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Artigo

O Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia


Matos, R. L. A.; Spinola, L. A.; Barboza, L. L.; Garcia, D. R.; França, T. C. C.;
Affonso, R. S.*
Rev. Virtual Quim., 2017, 9 (2), 786-814. Data de publicação na Web: 6 de março de 2017
http://rvq.sbq.org.br

The Cannabidiol Use in the Treatment of Epilepsy


Abstract: The aim of this study is to gather bibliographic data describing the therapeutic profile of
cannabidiol (CBD), the main non-psychoactive component of the plant Cannabis sativa (marijuana) in
the treatment of mental disorders, particularly in refractory epilepsy. The information collected for the
composition of this research come from articles, magazines and books dated in the period 1940-2015,
with the database SciELO, PubMed, Google Scholar and the Brazilian Association of Epilepsy. Several
clinical studies have shown the beneficial effects of CBD against seizures, with total or partial
improvement in most of the patients analyzed. In addition, the use of cannabinoid did not show relevant
adverse and toxic effects, and its use for a long time does not produce tolerance, nor any sign of
addiction or withdrawal. However, important data such as the description of the chemical profile of the
drug and the detailed definition of pharmacokinetics are still scarce in the literature, which has
prevented the development of new medicines containing the CBD. It can be concluded that CBD is a
promising alternative to epileptic patients who do not respond to the treatments available, since it can
prevent the occurrence of brain damage and consequently modify the natural history of the disease.
Keywords: Cannabis sativa; Cannabinoids; Cannabidiol; Epilepsy; Anticonvulsant effects.

Resumo

O objetivo deste estudo consiste em reunir dados bibliográficos que descrevam o perfil terapêutico do
canabidiol (CBD), o principal componente não psicoativo da planta Cannabis sativa (maconha), no
tratamento dos transtornos psíquicos, em especial nas epilepsias refratárias. As informações coletadas
para composição desta pesquisa provêm de artigos, revistas e livros datados no período de 1940 a 2015,
tendo como base de dados SciELO, PubMed, Google Acadêmico e Associação Brasileira de Epilepsia.
Diversos estudos clínicos evidenciam os efeitos benéficos do CBD contra crises convulsivas,
apresentando melhora total ou parcial na maioria dos pacientes analisados. Além disso, a utilização do
canabinoide não manifestou relevantes efeitos adversos e tóxicos, e seu uso por tempo prolongado não
produz tolerância, nem qualquer sinal de dependência ou abstinência. Entretanto, dados importantes
como a descrição do perfil químico da droga e a definição minuciosa da farmacocinética ainda são
escassos na literatura, o que tem impedido o desenvolvimento de novos medicamentos contendo o
CBD. É possível concluir que o CBD representa uma alternativa promissora para pacientes epilépticos
que não apresentam resposta aos tratamentos disponíveis, uma vez que ele pode impedir a ocorrência
de danos cerebrais e consequentemente modificar a história natural da doença.
Palavras-chave: Cannabis sativa; Canabinoides; Canabidiol; Epilepsia; Efeitos anticonvulsivantes.
* Faculdade Anhanguera de Brasília, Departamento de Farmácia, Águas Claras, CEP 71950-550, Brasília-
DF, Brasil.
raphael.affonso100@gmail.com
DOI: 10.21577/1984-6835.20170049
Rev. Virtual Quim. |Vol 9| |No. 2| |786-814| 786
Volume 9, Número 2 Março-Abril 2017

Revista Virtual de Química


ISSN 1984-6835

O Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia


Rafaella L. A. Matos,a Luciene Angélica Spinola,a Larissa L. Barboza,b
Danielle R. Garcia,d Tanos C. C. França,d Raphael S. Affonsoa,c,d,*
a
Faculdade Anhanguera de Brasília, Curso de Farmácia, CEP 71950-550, Brasília-DF, Brasil.
b
Universidade de Brasília, Departamento de Botânica, CEP 70910-900, Brasília-DF, Brasil.
c
Faculdade LS, Curso de Farmácia, CEP 72020-111, Brasília-DF, Brasil.
d
Instituto Militar de Engenharia, Seção de Engenharia Química, Divisão de Ensino e Pesquisa,
CEP 22290-270, Rio de Janeiro-RJ, Brasil.
* raphael.affonso100@gmail.com

Recebido em 9 de dezembro de 2016. Aceito para publicação em 23 de dezembro de 2017

1. Introdução
2. A Planta Cannabis sativa
3. Os Canabinoides
3.1. Delta 9-tetraidrocanabinol ∆ -THC)
3.2. Canabidiol (CBD)
4. O Sistema Endocanabinoide
4.1. Mecanismo de Ação do Canabidiol
4.2. O Canabidiol no Brasil
5. O Canabidiol e a Epilepsia
6. Conclusões

