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Manual

de Formação Saúde da Pessoa


Idosa – Prevenção de Problemas
Formadora: Marta Vieira



UFCD 3544 – Saúde da Pessoa Idosa – Prevenção de Problemas

Índice

Introdução ............................................................................ 3
1. Promoção da saúde ........................................................... 5
1.1 Conceito de saúde ............................................................................................................. 6

1.2 Higiene corporal ................................................................................................................. 8

1.3 Alimentação e nutrição .................................................................................................. 11

1.4 Exercício físico .................................................................................................................. 18

1.5 Hábitos tóxicos ................................................................................................................. 21

1.6 Higiene do meio físico e social .................................................................................... 25

1.6.1 Adaptação domiciliária e prevenção de acidentes .................................................... 25

1.6.2 Reabilitação e reinserção social ................................................................................... 29

1.7 Vacinas ................................................................................................................................. 31

1.8 Doenças crónico-degenerativas: aspetos preventivos ....................................... 32

1.9 Controlo da medicação .................................................................................................. 34

2.Problemas de saúde ......................................................... 35


2.1 Problemas cardiovasculares ........................................................................................ 36

2.1.1 Hipertensão arterial ....................................................................................................... 38

2.1.2 Angina de peito .............................................................................................................. 40

2.1.3 Enfarte do miocárdio ..................................................................................................... 40

2.1.4 Acidente vascular cerebral ........................................................................................... 44

2.2 Problemas respiratórios ................................................................................................ 47

2.3.Problemas gastrointestinais ........................................................................................ 50

2.4.Problemas hematológicos e oncológicos ................................................................ 54

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2.5 Problemas endocrinológicos ........................................................................................ 57

2.6 Problemas genito-urinários ......................................................................................... 62

2.7 Problemas musculosqueléticos ................................................................................... 68

2.8 Problemas neurológicos e sensoriais ........................................................................ 71

2.9.Problemas dermatológicos ........................................................................................... 78

2.10 Problemas oftalmológicos .......................................................................................... 83

2.11 Problemas infeciosos ................................................................................................... 85

3. Métodos e técnicas aplicadas ao doente em estado terminal


............................................................................................ 88
3.1 Abordagem compreensiva e multidimensional ..................................................... 89

3.2 Critérios de inclusão ....................................................................................................... 91

3.3 Degradação funcional – métodos de avaliação e prevenção ........................... 95

4.Cuidados em fase terminal ............................................ 100


4.1 A higiene ........................................................................................................................... 101

4.2 O conforto ......................................................................................................................... 102

4.3 O apoio ............................................................................................................................... 105

4.4 Atuação após a morte .................................................................................................. 107

4.4.1 Corpo ............................................................................................................................. 107

4.4.2 Família ........................................................................................................................... 107

4.4.3 Formalidades ................................................................................................................ 108

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Introdução

As alterações demográficas do último século, que se traduziram na modificação e por vezes


inversão da pirâmide etária, refletindo o envelhecimento da população, vieram colocar aos
governos, às famílias e à sociedade em geral, desafios para os quais não estavam
preparados. Envelhecer com saúde, autonomia e independência, o maior tempo possível,
constitui assim um desafio à responsabilidade individual e coletiva, com tradução
significativa no desenvolvimento económico dos países.
O Homem envelhece, é uma das realidades básicas da vida, e assim a mudança causada
pelo envelhecer vai surgindo, aumentando as limitações e despoletando doenças, mas o
idoso ao contrário do que é dito, consegue interessar-se por muitas coisas. A velhice não é
sinónimo de muitos anos e poucos interesses, mas sim de muitos anos e de muitos
interesses. Embora, o individuo envelheça, não deve ficar desadaptado, inútil ou sentir-se
rejeitado, pois todas as idades têm um lado positivo, há sempre alguma maneira de
encontrar felicidade, no entanto, só num ambiente apropriado e rodeado de atitudes de
interajuda, se consegue esse equilíbrio.
A inatividade é o maior inimigo do idoso, é preciso por isso criar estruturas para que
possam estar ativos com tarefas adequadas às suas possibilidades, possam comunicar e
estabelecer laços de amizade com os elementos da comunidade em que estão inseridos,
conseguindo assim prevenir problemas, antes que eles se tornem incomportáveis.
O presente manual pretende constituir uma ferramenta funcional de trabalho para os
formandos da Unidades de Formação de Curta Duração (UFCD) “Saúde da Pessoa Idosa –
Prevenção de Problemas”. Tem igualmente o intuito de servir como instrumento de
consulta no decorrer da atividade profissional do Agente de Geriatria, sempre que sinta
necessidade de recorrer a um suporte bibliográfico para o seu desempenho. De um modo
prático, com uma linguagem clara e concisa, pretende que os formandos, que trabalham
ou venham a desenvolver funções na geriatria, conheçam os conceitos e metodologias de
trabalho mais eficazes para aplicar nesta área.
Pretende-se que no final desta formação os formandos possuam competências para
reconhecer a importância dos fatores que contribuem para a promoção da saúde,
reconhecer os problemas de saúde mais comuns na terceira idade, identificar o estado do

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doente terminal em domicílio, aplicando os métodos e as técnicas de avaliação e prevenção


e prestar cuidados, sob orientação, ao idoso em fase terminal.
A carga horária da formação é de 50 horas e os conteúdos programáticos são variados,
incidem sobre a promoção da saúde, com o conceito de saúde, informações sobre a
higiene corporal, alimentação e nutrição, exercício físico, hábitos tóxicos, higiene do meio
físico e social (adaptação domiciliária e prevenção de acidentes, reabilitação e reinserção
social), vacinas, doenças crónico-degenerativas com aspetos preventivos e controlo da
medicação. Também serão abordados problemas de saúde cardiovasculares (hipertensão
arterial, angina de peito, enfarte do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais), problemas
respiratórios, gastrointestinais, hematológicos e oncológicos, endocrinológicos, genito-
urinários, músculo-esqueléticos, neurológicos e sensoriais, dermatológicos, oftalmológicos e
infeciosos. Por último serão abordados métodos e técnicas aplicados ao doente em estado
terminal, a abordagem compreensiva e multidimensional, os critérios de inclusão e a
degradação funcional (métodos de avaliação e prevenção), bem como os cuidados em fase
terminal (a higiene, o conforto e o apoio) e a atuação após a morte, com o corpo, a família
e outras formalidades.

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1. Promoção da saúde

1.1 Conceito de saúde


1.2 Higiene corporal
1.3 Alimentação e nutrição
1.4 Exercício físico
1.5 Hábitos tóxicos
1.6 Higiene do meio físico e social
1.6.1 Adaptação domiciliária e prevenção de acidentes
1.6.2 Reabilitação e reinserção social
1.7 Vacinas
1.8 Doenças crónico-degenerativas: aspetos preventivos
1.9 Controlo da medicação

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1.1 Conceito de saúde

Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é “um estado positivo de completo bem-
estar físico, mental e social”, esta definição contraria a do modelo médico que associa a
saúde à “ausência de doença” ou de qualquer tipo de distúrbio biológico.
A doença tem repercussões nas várias dimensões do indivíduo (física, psicológica e social)
despoletando um estado de desequilíbrio. Desta forma, o contexto familiar, laboral e outros
aos quais o indivíduo pertence é afetado, daí decorre a necessidade que o tratamento da
doença não se circunscreva apenas ao indivíduo. A saúde é assim um recurso da vida
quotidiana e não apenas um objectivo a atingir, trata-se de um conceito positivo que
valoriza os recursos sociais e individuais, assim como as capacidades físicas.
Através dos censos 2011 estima-se que em Portugal existam 2,023 milhões de pessoas
com idade igual ou superior a 65 anos de idade, representando cerca de 19% da população
total e que mais de 1 milhão e 200 mil idosos vivem sós ou em companhia de outros
idosos.
O envelhecimento saudável enfatiza uma abordagem que reconhece os direitos à igualdade
de oportunidades e de tratamento. Esta abordagem promove uma atitude positiva para
envelhecer, procura quebrar estereótipos e mudar as atitudes face ao envelhecimento e
assim promover o entendimento entre gerações.
A atividade física, por exemplo, apresenta diversos benefícios para a saúde. Ao comparar
idosos sedentários com idosos fisicamente ativos estes últimos apresentam menos taxas de
mortalidade, doença coronária, hipertensão arterial (HTA), acidente vascular cerebral,
diabetes tipo II, cancros do cólon e mama e maior nível de capacidade cardiorrespiratória,
saúde funcional, diminuição do risco de queda, melhor função cognitiva e menor risco de
depressão. Assim, naturalmente, a falta de atividade física contribui para muitas doenças
crónicas que afetam esta população, como doenças cardíacas e pulmonares, diabetes,
doença de Alzheimer, HTA e cancro. A diminuição da força muscular inerente à idade pode
levar à perda de autonomia e aumentar a incapacidade. Em adultos com idade igual ou
superior a 65 anos a atividade física pode incluir atividades de lazer como caminhar,
dançar, jardinar, nadar e andar de bicicleta, tarefas domésticas ou mesmo exercício físico
planeado, no contexto das atividades de vida diária, família e comunidade.

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Torna-se assim pertinente desenvolver um projeto que avalie os aspetos pessoais, de


doença e de funcionalidade e relacione com a qualidade de vida para permitir a elaboração
de um programa de atividade adequado às preferências e necessidades da população
idosa, de modo a contribuir para a prevenção, tratamento e reabilitação da doença e
promoção da prática de estilos de vida que permitam um envelhecimento saudável e com
qualidade de vida. Daqui entendemos que, no que respeita ao idoso institucionalizado, a
estrutura residencial deve promover a educação para a saúde e a prevenção da doença e
assegurar, de forma adequada, os cuidados médicos, de enfermagem e de reabilitação,
entre outros, que os residentes necessitem. Os cuidados de saúde devem ser prestados por
profissionais qualificados, e os prestadores desses cuidados devem respeitar a privacidade
e a confidencialidade.
A família tem também um papel de extrema importância, melhor que ninguém, conhece o
trajeto e evolução da situação clínica do idoso e assim, sempre que o residente o deseje,
deve ser solicitada a participar e a desempenhar um papel ativo nos cuidados de saúde.
Em conformidade, qualquer situação de emergência deve ser imediatamente comunicada
ao representante legal e à família.
A manutenção e estimulação das capacidades de cada residente é um dever da estrutura
residencial. Sempre que esta não possa providenciar estes serviços no seu espaço deve,
em articulação com a comunidade, encontrar soluções que possibilitem um adequado apoio
e desenvolvimento da autonomia dos residentes.

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1.2 Higiene corporal

Os aspetos da higiene pessoal e estéticos são fundamentais à conservação ou melhoria da


qualidade de vida e da autoestima, não se resumindo por isso à limpeza e ao asseio. A falta
de higiene não é um problema que pode apenas interferir com a saúde, contribui também,
e de forma decisiva, para uma diminuição da autoestima e dificulta a integração social.
É responsabilidade do cuidador apoiá-los na manutenção da mesma, mas tendo presente
que sempre que possível, o residente deve responsabilizar-se pela sua própria higiene,
promovendo a sua autonomia, no entanto é importante que, com muita delicadeza e
respeito pela sua intimidade, em idosos institucionalizados exista por parte dos
colaboradores supervisão/controle da higiene diária dos residentes, e se criem mecanismos
de registo que facilitem esse trabalho e o estímulo ao gosto de cada residente pela sua
higiene e imagem.
Muitos residentes podem não conseguir tratar da sua higiene pessoal sem ajuda, a
prestação de cuidados de higiene apoiada ou assistida deve primordialmente ter em conta
o conforto do residente e ser levada a cabo com total respeito pela sua privacidade.
É regra básica que todos os utensílios de higiene - escovas de cabelo, pentes, toalhas,
escovas de dentes, sabonetes, águas-de-colónia, máquinas ou lâminas de barbear e
quaisquer outros - são exclusivos e únicos para cada residente.
A apresentação diária dos residentes deve ser cuidada. O vestuário e o calçado devem ser
escolhidos pelo idoso, adequando-se a eventuais limitações físicas e à estação do ano,
muitas vezes, os idosos têm dificuldade em levantar os braços, em dobrar-se ou inclinar-se,
mas isso não quer dizer que sejam desleixados na sua maneira de vestir. A melhor opção
passa por selecionar roupas mais largas, mais práticas e mais confortáveis para a
prossecução das suas atividades e exercícios diários, estes devem ser encorajados a
cuidarem do seu aspeto e a permanecer o menor possível na cama. Quando, por doença
ou especial incapacidade, tenham de permanecer mais tempo nessa situação, isso não
significa que necessitem de menos cuidados de higiene, nem que a sua apresentação
estética tenha menos importância.
Muitas vezes a casa de banho comum é pouco funcional e há má concepção dos
equipamentos, o que obriga à realização de esforços suplementares por parte do cuidador
e do próprio idoso. Para que o banho não se revele um tormento, o ideal seria adaptar a

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casa de banho às necessidades e à condição do idoso, assim o banho estaria sempre


assegurado e sem qualquer esforço adicional.
Também deve estar atento ao estado das torneiras do lavatório e verificar se elas são as
mais adequadas para a condição do idoso. Por exemplo, se a pessoa sofre de artrite
reumatoide, terá grandes dificuldades em conseguir abrir e fechar uma torneira de água e
até mesmo pegar no sabonete para lavar as mãos. O cuidador deve ter em atenção todos
estes fatores que condicionam a ação dos idosos e deve descobrir novas estratégias que
garantam a sua autonomia e independência.
A manutenção da saúde oral é de extrema importância para a saúde geral de um idoso,
inclusive para os que utilizam placa dentária, pois podem estar mal instaladas, o que faz
com que o resto dos alimentos permaneça indevidamente no espaço que se encontra em
torno da mesma, devem ser lavadas diariamente, de preferência após cada refeição.
Alguns residentes podem necessitar de ajuda para utilizar a casa de banho. Podem ter
problemas de mobilidade, o que torna difícil a sua deslocação. Este problema é mais
premente se a necessidade de usar a casa de banho for frequente. Pode haver situações
de “urgência” em que o residente não chega à casa de banho a tempo.
É muito perturbador tomar consciência de que se necessita de outrem para se poder
utilizar a casa de banho. O próprio ato de pedir ajuda para esse fim pode ser bastante
embaraçoso. Por isso, é fundamental que o colaborador desenvolva excelentes capacidades
de comunicação e saiba mostrar-se acessível, disponível e compreensivo. Acima de tudo, o
residente deve sentir que estamos a ajudá-lo a manter a sua independência e autonomia.
Da mesma forma, os equipamentos devem estar adaptados à sua utilização pelo idoso, por
exemplo a posição baixa em que a sanita se encontra é uma dificuldade extraordinária para
um idoso e pode conduzir a desequilíbrio e quedas. Para que isso não aconteça, junto à
sanita, devem existir barras de apoio, caso contrário, o idoso precisará de ajuda para se
conseguir pôr de novo em pé.
O apoio prestado nos cuidados de higiene deve pautar-se pelo respeito dos idosos à
dignidade, privacidade e confidencialidade.

Com o intuito de cuidar corretamente da higiene de um idoso, com respeito pela sua
autonomia, pode seguir algumas destas dicas:
• Opte pela colocação de portas de correr, assim o acesso à casa de banho/banheiro
é mais prático;

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• Privilegie o espaço na casa de banho, caso exista a necessidade de retirar um


móvel, deve-o fazer para obter um espaço mais funcional e alargado;
• Certifique-se que as toalhas, o sabonete, a esponja e o champô estão guardados
em locais de fácil acesso;
• Instale aparelhos de emergência que estejam situados em locais de fácil acesso
como, por exemplo, um intercomunicador. Este tipo de aparelhos garante uma
maior segurança ao idoso;
• Ilumine bem as áreas;
• Armazene na casa de banho/banheiro uma quantidade mínima de roupas e
coloque-as num local de fácil acesso;
• Suavize todos os cantos para reduzir as hipóteses de ferimentos resultantes de uma
queda;
• Utilize sabonetes líquidos para lavar as mãos, pois estes são mais práticos do que as
barras de sabão;
• Coloque barras de apoio para ajudar um idoso a movimentar-se e reforce as
saboneteiras e o corrimão das toalhas para que eles possam atuar como suporte;
• Disponha os acessórios para o banho num local de fácil acesso. Essa é uma maneira
de garantir uma certa independência e autonomia ao banho de uma pessoa idosa.

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1.3 Alimentação e nutrição

Uma alimentação equilibrada, ajuda a manter o organismo são. Para a conservação do


peso ideal, deve existir um equilíbrio entre as calorias ingeridas e os gastos energéticos.
Uma dieta variada é aconselhada a todos, mas o mais importante é ter em conta os gostos
e os hábitos alimentares de cada um, especialmente no idoso. Muito embora saibamos que
uma alimentação saudável é aquela que engloba todo o tipo de alimentos, muitos idosos ao
longo da sua vida não a tiveram, pode-se e deve-se explicar a importância deste tipo de
alimentação, mas não se pode obrigar o idoso a aceitá-la.
A pirâmide da dieta mediterrânica funciona como um bom guia para a promoção de estilos
de vida saudáveis, onde se privilegia o consumo de alimentos de diversos grupos, dando
especial importância às proporções e frequência de ingestão.

Frutos e Legumes

A riqueza em hortofrutícolas assume uma presença notória no padrão alimentar


mediterrânico, verificada sob a forma de saladas, refogados ou cozidos, salientando-se o
papel da sopa, assente na diversidade e versatilidade de ingredientes, com ênfase na
preservação nutricional dos mesmos. A riqueza e pluralidade notável de micronutrientes
(vitaminas e minerais) e outros compostos, bem como o elevado teor em fibra alimentar
deste grupo de alimentos, evidencia a importância da sua inclusão, em abundância, num
padrão alimentar promotor de saúde, pois parecem assumir um papel central na
constituição do fator de prevenção, especialmente quando associado a doenças
cardiovasculares e determinados tipos de cancro. Para manter uma alimentação saudável,
deverão ingerir 4 a 5 porções de legumes por dia. Na escolha deverão constar pelo menos
dois tipos de legumes.
Procedendo a uma aliança com o padrão alimentar mediterrânico, salientam-se frutos como
os citrinos, uva, romã, figo, ameixa, melão, melancia, pêssego, maçã, pera e cerejas. Face
ao grupo dos hortícolas, destaca-se na tradição o consumo de alho e cebola, do tomate,
pimento, pepino e de um leque variado de vegetais folhosos verdes, em concordância com
o fator sazonal. Os legumes e os frutos poderão ser consumidos cozidos, crus ou em sumo.

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Pão e cereais

Paralelamente à fruta e aos produtos hortícolas é recomendado o consumo de cereais,


onde a eleição de cereais integrais é colocada em destaque. Evidência científica demonstra
o potencial efeito protetor do seu consumo face ao desenvolvimento de diversas doenças
crónicas, tais como obesidade, diabetes mellitus tipo 2, diversos tipos de cancro e doenças
cardiovasculares. Dados recentes reportam uma associação entre a maior ingestão de
cereais integrais e a redução da mortalidade total, bem como da mortalidade associada a
doenças cardiovasculares. Os mecanismos adjacentes aos efeitos demonstrados são de
carácter multifatorial, contudo é conferida notoriedade ao teor de fibra alimentar, associada
a uma melhoria do perfil lipídico, regulação do peso corporal, melhoria do metabolismo da
glicose, redução da pressão sanguínea e da inflamação crónica, e às propriedades
antioxidantes e anti-inflamatórias decorrentes da abundância de aprovisionamento ou de
diversos nutrimentos e compostos bioativos. No âmbito da educação alimentar da
população, diversos países em todo o Mundo têm vindo a incluir recomendações
alimentares que preconizem o consumo preferencial de cereais integrais.

Leite e seus derivados

Os laticínios constituem uma boa fonte de proteína de elevado valor biológico, cálcio,
fósforo e vitaminas A e B2. Este grupo de alimentos faz parte da alimentação dos povos
mediterrânicos desde há milénios, nas diferentes civilizações e são representados no
modelo alimentar mediterrânico, primordialmente sob a forma de queijo e iogurte. O seu
consumo é recomendado em quantidade e frequência moderada e privilegiando a
alternativa com teor de gordura reduzido, visando um maior controlo do aporte de gordura
de origem animal. Estudos indicam que o consumo de lacticínios com baixo teor de gordura
está associado a uma menor incidência de síndrome metabólico, particularmente em
indivíduos com risco acrescido de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Carnes vermelhas e processadas

Tendo em conta a elevada quantidade de gordura de origem animal que possuem devem
ser consumidas em pequena quantidade e frequência, dando preferência a partes mais
magras das carnes de porco, bovino, ovino e caprino ou dos seus derivados processados

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(fiambre, chouriços, salpicão). As carnes vermelhas não devem aparecer mais do que duas
vezes por semana e as carnes processadas não mais do que uma vez por semana.

Peixe, carnes brancas e ovos

Em virtude dos princípios do padrão alimentar mediterrânico e grupos de alimentos por


este enfatizados, ressalva-se o peixe, e o incremento do seu consumo, em detrimento da
carne e produtos cárneos processados. A ingestão moderada de peixe conduz a uma maior
adequação de ingestão de micronutrientes e encontra-se associada a benefícios na
prevenção de doenças cardiovasculares e a uma melhoria da função cognitiva. Segundo as
recomendações europeias para a prevenção de doenças cardiovasculares, é recomendada a
ingestão de peixe com uma frequência igual ou superior a duas vezes por semana. É
promovido o consumo de sardinha e atum, enquanto espécies características do
mediterrâneo. Enfoque na seleção do peixe fresco pela sazonalidade, mas à luz da
realidade contemporânea, é pertinente a promoção do seu consumo sob a versão
congelada. Esta apresenta um perfil nutricional igualmente favorável e está habitualmente
associada a um menor custo económico. As conservas de peixe podem apresentar
simultaneamente uma vantagem nutricional e económica, quando consumidas com
moderação, uma vez que as quantidades de sal e gordura são geralmente superiores às
dos seus equivalentes frescos.
A proteína de origem animal não deve corresponder à maior percentagem no prato, mas
sim numa quantidade mais reduzida. O peixe deve ser consumido em maior frequência
durante a semana, comparativamente à carne ou aos ovos, aparecendo, pelo menos, duas
vezes por semana.

Água

O consumo de água é fundamental para promover uma alimentação saudável. A água é o


principal constituinte do organismo, representando cerca de 75% do peso corporal à
nascença, decrescendo esta proporção à medida que a idade avança.
Enquanto nutriente, apresenta um papel ativo em todos os sistemas e órgãos, com
influência no bem-estar e saúde:
• Transporte de nutrientes e excreção dos resíduos desnecessários através da urina;
• Regulação da temperatura corporal; otimização do desempenho físico;

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• Melhoria do funcionamento cognitivo e estado de humor;


• Maximização da atenção, memória e concentração;
• Contribuição para o funcionamento saudável do coração;
• Preservação da elasticidade da pele;
• Colaboração na digestão e prevenção da obstipação, entre outros.

