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Indivíduo e Identidade Pessoal – Resumo - Paul Ricoeur

Objetiva-se buscar a noção de IPSEIDADE ou do SI -MESMO. Propõe-se a justificar as duas definições da palavra indivíduo, aparentemente são diversas, no sentidos empírico e moral:
No sentido empírico: “Indivíduo designa uma amostra indivisível da espécie humana, tal como o encontramos em todas as sociedades”.
No sentido moral: “Indivíduo designa um ser independente e autônomo [...] não social, tal como o encontramos na nossa ideologia moderna do homem e da sociedade “.
Indivíduo, não se refere apenas à espécie humana, mas qualquer espécie. Ex. um animal qualquer.

Ricoeur, Considerará 3 etapas do problema, ligadas por 2 transições.


1º Etapa: 2º Etapa 3º Etapa
É epistemológica, considera: o Extrair o EU do eu digo, para Considera as implicações éticas dos atos de discurso, o comprometer-se a mim próprio. Inicia a análise focando a LINGUAGEM, e ao funcionamento
indivíduo qualquer que seja ele tratará atingir DIGO EU. Como alguém desta.
da individualização. se identifica a si mesmo dizendo 1ª Pressuposição
EU. 1º - O indivíduo é dito
1º Transição 2º - Um locutor diz que
2º Transição 3º - Um sujeito responsável diz-se.
Distinção do indivíduo HUMANO do
2ª Presuposição A correlação entre individualização , identificação e imputação, ou seja a relação entre si-mesmo e outrem.
indivíduo em geral, através do “eu digo Considera a identidade
- Pragmática, condições de interlocução, o locutor figura imediatamente numa relação de interlocução; pois falar é DIRIGIR-SE À. Alocutório = é aquele
que , eu afirmo que:” narrativa.
para quem eu falo. Atos de elocução ou elocutórios = maneira de exprimir-se oralmente ou por escrito.