1. Introdução Na Índia, há registros do uso da planta


desde antes de 1.000 a. C., administrada
como hipnótico e ansiolítico no tratamento
A planta Cannabis sativa, popularmente de ansiedade, manias e histeria.3 Já no início
conhecida no Brasil pelo nome de maconha, do século XX, extratos de Cannabis eram
vem sendo aplicada para fins medicinais há comercializados na Inglaterra, Alemanha e
milhares de anos.1 Indicações do uso da Estados Unidos, para o tratamento de
planta na China datam de 2.700 a. C. para desordens mentais, especialmente como
tratamento de diversas condições médicas hipnóticos e sedativos.4,5
como constipação intestinal, dores, malária, Após a terceira década do século XX,
expectoração, epilepsia, tuberculose, entre houve uma redução no uso da Cannabis
outras.2 sativa para fins médicos, causado

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principalmente pelo limitado conhecimento propriedades.18 Apesar disso, aumenta o


de seus princípios ativos, ainda não isolados número de casos bem sucedidos do uso sem
na época.1 Adicionalmente, novas orientação médica do CBD para o tratamento
substâncias foram descobertas e utilizadas de síndromes caracterizadas por epilepsia e
como hipnóticos e sedativos (hidrato de autismo regressivo.18 Logo, o maior desafio
cloral, barbitúricos e paraldeído)6. As recente da ciência médica implica no
restrições legais impostas ao uso da planta processo de adaptação social à ideia
associadas aos fatos abordados inovadora da existência de um componente
anteriormente limitam ainda mais a aplicação fitocanabinoide comprovadamente eficaz no
medicinal da Cannabis.7 tratamento de transtornos psíquicos.19
Na década de 1960, o grupo do professor A presente revisão bibliográfica foi
Raphael Mechoulam, natural de Israel, isolou desenvolvida com o objetivo de discutir as
os principais componentes da Cannabis recentes evidências que têm sido
sativa e identificou suas respectivas manifestadas com relação ao potencial
estruturas químicas.8 Inicialmente, o terapêutico do CBD na redução, e até
composto que recebeu a maior atenção dos extinção, dos efeitos causados por distúrbios
pesquisadores foi o delta 9- neurológicos, em particular a epilepsia.
tet aid o a a i ol ∆ -THC), por ser
responsável pelos efeitos psicoativos da
planta.9 Al do ∆ -THC, outros 2. A Planta Cannabis sativa
componentes da planta podem influenciar
sua atividade farmacológica.10 Um deles é o
canabidiol (CBD), o principal composto não A Cannabis consiste em um arbusto
psicotrópico da Cannabis sativa, que constitui originário da Ásia, pertencente à família das
até 40% dos extratos da planta.11 Cannabaceaes, cujas espécies mais
Estudos confirmam a capacidade do CBD conhecidas são Cannabis sativa e Cannabis
de antagonizar os efeitos psicotomiméticos indica,20 que se distinguem principalmente
do ∆ -THC, levantando a hipótese de que o pelo modo de crescimento, características
mesmo pode apresentar propriedade morfológicas e quantidade de princípios
ansiolítica, bem como um perfil ativos.21 Entretanto, a espécie predominante
antipsicótico.12 Um conjunto progressivo de no Brasil é a Cannabis sativa (Figura 1), pois a
evidências obtidas em estudos tanto em mesma possui melhor desenvolvimento em
humanos quanto em modelos animais, climas temperados e tropicais.22
confirmam o potencial terapêutico do CBD no A Cannabis sativa é uma planta anual e
tratamento dos sintomas de transtornos dioica, com altura de um a cinco metros
psiquiátricos como a depressão, a ansiedade (quando cultivada em circunstâncias
e as psicoses.13-16 favoráveis), cuja espécie masculina difere da
As propriedades anticonvulsivantes do feminina por apresentar um porte maior,
CBD são conhecidas pela ciência ocidental ramos mais finos e folhas mais longamente
desde 1843.18 Alguns ensaios clínicos em lanceoladas. Por outro lado, nas plantas
1980 demonstraram a atividade antiepilética fêmeas encontra-se a maior porcentagem de
da substância em pacientes com epilepsia compostos psicoativos (entre 10 a 20%).22 A
refratária, apresentando apenas a sonolência concentração desses compostos está ligada a
como efeito adverso.17 Porém, o obstáculo fatores genéticos e ambientais, porém,
imposto pela proibição do uso medicinal da outras condições podem causar variações no
Cannabis sativa prejudicou profundamente o conteúdo psicotrópico da planta.24
avanço científico e a exploração dessas

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Figura 1. A planta Cannabis sativa23

