis-
so, foi apenas nos anos de 1960 que os negros passaram a gozar
de uma condição mais igualitária em relação à população de ori-
gem branca, graças aos movimentos civis liderados por figuras
tão díspares como Martin Luther King e Malcolm X.
No Brasil, os afrodescendentes ainda vivem em situação
economicamente desigual e têm menos representantes na elite
política e econômica e no Ensino Superior.
Figura 2 Folha de rosto da edição de Viagens para o Interior da África: contendo uma
descrição das várias nações no espaço de seis milhas até o Rio Gâmbia (1738).
Figura 3 Mapa da Costa Ocidental da África, de Serra Leoa a Cabo Palmas, incluindo a
Colônia da Libéria (1830).
Figura 4 Mapa da África de 1820, elaborado pelo cartógrafo e geógrafo francês Adrien
Hubert Brué (1786-1832).
7. TEXTO COMPLEMENTAR
Observe este recorte de um jornal que circulava no Rio de
Janeiro no final dos anos de 1830 (Figura 5) e veja como as teo-
rias científicas sobre as raças humanas eram amplamente difun-
didas no Ocidente. Os africanos eram classificados como varie-
dade etiopiana (referente à Etiópia).
Além da Figura 5, você também encontrará a reprodução in-
tegral do texto. Contudo, tenha em mente que se trata de um texto
do primeiro quartel do século 19 e, sendo assim, as informações e
ideias defendidas eram tomadas como verdadeiras. É importante
realizar uma leitura crítica, porém, nós, historiadores, não podemos
julgar o passado. O mais importante não é «descobrir» a verdade
sobre o passado, mas entender o que era considerado verdadei-
ro. O texto selecionado é um bom exemplo para realizarmos esse
exercício.
Fonte: Gazeta dos domingos: revista enciclopédica semanal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Tipographia Americana, 1839, n. 2, p. 13.
Figura 5 Página do Jornal Gazeta dos Domingos (Rio de Janeiro, 13 janeiro de 1839)
sobre as teorias a respeito do homem.
História Natural–––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Sobre o homem
Disse também Deus: façamos o homem à nossa imagem, e semelhança, o
qual presida aos peixes do mar, às aves do céu, às bestas, e a todos os répteis
que se movem sobre a terra, e domine em toda a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem: fez a imagem de Deus, e criou o macho
e a fêmea.
Deus os abençoou, e lhes disse: Crescei, e multiplicai-vos, e enchei a terra.
Genesis, Cap. 1º v. 26 a 28.
serem os habitantes daquelas regiões, até o dia presente, os mais bem propor-
cionados e elegantes de todos os habitantes do mundo inteiro.
Dos Alpes Caucasianos várias ramificações desta raça divergem para todos os
lados como de um centro comum, cujas peculiaridades modificam-se, alteram-
-se, e finalmente apagam-se à proporção que se afastam do primitivo local de
sua origem.
Das subdivisões da raça caucasiana, a mais poderosa é a Pelásgica, que co-
bre a maior parte da Europa, e da Ásia Ocidental, em seus limites do norte,
enquanto ela se confunde com a mogoleana por meio dos habitantes da Fin-
lândia e Lapônia. Foi deste ramo que as poderosas nações da Grécia e Roma
tiveram as suas origens, as quais se seguiram as nações da moderna Europa.
O outro ramo é o da Síria, cuja direção é para o sul e abrange aquela parte da
Ásia que antigamente habitavam os assírios, caldeus, e os velhos egípcios.
O ramo indiano, que alguns julgaram ser o mesmo que o pelásgico, dirige-se
para o nascente, e se confunde entre as inferiores hordes do Indostão. O quarto
ramo é dos Sytheos ou Tártaros que povoaram as terras do norte da Ásia, e
deram origem àqueles povos vagabundos e bravios, que pela sua força física
de número devastaram e efetivamente deram cabo dos impérios preclaros da
Grécia e Roma. A inclinação itinerária e pastoril desta tribo tem contribuído a
conservação das suas peculiaridades desligadas de outras nações; menos, po-
rém, na Tartaria menor, onde este ramo da raça caucasiana se mistura com a
mongoleana.
