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E s p a n h o l • F r a n c ê s • I n g l ê s • P o r t u g u ê s

A religião enfrenta o
fundamentalismo ateu
Consciência moral: lições
de Huss e Jerônimo
Ellen White
e as terappias
de saúde mental
Pode haver separação
entre fé e ciência?

1
Vo l u m e 2 1
REPRESENTANTES REGIONAIS
DIVISÃO CENTRO-LESTE AFRICANA
P.O. Private Bag 00503 Mbagathi,
Nairobi, QUÊNIA
CONTEÚDO
Hudson Kibuuka kibuukah@ecd.adventist.org
Mulumba Tschimanga bresilien54@yahoo.com ARTIGOS
DIVISÃO DA ÁFRICA MERIDIONAL-
OCEANO ÍNDICO 5 A religião enfrenta o fundamentalismo ateu
P.O. Box 4583, Rietvalleirand 0174 A fé no Deus criador não interfere no sério engajamento de uma pessoa
ÁFRICA DO SUL no empreendimento científico.
Ellah Kamwendo kamwendoe@yahoo.com
Eugene Fransch fransche@sid.adventist.org Roy Adams
DIVISÃO DA ÁFRICA OCIDENTAL
22 Boite Postale 1764, 9 Consciência moral: lições de Huss e Jerônimo
Abidjan 22, COSTA DO MARFIM Um exame dos conflitos experimentados por Huss e Jerônimo nos
Chiemela Ikonne 110525.1700@compuserve.com convida a entender melhor os nossos próprios conflitos, nosso mundo e
Emmanuel Nlo 104474.235@compuserve.com
os propósitos de Deus.
DIVISÃO DO PACÍFICO NORTE-ASIÁTICO
P.O. Box 43, Goyang IIsan, 411-600,
Duane Covrig
REPÚBLICA DA COREIA
Chek Yat Phoon cyphoon@nsdadventist.org
Joshua Shin joshuahin@nsdadventist.org
12 Ellen White e as terapias de saúde mental
Merlin D. Burt
DIVISÃO DO PACÍFICO SUL-ASIÁTICO
P.O. Box 040, 4118 Silang,
16 Pode haver separação entre fé e ciência?
Cavite, FILIPINAS Um leigo argumenta que a ciência tem suas raízes e florescimento no solo
Mike Lekic mlekic@ssd.org
Jobbie Yabut jyabut@ssd.org do pensamento cristão, e que há muita coisa em comum entre os dois.
Gary B. Swanson
DIVISÃO DO SUL DO PACÍFICO
Locked Bag 2014, Wahroonga,
N.S.W. 2076, AUSTRÁLIA
Barry Hill bhill@adventist.org.au
Gilbert Cangy grcangy@adventist.org.au
DIVISÃO EURO-AFRICANA SEÇÕES
Schosshaldenstrasse 17,
3006 Bern, SUÍÇA EDITORIAL LOGOS
Roberto Badenas roberto.badenas@euroafrica.org
Corrado Cozzi corrado.cozzi@euroafrica.org 3 Comunique-se com a mente 29 Nossa vida, nosso trabalho: que
pós-moderna espécie de influência exercemos?
DIVISÃO EURO-ASIÁTICA Lisa M. Beardsley Halvard B. Thomsen
Krasnoyarskaya Street 3,
107589 Moscou, FEDERAÇÃO RUSSA PERFIL EM AÇÃO
Branislav Mirilov bmirilov@ead-sda.ru
Peter Sirotkin psirotkin@ead-sda.ru 19 Francisco Badilla Briones 31 Estudantes adventistas
Ruben Sanchez-Sabaté se reúnem na Argentina
DIVISÃO INTERAMERICANA Rocío Mendoza e Iván Escobar
P.O. Box 830518, Miami, 22 Cynthia Prime
Heide Ford
FL 33283-0518, EUA FÓRUM ABERTO
Moisés Velázquez velazquezmo@interamerica.org
Bernardo Rodríguez bernardo@interamerica.org LIVROS 32 O que significa desenvolver a
salvação?
DIVISÃO NORTE-AMERICANA 24 Armageddon at the Door
Jon Paulien John M. Fowler
12501 Old Columbia Pike,
Silver Spring, MD 20904-6600, EUA Resenha de Ikechukwu Oluikpe SEÇÃO ESPECIAL
Larry Blackmer larry.blackmer@nad.adventist.org
James Black james.black@nad.adventist.org 25 The Life You’ve Always Wanted 33 Fé a aceitação
Ellen G. White
Martin Feldbush martin.feldbush@nad.adventist.org John Ortberg
DIVISÃO SUL-AMERICANA
Resenha de Adelina Alexe INSERÇÃO
A arte de
Caixa Postal 02-2600,
70279-970 Brasília, DF, BRASIL 25 Amerika: Mit Gewalt
Francisco Badilla Briones
Carlos Mesa carlos.mesa@dsa.org.br
in den Gottesstaat
Otimar Gonçalves otimar.goncalves@dsa.org.br (America: Theocracy by Force)
Gerhard Padderatz
DIVISÃO SUL-ASIÁTICA Resenha de Ekkehardt Mueller
Post Box 2, HCF Hosur,
635110 Tamil Nadu, ÍNDIA PRIMEIRA PESSOA
Nageshwara Rao gnageshwarrao@sud-adventist.org
Lionel Lyngdoh lyngdoh@sud-adventist.org 27 O meu ribeiro de Carite:
quando a vida seca
DIVISÃO TRANSEUROPEIA Sally Lam-Phoon
119 St. Peter’s Street, St. Albans,
Herts., AL1 3EY, INGLATERRA
Daniel Duda dduda@ted-adventist.org
Paul Tompkins ptompkins@ted-adventist.org

2 DIÁLOGO 21•1 2009


EDITORIAL
Comunique-se com Esta revista internacional de fé, pensamento
e ação é publicada três vezes por ano em
quatro edições paralelas (espanhol, francês,
inglês e português) sob o patrocínio da
a mente pós-moderna Comissão de Apoio a Universitários e
Profissionais Adventistas (Caupa), organismo
da Associação Geral dos Adventistas do
Sétimo Dia.
C. S. Lewis é talvez um dos mais bem-
Volume 21, Número 1
sucedidos apologistas cristãos de nosso
Copyright © 2009 pela Caupa.
tempo. Embora não seja um teólogo ou Todos os direitos reservados.
ministro, suas obras contêm profundos
Diálogo afirma as crenças fundamentais
argumentos em prol da veracidade das da Igreja Adventista do Sétimo Dia e apoia
reivindicações cristãs e do significado sua missão. Os pontos de vista publicados
da vida cristã. Todavia, ele abandonou a na revista, entretanto, representam o
pensamento independente dos autores.
abordagem apologética do argumento teo-
lógico, após perder um debate público com Equipe Editorial
Editora-chefe Lisa Beardsley
a filósofa Elizabeth Anscombe, numa reu-
Editor John M. Fowler
nião do Oxford’s Socratic Club. Não que Assistente Editorial Susana Schulz
tenha “perdido na argumentação”, mas ele Edições Internacionais Susana Schulz
viu os limites do debate e dos argumentos Secretários editoriais internacionais
Susana Schulz (Espanhol)
em comparação às grandes ideias da vida
Monique Lemay (Francês)
espiritual. Lewis reconheceu que o debate Henrianne Barbosa (Português)
é reducionista, que a disputa desperta os
Correspondência Editorial
“vigilantes dragões” da defensividade, e Diálogo
que o significado é sacrificado nas rixas entre afirmação e contra-argumento. 12501 Old Columbia Pike
Assim, o celebrado autor se voltou para a narrativa de histórias como um instrumento Silver Spring, MD 20904-6600; EUA.
que comporta grandes verdades espirituais. Percebeu que contar histórias é muito útil Telefone 301 680-5060
Fax 301 622-9627
para “roubar os vigilantes dragões do passado”, tais como o ceticismo, a defensividade E-mail schulzs@gc.adventist.org
despertada pelo debate e a familiaridade com as coisas religiosas que levam as pessoas a
Comissão (CAUPA)
não considerá-las de modo sério. Presidente Ella Simmons
A fim de despertar a imaginação de leitores para as realidades eternas, Lewis usou a Vice-Presidentes Gary R. Councell,
fantasia em As Crônicas de Nárnia. De modo semelhante, seu colega e amigo J. R. R. C. Garland Dulan, Baraka G. Muganda
Tolkien experimentou uma história mística em O Senhor dos Anéis. Reconhecendo os Secretária Lisa Beardsley
Membros Mario Ceballos, Lyndelle
limites dos argumentos lógicos como um dispositivo apologético para justificar a fé, eles Chiomenti, Gary Councell, John M.
fizeram um teste para ver se poderiam vencer os “vigilantes dragões” pelo uso de histórias. Fowler, Linda Koh, Kathleen Kuntaraf,
Lewis disse: “Eu escrevi contos de fadas porque pareciam a forma ideal para o que eu Dionne Parker, Roy Ryan
tinha a dizer.”1 O que Lewis chama de contos de fadas e histórias de crianças pertence Correspondência sobre circulação
ao gênero geral do romance e inclui formas literárias como mitos, fantasias, a busca por Deve ser dirigida ao Representante
aventura e um convite para o leitor exercitar sua imaginação. Regional da Caupa na região em que reside
o leitor. Os nomes e endereços destes
Lewis desempenhou um papel-chave na criação de Nárnia. Ele disse que todos os sete representantes encontram-se na p. 2.
livros de Nárnia “começaram como imagens em minha cabeça” e escreveu: “O Leão teve
Assinaturas US$13.00 por ano (três
início como uma imagem de um fauno carregando um guarda-chuva e pacotes por meio números, via aérea). Ver cupom na p. 6 para
de um bosque nevado. Essa imagem estava em minha mente desde que eu tinha 16 anos detalhes.
de idade. Então, um dia, quando estava com 40 anos, disse a mim mesmo: ‘Vamos tentar Website http://dialogue.adventist.org
escrever uma história sobre isso.’”2
DIÁLOGO tem recebido correspondência
Nossa cultura está inundada de imagens das mídias. Algumas delas contam uma his- de leitores de 118 países ao redor do
tória e outras obstruem ou poluem nossa mente e sociedade. Os filmes da Blockbuster, mundo.
MTV, a mídia digital e o iPod substituíram os livros e o debate como veículos para comu-
nicar e persuadir. As antenas parabólicas ou a loja de vídeos da esquina são a biblioteca

Continua na p. 4

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CARTAS
Apreciação Editorial
Saudações no nome de nosso Senhor Continuação da p. 3
e Salvador Jesus Cristo. Estou muito
feliz e grato à equipe da Diálogo pela
produção de alta qualidade, pelo con- que formam e expressam ideias modernas. Dificilmente podemos escapar à arremetida
teúdo dos artigos. de histórias, música e imagens enviadas aos celulares ou transmitidas por monitores em
Obrigado. Com os melhores cum- aviões a 9.000 m de altura.
primentos, A mente pós-moderna prontamente digere essas imagens e com poucos filtros. Ela acei-
Robinson R. Kujur ta a relatividade cultural e o poder da história e sua verdade pessoal, e rejeita a notação da
Ranchi – ÍNDIA verdade absoluta. Como resultado, a consagrada abordagem adventista para levar um des-
crente à conversão tem poder limitado de influência sobre a mente pós-moderna. Mas,
Agradável surpresa por meio de narrativas, a teologia adventista pode ser ocultada num Cavalo de Troia,
Escrevo de Villarrica, Paraguai. colocado atrás das linhas inimigas. Comentando sobre uma de suas histórias de ficção,
Estava navegando na Internet, e fui C. S. Lewis escreveu uma carta a um amigo: “Qualquer volume de Teologia pode agora
agradavelmente surpreendido ao ser ‘contrabandeado’ para a mente das pessoas sob a cobertura de um romance, sem que
encontrar o site da Diálogo. Gostei elas se deem conta disso.”3
muito. Vocês não podem imaginar o O próprio Jesus costumava contar histórias para comunicar verdades reais e de grande
quão benéfico são esses artigos para significado. Por exemplo, considere a história do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37).
outras pessoas! Que Deus abençoe a Mediante essa história simples, Jesus ensinou às gerações seguintes o que significa buscar
equipe da Diálogo. Mantenham o bom a vida eterna e amar a Deus e ao próximo. Jesus poderia ter usado grandes argumentos
trabalho. Estarei orando pela revista a
teológicos desde a Criação até a Encarnação, do êxodo à restauração, de Moisés aos profe-
partir deste instante.
tas, para provar que todos os seres humanos são iguais, que a vida eterna é dom de Deus
Alfredo J. Peralta
Villarica – PARAGUAI e que o amor não conhece fronteiras. Mas Cristo escolheu desarmar Seus desafiadores
contando uma história simples que ensinava essas grandes verdades, e capturava o coração
e a imaginação das pessoas ao longo da história.
Isso não significa colocarmos de lado a necessidade de conhecimento bíblico. Temos
que buscar a competência para interpretar corretamente as diferentes formas de literatura
bíblica – salmos poéticos, registros históricos, depoimentos de testemunhas oculares, ale-
gorias, exposição teológica etc. Para algumas pessoas, o método textual pode ainda fun-
cionar para persuadi-las acerca das verdades eternas. Quando esse método não dá certo,
você pode experimentar “roubar os vigilantes dragões do passado”4 por meio de narrativas.
Mas para contar uma história envolvente, você tem de conhecer muito bem a história.
No último editorial, desafiei os leitores a serem críticos culturais. Esse não foi um cha-
mado a se entregarem a uma monástica separação do mundo. Meu desafio, dessa vez, é
para corajosa e criativamente redimir a cultura e influenciá-la pelo bom uso das ferramen-
tas de comunicação e da mídia moderna.
Escreva-nos!
Recebemos seus comentários, reações e
perguntas, mas, por favor, limite suas cartas
a 200 palavras. Escreva para: — Lisa M. Beardsley, editora-chefe.
DIALOGUE LETTERS
1. C.S. Lewis. Essay Collection and Other Short Pieces. Lesley Walmsley. ed. London: Harper Collins,
12501 Old Columbia Pike 2000. p. 527.
Silver Spring MD 20904 EUA. 2. _______. Of Other Worlds: Essays and Stories. Nova York: Harvest Books, 2002. Para saber mais, veja:
<http://www.bestyears.com/thesis_3.html>.
FAX 301 622 9627 3. _______. Letters 167.
E-MAIL schulzs@gc.adventist.org 4. Nota do editor: O escritor C. S. Lewis, portanto, utiliza essa frase para se referir a sua técnica de inserir
imperceptivelmente a mensagem cristã em seus livros ficcionais, vencendo, dessa forma, preconceitos e
As cartas selecionadas para publicação autodefesas contra a religião.
podem ser editadas para maior clareza ou
por necessidade de espaço.

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A religião enfrenta o fundamentalismo ateu
Roy Adams
A fé no Deus criador não interfere no
sério engajamento de uma pessoa no
empreendimento científico.

Enquanto estava pregando em alguém estremecer um pouco. De que As pessoas inteligentes não se inte-
Alberta, Canadá, fiz uma referência de material quebradiço é a fé que tenho? Mas ressam por religião – e especialmente
passagem sobre o ateu britânico Richard então, como se ele próprio se apoiasse os cientistas! “Grandes cientistas que
Dawkins. Não esperava que o nome para um completo nocaute em menor professam religião”, diz Dawkins, “se
fosse registrado por alguém na plateia. grau, Dawkins joga uma irrisória adver- destacam por sua raridade e são obje-
Fiquei surpreso quando uma jovem tência na mistura: “É claro”, ele diz, “que to de uma perplexidade divertida por
mulher me abordou sobre minhas obser- fiéis radicais são imunes a qualquer argu- parte de seus pares da comunidade
vações no final da pregação. mentação, com a resistência erguida por acadêmica” .3 Dawkins diz que certa vez
“Há uma pessoa no escritório onde anos de doutrinação” (Dawkins, p. 23). perguntou a Jim Watson, “gênio funda-
trabalho, um amigo meu. Ele está lendo Aprofundando-se mais no tema no dor do projeto Genoma Humano”, “se
Dawkins e está muito impressionado. capítulo 2, este professor de ciências ele conhecia muitos cientistas religiosos
Você sabe de alguém que responda para de Oxford se transporta rapidamente a naquela época”. Watson respondeu:
ele – qualquer livro que eu possa reco- seu alvo principal: “O Deus do Antigo “Virtualmente, nenhum” (Dawkins,
mendar?” Testamento é talvez o personagem mais p. 112).
“Alister McGrath”, disse, enquanto desagradável da ficção [as palavras são Em resposta a essa reinvindicação, no
ela escrevia: “O nome de seu livro é O carregadas]: ciumento e com orgulho; entanto, McGrath destacou que naquele
Delírio de Dawkins.” O subtítulo do controlador mesquinho, injusto e intran- mesmo ano em que Deus, um Delírio foi
livro é: “Uma resposta ao fundamen- sigente; genocida étnico e vingativo, publicado (2006), “Owen Gingerich,
talismo ateísta de Richard Dawkins.”1 sedento de sangue; perseguidor misó- um notável astrônomo de Harvard,
McGrath, um ateu que se tornou cristão, gino, homofóbico, racista, infanticida, produziu um livro intitulado God’s
fez doutorado em biofísica molecular filicida, pestilento, megalomaníaco, Universe, declarando que ‘o universo foi
em Oxford. Ele apresenta, em seu livro, sadomasoquista, malévolo” (Dawkins, criado com intenção e finalidade e que
uma resposta magistral a Dawkins. p. 43). esta crença não interfere na iniciativa
Este artigo está centrado na resposta Tal como Dawkins vê, muitos dos científica.’ Francis Collins publicou seu
de McGrath a Dawkins, com minha problemas do mundo vêm por seguir- Language of God, no qual argumenta
própria posição crítica. A ideia inicial mos cegamente a esse ou a outros que a maravilha e a ordem da natureza
para este artigo surgiu quando ouvi caprichosos deuses – ficções da mente apontam para um Deus Criador, muito
McGrath dar uma poderosa resposta a humana. Semelhantemente ao famoso mais na linha da tradicional concepção
Dawkins durante uma conferência em Beatles John Lennon, ele ousa sonhar cristã. [...] E o cosmólogo Paul Davies
Cambridge, Inglaterra, em abril com “um mundo sem religião”. Seria publicou seu Goldilocks Enigma, discu-
de 2007. um lugar “sem ataques suicidas, sem o tindo a existência de ‘delicados ajustes’
Assim, do que trata Dawkins? 11/9, [...] sem as Cruzadas, sem caça às no universo” (McGrath, p. 33).
bruxas, [...] sem as guerras entre israelen- “A base do itinerário de Deus, Um
Vomitando veneno ses e palestinos, sem massacres sérvios/ Delírio”, diz McGrath, é que “o ateísmo
O título do livro de Dawkins, Deus, croatas/muçulmanos, sem a perseguição é a única opção para as pessoas sérias,
um Delírio,2 diz tudo – não necessita de a judeus como ‘assassinos de Cristo’, [...] avançadas e pensantes”.4 A experiência
subtítulo. Já no prefácio, ele coloca as sem evangélicos televisivos de terno bri- religiosa está “associada com a atividade
cartas na mesa: “Se este livro funcionar lhante e cabelo bufante tirando dinheiro patológica do cérebro” (McGrath, p.
do modo como espero”, diz ele, “os dos ingênuos” (Dawkins, p. 18, 19). 33, 66). O evangelho, diz Dawkins, é
leitores religiosos que o abrirem serão Convenientemente, Dawkins ignora os ficção, é como se apelar para a geração
ateus quando o terminarem” (Dawkins, massacres de incalculáveis milhões por vindoura. Dawkins oferece algo pareci-
p. 23). ateus tais como Adolf Hitler e do a uma garantia espiritual: “É possí-
A arrogante previsão pode fazer Joseph Stalin. vel ser um ateu feliz, equilibrado, ético,