I - INDIVIDUALIZAÇÃO II - IDENTIFICAÇÃO III – IMPUTAÇÃO


Pressuposição: 1ª Etapa : Discernir os modos de proceder através dos quais individualizamos um algo em geral. - Aborda a questão do QUEM , que implica muito o Os aspectos éticos do si
Como é que a LINGUAGEM DESIGNA o individual. âmbito dos pronomes pessoais do que a relação de - Cita o ato de preferir =
2ª Pressuposição: O indivíduo pode ser dito e não deixa de ser dito. interlocutor reduz a eu- tu. O quem introduz a 3ª pessoa. por algo acima de qualquer
3ª Pressuposição: Especificação e classificação - A citação permite o eu figurar na 3ª pessoa, sendo coisa .
“ O processo de individualização se exerta no da classificação a níveis diferentes da especificação em que esta entre aspas ou dizendo: “ ele pensava que ...” - Avaliar a si próprio tem
última consiste. - Benveniste identificava o ele à não pessoa, mas base num sentimento
Recursos da linguagem para proceder a designação do indivíduo; são os três operadores de individualização : Ricoeur mostra o contrário e cita a Bíblia e o discurso fundamental: a estima de si .
1º As descrições definidas – Ex.: o inventor da imprensa. indireto livre. - Caracteriza o ato de
2º Os nomes próprios – Ex.: Gutemberg. A questão quem, tem como respostas: PROMETER = colocar-se na
3º Os indicadores : pronomes pessoais – (eu, tu, eles), (isto, aquilo) demonstratrivos , Advérbios de lugar (aqui, EU na confissão; TU na acusação, ELE na descrição obrigação; o ele conta
além, acolá), de tempo (agora, ontem), de modo, tempos verbais (assim , diversamente). narrativa. comigo e espera que eu
- Privilegia-se na análise o indivíduo HUMANO, pois operam a individualização. O reflexo de todos esses pronomes é SI (ipse) seja fiel ao que prometi.
- Nos exemplos a preferência é a designação real, o nome é tomado como ETIQUETA da coisa ( a marca, - Em francês há o eu- mesmo, tu-mesmo, etc. - A promessa é uma
verificar a evolução do sistema marcário). - Mesmo em latim é idem e ipse IPSEIDADE FORTE ; pois
- Nas descrições definidas faz-se o cruzamento das classes lógicas: Ex.: “ O 1º homem que caminhou na lua” Idem = extremamente parecido, expressa identidade. embora possa custar-me,
1º classe dos homens determinam apenas 1 indivíduo Ipse = idêntico a si , no sentido do não – estranho, fá-lo-ei.
2º tudo o que caminha Ipse - expressa reflexividade. - Como a promessa tem
3º tudo o que é relativo à lua - Preocupação de si; é a do sujeito que designa a si uma testemunha e um
O processo de descrição é para mostrar ..O nome próprio (que tb. é uma marca) tem a função indispensável de mesmo. destinatário em o outrem.
designar, de forma permanente, a mesma coisa. É portanto muito mais específico do que os indicadores cujo 4 características: Reforço, reflexividade, distanciação e - A promessa -
valor designativo é MÓVEL. função distributiva. Distribuir o si por todas as pessoas obrigação - quase contrato -
O nome próprio permite afetar algo no espaço e no tempo. Ex: Galileu Galilei (Itália, Séc XV) , estabelece relação por intermédio de cada vez. esquema de cooperação de
biunívoca entre uma seqüência fônica e uma singularidade. 2º Transição – através da narratividade uma sociedade.
O nome próprio SINGULARIZA um indivíduo e apenas um, com exceção de todos os outros; identifica o que se O que é ter uma história? É poder passar por uma série - Devo manter a
fala e o caracteriza através de suas qualidades. de transformações actanciais (de ação, aquele que faz) promessa, a promessa da
Os indicadores têm uma função intermitente, ao contrário dos nomes próprios; designam de cada vez coisas - Aquele que fala é um fazedor de discurso, é um promessa remete-nos a um
diferentes. actante.. MEIO SOCIETAL, no qual o
A linguagem é feita de forma a dispor de processos específicos de designação, distintos da predicação – visa - O actante identifica-se pelo seu fazer. princípio da fidelidade
apenas um indivíduo, excluindo todos os outros - A semiótica narrativa modaliza o actante: poder , contribui para o bom
Nada há nada de comum entre o funcionamento dos nomes próprios, o das descrições definidas e o dos dêiticos ( querer, saber, dever fazer, e aí se desenrola uma funcionamento das
isto, aquilo). história. instituições.
Paradoxos da reflexividade da linguagem - Hannah Arendt define ação em três níveis: - O triângulo da
1. Anfibologia do eu = duplicidade de sentido em uma construção sintática. O EU, ora designa qualquer um e - No mais baixo: o trabalho - transformar as coisas e promessa (EU, TU, NÓS)
ao falar se designa a si mesmo. dominar a natureza. assegura a IPSEIDADE.
2. Eu e Tu exercem papéis reversíveis embora ancoradores. Quando me dirijo a ti, tu compreendes eu. O EU - No intermediário: a obra, que deixa atrás de si - O individualismo nasce
amostra está ancorado, o eu tipo está disponível. monumentos de cultura. da pretensão de formar a
O ponto de perspectiva do mundo é, de uma certa maneira certa , o “limite do mundo”, e não um dos seus - No mais alto: a ação propriamente dita ; ou seja o dimensão cosmopolítica e o
conteúdos A invenção do calendário e do tempo do calendário é o instrumento da correlação entre o tempo vivido relato que dela se faz. próprio espaço público a
pelo EU, com o seu presente vivo. - Cita Proust –“ler em si mesmo” = refiguração do partir apenas da
A relação entre a DATAÇÃO e o INSTANTE qualquer. A conexão entre AQUI e em lugar no mundo, a localização próprio agente através do relato. IPSEIDADE ÉTICA.
é um fato de inscrição.

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