Nos nossos números seguintes trataremos das outras raças e daremos de cada
uma a representação dos seus crânios, assim como temos feito aqui da raça
caucasiana.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) As práticas do escravismo se transformaram a partir do contato com os
europeus?
3) O
que era considerada propriedade privada na África e Europa no período
de intensificação do comércio de escravos?
6) Q
uais foram as justificativas iniciais dos europeus para a escravização de
homens, mulheres e crianças africanas?
7) C
omo se deu a prática do tráfico negreiro? De que forma a leitura de Cas-
tro Alves influencia até nossos dias a visão que temos desse processo?
13) Quais relações podem ser estabelecidas entre a expansão colonial e o dis-
curso científico?
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, aprendemos que a escravidão na África não
foi uma prática imposta de fora para dentro do continente. Pelo
contrário, a cultura escravista no continente africano é anterior à
10. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 2 Folha de rosto da edição de “Viagens para o Interior da África: Contendo
uma descrição das várias nações no espaço de seis milhas até o Rio Gâmbia” (1738).
Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/650/>. Acesso em: 16 mar. 2012.
Figura 3 Mapa da Costa Ocidental da África, de Serra Leoa a Cabo Palmas, incluindo
a Colônia da Libéria (1830). Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/149/>.
Acesso em: 16 mar. 2012.
Figura 4 Mapa da África de 1820, elaborado pelo cartógrafo e geógrafo francês Adrien
Hubert Brué (1786-1832). Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/55/zoom.
html>. Acesso em: 16 mar. 2012.
Sites pesquisados
ASHMUN, J. Mapa da Costa Ocidental da África, de Serra Leoa a Cabo Palmas, incluindo
a Colônia da Libéria. Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/149/>. Acesso em:
16 mar. 2012.
BRUÉ, A. H. Mapa da África. Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/55/zoom.
html>. Acesso em: 16 mar. 2012.
FOUCAULT, M. Dits et écrits. Disponível em: <http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/
foucault/>. Acesso em: 25 mar. 2010.
MOORE, F. Viagens para o interior da África: Contendo uma descrição das várias
nações no espaço de seis milhas até o Rio Gâmbia. Disponível em: <http://www.wdl.
org/pt/item/650/>. Acesso em: 16 mar. 2012.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOXER, C. R. O império marítimo português – 1415-1825. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
CHAUNU, P. Expansão européia: do século XIII ao XV. São Paulo: Pioneira, 1978.
COQUERY-VIDROVITV, C. O postulado da superioridade branca e da inferioridade
negra. In: FERRO, Marc (Org.). O livro negro do colonialismo. Tradução de Joana
Angélica D’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
FERRO, M. História das colonizações: das conquistas às independências, séculos XIII ao
XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
FOUCAULT, M. L’homme est-il mort? (entrevista com C. Bonnefoy). Arts et Loisirs, n. 38,
p. 15-21, jun. 1966. Traduzido de: FOUCAULT, Michel. Dits et écrits. Paris: Gallimard,
1994, p. 540-544.
FRAGOSO, J.; BICALHO, M. F.; GOUVÊA, M. F (Orgs.). O antigo regime nos trópicos: a
dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
GAUTIER, A. Mulheres e colonialismo. In: FERRO, M. (Org.). O livro negro do
colonialismo. Tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
1. OBJETIVOS
• Identificar e caracterizar o cenário europeu no período
do imperialismo do século 19.
• Reconhecer e discutir o processo e as consequências do
neocolonialismo na África nos séculos 19 e 20.
• Refletir sobre as questões políticas, econômicas e cultu-
rais da África durante a Era dos Impérios.
• Apontar e conhecer os focos de resistências e o panora-
ma africano no início do século 20.
• Estudar e interpretar os processos de independência na
África.
2. CONTEÚDOS
• R evolução Industrial e colonialismo.
• Teorias raciais, fé e civilização na partilha da África.
• Independências africanas.