O caule da Cannabis sativa (Figura 2) ópio.22 O ciclo vegetativo da planta é de três


apresenta-se ereto com ramificações na base a quatro meses,25 porém fatores ecológicos
e possui fibras industrialmente importantes podem interferir no seu desenvolvimento,
o he idas o o ha o . As folhas especialmente a fertilidade do terreno, a
pecioladas têm segmentos lanceolados temperatura, a latitude e particularidades
serrados na margem e as flores são como fatores genéticos. A produção mais
unissexuais e indistintas, com pelos abundante da resina é observada em regiões
granulosos que produzem uma resina nas quentes ou temperadas, de solo fértil e
plantas fêmeas, a qual possui propriedade úmido.26
entorpecente, semelhante às produzidas pelo

Figura 2. (A) Caule e (B) folhas da Cannabis sativa27

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Co he ida o o ha i e , a esi a da ela seja a droga ilícita mais utilizada no


maconha contém aproximadamente 400 mundo.34 O provável motivo para isso é o
compostos químicos, dentre os quais estão fato da a o ha se o side ada u a d oga
incluídos os canabinoides, componentes le e e e o ea e te eputada po o
responsáveis pelos efeitos psicoativos e desencadear maiores consequências para a
farmacológicos da planta.21,28 Somente a saúde humana, quando equiparada com
fêmea produz a resina ativa, porém as duas outras drogas ilícitas. No entanto, em doses
espécies de Cannabis fornecem, consideravelmente baixas, a droga apresenta
aproximadamente, a mesma quantidade de efeito tanto eufórico quanto depressor. Já
canabinoides.29 A principal substância em doses altas, pode provocar alucinação,
p oduzida pela a o ha ∆ -THC) é paranoia e até estado de pânico,
excretada através da resina como estrutura dependendo do organismo do usuário.30
de defesa contra a desidratação e ação
Embora os compostos da planta
herbicida.30
produzam efeitos sobre uma determinada
O processo de extração da resina consiste quantidade de órgãos, dentre os quais estão
em destilação por vapor da planta, onde os incluídos o sistema imunológico e
óleos essenciais são desagregados, seguida reprodutivo, os principais efeitos
de uma extração alcoólica e uma nova terapêuticos verificados estão relacionados
destilação, para eliminar o excesso de álcool ao sistema nervoso central. Em seres
utilizado como solvente. O resíduo final é humanos, esses efeitos correspondem à:
neutralizado com uma solução aquosa analgesia,35-37 alteração de humor, estímulo
alcalina para a obtenção da resina que é do apetite em indivíduos tratados com
insolúvel em água e solúvel em álcool. Devido quimioterapia (pacientes portadores de HIV e
às características lipofílicas, os solventes câncer),38 efeito antiemético,39 alterações nas
ideais para a extração dos compostos da atividades psicomotoras, na percepção, na
planta são o éter de petróleo e o clorofórmio, cognição, na memória, bem como controle
por serem solventes apolares.26 da espasticidade em pacientes com esclerose
múltipla,40 efeito benéfico sobre o
A Cannabis sativa é aplicada há séculos
glaucoma,41 propriedade brocodilatadora,42
em rituais religiosos, na alimentação e em
anticonvulsivante,17,43 entre outros. Por
práticas medicinais.31 Atualmente, o uso
conseguinte, a utilização dos derivados da
recreativo (droga fumada) ultrapassa 160
Cannabis para finalidades terapêuticas
milhões de pessoas no mundo e o número de
tornou-se o foco de diversas pesquisas
indivíduos incluídos nos critérios para
científicas.15
dependência química ultrapassa a
quantidade de dependentes para qualquer
outra droga ilícita.32 Além disso, a inalação da
fumaça da maconha pode gerar efeitos 3. Os Canabinoides
vegetativos (fadiga, taquicardia e diminuição
da libido) e psicotrópicos.33
Mais de 100 compostos originados da
O abuso no consumo da Cannabis tem Cannabis sativa foram observados na resina
crescido consideravelmente durante os da planta (Tabela 1), sendo que
últimos anos, principalmente entre aproximadamente 60 deles correspondem
adolescentes.30 A prevalência de uso da aos componentes canabinoides.44,45 O
Cannabis é vencida somente pelo consumo principal canabinoide da planta é o
do álcool e do cigarro, fato que faz com que o po e te psi oati o ∆ -THC.46

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Tabela 1. Classes de compostos encontrados na planta Cannabis sativa47


Número de Número de
compostos compostos
Classe Classe
encontrados encontrados
na planta na planta
Canabinoides 61 Cetonas simples 13
Canabigerol (CBG) 06 Ácidos simples 20
Canabicromeno (CBC) 04 Ácidos graxos 12
Canabidiol (CBD) 07 Ésteres e lactonas simples 13
∆ -THC 09 Esteroides 11
∆ -THC 02 Açúcares e análogos 34
Canabiciclol (CBL) 03 Monossacarídeos 13
Canabielsoin (CBE) 03 Dissacarídeos 02
Canabinol (CBN) 06 Polissacarídeos 05
Canabinodiol (CBND) 02 Ciclitóis 12
Canabitriol (CBT) 06 Amino-açúcares 02
Outros canabinoides 13 Terpenos 103
Compostos Nitrogenados 20 Monoterpenos 58
Bases quartenárias 05 Sesquiterpenos 38
Amidas 01 Diterpenos 01
Aminas 12 Triterpenos 02
Alcaloides espermidinas 02 Mistura de terpenoide 04
Aminoácidos 18 Fenois não-canabinoides 16
Proteínas, glicoproteínas e enzimas 09 Glicosídeos Flavonoide 19
Hidrocarbonetos 50 Vitaminas 01
Álcoois simples 07 Pigmentos 02
Aldeídos simples 12 Total 421

