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Universidade Estadual de Campinas – Unicamp

Comunicação Social – Habilitação em Midialogia


CS104 – História da Fotografia
Docente: Anna Carvalho
Discente: Ingrid Fernandes Ruela R.A.: 174986

Resenha: Recolocações (à guisa de introdução)


A Ilusão Especular – Uma Teoria da Fotografia, de Arlindo Machado
(São Paulo: Gustavo Gili, [1984] 2015)

Há, pelo menos, cinco séculos o desenvolvimento das forças produtivas no sistema capitalista
vem possibilitando um aprimoramento na técnica de reprodução automática do mundo visível, de
tal maneira que ela possa, dentro da mesma lógica mecânica e fria na qual se dá também o processo
produtivo, “duplicar o mundo com a fria neutralidade de seus procedimentos formais.” (p. 13).

Se em toda ideologia os homens e suas relações aparecem invertidos como em uma câmara
obscura, esse fenômeno responde a um processo histórico de vida como a inversão dos
objetos ao projetar-se sobre a retina responde ao seu processo de vida diretamente físico.
(MARX & ENGELS apud MACHADO, 2015: 17)

Segundo Machado, a inversão do mundo é fundamental para que se possa entendê-lo. Os


sistemas simbólicos, construídos para representar figurativamente o mundo, não funcionam como
simples “espelhos”, que refletem o mundo de maneira direta.
Dentro do regime das trocas simbólicas, o ato de registrar através da fotografia é uma
intervenção que se dá no plano das representações, e que necessariamente vem carregada de sentido
ideológico.
O processo de o registro da informação imagética luminosa do mundo interpreta e altera o
objeto representado, já que ele não se realiza sem o intermédio de um operador, que mergulhado
numa lógica de ordenação do mundo polarizada em duas classes sociais antagônicas, enche o
registro de uma carga ideológica por produzi-lo a favor de algum dos times em campo.
Quando se trata do time dominante, entretanto, a existência dessa carga ideológica aparece de
forma oculta, já que o movimento que ela realiza é no sentido de perpetuar a ordem das relações
sociais de produção.
“A realidade material da ideologia são os signos, entidades elementares que constituem todos
os sistemas de representação.”, afirma Machado sobre o que pensava o jovem marxista Volochinov
sobre os signos. Considerando a faculdade mimética, uma leitura daquilo que é representado
necessariamente corresponderia aos elementos da realidade material, determinada por um tempo
histórico.
Os signos “refletem e refratam a realidade visada pela representação” (MACHADO, 2015
p.24), ou seja espelham e transfiguram a realidade, e não o fazem de uma maneira autônoma e
inocente. Eles só existem porque são enunciados por indivíduos através de determinados aparelhos.
Isto não significa, entretanto, que eles possuem uma carga ideológica inerente e imutável, ou que
apenas um determinado conjunto simbólico, que constitui um código, é proferido por estratos
sociais específicos.
Na verdade, levando em consideração a imposição dos códigos causada pela lógica de
dominação, a língua, na de Barthes resgatada por Machado, pode ser entendida como “uma
legislação que nos obriga a dizer coisas com as quais nem sempre concordaríamos se tivéssemos
domínio do processo.” (MACHADO, 2015 p.28).
São essas as questões que o autor Arlindo Machado desenvolve com brilhantura na introdução
da obra A Ilusão Especular, que se propõe a analisar “as bases ideológicas que suportam os
procedimentos técnicos e formais de um sistema de signos particular, baseado na exploração da
imagem figurativa.” (p. 15)

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