191
UNIDADE 4 – COLONIZAÇÕES E DESCOLONIZAÇÕES/ INDEPENDÊNCIAS NA ÁFRICA: SÉCULOS 19 E 20
Leopoldo II
Leopoldo Luís Filipe Maria Vítor de Saxe-Coburgo-Gota
(9 de abril de 1835 – 17 de dezembro de 1909) foi Rei da
Bélgica de 1865 até sua morte, sucedendo ao pai, o Rei
Leopoldo I, ao trono da Bélgica. É lembrado como o fun-
dador do Estado Livre do Congo, projeto territorial belga
fundamentado na exploração do trabalho africano para a
extração de borracha e marfim, que conduziu mais tarde
à colônia do Congo Belga, hoje República Democrática
do Congo (imagem e texto disponíveis em: <http://educa-
terra.terra.com.br/voltaire/mundo/2002/09/06/001.htm>.
Acesso em: 25 mar. 2010).
James Monroe
Quinto presidente eleito dos Estados Unidos, cujo man-
dato se estendeu de 1817 a 1825. Seu nome é conhe-
cido na história pela doutrina criada em seu governo
(1823) — a doutrina Monroe —, que “teve como lema a
‘América para os Americanos’, numa referência à resis-
tência a qualquer tentativa de recuperação das colônias
americanas, que haviam conquistado sua independên-
cia [...]” (imagem disponível em: <http://surftofind.com/
jmonroe.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2010. Texto disponí-
vel em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/james-
-monroe.jhtm>. Acesso em: 16 mar. 2012).
Wolfgang A. K. Döpcke
Professor adjunto em História Contemporânea do Departamento de História da
Universidade de Brasília.
Manuel Jauará
Doutor em Sociologia e professor adjunto do Departamento de Ciências So-
ciais da Universidade Federal de São João del-Rei, Minas Gerais.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Olá! Esperamos que você tenha aproveitado todas as pos-
sibilidades que o estudo da História da África lhe proporcionou
até o momento. Agora, é importante que mantenha seu entu-
siasmo, ânimo e curiosidade, uma vez que ainda estudaremos
assuntos interessantes sobre o continente africano.
A partir de 1850:
Foram anos de amadurecimento tecnológico, essencialmente
marcados pela elaboração, no continente, das inovações que
constituíram o cerne da Revolução Industrial e que tinham sido
desenvolvidas e disseminadas na Inglaterra uma ou mais gera-
ções antes. No setor têxtil, o filatório automático e o tear me-
Contudo, não foi por isso que o país não foi colonizado. Em
1847, a Libéria foi o primeiro país independente da África — se
considerarmos a forma moderna de um país, com Constituição e
separação entre os três poderes (executivo, legislativo e judiciá-
rio). Além disso, houve forte resistência tanto na Libéria quanto
na Etiópia contra o processo colonial.
Isso não quer dizer que não houve resistência em outras
localidades. Embora elas sempre tenham existido, as outras re-
voltas não obtiveram êxito no período auge do Imperialismo.
Assim, foi somente no século 20, após a 2ª Guerra Mun-
dial, que os países africanos se tornaram independentes.
Mais adiante voltaremos a esta questão.
Conferência/Tratado de Berlim
O processo do neocolonialismo gerou uma eminência de
conflitos de interesses e guerras prolongadas no seio do territó-
rio colonial.
As grandes potências do século 19, França e Inglaterra,
passaram a ter na segunda metade do século novas companhias:
a Alemanha e a Itália, recém-unificadas, e potências emergentes,
como a Bélgica. Foi justamente o surgimento de Alemanha e Itá-
lia que causaria o desequilíbrio nas nações europeias e a corrida
pela posse de territórios na África.
No fim de 1884, uma conferência mudaria o destino dos
povos africanos: a Conferência de Berlim, organizada pelo chan-
celer alemão Otto Von Bismarck (1815-1898). O objetivo dessa
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Divisão da África
Com o final da Conferência de Berlim e o estabelecimento
definitivo das regras que na prática organizavam a posse do con-
tinente africano pelos europeus, as grandes nações europeias
intensificaram seu domínio sobre a África.