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intelectualmente realizado” (Dawkins, capítulo pivô do livro), o primeiro ponto mentos aparentemente convincentes,
p. 18). de Dawkins talvez encerre o ponto cen- são feitos somente por aqueles que não
É um esforço consciente, calculado tral do livro: “Um dos grandes desafios sabem nada sobre o processo de seleção
da parte de Dawkins – uma “bata- para o intelecto humano, ao longo dos natural (Dawkins, p. 124).
lha épica contra a religião”. É como séculos, vem sendo como explicar de onde Citando Daniel Dennett, a quem ele
McGrath o define (McGrath, p. 51). vem a aparência complexa e improvável descreve como o “filósofo cientificamen-
Para ele, Dawkins vê a ciência e a reli- de design no universo.” 6 te esclarecido”, Dawkins argumenta que
gião como “travadas em uma batalha de Como Dawkins lida com esse desafio não tem como “uma coisa superinteli-
morte. Somente uma pode emergir vito- básico? Esse é o problema aqui. gente fazer uma coisa menor”. O leigo
riosa – e deve ser a ciência” (McGrath, Dois argumentos criacionistas o preo- tentaria fabricar um exemplo de design
p. 46). O objetivo de Dawkins, diz cupam neste contexto: (1) o argumento inteligente sugerindo que “você nunca
McGrath, é “a destruição intelectual e da improbabilidade; e (2) o argumento verá uma ferradura fazendo um ferreiro”
cultural da religião” (McGrath, p. 24). da irredutível complexidade. ou “um vaso fazendo um ceramista”.
Ele golpeia para matar; para acabar com 1. Improbabilidade. Em termos sim- Mas Dawkins diz confiante: “A desco-
o cristianismo de uma vez por todas. ples, o argumento da improbabilidade berta por Darwin, de um processo viável
sugere que a complexidade que vemos que faz uma coisa tão contrária à nossa
O tendão de Aquiles de Dawkins no interior e ao nosso redor exige que intuição, é o que torna sua contribuição ao
Deus, um Delírio não é um livro haja uma inteligência superior por trás pensamento humano tão revolucionária.”7
pequeno. Suas 420 páginas contêm de tudo. Ou, para parafrasear o modo Incrível!
uma multidão de reivindicações e acusa- como o próprio Dawkins descreve O que está sendo defendido aqui por
ções, tornando uma resposta detalhada (citando Fred Hoyle): A probabilidade Darwin, Dennett e Dawkins é que con-
impossível. Com isso em mente, quero de a vida ter surgido na Terra, por si só, trária à intuição, ferraduras fazem fer-
destacar aquilo que considero o tendão é equivalente à “chance de um furacão, reiros! Um pensamento extraordinário,
de Aquiles de Dawkins: toda a estrutura. ao passar por um ferro-velho e ter a sorte com certeza!
Em um resumo dos seis pontos do de construir um Boeing 747” (Dawkins, E como isso acontece? Não por acaso
capítulo “Por que quase com certeza p. 123). (Dawkins odeia esta palavra), mas por
Deus não existe”5 (penso que é o No entanto, diz Dawkins, tais argu- seleção natural (Dawkins, p. 131). “A
seleção natural”, diz Dawkins, “é o
maior guindaste de todos os tempos. Ela
elevou a vida da simplicidade primeva a
altitudes estonteantes de complexidade,
beleza e aparente desígnio que hoje nos
Assine Diálogo deslumbram” (Dawkins, p. 87).
O resultado final do seu argumento é
Você quer ser um pensador e não meramente um refletor do pensamento de outras pessoas? A
que, uma vez que a seleção natural é res-
DIÁLOGO continuará a desafiá-lo a pensar criticamente, como um cristão. Fique em contato com o
melhor da ação e do pensamento adventista ao redor do mundo. Entre na DIÁLOGO.
ponsável por tudo o que vemos ao nosso
redor, “Deus é um delírio”. Tal lógica
Assinatura anual (3 exemplares – via aérea): US$13.00 confunde a cabeça e exige que as pessoas
Números atrasados: US$4.00 cada. abandonem o senso comum.
Gostaria de assinar DIÁLOGO em ❏ Inglês ❏ Francês ❏ Português ❏ Espanhol 2. Complexidade irredutível.
Edições Iniciem minha assinatura com a próxima edição. Popularizado por Michael J. Behe em A
Gostaria de receber estes números anteriores: Vol.______. No ______. caixa preta de Darwin 8, a complexidade
Pagamento Estou juntando um cheque internacional ou ordem de pagamento. irredutível sugere que as formas de vida
Meu Mastercard ou VISA é _____________________________ que hoje conhecemos – mesmo as mais
Data de validade: ________________________ simples – são compostas de integração,
Por favor, preencha: de componentes interdependentes, sendo
Nome ___________________________________________________________ por demais complexas para terem evo-
Endereço ___________________________________________________________ luído pouco a pouco através do acaso
___________________________________________________________ ou pela seleção natural. Neste contexto,
Remeta os dados para: DIALOGUE Subscriptions, Linda Torske Darwin apontou para seu próprio olho
12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, MD 20904-6600; EUA. como suscitando um problema particu-
FAX 301 622 9627 larmente difícil – e Dawkins repete as
E-mail torskel@gc.adventist.org palavras de seu mestre. Darwin disse:

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“Supor que o olho, com todos os seus Dawkins diz que “se a complexidade diz McGrath (p. 11). Após uma série de
inimitáveis artifícios para ajustar o foco irredutível puder ser adequadamente Dawkins na BBC, McGrath disse: “Esta
a várias distâncias, para admitir várias demonstrada, isso arruinará a teoria de é uma série designada para deixar os
quantidades de luz e para corrigir aber- Darwin” (Dawkins, p. 136). espectadores com a impressão de que
rações esféricas e cromáticas, tenha sido Mas a complexidade irredutível não a religião é a raiz de todo o mal. Um
formado pela seleção natural parece, necessita de demonstração, ela é a rea- colega cientista, veterano ateu, disse-
confesso abertamente, o grau mais eleva- lidade. E é difícil ver por que qualquer me em Oxford [...]: ‘Não julgue o
do de absurdo” (Dawkins, p. 134). um substituiria a especulação irracional restante de nós por este baboso pseu-
É uma observação extremamente de Dawkins pela simples seriedade da dointelectual’” (p. 51).
irrefutável. Mas Darwin (com Dawkins afirmação bíblica: “No princípio criou Para finalizar, apresento dois pontos:
o apoiando) encontraria uma forma em Deus [...]” (Gênesis 1:1, ARA). 1. Como McGrath, não estou impres-
torno disso. A opinião de Darwin, de sionado pelo uso seletivo de Dawkins de
acordo com Dawkins, foi meramente Onde me apoio instituições religiosas e de pessoas para
um “dispositivo retórico” para seduzir O período contemporâneo tem visto expressar o que ele quer dizer. “Há [...]
seus oponentes para mais perto dele. uma onda de ataques a Deus, à Bíblia e um grupo lunático para cada movimen-
Assim, poderia administrar um golpe a todas as coisas religiosas – em traba- to”, McGrath sugere. “E uma das carac-
mais forte. Esse golpe, diz Dawkins, “era lhos tais como Breaking the Spell, de terístas da polêmica antirreligiosa de
a explicação simples de Darwin sobre D. C. Bennett (2006)11; o Atheist Dawkins é apresentar o patológico como
como de fato o olho evoluiu gradativa- Universe, de D. Mills (2006)12 e God se fosse o normal, o grupo periférico
mente” (p. 134). Is Not Great, de Christopher Hitchen como se fosse o centro, os loucos como
Para se ter a explicação de Dawkins (2007).13 Ao subir em um ônibus se fossem o comportamento dominante”
para tal proeza, vejamos uma parábola em Chicago no início de novembro, (p. 22).
que ele usou no livro A Escalada do conversei com um companheiro que Ainda assim, acho lamentável que
Monte Improvável.9 Ele imagina uma participava de uma conferência. Antes cristãos, pessoas de todas as religiões,
montanha com um despenhadeiro em de nos separarmos, entregou-me uma tenham fornecido a Dawkins e a outros
um lado, “impossível de escalar”. Mas propaganda de um livro de um certo ateus tanta munição para seus ataques.
“o outro lado é uma encosta de subida Bob Avakian, intitulado Away With All Quando Dawkins maldiz a educação
amena até o topo”. “No topo, está um Gods! 14 religiosa das crianças, por exemplo, ele é
dispositivo complexo, como um olho.” É uma verdadeira epidemia anti-Deus, capaz de convincentemente apontar os
Os proponentes de design inteligente grande parte dela relacionada à filosofia flagrantes abusos de crianças cometidos
sugeririam que tal complexidade “possa pseudocientífica. É fácil desocuparmos a dentro do âmbito da educação religiosa
se montar sozinha, espontaneamente”10, área, enroscando o rabo entre as pernas cristã. Que vergonha para nós!
mas é uma “ideia absurda”, ele argumen- como cães assustados. Além do mais, Para citar outro exemplo, os ateus
ta, pois seria como “por um pulo só, do muitos de nós (eu mesmo em primeiro britânicos estão levantando fundos para
pé do penhasco até o cume” (Dawkins, lugar) não somos cientistas. Se você é afixar cartazes nos ônibus de Londres,
p. 133). como eu, terá hesitação para adentrar expondo a agenda deles. Os anúncios
Mas Dawkins sugere que a evolução, os portões da comunidade científica dizem: “Provavelmente não existe Deus.
em vez de tomar o lado íngreme da sem permissão. Contudo, como seres Pare de se preocupar agora e aproveite a
montanha, pois não é o caminho apro- humanos livre-pensantes, temos o direi- sua vida.” Dawkins se comprometeu a
priado, “vai por trás da montanha e pega to, penso, de não nos curvarmos a um fazer doações de mais de 9.000 dólares
a subida amena até o topo: fácil!” fundamentalismo ateu, com cada pitada americanos. Tem havido uma resposta
Assim, o quadro que Dawkins des- tão intolerante quanto o seu oposto reli- entusiástica de certos setores do público
creve é de uma vasta quantidade de gioso. britânico. “Dissemine a palavra”, disse
materiais primordiais (como se nós Dawkins representa essa intolerância. alegremente um contribuinte, “e transfi-
soubéssemos de onde tais coisas vie- McGrath, sendo ele mesmo um cientis- ra esse disparate supersticioso para a lata
ram!) lentamente ascendendo o “Monte ta, descreve Dawkins como o ateu que de lixo da história!”15
Improvável”. Cada unidade particular, “equivale ao astuto discurso do fogo do O mais preocupante que encontrei em
em algum momento, chega ao estado inferno, substituindo a retórica turbo- tudo isso foi que a campanha surgiu em
máximo de complexidade. Então, de propulsora e a manipulação altamente reação às propagandas cristãs naqueles
alguma forma, liga-se com outras com- seletiva dos fatos para o pensamento mesmos ônibus, com endereço de Web
plexidades para formar discretas, vigo- cuidadoso, baseado na evidência”. É para um site que condenava o não con-
rosas entidades que funcionam! Talvez um “abuso das ciências naturais no vertido a uma “eternidade em um ‘tor-
impressionado pela fantasia de tudo, interesse do fundamentalismo ateu”, mento no inferno’”.16 O que aconteceria

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se os que colocaram aqueles anúncios dos valores [de certos números], o livro, todas as referências neste artigo são de
Alister McGrath, como se ele fosse o único
cristãos tivessem se preocupado em per- nosso universo pode estar destinado autor, um procedimento que eles mesmos
manecer fiéis às Escrituras nesse ponto a se expandir indefinidamente, ou seguem no livro.
sensível? pode se estabilizar num equilíbrio, ou 2. Richard Dawkins. Deus, um delírio. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006.
2. O imunologista de Oxford, Peter a expansão pode se reverter e virar con- 3. Ibid., p. 112.
Medawar, ganhador do prêmio Nobel, tração, culminando no chamado ‘big 4. Id.
aponta que há questões “transcendentes” crunch’” (Dawkins, p. 158). 5. Ibid., p.123.
6. Ibid., p. 171. Grifos do autor.
que “a ciência não pode responder, e que Que quadro desolador! Mais desola- 7. Ibid., p. 128. Grifos do autor.
nenhum avanço concebível da ciência a dor ainda se o pusermos nas palavras 8. Michael J Behe. A caixa preta de Darwin. Rio
autorizaria a responder”. Questões como: de Bertrand Russell, um dos mentores de Janeiro, Zahar, 1997.
9. Richard Dawkins. A escalada do monte impro-
“De que maneira tudo começou? Para filosóficos de Dawkins. Russell previu vável. São Paulo: Companhia das Letras,
que estamos todos aqui? Qual o sentido da que “o trabalho de todas as gerações, 2006.
toda a devoção, toda a inspiração, 10. Casualmente, os proponentes do design inteli-
vida?” 17 gente não sugerem que a complexidade “possa
Tais questões têm a ver com pro- todo o meio-dia de brilho do gênio se montar sozinha, espontaneamente,” como
tologia e escatologia. A protologia, o humano estão destinados à extinção sugere Dawkins, mas de preferência que uma
inteligência seja responsável pela montagem.
estudo das origens (como chegamos na vasta morte do sistema solar”.18 11. Nova York: Penguin, 2006.
aqui etc.), momentaneamente nos Por que alguém aceitaria esse desa- 12. Berkeley, CA: Ulysses Press, 2006.
ocupou na seção anterior: “O tendão nimado prognóstico no lugar do que a 13. Nova York: Twelve Hachette Book Group,
2007.
de Aquiles de Dawkins.” E vimos Bíblia oferece? Em toda a sua elegân- 14. Chicago: Insight Press, 2008.
um pouco da tortuosa tentativa de cia, o profeta de Patmos afirma: 15. Disponível em: <http://afp.google.com/arti-
Dawkins para lidar com ela. Aqui “E vi um novo céu, e uma nova terra. cle/ALeqM5jJJPnbeIqCvhvmnSPVvqOdUGb
SAA>.
notamos o vazio de sua escatologia – o Porque já o primeiro céu e a primeira 16. Ibid.
que ele mesmo chama de “o destino terra passaram, e o mar já não existe. 17. Citado em McGrath, p. 39. Grifos do autor.
final de nosso universo”. “Dependendo E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova 18. Disponível em: <http://users.drew.edu/~jlenz/
brtexts.html>.
Jerusalém, que de Deus descia do céu, *The Message foi escrita em uma linguagem con-
adereçada como uma esposa ataviada temporânea, atual, recente e compreensível.
para o seu marido. E ouvi uma gran-
de voz do céu, que dizia: ‘Eis aqui o
Diálogo grátis tabernáculo de Deus com os homens,
pois com eles habitará, e eles serão o seu
para você! povo! [...] E Deus limpará de seus olhos
Se você é um estudante adventista do
toda lágrima, e não haverá mais morte,
sétimo dia que frequenta faculdade ou nem pranto, nem dor’ [...] E o que estava
universidade não adventista, a Igreja tem
um plano que lhe permitirá receber gratui-
assentado sobre o trono disse: ‘Eis que
faço novas todas as coisas. E disse-me:
Assinatura
tamente a revista Diálogo enquanto você Escreve, Escreve, porque estas palavras gratuita para
estiver estudando (aqueles que não são mais
estudantes podem assinar Diálogo usando o
são verdadeiras e fiéis’” (Apocalipse
21:1-4; 22:4, The Message* ). É aqui a biblioteca de
cupom da página 6). Entre em contato com
o diretor do Departamento de Educação ou
onde me apoio. sua faculdade ou
do Departamento de Jovens de sua União, universidade!
e peça que seu nome seja colocado na lista
Roy Adams (Ph.D., Universidade
de distribuição da revista. Forneça seu nome Deseja ver a Diálogo disponível na
completo, endereço, faculdade ou univer-
de Andrews) é editor associado da
biblioteca de sua faculdade ou univer-
sidade onde está estudando, o curso que Adventist Review. Este artigo foi adap- sidade, de modo que seus amigos não
está fazendo e o nome da igreja onde você tado da publicação inicial na Adventist adventistas possam ter acesso à revista?
é membro. Você pode também escrever Review. Usado com permissão. Procure o bibliotecário e sugira que soli-
para os nossos representantes regionais nos cite uma assinatura gratuita, usando papel
endereços indicados à página 2, anexando timbrado da instituição. Cuidaremos do
uma cópia da carta que enviou aos diretores REFERÊNCIAS resto! As cartas devem ser endereçadas
da União já mencionados. Caso os passos 1. Alister E. e Joanna Collicutt McGrath. The a: Dialogue Editor-in-Chief; 12501 Old
acima não produzirem nenhum resultado, Dawkins Delusion? Downers Grove, Illinois: Columbia Pike; Silver Spring, MD 20904-
IVP Books, 2007. No Brasil, o título é O
você poderá contatar-nos via Delírio de Dawkins. São Paulo: Mundo 6600; EUA.
e-mail: schulzs@gc.adventist.org Cristão, 2007. Não obstante a co-autoria do

8 DIÁLOGO 21•1 2009


Consciência moral:
lições de Huss e Jerônimo
Duane Covrig
Um exame dos conflitos experimentados
por Huss e Jerônimo nos convida a
entender melhor os nossos próprios
conflitos, nosso mundo e os propósitos
de Deus.
Doug Marlette1 desenha o cartum O que tornou a batalha difícil foi dades da igreja e crescia na compreensão
Doris the Parakeet.2 Doris está a ponto saber que não podia correr de minha das Escrituras, um conflito se desenvol-
de comer um chocolate. Então, ouve: consciência. Sabia que não era seguro veu, levando-o a um profundo dilema.
“Doris, é a sua consciência falando! agir assim. Cresci na Califórnia, onde vi Ellen White citando Wylie registrou:
Ponha de lado o chocolate.” Doris olha muitas “Doris” falarem com sua cons- “‘O espírito de Huss, nessa fase de
para o seu lado direito. Diz: “Como ciência. Tinham todos os tipos de “boas sua carreira, parece ter sido cenário de
sei que você é a minha consciência? ofensas” para ceder à consciência. A doloroso conflito. [...] A igreja de Roma
Mostre seu distintivo.” “Não tenho um sensualidade e o egoísmo entorpeceram era ainda para ele a esposa de Cristo; e o
distintivo”, responde. “Bem, nada feito, os sentidos. Mas também sabia que a papa, o representante e vigário de Deus.
senhora! Você sabe o que pode ganhar exigente consciência não é sempre O que Huss estava a guerrear era o
por personificar uma consciência?” confiável. abuso da autoridade, não o princípio em
“Bem, não... hum, de modo algum.” No Neste artigo, analiso a experiência de si mesmo. Isso acarretou terrível conflito
último quadrinho, Doris sorri: “Com João Huss como registrado no livro O entre as convicções de seu entendimento
a consciência, sua melhor defesa é um Grande Conflito4 para ajudar a mostrar e os ditames de sua consciência. [...]
bom ataque!” os limites da consciência e como equili- Essa é a dúvida que o torturava sempre e
O cartum mexe profundamente brá-la com a Palavra de Deus. sempre.’”5
com a minha luta para entender a O conflito parecia se intensificar entre
consciência moral. Na maior parte de João Huss as “convicções de entendimentos” e os
minha vida, não tive a coragem, nem João Huss cresceu como um fiel e “ditames de consciência”. E que guerra
fiz as bravatas de Doris para resistir à ardente estudante da Igreja Católica deve ter sido para um humilde sacerdo-
consciência. Identifico-me mais com a Romana. A maior parte de seus pensa- te! Quando li pela primeira vez sobre
luta de Martin Weber, em seu livro My mentos foi influenciada por suas tradi- isso, quis gritar: “Huss, siga com suas
Tortured Conscience.3 Experimentei um ções religiosas e pelos escritos comuns reivindicações de consciência. Você tem
forte sentimento de certo e errado. Meus usados em seu sacerdócio. que viver com a sua consciência. Deixe
pais não eram rígidos, eram abertos e Ele cresceu em caráter e ascendeu em esse trunfo de sua compreensão e ponha
razoáveis. Isso aconteceu porque me influência na igreja e diante da nação um final em seu doloroso conflito.”
tornei fanático em meus últimos anos de Boêmia. Seu modo de viver humilde Mas quando prossegui com a leitura,
adolescência e depois com vinte poucos também o tornou desgostoso com as compreendi a liberdade que O Grande
anos. Os motivos foram meus próprios más práticas de alguns líderes da igreja. Conflito oferece, e vi algo diferente.
desequilíbrios mentais e uma reação No processo de querer compreender Sim, o mesmo livro que frequentemente
à dissidência que se alastrou em nossa melhor como aprimorar a sua influência, assustava a alguns adventistas com rela-
comunidade adventista do norte da começou a aprender mais diretamente tos do final dos tempos se tornou para
Califórnia, no final dos anos 1970 e iní- das Escrituras e encontrou novo entendi- mim uma profunda lembrança dos efei-
cio dos 1980. Queria exercer as respon- mento dos princípios do reino de Deus. tos paciente e libertador que o evangelho
sabilidades espirituais de forma correta e Sua leitura da Bíblia desafiou o funda- traz por meio de verdadeiras reformas.
me tornei fanático. Tornei-me miserável mento do seu modo de pensar e suas Minha experiência estava me ensinando
ao viver com aquele fanatismo. Nem convicções sobre a igreja. os limites da consciência.
sequer gostava de viver comigo mesmo. À medida que lutou contra as autori- A consciência de Huss tinha sido