O valor de referência para a ingestão de água proveniente de bebidas recomendado é de


1,5 A 2 litros por dia, mas deve salientar-se a diversidade de fatores que condiciona a
adequação do valor de ingestão para cada individuo, pois além da ingestão de água e
infusões, é há aporte hídrico por outros alimentos, como o leite e iogurtes, fruta e sumos
de fruta, os hortícolas e a respetiva inclusão em métodos de confecção como a sopa. Desta
forma, recomenda-se a ingestão diária de sopa, não só pela excelência nutricional, mas
também pelo elevado conteúdo em água.

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Em resumo:

Diariamente, as três principais refeições devem conter os seguintes elementos básicos:


• Cereais: uma ou duas porções por refeição, pão, massas, arroz, cuscuz e outros. De
preferência, grão inteiro, uma vez que alguns nutrientes importantes (magnésio,
fósforo, etc.) e a fibra podem ser perdidos com o processamento.
• Vegetais: o almoço e jantar, pelo menos duas porções por refeição ou mais, um
dele deve comer-se cru.
• Frutas: uma ou duas porções por refeição.
• A ingestão diária de 1,5 a 2 litros de água deverá ser o normal. Uma boa hidratação
é essencial para manter o equilíbrio da massa corporal, embora as necessidades
possam variar em cada individuo e com a idade, a atividade física, as circunstâncias
pessoais e as condições climáticas.
• Produtos lácteos: preferi-las em forma de iogurte desnatado e queijos. Contribuem
para fortalecimento ósseo, mas também são uma importante fonte de gordura
saturada.
• O azeite está localizado no centro da pirâmide, é a principal fonte de lipídios na
dieta por causa de sua alta qualidade nutricional. A composição confere uma
elevada resistência às temperaturas de cozedura e deve ser usado para cozinhar.
• Especiarias, ervas, alho e cebola são uma boa forma de introduzir variedade de
sabores aos pratos e contribuir para a redução de sal. Azeitonas, nozes e sementes
são boas fontes de lipídios saudáveis, proteínas, vitaminas, minerais e fibras. Um
consumo razoável de azeitonas, nozes, amêndoas e sementes (um punhado)
completam uma refeição saudável.
• Respeitando as crenças religiosas e sociais, consumo moderado de vinho e outras
bebidas fermentadas (1 copo por dia para mulheres e 2 copos por dia para homens
como referência genérica) durante as refeições.

Semanalmente, deve haver:


• Variedade de proteínas de origem vegetal e animal deverão ser também
consumidos.
• Peixe (duas ou mais porções), carnes vermelhas (duas doses) e ovos (2-4 porções)
são boas fontes de proteína animal, tal como os mariscos.

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• Consumo de carne vermelha (menos de duas porções, carnes magras de


preferência). As carnes processadas (menos de uma porção) devem ser consumidas
em menor quantidade e frequência.
• A combinação de legumes (mais de duas porções) e cereais são uma fonte de
proteínas e lipídios. Batatas também estão incluídos neste grupo, pois elas integram
as receitas tradicionais acompanhadas de carne e peixe (mais ou menos de três
porções por semana, de preferência batata doce).

Ocasionalmente,
• No vértice da pirâmide estão representados os alimentos ricos em gorduras e
açúcares. Açúcar, doces, bolos e bebidas, tais como sumos de frutas açucaradas e
refrigerantes, devem ser consumidos em pequenas quantidades.

Relativamente ao momento da refeição, quando ajudamos um idoso a alimentar-se,


devemos perguntar-lhe que tipo de ajuda necessita ou deseja. Deve ser ele a guiar-nos e
nunca o oposto. A refeição deve ser dada a uma velocidade adequada, garantindo sempre
que a pessoa está confortável e que se sente tratado como um adulto, pois o momento da
refeição deve ser agradável, devendo evitar-se tudo o que possa levar o residente a sentir-
se diminuído na sua dignidade.
Numa estrutura residencial deve garantir-se que o momento da refeição é um espaço
relacional. Como tal, é imperativo ter colaboradores em número suficiente para permitir
que cada residente tenha um acompanhamento adequado. A escala deve prever turnos
ligeiramente mais longos do que o tempo real de refeição, para colmatar dias de maior
dificuldade ou demora e evitar que os colaboradores, à hora de sair, alimentem os
residentes à pressa e sem o cuidado necessário, ou sejam prejudicados no seu horário.
Se a pessoa idosa estiver acamada, deve tentar-se manter os seus hábitos alimentares,
tendo em atenção que a confecção da comida deve ser o mais simples possível, sem
refugados, gorduras ou excesso de sal e especiarias.
Se a pessoa idosa não consegue assumir uma posição de sentada na cama ou no cadeirão,
ou não consegue mastigar os alimentos, estes devem ser passados, mas cada um
individualmente para conservar o seu próprio sabor.
Numa situação de menor estado de atenção, a comida deverá ser mais liquefeita e pode
ser dada com auxílio de uma seringa, que se coloca entre a bochecha e os dentes, sempre
em pequenas quantidades, e aguardar que degluta antes de administrar mais, pois o risco

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de aspiração é maior quanto menor o estado de consciência. Não havendo a possibilidade


de garantir a segurança, não deve ser administrada, e deve a situação ser comunicada aos
profissionais de saúde, pois outras alternativas podem ser necessárias (como sonda
nasogástrica).

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1.4 Exercício físico

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a atividade física habitual da população em


geral diminui com o envelhecimento. Mas o exercício físico permite ao idoso desenvolver
uma atitude positiva e dinâmica quanto à saúde e ao bem-estar, e são numerosos os
benefícios que dele conseguem retirar: melhora a aparência, a vitalidade e a atitude, ganha
flexibilidade, vigor e resistência. Sendo assim, a atividade física regular é uma das
atividades que deve ser implantada nesta fase da idade como primordial para o processo
de envelhecimento.
A prática da atividade física está associada a melhorias na qualidade de vida dos idosos, e
que, através desta, obterão benefícios significativos a níveis fisiológicos, psicológicos e
socioculturais.
O que se destaca como objetivo principal da atividade física na terceira idade, é o
retardamento do processo inevitável do envelhecimento através da manutenção de um
estado suficientemente saudável que possibilite a normalização da vida dos idosos e os
afaste dos fatores de risco comuns na terceira idade.
A participação do idoso em programas de exercício físico regular, influencia no processo de
envelhecimento com impacto sobre a qualidade e expectativa de vida, tem como
benefícios:

• Luta contra a depressão. O exercício físico pode muito bem ser um dos melhores
remédios contra a depressão, a tristeza e a falta de rumo, que afeta muitos idosos
nesta fase das suas vidas. A prática regular de uma atividade física produz
endorfinas, as “hormonas da felicidade” que desencadeiam sentimentos de bem-
estar e autoconfiança.

• Mantém o cérebro alerta. Para além dos benefícios físicos, psicológicos e


emocionais, o exercício físico tem um contributo importante em manter o cérebro
dos idosos alerta e ativo. A atividade física assegura o funcionamento pleno das
funções cognitivas o que, por sua vez, pode prevenir a perda de memória,
a demência e até desacelerar a progressão da doença de Alzheimer. A lucidez e

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clareza de mente num idoso pode ainda incentivá-lo a fazer outras coisas como
manter os hábitos de leitura e escrita, entre outras atividades.

• Menos doença, mais saúde. Praticar exercício regularmente é ainda crucial para
todos os idosos porque reduz o impacto das doenças crónicas e não crónicas a que
podem ser suscetíveis. Alguns dos benefícios de saúde que a ginástica traz aos
idosos incluem o fortalecimento do sistema imunitário e digestivo, um coração e
uma tensão arterial mais saudáveis, ossos mais fortes e resistentes. Os idosos que
praticam algum tipo de atividade física têm um risco menor de virem a sofrer de
osteoporose, diabetes, obesidade, doenças cardíacas, Alzheimer, e alguns tipos de
cancro como o do cólon e da mama.

• Um sono melhor. A idade traz muitas vezes com ela perturbações de sono que
afetam as noites dos idosos. A prática de exercício físico regular contribui
substancialmente para um sono melhor, mais profundo, mais regenerador e que
chega mais depressa. Resultando num idoso que acorda com mais energia.

• Garante uma autoestima elevada. É certo e sabido que quem pratica exercício
físico regularmente sente-se muito melhor com a sua imagem física e isso é
importante para qualquer pessoa, independentemente da sua idade. Sentirmo-nos
bem connosco próprios é meio-caminho andado para nos sentirmos bem com a vida
e com as pessoas que nos rodeiam.

• Manter o peso ideal. Com o avanço da idade, o metabolismo do organismo


desacelera, o que significa que se torna mais difícil o idoso assegurar o seu peso
ideal. Para evitar engordar ou emagrecer em demasia, nada como o idoso manter-
se ativo – o exercício físico não só acelera o metabolismo, como ajuda a criar massa
muscular o que, por sua vez, contribui para queimar calorias indesejadas. Manter o
peso ideal é muito importante pois isso implica inúmeros benefícios de saúde e um
bem-estar geral.

• Corpo em forma. A melhor forma de combater a falta de mobilidade e aparente


fragilidade dos idosos é praticar exercício físico, que vai ajudá-los a melhorar a sua
força, flexibilidade e postura, o que por sua vez vai otimizar a sua mobilidade,

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equilíbrio e coordenação. Com o seu corpo em forma, um idoso sentir-se-á mais


capaz de levar a sua vida normal, sem medo de executar as suas próprias tarefas e
com menos medo das quedas habitualmente associadas à terceira idade.

• Uma maior independência. A verdade é que os idosos que praticam exercício


físico de forma regular vão parecer e sentirem-se mais novos, durante mais tempo.
Proporcionalmente, vão manter-se ativos durante mais tempo, o que significa que
vão trocar uma vida sedentária por uma vida mais ativa e dessa forma, para além
de ganharem saúde e bem-estar, vão continuar a fazer as suas coisas pelas suas
próprias mãos – vão manter-se independentes e felizes com isso, por isso, motive o
idoso da sua vida a mexer-se.

Exemplos de exercícios que podem praticar:


• Alongamentos;
• Hidroginástica;
• Natação
• Dança;
• Aeróbica de baixo impacto;
• Musculação especializada;
• Yoga;
• Tai Chi;
• Chi kung;
• Pilates;
• Caminhadas;
• Actividades lúdicas e recreativas;
• Ginástica geral.

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1.5 Hábitos tóxicos

Os idosos tornam-se muitas vezes mais vulneráveis a hábitos tóxicos, como o uso de álcool
e tabaco, por via da perda de papéis, solidão, etc.
Nesta faixa etária é especialmente complicada a gestão, pois os idosos usualmente
apresentam outros problemas de saúde e uso de muitos medicamentos, que, combinados
com as substâncias nocivas presentes no fumo e álcool, tornam os idosos mais susceptíveis
a interações, agravamento do quadro instalado, dificuldade de recuperação e interação
social.

Abuso de Álcool

O consumo de álcool em Portugal é o dos mais elevados da Europa, este corresponde à


sustância psicoativa mais usada pela humanidade desde os tempos mais remotos. O uso
abusivo de álcool é considerado um problema de saúde pública e a sua abordagem é da
responsabilidade de todos. Estudos realizados evidenciaram um aumento significativo do
uso de álcool na população idosa, as pesquisas mostram que 6 a 11% dos pacientes idosos
admitidos em hospitais gerais apresentam sintomas de dependência alcoólica, inclusive as
estimativas de admissão por alcoolismo nos serviços de emergência equiparam-se às
admissões por enfarte.
Além disso, o consumo excessivo de álcool interfere de várias maneiras na nutrição
adequada do idoso, pois compete com os nutrientes desde sua ingestão até sua absorção e
utilização, quanto maior a participação do álcool na dieta, menor a densidade e qualidade
nutricional da alimentação. O alcoolismo pode levar ao envelhecimento prematuro do
cérebro ao acelerar o processo normal de envelhecimento, levando a défices no
funcionamento comportamental e intelectual, e ainda pode acelerar o desenvolvimento da
instabilidade na postura levando as quedas.
No idoso o problema do alcoolismo pode estar camuflado por doenças físicas ou
psiquiátricas como depressão, insónia, doenças cardiovasculares e quedas frequentes, pelo
que um acompanhamento próximo é fundamental para se detetarem estas situações.
O diagnóstico do alcoolismo é feito através de uma “entrevista” com o paciente e sua
família e exame físico. Os exames de laboratório não servem para diagnosticar alcoolismo,

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porém podem dar pistas se o idoso faz uso crónico de álcool, e conseguem dar uma ideia
aproximada do grau de lesão de alguns órgãos devido aos efeitos tóxicos do álcool, como
por exemplo, no fígado. Existem ainda alguns sinais e sintomas são úteis na identificação
desta patologia. Sintomas físicos a nível neuromusculares (tremores, cãibras e parestesias)
e neurovegetativos (suores, taquicardia e hipertensão) e sintomas psicológicos (ansiedade,
humor depressivo, irritabilidade, insónias, alteração de comportamento face ao álcool,
desejo obsessivo de álcool).
Não existe um tratamento ideal e generalizado para o alcoolismo, por isso os casos devem
ser considerados individualmente, a partir de um bom exame clínico, deve-se indicar o
tratamento mais apropriado para cada pessoa de acordo com o grau de dependência e do
ponto de desenvolvimento da doença em que se encontra a pessoa, o suporte familiar e a
rede social que esta possui.
É preciso lembrar também que as recaídas são comuns nos pacientes com diagnóstico de
alcoolismo e que na grande maioria dos casos, o próprio paciente não consegue perceber o
quanto está dependente, tendendo a negar o uso ou mesmo. Nestes casos, pode-se
começar o tratamento ajudando o idoso a reconhecer o seu problema e a necessidade de
tratar-se e de tentar abster-se do álcool.
No processo de recuperação de uma pessoa que sofre de alcoolismo é muito importante
envolver a família, quer na fase inicial de ajuda na tomada de decisão, quer depois no
processo de manutenção da abstinência, para ajudar a lidar com os vários sentimentos e
dificuldades que vão surgindo ao longo do processo de reabilitação.
Existem algumas barreiras que dificultam a identificação e consequentemente o tratamento
dos problemas de alcoolismo nos idosos, entre elas é importante assinalar que muitas
vezes o estigma de os idosos consumirem álcool porque “ele sempre bebeu”, dificulta o
tratamento, também surgem dificuldades na identificação pois certos comportamentos ser
associados como deverem-se simplesmente à idade e não ao consumo de álcool, levando a
uma má classificação de sintomas, como défice cognitivo ou transtornos do humor, se
dever à idade do paciente ou atribuir os efeitos físicos do abuso a traços de personalidade
como “ele sempre dormiu/comeu mal”. Assim torna-se importante estar atento a questões
como a deterioração lenta dos cuidados pessoais e das atividades domésticas que, na
ausência de doença que justifique estes sintomas podem significar o abuso/dependência de
álcool. Estas questões levam a uma menor qualidade de vida, não só pelas quedas
evidentes que podem surgir mas também por outros factores, como as desnutrição e
quadros depressivos/demenciais que podem surgir, como foi descrito acima.

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Tabagismo

É uma das principais causas de morte, pelas doenças a que está associado – bronquite
crónica, cancro de pulmão, doenças cardiovasculares, etc…
A prevalência média do tabagismo em idosos é de 26%. Diversos fatores já foram citados
como facilitadores do tabagismo, como a convivência com outros fumadores, estar sem
emprego, alcoolismo, depressão, baixa participação em atividades lúdicas, maior risco de
baixo grau de satisfação nos relacionamentos sociais e outros achados negativos
relacionados à qualidade de vida.
Entre os benefícios obtidos com a cessação em idosos destacam-se a redução do risco de
adoecer, melhor controle da evolução de doença pré-existente, melhoria na qualidade de
vida e aumento da expectativa de vida.
A abordagem terapêutica deve ser adaptada às características desta população, a
aprendizagem é mais lenta, o que requer reforço e detalhe nas intervenções.
Os idosos costumam ter menos laços sociais, por isso, deve-se preferir a abordagem
em grupo, ampliando a rede de relacionamentos, os vínculos afetivos e as relações de
interdependência. Não há evidência de que os grupos compostos exclusivamente por
idosos apresentem benefícios, deve-se por isso apoiar a participação de outras faixas
etárias, favorecendo a dinâmica e enriquecendo o repertório temático.
Com relação ao tratamento medicamentoso, o uso da terapia de reposição com nicotina
através de adesivos transdérmicos não aumenta a incidência de efeitos adversos, nem o
risco de complicações cardíacas, mesmo em portadores de doença coronáriana crónica. A
rotação do local de aplicação de adesivos deve ser reforçado pelo relato mais comum de
lesões cutâneas (pele mais seca e com menor elasticidade). Quanto às pastilhas, lembrar
que as próteses dentárias podem dificultar o seu uso e, consequentemente, a aderência à
proposta terapêutica.
A motivação do idoso fumador para deixar de fumar pode ser reforçada pela
conscientização da sociedade contemporânea sobre a importância do seu papel saudável
na família como reservatório de sabedoria e refúgio afetivo para crianças e jovens,
assumindo, assim, a função de modelo de conduta para futuros adultos.

Os benefícios ao parar de fumar são vários:


• Normalização da pressão arterial após 20 minutos;

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• Queda de 50% dos níveis de nicotina e monóxido de carbono no sangue, com


normalização da oxigenação do sangue após 8 horas;
• Melhoria do olfato e paladar após 48 horas;
• Melhoria da capacidade de andar e correr após 2 a 12 semanas;
• Redução do risco de derrame e de enfarte semelhante a quem nunca fumou após 5
a 15 anos.

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1.6 Higiene do meio físico e social

1.6.1 Adaptação domiciliária e prevenção de acidentes

À medida que a idade avança a morte celular progressiva leva a um desgaste tanto
anatómico como fisiológico que, em termos práticos, se traduz por uma diminuição do
funcionamento dos vários órgãos e sistemas do organismo, os músculos perdem
elasticidade, os reflexos ficam mais lentos, os ossos mais frágeis, mesmo a visão e audição
ficam prejudicadas. Além disso, muitas pessoas idosas podem sentir tonturas, alergias,
cãibras e desequilíbrios, devido à medicação que tomam, principalmente a para dormir, os
antidepressivos e os calmantes. Por esses motivos, os idosos podem sofrer diversos tipos
de acidentes quer em casa, quer na rua ou nas instituições que frequentam/onde vivem.
Muitos idosos vivem em ambientes desadaptados às suas necessidades, por exemplo vivem
em prédios antigos, com muitas escadas, por vezes sem ou com pouca iluminação, moram
nos arredores dos centros de comércio e não têm meios de transporte adequados ou vivem
em casas grandes demais para apenas uma pessoa. O ambiente é pois muito importante
para as pessoas de idade. Por vezes quedas anteriores são importantes indicadores de
alterações na saúde e declínio funcional, pelo que deve ter em atenção em que contexto
aconteceram, se detectar algum factor precipitante e/ou sintomas físicos antes da queda
devem ser referidos ao médico.
A expressão “lar, doce lar”, parece perder algum sentido quando se verifica que todos os
anos, aproximadamente 30% das pessoas com 65 ou mais anos sofre de quedas em casa e
que estes valores sobem para 50% a partir dos 80 anos, aumentando também a gravidade
das consequências deste tipo de acidentes. As quedas são a principal causa de acidentes
nos idosos, ocorrem maioritariamente em casa e são responsáveis por 70% das mortes
acidentais neste grupo etário, sendo as consequências das quedas a 6ª causa de morte nos
idosos.
Atualmente compreende-se a etiologia dos acidentes como as interações entre o Homem e
o Ambiente, podendo existir fatores de risco inerentes a cada um. Transpondo este
princípio para as quedas em casa, existem fatores de risco relacionados com o idoso,
fatores de risco no ambiente, nomeadamente a sua casa, e fatores resultantes da interação
de ambos. Estes fatores ao serem identificados permitem a previsão e prevenção de
algumas situações que podem propiciar uma queda.

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Os fatores de risco intrínsecos ao idoso incluem aspetos relacionados com o


envelhecimento, doenças crónico-degenerativas e comportamentos adotados pelos idosos,
que muitas vezes sobrestimam as suas capacidades acrescendo o risco de queda.
Conhecendo estes aspetos, é fundamental ter pensamento preventivo, não espere por uma
queda para adotar medidas, tenha cuidados antecipados, prevenindo hoje o que poderá
não controlar amanhã.

Fatores Intrínsecos:
• Diminuição das capacidades sensoriais, psíquicas e intelectuais;
• Obesidade;
• Nutrição deficiente em cálcio, vitaminas A, C e D;
• Amputações;
• Fadiga;
• Sedentarismo.

Fatores Extrínsecos
• Pisos lisos, húmidos, escorregadios e de má iluminação;
• Escadas com corrimões de apoio baixos e não seguros ou ausentes;
• Camas demasiado altas;
• Ambiente estranho.

A casa onde o idoso mora ou permanece frequentemente, pode ser um campo cheio de
armadilhas que devem ser identificadas. São aqui descritas algumas pistas para prevenir
acidentes em casa:

Chão: Olhe para o chão em todas as divisões, quando o idoso anda pela casa, tem de
contornar móveis? Então deve mudar a mobília de forma a desimpedir o caminho. Tem
tapetes no chão? Então retire-os se estes não tiverem superfície anti-derrapante, de forma
a não escorregar ou tropeçar neles. As carpetes devem também ter base anti-derrapante e
se estiverem enroladas ou rasgadas, o melhor é retirá-las, se tiver alcatifas certifique-se
que não têm pontas soltas. Tem papéis, revistas, livros, sapatos, caixas, cobertores,
toalhas ou outros objetos no chão? Retire-os e mantenha-os fora do chão, pois podem ser
a causa de uma queda, tenha especial cuidado quando há crianças em casa devido aos
brinquedos que deixam espalhados. Tem de passar sobre ou à volta de fios, como

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extensões eléctricas, fios de telefone ou fios de candeeiros? Deve fixar os fios na parede de
forma a não tropeçar sobre eles. Tenha ainda em atenção se existem superfícies
irregulares, como por exemplo tacos levantados. Na necessidade de encerar a casa faço-o
com cera anti-derrapante.

Escadas e degraus: Observe as escadas dentro e fora da sua casa. Tem papéis, sapatos,
livros, vasos, ou outros objetos nas escadas? Retire-os e mantenha-os longe das escadas
(e do chão). Tem apenas uma lâmpada nas escadas? É aconselhável pedir a um eletricista
que coloque iluminação no topo e no fundo das escadas e que sejam colocados
interruptores em ambos locais. Como estão os corrimões? Estão soltos ou partidos? Existe
apenas corrimão de um dos lados da escada? Certifique-se que tem corrimão dos dois
lados da escada, que estes são firmes e tão longos como as escadas. As maçanetas no final
do corrimão são úteis como aviso do final das escadas, para os idosos com visão diminuída.
Se tem carpete nas escadas certifique-se que está bem fixa a todos os degraus, ou retire a
carpete e aplique tiras de borracha anti-derrapantes. Uma vez que muitas quedas são
devidas à não percepção do último degrau, se as tiras colocadas tiverem cores vivas e
contrastantes, poderá prevenir essa situação.