Se por um lado os africanos começaram a resistir à domi-
nação assim que constaram que estavam perdendo a autonomia
política, econômica etc., os europeus iniciavam a exploração sis-
temática do continente. Segundo Visentini (2014),
Para isso, era necessário submeter territórios e populações,
reorganizar a produção, o sistema de propriedade e obrigar a
população ao trabalho orientado pelos novos objetivos e vo-
lumes de produtos. Esse imenso processo de expropriação da
economia, do tempo, da cultura e das condições de vida ori-
ginou rebeliões e resistências, principalmente nas sociedades
sem organização estatal. A anulação da soberania e a subor-
dinação das sociedades organizadas sob formas estatais foram
efetivadas através de guerras de conquista. A superioridade em
armamentos e meios de locomoção proporcionadas pela nova
tecnologia foi a garantia da vitória na repressão às resistências
e nas guerras (VISENTINI, 2014, p. 64).
6. DESCOLONIZAÇÕES/INDEPENDÊNCIAS AFRICA-
NAS: UMA HISTÓRIA DE LUTA E VIOLÊNCIA
A primeira questão importante a ser discutida refere-se ao
título desta unidade, a qual traz uma peculiaridade.
Como você deve ter notado, há duas palavras divididas por
uma barra: descolonizações/independências. Por que isso?
Durante muito tempo, o termo usado para descrever o
processo de formação dos Estados africanos e asiáticos, na se-
gunda metade do século 20, foi descrito como um processo de
descolonização.
Entretanto, essa denominação não faz jus ao período, pois
subentende-se que foi ideia exclusiva das potências europeias
acabar com as suas colonizações.
Observe que, quando usamos o termo “independências”,
a ideia que se tem é justamente oposta, pois implica que a pas-
sagem da administração não foi um presente concedido pelos
europeus aos territórios e povos colonizados.
Houve uma série de movimentos e revoltas locais que le-
varam ao processo de emancipação. Existiram, ainda, outros ele-
7. TEXTOS COMPLEMENTARES
No texto a seguir, o historiador francês Alain Peyrefitte faz
um balanço da “questão das colonizações”. Alguns desses pontos
são polêmicos, mas nos levam a indagar certos clichês e posições
sobre o processo colonizador e um de seus desdobramentos: a
problemática do desenvolvimento e subdesenvolvimento.
Portanto, sugerimos que você o leia com olhar crítico e
pesquise mais sobre o assunto para entender suas implicações:
A contradição colonial
Essa fé quase messiânica do Ocidente em si mesmo coloca-o em plena contra-
dição. Posiciona-se como adversário dos seus próprios princípios universalis-
tas, compartilhados por toda a Europa, e que a revolução Francesa cristalizou
na França. Nega a liberdade, a igualdade e a fraternidade às populações que
submete à sua dominação. Essa contradição é tão profunda que o Ocidente
acabou por odiar a si próprio por ter sido colonizador. No momento em que,
ao descolonizar, deveria sentir-se novamente em harmonia com seu gênio, ele
se flagelou.
Por seu lado, como poderiam os países dominados não se chocarem diante
da brutalidade com a qual o Ocidente devastara suas tradições? São orgulho-
sos, e com razão: um povo que não tem orgulho de si mesmo perde o prazer
de viver. Principalmente se for, como na Índia ou na China, o centro de uma
civilização antiga e refinada. A revolta dos povos do Terceiro Mundo contra o
Ocidente era uma reação sadia: a rejeição de uma dominação estrangeira que
negara sua identidade. Para qualquer povo que tenha os meios de formar uma
nação, a independência não tem preço. Mas em virtude de a necessidade de
independência ter suas raízes em profundezas passionais, a descolonização
provocou uma explosão de idéias falsas.
Os marxistas ou “marxizantes” conseguiram convencer não apenas o Mundo
Socialista e o Terceiro Mundo, que não queriam outra coisa senão acreditar ne-
les, como também a intelligentsia do Ocidente: o desenvolvimento dos países
colonizadores e o subdesenvolvimento dos colonizados seriam o resultado da
pilhagem dos segundos pelos primeiros. Esquece-se de que a miséria do Ter-
ceiro Mundo preexiste à colonização — e sobreviveu a ela, ou, mais freqüente-
mente, renasce depois dela. O subdesenvolvimento, que deveríamos chamar
de não-desenvolvimento, é um fenômeno permanente e universal.