O isolamento do CBD e do canabinol na O ato de fumar a Cannabis promove a


década de 40 forneceu a estrutura geral do agregação dos canabinoides ao fluxo
princípio ativo da Cannabis (Figura 3), porém sanguíneo através das paredes dos pulmões e
nenhuma dessas substâncias apresentou do sistema cardiovascular e os encaminha
ati idade aio ue o ∆ -THC. O termo diretamente para o cérebro, proporcionando
a a i oide at i uído ao o posto o assim, um ágil e eficiente sistema de
21 átomos de carbono pertencente à planta e dist i uiç o de ∆ -THC, além de intensificar o
abrange seus produtos de transformação e risco de desenvolver câncer de pulmão.49
análogos relacionados.2,48

Figura 3. Estrutura típica de um canabinoide


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3.1. Delta 9-tetraidro ana inol (∆⁹-THC) frontal medial.50 Autores sugerem a utilização
do ∆ -THC para estimular o apetite e manter
o peso, principalmente de pacientes de
O ∆ -THC (Figura 4) é o canabinoide câncer e portadores de HIV, bem como para
responsável por desencadear efeitos atenuar náuseas e vômitos decorrentes do
psicóticos em indivíduos vulneráveis, que tratamento com quimioterapia, além de
estão relacionados ao aumento do efluxo atuar como analgésico de uso oral.49,51
pré-sináptico de dopamina no córtex pré-

Figura 4. Est utu a uí i a do ∆ -THC

E t eta to, o uso te ap uti o do ∆ -THC planta.11,53 Esses dois compostos funcionam
se tornou limitado pela existência de efeitos como antagônicos altamente competitivos.
adversos severos. De acordo com estudos em E ua to o ∆ -THC atua gerando um estado
a i ais, o ∆ -THC possui capacidade de de euforia, o CBD atua bloqueando e inibindo
destruir células imunitárias e tecidos do o senso de humor.54
corpo que auxiliam na proteção contra
O isolamento do CBD ocorreu em 1940,2
doenças.51 Outros efeitos de alta relevância
porém, somente em 1963 sua estrutura
são manifestados em nível do sistema
química (Figura 5) foi elucidada pelo
nervoso central que incluem: alterações
professor israelense Raphael Mechoulam e
perceptivas, disforia, alucinações,
colaboradores.55 No entanto, nas últimas
anormalidades no pensamento, transtornos
décadas, o CBD tornou-se alvo de vários
de personalidade e sonolência.52
estudos experimentais, revelando um amplo
espectro de propriedades farmacológicas
como ação analgésica e imunossupressora,
3.2. Canabidiol (CBD)
ação no tratamento de isquemias, diabetes,
náuseas e câncer, efeitos sobre os distúrbios
Al do ∆ -THC, o CBD possui alto grau de de ansiedade, do sono e do movimento, bem
importância por consistir o principal como no tratamento dos sintomas
componente não psicoativo da Cannabis decorrentes da epilepsia, esquizofrenia,
sativa, presente em até 40% dos extratos da doenças de Parkinson e Alzheimer.46,56

Figura 5. Estrutura química do CBD


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Algumas disfunções neurológicas esquizofrênicos, o que poderia cooperar para