Quarto: Olhe para os quartos, a luz mais próxima da cama é de difícil alcance? Tente
colocar um interruptor perto da cama que seja fácil de alcançar. O caminho da cama até à
casa de banho é escuro? Pode ser útil utilizar uma luz de presença durante a noite. Existem
luzes de presença no mercado que se ligam automaticamente após escurecer. A cama
deverá ser firme e de altura adequada que permita a entrada e saída sem grande

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dificuldade. Os cobertores ou colchas não devem vem ser muito compridos pois o idoso
pode enrolar-se e/ou tropeçar ao tentar levantar-se.

Cozinha: Observe bem a cozinha, os utensílios que são frequentemente utilizados


encontram-se em prateleiras altas? Então coloque as coisas que habitualmente são mais
utilizadas para as prateleiras mais baixas do armário. Deve evitar a necessidade de subir a
bancos e escadotes, mas se for inevitável, não substitua o escadote por cadeiras ou
bancos, prefira os escadotes com barras laterais de apoio.

Casa de banho: Deve preferir-se o banho de chuveiro ao de banheira, podendo substituir-


se a banheira por uma base mais fácil de transpor. Em qualquer dos casos, deve colocar
um tapete ou outra superfície anti-derrapante e colocar barras de suporte na parede que
ajudem a entrada e saída do banho, bem como dos lados da sanita.

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Mobília: Não deve ter rodas nem arestas aguçadas. Os sofás, cadeiras e cama não devem
ser demasiado baixos, altos ou moles para que o idoso possa se levantar com facilidade.
Todas as cadeiras devem ter braços laterais de apoio e encosto. As portas dos armários e
gavetas devem estar sempre fechadas.

É essencial adoptar medidas que tenham em atenção as características e factores de risco


de cada idoso, bem como reduzir ao máximo os factores de risco existentes em cada casa,
prevenindo não só a queda, como também as suas consequências.
Caminhe com o idoso e aperceba-se da estabilidade, força e equilíbrio. Tenha atenção às
armadilhas do ambiente. Valorize as queixas de tonturas, fraqueza ou outras alterações. E
não se esqueça, se tiver dúvidas ou necessitar de ajuda, não hesite em procurar resposta
entre os profissionais.
Muito embora exista um perigo efetivo da pessoa idosa sofrer um acidente doméstico, isso
não implica o seu afastamento das atividades de vida diária, que muitas vezes são a sua
única distração e a forma de se sentir útil. No entanto, há que ter cuidados acrescidos para
prevenir os acidentes.

1.6.2 Reabilitação e reinserção social

Os idosos devem participar em atividades da mais variada natureza - desportivas, artísticas,


culturais, recreativas ou religiosas. Em caso de idosos em instituições, os colaboradores da
estrutura residencial devem interessar-se por conhecer os seus gostos e vocações e os
hobbies que mantinham antes de ser admitidos e a estrutura residencial deve estimular a
participação dos residentes em atividades organizadas na comunidade e deve também ter
iniciativa própria neste campo.
Porque não organizar exposições de arte feita pelos residentes, concursos de culinária ou
competições desportivas, atividades inter-geracionais, atividades em conjunto com outras
estruturas residenciais ou mesmo participar de forma sistemática na vida das escolas
locais. A estrutura residencial pode também fomentar parcerias com a Autarquia ou com
qualquer outra associação da comunidade em que se insere, também é bom que os
próprios residentes proponham atividades e colaborem ativamente na sua organização.
Há atividades que não podem ter lugar nas instalações da estrutura residencial, mas nada
impede, e pode ser positivo, que se realizem noutros espaços – pavilhões polidesportivos

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ou auditórios municipais, por exemplo. Neste caso, deve haver a preocupação de informar
os residentes sobre a hora, o local e os transportes disponíveis. Aos residentes com
dificuldade de mobilidade, que desejem deslocar-se ao exterior, deve ser assegurada
companhia. Em todo o caso, deve imperar o princípio de que a participação dos residentes
em qualquer atividade deve ser voluntária. Devemos motivar, não impor, pois podemos
desfrutar de uma atividade que à partida encarámos com relutância, mas não
desfrutaremos certamente de algo a que somos levados a praticar contra a nossa vontade.
Uma boa forma também de motivar os residentes a participar é envolvê-los no
planeamento e avaliação das atividades.
A oferta deve ser tão variada quanto possível e deve haver informação afixada sobre as
atividades desenvolvidas, quer pela residência, quer pela comunidade, esclarecendo as
condições de participação e sempre que possível, a comunidade deve igualmente ser
convidada a participar em atividades organizadas pela estrutura residencial.

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1.7 Vacinas

As vacinas são o meio mais eficaz e seguro de proteção contra certas doenças. Mesmo
quando a imunidade não é total, quem está vacinado tem maior capacidade de resistência
na eventual idade da doença surgir. Não basta vacinar-se uma vez para ficar devidamente
protegido. Em geral, é preciso receber várias doses da mesma vacina para que esta seja
eficaz. Outras vezes é também necessário fazer doses de reforço, nalguns casos ao longo
de toda a vida.
A vacinação, além da proteção pessoal, traz também benefícios para toda a comunidade,
pois quando a maior parte da população está vacinada interrompe-se a transmissão da
doença.
Os idosos são um grupo particular da população no qual as doenças infeciosas podem
causar elevadas taxas de morbilidade e mortalidade. De um modo geral, o indivíduo idoso
torna-se mais frágil e menos capaz de se adaptar às agressões do meio ambiente. O
sistema imunitário, responsável pela defesa do organismo contra infeções, perde alguma
eficácia pelo que o idoso é mais suscetível às patologias. Esta perda de eficácia pode ser
pouco importante num idoso saudável, mas pode ser grave num idoso previamente doente.
Qualquer patologia infeciosa altera o equilíbrio interno do indivíduo, podendo agravar ou
descompensar uma doença crónica anteriormente controlada, levando a situações
complicadas e por vezes fatais.

Quais as vacinas aconselhadas para idoso?


• Vacina contra a gripe;
• Vacina contra os pneumococos (pneumonia);
• Vacina contra o tétano.

A necessidade de efetuar outras imunizações deve ser ponderada individualmente, tal


como acontece com qualquer outro adulto, considerando entre outros fatores a situação
clínica do indivíduo, a sua profissão, o seu local de residência ou o facto de ter de realizar
uma viagem a um país estrangeiro.

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1.8 Doenças crónico-degenerativas: aspetos preventivos

Graças ao desenvolvimento da sociedade, melhoria das condições de vida da população e


também ao progresso da ciência, a população vive mais anos. Os estudos sobre o
envelhecimento mostram que a saúde na velhice depende muito de hábitos de vida
saudáveis e de cuidados que a pessoa recebeu ao longo de toda a vida, a partir da infância
e até mesmo antes de nascer. Esses estudos permitem afirmar que velhice não é doença.
No entanto, sabemos também, que as pessoas idosas são, em geral, mais vulneráveis, isto
é, ficam mais sujeitas a adoecer e, quando adoecem, demoram a recuperar.
Numa população envelhecida há aumento de doenças crónicas, como a hipertensão, a
diabetes, o reumatismo, doenças do coração, do pulmão, do fígado, demência, cancro etc.
que podem deixar marcas e complicações, levando a incapacidades, dependência,
necessidade de cuidados de longa duração e institucionalizações de longa permanência.
Além disso, pode ocorrer diminuição da rede social de apoio e do suporte social, perda de
papéis sociais das pessoas idosas, isolamento, solidão, depressão, perda da autonomia
(capacidade de comandar a própria vida) e falta de um sentido para a própria vida. Um
grande desafio que a longevidade aumentada coloca é o de conseguir uma sobrevida cada
vez maior, com uma qualidade de vida melhor.
O processo natural do envelhecimento diminui a função de cada órgão de nosso corpo,
além desse desgaste natural, o próprio progresso no tratamento da saúde tem contribuído
para o aumento no número de pessoas idosas incapacitadas. Hoje existem técnicas que
conseguem manter as pessoas vivas mesmo que elas fiquem muito dependentes. Além
disso, certas formas de tratamento, também podem levar a incapacidade ou dependência.
Se é verdade que os determinantes individuais, biológicos, genéticos e psicológicos,
contribuem para a forma como envelhecemos e para a ocorrência de doenças ao longo da
vida, não podemos esquecer que, em muitas situações, o declínio das funções que se
associa ao envelhecimento está intimamente relacionado com fatores externos,
comportamentais, ambientais e sociais. São importantes exemplos dessas situações, pela
sua prevalência, situações clínicas como a depressão bem como os fenómenos de solidão e
de isolamento de muitas pessoas idosas.
A promoção da saúde e os cuidados de prevenção dirigidos às pessoas idosas, aumentam a
longevidade e melhoram a saúde e a qualidade de vida, bem como ajudam a racionalizar
os recursos da sociedade. Está de facto provada a eficácia da prevenção dos fatores de

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risco comuns a várias patologias incapacitantes de evolução prolongada, pelo que é


prioritária uma atuação concertada, de todos os atores da sociedade, para melhorar os
cuidados com uma boa nutrição, desincentivar o consumo excessivo de álcool, a cessação
ou redução do consumo de tabaco, a prática regular de atividade física e o controlo dos
fatores de stress.
Tendo em conta os determinantes comportamentais de um envelhecimento ativo ao longo
da vida, a adoção de estilos de vida mais saudáveis e uma atitude mais participativa na
promoção do autocuidado serão fundamentais para se viver com mais saúde e por mais
anos, contrariando um dos mais frequentes mitos negativos, ligados ao envelhecimento,
que considera ser tarde demais, quando se é mais idoso, para se alterar o modo como se
vive.
As pessoas idosas em risco acrescido, ou em situação transitória ou instalada de
dependência, requerem uma particular atenção da parte dos serviços de saúde e sociais,
em termos de organização de cuidados de controlo e de recuperação global, através de
respostas integradas especialmente adequadas, as quais obrigam a uma revisão do
paradigma da abordagem curativa dos serviços de saúde e das formas mais tradicionais de
apoio social.

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1.9 Controlo da medicação

A administração de terapêutica é, essencialmente, um ato de enfermagem. No entanto, a


administração por via oral, rectal e aplicação tópica (pomadas, gotas nos olhos e ouvidos)
pode ser uma tarefa da família da pessoa idosa ou das/os técnicas/os de apoio, sob a
orientação das/os enfermeiras/os e segundo a prescrição médica.
A pessoa idosa deve ser estimulada a tomar conta da sua medicação. Só deve ser
substituído, quando as suas faculdades mentais ou físicas começarem a diminuir, existindo
o perigo de engano ou de não tomar.
Em caso de instituições, a medicação deve estar em local seguro, acessível apenas aos
técnicos de saúde e aos colaboradores que a ministram. O residente só deve tomar
medicação prescrita pelo médico, às horas que este definiu e na dose receitada. O
cumprimento da medicação deve ser exigência prioritária. É imprescindível que a direção
técnica da estrutura residencial garanta mecanismos de registo e verificação diária,
considerando sobretudo o elevado risco de problemas de saúde e de alteração do
comportamento, no caso de erro ou troca de medicação.

O ensino à pessoa idosa, neste capítulo deve incidir em:


• Explicar à pessoa idosa para que servem os medicamentos que está a tomar (o seu
objectivo), duma forma simples e clara;
• Reforçar as instruções verbais com instruções escritas;
• Se a pessoa idosa for analfabeta, ajustar com ela, a melhor forma de ser o mais
independente possível na toma da medicação;
• Sugerir à pessoa idosa que tenha as embalagens dos medicamentos à vista, para
não se esquecer de os tomar;
• Em relação aos horários, se não houver contraindicação, aconselhar a escolher uma
hora que coincida com determinada atividade da vida diária;
• Alertar a pessoa idosa para os riscos que pode correr se não cumprir os
ensinamentos feitos, muito especialmente, no que diz respeito às doses dos
medicamentos. Não deve nunca experimentar medicamentos prescritos para outras
pessoas.

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2.Problemas de saúde

2.1 Problemas cardiovasculares


2.2 Problemas respiratórios
2.3 Problemas gastrointestinais
2.4 Problemas hematológicos e oncológicos
2.5 Problemas endocrinológicos
2.6 Problemas genito-urinários
2.7 Problemas musculosqueléticos
2.8 Problemas neurológicos e sensoriais
2.9 Problemas dermatológicos
2.10 Problemas oftalmológicos
2.11 Problemas infeciosos

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2.1 Problemas cardiovasculares


As doenças cardiovasculares são o conjunto de doenças que afectam o aparelho


cardiovascular, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos. Representam a principal causa
de morte no nosso país e são também uma importante causa de incapacidade. Devem-se
essencialmente à acumulação de gorduras e ao consequente endurecimento da parede dos
vasos sanguíneos, um fenómeno que tem início numa fase precoce da vida e progride
silenciosamente durante anos, habitualmente já está avançado no momento em que
surgem as primeiras manifestações clínicas.
Os factores de risco podem ser divididos em imutáveis (aqueles que não podemos mudar)
e mutáveis (factores sobre os quais podemos influir, mudando, prevenindo ou tratando). A
maior parte das doenças cardiovasculares resulta de um estilo de vida inapropriado e de
factores de risco modificáveis, o controlo destes factores é uma arma para a redução das
complicações.

Factores de Risco Imutáveis

Hereditariedade: Os filhos de pessoas com doenças cardiovasculares têm uma maior


propensão para desenvolverem doenças deste grupo;

Sexo: Os homens têm maior hipóteses de ter um ataque cardíaco e os seus ataques
ocorrem numa faixa etária menor. Mesmo depois da menopausa, quando a taxa das
mulheres aumenta, nunca é tão elevada como a dos homens.

Idade: Quatro entre cincos pessoas acometidas de doenças cardiovasculares estão acima
dos 65 anos. Entre as mulheres idosas, aquelas que tiverem um ataque cardíaco terão o
dobro do risco de repetirem o evento.

Factores de Risco Mutáveis

Tabagismo: Considerado o factor de risco mais importante, está relacionado com cerca de
50% das causas de morte evitáveis. Os efeitos nocivos do tabaco são cumulativos, quer no
que se refere ao seu consumo diário quer ao tempo de exposição. Os fumadores de mais

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de um maço de cigarros por dia têm quatro vezes mais episódios de enfarte agudo do
miocárdio do que os não fumadores, contudo, até o fumo de poucos cigarros por dia
aumenta esse risco. Os fumadores passivos também têm o risco aumentado
comparativamente com os não fumadores, que quando têm episódios de enfarte, têm-nos
geralmente dez anos mais tarde. O tabagismo ainda favorece o aparecimento de angina de
peito e doença arterial periférica. O risco de acidente vascular cerebral (AVC) também
aumenta nos fumadores de modo proporcional ao número de cigarros fumados por dia. A
cessação do hábito tabágico é isoladamente a medida preventiva mais importante para
prevenir as doenças cardiovasculares.

Colesterol elevado: Colesterol é um tipo de gordura no sangue transportada a todas as


células do organismo indispensável ao desenvolvimento das paredes celulares e outras
importantes funções. Predomina em alimentos de origem animal como a carne, leite,
queijo, manteiga e ovos. Apesar de essencial, quantidades elevadas são nocivas à saúde
porque se depositam no interior dos vasos sanguíneos, estreitando a passagem e reduzindo
o fluxo sanguíneo. Os riscos de doença do coração aumentam na medida que os níveis de
colesterol estão mais elevados no sangue e junto com outros fatores de risco como pressão
arterial elevada e tabagismo esse risco é ainda maior. Este fator de risco é também
agravado pela idade, sexo e dieta.

Colesterol Total < 190 mg/dl


Colesterol LDL <115 mg/dl
Colesterol HDL > 45 mg/dl
Triglicerídios <150 mg/dl

Hipertensão: Para manter a pressão elevada, o coração realiza um trabalho maior, com isso
vai hipertrofiando o músculo cardíaco, que se dilata e fica mais fraco com o tempo,
aumentando os riscos. Também aumenta o risco de um acidente vascular cerebral, de
lesão nos rins e de insuficiência cardíaca. O risco de um ataque cardíaco num hipertenso
aumenta várias vezes, junto com o tabaco, a diabetes, a obesidade e o colesterol elevado.
Este factor será abordado mais detalhadamente em seguida.

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Vida sedentária: A falta de atividade física é outro fator de risco para doença das
coronárias. Exercícios físicos regulares, moderados a vigorosos tem um importante papel
em evitar doenças cardiovasculares, mesmo exercícios moderados, desde que feitos com
regularidade são benéfico. A atividade física também previne a obesidade, a hipertensão, a
diabetes e baixa os níveis de colesterol.

Obesidade: O excesso de peso tem uma maior probabilidade de provocar um acidente


vascular cerebral ou doença cardíaca, mesmo na ausência de outros fatores de risco. A
obesidade exige um maior esforço do coração além de estar relacionada com doença das
coronárias, pressão arterial elevada, colesterol elevado e diabetes. Diminuir de 5 a 10
quilos no peso já reduz o risco de doença cardiovascular.

Existem outros fatores que são citados como podendo influenciar negativamente os fatores
já citados. Por exemplo, estar constantemente sob stresse pode fazer com que uma pessoa
coma mais, fume mais e tenha a sua pressão elevada. Certos medicamentos podem ter
efeitos semelhantes, por exemplo, a cortisona, os anti-inflamatórios, hormonas sexuais
masculinas e seus derivados e anticoncepcionais orais.

2.1.1 Hipertensão arterial

A pressão arterial é a medida da força exercida pelo sangue contra as paredes dos vasos. É
medida habitualmente através de um aparelho denominado esfigmomanómetro, e tem
como referência padrão o manómetro de mercúrio. A hipertensão, ou pressão arterial alta,
afeta aproximadamente 20% da população, tendo uma incidência maior nas pessoas
idosas.
Normalmente, uma pessoa é considerada hipertensa se as suas pressões, sistólica (pressão
máxima) e diastólica (pressão mínima), forem superiores a 140mmHg e 90mmHg
respetivamente. No entanto estes limites têm que ser combinados com a idade da pessoa e
a sua tensão habitual. Para muitas pessoas idosas uma tensão arterial de 160mmHg,
90mmHg é uma tensão normal.

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Categoria TA Sistólica (mmHg) TA Diastólica (mmHg)

Normal 120-129 e 80-84

Normal alto 130-139 e/ou 85-89

Hipertensão – Grau I 140- 159 e/ou 90-99

Hipertensão – Grau II 160-179 e/ou 100-109

Hipertensão – Grau III >=180 e/ou >=110

Norma nº 020 /2011 de 28/09/2011, atualizada a 19/03/2013 da Direcção-Geral da Saúde

A hipertensão crónica, tem um efeito adverso sobre a função do coração e dos vasos
sanguíneos, pois obriga o coração a trabalhar mais do que o normal, provocando uma
hipertrofia do seu músculo. A hipertensão favorece também o desenvolvimento da
artereosclerose, que por sua vez aumenta a probabilidade de formação de trombo-embolias
e a ruptura de vasos sanguíneos. Se estas situações se verificarem ao nível do cérebro,
teremos então um AVC, do qual falaremos mais à frente.
Inicialmente, o tratamento poderá consistir apenas numa dieta (para reduzir o peso, se
necessário, e para restringir a ingestão de sal) e sabe-se que existe um enorme potencial
para reduzir a incidência de doença e de morte se a HTA for detectada precocemente e
controlada de forma adequada e em exercício físico. Se estas medidas não forem
suficientes para baixar a tensão, ser-lhe-ão receitados diuréticos (medicamentos que
aumentam a eliminação de urina). Se a tensão arterial se mantiver alta, é possível que o
médico acrescente ao seu tratamento medicamentos que reduzem diretamente a tensão
arterial. Existem diversos medicamentos para o efeito. O médico irá escolher o mais
apropriado para o caso e decidir a posologia. É muito importante que se sigam
rigorosamente as suas instruções.
Desde que colabore no sentido de controlar a sua tensão arterial, fazendo dieta,
caminhando, tomando os medicamentos e submetendo-se periodicamente a exames, o
idoso será capaz de prosseguir com as suas atividades e gozar a sua autonomia. Mas, se
não for tratada nem controlada, a tensão alta pode dar origem a complicações. A tensão
alta em si não causa, na maioria dos casos, quaisquer problemas ou sintomas, mas tem
várias doenças associadas. As principais doenças, e por ela causadas, são o AVC, a
cardiopatia isquémica, incluindo angina de peito, o enfarte agudo do miocárdio e a morte
súbita.

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2.1.2 Angina de peito

Quando estiver a fazer algum esforço como, por exemplo, caminhar num terreno íngreme
ou subir escadas, poderá ter falta de ar, traduzida por uma sensação de peso, aperto ou
opressão por detrás do esterno, que por vezes se estende até ao pescoço ou braço
esquerdo. Em repouso, esta sensação, diminui gradualmente de intensidade, a esta
sintomatologia é chamada angina de peito.
O seu médico irá, provavelmente, receitar-lhe medicamentos que, engolidos ou colocados
sob a língua, farão com que este desconforto desapareça rapidamente. Poderá,
igualmente, tomar o medicamento, preventivamente, antes de fazer esforço. Se sofrer de
angina é aconselhável organizar as suas atividades, em casa ou fora dela, de forma a
reduzir o esforço necessário e fixar mais períodos de repouso.

2.1.3 Enfarte do miocárdio

O enfarte agudo do miocárdio é uma urgência médica na qual parte do fluxo sanguíneo
que chega ao coração se vê reduzida ou interrompida de maneira brusca e grave e, como
consequência, produz-se uma destruição (morte) do músculo cardíaco – miocárdio, por
falta de oxigénio, é popularmente conhecido por ataque cardíaco.
Ocorre geralmente quando a obstrução de uma artéria coronária restringe gravemente ou
interrompe o fornecimento de sangue a uma região do coração. Se o fornecimento é
interrompido ou reduzido significativamente durante mais do que alguns minutos, o tecido
cardíaco é destruído. A capacidade do coração para continuar a bombear depois de um
ataque cardíaco depende diretamente da extensão e da localização do tecido lesionado, e
devido ao facto de cada artéria coronária alimentar uma determinada secção do coração, a
localização da lesão depende da artéria obstruída. Se a lesão afecta mais de metade do
tecido cardíaco, o coração, geralmente, não pode funcionar e é provável que se verifique
uma incapacidade grave ou a morte. Mesmo quando a lesão é menos extensa, o coração
pode não ser capaz de bombear adequadamente, produz-se então uma insuficiência
cardíaca. O coração lesionado pode dilatar-se, em parte para compensar a diminuição da
capacidade de bombeamento (um coração maior bate mais energicamente). Quando,
depois de um enfarte, o coração se dilata, o prognóstico é pior do que quando o coração
conserva o seu tamanho normal.

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A causa mais frequente de obstrução de uma artéria coronária é um coágulo sanguíneo.