Desde que o homem apareceu na Terra, a ignorância, as epidemias, a sujei-
ção — escravidão, submissão das mulheres, dependência de um grupo com
relação a outro —, a subnutrição, o medo da doença, da fome e da guerra, são
o lote comum da espécie. Não é o subdesenvolvimento que é um escândalo, o
desenvolvimento é que é um milagre — e muito recente.
[...]
Encontros e confrontos
linguísticos: o local e o global na África–––––––––––––––––
A política linguística de um país é fundamental para o seu desenvolvimento,
porém, questionamos qual seria a melhor política a ser adotada num continen-
te assolado por guerras, miséria e desigualdade socioeconômica. A maioria
dos países africanos optou por uma política exoglóssica que, décadas depois,
tem se mostrado ineficaz ao desenvolver o continente, sobretudo na educação.
Segundo Ayo Bamgbose, “a erradicação do analfabetismo na África depende do
uso de línguas africanas como meio de instrução no primeiro e segundo níveis do
processo de escolaridade formal” (RODRIGUES, 2005, p. 173). O linguista nige-
riano mostra a importância da implantação de uma política endoglóssica. Línguas
maternas são “um veículo de integração social e participação política em todo o
continente africano” (RODRIGUES, 2005, p. 163). A utilização de uma língua euro-
peia no ensino afasta o aluno e é a maior responsável pelas altas taxas de evasão
e reprovação nas escolas.
A Unesco também defende a utilização de línguas maternas no ensino primá-
rio, porém a adoção de tais medidas esbarram nas dificuldades econômicas da
África, como a escassez de escolas, de professores capacitados e de material
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais as relações estabelecidas ao longo do tempo entre os povos euro-
peus e africanos? Explique a transformação dessas relações a partir do
século 19.
5) D
e acordo com o historiador francês Marc Ferro, quais tipos de coloniza-
ção se desenvolveram na África?
10) Como se deu a partilha da África? Qual o papel das elites locais nesse
processo?
12) O que permite afirmar que uma cultura da violência foi incentivada na
África colonial?
16) Segundo Manuel Jauará, novas camadas sociais ligadas diretamente aos
europeus tomaram a linha de frente nos processos emancipacionistas.
Explique.
9. CONSIDERAÇÕES
Com as independências dos países africanos, fechamos
mais um ciclo do estudo da obra História da África.
Começamos nossa trajetória estudando a composição geo-
política atual da África.
Debruçamo-nos sobre as origens de nossa espécie e a teo-
ria científica que mudou nossa percepção de mundo, sobretudo
a que serviu como um dos suportes para a colonização dos po-
vos africanos. Por serem múltiplos, esses povos desenvolveram
uma complexidade e variedade de línguas, ritos e culturas que
foram espalhadas pelo mundo após a imigração forçada pela
escravidão.
Compreendemos que o trabalho cativo encontrou lugar em
nossa história desde períodos longínquos em diversas regiões do
globo, inclusive na própria África.
10. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Mapa político da Europa com nome dos rios. Disponível em: <http://www.
guiageo-europa.com/mapas/europa.htm>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Figura 3 Caveiras de vítimas do genocídio de Ruanda. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Genoc%C3%ADdio_em_Ruanda>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Figura 4 Partilha da África. Disponível em: <http://www.culturabrasil.pro.br/imagens/
partilhadaafrica.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Figura 5 Sudão anglo-egípcio - soldado em camelo das forças nativas do exército
britânico. Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/574/?&r=MiddleEastNorthA
frica&a=-8000&b=2009&view_type=gallery>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Figura 6 Charge de um jornal alemão sobre a Conferência de Berlim (1884-1885) /
Soldados britânicos ocupando o Egito. Disponível em: <http://www.casadehistoria.
com.br/africa_docs/conf_berlim.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2010.
Figura 7 Descrição geográfica e administração governamental e fundação de colônias
espanholas no Golfo da Guiné. Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/2425/>.
Acesso em: 25 mar. 2010.
Sites pesquisados
BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL. Homepage. Disponível em: <http://www.wdl.org/
pt/>. Acesso em: 20 mar. 2012.