DIÁLOGO 21•1 2009 9


parcialmente treinada por Deus e par- fazendo. Não. Eles estavam saindo, na prolongada luta pela qual se deveria
cialmente pela autoridade do sistema gradualmente, de falsas ideias. Isso conseguir a liberdade de consciên-
papal. Ele lutou para distinguir entre levou a uma aprendizagem dolorosa. cia”.9 White apontou esse fato como
o que suas leituras da Bíblia estavam O entendimento não é algo que o primeiro grande sacrifício. Por quê?
lhe dizendo e os sentimentos de cons- Deus destrói para adquirir nossa Porque foi o primeiro reconhecimento
ciência que foram desenvolvidos desde complacência moral. É algo que Ele real nos tempos modernos que, mesmo
a infância. Anos de conformidade com aumenta para ganhar nossa obediência dentro de nós, em nossa mente, somos
a Igreja Católica Romana tinham for- moral e fidelidade. Wylie não diz que prisioneiros de profundas forças que
mado convicções que estavam sendo uma solução foi achada, mas ocorreu resistem à regra de Deus, até mesmo
desafiadas diante do que estava lendo uma “aproximação”. O significado é a ponto de usar a consciência contra o
e entendendo das Escrituras. Era construído, abolido e temporariamente entendimento.
como se seu cérebro estivesse repleto reconstruído. As aproximações suge-
de lacunas. Ele se sentia compelido rem que mais tarde soluções melhores A lição de Jerônimo
a obedecer à igreja – ela havia sido podem ser encontradas. Podemos con- A história de Huss tem ajudado a
uma autoridade em sua vida, mas ao fiar que cada dia amanhece mais claro me fortalecer contra as falsas reinvin-
mesmo tempo, ele começou a ver uma e brilhante, e Deus continuará se reve- dicações de uma consciência excessiva-
nova autoridade, a da Bíblia. lando cada vez mais a nós (Provérbios mente angustiada. No entanto, como
Wylie nos conta que Huss resol- 4:18; 2 Pedro 1:19-21). Então, a falei sobre o abuso das reinvindicações
veu o doloroso conflito da seguinte Reforma nunca acaba, e nunca deveria da consciência, preciso lembrar o leitor
forma: “‘A solução que mais justa se acabar para nós. de outro extremo.
lhe afigurava, era que havia aconte- As dores do conflito de Huss o leva- A precaução vem da vida de
cido novamente [...].’” O que havia ram “‘a adotar para sua própria orien- Jerônimo logo após a morte de Huss.
acontecido novamente? Huss esteve tação e para guia daqueles a quem Enquanto Jerônimo estava na prisão
refletindo sobre o passado para enten- pregava, a máxima de que os preceitos esperando sua própria morte, sua
der o presente. O que havia aconte- das Escrituras, comunicados por meio “fortaleza cedeu, e ele consentiu em
cido no passado foi a perseguição a do entendimento, devem reger a cons- submeter-se ao concílio” ao ponto de
Jesus. Wylie continuou: “‘[...] como ciência; em outras palavras, de que “condenar as doutrinas de Wycliffe e
já antes, nos dias do Salvador, que os Deus, falando na Bíblia, e não a igreja Huss”. “Por esse expediente, Jerônimo
sacerdotes da igreja se tinham tornado falando pelo sacerdócio, é o único guia se esforçou por fazer silenciar a voz da
pessoas ímpias e estavam usando da infalível’”.8 Sua salvaguarda pode se consciência e escapar da condenação.”10
autoridade lícita para fins ilícitos.’”6 tornar a nossa. Lá está a consciência, novamente.
Huss não estava pronto para propor a Deus ativou a penetrante luz de Neste momento, deveria ser ouvida.
transferência de autoridade da igreja, liberdade em Huss. A luz atravessou a Agora o papel do entendimento nova-
mas possuía suficiente bom senso para escuridão. Deus amava a Huss e queria mente vem para ajudar. “Mas, na soli-
concluir que a autoridade e o poder que Seu servo experimentasse profun- dão do calabouço, viu mais claramente
estiveram sendo usados de maneira da libertação, mas os resultados foram o que havia feito. Pensou na coragem
imprópria. Isso conduziu Huss a um custosos. A resposta das autoridades e fidelidade de Huss, e em contraste
princípio geral ou guia que ele usou e papais foi terrível. Também conse- refletiu em sua própria negação da ver-
encorajou a outros a usarem. A regra guiram que as autoridades políticas dade. Pensou no divino Mestre a quem
consistia em que “‘os preceitos das trabalhassem contra Huss. Ambos os se comprometera a servir, e que por
Escrituras, comunicados por meio do grupos usaram “imaginação satânica” amor dEle suportara a morte de cruz.”11
entendimento, devem reger a consci- e controle da consciência para despre- Deus trabalha individualmente e
ência’”.7 Essa foi a solução que aliviou zar as ideias de Huss. Se alguém lê corporativamente para trazer a com-
o seu conflito. Foi também a solução as abusivas declarações feitas contra preensão que sozinha pode sustentar a
que pôs em movimento o mecanismo Huss pode ver como usaram razões consciência moral. A misericórdia do
da Reforma. Eu a vi também como religiosas contra ele. Satanás lhes deu Mestre permitiu outro teste para o Seu
minha solução. expressões religiosas e frases morais aluno Jerônimo, e naquele momento,
Ellen White agiu adequadamente ao destinadas a atormentar Huss. ele arriscou tudo por causa da mistura
expor os conflitos de Huss, revelados Ellen White descreve as fases finais correta de entendimento e consciência.
por Wylie, até que ele encontrasse da vida de Huss. Como os religiosos Sim, Jerônimo mais tarde ficou assom-
uma solução. Sempre pensamos que os e líderes políticos viram Huss resistir brado com seus erros, mas a graça e a
reformadores tiveram cem por cento às falsas reinvindicações, foram “teste- verdade brilharam intensamente em
de claridade sobre aquilo que estavam munhas do primeiro grande sacrifício união com o entendimento e a cons-

10 DIÁLOGO 21•1 2009


ciência, e Jerônimo se tornou um tornar conformados (Romanos 12:2). tóxico e destrutivo. A liberdade é um
mártir pela graça que temos na miseri- Afinal de contas a liberdade religiosa desses outros ingredientes de que a mora-
córdia de Cristo. somente pode ser consolidada nos lares, lidade necessita. Na ausência de liberda-
igrejas e nações depois que ela tenha sido de, a moralidade se degenera em uma
Liberdade, consciência e formada em nossa mente. O processo rara- decisão não criativa, em uma obediência
moralidade mente é fácil. A moralidade e a consciên- forçada e em uma conformidade irrefleti-
Um exame dos conflitos experimen- cia expressam a sua mensagem que são da. A liberdade dá espaço à consciência e
tados por Huss e Jerônimo no mostra frequentemente formadas com materiais à moralidade para fazerem escolhas. Esse
os nossos conflitos. Ellen White observa bons e ruins. Não se pode simplesmen- espaço cria oportunidades psicológicas
que o proprósito em apontar as lutas na te jogar tudo fora. Não se pode seguir bem como sociais para o crescimento
vida dos filhos de Deus “não consiste todos os seus ditames automaticamente. ético. Sem isso, uma pessoa ou grupo ou
tanto em apresentar novas verdades con- A moralidade não é Deus. A consciência uma nação inteira pode aspirar a uma
cernentes às lutas dos tempos anteriores, nem sempre é a voz de Deus. Ambas, a moralidade que de certa forma alimente
como em aduzir fatos e princípios que moralidade e a consociência, necessitam uma rebelião mais profunda ou uma
têm sua relação com os acontecimentos ser treinadas. Deus é o treinador. A consciência descuidada.
vindouros”.12 A compreensão da base moralidade e a consciência podem ser Nisso repousa a profunda tensão: a
da consciência moral pode nos preparar comparadas com o salgar. O sal é essen- moralidade e a consciência purificam e
para os desafios da liberdade religiosa cial em nossa comida, mas o sal não faz a motivam os seres humanos a fazerem o
com que nos deparamos hoje e nos depa- comida por si só. Tem que ser misturado que é correto, mas somente podem ser
raremos em um mundo que tenta nos com outros ingredientes ou ele se tornará úteis quando conduzidas pelo conheci-
mento e pela Bíblia.
Assim, meu simples conselho é: pri-
meiro, você necessita de sua consciência.
Alguns exercícios e perguntas para treinar a Não a jogue fora. Segundo, sua cons-
ciência necessita ser treinada.
sua consciência com a Palavra de Deus
Deus está constantemente a serviço, nos ensinando, ajudando a aprender novos conhe-
cimentos que podem nos libetar do mal – os quais podem até mesmo se disfarçarem Duane Covrig (Ph.D., Universidade
como bons. Aqui estão alguns exercícios e perguntas para ajudá-lo a pensar nesse processo. da Califórnia, Riverside) é profes-
Fale com um amigo íntimo sobre as problemáticas mudanças nas Escrituras que teriam sor na Faculdade de Educação na
sido difíceis para a consciência de pessoas piedosas aceitarem.
Universidade Andrews, Berrien
• A serpente de bronze. Moisés ergueu a serpente de bronze no deserto. Aqueles Springs, Michigan, EUA. E-mail:
que olharam para ela foram salvos (Números 21). O povo judeu manteve aquela serpente covrig@andrews.edu
de bronze por centenas de anos. Mas aquela boa coisa se tornou má, assim Ezequias teve
que a destruir (2 Reis 18:4). Quão duro deve ter sido para alguns líderes judeus aceitar o
ato de Ezequias? REFERÊNCIAS
• Circuncisão. Deus falou a Abraão e a Moisés para circuncidarem os machos 1. Nota do editor: Doug Marlette é um artista
(Gênesis 17). Foi uma ordem de Deus, mas depois que Cristo ressuscitou, Paulo acreditou norte-americano, autor de cartuns políticos
que essa prática não era mais necessária (Romanos 2). Como Paulo chegou àquela com- publicados nos principais jornais e revistas do
preensão? Contra que tradição estava ele trabalhando? Que parte das Escrituras ele mos- país. Ganhou importantes prêmios de desen-
hos animados editoriais, incluindo o prêmio
trou violar? Que parte das Escrituras realmente o apoiou em sua reforma? Pulitzer, em 1988.
Quando Cristo era o mais odiado, Ele foi capaz de prever uma época quando o Seu 2. Doug Marlette. Chocolate is my life – featuring
nome seria muito popular e as pessoas estariam dizendo “Senhor, Senhor” e reindivicariam Doris the Parakeet. Atlanta, EUA: Peachtree
que O adorassem, mas não seriam leais a Seus ensinamentos. Como pode até mesmo a Publishers, 1987.
3. Martin Weber. My Tortured Conscience.
adoração a Jesus e à cruz se tornarem igualmente distorcidas como a circuncisão e a ser- Hagerstown, Maryland: Publicadora Review
pente de bronze que no final das contas estavam na Bíblia? Como isso nos ensina a apren- and Herald Assn., 1991.
dermos constantemente com Deus? 4. Ellen G. White. O Grande Conflito. 42. ed.
Ellen White escreveu: “Deus permitiu que grande luz resplandecesse no espírito daque- Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004.
5. Ibid., p.102. Grifos do autor.
les homens escolhidos [...] mas eles não receberam toda a luz que devia ser dada ao 6. Id.
mundo.”13 Que luz Deus compartilha hoje que está provocando reformas? Como estamos 7. Id.
recebendo ou rejeitando Sua luz libertadora? Como testamos a nossa consciência? Que 8. Id. Grifos do autor.
haja uma submissão de nossa vida e renúncia ao apreço por ideias próprias, e aceitemos a 9. Ibid., p. 108.
10. Ibid., p. 111.
“candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em 11. Ibid.
nosso coração” (2 Pedro 1:19, ARA). 12. Ibid., p. 14.
13. Ibid., p. 103.

DIÁLOGO 21•1 2009 11


Ellen White
e as terapias de saúde mental
Merlin D. Burt

Ellen White não era alheia aos Ellen White foi contra a moderna apli- White teve pouco ou nada a dizer
assuntos de saúde mental. Ainda cação dessas modalidades no tratamento sobre os medicamentos de tratamento
jovem, lutou contra a depressão em seu de doenças mentais. Essa posição está de doenças mentais. Sua base filosófi-
processo de conversão. Com a família, longe de ser exata. A fim de compre- ca para a cura e tratamento de saúde
enfrentou alguns desafios. Seu marido ender corretamente os pontos de vista mental foi mais holística, enfatizando
teve derrames cerebrais durante a meia- de Ellen White, sobre uma abordagem o espiritual, o hidroterápico e remédios
idade que pareciam ter alterado sua terapêutica para a cura mental, é preciso naturais. Ela escreveu: “Ar puro, luz
personalidade. Alguns dos seus irmãos compreender o contexto do século 19. solar, abstinência, repouso, exercício,
sofriam de enfermidades mentais, e Antes de tratarmos sobre isso, regime conveniente, uso de água e
mesmo seu filho Edson pode ter tido temos de observar dois pontos vitais. confiança no poder divino – eis os
um transtorno de falta de atenção. Em Primeiro, Ellen White frequentemen- verdadeiros remédios. Toda pessoa deve
seu trabalho de assistência espiritual, te enfatizava a importância da saúde possuir conhecimentos dos meios tera-
Ellen White abordou com frequência mental. “A mente rege o homem todo. pêuticos naturais, e da maneira de apli-
questões sobre a mente. Como visto na Todas as nossas ações, quer sejam boas cá-los. É essencial tanto compreender
última edição de Diálogo, ela frequen- ou más, originam-se na mente. É a os princípios envolvidos no tratamento
temente escreveu e falou aos indivídu- mente que adora a Deus e nos põe em do doente quanto ter um preparo
os que foram afetados por dificuldades contato com os seres celestiais.”1 Em prático que habilite a empregar devida-
emocionais e mentais. Ela sempre segundo lugar, ela reconheceu o efeito mente esse conhecimento.”3
levou esperança e apontou para um da saúde física sobre a mente. “Todos O século 19 foi uma época de con-
amoroso Pai Celestial e Salvador que os órgãos físicos são servos da mente; e fusas e falaciosas filosofias de cura. A
pode curar e livrar aqueles que estão os nervos, os mensageiros que transmi- modalidade foi o tratamento padrão
feridos e quebrados pelo pecado e pelas tem suas ordens a cada parte do corpo, “tradicional”, “terapia heróica” preconi-
adversidades da vida. dirigindo os movimentos do mecanis- zada por Benjamin Rush. Ele advogou
Ao lidar com a doença mental e os mo vivo.”2 a sangria, empolamento, bem como
problemas de saúde, no entanto, Ellen a utilização de eméticos para aliviar a
White escreveu fortemente contra o Uso de drogas na terapia “febre” ou “hipertensões” que ele acre-
uso de drogas e contra a “psicologia”. Devido ao confuso e problemático ditava que causavam as doenças. Isso
A partir daí, alguns concluíram que estado da terapia com drogas, Ellen incluiu o uso interno de drogas, tais
como o calomelano e o uso tópico de
químicos cáusticos. O calomelano era
um composto de mercúrio utilizado
como um laxante.
Este artigo é o segundo de uma série de duas partes sobre Ellen White e A alternativa para os “tradicionais”
a saúde mental. A primeira parte, na última edição, discutiu como ela com- médicos era a abordagem thompsonia-
preendia a saúde mental. Essa compreensão veio de sua visão bíblica do ser na. Samuel Thompson disse que todas
as doenças eram causadas pelo frio.
humano, como ser criado por Deus, e de sua compreensão do pecado e Assim, ele procurou aumentar o calor
dos seus efeitos. Sua visão cresceu devido a sua estreita relação com Deus, natural do corpo. Ele usou lobélia,
por experiência pessoal, por desafios da saúde mental dentro de círculos uma planta americana que tinha carac-
próximos, e por seu papel como uma conselheira espiritual. Nesta segunda terísticas sedativas e eméticas. Outras
parte, o autor aborda a razão pela qual Ellen White se opôs a certos méto- filosofias de cura incluiam a homeo-
dos terapêuticos usados em seu tempo para curar enfermidades mentais.
patia, o qual supunham que pequenas
doses de drogas, que produziam sinto-
– Lisa Beardsley mas de uma doença, poderiam curar
da mesma doença. À época da Guerra

12 DIÁLOGO 21•1 2009


Civil Americana, a homeopatia era o esta geração e atua com esse poder que liberdade dadas por Deus. Ela escreveu
método preferencial de tratamento por deve caracterizar seus esforços próximo muito direta e especificamente sobre
médicos que tinham rejeitado a “herói- do fim do tempo da graça.”6 esse tópico. “Não é desígnio de Deus
ca terapia”. Além dessas terapias, houve Mesmerismo. Durante os primeiros que nenhuma criatura humana sub-
muitos outros tratamentos que tive- anos de ministério, Ellen White foi meta a mente e a vontade ao domínio
ram as bases filosóficas questionáveis repetidamente forçada a confrontar de outra, tornando-se um instrumento
e drogas usadas tais como o ópio, o o mesmerismo e seus métodos de passivo em suas mãos [...]. Não deve
arsênico e o quinino, junto com vários manipulação da mente. Nos Estados considerar nenhum ser humano como
produtos da planta e da raiz de origem Unidos, em meados do século 19, o fonte de cura. Sua confiança deve estar
frequentemente desconhecida. Essas magnetismo animal era uma filosofia em Deus.”10 Em cartas durante 1901
substâncias eram geralmente suspensas de cura popular. Originada pelo médi- e 1902 para A.J.Sanderson e sua espo-
no álcool. co Franz Anton Mesmer (1734-1815), sa, que foram diretores médicos do
Pouco surpreende que Ellen White ensinava que um fluido magnético Sanatório Santa Helena, Ellen White
tenha escrito contra o uso de drogas invisível permeou o universo. Mesmer advertiu para os perigos do hipnotis-
durante a sua vida. Em uma de suas teorizou que a doença produziu um mo. “Mantenham-se afastados de tudo
clássicas declarações, disse: “Maior é o desequilíbrio desse fluido dentro do o que tenha sabor a hipnotismo, a
número dos que morrem pelo uso de corpo humano, o que poderia ser cura- ciência pela qual as agências satânicas
drogas, do que o de todos os que mor- do através do uso de ímãs e de corrente trabalham.”11 Ela identificou a caracte-
reriam da doença, caso se tivesse per- elétrica. Eventualmente, ele abandonou rística do hipnotismo que mais a pre-
mitido à natureza realizar a sua obra.”4 o uso de ímãs e propôs que o “corpo ocupava e revelou um dos seus valores
Ela não se opôs ao uso de drogas quan- do curandeiro”, permeado com mag- fundamentais na cura mental. “A teoria
do tiveram resultados salvíficos mesmo netismo animal, podia redirecionar o de mente controlar mente é originada
quando a droga era perigosa. Naquela fluido magnético do paciente sem a por Satanás para introduzir-se como o
época, para o tratamento da malária, o utilização de ímãs. O objetivo era o trabalhador-chefe para colocar filosofia
quinino era a única droga conhecida. de induzir a uma ‘crise’, alterando o humana onde deveria estar filosofia
Ellen indicou: “Estamos à espera de estado mental do indivíduo, por meio divina [...]. O médico deve educar o
fazermos o melhor que nós podemos” de febre, delírio, convulsões, choro povo a olhar do humano para o
e “se o quinino vai conservar uma vida, descontrolado, contrações musculares divino.”12
usemos o quinino”.5 nervosas. Mesmer viu essas manifes- Frenologia. Foi uma teoria popula-
O uso moderno das drogas no tra- tações como sintomas saudáveis de rizada na América durante os meados
tamento psiquiátrico tem uma base cura. Sugestionabilidade e dominância do século 19 por Orson S. Fowler e
mais fisiológica e seguiria a posição de foram utilizados para produzir um seu irmão Lorenzo N. Fowler. A freno-
Ellen White de que os médicos com- transe e, assim, realinhar o corpo.7 logia sustentou que a forma da cabeça
preendem os “princípios envolvidos Mais tarde, James Braid redefiniu o de uma pessoa determinava o seu cará-
no tratamento do doente”. Se ela se termo “mesmerismo” como hipnotis- ter e personalidade. Embora baseada
apresentasse hoje, provavelmente ainda mo, e Mesmer ficou conhecido como em uma premissa falaciosa, foi ampla-
argumentaria que os métodos naturais o pai da moderna hipnose.8 mente aceita como autêntica na época.
são os melhores, sempre que seja possí- Em 1845, Ellen White foi forçada a Ellen White se opôs a essa modalidade.
vel, mas que fisiologicamente a terapia confrontar Joseph Turner, um proemi- Em 1893, escreveu sobre a frenologia
com droga tem seu lugar. nente ministro adventista milerita no como “vã filosofia, se gloriando em
Maine. Turner estava usando o mesme- coisas que não entendem, pressupondo
A opinião de Ellen White contra rismo. Ele ainda tentou mesmerizar ou um conhecimento da natureza humana
a psicologia hipnotizar White. Em uma ocasião, ela que é falso”.13
Três escolas de cura prevaleciam no estava em uma reunião onde ele ten- Cura pelo descanso. A modalidade
tempo de Ellen White – mesmerismo, tou manipulá-la. “Ele tinha os olhos “cura pelo descanso” foi defendida por
frenologia e a cura pelo descanso – que voltados diretamente de seus dedos, Silas Weir Mitchell como resposta a
influenciaram seus comentários sobre e os olhos dele pareciam serpentes, o distúrbios nervosos. Mitchell defen-
questões psicológicas e de saúde men- mal.”9 Suas experiências ao confron- deu o descanso completo e a ausência
tal. White se opôs firmemente a todas tar esse homem, juntamente com sua de todos os estímulos sensoriais. Esse
as três. Em 1886, escreveu: “As ciências orientação visionária, a colocaram em método exigia que o sujeito não tivesse
da frenologia, da psicologia e mesme- oposição às modalidades de controle visitas, cartas, leituras, escritos, banhos,
rismo são os condutos pelos quais ele hipnótico da mente que eliminavam de exercícios, ou mesmo a presença de
[Satanás] chega mais diretamente a uma pessoa a independência mental e luz ou som. O descanso era para ser