Geralmente, a artéria já está parcialmente estreitada por ateromas. Um ateroma pode
rebentar ou rasgar-se e criar mais obstrução, o que provoca a formação de um coágulo. O
ateroma rebentado não só diminui o fluxo de sangue através de uma artéria, mas também
faz com que as plaquetas se tornem mais aderentes e isso aumenta ainda mais a formação
de coágulos. Uma causa menos frequente de enfarte é um coágulo que provenha do
próprio coração, em que se forma no coração um coágulo, que se desprende e se fixa
numa artéria coronária. Outra causa não tão frequente é um espasmo de uma artéria
coronária que interrompa o fluxo sanguíneo. Os espasmos podem ser causados por drogas
como a cocaína ou pelo consumo de tabaco, mas às vezes a causa é desconhecida.
Aproximadamente duas em cada três pessoas que têm enfarte referem ter tido angina de
peito intermitente, dispneia ou fadiga poucos dias antes. Os episódios de dor podem
tornar-se mais frequentes, inclusive com um esforço físico cada vez menor. A angina
instável pode acabar num enfarte. De um modo geral, o sintoma mais típico é a dor no
meio do peito que se estende às costas, ao maxilar, ao braço esquerdo ou, com menor
frequência, ao braço direito.

Dor precordial: possíveis pontos de irradiação da dor

A dor pode aparecer numa ou em várias destas localizações e, pelo contrário, não no peito.
A dor de um enfarte é semelhante à da angina de peito, mas é, geralmente, mais intensa,

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dura mais tempo e não diminu com o repouso ou com a administração de nitroglicerina.
Com menos frequência, a dor sente-se no abdómen e pode confundir-se com uma
indigestão, sobretudo porque o arroto pode aliviá-la de forma parcial ou transitória.
Outros sintomas incluem uma sensação de desfalecimento e de um forte martelar do
coração. Os batimentos irregulares (arritmias) podem interferir gravemente com a
capacidade de bombeamento do coração ou provocar a interrupção do mesmo, conduzindo
à perda de consciência ou à morte.
Durante um enfarte, o doente pode sentir-se inquieto, suado, ansioso e experimentar uma
sensação de morte iminente. Há casos em que os lábios, as mãos ou os pés se tornam
ligeiramente azuis (cianose). Também pode observar-se desorientação nos idosos.
Apesar de todos estes possíveis sintomas, uma em cada cinco pessoas que sofrem um
enfarte até têm sintomas ligeiros ou mesmo absolutamente nenhum. Pode acontecer que
este enfarte só seja detectado algum tempo depois, ao efetuar-se um electrocardiograma
(ECG) por qualquer outro motivo.
Um ECG e certas análises de sangue confirmam, de um modo geral, o diagnóstico de
enfarte em algumas horas, quando não proporcionam informação suficiente, pode efetuar-
se um ecocardiograma. Os ecocardiogramas podem mostrar uma redução da mobilidade de
uma parte da parede ventricular esquerda (a cavidade do coração que bombeia o sangue
para o corpo), o que sugere uma lesão por enfarte.
Um enfarte agudo do miocárdio é uma urgência médica, pois metade das mortes por
enfarte ocorrem nas primeiras 3 ou 4 horas após o começo dos sintomas. Quanto mais
cedo se iniciar o tratamento, maiores serão as probabilidades de sobrevivência. Qualquer
pessoa que tenha sintomas que sugiram um enfarte deverá chamar a equipa de
emergência imediatamente.
De modo geral, a pessoa com um presumível enfarte costuma entrar num hospital
equipado com uma unidade coronária. A frequência cardíaca, a pressão arterial e o
oxigénio no sangue são atentamente vigiados para avaliar o grau de dano ao coração. O
pessoal de enfermaria destas unidades está especialmente treinado para assistir os doentes
com perturbações cardíacas e para tratar as urgências cardíacas.
Administra-se, geralmente, de imediato aspirina, que aumenta as probabilidades de
sobrevivência ao reduzir o coágulo. Devido ao facto de a diminuição do trabalho do coração
contribuir também para limitar a lesão, administra-se um medicamento para diminuir a
frequência cardíaca e, ao mesmo tempo, conseguir que o coração tenha de se esforçar
menos para bombear o sangue para todo o organismo.

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Muitas vezes, administra-se oxigénio, esta terapia aumenta a pressão do oxigénio no


sangue, o que proporciona mais oxigénio ao coração e permite que a lesão do tecido
cardíaco seja limitada o mais possível.
Se se eliminar a obstrução da artéria coronária rapidamente, pode salvar-se o tecido
cardíaco. Para conseguir este objectivo, desde que nas primeiras horas do enfarte, tenta-
se, a dissolução dos coágulos. Depois deste tempo, algumas lesões já são permanentes, e
por isso a reperfusão da artéria provavelmente já não será útil. O tratamento precoce
aumenta o fluxo de sangue em 60% a 80% dos casos e permite que a lesão do tecido
cardíaco seja mínima. A aspirina, que evita que as plaquetas formem coágulos sanguíneos,
ou a heparina, que também interrompe a coagulação, podem aumentar a eficácia do
tratamento.
Devido ao facto desta terapia poder causar hemorragias, não se administra, geralmente, às
pessoas que têm hemorragia gastrointestinal, hipertensão grave, ou às que se submeteram
a uma operação cirúrgica durante o mês anterior ao enfarte. As pessoas de idade avançada
que não sofrem de nenhuma destas afecções também podem submeter-se com segurança
a este tratamento.
Alguns centros especializados no tratamento cardiovascular utilizam a angioplastia ou a
cirurgia de derivação (bypass) das artérias coronárias imediatamente depois do enfarte, em
vez de administrarem fármacos trombolíticos.
Se os fármacos utilizados para aumentar o fluxo sanguíneo das artérias coronárias não
aliviam também a dor e o mal-estar do doente, administra-se morfina. Este fármaco tem
um efeito calmante e reduz o trabalho do coração. A nitroglicerina pode acalmar a dor, ao
também reduzir o trabalho do coração.
Devido ao facto de a excitação, o esforço físico e o mal-estar emocional submeterem o
coração ao stress e fazerem-no trabalhar mais intensamente, a pessoa que acaba de ter
um enfarte deverá ficar na cama num quarto tranquilo durante os primeiros dias. As visitas
costumam devem limitar-se a membros da família e amigos próximos.
Para avaliar se uma pessoa terá mais perturbações cardíacas no futuro ou se necessitará
de um tratamento adicional, podem efetuar-se alguns exames. Por exemplo, pode utilizar-
se um monitor Holter para registar um ECG durante 24 horas, com o qual o médico poderá
detectar se se produzem arritmias ou episódios de isquemia silenciosa. Uma prova de
esforço (na qual o doente corre sobre um passadeira rolante enquanto se regista um
ECG) antes ou pouco depois da alta do hospital pode contribuir para determinar o estado
do coração após o enfarte e se a isquemia continua. Se estes exames revelarem a presença

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de arritmias ou de isquemia, é aconselhável um tratamento farmacológico. Se a isquemia


persistir, pode efetuar-se uma arteriografia coronária para avaliar a possibilidade de uma
angioplastia ou de uma operação de derivação (bypass) para restabelecer o fluxo
sanguíneo no coração.
Após um enfarte de miocárdio, muitos médicos aconselham que se tome um comprimido
de aspirina diariamente, uma vez que a aspirina evita que as plaquetas formem coágulos,
reduz também o risco de morte e o risco de um segundo enfarte.
A reabilitação cardíaca também é uma parte importante do restabelecimento. O repouso na
cama durante mais de 2 ou 3 dias provoca uma deterioração física rápida e às vezes
depressão e uma sensação de desamparo. Salvo complicações, os doentes com um
enfarte, geralmente, melhoram progressivamente e podem, passados dois ou três dias,
sentar-se, fazer exercícios passivos, caminhar até ao banho e fazer trabalhos leves e ler.
Geralmente, no fim de uma semana ou antes é dada alta aos doentes.
Nas 3 a 6 semanas seguintes, a pessoa deverá aumentar, paulatinamente, a atividade. Se
não se verificarem dispneia nem dor no peito, as atividades normais podem ser retomadas
completamente ao fim de 6 semanas.
Depois de um enfarte do miocárdio, o médico e o doente deverão falar sobre os factores
de risco que contribuem para a doença das artérias coronárias, sobretudo aqueles que o
doente pode mudar. Deixar de fumar, reduzir o peso, controlar a pressão arterial, reduzir
os valores sanguíneos do colesterol com uma dieta ou com medicamentação e efetuar
exercícios diariamente são medidas que diminuem o risco de sofrer de uma doença das
artérias coronárias.

2.1.4 Acidente vascular cerebral

Os acidentes vasculares cerebrais, denominados vulgarmente apenas pela sigla AVC,


constituem uma das mais importantes patologias desta faixa etária. O AVC, por acontecer
ao nível do cérebro, deixa habitualmente sequelas incapacitantes, impondo aos pacientes
limitações motoras, sensoriais, de compreensão e expressão dos pensamentos,
acarretando, sérias implicações de ordem social e familiar. Muitas vezes é após um primeiro
episódio, que a família se decide a internar a pessoa idosa num lar, ou contratar alguém
para dele tratar.

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No AVC, existe um bloqueio parcial (se AVC transitório), ou total de uma veia ou artéria do
cérebro. Esse entupimento, tem como consequência, a não irrigação com sangue das
células cerebrais, que deste modo morrem, não sendo substituídas. Pode também
acontecer um AVC hemorrágico, em que a parede de uma artéria se rompe, este tipo de
AVC, é mais comum em indivíduos com hipertensão arterial.

O diagnóstico é feito a partir dos sintomas do doente. Perante a suspeita de AVC, deverá
ser feita uma tomografia axial computorizada (TAC), para saber se este é isquémico ou
hemorrágico. Se for um AVC isquémico, e caso o doente não tenha contraindicações para o
tratamento, deve fazer-se trombólise (procedimento que visa fragmentar ou desfazer o
trombo que está a obstruir a artéria), de modo a permitir o restabelecimento do
suprimento sanguíneo ao cérebro, o mais rápido quanto for possível, para evitar sequelas.
Tendo em conta a zona do cérebro onde se dá, bem como a sua extensão, poderá o
indivíduo ficar por exemplo com hemiparésia (dificuldade no controlo dos movimentos de
um lado do corpo), com dificuldades na fala, dificuldades de compreensão, etc..
Nesta situação, a pessoa que acompanha a pessoa idosa, deverá ter em atenção as suas
limitações e privilegiar a autonomia, deverá observar atentamente de forma a perceber se
há alguma alteração nas atividades e expressões, ou no comportamento da pessoa idosa.
Se tal acontecer, deverá chamar um técnico de saúde. No cuidado diário deverá incentivar
sempre o autocuidado, ajudando apenas no que a pessoa idosa não consegue fazer

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sozinha, tentando adequar as necessidades às possibilidades reais, na execução das


atividades de vida diária.
A prevenção do AVC passa por medidas como, não fumar ou cessar o seu consumo,
realizar uma alimentação saudável, restrição do sal consumido, pratica de atividade física
regular, controlo (se necessário com medicamentos) da tensão arterial, colesterol e
diabetes.

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2.2 Problemas respiratórios

As doenças respiratórias são as que afectam o trato e os órgãos do sistema respiratório. À


medida que se envelhece os pulmões ficam menos elásticos diminuindo a sua capacidade.
A atividade ciliar, que faz a limpeza das secreções, também diminui proporcionando a
acumulação de secreções que favorecem as infecções respiratórias e dificulta as trocas de
gasosas. A musculatura do tórax perde a capacidade de eliminar secreções pela tosse, de
respirar profundamente expandindo os pulmões e de expelir dióxido de carbono. Estas
alterações afectam especialmente os fumadores e pessoas que vivem em ambientes com
alto teor de poluentes. Abordaremos à frente os problemas respiratórios mais comuns.

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma doença crónica das vias respiratórias
caraterizada por uma limitação à saída do ar dos pulmões (obstrutiva) que não é
completamente reversível e que agrava progressivamente ao longo do tempo. O conceito
inclui duas entidades que frequentemente coexistem: a bronquite crónica – inflamação dos
brônquios, e o enfisema – lesão das pequenas vias aéreas e dos alvéolos dos pulmões.

Os principais sintomas da DPOC são a dispneia com cansaço fácil, tosse e expetoração com
evolução arrastada. Habitualmente, o “catarro do fumador” costuma ser a queixa inicial e
depois, ao longo do tempo, assiste-se a uma sensação de falta de ar de agravamento
progressivo para esforços cada vez menores. Há também a tendência para as infeções
respiratórias serem mais frequentes.

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Para viver melhor o doente com DPOC deve aprender ginástica respiratória, praticar
exercício de acordo com as suas capacidades e ter uma dieta equilibrada. Estas medidas
visam o fortalecimento dos músculos, sobretudo os respiratórios, de forma a evitar a
deterioração da qualidade de vida que resulta da incapacidade de realização das atividades
de vida diária.
A terapia medicamentosa visa principalmente aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de
vida. Broncodilatadores inalatórios ajudam a diminuir a obstrução dos brônquios
temporariamente, facilitando o fluxo de ar dentro das vias respiratórias. Durante períodos
de exacerbação da doença, como há grande inflamação das vias aéreas, o uso de
corticóides por via oral ou endovenosa durante alguns dias é útil para ajudar na reversão
da crise. Fora das crises os corticóides só estão indicados naqueles casos com pouca
resposta aos broncodilatadores, e mesmo assim, são administrados apenas por via
inalatória.
Nos casos mais avançados, quando o paciente já apresenta hipoxemia persistente, o uso
de oxigénio suplementar está indicado. A quantidade e o período em que o paciente deve
ficar com oxigénio suplementar é decisão médica, podendo ser indicado algumas horas por
dia, ao dormir, durante esforços ou ininterruptamente nos casos mais graves.
O papel do cuidador demarca-se por encontrar mecanismos para o idoso com DPOC
permanecer ativo, com o mínimo desconforto possível. Pode ser necessária a aquisição
de dispositivos de ajuda à mobilidade, tal como canadianas e andarilhos. Muitas pessoas
com DPOC grave conseguem realizar algum grau de locomoção, se puderem apoiar-se em
algo, caso a mobilidade já esteja quase totalmente limitada, existe a opção de adquirir uma
cadeira de rodas ou scooters elétricas. Mentalizar a pessoa sobre a necessidade de cumprir
a terapêutica prescrita, ajudando a superar qualquer constrangimento sobre o uso de
oxigénio em público. Escolher locais mais indicados para levar o seu familiar ou doente
a exercitar, por exemplo os centros comerciais são um dos locais ideais, porque são planos
e estão climatericamente protegidos, com muitos lugares para sentar e descansar. Mudar
para uma cama ajustável e/ou elevar a cabeceira da cama, ajuda no alivio da sensação de
dispneia.
Estar em alerta para o surgimento de depressão. Como a DPOC é progressiva e provoca
limitação nas atividades diárias, muitas pessoas sofrem de tristeza, frustração e depressão,
por não conseguirem lidar com a situação. Noutros casos, o síndrome depressivo pode se
manifestar como mau humor ou raiva. Pode falar com ele/a, ajudando a motivar, e
esclarecendo quaisquer medos ou frustrações, mas não tente ser um terapeuta. Fale

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sempre com o médico assistente do doente sobre estes sintomas, pois a ajuda profissional
é o mais indicado para ajudar a pessoa de quem cuida a superar esta fase.

Tuberculose

A tuberculose é uma doença infecciosa causada por um micróbio chamado bacilo de Koch.
É uma doença contagiosa, que se transmite de pessoa para pessoa pelo ar e que atinge
sobretudo os pulmões, mas pode também atingir outros órgãos e outras partes do nosso
corpo, como os gânglios, os rins, os ossos, os intestinos e as meninges.
Nem todas as pessoas que entram em contacto com doentes com tuberculose são
contagiadas, geralmente o organismo resiste e a pessoa não adoece. Contudo, por vezes, o
organismo resiste no momento, mas continua a albergar o bacilo, motivo pelo qual quando
fragilizado por outra doença, acaba por não resistir. Bem como nem todos os portadores de
tuberculose transmitem a doença, pois só na fase bacilifera é contagiosa. Idosos
institucionalizados estão mais expostos ao risco de contrair a doença e há certas condições
que aumentam esse risco como a desnutrição, a diabetes mellitus, o tabagismo, o
alcoolismo, a existência de neoplasias ou outras doenças graves e debilitantes.
Na faixa etária geriátrica, os sintomas costumam ser vagos e inespecíficos como fraqueza,
emagrecimento e tosse, outros sintomas mais comuns são a febre, existência e persistência
de suores noturnos, dores no tórax, perda de apetite, com anorexia e apatia completa para
com quase tudo o que está à volta.

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2.3.Problemas gastrointestinais

Inúmeros fatores externos alteram o funcionamento do sistema digestivo, destacando-se


os hábitos alimentares e o stress, mas com a idade também ocorrem alterações no
estômago e nos intestinos que agravam, como a diminuição da salivação, a dificuldade de
deglutição de alimentos, o esvaziamento esofágico e gástrico retardados e a redução da
motilidade gastrointestinal. No fundo, passam a produzir menos sucos digestivos o que leva
a uma diminuição na velocidade da digestão. Na 3ª idade o suco gástrico fica menos ácido
e o esvaziamento do estômago fica mais lento, há diminuição de afluxo de sangue para
todo o aparelho digestivo e a movimentação do intestino diminui. Estas modificações levam
a alterações na absorção e isto acarreta importância fundamental quando há
simultaneamente a utilização de medicação, pois esta pode tornar-se mais tóxica, ou
menos eficaz.
Além da mudança nos hábitos intestinais, outras alterações gastrointestinais também
devem ser destacadas na 3ª idade, como a disfagia, a esofagite e gastrite, as neoplasias,
hemorroidas e a incontinência fecal.
Tanto o esófago como o estômago tem na endoscopia digestiva alta o seu principal meio
de diagnóstico. A endoscopia digestiva baixa (colonoscopia), a radiografia simples do
abdómen e a com contraste das porções finais do intestino (enema opaco) são os principais
exames radiológicos dos intestinos.

Obstipação

Obstipação intestinal, também chamada de “prisão de ventre” é um problema de saúde


comum em pessoas idosas. É uma situação que prejudica a qualidade de vida e provoca
grande desconforto.
A frequência de evacuações é muito variável de pessoa para pessoa, podendo ser
considerado normal de 3 evacuações ao dia até 3 evacuações por semana. Por isso, é
importante saber qual o comportamento intestinal normal da pessoa, antes de concluir que
ela está com um problema de saúde. A frequência de evacuações pode variar numa mesma
pessoa, de acordo com a alimentação, a disponibilidade de sanitários e seu estado
emocional.

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Quando a pessoa idosa está com obstipação, ela elimina fezes endurecidas, através de
grande esforço para evacuar, numa frequência inferior a 3 vezes por semana.
São muitas as causas da obstipação intestinal, mas frequentemente não é provocada por
doença grave. Na maior parte das vezes, a obstipação é provocada por erros alimentares,
por alimentação pobre em fibras ou baixo consumo de água.

Alguns sinais de alerta devem ser procurados pelo cuidador de uma pessoa idosa com
obstipação, principalmente se for de início recente:
• Alteração do calibre das fezes (fezes mais finas);
• Dor ao evacuar;
• Sangramento nas fezes;
• Dor abdominal intensa;
• Aumento do tamanho do abdómen;
• Náuseas ou vómitos.

A primeira iniciativa no tratamento da obstipação deve ser a de aumentar alimentos com


fibras nas refeições. O tratamento com fibras deve ser realizado inicialmente por 2 a 3
semanas para que se possa avaliar seu efeito. Outra importante medida é aumentar o
consumo de líquidos, por volta de 1,5 a 2 litros por dia. Exercício físico também é um meio
adequado de prevenir e tratar a obstipação. Sabemos que o intestino de pessoas
imobilizadas torna-se mais lento, como acontece com pessoas idosas com doenças
neurológicas graves.
Deve-se estimular a frequência da pessoa idosa à sanita, de modo rotineiro, por exemplo,
logo ao acordar ou 5-10 minutos após uma refeição.

Hemorróidas

São veias dilatadas ou varicoses no canal anal e na parte inferior do reto. No idoso a
fragilidade das paredes venosas e a obstipação crónica são as causas mais comuns.
Detectam-se quando há eliminação de sangue vermelho vivo nas fezes. Sofre graus
variados de desconforto durante a defecação. A dor é aumentada se a hemorróida tornar-
se trombosada. Neste caso, o sangue, dentro da veia dilatada coagula-se. Outro sintoma
de hemorróida é prurido no ânus.

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O tratamento comum da hemorróida é sua remoção por cirurgia. Se o caso for ligeiro, pode
necessitar apenas tratamento sintomático, com a aplicação local de uma pomada para
retrair a membrana mucosa (prescrito pelo médico). Para aliviar o desconforto da
evacuação de aumento da ingestão líquida, ter hábitos intestinais diários e uma dieta rica
em fibras (germens de trigo, farelos, verduras, frutas).