CARPINTEIRO, F. G. (Fotógrafo). Sudão anglo-egípcio - soldado em camelo das forças
nativas do exército britânico. Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/574/?&r
=MiddleEastNorthAfrica&a=8000&b=2009&view_type=gallery>. Acesso em: 20 mar.
2012.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÉNOT, Y. A descolonização da África francesa (1943-1962). In: FERRO, M. (Org.). O
livro negro do colonialismo. Tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2004.
COQUERY-VIDROVITV, C. O postulado da superioridade branca e da inferioridade
negra. In: FERRO, M. (Org.). O livro negro do colonialismo. Tradução de Joana Angélica
D’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
DÖPCKE, W. A vida longa das linhas retas: cinco mitos sobre as fronteiras na África
Negra. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 42, n. 1, p. 77-109, jun.
1999.
1. OBJETIVOS
• Identificar e compreender as raízes históricas do
apartheid.
• Entender a história da segregação social na África Aus-
tral e relacionar esse processo com o longo período das
colonizações.
• Refletir sobre as questões políticas, econômicas e cultu-
rais da África no período contemporâneo.
• Apontar e entender os impactos da AIDS no continente
africano em nossos dias.
2. CONTEÚDOS
• Apartheid.
• Economia, sociedade, política e os impactos da AIDS no
continente africano.
• A África hoje.
247
UNIDADE 5 – ÁFRICA HOJE: DO APARTHEID AOS DESAFIOS E PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEOS
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Olá! Como vimos até aqui, a África Moderna foi definida
pelas relações estabelecidas pelos povos locais com os povos de
outros continentes, especialmente os europeus.
Nesta unidade, vamos conhecer a história do apartheid na
África do Sul, um regime de segregação racial que separava bran-
cos e negros, o qual perdurou quase até o fim do século 20:
Apartheid––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De acordo com a definição do Dicionário Aurélio, apartheid é uma palavra de
origem africânder que significa: “sistema oficial de segregação racial que era
praticado na África do Sul privilegiando a minoria branca” (FERREIRA, 2009).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Estudaremos, em seguida, um personagem-chave que
participou do fim desse processo histórico: Nelson Mandela, ex-
-presidente da África do Sul e ganhador do prêmio Nobel da Paz.
Além dessa importante figura histórica, vamos nos debru-
çar sobre um tema que incomoda autoridades africanas e inter-
nacionais: a epidemia de AIDS e os números alarmantes de pes-
soas infectadas.
Trataremos, também, dos dados socioeconômicos, como
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que, como já estu-
damos na primeira unidade, é um dos mais baixos do planeta.
Veremos que a situação é tão grave que em alguns países, como
a Suazilândia, a expectativa de vida não chega aos quarenta anos
de idade, tanto para homens quanto para mulheres.
Prepare-se para aprender mais sobre o continente africano
e bons estudos!
Como você pôde notar no que foi dito até aqui, a ordena-
ção jurídica que deu origem ao apartheid é anterior à chegada
do Partido Nacionalista ao poder.
Ou seja, uma série de atos legais foram adotados com o
objetivo de privilegiar a população de origem europeia em detri-
mento da população sul-africana nativa.
O primeiro ato legal praticado foi o Mines and works act,
assinado em 1911, que distinguiu os operários brancos dos ne-
gros instalando a “barra de cor”. Desse modo, os brancos foram
protegidos por uma legislação que os colocava mais próximos
dos patrões, enquanto aos negros foi reservado o trabalho nas
indústrias e nas minas em funções mal remuneradas e de pouca
qualificação (M’BOKOLO, 2004, p. 544).
Como visto anteriormente, os atos políticos dos ingleses,
em parceria com os bôeres, preparam o terreno para a implan-
tação do apartheid, prática que foi desenvolvida na África do Sul
devido à sua particularidade no processo de colonização.
Dois anos depois de assumir o poder, em 1950, o Partido
Nacionalista instituiu o Population registration act, que passou a
classificar todas as populações em grupos raciais com base em
critérios científicos. Dessa forma, estava finalizada a separação
Figura 1 Foto retirada no dia da libertação de Nelson Mandela: “Mandela será libertado
hoje”, essa era a manchete do jornal City Press, erguido diante de uma grande multidão
que esperava por esse momento.