DIÁLOGO 21•1 2009 13


aplicado sem interrupção e prolonga- crise na vida de qualquer pessoa. [...] que Ellen White permaneceu confiante
damente. Ellen White contradisse essa É a vida consistente, a revelação de um em que Jesus era o último ajudante e
opinião: “[...] E ao doente [mental] sincero interesse como de Cristo pela médico. Mas os humanos conselheiros,
deveria ser ensinado que é errado sus- a pessoa em perigo, que fará o acon- amigo, mãe, pastor, médico ou psicólo-
pender todo trabalho físico para recu- selhamento eficaz para convencer e go são para ajudar a pessoa como Jesus
perar a saúde.”14 vencer em caminhos seguros.” Aqueles – “[...] um Amigo que nunca falha,
As bases filosóficas dessas três que negligenciam este trabalho “terão ao qual podemos confiar todos os
modalidades do século 19, embora de dar conta por sua negligência por segredos do coração.”21 A cura mental
populares na época, têm-se mostrado aqueles que poderiam ter abençoado, e emocional como a cura física é um
fraudulentas. Quando Ellen White reforçado, apoiado, e curado.”18 processo que leva tempo. Ellen White
usou os termos “psicologia” e “ciência”, A própria experiência de Ellen revela um notável grau de sensibilidade
estava falando desses falsos e errôneos White como uma conselheira é uma para com, por vezes demorado, proces-
movimentos, e não das modernas defi- aplicação da presente declaração. so psicológico que requer apoio.
nições desses termos. Em uma ocasião, Embora não fosse formada em psi-
escreveu positivamente quando usou o cologia, ajudou muitas pessoas a Conclusão
termo “psicologia” em um sentido mais conquistar melhor saúde emocional e A abordagem terapêutica de Ellen
geral. “Os verdadeiros princípios da mental durante a sua vida. Para esses White para o tratamento do doente
psicologia encontram-se nas Sagradas dias, seus escritos fornecem um quadro mental centrou-se em uma aplicação
Escrituras. O homem desconhece o seu filosófico e teológico útil que apoia a de princípios. Ela apoiou o aconselha-
próprio valor. Age de acordo com o atividade “médico missionária”, assim mento e os métodos de cura natural.
seu inconfesso temperamento do cará- como chamou as áreas de psiquiatria e Sua abrangente rejeição às drogas
ter, porque não olha para Jesus, Autor psicologia. está baseada em errôneas filosofias de
e Consumador de sua fé.”15 Para Ellen Alguns bem intencionados cristãos cura que eram atuais em seus dias e
White, a correta “psicologia” tem uma têm sido relutantes em falar com pro- de produtos químicos perigosos de
visão elevada dos seres humanos, como fissionais de saúde mental temendo drogas que eram usadas. Suas declara-
é entendida à luz do dom de Jesus e do que Deus não queira que contem a ções contra a “psicologia” e a “ciência”
amor de Deus. Para ela, o objetivo dos outro ser humano seus pecados ou fra- estão relacionadas a sua oposição ao
estudos psicológicos foi como reconec- quezas. Pensam que procurando ajuda mesmerismo, frenologia, e à “cura pelo
tar a pessoa com Deus como o grande psicológica traem a fé, porque estão descanso”. Como conselheira, Ellen
médico da mente e da alma. procurando a ajuda de seres humanos White teve extensa interação com as
em vez da de Deus, mas Ellen White é pessoas ao longo de sua vida e tratou
Recebendo orientação psicológica clara de que há situações em que é cor- com diferentes tipos de disfunção
Embora tenha sido demonstrado reto e adequado confiar em outros.19 psicológica. Permaneceu simpática e
que Ellen White centrou a sua filosofia Ela foi uma frequente ouvinte e con- redentora, mesmo quando a condição
de saúde mental e cura em Deus, ela selheira para as pessoas com dores e foi particularmente censurável. Ela não
não excluiu o papel dos seres humanos perplexidades. Ela escreveu as seguintes tinha qualquer formação em saúde
em cooperação com Deus. Ela deixa palavras de conforto para um homem mental e viveu em uma época em que
claro que Deus pode usar conselheiros na Austrália. “Se os agentes humanos, essa ciência era ainda rudimentar. No
para ajudar a levar à cura aqueles com de quem nós poderíamos ser levados a entanto, foi capaz de ser extraordina-
doenças mental e emocional. “Os ser- esperar ajuda, faltam para fazer a sua riamente eficaz em ajudar muitas pes-
vos de Cristo são Seus representantes, parte, somos confortados no pensa- soas. Compreendeu que a devastação
instrumentos pelos quais opera. Ele mento de que as inteligências celestiais emocional e mental não era curada
deseja, por intermédio dos mesmos, não deixarão de fazer a sua parte. Elas instantaneamente e que uma pessoa
exercer o Seu poder de curar.”16 Em passarão por aqueles cujos corações poderia estar andando com Deus, mas
outra declaração semelhante, escreveu: não são tenros e dignos de compaixão, ainda assim necessitava de apoio e
“Por intermédio de Seus servos, desig- gentis e amáveis, e prontos para ali- orientação. Acreditava na necessidade
na Deus que os doentes, os desafortu- viarem as desgraças dos outros, e vão de intervenção direta por outros que
nados e os possessos de espíritos maus usar qualquer agente humano, que será eram capazes de aconselhar e orien-
hão de escutar Sua voz. Por meio dos tocado com as enfermidades, as neces- tar. Embora não tenha escrito sobre
instrumentos humanos, Ele deseja ser sidades, os problemas, as perplexidades o papel dos psiquiatras e psicólogos,
um Consolador como o mundo desco- das pessoas por quem Cristo mor- escreveu positivamente sobre o tipo de
nhece.”17 Ela ainda foi imperativa no reu.”20 Suas declarações sobre o papel ajuda que pode ser prestada por essas
aconselhamento. “Quando surge uma dos conselheiros humanos mostram áreas. Não podemos dizer exatamente

14 DIÁLOGO 21•1 2009


qual seria a sua reação à prática moder- Setembro de 1901 (datilografada), Carta 121, de responsabilidade no Escritório da Review
1901, EGWE. and Herald”, 13 de jan. 1894, Carta 70, 1894,
na dessas áreas, mas um estudo da sua 13. Ellen G. White para E. J. Waggoner, 22 de EGWE.
vida, escritos e atividades sugerem que Janeiro de 1893, Carta 78, 1893, EGWE. 19. Veja Mente, Caráter e Personalidade. 3. ed. Tatuí,
ela teria apoiado a prática psicológica 14. Ellen G. White. Testemunhos Para a Igreja. 1. ed. SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990. v. 2,
Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. p. 763-788.
cristã que estava em harmonia com p. 555. 20. Ellen G. White para J. R. Buster, 3 de Agosto
uma filosofia bíblica de cura. 15. ________. Mente, Caráter e Personalidade. 3. de 1894, Carta 4, 1894, EGWE.
ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990. 21. Ellen G. White. Testemunhos Para a Igreja. 1. ed.
v.1. p. 10. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000.
16. ________. O Desejado de Todas as Nações. 22. v. 1, p. 502.
Merlin D. Burt (Ph.D., Universidade ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004.
Andrews) é diretor do Centro de p .824.
17. ________. Ciência do Bom Viver. 10. ed. Tatuí,
Pesquisa Adventista Ellen G. White SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 10.
Estate Branch Office, Universidade 18. Ellen G. White para “Os irmãos em posição
Andrews, Berrien Springs, Michigan,
EUA. E-mail: burt@andres.ed. Uma
parte deste artigo for originalmente
apresentada no Simpósio sobre a Reconhecido pelo
Cosmovisão Cristã e Saúde Mental:
Perspectivas dos Adventistas do Sétimo no ensino da Língua Inglesa
Dia, de 28 de agosto a 2 de setem-
bro de 2008, Rancho Palos Verdes,
Califórnia.

REFERÊNCIAS
1. Ellen G. White. Mente, Caráter e Personalidade.
2. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1990. v. 2. p. 396.
2. ________. Fundamentos da Educação Cristã.
Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996.
p. 426.
3. ________. A Ciência do Bom Viver. 10. ed.
Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004.
p. 127.
4. ________. Mensagens Escolhidas. 1. ed. Tatuí,
SP: Casa Publicadora Brasileira, 1967 .v. 2
p. 452.
5. Selected Messages, (Washington DC: Publicadora
Review and Herald, 1958), vol. 2 p. 282 (nota
de rodapé); S. P. S. Edwards to F. D. Nichol,
24 de Novembro de 1957, Arquivo Pergunta e
Resposta 34-B-2, EGWE.
6. ________. Testemunhos para a Igreja. 1. ed.
Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000.
v. 1. p. 290.
7. Irving Kirsch, Steven Jay Lynn, e Judith W.
Rhue. “Introduction to Clinical Hypnosis”. In APRENDA INGLÊS
Handbook of Clinical Hypnosis. Washington,
DC: American Psychological Association, 1993, NA INGLATERRA
5; John C. Burnham. “Franz Anton Mesmer”,
International Encyclopedia of Psychiatry, Cursos Gerais Cursos de verão em Cursos de
Psychology, Psychoanalysis, and Neurology, ed. em Língua Inglesa Inglês Desenvolvimento
Benjamin B. Wolman. New York: Aesculapius 19 jan.-15 maio 2009 12 - 27 julho 2009 para Professores de
Publishers, 1977. v. 7, p. 213. 01 set. - 15 dez. 2009 Venha para o curso completo Língua Inglesa
8. Henry Alan Skinner. The Origin of Medical 25 jan. - 14 maio 2010 ou para um de seus módulos 24 julho-02 agosto
Terms. Baltimore, MD: Williams & Wilkins, • Módulo Um: 02 - 13 julho 2009
1949. p. 186. • Módulo Dois: 10 - 20 julho
9. Ellen G. White. Manuscrito. 131, 1906. • Módulo Três: 17- 27 julho
10. ________. Conselhos Sobre Saúde. 2. ed. Tatuí,
SP: Casa Publicadora Brasileira, 1991. p. 345.
Newbold College, Binfield, Bracknell, Berkshire, RG 42 4AN
11. Ellen G. White para Artur e Emma Sanderson, Inglaterra, Reino Unido. Telefone: 44 1344 407421
16 de Fev. 1902 (datilografada), Carta 20, 1902, Fax: 44 1344 407405 Website: www. newbold.ac.uk
EGWE. Endereço Eletrônico: england@newbold.ac.uk
12. Ellen G. White para A. Sanderson, 12 de

DIÁLOGO 21•1 2009 15


Pode haver separação
entre fé e ciência?
Gary B. Swanson
Um leigo argumenta que a ciência tem
suas raízes e florescimento no solo do
pensamento cristão, e que há muita coisa
em comum entre os dois.

No primeiro episódio de O How Religion Poisons Everything. Sam A Escritura, naturalmente, pressu-
Triângulo, uma minissérie de três par- Harris nivela a crítica de todas as cren- põe a existência de Deus. Sem a crença
tes feita para a TV, sobre o Triângulo ças – cristãos, muçulmanos, judeus em Deus, o estudo da Bíblia não é
das Bermudas, um personagem per- ou mórmons – e afirma: “É tempo de mais do que um exercício intelectual
gunta a um engenheiro com quatro expormos as religiões deste mundo de sabedoria literária.
pós-graduações: “Por que é que quase como enganadoras que são e seus fun- Mas a Bíblia afirma a pré-existência
sempre quanto mais educação uma dadores como mentirosos e oportunis- temporal de Deus: “No princípio era o
pessoa tem, mais está disposta a acei- tas que foram.”2 Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
tar novas ideias?” Mas a ciência, no entanto, como Verbo era Deus. Ele estava no princí-
Apesar de não dominar a gramáti- está representada hoje, nem sempre pio com Deus. Todas as coisas foram
ca formal – e correndo o risco de ser esteve em contradição com a religião. feitas por intermédio dEle, e, sem ele,
julgado como anti-intelectual – esse De fato, na tradição ocidental, a ciên- nada do que foi feito se fez.” (João
personagem tem um ponto de vista. cia teve seu início a partir da procura 1:1-3 – ARA).
Em um diálogo posterior, após uma cristã para uma maior compreensão de Deve existir umo artista antes que
discussão que houve sobre as causas Deus. o pincel toque a tela. Deve existir um
de fenômenos inexplicáveis, o mesmo “A ciência teve raízes e floresceu no músico antes que a cantata seja com-
personagem observa: “Todos usam a solo do pensamento cristão”, diz Alvin posta. Para criar o mundo, tinha que
palavra sobrenatural como se ela fosse Plantinga. “Foi alimentada pela ideia existir Deus, antes de Sua criação.
suja!” cristã de que nós e o mundo fomos E a humanidade deve aprender mais
Ele está se referindo ao conflito que criados pelo mesmo Deus, o mesmo sobre Deus por meio de Sua criação.
surgiu entre aqueles que têm fé e aque- Deus vivo, o mesmo ser consciente O salmista cantou: “Os céus decla-
les que se elegeram como porta-vozes com intelecto, entendimento e razão. ram a glória de Deus; o firmamento
da ciência. E não somente fomos criados por proclama a obra das Suas mãos. Um
Atualmente, alguns defensores con- Deus, fomos criados à Sua imagem. E dia fala disso a outro dia; uma noite
vincentes da evolução, por exemplo, a parte mais importante da imagem o revela a outra noite. Sem discurso
tornaram-se cada vez mais agressi- divina em nós é a habilidade de nos nem palavras, não se ouve a Sua voz.
vos em sua denúncia da religião. Os assemelharmos a Deus ao termos o Mas a Sua voz ressoa por toda a terra,
descarados argumentos de muitos conhecimento do mundo que nos e as Suas palavras, até os confins do
pensadores e escritores que procuram rodeia, de nós mesmos, inclusive do mundo” (Salmos 19:1-4 – NVI).
representar a ciência têm, por vezes, próprio Deus.”3 Ao que o apóstolo Paulo acrescen-
tomado todas as características de um A partir desse tipo de pensamen- tou: “Pois desde a criação do mundo
insulto intelectual. to surgiu, no Ocidente, o embrião os atributos invisíveis de Deus – Seu
Richard Dawkins com desdém – e do que chamamos hoje de ciência. eterno poder e Sua natureza divina
publicamente – refere-se à religião Originalmente, era um instrumento – têm sido vistos claramente, sendo
como “os fiéis radicais imunes a qual- que tinha como objetivo nos aproxi- compreendidos por meio das coisas
quer argumentação”.1 Christopher mar do Criador ao se concentrar em criadas, de forma que tais homens
Hitchens dá o seguinte título a um um aprendizado maior de nós mesmos sejam indesculpáveis” (Romanos 1:20
dos seus livros: God Is Not Great: e do mundo em que vivemos. – NVI). Deus criou a humanidade

16 DIÁLOGO 21•1 2009


com a capacidade de aprender cada século XXI, também com espírito de uma questão de segundos. Os dados
vez mais sobre Ele através de meios intolerância, representantes da ciência mostram claramente que ela não teve
nos quais Ele se revela a Si mesmo. querem erradicar tudo que consideram quase tempo suficiente para viven-
Um dos mais notáveis é Sua criação, o heresia. ciar a experiência como a descreveu.
mundo natural. Os devotos da evolução se tornaram Assim, ironicamente, Arrington, uma
Ellen White afirma: “A natureza militantes em suas tentativas de impe- fervorosa adepta da ciência, encontra-
está cheia de lições do amor de Deus. dir quaisquer alternativas de explica- se diante de uma espécie de investiga-
Bem compreendidas, estas lições nos ção das origens serem apresentadas nos ção, na qual tenta defender a experiên-
conduzem ao Criador. Elas apontam conteúdos escolares. Alister McGrath cia pessoal, apesar da contradição que
da natureza para a natureza de Deus, descreve “o fundamentalismo ateu”7 aparece na instrumentação.
ensinando daquelas simples, santas como tendo declarado guerra direta A equipe diante da qual Arrington
verdades que purificam a mente, contra o transcedente. é interrogada, em última instância,
trazendo-as em estreito contato com Em outubro de 1992, a National rejeita sua experiência, chamando-a “a
Deus. Estas lições enfatizam a verdade Aeronautics and Space Administration estrada de Damasco” porque não há
que a ciência e a religião não podem iniciou uma busca durante uns 10 evidências empíricas a não ser a pala-
estar divorciadas.”4 Em outro lugar, anos por inteligência extraterrestre vra dela. Mas o filme deixa em aberto
escreve sobre o que chama “a harmo- (projeto Seti). Antes disso, já tinha a ideia do transcendente.
nia da ciência e da religião bíblica”.5 havido 50 dessas tentativas por diver-
No entanto, a maioria das pessoas sos grupos científicos desde 1960. O abismo que não existe
que afirma representar a ciência hoje Quando a Nasa se envolveu, utilizan- No final das contas, o abismo entre
em dia tem de fato defendido a sepa- do uma coleção mundial de maciços fé e razão não existe na relação reli-
ração da fé. Elas, na realidade, tentam radiotelescópios, conseguiu 10.000 gião-ciência. Os verdadeiros cientistas
impedir os que têm fé de se expressa- mais frequências, 300 vezes mais irão admitir que a sua base de crença
rem abertamente. Isso é muito pare- precisas, em comparação a tentativas não pode ser mais provada do que a
cido com um pedido de divórcio – e anteriores. dos crentes no transcendental. Só que
com uma ordem de proibição. Essencialmente, o projeto Seti a maioria dos mais influentes auto-
O Public Employees for enviou para o cosmos a mensagem: nomeados porta-vozes da ciência de
Environmental Responsibility, um con- “Tem alguém aí?” E então, ouviu com nossos dias acredita em naturalismo:
sórcio de cientistas e ambientalistas, atenção e documentou as respostas. a ideia de que todos os fenômenos
por exemplo, tem protestado diante da Tudo soa muito como ficção científi- podem ser explicados pelas causas
persistência do Serviço Nacional dos ca. É ciência, não é ficção. naturais, em oposição às sobrenatu-
Parques dos EUA em colocar à venda Curiosamente, no entanto, a busca rais. Aqui foi usada a palavra acredita
uma descrição criacionista da for- por inteligência extraterrestre está no porque eles não podem provar o natu-
mação do Grand Canyon no Centro centro do enredo do livro de ficção ralismo cientificamente. Eles têm fé de
de Visitantes de lá. Esse consórcio se científica Contact de Carl Sagan do que seja verdade.
autodenomina como “assistentes fede- qual foi feito um filme em 1997. Entre Alvin Plantinga nos lembra de que
rais e funcionários públicos estaduais outros temas provocantes, a versão do “o naturalismo e a evolução juntos
[...] para trabalhar como ‘anônimos filme explora a relação entre fé realmente minam a ciência, [...] por-
ativistas’ e assim, este órgão deve e ciência. que a combinação deles torna impos-
enfrentar a mensagem, e não o mensa- O personagem central, Ellie sível ver como poderiam surgir seres
geiro”.6 Esse grupo exige que o público Arrington, uma pesquisadora líder de humanos como nós que temos a real
seja protegido da mensagem de que um Seti – crente fervorosa na ciência, capacidade para entender o mundo
há uma explicação alternativa à ciên- como se fosse religião – é transporta- que nos rodeia de uma maneira pro-
cia evolucionista para a formação do da em um experimento de pesquisa funda e audaz. O naturalismo e a evo-
Grand Canyon. científica em algum lugar distante no lução juntos tornam isso impossível de
Curiosamente, na histórica batalha cosmos. Lá, comunica-se amplamente compreender”.8
entre a fé e a ciência, as duas têm papéis com outros seres em um mundo que Aqueles que acreditam na inspiração
invertidos. A Inquisição da Idade foi construído para simular a Terra, e validade das Escrituras como uma
Média é uma questão comprovada, pois assim ela se sentiria confortável. revelação do caráter de Deus verão sua
um fato histórico bem documentado, Quando retorna à Terra, no entanto, crença confirmada em suas observa-
e aqueles que questionaram as orto- de acordo com a instrumentação cien- ções da natureza. No cintilante brilho
doxias da fé foram tratados de forma tífica que registrou os dados do expe- da aurora boreal, na delicada fragrân-
cruel e desumana. Mas agora, no rimento, ela tinha estado lá apenas cia de uma gardênia, no aplauso do