Disfagia

O envelhecimento humano envolve mudanças estruturais, funcionais e neurais que podem


comprometer órgãos e funções, exigindo a adequação de padrões anteriormente
adquiridos. Assim, uma das funções que se destaca é a deglutição, pois é um fenómeno
que exige a integridade de um grupo de estruturas interdependentes, envolvendo ações
mecânicas e reflexas, de caráter neuromuscular, que depende de um sistema dinâmico e
sincronizado de forma a conduzir o alimento da cavidade oral até o estômago de forma
segura, ou seja, sem permitir a entrada de alimentos para os pulmões.
A disfagia configura-se numa falha nesse processo, podendo ocorrer devido a alterações
resultantes de doenças neurológicas, como doença de Parkinson, AVC, doença de
Alzheimer entre outros, e de alterações estruturais, em decorrência de tumores e traumas
que podem alterar as estruturas necessárias a uma deglutição normal.
As complicações decorrentes da disfagia envolvem risco de desnutrição, desidratação,
complicações respiratórias e pneumonia de aspiração, além de aspectos sociais e
emocionais, já que o momento da refeição deve representar um momento prazeroso, de
socialização e interação familiar. Quando este ato se torna um desafio, o idoso pode
preferir se isolar, o que pode comprometer o envelhecimento saudável.
O conhecimento e/ou a compreensão das questões fisiológicas do envelhecimento que
podem comprometer o mecanismo da deglutição devem ser de domínios dos profissionais
de saúde e disseminado para os familiares e cuidadores, como forma de detecção precoce
e promoção da saúde no envelhecimento. A identificação dos idosos vulneráveis ao
desenvolvimento da disfagia pode representar uma ferramenta de triagem em serviços de
atenção primária.
É comum que aos primeiros sinais de dificuldade mastigação e/ou deglutição, o idoso corte
deliberadamente determinados alimentos da dieta. Alimentos fibrosos ou duros como
carnes, por exemplo, são consumidos cada vez menos ou em menor quantidade. Isso
resulta em menor oferta de proteínas, hidratos de carbono e outras vitaminas essenciais

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para manutenção da massa corporal e para obtenção de energia. Uma das maiores
preocupações em relação à disfagia é sua capacidade de comprometer ainda mais outros
quadros clínicos do idoso, que normalmente já convive com doenças crónicas. A
desnutrição e desidratação decorrentes desse problema aumentam o risco de necessidade
de internamento hospitalar, além de prolongarem o tempo de permanência nesse tipo de
intervenção.
Outro agravante é que a ingestão de líquidos requer maiores cuidados em pacientes com
disfagia, pois como esses alimentos passam mais rapidamente pela garganta, têm maior
risco de serem aspirados para os pulmões. A entrada de alimentos e líquidos no pulmão é
extremamente perigosa, podendo originar pneumonias, graves infecções respiratórias ou
até mesmo asfixia. Isso significa que até mesmo um simples copo de água pode ser um
desafio para o idoso com disfagia.
Pacientes com disfagia precisam ter a dieta adaptada para reduzir tanto o desconforto ao
deglutir, quanto os riscos de broncoaspiração. A alteração da textura dos alimentos é um
dos principais passos. A adoção de uma dieta pastosa e o uso de espessantes para
“engrossar” e dar mais viscosidade aos alimentos líquidos são medidas que podem ajudar,
facilitando a ingestão e minimizando o risco da broncoaspiração. Também devem fazer
parte da rotina do idoso comer e engolir vagarosamente, manter a postura durante a
alimentação e atentar-se a higiene oral. É importante que cuidadores e familiares
supervisionem a alimentação de idosos, mesmo que eles tenham independência para se
alimentar sozinhos, afim de auxiliar em qualquer dificuldade.
Quando a situação é mais delicada e o idoso encontra-se acamado, o cuidador deve ter
sempre o cuidado de deixar o idoso em posição reclinada durante as refeições afim de
evitar complicações.
O tratamento da disfagia depende muito das suas causas, por isso, mesmo diante dos
sinais mais brandos, é fundamental recorrer à um profissional de saúde para investigar a
origem do problema. Normalmente, esse processo envolve uma equipe multidisciplinar que,
em conjunto, vai indicar a forma mais adequada de reverter o problema ou amenizar os
transtornos e prover mais qualidade de vida quando a situação é permanente.
Os cuidados com a saúde e higiene da boca são indispensáveis, próteses mal adaptadas e
problemas de dentição podem agravar a perda do apetite. Alimentos pastosos e bebidas
espessas reduzem a chances de engasgamento, porém alterações drásticas dieta devem
ser orientadas por um nutricionista e deve adequar a consistência da dieta de acordo com a
aceitação do idoso sob orientação de um profissional da saúde.

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2.4.Problemas hematológicos e oncológicos

As doenças hematológicas são também conhecidas como as doenças do sangue, sendo as


mais comuns no idoso a anemia e a leucemia.

Anemia

A anemia ocorre quando a quantidade de hemácias (glóbulos vermelhos que contêm


hemoglobina, proteína que transporta o oxigénio pelo corpo) no sangue se encontra abaixo
do nível normal.
Podem dever-se a questões nutricionais, uma vez que a falta de ferro, vitamina B12 ou
ácido fólico pode levar a quadros anémicos, e são geralmente causados por dietas
nutricionais deficientes em nutrientes derivados de animais (carne, ovos e leite). Pode
dever-se a alcoolismo, surgir durante a gravidez e também em algumas doenças que
podem levar à deficiência destes nutrientes. Algumas doenças crónicas, como doenças dos
rins e do fígado, podem provocar anemia, bem como falhas na medula óssea e uso de
certos medicamentos.
Como na anemia se reduz o número dos glóbulos vermelhos ou a quantidade de
hemoglobina presente neles, o sangue não pode transportar uma adequada quantidade de
oxigénio. Os sintomas, são variados, por exemplo, a anemia pode causar fadiga, fraqueza,
incapacidade para fazer exercício e dores de cabeça ligeiras. Se a anemia for muito grave,
pode desencadear um ataque ou uma paragem cardíaca.

Leucemia

A leucemia corresponde a um conjunto de neoplasias malignas que atingem o sangue e


possuem origem na medula óssea, podendo provocar anemia, diminuição das plaquetas
(causando hemorragias) e, principalmente, alteração dos leucócitos (glóbulos brancos que
fazem a defesa do corpo contra as infecções). Nas pessoas com leucemia, a medula óssea
produz glóbulos brancos anómalos, estas células são células de leucemia. No início,
funcionam quase normalmente, mas com o tempo, ultrapassam em número, os glóbulos
brancos, vermelhos e as plaquetas, torna-se, assim, difícil o sangue realizar a sua função.

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Cancro

A doença oncológica é vulgarmente conhecida como cancro. Ao contrário do que


genericamente se pensa, o cancro não é uma doença nova, resultado das pressões e
agressões da vida moderna, na verdade sempre houve cancro, existindo provas desta
doença em múmias do antigo Egito e em restos fossilizados de dinossauros. Esta
concepção provém de vários factores que se interligam, como o aumento de novos casos,
que são diagnosticados mais cedo, uma maior sobrevida e cura destes doentes, bem como
o aumento da esperança de vida.
O cancro é a proliferação anormal de células. Tipicamente um conjunto de células forma
um tecido e, por sua vez, os tecidos formam os órgãos do nosso corpo. Normalmente, as
células crescem e dividem-se para formar novas células. No seu ciclo de vida, as células
envelhecem, morrem e são substituídas por novas. Algumas vezes, este processo ordeiro e
controlado corre mal e formam-se células novas, sem que o organismo necessite e, ao
mesmo tempo, as células velhas não morrem. Este conjunto de células extra forma um
tumor. Nem todos os tumores correspondem a cancro, podendo ser benignos ou malignos.
Os tumores benignos não são cancro e raramente põem a vida em risco, regra geral,
podem ser removidos e, muitas vezes, regridem. As células dos tumores benignos não se
"espalham", ou seja, não se disseminam para os tecidos em volta ou para outras partes do
organismo (metastização).

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Os tumores malignos são cancro ou neoplasias, regra geral são mais graves que os
tumores benignos e por isso podem colocar a vida em risco. Muitas vezes podem ser
removidos, embora possam voltar a crescer. As células dos tumores malignos podem
invadir e danificar os tecidos e órgãos circundantes, podem, ainda, libertar-se do tumor
primitivo e entrar na corrente sanguínea ou no sistema linfático - este é o processo de
metastização das células cancerígenas, a partir do cancro original, formando novos tumores
noutros órgãos.
Existem muitos factores de risco já identificados, sendo o mais importante o
envelhecimento. A maioria dos casos ocorre em pessoas com mais de 65 anos. No entanto,
o cancro pode surgir em pessoas de todas as idades.
O tempo é determinante no combate ao cancro, quanto mais cedo for detetado um cancro,
maiores serão as probabilidades de o tratar. Todas as pessoas que cuidam de idosos em
casa devem estar particularmente atentas aos seus sinais e comportamentos.

Dos sintomas mais importantes, destacam-se os seguintes:


• Uma saliência ou nódulo na mama ou em qualquer outra parte do corpo;
• Uma verruga nova ou mudança de um sinal existente;
• Uma ferida que não cicatriza;
• Rouquidão ou tosse que não desaparece;
• Mudanças no funcionamento da bexiga e nos hábitos intestinais;
• Desconforto depois de comer;
• Dificuldade em engolir qualquer tipo de alimento;
• Aumento ou perda de peso sem qualquer tipo de razão aparente;
• Sangramento anormal;
• Sentir-se fraco ou muito cansado.

Se detetar que a pessoa de quem cuida tem alguns destes sintomas, deve consultar o
médico de família. Inicialmente, o cancro não causa qualquer tipo de dor, por isso, não
espere muito tempo, pois poderá ser tarde demais.

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2.5 Problemas endocrinológicos

Diabetes

A diabetes mellitus (DM) é hoje um problema de saúde pública, pela elevada incidência e
prevalência que apresenta, afetando em especial os mais idosos. O aumento no número de
casos de diabetes, por um lado deve-se às mudanças sociais e culturais ocorridas nas
últimas décadas que levaram a alterações de estilos de vida e a comportamentos de risco,
por outro lado também devido ao envelhecimento da população, o que pode agravar o
problema, sendo de esperar que aumentem os números atuais, à medida que aumentar na
população a faixa etária dos idosos. Mais de um quarto da população entre os 60-79 anos
tem diabetes, existindo correlação direta entre o aumento da prevalência da diabetes e o
envelhecimento. Existem vários tipos de diabetes, a diabetes tipo 1, a diabetes tipo 2,
diabetes gestacional, ainda existem outros tipos de diabetes, mas esses ocorrem com
muito menor frequência.
A diabetes tipo 2 é, sem dúvida, o tipo mais comum de diabetes, e tem como
principais fatores de risco a obesidade, o sedentarismo e a predisposição genética.
Na DM tipo 2 há um desequilíbrio no metabolismo da insulina, existe um défice e/ou
resistência a esta, significa isto que, é necessária uma maior quantidade de insulina para a
mesma quantidade de glicose no sangue. Por isso as pessoas com maior resistência à
insulina podem, numa fase inicial, apresentar valores mais elevados de insulina e valores
de glicose normais. À medida que o tempo passa, o organismo vai tendo maior dificuldade
em compensar este desequilíbrio e os níveis de glicose sobem.
No nosso organismo as células utilizam a glicose como fonte de energia, no entanto para
que a glicose seja capaz de entrar para as células, ela precisa de insulina, a insulina liga-se
à célula permitindo a abertura de uma espécie de porta por onde entra a glicose.
Num organismo saudável a insulina é produzida nas quantidades necessárias face à
quantidade de glicose em circulação. Por exemplo, após uma refeição completa, os níveis
de glicemia (glicose no sangue) aumentam, quando isto acontece o pâncreas liberta
insulina para que a glicose possa entrar nas células e ser utilizada como energia. Na
diabetes há uma incapacidade do organismo produzir insulina ou de utilizá-la
adequadamente, e pela presença de concentrações elevadas de glicose no sangue, uma

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vez que a insulina é a "chave" que abre a "porta" por onde a glicose entra nas células. Se
houver falta de insulina, a glicose permanece no sangue em vez de fornecer energia às
células. A diabetes constitui um sério risco para a doença cardiovascular. Na presença de
diabetes, os outros factores de risco tornam-se mais significativos e ameaçadores uma vez
que a diabetes interfere significativamente em muitos aspectos. Além de frequente, é uma
doença que afeta vários órgãos e está associada a muitas complicações.

As alterações extremas dos níveis de glicemia são prejudiciais ao organismo. A baixa taxa
de glicose no sangue (hipoglicemia) é tão perigosa quanto o excesso dela, pois leva a
complicações em vários órgãos e até situações de emergência e risco de morte.
A hiperglicemia pode prejudicar as artérias e os nervos, resultando em um menor fluxo
sanguíneo para mãos e pés, rins e outros órgãos vitais, como coração e o cérebro. Pouco
fluxo de sangue para estas áreas aumenta o risco de infeções, problemas cardíacos,
derrame, cegueira, amputações de pé ou perna e doença renal. Além disso, pode ocorrer
diminuição da sensação nos pés e sem que se perceba, pode haver danos a partir de
ferimentos leves.
Por todas estas razões, deve-se fazer grandes esforços para evitar altos níveis de glicose
no organismo. Além destas complicações, o aumento rápido da glicose no sangue pode
causar desidratação aguda, alteração da consciência, confusão mental e até o coma.

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A hipoglicemia pode ser perigosa, especialmente quando for muito acentuada e se


prolongar por muito tempo. O cérebro utiliza a glicose como fonte única de energia e se
ficar sem combustível por mais do que alguns minutos, pode sofrer danos graves e
irreversíveis e é por esta razão que os baixos níveis devem ser tratados rapidamente.

Diante de uma hipoglicemia, a pessoa apresenta dois tipos de sintomas:


1) Aqueles relacionados à diminuição de glicose cerebral;
2) Os decorrentes da produção de adrenalina na tentativa de elevar a glicose.

Entre os primeiros os mais frequentes são visão turva, tonturas, fraqueza, dor de cabeça,
pensamento lento, formigamentos, sensação de fome, dificuldade de concentração,
irritabilidade, alterações de comportamento e, em casos mais graves, convulsão e coma.
Entre os sintomas causados pela liberação de adrenalina os mais frequentes são: o excesso
de suor, tremores e palpitações. Os sintomas variam de acordo com a pessoa e nas
pessoas idosas é comum a queixa de pesadelos noturnos, distúrbio do sono e confusão
mental aguda.

As seguintes orientações podem ajudar o cuidador a manter o controlo do diabetes:


• Relatar qualquer doença ao médico;
• Testar a glicemia frequentemente, até que os resultados estejam normais, se a
pessoa idosa não conseguir ingerir fluídos ou alimentos por mais de 4 horas, se
tiver febre, se a doença durar mais de 24 horas, se estiver desidratado (uma boa
dica é a quantidade de urina, quanto menor, maior o risco de desidratação), se tiver
dor abdominal grave ou se tiver outros sintomas inexplicáveis;
• Quando falar com o médico tenha um registo dos resultados dos testes de glicemia;
• É importante alimentar a pessoa idosa e que esta beba líquidos, principalmente se
estiver doente e transpirar pela febre, se tiver diarreia ou se a glicemia estiver alta.
Ofereça pelo menos uma pequena refeição a cada 3-4 horas para evitar a
hipoglicemia. Caso os alimentos normais não sejam bem tolerados, ofereça líquidos
açucarados.

Da perspetiva da gestão do autocuidado a diabetes nos idosos apresenta complexidades


adicionais, relacionadas com problemas específicos da idade como baixos níveis de

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independência, mobilidade reduzida, suporte social desadequado, reduzida capacidade para


o autocuidado. Estes fatores são muitas vezes limitadores do acesso aos cuidados e o
impacto na saúde e na qualidade de vida do idoso é muitas vezes subestimado.
O idoso diabético tem risco acrescido de hipoglicemia devido a efeitos adversos da
medicação, nutrição deficiente, diminuição cognitiva insuficiência renal e disfunção
autonómica. A hipoglicemia, geralmente ocorre em diabéticos que utilizam fármacos para
controlar a doença, sejam eles insulina ou antidiabéticos orais, esta condição pode
acontecer essencialmente por três motivos (isolados ou em conjunto): toma
excessiva/incorreta da medicação, jejum prolongado e exercício físico inadequado.
Um idoso que toma medicamentos para controlar a diabetes necessita ter muita atenção
com a alimentação para que os níveis de açúcar não desçam demasiado.

É importante ressalvar que muitas vezes a pessoa idosa pode ter hiperglicemia sem
qualquer queixa ou alteração visível, por isso, a importância do controle regular da glicose
(tanto em jejum quanto após as refeições). Pode ocorrer nas pessoas com a diabetes mal
controlada ou quando existe ingestão de uma grande quantidade de hidratos de carbono.

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Esta condição pode causar sintomas como:

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2.6 Problemas genito-urinários

Infeção do trato urinário

Por infecção do trato urinário (ITU) compreende-se a invasão do sistema urinário,


previamente estéril, por bactérias, fungos ou vírus. As ITU’s podem ser com ou sem
sintomas e complicadas ou não complicadas. Essa avaliação é feita pelo médico que irá
abordar individualmente cada caso.

Causas frequentes:
• Problemas na função ou na anatomia do trato genito-urinário;
• Incontinência urinária;
• Imobilidade;
• Pouca ingestão de líquidos ou desidratação;
• Deficiências nutricionais;
• Hábitos precários de higiene;
• Presença de outras doenças como, por exemplo, diabetes;
• Presença de algálias, uso de fraldas, absorventes ou calças plásticas;
• Presença de cálculos renais (pedras nos rins) ou na bexiga;
• Deformidades na bexiga;
• Uso prévio ou irregular de antibióticos (favorecem o aparecimento de infeções
causadas por germes mais resistentes);

O que sente a pessoa com ITU?


• Dor ao urinar tipo ardência;
• Urgência para urinar;
• Frequência miccional aumentada (vai várias vezes ao WC);
• Urina em pequena quantidade;
• Sensação de não esvaziamento da bexiga;
• Febre;
• Incontinência urinária.

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A pessoa idosa pode não apresentar os sintomas típicos da doença. Na verdade, muitas das
vezes, as pessoas idosas apresentam outros sintomas que não são observados com
frequência em jovens, como mal-estar indefinido, falta de apetite, fraqueza, calafrios ou
até confusão mental.
O tratamento é feito com antibióticos, definidos pelo médico, e adequados para cada
infecção e para cada paciente, e é sempre importante ter em mãos uma lista com nomes
de antibióticos já utilizados pelo idoso durante os últimos meses e principalmente se
ocorreu algum episódio de alergia à medicação.
Para prevenir é importante ingerir bastantes líquidos, em média de 2 litros por dia, evitar
reter a urina, urinando sempre que a vontade surgir e evitar o uso indiscriminado de
antibióticos, sem indicação médica.

Incontinência Urinária

A incontinência urinária é a condição na qual há perda de urina não intencional, é um


problema social e/ou higiénico que pode ser demonstrada, por exemplo, com as roupas
molhadas.
Calcula-se que pelo menos uma em cada três pessoas idosas tenha algum grau de
dificuldade para controlar a urina.

Algumas questões em que o cuidador deve prestar atenção quando estiver diante de uma
pessoa idosa com incontinência urinária, para respondê-las ao médico.
1. Ocorre a perda de urina todos os dias ou só de vez em quando?
2. Acontece apenas quando tosse, espirra ou aperta a barriga?
3. A pessoa idosa sente vontade, mas não consegue chegar a tempo à casa de
banho?
4. A pessoa idosa tem dificuldade de tirar a roupa para urinar?
5. Na incontinência, a urina sai ou fica pingando na roupa?
6. A pessoa idosa perde-se e não encontra a casa de banho?
7. Ocorre apenas de dia ou só à noite?
8. Quais os medicamentos que a pessoa idosa toma?
9. A pessoa idosa relata dor ao urinar, urina muitas vezes ao dia?
10. A urina está com a cor mais escura ou o cheiro forte?

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Para responder estas perguntas com maior fidelidade, o cuidador deverá, durante alguns
dias, fazer um relatório, um diário sobre a incontinência, ou seja, registar todas as vezes
que a pessoa idosa urinar, na sanita ou como incontinência, para poder entender um
possível padrão, qualificando melhor esta intercorrência. Assim, o médico poderá fazer um
correto diagnóstico e terá melhores condições de indicar os meios para solucionar este
problema, de maneira mais eficaz.
O problema agrava-se quando os idoso por embaraço, medo ou por vergonha, ou mesmo
por achar que se trata de uma inevitabilidade do avançar da idade, não procuram ajuda
médica, e muitas vezes da família, e preferem isolar-se acabando em complicados estados
depressivos e pode até constituir um motivo para a institucionalização.
Para além do impacto direto na qualidade de vida, a incontinência urinária, predispõe a
dermatoses genitais, úlceras de pressão, infecções do trato urinário, quedas e fracturas
ocorridas, frequentemente, no caminho para a casa de banho.
É certo que com a idade surgem naturalmente alterações que por si só não provocam
incontinência mas podem predispor para ela. Podem ser tão simples como a diminuição da
mobilidade, a qual, associada a uma dificuldade em retardar a micção - urgência miccional
- relativamente frequente no idoso, impede que a pessoa se desloque até à casa de banho
a tempo. Com a idade perde-se também a destreza manual e o simples ato de desapertar
os botões das calças pode tornar-se numa complicada e morosa tarefa. A bexiga do idoso
perde algumas propriedades tornando-se frequentemente hiperactiva, isto é, obriga a
micções mais frequentes, de pequeno volume e acompanhadas de urgência miccional.
Com o avançar da idade são também muito frequentes as micções noturnas. São várias as
causas desta situação que designamos por noctúria. Em condições normais os rins não
produzem urina durante o sono graças à secreção de uma hormona (hormona anti-
diurética), mas com a idade ou por interação de algumas doenças como a obstrução
causada pelo aumento da próstata, infecções urinárias, a insuficiência cardíaca, a diabetes,
entre outras, esta situação altera-se e as pessoas idosas têm que se levantar 2 ou 3 vezes
durante a noite. Se estiverem a tomar comprimidos para dormir têm mais dificuldade em
despertar para urinar.
Um outro factor importante, e que pode ser contornado, é a ação de alguns medicamentos,
que podem tornar o idoso menos reativo ao ponto de não se aperceber da vontade de
urinar.

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Existem ainda factores mais complicados como as alterações do estado mental, em que o
grau de consciência se vai deteriorando, começando por poder causar uma falta de
motivação até chegar à completa perda do controlo voluntário da micção.
Existem diferentes tidos de incontinência, mas os tipos de incontinência que afectam
essencialmente a população idosa classificam-se essencialmente em dois tipos: transitória
ou crónica.

Transitória

Normalmente é reversível, mas tudo depende das causas que estão na sua origem, de um
modo geral, fora do aparelho urinário. Contudo, embora chamada transitória, esta forma
de incontinência pode tornar-se definitiva, se não for tratada.
Existe uma mnemónica, "DIAPPERS", para descrever as causas da incontinência transitória
e cujo significado, em português, é fraldas. Cada letra é a inicial de uma possível causa:

D - Delirium (Delírio);
I - Infection (Infecção);
A - Atrophic urethritis/vaginitis (Vaginite ou uretrite atrófica);
P - Pharmacologic (Farmacológica);
P - Psychologic (Psicológica);
E - Excess urine output (Excesso de produção de urina);
R - Restricted mobility (Mobilidade restringida);
S - Stool impactation (Fecalomas);

Crónica

A incontinência crónica subdivide-se em quatro tipos de incontinência, a causada por


hiperactividade do detrusor, por esforço, por regurgitação e a funcional.

Hiperactividade do detrusor

A prevalência da hiperactividade do detrusor situa-se, nos idosos que se queixam de


incontinência, entre os 40 e 70%. As principais queixas são a imperiosidade miccional, que

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se descreve como uma vontade de urinar súbita e irreprimível que os impele a dirigirem-se
rapidamente ao WC, e a perda involuntária que se segue se não chegam a tempo.
A imperiosidade é causada por um contração forte ou muito forte do detrusor e que ocorre
sem que a bexiga ainda esteja cheia, esta contração leva a um aumento da pressão intra
vesical e, se esta for superior à pressão de encerramento uretral, dará origem a
incontinência.
Pode ser parte de doenças que afectam o sistema nervoso central em que este não
consegue inibir sinais sensoriais provenientes da bexiga dando-se, por isso uma contração
involuntária. Há ainda outras situações, em que, embora não exista qualquer deficiência do
sistema nervoso central, o mesmo não é capaz de inibir, de maneira eficaz, os sinais
vesicais por estes serem em número muito superior ao normal como, por exemplo, nos
casos de cistites, uretrites atróficas ou prolapsos uterinos, na mulher, e hipertrofia benigna
da próstata, no homem.