concernentes a quadros patológicos a diminuição na quantidade de receptores. A
importantes parecem estar ligadas ao prevalência do tabagismo pode ser uma
sistema colinérgico central. Os receptores tentativa de reparar a deficiência na
colinérgicos nicotínicos possuem a neurotransmissão de receptores nicotínicos
capacidade de controlar a eficácia da desses pacientes e auxiliar na redução dos
transmissão sináptica, pois atuam como distúrbios cognitivos e déficit de atenção.59-63
mediadores da neurotransmissão excitatória
A capacidade do CBD de reduzir a
rápida, bem como reguladores da liberação e
ansiedade e inibir os efeitos causados pelas
ativação de neurotransmissores nos
psicoses foi descoberta através de estudos
terminais pré e pós-sinápticos.57 O uso
com voluntários sadios, utilizando 1 mg/kg de
concomitante de antagonistas nicotínicos e
CBD por via oral acompanhado por uma dose
de receptores glutamatérgicos do tipo N-
ele ada de ,5 g/kg do ∆ -THC. Os
metil-D-aspartato (NMDA) tem amenizado
resultados comprovaram a redução
crises epilépticas induzidas em modelos
significativa da ansiedade e dos sintomas
animais, o que indica uma forte relação entre
psi óti os dese adeados pelo ∆ -THC.14
os sistemas de neurotransmissão colinérgico
Além disso, observou-se que o CBD não
e de NMDA na atividade excitatória do
modificou os níveis plasmáti os do ∆ -THC,
sistema nervoso central.58
sugerindo, assim, um efeito ansiolítico e
A participação dos receptores nicotínicos antipsicótico próprio do CBD.7
na formação da memória e do aprendizado
Um ensaio clínico comparando o CBD com
revela seu envolvimento na fisiopatologia e
o antipsicótico atípico Clozapina,
nos processos inflamatórios típicos da
medicamento desprovido dos efeitos
doença de Alzheimer.57 Alguns dos
parkinsonianos comumente apresentados
mecanismos patológicos envolvidos parecem
pelos antipsicóticos típicos, corroborado por
estar relacionados à alterações na
relatos de casos de indivíduos
quantidade de receptores colinérgicos
esquizofrênicos tratados com o canabinoide,
muscarínicos disposta em várias regiões do
demonstrou o potencial antipsicótico do CBD
cérebro e na sinalização intracelular
como alternativa terapêutica segura e bem
fornecida por esses receptores, bem como à
tolerada para a esquizofrenia.62
influência de elevadas concentrações do
inibidor endógeno de baixo peso molecular Do ponto de vista ético, as pesquisas
(IEBP), uma proteína que age como clínicas desenvolvidas até o presente
antagonista endógeno aos receptores momento com número limitado de
muscarínicos e supostamente está ligada aos pacientes, mas sem manifestações de efeitos
sintomas clínicos observados na doença.59 tóxicos procedidos da aplicação do CBD, são
consideradas evidências aceitáveis.7
Algumas alterações neurológicas
observadas em pacientes acometidos pela Contudo, a necessidade de conclusão de
doença de Parkinson podem ter todas as fases do estudo clínico para tornar
envolvimento com a eficiência da atividade patente o potencial terapêutico do CBD é
colaborativa entre receptores nicotínicos e imprescindível. Além do mais, há uma grande
receptores dopaminérgicos na região dificuldade em definir a faixa terapêutica
mesoestriatal.4,60 Os receptores colinérgicos ideal para cada transtorno, pois os efeitos do
nicotínicos também podem estar ligados à CBD apresentam-se bifásicos, ou seja,
fisiologia patológica da esquizofrenia, devido diversos efeitos dependendo das doses
à grande quantidade de esquizofrênicos administradas, o que aumenta ainda mais a
fumantes (90%).5,61 Elevados níveis de necessidade da execução de estudos mais
anticorpos anti-RCN (receptores colinérgicos aprofundados e detalhados das ações
nicotínicos) foram verificados em pacientes distintas do CBD.7

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O único medicamento comercializado portadores de câncer em estágios avançados,


contendo o CBD atualmente é o spray bucal para o tratamento de dor neuropática e
Sativex® da Bayer (Figura 6), composto por espasmos em pacientes com esclerose
5 % de ∆ -THC e 50% de CDB. Ele é indicado múltipla.63,64
como analgésico para pacientes adultos,

Figura 6. Sp a o al Sati e ® o te do e t atos de Ca a is i os e ∆ -THC e CBD65

4. O Sistema Endocanabinoide áreas específicas do sistema nervoso central,


como a microglia e na região pós-sináptica.71
Podem estar associados à regulação da
liberação de citocinas provenientes de células
O mecanismo de ação dos canabinoides
imunitárias e de migração das mesmas,
foi elucidado com a descoberta de dois
atenuando a inflamação e alguns tipos de
receptores endocanabinoides denominados
dor.69 Estudos sugerem que o receptor CB2
CB1 (receptor canabinoide tipo 1) e CB2
(receptor canabinoide tipo 2),66 corroborada também pode ser encontrado em células
pelo isolamento dos dois ligantes endógenos neurais envolvidas com a
2-araquidonoilglicerol (2-AG) e N- percepção/modulação da dor.72,73 Em
modelos animais experimentais, foi relatado
araquidonoil-etanolamida (AEA ou
que o agonismo seletivo desses receptores
anandamida).9 Os efeitos farmacológicos dos
desempenhou papel antinociceptivo.74-77
canabinoides são provenientes da interação
dos mesmos com os receptores Os receptores CB1 e CB2 estão acoplados
endocanabinoides.4 a proteína G inibitória que, quando ativada,
promove o bloqueio da enzima
Os receptores CB1 são amplamente
adenilatociclase, provocando a redução dos
distribuídos no organismo e encontrados
sobretudo pré-sinapticamente no sistema níveis de AMP cíclico e a inibição de canais de
nervoso central67,68 em áreas ligadas ao cálcio.78 A ativação dos receptores CB1
controle motor, aprendizagem, memória, bloqueia a liberação de outros
neurotransmissores, inibitórios ou
cognição e emoção, além de serem
excitatórios, como o ácido gama-
responsáveis pela maioria dos efeitos
aminobutírico (GABA) e o glutamato.13 Há
psicotrópicos dos canabinoides.69-71
uma evidência preliminar que sugere a
Os receptores CB2 localizam-se existência de outros tipos de receptores de
principalmente no sistema imunológico e em canabinoides.4