DIÁLOGO 21•1 2009 17


trinar de um pássaro, no espantoso cia do design inteligente que só pode REFERÊNCIAS
funcionamento do corpo humano ser ignorada por aqueles que teimosa- 1. Richard Dawkins. Deus, um Delírio. New
York: Houghton Mifflin Co., 2006. p. 23.
podem perceber a intenção inequívoca mente fecham seus olhos para isso.”9 Richard Dawkins. Deus, um delírio. São
de um amoroso Deus. Cada vez mais, cientistas e filósofos Paulo: Companhia das Letras, 2006.
“Mas as passagens bíblicas nos de renome mundial estão abrindo 2. Disponível em: <http://www.youtube.com/
user/AntiChrist67> Acessado em: 06 dez.
conduzem um passo à frente. Elas a mente para a possibilidade, pelo 2008.
também sugerem que os não cren- menos, de que a ciência e a filosofia 3. Alvin Plantinga. Disponível em: <http://
tes, ao olharem a natureza, obterão não necessitam ser exclusivas quanto www.calvin.edu/january/2000/plant.htm>
Acessado em: 03 dez. 2008.
algum vislumbre de um Poder divino à religião. Em 2004, um artigo da 4. Ellen G. White, Manuscrito 67, 1901.
que projetou e fez tudo o que há. Associated Press relatou: “Um professor 5. Ellen G. White, Testimonies for the Church.
No mundo atual, muitos fecham os de filosofia britânico, que tem sido Mountain View, Califórnia: Publicações
Pacific Press Assn., 1948. v. 4. p. 274.
seus olhos a esse aspecto. Eles têm os um líder campeão do ateísmo há mais 6. Disponível em: <http://www.peer.org>
pensamentos evolutivos embebidos e de meio século, mudou a forma de Acessado em: 05 fev. 2007.
7. Alister E. e Joanna Collicutt McGrath. The
querem explicar tudo o que existe em pensar.”10 A história segue contando Dawkins Delusion? Downers Grove, Ill.:
termos de oportunidade e necessidade. que Anthony Flew havia recentemente IVP Books, 2007. p. 11. No Brasil, o título
Porém, cada vez mais, os estudiosos afirmado acreditar que as evidências é O Delírio de Dawkins. São Paulo: Mundo
Cristão, 2007.
estão admitindo que há tanta evidên- científicas tinham de permitir mais 8. Plantinga, op cit., fornecido em itálico.
do que meras respostas materialistas. 9. Reinder Bruinsma. Walking the Walk: The
A verdadeira ciência não é inimiga Christian Life. Lição da Escola Sabatina para
os adultos, 26 abr. 2009.
de Deus. Ele a introduziu como um 10. Anthony Flew. There Is a God: How the
Let’s Talk! válido e declarado meio de revelação
dEle a nós. Para o verdadeiro cientista,
World’s Most Notorious Atheist Changed His
Mind. Nova York: HarperCollins, 2007,
p. vii.
Você gostaria de fazer um comentá- sobrenatural não é uma palavra suja. O
rio ou formular perguntas ao Pastor Jan divórcio entre fé e ciência também não
Paulsen, presidente da Igreja Adventista do foi consumado.
Sétimo Dia? Você pode fazê-lo através do
site:
http://www.letstalk.adventist.org Gary B. Swanson (M.A.,
Universidade de Loma Linda) é dire-
Diálogo on-line
O objetivo do site é estimular a comu- tor-associado do Departamento
nicação entre os jovens adventistas de Agora você pode ler on-line os melhores
da Escola Sabatina e Ministério artigos e entrevistas das edições passadas
todo o mundo e o gabinete do Presidente
da Associação Geral. Nesse mesmo você
Pessoal da Associação Geral dos da Diálogo.
também encontrará links úteis e bancos de Adventistas dos Sétimo Dia em Visite nosso website:
dados acessíveis, referentes a perguntas e Silver Spring, Maryland, EUA.
respostas sobre muitos tópicos. Verifique! E-mail: swansong@gc.adventist.org http://dialogue.adventist.org

Pontius Puddle
Não vejo como Como você Bem, primeiro houve uma grande Oh, como a história da
alguém pode pensa que explosão. Ninguém sabe o que a criação continua?
acreditar em algo as pessoas causou, mas de alguma maneira
tão anticientífico vieram à partículas de matéria ganharam vida
como a história existência? e se tornaram pequenos organismos
da criação na como rabiscos. Então eles começaram
Bíblia! a criar pernas...

18 DIÁLOGO 21•1 2009


PERFIL
Francisco Badilla Briones
Diálogo com um artista adventista e
filósofo estético chileno
Entrevista concedida a Ruben Sanchez-Sabaté

Ele fala sem palavras. Ele acaricia Atualmente, Badilla ensina pintura
sem mãos. Ele indaga sem perguntas. na Escola de Artes Armando Dufey
Ele é um pintor. Suas pinturas têm Blanc, em Temuco, trabalhando tam-
o poder de estimular no espectador bém em diferentes pinturas sob enco-
uma combinação de ideias, sentimen- menda, e está envolvido na ilustração
tos e emoções. Em resumo, ele toca de um livro de poesias. Ele está, além
nosso espírito. Ele é Francisco Badilla disso, se preparando para pintar um
Briones, pintor chileno cuja arte mural de 12 m para a principal igreja
materializa a mensagem do Evangelho adventista do sétimo dia de sua cidade
numa linguagem estética contempo- natal. Recentemente, criou um site
rânea. (http://www.franciscobadilla.com), no
Nascido em 1974, no sul do Chile, qual é possível conhecer melhor seu
Badilla começou a usar o pincel quan- trabalho.
do era ainda menino. Mais tarde,
como estudante universitário, comple- ■ Por que você escolheu a pintura,
tou o curso básico bianual em Artes quando a tradição protestante e a
na Universidade Católica de Temuco, cultura adventista do sétimo dia geral-
Chile, e depois obteve a licenciatura mente preferem a música, e dificilmente
plena em artes visuais. Depois, com- promovem a pintura como linguagem
pletou sua licenciatura em Belas Artes estética através da qual alguém pode se
com especialização em pintura. Sua relacionar com Deus?
tese foi sobre a simbologia da cruz Comecei a desenhar ainda criança,
através da história da arte. com cerca de 4 anos. Tive interesse
Os esforços de Badilla para cap- por diversos temas na infância, tais
turar a espiritualidade em seu tra- como soldados e exércitos, animais,
balho proporcionaram-lhe amplo músicos, esportes etc. Assim, gastava a
reconhecimento e muitos prêmios. maior parte do dia desenhando e pin-
Também pôde pintar dois murais em tando. Naquele tempo, não era adven-
estabelecimentos de ensino no Chile, tista do sétimo dia. Quando conheci o
conseguindo ampla cobertura da adventismo, já adolescente, desenvolvi
mídia por suas exposições. Um deles, o gosto artístico pela pintura e pelo
chamado Permanence, abriu espaço desenho. É verdade que a tradição
para um longo artigo na revista cul- adventista considera a música como
tural Kimelchen, que descreveu Badilla realmente importante no culto, mas
como um artista capaz de criar tanto penso que Deus pode usar os diferen-
pinturas figurativas quanto abstratas, tes talentos quando os dedicamos a
e cuja obra inspirada em Jesus Cristo Ele, e decidimos pô-los sob Sua dire-
expressa suas reflexões espirituais. ção. Em minha visão, a pintura pode

DIÁLOGO 21•1 2009 19


ser um canal através do qual posso pictórica contemporânea. Esse objetivo contribui para a adoração a Deus.
externar minhas questões e visões com me tem feito pintar a paixão de Jesus Também temos de nos esforçar para
respeito a Deus. em quadros nos quais apenas faço uso apresentar artes que reflitam quali-
Em relação ao preconceito adven- da pintura e acrescento alguns objetos dade técnica, expressional e simbó-
tista, que olha para a música como como traves, pregos, espinhos, entre lica. A arte deve ser uma linguagem
estando perto de Deus e a pintura outros, que possam de alguma forma que comunique conteúdo cristão.
como distante dEle, posso dizer que nos relacionar ao evento. Por outro Antigamente, as imagens eram con-
o próprio Deus é um Grande Pintor lado, devo dizer que o estado social sideradas as “letras dos iletrados”,
– basta olhar a beleza, a riqueza e a dos assuntos na América Central e do mas agora elas têm de ser simbólicas,
variedade na criação. Sul tem sido uma fonte de inspiração contemporâneas, poéticas e capazes
para mim. Pude transformar eventos de ampliar os sentidos para o conheci-
■ Você escreveu uma tese para a obten- da vida comum em metáforas das mento de Deus.
ção da licenciatura sobre a conexão ideias bíblicas, conforme refletidas Precisamos desenvolver uma arte
entre o puritanismo e a pintura. O que em minhas pinturas O Semeador ou A que seja um canal de compartilhamen-
descobriu? Escolha. Essas pinturas são figurativas to da mensagem de Cristo. Penso que
Os puritanos geralmente conside- e expressam minha transição do abs- falta à nossa igreja educação em artes
ravam as imagens pecaminosas. Arte trato para o realismo. visuais e, consequentemente, em apre-
puritana é definida como purismo ciação estética. Se as igrejas tivessem
anicônico, uma vez que para eles as ■ Quem o influenciou como artista? obras de arte contemporâneas, seriam
imagens eram de natureza impura. A Como você se definiria? meios de educação visual e, o que é
Reforma de Lutero também rotulou Na arte religiosa contemporânea, mais importante, poderiam se tornar
de heresia todas as imagens que repre- gosto das obras de George Rouault, uma experiência estética que reforçasse
sentavam a morte de Jesus. Assim, um expressionista francês, e de a alegria do culto a Deus.
os países que aceitaram a Reforma William Congdon, expressionista abs-
tiveram um tipo de arte sem qualquer trato norte-americano. Ambos desen- ■ Fale-nos sobre seu processo criativo.
representação de santos ou virgens, ou volveram uma arte cristã de códigos Como você sente que foi inspirado a
mesmo de Jesus. A arte estava voltada fortes, e traços e ambientes violentos. fazer uma pintura?
para paisagens, cenários tradicionais, Nesses artistas, a mensagem de Cristo Inspiração não vem espontaneamen-
objetos, natureza morta etc. Os artis- é pintada clara, honesta e belamente. te. Precisa ser buscada. Sinto-me ins-
tas tinham de pintar justamente o Amo a abstração, mas também gosto pirado por Deus quando procuro por
que seus olhos eram capazes de ver. da arte figurativa e da textura. Meu isso e consigo pensar nas ideias sobre
Era-lhes vedado fantasiar com imagens trabalho é uma combinação de abstra- Jesus. Às vezes, faço alguns esboços e
que podiam corromper alma e mente. ção, textura e formas. Não posso me escrevo algumas ideias e reflexões com
Mais tarde, nesses países, apareceram colocar dentro de uma única tendência respeito à Palavra de Deus. Assim,
novos e modernos estilos artísticos, artística contemporânea. dou início ao processo criativo que
ligados à mente e ao espírito em vez frequentemente termina numa nova
de aos sentimentos e à sensualidade, ■ Onde você gostaria de ter suas pintu- pintura. Ser artista é ser humilde.
como se dá com o conceito de arte ras exibidas? Significa deixar que Deus nos use
abstrata e minimalista. Essa é uma Em qualquer lugar onde possam como um instrumento em Sua obra.
razão por que sugiro em minha tese o levar uma mensagem sobre Deus e Gosto de pensar em mim mesmo
uso combinado de vários elementos, sejam capazes de alcançar espectadores como um canal de expressão estética
a fim de criar metonímias visuais que indagativos. Também gostaria de che- de Sua mensagem.
simbolizem a morte de Cristo. gar a frequentadores de galerias de arte
ou museus, é claro, e em lugares reco- ■ Conte-nos sobre algumas de suas
■ Mas em suas pinturas podemos tam- nhecidos onde possam mostrar minhas obras. Em seu trabalho Espaço e Tempo,
bém observar representações claras de pinturas, de modo que sua exposição posso ver a encarnação (http://www.
Jesus. intensifique sua dimensão, como esco- franciscobadilla.com/imagenes/espacioy-
Correto. Dentro da cultura adven- las, universidades e igrejas. tiempo.jpg).
tista, lidar com o corpóreo é muito Isso está correto, é um símbolo de
complicado, mas como um “artista ■ Você julga apropriado que nossas igre- Cristo. Representa Jesus em Sua forma
adventista”, questiono a iconografia jas exibam obras de arte? corporal e em Seu papel de mediador
protestante, mas desejo explorar seus Por que não? Mas precisamos ser entre Deus e o homem. Hegel disse
limites e descobrir uma linguagem seletivos. Nem toda obra de arte que a arte é uma intermediária entre

20 DIÁLOGO 21•1 2009


a matéria e a ideia. E em minha dis- Jesus é apenas história: um evento his- ■ Como o símbolo contribui com nossa
posição de explorar essa definição, tórico e relevante que deu origem ao percepção de realidade?
tenho criado uma pintura com muita pensamento cristão. Creio que nossa Um símbolo nos dá identidade. Ele
“carnalidade”, mas, ao mesmo tempo, sociedade não quer ver Jesus na cruz apela para o que somos. Aponta para
abstrata e simbólica. ou de outro modo qualquer. Até certo Cristo que morreu por nossos pecados,
ponto, isso é desconfortável para eles, o que deveria ser suficiente para nos
■ Como a arte pode nos ajudar a trans- embora realmente precisem dEle. mostrar qual é nossa realidade. Temos
cender as limitações de espaço e tempo, de chegar ao ponto em que decodi-
de forma que tenhamos um vislumbre ■ Você não acha que Jesus é muito fiquemos o símbolo da cruz na vida
dos conceitos que unicamente pertencem católico e ocidental? Você é influenciado diária, para aumentar nossa percepção
a Deus, tais como eternidade, onisciên- pelo fato de ter estudado numa escola de realidade como filhos de Deus que
cia, onipotência e onipresença? católica? dEle necessitamos.
Mediante a apreciação da arte, a A questão é que não temos uma ico-
meditação e a manutenção de um nografia protestante. Então, é natural
diálogo com a obra artística. Para que que uma imagem da crucifixão de Ruben Sanchez-Sabaté tem duas
isso aconteça, é necessário uma Jesus tenha ligações com as pinturas graduações, Letras e Jornalismo,
experiência estética – visual nesse católicas. na Universidade Pompeu Fabra em
caso – que permita nos regozijarmos Barcelona, Espanha (Humanidades
em Deus. Em linguagem simbólica ■ O que vejo é que sua obra Jesus, ao e Jornalismo). Atualmente, ela
e polissêmica, a arte abre nossa per- contrário das outras, transmite muita trabalha como jornalista freelancer.
cepção para conhecer melhor a Deus. paz. Para pintar essa paz, é essencial Recentemente, recebeu uma bolsa
Quando ouvimos uma peça musical senti-la em primeiro lugar? para um mestrado em jornalismo
na igreja, desfrutamos a percepção Bem, como pintor, tenho de estar e religiões em Nova York. E-mail:
de que sua mensagem foi composta em paz, mas, ao mesmo tempo, preciso rubensabate@yahoo.com
para louvar e adorar a Deus. A mesma estar inquieto, sentindo a necessida-
coisa deveria acontecer com as artes de-de Deus. A fim de pintar Cristo, é Francisco Badilla Briones
visuais. importante sentir aquela paz que per- E-mail: francisobad@gmail.com
mite tomar decisões durante a pintura,
■ Por que você dividiu a pintura em confiando em Deus para guiar meu
duas esferas? trabalho de forma que alcance e toque
A pintura preparada como um o coração dos espectadores.
díptico representa dois eventos dife-
rentes na vida, morte e ressurreição de ■ Em sua obra Símbolo e Realidade,
Atenção,
Cristo. O formato pequeno no lado onde está o símbolo e onde, a realidade? profissionais
direito da pintura é morte, com cores
que simbolizam carnalidade e sangue.
(http://www.franciscobadilla.com/ima-
genes/simboloyrealidad.jpg) adventistas!
O da esquerda simboliza a ressurreição Nesse políptico [quadro pintado em Se você possui e-mail e um diploma
de Cristo, onde o espaço branco é o vários painéis], o símbolo e a reali- universitário em qualquer campo acadê-
Céu, que se abre para receber seu vito- dade estão entrelaçados. A cruz é um mico ou profissional, nós o convidamos
rioso Rei, e também – graças ao sacri- símbolo não representado de modo para fazer parte da Rede de Profissionais
fício de Cristo – para que tenhamos convencional, mas como a imagem de Adventistas (RPA). Patrocinado pela
Igreja Adventista, esse registro global
acesso a Deus. O uso de texturas táteis um homem carregando uma viga. Isso
eletrônico assiste instituições e agências
reforça a sintaxe do significado da quer dizer que a cruz é um símbolo, participantes a fim de localizar candidatos
natureza humana de Cristo, algo con- mas é também a realidade aqui e agora para posições no ensino, administração,
testado pelos iconoclastas. Nesse caso, para cada um de nós. Quando pen- área de saúde e pesquisa, e consultores
porém, as duas teofanias são expressas samos no Calvário, precisamos ver a especializados e voluntários para tarefas
sem imagens. nossa realidade. Os formatos à direita missionárias breves. Coloque gratuita-
simbolizam a Trindade – Deus, o Pai, mente sua informação profissional dire-
■ Com referência à pintura Jesus, que sig- acima; Jesus, no centro; e o Espírito tamente no website da RPA: http://apn.
nificado tem o Cristo crucificado em nossa Santo, abaixo. Para a realidade pene- adventist.org. Anime outros profissionais
sociedade pós-moderna? (http://www.fran- trar em nós, vai depender de como adventistas a registrar-se!
ciscobadilla.com/imagenes/jesus.jpg) relacionamos o poder e a graça da
Para nossa sociedade pós-moderna, Trindade.