Por esforço

A incontinência de esforço é a causa mais comum de perda de urina nas senhoras em


menopausa e ocorre por relaxamento do pavimento pélvico causado geralmente por partos
múltiplos e pelo envelhecimento. É rara nos homens e, nestes casos, é geralmente
iatrogénica, sendo consequência de lesões do esfíncter uretral feitas no decorrer de
manobras ou intervenções cirúrgicas urológicas.
A sua sintomatologia é muito típica e consiste na perda involuntária de urina resultante do
aumento da pressão intra-abdominal, este aumento de pressão, que é fisiológico e se
desencadeia quando um indivíduo tosse, ri, espirra, se dobra ou se levanta, transmite-se à
urina que está no interior da bexiga e, se for superior à pressão de encerramento da
uretra, permite uma passagem involuntária de urina.

Por regurgitação

A incontinência por regurgitação é sobretudo noturna e é a causa de cerca de 10% das


incontinências dos idosos. Desenvolve-se quando há retenção urinária crónica completa, na
qual a pressão de encerramento da uretra é superior à pressão intra-vesical. Pode,
portanto, aparecer nas situações em que existe uma obstrução por barragem infra-vesical
ou, em alternativa, quando há uma bexiga hipocontráctil.

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Este fenómeno pode ser causado por obstrução uretral com origem numa hipertrofia
benigna da próstata, em neoplasias da próstata ou da uretra, estenoses da uretra, grandes
prolapsos uterinos, fecalomas, ou então por hipocontratilidade do detrusor resultante de
neuropatias diabéticas ou alcoólicas, lesões da medula, ou uso de medicamentos com
efeito anticolinérgicos como alguns neurolépticos, narcóticos, antidepressivos e relaxantes
musculares.

Funcional

A incontinência funcional é a que tem por causa dificuldades crónicas das funções
cognitivas e/ou da mobilização e que interferem nos hábitos normais de higiene. Ou seja,
estes doentes, em princípio, são continentes mas, devido a essas dificuldades, não
conseguem alcançar o quarto de banho a tempo. A dificuldade de mobilização pode ser
devida a artrites graves, a contracturas musculares, ou mesmo a debilidade generalizada.
As perturbações cognitivas podem ser devidas a medicação tomada pelos doentes ou
resultante de estados de delírio ou demência. Normalmente estes doentes não têm
qualquer tipo de alteração no seu aparelho urinário e a incontinência é resultante de
factores externos.

O tratamento da incontinência urinária implica uma cuidada avaliação de todos os factores


que possam estar direta ou indiretamente relacionados com a doença. Nos casos em que
exista indicação, é instituída terapêutica medicamentosa e/ou intervenção cirúrgica.
Contudo, é possível começar por medidas práticas que facilitem a acessibilidade do idoso.
Tentar motivá-lo para se mobilizar proporcionando facilidades em se levantar para ir à casa
de banho ou colocando um urinol a seu lado. Tentar melhorar estados confusionais que
podem estar ligados a medicação. Alguns sedativos têm ação muito prolongada e por um
efeito de acumulação deprimem demais o estado de consciência do idoso, deixando-o
demasiado sonolento ou mesmo confuso.
Por vezes tenta-se "aligeirar" a última refeição do dia só à custa de líquidos e/ou fruta o
que irá aumentar a necessidade de urinar durante a noite o que não é prático nem para o
idoso nem para quem o assiste. Por fim pode haver necessidade de recorrer às fraldas e à
algaliação (sempre o último recurso).
São alguns exemplos que podem ajudar mas na maioria das situações é necessária apurar
as causas com uma cuidada observação médica.

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2.7 Problemas musculosqueléticos

Os problemas musculosqueléticos são muito comuns em pessoas idosas. Dores nas


articulações, nas costas ou na região lombar, nos joelhos, são algumas de várias queixas
que podem muitas vezes significar alguma doença. Assinale-se, no entanto, que nem tudo
que dói é “reumatismo”, diversas doenças causam dores nas articulações e antes que se
use qualquer medicamento sem indicação, a dor deve ser avaliada pelo médico.
Hoje em dia, quando falamos em reumatismo, estamos a falar sobre um grupo de doenças
que comprometem principalmente músculos, articulações, tendões ou qualquer outro local
do aparelho locomotor. Este grupo engloba mais de 300 doenças que podem afetar
pacientes de todas as idades.
Cada uma destas doenças tem características específicas, porém com um ponto em
comum: a importância do diagnóstico precoce para proporcionar melhor qualidade de vida
aos pacientes.

As causas são diversas, visto o amplo número de doenças que o reumatismo engloba.

Degenerativas: ocorrem devido ao desgaste de alguma estrutura do organismo. Pode ser


algo natural, que vem com a idade, ou pode ser algo induzido como, por exemplo, excesso
de exercícios físicos, obesidade e mau uso das articulações.

Inflamatórias: geralmente possuem ligação com o sistema imunológico. Quando alguma


falha ocorre neste sistema, o corpo passa a interpretar partes de estruturas como
organismos estranhos e, ao combatê-las, gera dano local.

Infecciosas: são geralmente causados por vírus ou bactérias.

Distúrbios metabólicos: também podem ter relação com o surgimento de alguma


complicação.

Hereditariedade: em alguns casos, até mesmo a hereditariedade pode ser um fator de


risco.

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Artrite reumatoide

Ocorre quando há uma alteração do sistema imunológico, que ataca as articulações, dos
dois lados do corpo, principalmente mãos, punho e pés. Os sintomas mais comuns são:
dor, inchaço, calor, vermelhidão, rigidez matinal e deformidade das articulações. A doença
não tem cura e nem prevenção, mas pode ser controlada e quanto mais cedo começar o
tratamento, melhor.

Osteoartrite

A doença mais comum na pessoa idosa é a osteoartrite ou popularmente chamada de


artrose. Na osteoartrite ocorre um desgaste da cartilagem, uma espécie de gelatina que
protege as juntas, entre as extremidades dos ossos. Quando há a sua destruição, os ossos
entram em contacto entre si, formando pequenos nódulos nas articulações das mãos ou
proeminências na coluna vertebral, o chamado “bico de papagaio”.
A osteoartrite é uma doença muito dolorosa e que pode causar dificuldades ao caminhar,
na movimentação do corpo durante atividades de subir e descer escadas, ou até para
realizar trabalhos domésticos. Além disso, pode haver maior probabilidade de queda
trazendo consequências como, por exemplo, fraturas. A dor é lenta, progressiva e pode
acompanhar estalidos das articulações.
Não existe cura ou tratamento específico. Nas crises de inchaço e vermelhidão, ou seja,
artrite, é recomendado aplicar compressas geladas e analgésicos. O uso de anti-
inflamatórios não deve ocorrer sem prescrição médica. O apoio da fisioterapia para
melhorar a força e o músculo é fundamental.
Um aspeto bastante importante na osteoartrite é o peso. Por isso, pessoas com excesso de
peso têm uma melhora significativa das dores, quando emagrecem. Portanto, o apoio de
um profissional de nutrição e a reeducação alimentar fazem parte do tratamento da
osteoartrite, principalmente dos joelhos.

Osteoporose

A osteoporose é uma doença no esqueleto que se caracteriza por um osso mais fraco e
quebradiço. Isso acontece devido a muitos fatores, como a idade, alimentação, baixa
exposição solar, menopausa, imobilização, uso de álcool ou tabagismo.

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O osso é um tecido em permanente renovação, num equilíbrio constante, com o aumento


da idade há um desequilíbrio deste processo, pois há mudanças na qualidade do osso,
menor velocidade de formação óssea e maior velocidade de desgaste. Aliado a isso, com o
processo normal de envelhecimento há uma menor absorção de vitamina D e menor
ingestão de cálcio, os quais são fundamentais para formação do osso, e algumas doenças e
medicamentos podem acelerar este processo, como, por exemplo, doenças da tiroide e o
uso de corticoides.
Como a osteoporose é uma doença assintomática (não provoca dores ou dá outros sinais),
geralmente é diagnosticada tardiamente, muitas vezes quando a pessoa idosa sofre uma
fratura. A osteoporose é mais frequente entre as mulheres, mas, também nos homens se
verifica um aumento desta doença.
De entre os diversos problemas que pioram a osteoporose está a imobilização. O indivíduo
que fica acamado ou restrito a uma cadeira de rodas tem este processo acelerado.
A maior complicação da osteoporose é a fratura, que pode deixar a pessoa idosa
imobilizada ou causar prejuízos nas suas funções, como, por exemplo, a de andar.
A prevenção e detecção precoce da osteoporose pode amenizar estas consequências.

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2.8 Problemas neurológicos e sensoriais


A degeneração celular atingem também os neurónios ou células nervosas, dando lugar a


doenças como o Alzheimer e o Parkinson. Alguns sintomas, embora também surjam em
idades mais precoces, alcançam maior prevalência entre os idosos, como os tremores.
A epilepsia pode também acometer a terceira idade, neste caso decorrente de lesões
vasculares cerebrais. As neuropatias ou doenças dos nervos periféricos também têm
expressividade nesta faixa etária. E transtornos da marcha, da visão, da audição e do
equilíbrio contribuem para aumentar a incidência de quedas no idoso.

Doença de Parkinson

A Doença de Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, que afeta
os movimentos corporais, levando a tremores, rigidez, lentificação dos movimentos
corporais, instabilidade postural e alterações da marcha.
A doença surge quando os neurónios de uma determinada região cerebral “morrem”, sendo
que, quando surgem os primeiros sintomas, já há perda de 70 a 80% destas células. Em
condições normais, estas células produzem dopamina, um neurotransmissor que ajuda a
transmitir mensagens entre as diversas áreas do cérebro que controlam o movimento
corporal. Assim, quando estas células morrem, os níveis de dopamina tornam-se
anormalmente baixos, o que leva a dificuldades no controlo do tónus muscular e
movimentos musculares, afectando os músculos quer durante o repouso quer quando em
atividade. Até agora, a razão porque algumas pessoas desenvolvem a doença e outras não,
não foi determinada.
A manifestação inicial da doença é, geralmente, um tremor ligeiro numa mão, braço ou
perna. Tipicamente, o tremor melhora quando o doente move voluntariamente a
extremidade afectada e pode desaparecer durante o sono. À medida que a doença
progride, o tremor torna-se mais difuso, acabando por afectar extremidades de ambos os
lados do corpo.
Para além do tremor, surgem ainda outros sintomas, como a rigidez das extremidades,
lentificação dos movimentos corporais voluntários (bradicinesia), instabilidade postural e
alterações da marcha.

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Quando a bradicinésia afecta os músculos faciais, leva a que o doente se babe, perturba o
piscar dos olhos e interfere com a mímica facial, podendo acabar por originar uma face
semelhante a uma máscara, isto é, inexpressiva. Quando atinge outros músculos, a
bradicinésia pode afectar a capacidade de cuidar de si próprio, como de se lavar e vestir,
utilizar os talheres ou de realizar as normais tarefas domésticas, como lavar a loiça ou a
roupa.
Os problemas com o equilíbrio e a instabilidade postural podem tornar muito difíceis atos
tão simples quanto o sentar-se ou levantar-se de uma cadeira e o andar pode implicar
pequenos passos, arrastados, geralmente, sem o normal movimento pendular dos braços.
Nalguns pacientes surgem, ainda, alterações da escrita, sendo que a letra se torna
pequena, tremida e, muitas vezes, ilegível.
Para além de tudo isto, ainda estão associados à doença outros sintomas como a
depressão, ansiedade, alterações do sono, perda de memória, discurso indistinto,
dificuldades de mastigação e deglutição, obstipação, perda do controlo vesical, regulação
anormal da temperatura corporal, aumento da sudação, disfunção sexual, cãibras,
entorpecimento, formigueiros (parestesias) e dores nos músculos.
Apesar de não haver, atualmente, uma cura, os sintomas podem ser controlados através de
diversos tipos de medicação. Há que referir que medidas como a prática regular de
exercício físico e uma dieta equilibrada podem contribuir para melhorar o bem estar destes
pacientes e também o controlo corporal.
É importante nos cuidados prestados a estes doentes a incentivação para a manutenção da
sua independência, bem como para o autocuidado.

Demência

O termo demência é utilizado geralmente para a deterioração mental. Indica decadência


das funções intelectuais tais como: memória, capacidade de julgamento, poder de decisão
e as várias funções de percepção, associação e execução da mente. Muitas vezes, os
primeiros sinais de demência são tão discretos que passam despercebidos ao médico e à
família. Geralmente inicia-se por um défice de memória, principalmente da memória a curto
prazo. Pode-lhe estar associada a perda de iniciativa, irritabilidade, dificuldade em tomar
decisões e incapacidade na realização de atos comuns.

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As causas de demência podem ser várias, pode ocorrer após traumatismo, pode estar
associada a lesões cerebrais, ou pode secundar a arteriosclerose e hábitos tóxicos como o
alcoolismo e a adição de drogas.
Estes doentes, para além de terem necessidade de ter um acompanhamento médico, não
deverão ser deixados sozinhos. No caso das pessoas idosas, muitas vezes, podem ocorrer
situações graves, como por exemplo esquecerem-se de apagar o lume, saírem para a rua e
perderem-se, ou ingerirem medicamentos em quantidade excessiva. O acompanhamento
por uma pessoa de família ou quem a substitua é, portanto, indispensável.
Muito embora seja difícil e por vezes impossível ter uma conversa dita “normal” com uma
pessoa demente, deve-se ter o cuidado de não alimentar o discurso incoerente que
apresenta. Assim, deve-se sempre tentar trazer a pessoa para a realidade, explicando o
que efetivamente se passa.

Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, constituindo cerca de 50% a


70% de todos os casos. É um tipo de demência que provoca uma deterioração global,
progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração,
linguagem, pensamento, entre outras). Corresponde a um distúrbio, do qual ainda não se
conhecem as causas, tem um princípio insidioso, com evolução gradualmente progressiva e
que atualmente é irreversível.
À medida que as células cerebrais vão sofrendo uma redução de tamanho e número,
formam-se ligações no seu interior e placas senis no espaço exterior existente entre elas,
esta situação impossibilita a comunicação dentro do cérebro e danifica as conexões
existentes entre as células cerebrais. Estas acabam por morrer e isto traduz-se numa
incapacidade de recordar a informação. Deste modo, conforme a doença vai afetando as
várias áreas cerebrais vão-se perdendo certas funções ou capacidades e quando a pessoa
perde uma capacidade, raramente consegue voltar a recuperá-la.
A alteração da memória pode ser o único sintoma deficitário, numa fase inicial da doença.
Pouco a pouco, discretas alterações da personalidade podem surgir e o doente vai-se
tornando menos espontâneo, ou seja, mais apático, posteriormente aparecem alterações
de comportamento, como fugir de casa e não saber o caminho de volta, falta de cuidado
com a aparência e a higiene corporal e até agressividade. Mais tarde surge a depressão e
em alguns casos o delírio. Os idosos com Alzheimer tornam-se incapazes de realizar a mais

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pequena tarefa, deixam de reconhecer os rostos familiares, ficam incontinentes e acabam,


quase sempre, acamados.

Outro sintomas característicos:

• Dificuldades de memória persistentes e frequentes, especialmente de


acontecimentos recentes;

• Apresentar um discurso vago durante as conversações;

• Perder entusiasmo na realização de atividades, anteriormente apreciadas;

• Demorar mais tempo na realização de atividades de rotina;

• Esquecer-se de pessoas ou lugares conhecidos;

• Incapacidade para compreender questões e instruções;

• Deterioração de competências sociais;

• Imprevisibilidade emocional.

Consoante as pessoas e as áreas cerebrais afetadas, os sintomas variam e a doença


progride a um ritmo diferente. As capacidades podem variar de dia para dia ou mesmo
dentro do próprio dia, podendo piorar em períodos de stress, fadiga e problemas de saúde.

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No entanto, o certo é que vai existir uma deterioração ao longo do tempo. A doença de
Alzheimer é progressiva e degenerativa. Apesar de não existir atualmente cura, existem
medicamentos que permitem alguma estabilização do funcionamento cognitivo nas pessoas
com a doença, nas fases ligeira e moderada. Os medicamentos também podem ser
prescritos para sintomas secundários, como a intranquilidade e depressão, ou para ajudar a
pessoa com a dormir melhor.
Os idosos podem mostrar comportamentos desadequados como acusações de que
membros da família os estão a roubar e comportamentos hipercríticos e hostis dirigido
contra determinados membros da família, mas em fases posteriores, os idosos precisam de
uma figura de autoridade, constante e solícita, cuja atenção pode ter efeitos positivos,
aliviando a ansiedade e elevando o humor. Deve haver disseminação de conselhos práticos
para a família e para os cuidadores, sendo essencial que estes possam exprimir emoções e
temores relacionados com a doença. Com a progressão da doença tornam-se incapazes de
realizar a mais pequena tarefa, deixam de reconhecer os rostos familiares e até a si
mesmos quando colocados frente a um espelho, ficam incontinentes e acabam, quase
sempre, acamados.
Não há tratamento específico para esta doença. O médico vai acompanhando a situação de
forma a minorar ao máximo a sintomatologia presente. É fundamental o acompanhamento
destes doentes, em todas as atividades de vida diária, não descurando nunca a atenção
afetiva, extremamente importante para a não agudização da doença.

Comportamento aconselhado ao cuidador:

• Esteja próximo e olhe bem para o idoso, olhos nos olhos, quando conversam;
• Permaneça calmo e sereno. Fale clara e pausadamente, num tom de voz nem
demasiado alto nem demasiado baixo;
• Evite ruídos (rádio, televisão ou conversas próximas);
• Se for possível, segure na mão ou ponha a sua mão no ombro dele. Demonstre-lhe
carinho e apoio;
• Previna acidentes, o doente deve trazer sempre algo que o identifique, por
exemplo, uma pulseira com o nome, morada e telefone, previna vizinhos e
comerciantes próximos do estado do doente. Estes podem ajudá-lo em qualquer
momento caso se perca e peça informações;

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• Mantenhas as portas de saída para a rua fechadas, para evitar que vá para o
exterior sem que se dê por isso e tenha uma fotografia atualizada, para o caso
deste se perder e precisar de pedir informações;
• Se o idoso quiser sai, não deve impedi-lo de o fazer. É preferível acompanhá-lo ou
vigiá-lo à distância e, depois, distraí-lo e convencê-lo a voltar a casa;
• Pode ser necessário pedir aconselhamento ao médico assistente e deve certificar-se
que o idoso toma a medicação;
• Enquanto o idoso tiver autonomia, deixe-o atuar conforme as suas possibilidades,
sempre que necessário substituir o idoso, na higiene corporal;
• Evite discutir, repreender ou fazer qualquer coisa que se assemelhe a um castigo;
• Não force contactos físicos e deixe-lhe bastante espaço livre;
• Não seja demasiado exigente com a rotina diária do doente, mas deve supervisionar
a alimentação e a eliminação;
• Ajude, mas de forma a não parecer estar a dar ordens;
• Procure que o idoso faça atividades que lhe interessem;
• Assegure-se de que o idoso faz exercício físico suficiente;
• Esteja atento a sinais que possam indiciar crise iminente e procure distrair a
atenção do idoso nessa situação.

PATOLOGIA SENSORIAL

Em função da idade, são detectadas diversas mudanças nas funções perceptivas dos
idosos. Podemos destacar como consequência dessas alterações, uma deterioração
progressiva no desempenho motor especializado.
A visão, considerada por muitos como o órgão do sentido mais essencial, é prioritariamente
afectada.
A diminuição da capacidade auditiva é considerada por muitos estudiosos da área como um
importante motivo da exclusão social do idoso. A maior dificuldade auditiva da pessoa idosa
é na detecção de sons de alta frequência e no aumento do tempo de reação aos sons.
O olfacto também é afectado, ocorrendo uma queda gradual na capacidade de identificar
corretamente os odores.
O tacto, responsável pela informação ao sistema nervoso da temperatura do ambiente
externo, sensações de dor e de toque, é sensivelmente diminuído.

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Os órgãos do sentido são responsáveis em grande parte pelas percepções.


Quanto menor o número de informações recebidas pelo sistema nervoso, menor será a sua
resposta ao ambiente, interno ou externo, e consequentemente, menos interações com o
meio ao seu redor o indivíduo terá. O idoso exclui-se facilmente caso não seja
constantemente estimulado e motivado a participar de atividades na sociedade onde vive.

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2.9.Problemas dermatológicos

Conhecidas antigamente por escaras, as úlceras por pressão ocorrem em pessoas


acamadas ou que ficam sentadas muito tempo na mesma posição, sem condições para
movimentar-se sozinhas. Elas são decorrentes de diminuição da circulação sanguínea nas
áreas do corpo onde os ossos causam pressão nos tecidos moles como músculo e pele.

O início das úlceras é evidenciado por manchas vermelhas ou roxas que não desaparecem
após a mudança de posição, bolhas que vão escurecendo ou até mesmo perda da pele ou
uma crosta preta. Também a pele mais quente ou mais endurecida nestes locais pode
evidenciar o início de uma lesão e se não tratada, a ferida pode atingir até os ossos.
Se a pessoa não tem controlo da urina e fezes e tem dificuldades para ter uma boa
alimentação o problema pode se agravar. No entanto, certas medidas podem ser usadas
para diminuir o problema. Para a prevenção das úlceras é preciso saber que o fator
principal é o excesso de pressão local. Assim, as pessoas têm que ser mudadas
frequentemente de posição, não podem ficar deitadas ou sentadas em superfícies duras,
devendo-se usar colchão e/ou almofada adequadas para que as proeminências ósseas
estejam protegidas. Também a forma inadequada de movimentar a pessoa contribui para o
surgimento da úlcera. Deve-se evitar arrastá-la ou deixar que a pele se esfregue contra os
lençóis, causando fricção.
O uso de um forro sobre o lençol debaixo do doente permite que este seja levantado
durante a mudança de posição e não arrastado, porém a movimentação precisa ser feita
por pelo menos duas pessoas. Recomenda-se também evitar que as costuras de lençóis

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fiquem em contacto com a pele, assim como dobras de forros de cama e botões nas
roupas.
O exame diário e frequente da pele auxilia a identificar o início da úlcera precocemente e a
avaliar o que precisa ser mudado no cuidado para que a úlcera não ocorra ou que seja
resolvida antes do seu agravamento.
A pele demasiado seca ou húmida pelo suor ou urina facilita o desenvolvimento da úlcera.
Deve-se diminuir o uso de sabonetes na higiene corporal, não usar água quente e passar
creme hidratante no corpo todo, diariamente. A troca frequente das roupas pessoais e da
cama também auxiliam na diminuição da humidade da pele e a prevenir as úlceras.
Se observar que mesmo seguindo estas recomendações a úlcera se desenvolver ou se
agravar, procure um profissional de saúde para orientações quanto ao tratamento.
Uma alimentação e hidratação adequadas, uma boa higiene corporal e ambiental e
atividade física são alguns dos factores que ajudam a manter a pele saudável.
O aumento da esperança de vida e o progresso da medicina, trazem como consequência
uma multiplicidade de factores intrínsecos e extrínsecos ao doente que muitas vezes são
difíceis de controlar, são exemplo a imunodepressão, tratamentos de quimioterapia,
radioterapia, estádios avançados de doença oncológica, instabilidade hemodinâmica, etc.
Assim, o aparecimento de úlcera de pressão não deve ser considerado, necessariamente,
sinónimo de incapacidade dos cuidadores.
As regiões do corpo com proeminências ósseas, podem sofrer grandes pressões, por
descuido ou falta de informação. Estas regiões têm de ser protegidas, usando-se artifícios
para distribuir o peso exercido sobre estas regiões, ou seja, fazer uma distribuição do peso.