Dezembro 2008
Número de pessoas vivas com HIV em 2008:
Total — 33.4 milhões [31.1 milhões — 35.8 milhões]*;
Adultos — 31.3 milhões [29.2 milhões — 33.7 milhões];
Mulheres — 15.7 milhões [14.2 milhões — 17.2 milhões];
Crianças menores de 15 anos — 2.1 milhões [1.2 milhões — 2.9 milhões].
Pessoas que contraíram o vírus em 2008:
Total — 2.7 milhões [2.4 milhões — 3.0 milhões];
Adultos — 2.3 milhões [2.0 milhões — 2.5 milhões];
Crianças menores de 15 anos — 430 000 [240 000 — 610 000].
AIDS – mortes relatadas em 2008:
Total — 2.0 milhões [1.7 milhões — 2.4 milhões];
7. TEXTOS COMPLEMENTARES
No excerto a seguir, da historiadora Viviane de Oliveira Bar-
bosa, você poderá conhecer as mobilizações sociais e políticas de
mulheres que vivem nas zonas rurais da África do Sul e os pro-
blemas recorrentes enfrentados nas relações de gênero no país:
nas, vê-se que nenhum daqueles contextos condicionais é temporal e/ou es-
pacialmente absoluto, isto é, nenhum deles é sempre, e em todo lugar, e do
mesmo modo, acionado, seu ativamento depende de cada situação em que os
sujeitos se encontram e com as quais eles se deparam.
1
Rural Women’s Movement.
2
Situada na costa leste da África do Sul, esta província costuma aparecer na
dianteira das listas que apresentam os piores índices de desenvolvimento hu-
mano e os maiores índices de pobreza na África do Sul.
3
Em 1983, por exemplo, um grupo de protesto às leis do apartheid, denomina-
do Black Sash, fundou o Transvaal Rural Action Committee (TRAC) Este comi-
tê, em contato com outros grupos sociais da África do Sul, decidiu apoiar reivin-
dicações de grupos locais. Desse processo, foi redigida a Carta das Mulheres
(Women’s Carter), uma atitude contestatória às leis costumeiras vigentes na
África do Sul, entendidas como cerceamento da cidadania feminina.
4
Segundo relatórios do RWM, a violência sexual contra mulheres antes da
Constituição de 1996 era recorrente e tinha relação com a infecção de mu-
lheres rurais pelo HIV/AIDS. Mulheres do movimento afirmam que a prática
de alguns homens que estupravam mulheres para consumarem o casamento
contribuiu para a feminização da doença. Deborah Posel (2006, p. 40) mostra
que, no pós-apartheid, a AIDS se impôs como um grande problema na África
do Sul e que KwaZulu-Natal apresenta um dos maiores índices de contamina-
ção pelo vírus.
5
Há que se considerar intelectuais, e setores e instituições ligados ao governo
e a diferentes denominações religiosas tiveram participação ativa na constitui-
ção do RWM.
(BARBOSA, 2009)
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Tendo em vista o que estudamos até aqui, é importante
fazermos uma reflexão sobre o lugar do ensino de História da
África.
Para isso, vejamos o excerto do texto da professora de his-
tória Maria Luzinete Dantas Lima. Ela faz um breve balanço sobre
as condições relacionadas à História da África e como a lei que
torna obrigatório o ensino desta disciplina foi aprovada:
A lei foi instituída, porém não chegou a ser amplamente debatida, o que prova-
velmente justifica a sua não abrangência. Descendentes de índios, sentindo-se
prejudicados, visto que a legislação instituída era voltada exclusivamente para
os descendentes de escravos africanos, pressionaram o Congresso Nacional,
e a lei sofreu nova modificação, passando a contemplar os indígenas.
Na íntegra, a nova lei diz:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1˚ O art. 26-A da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa
a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Os processos de independência trouxeram prosperidade aos povos africa-
nos, que passaram então a se autogovernar?