DIÁLOGO 21•1 2009 21


PERFIL
Cynthia Prime
Empresária adventista com o coração
voltado para os órfãos do HIV/Aids em
Suazilândia
Entrevistada por Heide Ford

encontrou alegria ao se doar aos do lugar, mas também o porquê de


jovens, ao Ministério das Mulheres e percorrermos um trajeto. Ele tem um
ao emprestar a sua voz aos sem influ- lugar para cada dom e habilidade, para
ência. Por quase 10 anos, apresentou o qual nos conduz no momento certo.
seminários capacitando mulheres e
meninas adolescentes e organizou ■ Fale-nos sobre a relação entre a
conferências abordando a violência empresa de perfumes e sua missão
doméstica. Fundou um dos primeiros pessoal.
centros de acolhimento, no Lake Union Sempre amei perfumes. O senso
Conference, para mulheres adventistas olfativo é tão importante quanto os
Cheia de energia, divertida e cari- maltratadas. outros, mas grandemente subestimado.
nhosa, Cynthia Prime é uma visionária Após vários anos de uma bem- Nesse negócio, houve oportunidade
com um alcance para o que é novo sucedida carreira como consultora de de conhecermos pessoas que de forma
e desafiante. Ela se sente à vontade gestão, Cynthia, com seu esposo, fun- geral não conheceríamos, e deixamos
com ricos e glamorosos e, do mesmo dou uma empresa de perfumes cujos que elas vissem Cristo em nossa vida.
modo, quando está abraçando os produtos são vendidos por renoma- Tenho o sonho de ver essa empresa ser
órfãos da Aids. Nascida em Trinidade dos varejistas tais como Bergdorf usada para inspirar e outorgar poder.
e Tobago, Cynthia sonhava em se tor- Goodman, de Nova Iorque e Harrods, Gostaria de vê-la criando trabalhos
nar médica para cuidar de doentes em de Londres. em lugares como a África subsariana
algum lugar remoto, uma esquecida Mais recentemente, a paixão de onde o sexo se tornou uma mercado-
parte do mundo. Após terminar o Cynthia pelos menos afortunados a ria negociável porque se esgotaram as
ensino médio, mudou-se para Nova levou à África para trabalhar entre os opções.
York para começar Enfermagem com órfãos do HIV/Aids. Junto com Linda
o plano de se tornar uma médica. Seu Schultz, sua companheira de ministé- ■ Quando surgiu o interesse pelos órfãos
sonho terminou rapidamente quan- rio, Cynthia está dirigindo o Seeds of da Aids?
do descobriu que não suporta ver Hope Outreach (SOHO), uma orga- Aconteceu há três anos. Fui con-
sangue, e também porque se identifi- nização sem fins lucrativos dedicada vidada para fazer uma palestra em
cou intensamente com as dores dos a semear esperança, ao desenvolvi- um acampamento em Suazilândia,
pacientes. mento dos sonhos, e a transformar o na África meridional. Nesse local, há
Assim, Cynthia se graduou em futuro de órfãos, crianças e mulheres uma das mais altas taxas de infecção
inglês, e em rádio e TV. Por alguns em situação de vulnerabilidade. de HIV/Aids do mundo. Em uma
anos, trabalhou para um jornal comu- população de um milhão, há 120.000
nitário, como repórter; como rela- ■ Por que seu sonho de infância foi tão órfãos e crianças vulneráveis. Antes
ções públicas e como consultora de diferente de sua jornada profissional? mesmo de minha visita, o que aprendi
gestão de carreira executiva. Creio que Deus nos fez sonhadores. tocou uma corda sensível em mim.
Depois que se casou com Philip Ele nos prepara, nos conduz passo a Parecia que meu sonho de infância
Prime, um químico, o casal se mudou passo ao longo de um caminho de seria realizado, mas de uma maneira
para Indianápolis. Eles criaram três sonho, até que um dia o maior objeti- diferente. Senti-me chamada a curar
crianças – uma filha e dois filhos vo de nossa existência se realiza. Nesse corações em vez de corpos. A pri-
adotivos, adolescentes em situação momento, reconhecemos não somente meira vez que um grupo de 1.000
de risco. Ativa em sua igreja, Cynthia o porquê de estarmos em determina- órfãos ficou diante de mim, soube que

22 DIÁLOGO 21•1 2009


minha vida nunca mais seria a mesma. ■ Apesar das limitações de uma peque- estudantes podem ser defensores em
Renunciei à segurança do meu traba- na ONG, você formou uma rede forte. seu campus estimulando a consciência
lho e mergulhei de cabeça. Aprendi Fale-nos sobre as parcerias estabelecidas. e gerando apoio. Não queremos apenas
o significado de caminhar pela fé, e Os departamentos de Agricultura e doações, apesar das necessidades da
Deus tem surgido repetidamente para Engenharia da Universidade Purdue ONG SOHO para manter os progra-
demonstrar o Seu poder. O trabalho em Indiana têm participado como mas em andamento. Necessitamos de
avança somente nas asas da oração. parceiros, bem como o departamen- pessoas que se tornem uma voz para
Você não faz o que faz para ser apre- to de Psicologia da Universidade aqueles que não têm influência. Visite
ciado ou receber gratidão. Você o faz Nova Southeastern na Flórida. nosso site (http://www.seedsofhopeou-
porque não há outra opção. Recentemente, oito estudantes de treach.com) e entre em contato.
. doutorado e seus professores foram à
■ A ONG Seeds of Hope Outreach Suazilândia e fizeram um treinamento ■ Quais são os próximos planos?
(SOHO) nasceu a partir de um convite? para instrutores em situações de crise e Começaremos um programa espe-
Sim, como planejei ir à Suazilândia, prevenção de suicídios. Algumas esco- cial para as famílias chefiadas por
o escritório da Adra de lá me pediu las públicas também estão envolvidas. crianças, pré-adolescentes com 17 anos
para ajudar com roupas e alimento A Universidade Andrews, no de idade. O Public Broadcasting Service
a milhares de crianças. Diante desse Michigan, tornou-se, faz pouco demonstrou interesse em fazer um
desafio, disse que se os órfãos não tempo, sócia em uma fazenda de 27 documentário. É um longo caminho,
comessem, eu também não comeria. hectares que fornecerá alimentos e mas no final, Deus vai perguntar a
Acabara de ser sensibilizada! Danny proverá apoio no trabalho para Deus todos sobre as ovelhas que estão sem
Shelton, da rádio 3ABN, me viu em Suazilândia onde os níveis de proteção e provisão devido à Aids. Oro
cambaleando sob a imensidão de renda caíram e muitos empregados para que haja muitos para apresentar
necessidades e me fez uma pergunta morreram devido à Aids. A ONG a Jesus. Estou também planejando
que jamais esqueci: “De quem é esse SOHO também está colaborando com publicar um livro para encorajar as
trabalho, Cynthia?” Danny foi um o desenvolvimento de um programa pessoas, especialmente as mulheres, a
dos primeiros doadores que ajudou a de prevenção ao HIV/Aids, junto a expandir os limites e a arriscar-se por
começar esse ministério. As doações uma aliança formada por prefeitos de Deus. Mudar o mundo não é o tra-
daquelas primeiras entrevistas para Suazilândia. balho de celebridades, mas de pessoas
a rádio foram o que mantiveram o comuns por meio das quais Deus dese-
trabalho, que continuou crescendo no ■ Ouvimos muito sobre as vítimas de ja fazer um trabalho extraordinário.
primeiro ano. Aids. Como podemos evitar nos tornar-
mos insensíveis as suas necessidades?
■ Para cumprir esse chamado, o que Para começar, precisamos reconhe- Heide Ford é a diretora do
tem feito? cer que os que sofrem com a Aids Women’s Resource Center
Uma coisa que os órfãos aprendem não são uma estatística, são pessoas. na Universidade La Sierra em
cedo na vida é que não são bem-vin- Crianças, pessoas jovens, que se não Riverside, Califórnia. A missão
dos. Há um estigma associado com a tivessem a doença poderiam ter mui- do WRC é profissional, para o
sua condição que causa dor e rejeição, tos sonhos. Cada criança é a face de desenvolvimento de liderança das
uma realidade diária. Sofrem a falta de Cristo diante de nós. Cada um de mulheres e apoio para a justiça
coisas básicas como alimento, moradia nós deve usar o que Ele nos deu para de gênero na Igreja Adventista
segura, vestuário e são presa fácil do fazermos o melhor que podemos. Uma do Sétimo Dia. Site: http://www.
abuso. Os SOHO Welcome Places, cen- vez que o comprometimento se apode- adventistwomenscenter.org. E-mail:
tros com múltiplos propósitos, ajudam ra de nós, como podemos nos tornar hford@lasierra.edu
crianças. Ali, elas são alimentadas, insensíveis?
espiritualmente encaminhadas, educa- E-mail de Cynthia Prime:
das e adquirem habilidades para a vida ■ Aos leitores que se interessarem cprime2000@aol.com
necessárias à sobrevivência na socie- em ajudar, como eles poderiam estar Site da ONG SOHO: http://www.
dade. Estimulamos a iniciativa por envolvidos com a ONG SOHO? seedsofhopeoutreach.com
meio de várias habilidades vocacionais, O voluntarismo é um bom começo.
oferecendo cursos de capacitação, tais Necessitamos de músicos, professores,
como costura, carpintaria, soldagem, pessoal da área médica, e profissionais
tecelagem e agricultura. de esportes e educação física etc. Os

DIÁLOGO 21•1 2009 23


LIVROS
Armageddon at the Door contexto das sete últimas pragas de Apocalipse 16, e cria um
Por Jon Paulien (Hagerstown, pano de fundo para a interpretação do Armagedom (que está
Maryland: Autumn House, 2008. relacionado à sexta praga). O capítulo sete trata do desafio
223 p.; brochura). exegético de interpretar certas especificações proféticas do
Armagedom em Apocalipse 7.
Resenha de Ikechukwu Oluikpe Os capítulos oito e nove tratam das principais confede-
rações envolvidas na guerra do Armagedom, as quais são
identificadas com base na exegese de Apocalipse 12-17 feita
pelo autor. Os dois capítulos finais do livro enumeram os
eventos principais do Armagedom, enquanto o capítulo doze
contém reflexões sobre as implicações da visão do estudo do
Armagedom no tempo presente, começando com a guerra
contra o terror e concluindo com os princípios espirituais
O Armagedom foi assunto de muita discussão em tempos básicos pertinentes à preparação do leitor para o que está
recentes, especialmente à luz dos conflitos militares interna- por vir.
cionais das maiores potências do mundo. Tais discussões e Embora o livro trate do Armagedom tendo como fundo
o interesse despertado na menção bíblica desse conflito, no as atuais discussões das guerras históricas, a natureza pastoral
contexto do desfecho dos eventos finais, demandam uma e espiritual do livro não deve ser perdida de vista. Por exem-
clara compreensão do que significa Armagedom. plo, o autor declara que o propósito da profecia não é satis-
Jon Paulien, decano da School of Religion da Universidade fazer a curiosidade, mas ensinar-nos como viver hoje (p. 166,
de Loma Linda, ex-professor de interpretação do Novo 172, 193). Paulien continua dando ênfase ao ponto de que o
Testamento na Universidade Andrews e um autor prolífico, Armagedom é uma luta ou batalha mental (p. 113-115, 118,
propõe um estudo sobre a visão bíblica do Armagedom, 120, 141, 170, 193), e que Deus está no controle dos even-
investigando o significado do termo dentro do contexto do tos finais, mesmo quando eles parecem estar escapando de
livro do Apocalipse e do restante do Novo Testamento. Ele o Sua mão (p. 94, 132, 150, 167, 194-196). Ele também nos
faz em 12 capítulos e um apêndice. lembra de que os textos difíceis da Bíblia devem nos levar ao
Nos primeiros dois capítulos, o autor dá uma visão geral estudo mais intenso da Palavra de Deus, embora nem todos
das guerras na história e de como os pregadores se relaciona- os textos sejam claros e fáceis de entender (p. 97, 98, 121-
ram com o Armagedom bíblico. Muitos evangelistas, inclusi- 123, 200-202). Quando coisas não estão claras, isso provê
ve adventistas, viram implicações das grandes guerras com o oportunidade para o engano desempenhar seu papel, daí a
Armagedom. As duas guerras mundiais, a guerra fria, e agora necessidade de mais oração, estudo da Bíblia e inabalável
a guerra contra o terror (conduzindo, em caso extremo, a confiança de que Deus nos conduzirá ao sobrevir a
outra guerra mundial), foram vistas por muitos como o iní- crise final.
cio do Armagedom. Paulien discute a guerra terrorista atual, O livro simplifica o processo exegético interpretativo do
apresentando os assuntos definidos que conduziram ao seu livro do Apocalipse, provendo princípios hermenêuticos
início. Ele localiza a origem da Al-Qaeda, a guerra no Iraque fáceis de compreender, mesmo para os não iniciados. O uso
e Afeganistão, e explica a luta pelo poder e as negociações que o autor faz de diagramas para sintetizar pontos significa-
entre os Estados Unidos e o jihadistas islâmicos, e suas impli- tivos e a repetição de elos importantes, torna-os ferramentas
cações. O capítulo dois observa ambos os lados da guerra do úteis para explicar um tópico complexo. Ao mesmo tempo,
terror: o americano e o jihadista (Al-Qaeda). ele adverte e pede cautela contra a tendência de ser simplista
Os capítulos três e quatro descrevem a pesquisa pessoal e fazer predições específicas, especulações e fixar datas sobre
do autor em busca do significado do Armagedom. Embora os acontecimentos futuros.
Paulien apresente as visões principais do conflito (p. 53- Uma crítica precisa ser feita. Conquanto eu aprecie
54), ele sustenta o ponto de vista de que o Armagedom é a opinião do autor e a avaliação do ponto de vista do
um nome simbólico para os eventos antitípicos do Monte Armagedom relacionado ao Monte de Megido (ou Monte
Carmelo, e que isso se ajusta melhor ao contexto de Carmelo), ele falha em mencionar o ponto de vista do
Apocalipse 13 a 17 (p. 57-60). O capítulo cinco traça o tema “Monte da Assembleia”, interpretação que tem seus méri-
do Monte Carmelo em Apocalipse 12-14 e identifica os tos. Diante disso, a obra de Paulien é uma valiosa contri-
protagonistas principais envolvidos no conflito – a trindade buição para o estudo do Armagedom. O livro é organizado
ímpia (p. 62-68). logicamente, exegeticamente profundo e apela aos estudan-
O sexto capítulo analisa o papel do tempo do fim e o tes interessados no Novo Testamento, bem como a outros,

24 DIÁLOGO 21•1 2009


para buscarem uma compreensão bíblica sobre esse impor- O foco espiritual do autor aumenta o nível de confiança
tante assunto. dos leitores, que não se sentem sozinhos em suas batalhas
pessoais. Deus está lá e Ele é a solução definitiva para
todos os nossos problemas. E Deus é o maior Psicólogo no
Ikechukwu Oluikpe está se preparando para a obtenção Universo. Portanto, o uso de métodos psicológicos apropria-
de um Ph.D. em Teologia no Adventist International dos pode estimular significativamente o processo de cresci-
Institute of Advanced Studies, nas Filipinas. Ele é natural mento e enriquecer nossa experiência espiritual. Entretanto,
da Nigéria. E-mail: mikechukwu@gmail.com é isso o que John Ortberg quer que descubramos em seu
livro, e ele o faz por meio de muito senso de humor, diver-
são e aplicações práticas profundas.
The Life You’ve Always Wanted é uma ajuda inestimável
The Life You’ve Always Wanted para o crescimento espiritual. O autor encerra a obra com
Por John Ortberg (Grand Rapids, um guia de estudos para exploração adicional dos tópicos
Michigan: Zondervan, 1997; 297 p.; discutidos. Recomendo o livro a todos que buscam satisfa-
capa dura). ção na vida, dentro do contexto dos planos que Deus tem.

Resenha de Adelina Alexe


Adelina Alexe é uma estudante graduada pela Seventh-
day Adventist Theological Seminary, em Berrien Springs,
Michigan, Estados Unidos. E-mail: adelina.alexe@gmail.
com

John Ortberg é um autor de best sellers bem conhecido, Amerika:


tais como: If You Want to Walk on Water, You’ve Got to Get Mit Gewalt in den Gottesstaat
Out of the Boat; Everybody’s Normal Till You Get to Know (America: Theocracy by Force) de
Them e God Is Closer Than You Think. Tendo lido esses Gerhard Padderatz, (Mitteldeutscher
livros em meu idioma nativo – o romeno –, comecei a apre- Verlag, 2007; 335 p., capa dura).
ciar seus livros pelo que eles são: inteligentes, profundos,
providos de informações de todos os tipos, todavia, fáceis de Resenha de Ekkehardt Mueller
compreender e muito práticos para a vida diária.
Ortberg é atualmente o pastor sênior da igreja presbi-
teriana em Menlo Park, Califórnia. Com graduações em
Teologia e Psicologia, ele tem o dom de combinar o chama-
do da Teologia e os princípios práticos da Psicologia, para
oferecer ao leitor grandes princípios de um viver alegre. O
autor realmente é um mentor espiritual. Gerhard Padderatz estudou Teologia, História e
John Ortberg não tem medo de coisa alguma. Como um Comunicação. Trabalhou como pastor, professor de história
bom psicólogo e crente fiel, ele disseca o problema e encon- e ciências sociais, e editor em vários países. Atualmente ele
tra a solução. Frequentemente os problemas que focaliza são é presidente de uma empresa de consultoria administrativa,
as “pequenas coisas” do cotidiano, que podem fazer muita com filiais em Frankfurt, Zurique e Detroit, onde reside.
diferença em nosso bem-estar espiritual. Seu senso de prati- Seu livro atual sobre a América, que com determinação
cidade é notável. Ele se apresenta a si mesmo como exemplo ruma para uma teocracia é, em certa medida, co-redigido
para ilustrar duas ideias. Olhando para sua própria experi- por Christian Wannemaker que trabalha no campo da ética
ência, o leitor é encorajado a lhe dar crédito ao se empatizar filosófica. Até 1980, Padderatz passou dois anos nos EUA,
com ele. Você se sente à vontade pois “ele sabe do que está os quais ele descreve como um país maravilhoso, ficando
falando, pois já esteve lá”. Por ser franco com os leitores, especialmente intrigado com sua liberdade, franqueza e
Ortberg proporciona a oportunidade de entendermos que tolerância. Seu sonho de viver nos EUA permanentemente
ele pode se identificar conosco, em áreas de desenvolvimen- se tornou realidade em 2002.
to, nos desafios e nas soluções, aumentando a possibilidade Porém, ele notou que depois de 11 de setembro de 2001,
de as pessoas poderem seguir seus conselhos. uma mudança marcante ocorreu na América, conduzindo

DIÁLOGO 21•1 2009 25


a uma mistura de patriotismo tradicional, resquícios de justiça e a liberdade pessoal sofrem. O pensamento crítico
velhas ideologias e uma tremenda ânsia paranóica por dese- é subdesenvolvido. As pessoas são rebaixadas a simples
jo de segurança. Além disso, o fundamentalismo evangélico consumidoras. Suas características positivas de franqueza,
fora capaz de levar George W. Bush à Casa Branca. O espontaneidade e otimismo estão ligadas à ingenuidade,
processo de mudança, ele sugere, ainda não se completara. superficialidade e mero pragmatismo.
Então, sentiu-se compelido a iniciar uma pesquisa deta- No segundo capítulo, o autor faz perguntas: Está o povo
lhada das raízes e do cenário de fundo para essa mudança, americano ansiando por um salvador político e, em tal
indo além da propaganda patriótica. Embora essa seja uma contexto, pode haver perigo para a democracia? Ele discute
avaliação crítica, ele deixa claro que ela não é dirigida con- a estratificação da sociedade, o triunfo dos lobistas, o presi-
tra o cristianismo ou a América. Ele aprecia a ambos, mas dente obtendo votantes – e que, nos Estados Unidos, a ideia
está profundamente preocupado com as ocorrências atuais. de uma eleição divina fortalece muito o que acontece na
O livro, escrito em alemão, tem 336 páginas e é dividido sociedade e na política, levando outras nações a observarem
em introdução, seis capítulos, conclusão e um apêndice tal fato como um tipo de imperialismo.
que contêm 50 páginas de notas finais, bibliografia e dois Nos capítulos seguintes, Padderatz discute a perigosa
índices. Os capítulos tratam de (1) tendências da sociedade influência de grupos religiosos e sua teologia na política.
americana, (2) descrição do regime político, (3) o desen- Crenças teológicas, tais como a visão de que o moderno
volvimento e o estado das religiões cristãs nos EUA, (4) o estado de Israel é cumprimento de uma profecia bíblica,
sistema de crenças fundamentalistas, (5) a concretização de determinam as relações americanas com Israel e o mundo
uma teocracia e (6) a cristianização do resto do mundo. árabe. Isso influencia, por exemplo, as preocupações
No primeiro capítulo, Padderatz aponta para a forma ambientais, o tratamento dos menos favorecidos e a guerra
extrema frequente de patriotismo nos EUA, que tem contra o terrorismo. Padderatz mostra como evangélicos
características religiosas e conducentes a uma indiferença e católicos trabalham juntos em várias fundações, para
em relação ao resto do mundo, o culto do heroísmo e do exercer uma tremenda influência no governo. Listam carac-
militarismo. Enquanto os serviços secretos aumentam, a terísticas dos fundamentalistas, falam sobre a glorificação
da violência, a justificação do comportamento imoral entre
cristãos, e a tentativa de desfazer a separação de igreja e
estado, e conduzir o mundo a uma nova ordem, e sobre
o objetivo do direito religioso de ser mantido sob “a regra
Diretrizes para os de Cristo”, não apenas na América, mas no mundo todo.
colaboradores Todavia, ele também aponta para os discursos contra essas
tendências, como os do teólogo Gregory A. Boyd.
A revista Diálogo Universitário, publicada três vezes por ano em O autor conclui que pode ser apenas questão de tempo
quatro idiomas, é dirigida a adventistas do sétimo dia envolvidos até que os direitos religiosos dominem a política e a econo-
em educação superior, sejam professores ou estudantes e também mia e imponha seus valores cristãos e compreensão teoló-
profissionais e capelães adventistas de todo o mundo. gica sobre os outros, o que pode conduzir a perseguições e
Os editores estão interessados em artigos, entrevistas e repor- opressão. Ele declara que a América mudou, traindo seus
tagens bem redigidos e consistentes com os objetivos da Diálogo, próprios valores e retornando à Idade Média. O perigo con-
quais sejam: siste em introduzir a religião na política.
1. Promover uma fé viva e inteligente.
Devido à falta de informação do público em geral, o livro
2. Aprofundar o compromisso com Cristo, a Bíblia e a Missão
Global Adventista. parece, às vezes, uma história de terror. Porém, o autor per-
3. Elaborar abordagens bíblicas para assuntos contemporâneos. mite que respeitados e bem conhecidos americanos falem
4. Apresentar ideias e modelos de serviço cristão e evangelismo. sobre a América. A obra parecer ser muito bem pesquisada
A Diálogo habitualmente pauta artigos, entrevistas e reportagens e merece uma leitura séria.
para autores específicos com fins editoriais. Eles são solicitados a
(a) examinar as edições prévias de nossa revista; (b) considerar
cuidadosamente estas diretrizes, e (c) apresentar um resumo da Ekkehardt Mueller, Th.D. e D.Min. pela Universidade
matéria e sua experiência pessoal antes de elaborar o artigo pro- Andrews, é diretor-associado do Instituto de Pesquisa
posto. Trabalhos não solicitados não serão devolvidos. Bíblica da Associação Geral.
Veja nosso site:
http://dialogue.adventist.org

26 DIÁLOGO 21•1 2009


PRIMEIRA PESSOA cumprir. Vimos como o Senhor trouxe
os alunos para nós. Os milagres pelo