Caso uma força fique concentrada num ponto, o peso exercido é intenso. Esta
concentração de carga provoca pressão da pele, músculos e gorduras sobre os ossos,
diminuindo ou interrompendo o fluxo sanguíneo nesta região. Desta forma, o sangue não

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consegue transportar o oxigénio e os alimentos até às células, provocando a morte das


mesmas. Quanto mais células forem atingidas, maior será a úlcera.
As úlceras de pressão podem-se expandir tanto em largura como em profundidade,
podendo atingir as camadas superficiais da pele, os tecidos gordurosos, musculares e
ósseos.

Existem cinco estadios de classificação, que variam de acordo com a gravidade da úlcera
de pressão:
• Rubor branqueável e calor local;
• Rubor não branqueável, calor e dor (Úlcera de Estágio 1 ou Grau I);
• Destruição parcial da pele envolvendo a epiderme, derme ou ambas. Pode
apresentar-se como flictena serosa ou sero-hemática intacta ou que rompeu (Úlcera
de Estágio 2 ou Grau II);
• Destruição total da pele envolvendo necrose do tecido subcutâneo, pode estender-
se até à fáscia subjacente, não a ultrapassando, e/ou perda parcial e total e/ou
camadas de tecidos ocultas pelo tecido de granulação (Úlcera de Estágio 3 ou Grau
III);
• Destruição extensa, necrose tecidular ou dano muscular, ósseo ou das estruturas de
suporte com ou sem destruição total da pele (Úlcera de Estágio 4 ou Grau IV);

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Existem vários fatores precipitantes de úlceras de pressão, que por sua vez estão divididos
em dois grandes grupos – intrínsecos/internos ou extrínsecos/externos. De forma geral,
cada um destes fatores isolados, não causa, só por si uma úlcera de pressão, no entanto o
conjunto destas condições pode ser um veículo célere e fatal para o desenvolvimento de
uma lesão na pele.

Externos (fazem parte do exterior)


• Pressão (compreensão do tecidos mole);
• Fricção (arrastamento e atrito na superfície, onde a camada superior de células
epiteliais acaba por ser removida, por exemplo durante o posicionamento);
• Deslizamento ou Torção (deslize pela superfície onde se encontra);
• O posicionamento inadequado, restrição de movimentos, má higiene, medicação,
etc.

Internos (são parte integrante do idoso)


• Idade (aumento da idade – diminuição da capacidade da pele se regenerar, ficando
menos elástica e mais fina);
• Imobilidade (redução do movimento voluntário – aumento da pressão –
necessidade de cuidados de posicionamento por parte de cuidador);
• Desidratação (capacidade diminuída de regeneração da pele);
• Nutrição (obesidade – dificuldade em movimentar o idoso; subnutrição – mau
estado nutricional prejudica a elasticidade da pele; magreza excessiva –
proeminências ósseas mais acentuadas);
• Doenças cardiovasculares e/ou pulmonares (diabetes, HTA, artereosclerose,
insuficiências venosa, acidente vascular cerebral, etc. – patologias de alterem o
fornecimento de sangue corretamente oxigenado a todas as células do organismo);
• Irritantes químicos (incontinência urinária ou fecal podem provocar maceração da
pele, que por sua vez pode originar uma úlcera de pressão; lavagem frequente -
produtos de higiene agressivos);
• Irritantes térmicos (sudorese, temperatura ambiente, humidade);
• Irritantes mecânicos (próteses, gessos, outros aparelhos);
• Infeção (processo de maior instabilidade e vulnerabilidade do organismo);
• Medicação (diuréticos, laxantes, antibióticos, sedativos, etc. – podem provocar
efeitos secundários – diarreia, poliúria, etc. – que fragilizem a pele do idoso);

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Os locais do corpo onde é frequente surgirem úlceras de pressão consistem nas


proeminências ósseas, no entanto podem ocorrer noutros locais, de acordo com a posição
do utente, preferência de decúbito ou outro tipo de fatores:

Região sacrococcígea (sagrada)


Trocânteres
Maléolos
Calcâneos
Regiões isquiáticas
Cristas ilíacas
Joelhos
Dedos dos pés
Face
Orelhas
Nariz
Região Occipital
Cotovelos
Omoplatas
Ombros
Costelas
Outros

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2.10 Problemas oftalmológicos

Com o avançar da idade, as pessoas idosas têm tendência a desenvolverem doenças


oculares, como o glaucoma, cataratas, degeneração macular ou retinopatia diabética.
Conheça quais são os problemas de visão que surgem com o envelhecimento e saiba como
atuar.

Glaucoma

O glaucoma é um problema de visão que provoca danos no nervo ótico do olho e pode
conduzir à cegueira total. Trata-se de uma doença que ocorre quando a pressão do líquido
que preenche o globo ocular se encontra muito elevada, mais do que aquela que o olho
pode tolerar. Inicialmente, não apresenta sintomas mas, com o passar do tempo, a doença
vai progredindo. Os idosos que sofrem de glaucoma devem saber gerir corretamente os
seus medicamentos. Existem colírios (gotas oculares) e comprimidos que ajudam a tratar o
problema, no entanto, deve informar o seu médico sobre a sua medicação atual para que
não exista qualquer tipo de incompatibilidade.
A maioria das pessoas não tem problemas com a medicação indicada para tratar o
glaucoma, contudo, alguns medicamentos podem causar dores de cabeça ou outros efeitos
colaterais.

Cataratas

O olho humano tem uma lente, conhecida como cristalino, e esta tem a capacidade de
focar e captar imagens. A retina transmite ao cérebro a imagem que, através do cristalino,
é focada pelo olho. Para uma visão perfeita, é preciso que o cristalino seja transparente,
para que os raios de luz entrem e sejam captados pela retina. A catarata é uma opacidade
do cristalino, que impede de uma forma total ou parcial que os raios de luz cheguem à
retina, prejudicando a visão.
As pessoas que sofrem de cataratas ficam com uma visão muito turva, o que as impede de
ver o brilho das lâmpadas e do sol, e este é um estado que não melhora com a utilização
de óculos, apenas com cirurgia.

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Os sintomas mais comuns das cataratas são:


• Visão turva e disforme;
• Desvanecimento das cores e um brilho acentuado da luz solar, lâmpadas e faróis;
• Perda da visão noturna;
• Visão dupla ou imagens múltiplas num único olho;
• Mudanças frequentes na prescrição dos óculos ou lentes de contacto.

À medida que o corpo envelhece, maiores são as hipóteses de uma pessoa sofrer de
cataratas, pois as células do cristalino também envelhecem, no entanto, existem outros
aspetos que devem ser levados em conta, como por exemplo:
• A exposição prolongada à luz solar;
• O facto de ser ou não fumador;
• A existência de determinadas doenças na família como, por exemplo, a diabetes;
• O consumo excessivo de bebidas alcoólicas;
• A realização de uma má alimentação.

Retinopatia Diabética

A retinopatia diabética é uma manifestação ocular da diabetes e é umas das principais


causas da cegueira.
O aumento dos níveis de glicemia causam alterações nos vasos sanguíneos da retina no
interior de um olho, o que reduz progressivamente a visão.
A retinopatia diabética apresenta sombras ou objetos escuros que “flutuam” e atrapalham o
campo de visão de uma pessoa. Por outro lado, também provoca uma perda parcial da
visão, visão distorcida e dores nos olhos.
Não existe cura para a retinopatia diabética, no entanto, o tratamento a laser é uma das
técnicas mais eficazes que pode ser utilizada. Contudo, deve ser aplicada antes de a retina
ter sido severamente danificada.
Por outro lado, a remoção cirúrgica do gel vítreo (vitrectomia), também ajuda a melhorar
consideravelmente a visão de uma pessoa que sofre de retinopatia diabética.

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2.11 Problemas infeciosos

Pneumonia

Uma pneumonia consiste, essencialmente, numa inflamação do chamado parênquima


pulmonar, que é a parte do pulmão onde se dão as trocas gasosas, os alvéolos e os
bronquíolos respiratórios, que se localizam nesse parênquima pulmonar, são preenchidos,
no decurso da pneumonia, com um líquido resultante dessa inflamação, deixando assim de
estar aptos para essas trocas gasosas e diminuindo a elasticidade do pulmão.

As doenças pulmonares ocorrem em todas as idades, mas as pessoas idosas são as que
sofrem os quadros mais graves com maior risco à vida. A pneumonia é uma das principais
causas de óbito entre as pessoas idosas, sendo a quinta causa de morte mais comum nesta
população. Existe um aumento de casos de pneumonia durante o outono e inverno,
principalmente durante os períodos de epidemia de gripe. E pacientes em instituições têm
um risco maior de contrair infecções pulmonares quando comparados com aqueles que
vivem nos seus domicílios.
Certos hábitos de vida como fumar, ser dependente de bebidas alcoólicas, sofrer de
desnutrição, ter doenças pulmonares crónicas (como enfisema, bronquite e fibrose cística)
e outras doenças como cancro, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, insuficiência
hepática, diabetes, doença de Alzheimer e doenças do sistema imunológico (como SIDA)
têm mais facilidade de ter pneumonia. Pessoas idosas hospitalizadas e institucionalizadas
também são mais suscetíveis à pneumonia.

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A pneumonia não dá sintomas particularmente específicos, que permitam desde logo fazer
o diagnóstico, ou seja, os sintomas que normalmente se observam são comuns a muitas
outras doenças do aparelho respiratório. De qualquer forma os sintomas mais comuns
surgem agudamente, cerca de algumas horas a dias, como:
• Tosse;
• Expetoração, em geral com catarro espesso de coloração amarelada/esverdeada;
• Falta de ar;
• Respiração rápida (maior que 16 movimentos respiratórios por minuto);
• Dor no peito, dor de cabeça ou musculares;
• Febre ou temperatura baixa;
• Arrepios de frio, entre outros.

No idoso, não costuma apresentar-se de modo clássico, pode ocorrer de maneira


absolutamente silenciosa, e às vezes apenas uma alteração no padrão de comportamento
nos leva a considerar esta possibilidade. É comum que apresentem um quadro de:
• Confusão mental;
• Declínio funcional: dificuldade de realizar as atividades do dia-a-dia, devido à queda
do estado geral, fraqueza, cansaço, perda de apetite ou sonolência excessiva.

Sempre que houver esses sintomas, o médico deverá ser consultado. O profissional pode
encontrar ao exame, o aumento da frequência cardíaca e respiratória e sons típicos de
pneumonia (conhecidos como roncos e estertores) através da escuta dos pulmões.
O diagnóstico de pneumonia é feito pela auscultação dos pulmões e radiografia ao tórax. O
seu tratamento requer geralmente o uso de antibióticos, o internamento hospitalar por
pneumonia pode ser necessário quando a pessoa é idosa, tem febre alta ou apresenta
alterações clínicas decorrentes da própria pneumonia, tais como comprometimento da
função dos rins e da pressão arterial, dificuldade respiratória caracterizada pela baixa
oxigenação do sangue.
A principal prevenção é a vacinação contra a gripe e contra pneumonia, comprovadamente
eficazes em diminuir casos de pneumonia e reduzir o número de casos graves. Todas as
pessoas idosas devem receber a vacina contra pneumonia a cada 5 anos.

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Para prevenção de pneumonias aspirativas, é importante uma boa higiene oral, com
escovagem dos dentes após as refeições, uso de antissépticos e o tratamento dentário das
cáries. A alimentação, principalmente em idosos acamados, deve ser em posição adequada
com o tronco ereto, para evitar o desvio do alimento para as vias aéreas. Nos casos mais
graves deve-se elevar a cabeceira da cama, mesmo durante o sono.

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3. Métodos e técnicas aplicadas ao doente em estado


terminal

3.1 Abordagem compreensiva e multidimensional


3.2 Critérios de inclusão
3.3 Degradação funcional – métodos de avaliação e prevenção

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3.1 Abordagem compreensiva e multidimensional

O conhecimento prévio e uniformizado das necessidades das pessoas idosas, permite aos
sistemas de apoio oferecer melhores respostas. Daí a pertinência dos sistemas de avaliação
compreensivos e multidimensionais das necessidades de pessoas idosas. Neste contexto, a
literatura recomenda o uso de avaliações simples, individuais, compreensivas e
multidimensionais que facilitem respostas individualizadas e a adequação dos sistemas de
saúde e ação social.
Para operacionalizar a avaliação multidimensional é necessário recorrer a metodologias,
estratégias e instrumentos de natureza diversa, numa perspetiva multi e interdisciplinar,
que apenas o trabalho em equipa pode descodificar, de forma a encontrar a melhor
resposta para cada caso. Através da avaliação, ocorre a análise do estado de saúde do
idoso, assim como dos problemas sociais, económicos, familiares, que influenciem o seu
comportamento e condicionem a sua independência e, consequentemente, a sua qualidade
de vida.
Depois de realizada a avaliação e identificação das necessidades e potenciais do idoso,
procede-se à elaboração do Plano Individual (PI). O PI é um instrumento formal que visa
organizar, operacionalizar e integrar todas as respostas às necessidades e aos potenciais de
desenvolvimento identificados pelos diferentes profissionais em conjunto com o idoso. A
elaboração e gestão do PI têm em consideração as especificidades biopsicossociais do
indivíduo, ou seja a sua dimensão holística.
A personalização do PI pretende respeitar os objetivos, valores e interesses, bem como as
idiossincrasias da pessoa idosa. A sua elaboração pode começar por ser discutida em
reunião de equipa técnica, no entanto só deve ser efetivada em conjunto com o idoso e/ou
significativos, sendo este(s) o(s) principal(is) agente(s) decisor(es)
Este plano individual de cuidados é essencial pois permite a partilha de informação de
âmbito clínico e psicossocial entre os profissionais, a fim de promover a continuidade dos
cuidados.
Assim, a avaliação e a intervenção geriátrica asseguram a integralidade e a
multidisciplinaridade na atenção ao idoso, promovendo o seu bem-estar e qualidade de
vida, não se restringindo à detecção e tratamento clínico mas à otimização do
funcionamento global.

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As pessoas idosas apresentam múltiplas necessidades, mas raramente os profissionais


(médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, gerontólogos) as
conseguem detectar. Simultaneamente, apresentam maior prevalência dos problemas de
saúde, que necessitam de análise específica para a sua detecção. Por exemplo, a
depressão é comum no idoso, contudo é frequentemente sub-diagnosticada. Neste sentido,
é essencial que se realize uma avaliação sistemática individual, em vez de enquadrar as
necessidades dos idosos de acordo com um plano pré-estabelecido com base na idade. Ou
seja, a necessidade de cuidados não pode ser definida apenas com base na idade
cronológica, deve ter em conta o estado geral do idoso, o seu bem-estar, o contexto em
que vive. O que implica entendê-los com a sua história de vida, com as suas vivências,
hábitos e rotinas, e expectativas perante a vida. Estudos verificaram que os profissionais
não conhecem efectivamente as necessidades de cerca de 66% das pessoas idosas que
acompanham.
Foi desenvolvido um estudo para determinar os benefícios da avaliação em pessoas idosas
com vulnerabilidade e susceptíveis. Os resultados sugerem que os idosos que foram
submetidos a avaliação apresentam diminuição na deterioração da condição física e menor
contacto com cuidados domiciliários e serviços de emergência. Os autores destacam que os
custos associados a este tipo de avaliação são menores do que os resultantes da sua
ausência. De facto, o conhecimento prévio e uniformizado das necessidades das pessoas
idosas, permite aos sistemas de apoio oferecer melhores respostas. Daí a pertinência dos
sistemas de avaliação compreensivos e multidimensionais das necessidades de pessoas
idosas.

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3.2 Critérios de inclusão

Entende-se por Paliação o alívio do sofrimento do doente. Por ação Paliativa, qualquer
medida terapêutica, sem intuito curativo, que visa minorar, em internamento ou no
domicílio, as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar global do doente. As
ações paliativas são parte integrante da prática profissional, qualquer que seja a doença ou
a fase da sua evolução. Por futilidade diagnostica e terapêutica, entende-se os
procedimentos diagnósticos e terapêuticos que são desadequados e inúteis, face à situação
evolutiva e irreversível da doença, e que podem causar sofrimento acrescido ao doente e à
família. Em linha com a OMS, podem definir-se os Cuidados Paliativos como uma
abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes – e suas famílias – que
enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico
limitado, através da prevenção e alívio do sofrimento, da preparação e gestão do fim de
vida e do apoio no luto, com recurso à identificação precoce e tratamento rigoroso dos
problemas não só físicos mas também psicossociais e espirituais. Os Cuidados Paliativos
são cuidados intensivos de conforto. São prestados de forma multidimensional e
sistemática por uma equipa multidisciplinar, cuja prática e método de tomada de decisões
são baseados na ética clínica.

Princípios da prática dos cuidados paliativos


• Afirmam a vida e encaram a morte como um processo natural;
• Encaram a doença como causa de sofrimento a minorar;
• Consideram que o doente vale por quem é e que vale até ao fim;
• Reconhecem e aceitam em cada doente os seus próprios valores e prioridades;
• Consideram que o sofrimento e o medo perante a morte são realidades humanas
que podem ser clínica e humanamente apoiadas;
• Consideram que a fase final da vida pode encerrar momentos de reconciliação e de
crescimento pessoal;
• Assentam na concepção central de que não se pode dispor da vida do ser humano,
pelo que não antecipam nem atrasam a morte, repudiando a eutanásia, o suicídio
assistido e a futilidade diagnóstica e terapêutica;
• Abordam de forma integrada o sofrimento físico, psicológico, social e espiritual;

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• São baseados no acompanhamento, na humanidade, na compaixão, na


disponibilidade e no rigor científico;
• Centram-se na procura do bem-estar do doente, ajudando-o a viver tão
intensamente quanto possível até ao fim;
• Só são prestados quando o doente e a família os aceitam;
• Respeitam o direito do doente escolher o local onde deseja viver e ser
acompanhado no final da vida;
• São baseados na diferenciação e na interdisciplinaridade.

Os doentes terminais, habitualmente, têm múltiplos sintomas, por vezes intensos e


debilitantes pelo que se torna fundamental a avaliação das suas características e
frequência, de forma a serem instituídas intervenções adequadas que visem o seu controlo.
O carácter múltiplo dos sintomas destes doentes requer a sua avaliação inicial sistemática e
a monitorização da sua evolução, incluindo a intensidade, o impacto nas atividades da vida
quotidiana, o impacto emocional e a probabilidade de controlo dos diferentes sintomas.
A progressão da doença terminal envolve, normalmente, múltiplos sintomas não só físicos,
mas também psicológicos, espirituais e sociais e que advêm não só da progressão da
doença primária mas também do seu tratamento e das comorbilidades. O controlo destes
sintomas é fundamental para a qualidade de vida dos doentes. Nas diversas definições de
cuidados paliativos é evidente a preocupação com a prevenção e controlo dos sintomas,
através da identificação, avaliação e tratamento dos mesmos.

Princípios gerais do controlo sintomático:


• Avaliar antes de tratar: determinar a causa ou causas dos sintomas;
• Explicar as causas dos sintomas e as medidas terapêuticas de forma clara e
acessível ao doente e à família;
• Não esperar que o doente se queixe mas perguntar e observar de forma a
antecipar, tanto quanto possível, o aparecimento dos sintomas;
• Adotar uma estratégia terapêutica mista, com recurso a medidas farmacológicas e
não farmacológicas.
• Estabelecer prazos para o cumprimento dos objetivos terapêuticos e adotar
estratégias de prevenção de sintoma que possam surgir, como deixar medicação de
resgate prescrita.

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• Monitorizar os sintomas: utilizando instrumentos de medida estandardizados e


recorrendo a métodos de registo adequados;
• Reavaliar regularmente as medidas terapêuticas;
• Dar atenção ao detalhe: de forma a otimizar o controlo dos sintomas e a minimizar
os efeitos secundários adversos das medidas terapêuticas instituídas.

Os Cuidados Paliativos, tal como são definidos, destinam-se essencialmente a doentes (e


família) que, cumulativamente:
• Têm prognóstico de vida limitado;
• Têm intenso sofrimento;
• Têm problemas e necessidades de difícil resolução que exigem apoio específico,
organizado e interdisciplinar.

Os Cuidados Paliativos não são determinados pelo diagnóstico mas pela situação e
necessidades do doente. No entanto, as doenças que mais frequentemente necessitam de
cuidados paliativos organizados são as oncológicas, a SIDA, algumas doenças
cardiovasculares e algumas doenças neurológicas e outras insuficiências terminais de
órgãos, rapidamente progressivas. As características próprias destas doenças tornam mais
frequente a existência de sintomas e de necessidades que, pela sua intensidade,
mutabilidade, complexidade e impactos individual e familiar, são de muito difícil resolução,
quer nos serviços hospitalares em geral, quer na Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados, se não houver intervenção especializada. Os Cuidados Paliativos dirigem-se não
só ao doente mas também à sua família e aos mais próximos. Estes devem ser apoiados
através de cuidados planeados e estruturados, durante a vida do doente e também na fase
de luto. Os cuidadores devem também ser ativamente envolvidos nos planos de apoio e de
tratamento, integrando-se numa perspectiva de equipa mais alargada. O papel dos
cuidadores ativos na fase final da vida de um doente deve ser reconhecido como uma
contribuição individual e social essencial, em muito semelhante à que os pais prestam após
o nascimento. Neste sentido, devem ser promovidos os mecanismos de apoio legal e social
que facilitam o seu esforço e disponibilidade efetiva
No processo inicial de desenvolvimento do Plano Nacional de Cuidados Paliativos serão
definidos os critérios e características que irão direcionar a admissão de utentes nas
diferentes tipologias de unidades e equipas de Cuidados Paliativos, assim como os
mecanismos de articulação e registo que deverão permitir a sua adequada referenciação e

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transferência entre as diferentes tipologias de serviços e níveis de diferenciação definidos,


elemento essencial na qualidade do processo de atendimento.
Entre os critérios de internacionalmente aceites, os mais pertinentes assumem-se como
critérios de referenciação para Equipas/ Unidades de Cuidados Paliativos:
• Idade jovem;
• Antecedentes de doença psiquiátrica, pluripatologia ou concomitância de doenças
crónicas;
• Evolução rápida ou com crises frequentes;
• Necessidade de utilização frequente de recursos;
• Sintomas (dor ou outros) múltiplos, intensos, específicos (hemorragias, dispneia,
alterações comportamentais, etc.) ou refractários ao tratamento convencional;
• Indicação de intervenções complexas de Cuidados Paliativos. Grande impacto
emocional com dificuldades de equilíbrio emocional do doente ou família;
• Dificuldades de suporte familiar ou do cuidador principal.