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Os ligantes endógenos dos receptores CB1 dos sinais e fechamento dos canais de cálcio,
e CB2 são denominados endocanabinoides e levando à diminuição da liberação de
desempenham papel importante na neurotransmissores.85
modulação de neurotransmissão,
Os endocanabinoides interferem na
especialmente como transmissores
transferência das informações dos terminais
retrógrados na maioria dos processos
pré e pós-sinápticos como mensageiros
fisiológicos, incluindo a dor, a cognição, a
sinápticos retrógrados, atuando como
regulação do sistema endócrino, da função
neurotransmissores atípicos em
metabólica, resposta emocional e processos
contraposição aos neurotransmissores
motivacionais.79 Os principais agonistas
clássicos.78,80 A ação é finalizada com a
endógenos dos receptores endocanabinoides
captação dos endocanabinoides nos
são os derivados do ácido araquidônico,
terminais pré-sinápticos,83 como
constituídos de natureza lipídica assim como
esquematizado na Figura 7.
os canabinoides presentes na Cannabis
sativa.80 A ativação dos receptores
endocanabinoides promove a alteração de
Os endocanabinoides não são sintetizados
vários neurotransmissores, incluindo a
nas terminações pré-sinápticas ou
acetilcolina, a dopamina, o GABA, o
armazenados em vesículas como os
glutamato, a serotonina, a noradrenalina e
neurotransmissores clássicos.81,82 Sua
opioides endógenos, em condições
produção ocorre no corpo e dendritos dos 86
fisiológicas normais.
neurônios em resposta ao influxo de cálcio83
induzido por glutamato ou GABA, que A descoberta do sistema endocanabinoide
promove a ativação de fosfolipases que forneceu novas perspectivas sobre um
convertem os fosfolipídios em esquema neuromodulador que pode
84
endocanabinoides. São liberados proporcionar melhores opções de tratamento
instantaneamente após atividade sináptica para uma grande variedade de distúrbios
excitatória e ativam consecutivamente os neurológicos,87-89 por participar de diversos
receptores endocanabinoides pré-sinápticos. processos fisiológicos e, possivelmente,
Por conseguinte, a adenilatociclase é inibida patofisiológicos nos transtornos
e os canais de potássio são abertos, psiquiátricos.9
promovendo assim, a redução da transmissão

Figura 7. Esquema representativo do sistema endocanabinoide84


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A neuromodulação abrange apenas um terminais pós-sinápticos e é ativado pela