O meu ribeiro de Carite: caminho nos garantiram Sua providên-


cia e constante cuidado. Trabalhamos
duramente e apreciamos o fruto do
quando a vida seca nosso labor – todos os anos, a formatu-
ra foi um ponto alto, pois cobrávamos
Sally Lam-Phoon de nossos alunos que fizessem diferença
onde quer que estivessem.
Sim, Deus supriu abundantemen-
te. “Os corvos” foram mostrados no
Quando o seu ribeiro Primeiro, estudamos intensivamente tempo oportuno; nossa água do ribeiro
por um ano e meio nas Filipinas onde parecia estar assegurada. Não foi um
parece ter secado, quando concluímos o doutoramento. Quando rio caudaloso, mas um gotejante ribeiro
você pensa estar abando- retornamos à SAUC em 1980, a facul- que nos susteve de ano a ano.
nado, pare de perguntar dade estava lutando com questões de
reconhecimento. Assim, o nosso diplo- O ribeiro pode secar...
a razão, fique conectado ma poderia contribuir com a formação Então, de repente, o ribeiro secou.
com Deus. dos alunos, abrindo portas para oportu- A data continuará gravada em nossa
nidades de emprego fora da igreja. memória. Nunca será esquecida porque
Um novo caminho se abriu ao aconteceu de forma dramática exata-
“E sucedeu que, passados dias, o ribeiro unirmos os esforços e trabalharmos mente no dia do aniversário de meu
se secou” (1 Reis 17:7, ARC). juntos para um acordo na filiação da esposo – 4 de março de 1996. Ficamos
Como Elias, tive o meu Ribeiro de Faculdade Walla Walla, nos Estados sabendo sobre a aquisição do governo
Carite – todo meu. Unidos. Após pilhas de papéis e visitas de terrenos ao longo do trecho da estra-
Passei uma importante parte de de intercâmbio, a filiação foi assinada da onde a faculdade estava localizada,
minha vida no Southeast Asia Union e carimbada em 1984, levando a mais e um amigo havia ido ao Cartório de
College (SAUC) em Cingapura. garantia de qualidade. A relação com Registro para obter mais detalhes. Ao
Embora fosse uma pequena faculdade, a Faculdade Walla Walla aumentou olhar o mapa, percebeu que o terreno
causou um profundo impacto em mim gradualmente o número de matrículas da faculdade tinha sido marcado para a
quando jovem. Iniciei meus estudos em como recrutamento dos esforços inten- aquisição. Que “presente” de aniversá-
1968. Pela primeira vez, saboriei e bebi sificados. Em meados da década de rio para meu marido (que era o diretor
profundamente das fontes da educação 1990, o número de matrículas chegou da faculdade naquele momento), já que
adventista. Como o Ribeiro de Carite, a 201, um aumento de 43 por cento essa notícia lhe foi dada por telefone.
ela alimentou minha alma, nutriu meus em relação à década anterior. Foi como se um raio tivesse atingido
pensamentos e transformou meu ser, No entanto, como o ambiente edu- nossos nervos. Freneticamente, fizemos
definindo o chamado que o Senhor cacional em Cingapura evoluiu a partir muitas consultas, mas a desapropriação
havia feito enquanto era membro de de uma forte concorrência, o número estava clara como o dia. Tínhamos
nossa igreja em Penang, Malásia. de alunos da SAUC logo se estabilizou. que fechar ou mudar. Ficaria caro se
Com grande alegria, formei-me no A localização da faculdade em um país mudar ou reconstruir a faculdade em
final de 1971 juntamente com o meu com um elevado custo de vida signi- Cingapura com base nas opções que
namorado. Voltamos para casa, e nos ficou que três países vizinhos – Laos, nos foram oferecidas pelo governo.
casamos. Como parte de nossa lua-de- Vietnã e Camboja – não puderam ser Sim, tínhamos que admitir que o
mel, voamos para Kuching na ilha de atendidos. Além disso, a situação políti- ribeiro havia se secado; era tempo de
Bornéu – e lá, tivemos o nosso primei- ca tornou quase impossível a obtenção seguirmos em frente. O estabelecimen-
ro “gostinho” de serviço missionário de vistos para os estudantes dos três to de um comitê para estudar a mudan-
na Escola Sunny Hill. A SAUC tinha países estudarem em Cingapura. ça da faculdade foi a primeira priorida-
nos preparado bem e fizemos o nosso Uma pequena faculdade tem seus de, já que a União sentiu a necessidade
melhor. Sete anos mais tarde, recebe- desafios, mas tínhamos confiança, de manter uma instituição de ensino
mos um chamado para retornarmos assim como Elias tinha no Ribeiro de superior para seu território. Os planos
a Cingapura, e ficamos emocionados Carite. Não foi das situações a mais foram analisados a fim de atender
com a oportunidade de servirmos confortável, nem das épocas a mais a cada estudante, limpar e preparar
como professores. próspera, mas havia uma missão a as pastas para arquivá-las, enquanto

DIÁLOGO 21•1 2009 27


criavam um sistema em que os alunos amarrada ao meu Carite que estava acordo com o Seu propósito.
poderiam ainda acessar informações, confortável e feliz. Talvez tão confortá- Após a mudança em 1998, a faculda-
apesar de o fato da SAUC já não estar vel e feliz que meu Carite significasse de Mission ficou mais bem localizada
em funcionamento em Cingapura. mais para mim do que o que Deus para todos os países do território da
No começo foi difícil de nos rego- queria fazer com a minha vida. O União. Estudantes de Laos, Vietnã e
zijarmos. Lágrimas fluíam livremente; Senhor estava me alertando para o fato Camboja puderam se dar ao luxo de
estávamos de luto. Afligimo-nos porque de que Ele tinha uma nova missão para prosseguir os seus estudos na Tailândia.
estava claro como cristal que não havia eu realizar. A faculdade cresceu aos trancos e bar-
maneira de continuar como estávamos rancos. Hoje, cerca de 10 anos mais
habituados. Nossa zona de conforto Mas Deus tem um plano tarde, ela está prestes a obter o status de
estava destroçada – o futuro parecia Quando o seu ribeiro parece haver universidade do país e tem matricula-
incerto. Ninguém poderia prever o secado, quando você pensa que está dos cerca de 1 000 estudantes de mais
desfecho, ainda que corajosamente abandonado, pare de perguntar o de 30 países ao redor do mundo que
tivéssemos que continuar. Porém, a porquê, pare de culpar a Deus, pare são ensinados por um corpo docente
cada passo dado durante aqueles dois de olhar por um caminho mais fácil. internacional.
anos de tentativas, o futuro foi se tor- Chore se você sente necessidade, Então, quando o seu Carite se secar,
nando mais nítido. No final de 1998, mas clame a Deus, apegue-se à Suas quando tudo parecer perdido, crie cora-
fizemos a formatura do último grupo promessas de que todas as coisas irão gem porque no reino espiritual, o final
de formandos, e a SAUC oficialmente cooperar para o bem. Agradeça a Deus de uma história é simplesmente o prin-
se transferiu para a Tailândia para se pelas memórias e pelos momentos cípio de outra – uma experiência que o
fundir com outra pequena instituição bonitos que você teve em seu Carite. conduzirá para mais perto de Deus. Se
tailandesa chamada Faculdade Mission. Então vá embora de seu “ribeiro”. colocarmos Deus em primeiro e último
Tivemos que enfrentar o fato de que Ore fervorosamente para que a lugar, seremos capazes de dizer, com
os Carites não duram para sempre – mente de Cristo vislumbre novas pers- certeza: “O melhor ainda está por vir.”
seja um trabalho, uma instituição, um pectivas à frente e assim você poderá Somente confie que Deus sempre tem
amigo especial, ou mesmo uma conta ver onde Ele deseja levá-lo. Mantenha a nossos melhores interesses no coração
bancária. Assim como foi com Elias, sua mão firmemente na mão de Deus, e que Sua orientação é sempre a mais
toda a segurança desapareceu. Quando à medida que você avança em confian- segura. Ellen White afirma com tanta
isso aconteceu, Elias não chorou ou fez ça e fé. Ele tem prometido que a Sua beleza: “Nosso Pai celestial tem mil
cara feia. Deus disse a Elias para ir à Palavra será uma lâmpada para mostrar modos de providenciar em nosso favor,
Sarepta de Sidom, e ficar lá com uma o caminho na mais profunda escuridão. modos de que nada sabemos. Os que
viúva que iria fornecer-lhe alimentos Leia a Palavra todos os dias, deleite-se aceitam como único princípio tornar
(1 Reis 17:8, 9). Elias foi. nas suas promessas, e Ele guiará você o serviço e a honra de Deus o supre-
Simplesmente obedeceu; não fez per- um passo por vez, não mais, nem mo objetivo, hão de ver desvanecidas
guntas. Talvez ele estivesse antecipando menos, em caminhos recém-fabrica- as perplexidades, e uma estrada plana
algo melhor ao virar a esquina. Ele já dos nos quais Ele já foi adiante para diante de seus pés.”*
não estava mais sozinho; uma viúva prepará-los. Esses caminhos o levarão
estaria lá para cuidar dele – alguém a águas tranquilas e pastagens seguras
para conversar em vez de conversar onde a sua alma será restaurada e você Sally Lam-Phoon (Ph.D.,
com os pássaros! irá finalmente concordar que Ele lhe Universidade Andrews), é diretora
Considere o que poderia ter acon- deu “muito mais abundantemente além do Ministério da Criança, da Família
tecido se Elias obstinadamente tivesse daquilo que pedimos ou pensamos!” e das Mulheres e pastora coorde-
ficado no mesmo local e se recusasse a (Efésios 3:20, A Mensagem). nadora da Divisão da Ásia-Pacífico
se mudar do ribeiro. Ele teria morri- Sim, a minha experiência com o Norte dos Adventistas do Sétimo
do. Com certeza, a viúva de Sarepta e Ribeiro de Carite era parte de um plano Dia com sede em Ilsan, Coreia do
seu filho teriam fome até a morte. O arquitetado por Deus. Hoje, posso ver Sul. E-mail: sallylam@nsdadventist.
culto a Baal poderia haver prosperado como as peças foram se encaixando no org
ainda mais sem a experiência do Monte lugar como um quebra-cabeças. Um
Carmelo. Mas porque Elias esteve lindo quadro surgiu. Ele me trouxe a *Ellen G. White. O Desejado de
disposto a seguir em frente, 1 Reis 18 lugares que nunca sonhei que iria, e me Todas as Nações. Tatuí, SP: Casa
registra o triunfo de Deus sobre Baal capacitou a exercer responsabilidades Publicadora Brasileira, p. 330.
no Monte Carmelo. que nunca havia pensado serem possí-
No meu caso, tinha crescido tão veis. O Senhor trabalhou em tudo de

28 DIÁLOGO 21•1 2009


LOGOS
Nossa vida, nosso mais indo a Queila contra as tropas dos
filisteus. Então, Davi tornou a consultar
o Senhor, e o Senhor lhe respondeu e
trabalho: que espécie de disse: Dispõe-te, desce a Queila, porque
te dou os filisteus nas tuas mãos. Partiu

influência exercemos? Davi com seus homens a Queila, e


pelejou contra os filisteus, e levou todo
o gado, e fez grande morticínio entre
Halvard B. Thomsen eles; assim, Davi salvou os moradores de
Queila” (1 Samuel 23:1-5).
A força e o valor daqueles que segui-
“Davi retirou-se dali e se refugiou passagem bíblica citada. Tente imaginar ram Davi à caverna de Adulão continu-
na caverna de Adulão; quando ouvi- as pessoas que se reuniram em torno aram. Eles prosseguiram conquistando
ram isso, seus irmãos e toda a casa de de Davi: todos que estavam em perigo. as nações de Canaã, aniquilando os
seu pai desceram ali para ter com ele. Todos que tinham dívidas. Todos os gesuritas, gersitas e os amalequitas.
Ajuntaram-se a ele todos os homens que descontentes. Nas próprias palavras Eles também foram bem-sucedidos ao
se achavam em aperto, e todo homem de Davi: “Acha-se a minha alma entre escaparem do rei Saul. “Permaneceu
endividado, e todos os amargurados de leões, ávidos de devorar os filhos dos Davi no deserto, nos lugares seguros, e
espírito, e ele se fez chefe deles; e eram homens; lanças e flechas são os seus ficou na região montanhosa no deserto
com ele uns quatrocentos homens” (1 dentes, espada afiada, a sua língua” de Zife. Saul buscava-o todos os dias,
Samuel 22:1, 2).1 (Salmos 57:4). porém Deus não o entregou nas suas
A lembrança mais recente que tenho O que Davi tinha a ver com aquelas mãos” (1 Samuel 23:14).
de comentários sobre essa passagem é pessoas? Foi esse tipo de pessoa que No decorrer da história, constatamos
por ocasião do estabelecimento de uma resistiu ao rei Saul? Foi esse o grupo que o grupo de Davi aumenta de 400
igreja. Eu era um jovem estudante de com o qual Davi iniciou uma revolu- para 600 pessoas (1 Samuel 23:13).
Teologia, quando um grupo de mem- ção? Que espécie de líderes – ou guer- Quando Davi escapou para a caverna,
bros de uma igreja que o meu pai havia reiros – seriam aqueles descontentes e ele atraiu o aflito e o descontente, mas
pastoreado recentemente formou uma afligidos? pelo exemplo da dependência de Deus,
nova igreja em uma vila a poucos quilô- Davi conta como lidou com as cir- ele transformou seus homens em efeti-
metros de distância. Meu pai se referiu cunstâncias: “Firme está o meu coração, vos guerreiros – e líderes. Quando Davi
à nova congregação como uma “caverna ó Deus [...], cantarei e entoarei louvores. subiu ao trono, eles estavam preparados
de Adulão”, por causa das atitudes e Desperta, ó minha alma! Despertai, lira para assumir a liderança da nação.
circunstâncias de muitos dos membros e harpa! Quero acordar a alva. Render-
fundadores. te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei Duas perguntas
No passado, era comum ver novas louvores entre as nações. Pois a tua A experiência de Davi nos confronta
igrejas surgirem de uma congregação misericórdia se eleva até aos céus, e a com duas perguntas: que tipo de pesso-
dividida. Todas as vezes que eu ouvia tua fidelidade, até às nuvens” (Salmos as atraímos? O que acontece com essas
falar sobre a fundação de uma igreja, 57:7-10). pessoas quando se associam a nós?
lembrava-me das palavras de meu pai e Olhe para a sua vida. Pense nas pes-
da caverna de Adulão. No início deste O que aconteceu aos descontentes? soas que vivem ao seu redor como ami-
ano, li comentários sobre esse verso, Ao acompanhar as pisadas de Davi, gos ou colegas de trabalho. Que espécie
pelo especialista em liderança John descobrimos a transformação ocorrida de pessoas são? São realizadoras e
Maxwell, que estimularam meu pensa- naqueles aflitos e descontentes seguido- visionárias? Ou são descontentes e insa-
mento. res. “Foi dito a Davi: Eis que os filis- tisfeitas? Você já reparou que as pessoas
Após matar Golias, Davi foi convi- teus pelejam contra Queila e saqueiam tendem a nos julgar não somente pelos
dado a ficar no palácio de Saul, onde as eiras. Consultou Davi ao Senhor, amigos que escolhemos, mas também
aprendeu sobre governar o reino de dizendo: Irei eu e ferirei estes filisteus? pelas pessoas que atraímos como colegas
Israel, incluindo a arte de guerrear. Respondeu o Senhor a Davi: Vai, e ou mesmo pela escolha de empregados?
Infelizmente, o ciúme de Saul levou ferirás os filisteus, e livrarás Queila. Nessa primeira questão há, implici-
Davi ao exílio. É nesse ponto da vida Porém os homens de Davi lhe disseram: tamente, outra: Que tipo de pessoas
de Davi que encontramos a história da Temos medo aqui em Judá, quanto somos? Nunca vamos atrair os otimistas

DIÁLOGO 21•1 2009 29


se somos sombrios e pessimistas. Nunca bem presente e futuro ou para a perda formada, e outra e outra; e como elas
vamos atrair os visionários se não vemos de sua vida eterna.”2 aumentam, o círculo se alarga até que
esperança. Nunca captaremos a ima- “Todo o ato de nossa vida afeta a elas alcançam a margem. Assim é a
ginação e o entusiasmo das pessoas ao outros para bem ou para mal. Nossa nossa influência, embora aparentemen-
nosso redor se ignoramos as oportuni- influência tende a elevar ou a rebaixar; te insignificante, pode continuar a se
dades e nos concentramos em nossos ela é experimentada, posta em prática extender para além do nosso conheci-
problemas. e, em maior ou menor escala, reprodu- mento ou controle.”4
Então, há uma segunda pergunta: zida por outros. Caso por nosso bom Que tipo de pessoas atraímos? O que
O que acontece com as pessoas que se exemplo, ajudemos outros no desenvol- acontece a elas quando se associam a
associam conosco? Nossos pais sempre vimento de bons princípios, damos lhes nós?
nos dizem para sermos cuidadosos ao poder para fazer o bem. Por sua vez, eles
escolhermos amigos por causa da influ- exercem a mesma influência benéfica
ência deles sobre nós. Mas a história de sobre outros, e assim centenas e milha- Halvard B. Thomsen (D.Min.,
Davi também nos desafia a pensar sobre res são afetados por nossa inconsciente Universidade Andrews) é assistente
como influenciamos as pessoas. Vemos influência.”3 do diretor administrativo da Divisão
nessa história que os aflitos e os descon- São o nosso otimismo, nossa visão, Norte-Americana da Associação
tentes não precisam permanecer em seu imaginação e fé contagiosos? As pes- Geral da Igreja Adventista do
descontentamento! Podemos influen- soas que se associam conosco são mais Sétimo Dia, Silver Spring, Maryland,
ciá-los. Algumas vezes, pergunto-me dependentes do Senhor Jesus ou mais EUA. E-mail: halvard.thomsen@nad.
se damos tão pouca atenção ao que se indiferentes com as Suas exigências para adventist.org
refere à influência das associações que nós? Estão mais descansadas em Sua
estabelecemos. Se tal como é sugerido bondade e graça? Estão mais determi-
pelo apóstolo Paulo (2 Coríntios 3:18), nadas a cumprir as Suas ordenanças? REFERÊNCIAS
tornamo-nos como as coisas que admi- Estão mais ávidas para edificar o 1. Salvo indicação contrária, todas as passagens da
Escritura são da almeida Revista e Atualizada
ramos, então influenciaremos aqueles Seu reino? (ARA).
que olham para nós! “Você pode nunca saber o resultado 2. Ellen G. White. Testemunhos para a igreja. v. 3.
“Se não estamos unidos a Cristo, de sua influência do dia a dia, mas Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002.
p. 528.
desperdiçamos tudo. Todos exercemos tenha a certeza de que ela é exercida 3. ______. Testemunhos para a igreja. v. 2. Tatuí,
uma influência, e essa influência conta para o bem ou para o mal [...]. Jogue SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001. p. 133.
4. ______. Review and Herald (24 de Janeiro de
sobre o destino de outros, para o seu uma pedrinha no lago e uma onda está 1882).

59a Sessão da Conferência Geral: a experiência da graça é absolutamente


central na vida de cada crente, e estamos
Proclamar a Graça de Deus perguntando: ‘Como podemos, sendo
adventistas do sétimo dia, refletir mais
23 de Junho a 03 de Julho de 2010 • Atlanta, Geórgia, EUA • www.gcsession.org claramente a sua profundidade, largura e
transformá-la em poder?’”
Marque em sua agenda a 59ª Sessão Deus”. A frequência diária durante o Em todo o mundo, os adventistas
da Conferência Geral dos Adventistas do evento será em média de mais de 35.000 estão hoje entre as igrejas de mais rápido
Sétimo Dia, em Atlanta, Geórgia, EUA, pessoas. Nos dois fins de semana, são crescimento. Atuam em 230 países em
de 23 de junho a 3 de julho de 2010. esperadas mais de 70.000 pessoas. áreas reconhecidas pela Organização
Ore pelo encontro e, se puder, parti- “A graça é uma poderosa força viva, das Nações Unidas, e se comunicam
cipe. De cinco em cinco anos, a Igreja ela nos transforma e anima”, afirma em mais de 880 línguas por meio de
Adventista do Sétimo Dia se reúne para o presidente da Associação Geral, Jan publicações e pregações. Os adventistas
se fortalecer para a missão, conduzir Paulsen. “Quando a graça de Deus do sétimo dia operam uma das maio-
projetos da Igreja, aprovar as diretrizes, alcança a nossa vida – e a vida da igreja res redes educacionais protestantes no
eleger o seu presidente e outros líderes, –, é impossível continuar como de cos- mundo, com 7.442 escolas de ensino
adorar e celebrar. A 59a Sessão repre- tume. Ela abre os nossos olhos para as fundamental e instituições universitárias
sentará mais de 25 milhões de famílias necessidades ao redor de nós. Compele- em todo o mundo, sendo que 107 são
adventistas de todo o mundo, e se reu- nos a ir às comunidades. Tendo em vista colégios e universidades, com mais de
nirá sob o tema “Proclamar a Graça de esse tema, estamos reconhecendo que 1.479.136 alunos matriculados.