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3.3 Degradação funcional – métodos de avaliação e prevenção

A avaliação de sintomas deve ser realizada de forma sistemática na admissão e nas


evoluções diárias, tendo em consideração as discrepâncias encontradas entre o que o
doente refere e o que os profissionais e até a própria família referem como sintomas e
intensidade dos mesmos. Ao longo dos anos foram desenvolvidos diversos instrumentos
para a avaliação, entre os quais alguns específicos para determinados sintomas.
Apesar destes instrumentos, em qualquer avaliação a principal ferramenta envolve
múltiplas conversas com o doente e os familiares em que o profissional deverá conhecer os
antecedentes do doente antes de se concentrar na avaliação dos sintomas, de forma a
poder responder às questões colocadas e conseguir lidar com as emoções demonstradas
pelo doente e a sua família, e em que se deve ter em consideração:

• A posição do doente e do profissional, visto que se o doente estiver virado de forma


a não ver o profissional, por exemplo, ou se o profissional se mantiver em pé,
distante, virado para a porta não vai ser possível estabelecer uma conversa
produtiva entre os dois;
• O tempo disponível para a conversa, pois o doente poderá ter dificuldade em
comunicar ou até querer esclarecer alguns aspetos acerca dos sintomas o que exige
tempo;
• A presença de familiares, que podem ajudar na avaliação dos sintomas quando
estão presentes diariamente e conhecem a situação clínica. Esta presença deverá
ser desejada pelo doente e não deverá perturbar a conversa;
• O desejo do doente em comunicar, pois o doente deverá querer participar na
conversa que pode decorrer noutra altura se assim o desejar.

Encontram-se diversas escalas para avaliar a intensidade de sintomas. Destacamos a Escala


Visual Analógica, a Escala Numérica e a Escala Verbal pois são simples de serem utilizadas
em todos os sintomas do doente no dia-a-dia e permitem a sua avaliação e monitorização.
A Escala Visual Analógica (figura 1) é considerada sensível, simples, reproduzível e
universal, e é representada por um segmento de reta com 10 cm, onde um dos extremos é
identificado como “ausência do sintoma” e o outro como “a maior intensidade imaginável”,

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ou expressões equivalentes, o doente marca no segmento o ponto que corresponde à


intensidade do seu sintoma e a intensidade corresponde à distância em milímetros desde
da extremidade identificada como “ausência de dor” e o ponto marcado.

Na Escala Numérica (figura 2) já estão presentes os números, que podem ser de 0 a 10


como o exemplo representado na figura 3 ou de 0 a 4 por exemplo, e o doente escolhe
entre estes a intensidade da sua dor.

Nas Escalas Verbais (figura 3) a intensidade é representada em palavras, como por


exemplo: ausente, ligeira, moderada, intensa e a maior intensidade imaginável.

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O tratamento de qualquer sintoma deve-se iniciar pela explicação das razões que justificam
os sintomas, de forma a reduzir o seu impacto psicológico e, sempre que possível, deve-se
incluir o doente no processo de decisão terapêutica, fazendo com que este se sinta
respeitado, aumentando a sua autoestima
A monitorização dos sintomas permite sistematizar o seguimento, clarificar os objetivos e
validar os resultados das terapêuticas instituídas, de modo a promover a reavaliação
contínua das intervenções utilizadas.
Esta reavaliação constante permite não só avaliar a eficácia terapêutica mas também
identificar a progressão da doença, desenvolvimento da tolerância aos fármacos e o
aparecimento de efeitos adversos dos mesmos.
Para minimizar a dor, que é o sintoma mais referido, poderão ser apresentadas ao doente
estratégias farmacológicas e não farmacológicas, sendo que a importância de cada uma
delas deverá ser adequada às necessidades de cada doente.

Abordagem farmacológica

Nas abordagem farmacológica, privilegia-se a medicação oral (preferencialmente opióides


adjuvados por antidepressivos e/ou anticonvulsivantes ou outros analgésicos, associados
ou não a tratamentos oncológicos específicos), de forma a permitir a autonomia do doente
e possibilitando uma resposta favorável. Sempre que a resposta a esta medicação seja
insatisfatória, ponderam-se hipóteses de administração de fármacos por via subcutânea,
endovenosa, epidural, ou mesmo a realização de bloqueios nervosos, periféricos ou
centrais.

Abordagem não farmacológica

Já na abordagem não farmacológica podem entrar em ação psicólogos, fisiatras,


assistentes sociais, nutricionistas, entre outros profissionais que promovem abordagens
complementares que atuem ao nível físico e psicológico. Acupunctura, termoterapia,
drenagem linfática, relaxamento ou meditação são apenas algumas das técnicas utilizadas
em muitos doentes.

O controlo da dor aguda ou crónica é uma das maiores preocupações, pois debilita a
pessoa até esta já não conseguir executar as suas tarefas diárias. Muitas vezes, o doente

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pode estar a sofrer desnecessariamente, o que pode ter um efeito negativo na sua luta
pela vida. Ter qualidade de vida até ao final de uma doença terminal é fulcral, por isso, é
necessário averiguar e experimentar quais os medicamentos e/ou tratamentos que possam
controlar essa dor.
Mantenha um historial sobre todos os medicamentos que o doente toma e possíveis
reações, assim como uma análise sobre quais os tratamentos mais efetivos ou não, para
poder informar o médico. O mesmo aplica-se às consultas – manter um registo sobre os
motivos das consultas, a opinião do médico e os medicamentos ou tratamentos receitados.

Existem vários sintomas igualmente preocupantes que devem ser minimizados, para que o
doente possa viver o mais confortavelmente possível:

• Fraqueza – para o doente poder recuperar energias é necessário aumentar a


ingestão diária de calorias e proteínas; derreta margarina em comidas como
torradas, sopas, vegetais, massas, arroz ou ovos cozidos; opte por maionese em
vez de molhos para saladas; sirva manteiga de amendoim e adicione natas ao
chocolate quente, à fruta ou outras sobremesas; junte sementes ou nozes aos
vegetais, saladas, massas ou sobremesas; faça batidos com uma dose extra de
gelado; cozinhe com leite em vez de água; acrescente carne ou peixe às sopas e
gratinados; utilize queijo gratinado em pratos de massa, vegetais ou gratinados;
sirva fruta com todo o tipo de queijo.

• Perda de apetite – sirva as refeições do doente quando ele tiver fome, mesmo que
não seja dentro do horário “normal”; um pouco de exercício (como um pequeno
passeio a pé) estimula o apetite; varie as refeições e sirva-as de forma apelativa;
utilize temperos como sumo de limão, menta, coentros e outras especiarias para
conferir aos alimentos sabores e cheiros estimulantes; as suas atenções e reparos
devem limitar-se àquilo que o doente conseguiu comer e não no que deixou no
prato.

• Náuseas e vómitos – o doente deve ingerir líquidos uma hora antes ou depois da
refeição para não se sentir muito cheio; comer alimentos ricos em hidratos de
carbono (como tostas ou torradas), especialmente logo de manhã; deve comer
sempre devagar, mastigando bem a comida; descansar após as refeições para

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facilitar a digestão; se o próprio cheiro da confecção dos alimentos incomodar o


doente, mantenha-o fora da cozinha ou opte por servir refeições frias compostas
por produtos lacticínios, sandes, saladas, sobremesas ou fruta.

• Diarreia – o doente deve comer várias refeições ao longo do dia, em vez das
habituais três principais; evitar alimentos gordos e fritos; eliminar temporariamente
da sua dieta os produtos lacticínios se forem estes a causa da diarreia; beber
muitos líquidos para repor rapidamente aqueles que perdeu.

• Prisão de ventre – o doente deve seguir uma dieta rica em fibras (cereais, arroz e
massas integrais, fruta e vegetais frescos), beber muitos líquidos e fazer algum tipo
de exercício regular; se o doente tiver dificuldades em engolir, deve cozer ou passar
a fruta e os vegetais.

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4.Cuidados em fase terminal

4.1 A higiene
4.2 O conforto
4.3 O apoio
4.4 Atuação após a morte

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4.1 A higiene

O doente pode e deve preocupar-se com a sua aparência – a perda de cabelo, peso, as
olheiras e a mudança de cor da sua pele são alterações físicas significativas e, por vezes,
chocantes. O cuidador pode ajudar o doente a sentir-se melhor com a compra de alguns
chapéus divertidos ou lenços bonitos para cobrir a cabeça.
Os cuidados às mucosas, como a humidificação e limpeza da boca, nariz e olhos, são
fundamentais. Se o doente mantém a capacidade de deglutição, devem oferecer-se líquidos
frios, sumos de fruta, gelados, gelatinas, pedaços de ananás de acordo com o gosto
pessoal.
Se a deglutição não está presente, pequenas porções água semilíquida, gelo, uma gaze
húmida ou, em alternativa, o uso de um humidificador ou de um nebulizador, poderão ser
uma opção viável. Pode recorrer-se à aplicação de lágrimas artificiais para minimizar o
desconforto ocular. Estes cuidados deverão ter lugar idealmente a cada 2 horas
No caso de incontinência podem usar-se fraldas, com o inconveniente da necessidade de
substituição frequente. Em situações especiais, as sondas urinárias ou rectais são uma
opção.

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4.2 O conforto

O objetivo de qualquer intervenção na agonia é o conforto do doente, o que implica um


bem-estar integral. Deste modo, é essencial um adequado suporte psicossocial, espiritual e
religioso. Uma vez que muitas das alterações podem causar ansiedade nos familiares e,
consequentemente, aos próprios doentes, é fundamental explicar que, parte delas não
causam necessariamente sofrimento.
O mais importante será assegurar os desejos e o conforto do doente. É fundamental que
seja garantido, quando necessário, um suporte médico, de enfermagem ou familiar
adequado e eficaz.
O conforto pode ser definido como uma experiência imediata e holística, consolidada pela
satisfação das necessidades básicas relativamente aos estados de alívio, tranquilidade e
transcendência.
O alívio é o estado em que uma necessidade específica foi satisfeita; a tranquilidade
corresponde a um estado de calma ou satisfação e a transcendência diz respeito ao estado
no qual a pessoa sente que tem potencial para superar os seus problemas ou o seu
sofrimento. Este é o grande desafio para as práticas profissionais que devem atender à
integridade de cada pessoa e conseguir ultrapassar uma dinâmica, geralmente complexa,
tensa, desgastante e traumatizante, que corrobora para que as relações entre as pessoas
nem sempre sejam pautadas pelo respeito e pela compreensão. Dessa forma, tornam-se
possíveis práticas que contemplem as necessidades e minimizem o sofrimento de pessoas
que, num determinado momento de suas vidas, necessitam de um atendimento complexo
e especializado em saúde.
As pessoas que enfrentam uma doença terminal sentem uma dor e uma solidão enorme,
muitas vezes associada à depressão e a um sentimento de “vazio”. Para além de serem
cuidadas, estas pessoas precisam de ser acarinhadas, principalmente porque estão a viver
um período na sua vida marcado por emoções negativas como a tristeza, a ansiedade, a
revolta e o medo. Enquanto cuidador, deve ajudar a pessoa a aceitar a doença que tem e
não fingir que está tudo bem. Deve apoiar a vontade que o doente tem em viver da forma
mais normal possível, sem permitir comportamentos que possam ser prejudiciais para a sua
atual condição.

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O medo do abandono, do desconhecido, de deixar aqueles que mais amam e até o medo
da vida para além da morte são emoções reais que devem ser identificadas, reconhecidas e
expressas. Pode não saber o que dizer, mas talvez, nesta altura, o que o doente terminal
mais precise é alguém que esteja ao seu lado e que o ouça. Disponibilize-se para ouvir
e/ou falar sempre que ele quiser, sem forçar essas conversas. Às vezes, nem é preciso
falar, basta um forte abraço ou estarem de mãos dadas enquanto partilham uma outra
atividade, como ver um filme ou dar um passeio. O conforto físico é muito importante e,
alguns estudos mostram que as expectativas e os pensamentos positivas podem trazer
grandes benefícios físicos para um doente terminal.
Os doentes em fase terminal levantam muitas questões espirituais ao fazerem um balanço
da sua existência. Questionam-se sobre as mais variadas coisas: Porque estou aqui?
Porque é que isto me aconteceu? Que significado teve a minha vida? A minha existência
contribuiu para alguma coisa? Vivi uma boa vida? Consegui concretizar todos os meus
objectivos? O que me vai acontecer depois da morte?
Ao colocarem estas questões, as pessoas com doenças terminais não procuram respostas
concretas, querem apenas desabafar e expressar os seus pensamentos, numa tentativa de
procurar as suas próprias respostas. Dê ao doente terminal a oportunidade de falar sobre a
sua vida, de refletir sobre as suas realizações pessoais e de partilhar consigo os seus
arrependimentos e remorsos. Nestes momentos, é muito importante que seja um bom
ouvinte.
O doente terminal precisa de saber e de ouvir que a sua vida foi e continua a ser relevante
e notável para todos aqueles com quem lidou e lida. Enquanto seu cuidador, diga e mostre-
lhe o quanto ele significa para si pessoalmente.
As pessoas em fase terminal preocupam-se ainda com outras questões: quem vai cuidar da
minha família quando eu morrer? Quem vai dar continuidade ao meu trabalho? O que vai
acontecer aos meus bens pessoais? Ao procurarem algum sinal da continuidade da sua
existência para além da morte física, o conforto e a segurança que isso acontecerá pode
acontecer através da entrega dos seus pertences aos familiares e amigos; o ter a certeza
que o trabalho da sua vida vai ser continuado por outros; ou simplesmente ver as suas
qualidades, talentos ou até parecenças físicas patentes nos seus filhos.
Responder a questões espirituais não é fácil. Se o doente encontrar as respostas que
procura na sua fé ou religião, deve respeitá-las; para aqueles que se debatem com dúvidas
e incertezas, pode ajudar se o cuidador revelar as suas próprias questões e preocupações,
mostrando assim que as inquietações e receios do doente são perfeitamente normais.

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Um padre ou outros conselheiros profissionais também podem apoiar e confortar o doente


que enfrenta problemas espirituais no final da sua vida, desde que esse se sinta bem com a
situação. Em casos extremos, onde o doente está já muito deprimido, é aconselhável
recorrer a um médico especializado.

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4.3 O apoio

O doente tem necessidades especiais e particulares. Pode estar calmo, orientado e capaz
de participar nas decisões e no planeamento dos cuidados, ou, pelo contrário, pode estar
com dores, ter medo e ser incapaz de comunicar pelas vias normais. Em qualquer dos
casos, têm necessidades sociais, espirituais e religiosas. Isto assume particular importância
nesta fase da vida, sobretudo quando a morte é entendida como mais um momento de
passagem. As emoções sucedem-se, acrescentando à realidade descrita sentimentos de
perda, medo, ansiedade e incerteza, à medida que todo o processo evolui – o que leva a
que a situação do doente em fase terminal seja única e singular. Por esse motivo, requer
também cuidados correspondentes no sentido de ir ao encontro das necessidades do
doente.
As necessidades do doente em fase terminal são tão específicas quanto singular é cada
pessoa. O doente terminal é um doente com necessidades multifatoriais, o que implica um
trabalho em equipa e uma atenção continuada e individualizada.
Algumas atitudes e cuidados são importantes nas pessoas que acompanham o idoso em
fase terminal:

1. Aceitar a morte como parte da experiência vital: nascemos, vivemos e morremos.


2. Ver o paciente terminal como vivo e não como morto. Parecer haver um
pensamento generalizado de que aquele que tem uma doença incurável está
acabado.
3. Ter maturidade frente à morte e o morrer para que o idoso possa falar sobre o
que lhe aflige; saber ouvir; Acompanhar uma pessoa que esta morrendo é uma
oportunidade de aumentar nossa capacidade de amar e vencer o medo. Ter medo
da morte é ter medo de viver. A vida é um processo e não uma meta.
4. A tranquilidade do acompanhante é condição indispensável.
5. “Estar junto”, é um transmissor de afeto. Quem ama passa segurança a sensação
de estar acompanhada e não abandonada. Tocar, segurar na mão, fazer um afago,
ajuda a sentir-se seguro.
6. Respeitar a vontade da pessoa, tanto para morrer, como para depois da morte.

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7. A família e peça chave, por isso e preciso prepará-la para enfrentar as diversas
fases do processo de morrer.

Um doente terminal pode sentir-se preocupado em ser abandonado por aqueles que o
rodeiam ou assustado ao pensar na possibilidade de ser separado do seu quotidiano.
Quando se fala em manter a vida de um doente terminal o mais “normal” possível, isto
significa que se deve integrar as suas necessidades pessoais na rotina diária de uma forma
natural. O doente pode requerer cuidados específicos ao longo do dia e da noite mas, se a
pessoa está habituada a cozinhar e a fazer as suas próprias compras, por exemplo, deve
permitir que continue a fazê-lo (enquanto tiver capacidades).
O cuidador tem de ser a pessoa com o qual o doente deve poder sempre contar, ou seja,
deve estar ao seu lado para o ouvir e apoiá-lo naquilo que for preciso. Não deve, porém,
tentar assumir o controlo total da sua vida e das suas coisas, o doente sentir-se-ia
desacreditado ou rebaixado. É essencial deixar o doente tomar o máximo de decisões
possíveis, assim ele sentir-se-á em controlo de pelo menos uma parte da sua vida.
Se o doente assim o desejar, ajude-o a resolver assuntos pendentes. Pode querer preparar
ou alterar o seu testamento, ou deixar indicações para o seu funeral. Pode ainda ser da sua
vontade organizar as suas finanças ou entregar, a familiares ou amigos, alguns dos seus
bens pessoais. Fazer as pazes com alguém ou esclarecer um mal entendido do passado,
serão outras questões que essa pessoa poderá ter necessidade de resolver.
É fundamental que ajude o doente terminal a concretizar os seus desejos finais, mesmo
que seja um assunto simples como visitar um velho amigo, realizar uma viagem a um local
especial ou fazer uma coisa que sempre quis, mas nunca teve a oportunidade.
Acima de tudo, e porque estão preocupados com o papel que agora desempenham na
família, no trabalho e na comunidade, um doente terminal quer manter vivas as relações
que tem com as pessoas mais chegadas e especiais da sua vida. Desfrutar do tempo que
resta, na companhia daqueles que lhe são mais queridos, é tudo aquilo que uma pessoa
com uma doença terminal mais precisa. Sentir que ainda está cá e que quem o rodeia
também continua presente, é o conforto necessário para quem se aproxima do final da sua
vida.
Quem enfrenta uma doença terminal, retira especial prazer dos “pequenos nadas” que
preenchem o nosso quotidiano, como saborear a sua refeição preferida, ouvir a música que
mais aprecia, ter o filho ou o neto ao colo, ver um filme que sempre gostou, apreciar a
natureza ou estar numa festa de família.

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4.4 Atuação após a morte

4.4.1 Corpo

Princípios gerais:
• Os cuidados após a morte devem ser realizados com respeito pelo corpo;
• É importante tornar o ambiente à volta do falecido o mais estético possível para a
família;
• Devem ser retirados quaisquer tubos como sondas, cateteres venosos, entre outros;
• O corpo deve ser colocado numa cama limpa, em posição natural;
• Devem ser tapados com compressas ou algodão os orifícios naturais do corpo para
prevenir a saída de fluidos;
• A melhor posição é o decúbito dorsal, com os braços ao longo do corpo ou cruzados
sobre ele. As pernas devem estar unidas paralelamente;
• Os olhos devem ser fechados e a dentadura colocada se ainda não houver rigidez
do maxilar;
• O maxilar inferior deve ser também fixado de uma forma natural com uma ligadura
abaixo do queixo. Este posicionamento deve ser efetuado antes de se instalar o
rigor mortis ou o endurecimento do cadáver (surge primeiro nos músculos do
maxilar e progride de uma forma descendente até ás pernas).
• Outro processo que ocorre após a morte é o livor mortis, que é o aparecimento de
manchas arroxeadas em determinadas zonas do corpo entre 20 a 30 minutos após
a morte, o posicionamento imediato do cadáver em decúbito dorsal, com uma
almofada debaixo da cabeça previne o livor mortis na face e dá uma aparência de
conforto aos membros da família.

4.4.2 Família

No cuidado ao doente em fim de vida é importante perceber, numa fase inicial, que
informações foram transmitidas ao doente e família, para que depois seja possível planear
a forma como serão comunicadas novas informações. À medida que o estado do doente se

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vai deteriorando vão sendo mais frequentes as questões colocadas por familiares e pessoas
significativas.
Quando o doente está em agonia, os familiares devem estar informados da situação da
morte iminente, bem como da forma como desejam ser informados, em caso de
agravamento ou quando o doente falecer (quem, em que intervalo de tempo). Havendo
essa hipótese, deve ser criada a possibilidade de pernoitar junto do doente, sempre que
possível.
Quando o familiar não se encontra presente no momento da morte, é importante informá-
lo de forma presencial. Ao usar o telefone é difícil perceber de que rede familiar ou de
amigos o receptor da mensagem pode dispor. Devem ser transmitidas todas as
informações relativas a normas da instituição referentes ao tratamento e encaminhamento
do corpo, bem sobre todas as questões legais, se possível escritas.
A comunicação de uma má notícia deve seguir guias de orientação, começando por
providenciar um local tranquilo e perceber que tipo de informação a pessoa dispõe e quer
saber, relativamente à situação de morte iminente do seu familiar. De seguida, o
profissional deve utilizar uma afirmação que permita que o familiar se aperceba que vai
receber uma má notícia. Nesta altura, pode comunicar-se o falecimento do doente,
evitando o recurso a eufemismos, ou seja, utilizando uma linguagem direta e o mais
objetiva possível.
Depois de responder a todas as questões colocadas pelo familiar, é importante concluir a
intervenção com um plano referente à forma como todas as diligências se vão processar.
Nesta altura deve ser disponibilizado apoio para o luto, fornecendo informações, se possível
escritas, sobre o modo como esse apoio vai decorrer.

4.4.3 Formalidades

Em caso de morte do idoso, a organização deve ter previsto mecanismos de atuação


imediatos, nomeadamente:

• Comunicação do óbito aos restantes idosos e colaboradores, conferindo especial


atenção àqueles mais próximos: esta comunicação deve ser efetuada de forma
clama e tranquila e num espaço reservado, de forma a minimizar o impacto da
informação;

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• Comunicação formal a outras instituições com as quais o idoso tivesse


relacionamento;
• Definição do processo de organização e entrega dos bens do idoso aos
significativos;
• Identificação do representante da organização que estará presente na cerimónia
fúnebre.

A estrutura residencial deverá ainda assegurar o apoio na gestão do luto aos familiares/
significativos que tenham tido uma estreita vinculação afetiva ao idoso que faleceu.
Na situação do falecimento ocorrer na estrutura residencial, os cuidados post-mortem são
assegurados pela organização em estreita colaboração com os significativos. Se não
existirem referências de pessoas próximas e/ou significativos, deve a entidade assegurar-se
do cumprimento das últimas vontades do idoso, caso tenham sido expressas e providenciar
os procedimentos inerentes ao ato fúnebre e zelar pela dignidade do ato.

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