aspecto dos mecanismos que determinam as anandamida.100
propriedades terapêuticas dos canabinoides.
As propriedades anti-inflamatórias do CBD
No entanto, como ainda não corresponde ao
também podem ser explicadas pela inibição
foco de muitas pesquisas clínicas, poucas
da isoforma induzível da óxido nítrico-sintase
informações confiáveis podem ser absorvidas
iNOS e da i te leu i a β IL- β . Apesa do
sobre o mecanismo de ação mais plenamente
reconhecido potencial farmacológico, o local
compreendido.89,90
preciso em que o CBD exerce seus efeitos
neuroinflamatórios ainda não chegou a ser
inteiramente esclarecido.101
4.1. Mecanismo de Ação do Canabidiol
Recentes estudos apontam as
propriedades antiproliferativas e pró-
Tanto a ananda ida ua to o ∆ -THC são apoptóticas do CBD, bem como uma ação
agonistas parciais do receptor CB1, ou seja, inibitória na migração de células cancerosas,
induzem uma resposta mais fraca do que o interferindo também na adesão e invasão
agonista total.87,91 Em contraste, o CBD destas células, sendo esses efeitos úteis para
apresenta baixa afinidade pelo CB1, atuando o tratamento de diversos tipos de câncer.92
como agonista inverso no receptor CB2.92 Em 2006, Ligresti e colaboradores elucidaram
Embora o mecanismo de ação do CBD não o efeito inibitório do CBD sobre o processo
esteja completamente esclarecido, é de metástase e sobre o crescimento de
provável que ele interaja com receptores diferentes linhas de células de tumor da
espe ífi os, tal o o o ∆ -THC. O CBD possui mama (MCF-7, MDA – MB – 231),
a habilidade de facilitar a sinalização dos apresentando-se menor em células normais.
endocanabinoides por intermédio do Os resultados dos experimentos indicaram a
bloqueio da recaptação ou hidrólise capacidade do CBD de incitar a apoptose por
enzimática da anandamida. Todavia, várias vias, incluindo a ativação direta ou
apresenta baixa afinidade pelos receptores indireta de receptores CB2 e TRPV1, sendo
CB1 e CB2.93 Porém, sugere-se que a essas vias representantes das células MDA –
capacidade do CBD de ampliar a MB – 231.52
biodisponibilidade da anandamida esteja O CBD parece impedir a metástase por
relacionada com sua ação antipsicótica.94 regular a expressão da proteína Id-1 que age
Além disso, o CBD apresenta caráter inibindo fatores básicos de transcrição que
agonístico nos receptores serotonérgicos do controlam a diferenciação celular,
tipo 5-HT1A, envolvidos na modulação da desenvolvimento e carcinogênese, e está
ansiedade e da depressão,68,95 o que parece associada a um fenótipo proliferativo. O
justificar suas propriedades ansiolíticas.15,96 aumento dessa proteína induz a propagação
Entretanto, os efeitos antieméticos e invasão de células carcinogênicas.102
manifestados pelo CBD, provavelmente estão Ta to o CBD ua to o ∆ -THC apresentam
relacionados com a habilidade do propriedades neuroprotetoras e
canabinoide em modular a transmissão antioxidantes, e atuam inibindo a
serotoninérgica.97 excitotoxicidade mediada por NMDA (N-
O CBD é capaz de ativar os receptores metil-D-aspartato) em situações de trauma
vaniloides do tipo 1 (TRPV1),98 canais iônicos causado por lesão da cabeça, acidente
que integram vários estímulos nociceptivos, vascular cerebral (AVC) e doenças
incluindo a dor e reflexos protetores,99 o que neurodegenerativas.103
representa implicações importantes na Um aspecto positivo da aplicação
elucidação dos efeitos do CBD no alívio da terapêutica do CBD é a ausência de efeitos
dor e como anti-inflamatório.90 No sistema adversos e tóxicos em diversos estudos in
nervoso central, o TRPV1 localiza-se nos vivo e in vitro da administração do CBD em

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Matos, R. L. A. et al.

ampla faixa de concentrações.12 Além disso, a tratamento de epilepsias na infância e


administração aguda de CBD, por diversas adolescência refratárias às terapias
vias, não produziu efeitos tóxicos convencionais. Porém, a prescrição
significativos em humanos; e a administração compassiva limita-se aos profissionais
crônica por um mês em voluntários saudáveis especializados em neurologia, neurocirurgia e
(doses diárias entre 10 a 400 mg), não psiquiatria devendo estes, ser previamente
provocou nenhuma alteração em exames cadastrados no Conselho Regional de
neurológicos, psiquiátricos ou clínicos.17 Medicina (CRM) e Conselho Federal de
Medicina (CFM). Para desfrutar do benefício,
Apesar do relato da existência de efeitos
os pacientes submetidos ao tratamento
adversos menores em alguns estudos, como
deverão ser cadastrados no Sistema
exemplo a inibição do metabolismo hepático
CRM/CFM para a realização do
da droga, em visão geral, os dados clínicos
monitoramento da segurança e efeitos
disponíveis sugerem que há segurança na
adversos.108
administração do CBD em uma ampla faixa
de dosagem, em conformidade com os Além disso, a Resolução aponta a
resultados de ensaios clínicos com modelos necessidade da continuidade de estudos bem
animais.104 conduzidos metodologicamente, pois, até o
presente momento, a ação terapêutica do
CBD em crianças e adolescentes com
4.2. O Canabidiol no Brasil epilepsia refratária é evidenciada por um
reduzido número de estudos, sem resultados
conclusivos quanto à sua segurança e eficácia
Autorizar o uso medicinal dos derivados sustentada.108
da Cannabis sativa se tornou um desafio,
mesmo com a comprovada ação terapêutica De acordo com o Artigo 4º da Resolução,
dos mesmos, em especial, do CBD. O grande é proibido ao médico prescrever o uso
receio das autoridades quanto à liberação da medicinal da Cannabis in natura, bem como
aplicação medicamentosa dos canabinoides quaisquer outros derivados que não o CBD.103
consiste na promoção de uma ocasião Porquanto, segundo a Academia Brasileira de
favorável para os usuários da forma Neurologia (ABN), o uso recreativo da
recreativa da droga.105 Cannabis para epilepsia é totalmente
contraindicado.109
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) autorizou o uso medicinal O CBD é encontrado disponível para
do CBD por importação para casos importação em tubos contendo a forma
específicos, porém, exigindo-se prescrição, concentrada do óleo de cânhamo (Figura 8).
laudos médicos e termo de Este deve ser administrado em combinação
responsabilidade.106 Apesar do CBD ainda não com as medicações utilizadas pelo paciente
ter registro na ANVISA, seu uso pode ser anteriormente. O tratamento pode iniciar
liberado por meio do chamado uso com doses de 2,5 mg/kg/dia de CBD, por via
compassivo, caracterizado pela prescrição de oral, divididas em duas doses diárias. A dose
uma substância destinada a pacientes com pode aumentar em 5 mg/kg/dia a cada sete
doenças graves e sem alternativa de dias, até a dose máxima de 25 mg/kg/dia, em
tratamento com produtos já registrados.107 duas doses ao longo de, no mínimo, cinco
semanas a partir do início do tratamento, a
A Resolução nº 2.113, de 30 de Outubro fim de estabelecer a dose ideal com garantia
de 2014, regulamenta o uso compassivo do de segurança e tolerabilidade.108
CBD como terapêutica médica, restrita para o