30 DIÁLOGO 21•1 2009


EM AÇÃO
Envie-nos o
relatório de seu
grupo
Os líderes das associações de estudantes
universitários adventistas são convidados a
enviarem um breve relatório das atividades
de seu grupo e uma ou duas fotos digitais
para publicação na revista Diálogo. Inclua
toda informação relevante a respeito do
grupo de estudantes, descrevendo suas
atividades principais, desafios, planos e tam-
bém mencionando o nome, cargo e e-mail
do autor do relatório. As informações
deverão ser encaminhadas a Susana Schulz
(schulzs@gc.adventist.org). Obrigado!

Estudantes adventistas
se reúnem na Argentina
Rocío Mendoza e Iván Escobar

“Procurando fazer Sua vontade” foi cuidado do corpo, o vazio existencial O congresso atingiu seu objetivo não
o tema que trouxe cerca de 100 estu- e outros aspectos que questionam o apenas porque serviu para testemunhar
dantes universitários e amigos ao 7º significado da fé. O segundo seminá- da fé aos diretores da universidade que
Congresso Universitário da Associação rio foi apresentado por Carlos Steger, sediou o evento, mas também porque
Argentina do Norte, de 9 a 21 de que passou aos estudantes adventistas foi uma bênção para os estudantes, que
setembro, na cidade de Jardín América. importantes ferramentas para lidar tiveram a oportunidade de desenvolver
Proporcionando retiro espiritual, refle- com o contínuo desafio “Criação versus a amizade, compartilhar experiências
xão intelectual e integração social, o Evolução”. Steger compartilhou seu em diferentes ambientes e, acima de
evento foi organizado pela Adventist conhecimento e especialidades e tam- tudo, viver uma experiência pessoal de
University Center of Posadas e contou bém deu significativos exemplos que paz com Deus.
com o apoio da Associação Argentina provam a existência de Deus, o Criador.
do Norte. O seminário final abordou a verda-
O tema, com exposição escriturística deira razão de ser um adventista num
do pastor Darío Caviglione, desafiou campus universitário: “Evangelismo Rocío Mendoza é vice-presidente
os estudantes a experimentar pessoal- nas universidades.” O pastor Oscar de Centro Universitário Adventista
mente o poder da oração constante e Tapia motivou, esquematizou e desa- de Posadas (CUAP). Ela estuda
do estudo diário da Palavra de Deus. fiou os estudantes a ser testemunhas tradução e interpretação em inglês.
“Sabemos que não há outro caminho”, de Cristo, não apenas no âmbito E-mail: rociomendoza_1@hotmail.
afirmou. adventista, mas também com profes- com
O sábado foi um dia especial, com sores e demais pessoas do círculo de
três importantes seminários. Edgar convivência. Os estudantes tiveram a Iván Escobar faz parte do CUAP. Ele
Beskow, psicólogo credenciado, falou oportunidade de criar suas próprias estuda Engenharia Química. E-mail:
sobre vários problemas que os jovens estruturas evangelísticas para aplicar ivanesc86@hotmail.com
estão enfrentando, tais como o excessivo em seu ambiente estudantil.

DIÁLOGO 21•1 2009 31


FÓRUM ABERTO
O que significa ritual em si mesma, para a realização
das virtudes da vida cristã, para uma
aplicação pessoal da salvação. Ele deve
desenvolver a salvação? ‘desenvolver’ o que Deus em Sua graça
tem ‘desenvolvido’.”2
John M. Fowler Essa responsabilidade é para ser exer-
cida “com temor e tremor”. Aqui Paulo
não está se referindo a qualquer “terror
servil”3 de um mestre vingativo. Não
O que o apóstolo Paulo queria dizer das boas-novas da salvação pela graça está preocupado com alguma frustração
quando afirmou: “Desenvolvei a vossa por meio da fé somente. Paulo passou na concretização do propósito redentivo
salvação com temor e tremor” (Filipenses todo o seu ministério proclamando que de Deus. Ele está cauteloso com a inata
2:12 )?1 É possível ser salvo por obras a salvação não pode vir por qualquer capacidade própria de excesso de con-
quando o próprio apóstolo disse em outro modo exceto através da graça, e fiança ou complacência na jornada em
muitos lugares que a salvação é pela fé que a aceitação do pecador diante de direção ao Céu. Ellen White adverte:
somente? Deus não é algo merecido, mas um “Deus não vos ordena temer que dei-
dom divino. O apóstolo legou à comu- xará de cumprir Suas promessas, que
Um dos fundamentos da interpre- nidade cristã duas epístolas completas Sua paciência se cansará ou que Sua
tação bíblica é ler a passagem em seu – Romanos e Gálatas – dedicadas intei- compaixão há de faltar. Tema que sua
contexto. O contexto imediato desta ramente a estas boas-novas da graça vontade não seja mantida em sujeição
passagem é o desejo de Paulo de que os salvífica de Deus. E para os efésios, à vontade de Cristo, que seus traços de
cristãos filipenses apresentassem uma escreveu: “Porque pela graça sois salvos, caráter herdados e cultivados vos domi-
vida digna “do evangelho de Cristo” mediante a fé; e isto não vem de vós; é nem a vida. [...] Tema que o próprio eu
(1:27). Desse modo, uma vida resgata- dom de Deus; não de obras, para que se interponha entre sua alma e o grande
da deveria estar livre do egocentrismo ninguém se glorie” (Efésios 2:8, 9). Artífice. Temei que sua obstinação
(2:2) e refletir o sentimento de Jesus O que, então, o apóstolo quis dizer frustre o elevado propósito que, por seu
(2:5) em tudo o que fosse feito, até quando afirmou “desenvolvei a vossa intermédio, Deus deseja alcançar. Tema
mesmo diante da morte. A advertência própria salvação”? Paulo está apelan- confiar na própria força; tema retirar
de Paulo está expressa em palavras for- do por um estilo de vida consistente da mão de Cristo a sua mão e tentar
tes: não trate a sua salvação de maneira com exigências da fé. Com efeito, o caminhar pela vereda da vida sem Sua
descuidada, considere-a com seriedade. apóstolo está dizendo: “Sim, você é presença permanente.”4
“Desenvolvei a vossa salvação com salvo pela fé. Você é salvo pela graça de Nesse sentido, temor e tremor devem
temor e tremor” (2:12). Deus. Mas você é salvo para viver. A acompanhar a caminhada cristã, mas
Não devemos parar a leitura aqui. A sua experiência de fé deve se mover do de forma alguma há qualquer implica-
admoestação de Paulo sobre a salvação acreditar para o viver. Você deve viver a ção de que a jornada é para ser feita por
por nossas obras é seguida imediata- sua salvação. Isso envolve um estilo de si só. “Para isto está Deus trabalhando
mente pela promessa da concessão do vida de obediência, exatamente como em você.” A palavra para “trabalho”
poder divino: “Porque Deus é quem o nosso grande modelo – Cristo Jesus é energeo. Deus está energizando
efetua em vós tanto o querer como o – que obedeceu até o ponto da humi- você. Deus está apoiando você. Ele
realizar, segundo a Sua vontade” (2:13). lhação e da morte (Filipenses 2:5-13). já começou uma “boa obra em você”
Há uma contradição entre as duas Além disso, a sua caminhada cristã é de (Filipenses 1:6), e está permitindo
declarações – a promessa e a exigên- sua responsabilidade pessoal. Ninguém agora que você termine esse trabalho.
cia, a permissão e o convite? Há uma mais pode fazer isto por você.” Essa ênfase no trabalho de Deus na
posição legalista na frase “desenvolvei “Desenvolvei a vossa salvação” não vida de um cristão (1 Coríntios 12:6,
a vossa própria salvação”? Ou há uma significa “desenvolvei-vos para a vossa 11; Gálatas 2:8; Efésios 1:11, 20) nos
tentativa de caminhar em uma corda salvação”. Sua real implicação é: “Vivei dá a garantia de que os contornos da
bamba teológica, tentando contrabalan- uma vida consistente com o novo status salvação – o princípio, a continuação
çar o divino e o humano no processo de filhos de Deus.” Conforme Muller e a culminação – são assegurados pela
da salvação? salienta: “O cristão é chamado para ser graça de Deus a todo aquele que crê
Não é nada disso. Se havia uma pró-ativo, para empreender a vontade
verdade preciosa para o apóstolo, era a de Deus, para a promoção da vida espi- Continua na p. 34

32 DIÁLOGO 21•1 2009


Fé a aceitação
Caminho a Cristo, capítulo 61 condenação para os que estão em Cristo
Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a
lei do Espírito de vida me libertou da lei
Ellen G. White do pecado e da morte” (Romanos 8:1).
Assim, não são mais de vocês mesmos.
À medida que sua consciência foi mos aprender alguma coisa acerca do Foram comprados por preço. “Pois vocês
sendo despertada pelo Espírito Santo, modo em que devemos crer nEle para sabem que não foi por meio de coisas
você viu algo da malignidade do pecado, obter o perdão dos pecados. Voltemos ao perecíveis como prata ou ouro que vocês
de seu poder, sua culpa, sua miséria; e o caso do paralítico de Betesda. O pobre foram redimidos [...], mas pelo precioso
olhou com aversão. Sentiu que o pecado enfermo estava inválido; havia 38 anos sangue de Cristo, como de um cordeiro
o separou de Deus, que está cativo do que não fizera uso dos membros. No sem mancha e sem defeito” (1 Pedro
poder do mal. Quanto mais luta por entanto, Jesus lhe ordenou: “Levante- 1:18, 19). Por esse simples ato de crer
escapar a ele, tanto mais reconhece sua se, pegue a sua maca e vá para casa” em Deus, o Espírito Santo gerou em seu
impotência [...]. Sua vida tem sido reple- (Mateus 9:6). O doente poderia ter dito: coração uma nova vida. Você é agora
ta de egoísmo e pecado. Almeja então o “Senhor, se quiseres me curar, obedecerei uma criança nascida na família de Deus,
perdão, a pureza, a liberdade. Harmonia à Tua palavra.” Mas não; creu na palavra e Ele ama você como ama a Seu próprio
com Deus, Sua semelhança – que pode de Cristo, creu que fora curado, e fez Filho.
fazer para alcançá-las? imediatamente o esforço; decidiu andar, Agora que se entregou a Jesus, não
Paz, eis sua necessidade – o perdão, e andou. Agiu sob a palavra de Cristo, e volte atrás; não fuja dEle, mas diga, dia
a paz e o amor celestes em sua vida. O Deus lhe concedeu a força. Estava são. a dia: “Pertenço a Cristo; a Ele me entre-
dinheiro não a pode comprar, não a De igual modo, você é um pecador. guei”; e rogai-Lhe que dê Seu Espírito
consegue a inteligência, nem a sabedoria Não pode expiar os pecados do passado, e o guarde por Sua graça. Do mesmo
a alcança. Mas Deus a oferece como um nem pode mudar seu coração e se tornar modo que se tornou filho de Deus se
dom, “sem dinheiro e sem custo” (Isaías santo. Mas Deus promete fazer tudo entregando a Ele e nEle crendo, assim
55:1). Ela pertence a você: basta que isso por você, mediante Cristo. Você crê também deve nEle viver. Diz o apóstolo:
estenda a mão e a apanhe. Diz o Senhor: nesta promessa. Confesse os pecados e “Assim como vocês receberam Cristo
“Embora seus pecados sejam vermelhos se entregue a Deus. Você quer servi-Lo. Jesus, o Senhor, continuem a viver nEle”
como escarlate, eles se tornarão bran- Assim que faz isso, Deus cumpre Sua (Colossenses 2:6).
cos como a neve; embora sejam rubros palavra para com você. Se você crê na Julgam alguns que têm de se submeter
como a púrpura, como a lã se tornarão” promessa – crê que está perdoado e puri- a uma prova e demonstrar primeiro ao
(Isaías 1:18). “Darei a vocês um coração ficado –, Deus supre o fato: você é cura- Senhor que estão reformados, antes de
novo e porei um espírito novo em vocês” do, exatamente como Cristo conferiu ao poder pedir Sua bênção. Mas podem
(Ezequiel 36:26). paralítico poder para caminhar quando invocar a bênção de Deus agora mesmo.
Confessou os pecados e de coração o homem creu que estava curado. Assim Necessitam de Sua graça, do Espírito de
a eles renunciou. Resolveu se entregar é se você acreditar. Cristo, que lhes ajude as fraquezas; do
a Deus. Vá, pois, a Ele e Lhe peça que Não espere até que sinta que está contrário, não poderão resistir ao mal.
o lave de seus pecados e dê a você um curado, mas diga: “Creio-o; assim é, não Jesus estima que a Ele nos cheguemos
coração novo. Creia então que o fará, porque eu o sinta, mas porque Deus o tais como somos, pecaminosos, desam-
porque assim prometeu [...]. Jesus curava prometeu.” parados, dependentes. Podemos ir a Ele
os seres humanos das enfermidades, Diz Jesus: “Tudo o que vocês pedirem com todas as nossas fraquezas, levianda-
quando tinham fé em Seu poder; aju- em oração, creiam que já o receberam, de e pecaminosidade, e nos colocar arre-
dava-os nas coisas que viam, inspiran- e assim lhes sucederá” (Marcos 11:24). pendidos aos Seus pés. É Seu prazer nos
do-lhes assim confiança nEle quanto Essa promessa tem uma condição; que envolver em Seus braços de amor, curar
às coisas que não viam – levando-os a oremos segundo a vontade de Deus. nossas feridas, purificar-nos de toda a
crer em Seu poder de perdoar pecados Mas é vontade de Deus nos purificar impureza.
[...]. O mesmo diz também João evan- do pecado, tornar-nos Seus filhos e Aqui é onde milhares erram: não
gelista, falando dos milagres de Cristo: nos habilitar a viver uma vida santa. creem que Jesus lhes perdoe pessoalmen-
“Mas estes foram escritos para que vocês Podemos, pois, pedir essas bênçãos, crer te, individualmente. Não pegam a Deus
creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de que as havemos de receber e agradecer em Sua palavra. É privilégio de todos os
Deus, e, crendo, tenham vida em Seu a Deus já havê-las recebido. É nosso que cumprem as condições, saber por si
nome” (João 20:31). privilégio ir a Jesus e sermos purificados, mesmos que o perdão é oferecido ampla-
Do singelo relato bíblico da maneira e nos apresentar perante a lei sem pejo mente para todo pecado. Abandonem
em que Jesus curava os doentes, pode- nem remorso. “Portanto, agora já não há a suspeita de que as promessas de Deus

DIÁLOGO 21•1 2009 33


não se referem a vocês. Elas são para paterna, esbanjando os seus bens em O Que Significa...
todo transgressor arrependido [...]. terra estranha, o coração do Pai anela Continuação da p. 32
Ninguém é tão pecaminoso que não por ele; e cada desejo de voltar a Deus
possa encontrar força, pureza e justiça despertado na alma, não é senão o
em Jesus, que por ele morreu. Cristo terno instar de Seu Espírito, solicitando, nEle e caminha com Ele. Como Karl
está desejoso de tirar de vocês as vestes suplicando, atraindo o extraviado para o Barth fez notar: “É Deus quem dá a
manchadas e poluídas pelo pecado, e amante coração paterno. cada um tudo o que ele executa ‘desen-
vesti-los com os trajes brancos da justiça. Tendo perante vocês as ricas promes- volvendo a sua salvação.’ [...] Nós nos
Ele nos ordena viver, e não morrer. sas da Bíblia, podem ainda dar lugar colocamos inteiramente sob o poder de
Deus não lida conosco da mesma à dúvida? Podem supor que, quando Deus, e, como tal, reconhecemos que
maneira em que homens finitos tratam o pobre pecador almeja voltar e anseia toda a graça, que tudo – a vontade e a
uns com os outros. Seus pensamentos abandonar os seus pecados, o Senhor realização, o princípio e o fim, a fé e a
são pensamentos de misericórdia, amor e lhe impeça, severamente, prostrar-se revelação, as perguntas e as respostas,
terna compaixão. Diz Ele: “Que o ímpio arrependido aos Seus pés? Longe de nós a procura e o encontro – vêm de Deus
abandone o seu caminho, e o homem tais pensamentos! Nada poderia ser mais e são realidade apenas em Deus. [...] O
mau, os seus pensamentos. Volte-se ele prejudicial a sua alma do que ter tal homem não pode colocar a sua salvação
para o Senhor, que terá misericórdia conceito de nosso Pai celestial. Ele odeia em prática a menos que ele reconheça
dele; volte-se para o nosso Deus, pois Ele o pecado mas ama o pecador, e deu-Se a que: é Deus!”5
dá de bom grado o Seu perdão” (Isaías Si mesmo na pessoa de Cristo, a fim de Essa é a beleza do evangelho. Deus
55:7). “Como se fossem uma nuvem, que todos os que quisessem pudessem é primordial na salvação dos seres
varri para longe suas ofensas; como se ser salvos e desfrutar a bem-aventurança humanos. Sua graça inicia e Sua graça
fossem a neblina da manhã, os seus eterna no reino da glória. Que lingua- completa o processo redentor. “Tudo o
pecados” (Isaías 44:22). gem mais convincente ou mais terna que deve ser feito a Seu mando pode ser
“Pois não me agrada a morte de poderia ter sido empregada do que essa cumprido por Seu poder. Todas as Suas
ninguém [...]. Arrependam-se e vivam” que Ele escolheu para exprimir Seu ordens são promessas habilitadoras.”6
(Ezequiel). Satanás está pronto para amor para conosco? [...]. Porque Deus está trabalhando em nós.
nos subtrair as benditas promessas de Olhai para cima, você que duvida, e
Deus. Deseja arrebatar da alma toda trema, pois Jesus vive para fazer interces-
centelha de esperança e todo raio de são por nós. Agradeça a Deus o dom de John M. Fowler (Ed.D., Universidade
luz; mas você não deve permitir fazê-lo. Seu Filho amado, e ore para que Ele não Andrews), é diretor associado do
Não dê ouvido ao tentador, mas diga: tenha, para você, morrido em vão. O Departamento de Educação da
“Jesus morreu para que eu pudesse viver. Espírito convida vocês hoje. Venham a Associação Geral e é o editor de
Ele me ama e não quer que eu pereça. Jesus de todo o coração, e poderão rogar Diálogo. E-mail: fowlerj@gc.adven-
Tenho um compassivo Pai celeste; e, Sua bênção. tist.org
conquanto tenha abusado de Seu amor Ao lerem as promessas, lembrem-se
e dissipado as bênçãos que me con- de que são a expressão de amor e mise-
cedeu, eu me levantarei, e irei a meu ricórdia indizíveis. O grande coração de REFERÊNCIAS
Pai, e direi: ‘Pai, pequei contra o Céu Amor infinito inclina-Se para o pecador 1. Todos os textos das Escrituras, salvo indicação
contrária, foram extraídos da Almeida Revista
e perante Ti. Já não sou digno de ser com ilimitada compaixão. “Temos a e Atualizada (ARA).
chamado Teu filho; faze-me como um redenção pelo Seu sangue, a remissão 2. Jac J. Muller. The Epistles of Paul to the
dos Teus trabalhadores.’” A parábola diz das ofensas” (Efésios 1:7 – ARA). Sim, Philippians and to Philemon. Grand Rapids:
Wm. B. Eerdmans, 1955. p. 91.
a você como será recebido o transviado: tão-somente creia que Deus é sua ajuda. 3. Marvin R. Vincent. Word Studies in the New
“Estando ainda longe, seu pai o viu e, Ele quer restaurar no ser humano Sua Testament, 4 v. Nova York: Charles Scribners’
Sons, 1905, 3:437.
cheio de compaixão, correu para seu imagem moral. À medida que dEle se 4. Ellen G. White. Parábolas de Jesus. 11. ed.
filho, e o abraçou e beijou” (Lucas). aproximar, em arrependimento e con- Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998.
Mas mesmo essa parábola, terna e fissão, Ele Se aproximará de você, com p. 161.
5. Karl Barth. The Epistle to the Philippians.
comovedora como é, não consegue misericórdia e perdão. James W. Leitch trans. Richmond: John Knox
exprimir a infinita compaixão do Pai Press, 1962. p. 73, 74.
celestial. O Senhor declara por Seu 1. Texto adaptado pelo Editor. A versão bíblica uti- 6. Ellen G. White. Parábolas de Jesus. 11. ed.
lizada é a Nova Versão Internacional (NVI), salvo Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998.
profeta: “Com amor eterno te amei; indicação contrária. (Ellen G. White. Caminho p. 333.
também com amorável benignidade te a Cristo. 27 ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora
atraí” (Jeremias 31:3 – ARA). Enquanto Brasileira, 1989. p. 49-56.)
o pecador está ainda distante da casa

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DIÁLOGO 21•1 2009 35
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