3) Q
ual a relação mais óbvia que pode ser estabelecida entre a segregação
racial na África do Sul e os longos anos de colonização?
6) Por que Nelson Mandela foi preso? O que ele reivindicava? Qual o papel
desse personagem na história do mundo contemporâneo?
7) Parece óbvio, mas não custa perguntar: você sabe o que é a AIDS? Quais
são as principais formas de contágio e transmissão?
9) P
or que a doença se espalha com tanta facilidade no continente? Há po-
líticas públicas em alguns países africanos de prevenção e tratamento da
doença?
13) Por que ensinar História da África? De onde partiu a iniciativa para tornar
obrigatório o ensino da história desse continente e das populações trazi-
das como escravos ao longo de aproximadamente 350 anos?
9. CONSIDERAÇÕES
Como estudamos até aqui, as visões construídas ao longo
dos séculos 18, 19 e 20 a respeito da diferença entre os homens
— na afirmação da superioridade de um povo em relação aos ou-
tros — tiveram reflexos trágicos em todo o continente africano.
A África do Sul, palco do apartheid, viu essas visões se
tornarem políticas de Estado e também forte instrumento de
repressão.
10. E-REFERÊNCIAS
Figura
Figura 1 Foto retirada no dia da libertação de Nelson Mandela. Disponível em: <http://
www.panafa.net/blog/wpcontent/uploads/2010/01/mandela_walks_free_2.jpg>.
Acesso em: 25 mar. 2010.
Sites pesquisados
EMBAIXADORA DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL. Homepage. Disponível em: <http://
www.africadosul.org.br/?pg=inicio>. Acesso em: 23 mar. 2012.
IBGE. Países @. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/paisesat/>. Acesso em: 23 mar.
2012.
MANDELA, N. R. Homepage. Disponível em: <http://www.anc.org.za/people/mandela.
html>. Acesso em: 25 mar. 2010.
SENADO FEDERAL. Lei n. 3.353 – de 13 de maio de 1888. Disponível em: <http://legis.
senado.gov.br/mate-pdf/8065.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2012.
SUA PESQUISA. Nelson Mandela. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/
biografias/nelson_mandela.htm>. Acesso em: 23 mar. 2012.
UNAIDS. Homepage. Disponível em: <www.unaids.org>. Acesso em: 23 mar. 2012.
UNESP. O que é a Aids. Disponível em: <http://www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/
olho_vivo/aids/o_que_aids.htm>. Acesso em: 23 mar. 2012.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCASTRO, L. F. O trato dos viventes: a formação do Brasil no Atlântico Sul – séculos
XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
BARBOSA, V. O. Gênero, identidades e mobilização na África do Sul. In: XXV SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA. Fortaleza. Anais.... [CD-ROM]. Fortaleza: ANPUH, 2009.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa – conforme a nova
ortografia. São Paulo: Positivo, 2009 [CD-ROM].
FERRO, M. História das colonizações: das conquistas às independências, séculos XIII ao
XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
______. (Org.). O livro negro do colonialismo. Tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Record, 1998.
JAUARÁ, M. A construção do estado moderno na África lusófona. In: XXV SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA. Fortaleza. Anais... [CD-ROM] Fortaleza: ANPUH, 2009.
LIMA, M. L. D. Lei 10.639/03: obrigatoriedade do ensino de História da África e
Afrobrasileira na educação básica: experiência através de projetos interdisciplinares
em escola da zona rural de Macaíba/RN. In: XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA.
Fortaleza. Anais... [CD-ROM]. Fortaleza: ANPUH, 2009.
M’BOKOLO, E. As práticas do apartheid. In: FERRO, M. (Org.). O livro negro do
colonialismo. Tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
MAHUMANE, P. A. “Somos uma identidade própria”: percorrendo as trilhas de uma
identidade Tsonga criada. As múltiplas identificações no contexto urbano do bairro
Luís Cabral em Maputo. Dissertação (Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos) –
Universidade Federal da Bahia, 2007.
SILVA, A. C. Um rio chamado Atlântico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; EDUFRJ, 2003.
SOUZA, M. M. África e Brasil africano. 2. ed. São Paulo: Ática, 2007.