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Matos, R. L. A. et al.

Figura 8. Hemp Oil (Óleo de Cânhamo): composto rico em CBD107

A grande preocupação do Conselho pela ocorrência de, pelo menos, uma


Federal de Medicina e o real motivo para as manifestação convulsiva, indicando a
atuais restrições impostas ao tratamento predisposição cerebral permanente para
com o CBD consistem na incerteza quanto ao gerar crises epilépticas. Pacientes com
surgimento de complicações de diferentes epilepsia expressam condições
naturezas, bem como efeitos adversos ainda neurobiológica, cognitiva e social alteradas,
não relatados ou reações alérgicas podendo sofrer estigmas, exclusão, restrição,
inesperadas. Logo, o CBD ainda não é superproteção e isolamento, além de
registrado como medicamento e seu uso consequências psicológicas para si mesmos e
limita-se em caráter compassivo, devido ao para a família.112
esgotamento de alternativas terapêuticas
Aproximadamente 1% da população
medicamentosas.108
mundial é acometida pela epilepsia.113 A
constante ocorrência de crises epilépticas
pode prejudicar gravemente a qualidade de
5. O Canabidiol e a Epilepsia vida do indivíduo114 causando danos
cerebrais, especialmente no período de
desenvolvimento.115 Portanto, o tratamento
Epilepsia o o eito apli ado a u a da epilepsia visando o controle das crises
disfunção cerebral caracterizada pela convulsivas é extremamente importante,
ocorrência periódica e imprevisível de crises pois, quando não tratada de maneira
convulsivas110 que, por sua vez, constituem adequada, a repetição das crises poderá
modificações temporárias do ocorrer em intervalos cada vez mais curtos.116
comportamento causadas pelo disparo
Os medicamentos anticonvulsivantes
desordenado, sincrônico e rítmico de vários
disponíveis atualmente não são capazes de
neurônios. Tais modificações ocorrem devido
promover a cura da doença, porém, são
a alterações encefálicas que geram
hiperexcitabilidade e hipersincronismo da apropriados para controlar a repetição das
atividade neuronal, manifestando-se de crises convulsivas.116
diversas formas distintas, dependendo dos Sob o enfoque histórico, os medicamentos
substratos neuronais envolvidos.111 anticonvulsivantes podem ser divididos em
três gerações. A primeira geração é
A definição de epilepsia é determinada
constituída pelos fármacos introduzidos
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Matos, R. L. A. et al.

entre 1857 e 1958 dos quais o brometo de radicais fenil.120


potássio e o fenobarbital estão inseridos,
Nas últimas décadas, o principal objetivo
além de algumas moléculas provenientes da
tem sido o desenvolvimento de novas
estrutura dos barbitúricos, como a fenitoína,
moléculas com base nos mecanismos
a primidona, a trimetadiona e a
fisiopatogênicos provavelmente envolvidos
etossuximida. A segunda geração
nas convulsões, porém, tais mecanismos
corresponde aos medicamentos
ainda são pouco elucidados e os novos
comercializados entre 1960 e 1975,
fármacos antiepilépticos são caracterizados
quimicamente distintos dos barbitúricos,
pela casualidade e empirismo. A vigabatrina,
como a carbamazepina, o valproato e os
por exemplo, foi desenvolvida como um
benzodiazepínicos. A terceira geração
inibidor irreversível da enzima responsável
abrange os compostos caracterizados pelo
pela degradação do GABA (GABA-
dese ol i e to a io al , o e ializados
transaminase), já a gabapentina e outros
a partir de 1980, como a progabida, a
fármacos originalmente produzidos como um
gabapentina, a vigabatrina e a tiagabina, e
análogo do GABA, agem por mecanismos
outras descobertas acidentalmente, como a
ainda não totalmente esclarecidos.118
lamotrigina e o topiramato. Atualmente,
estão sendo desenvolvidos fármacos que irão O interesse pela composição de
compor a classe da quarta geração.117 medicamentos com características
farmacocinéticas mais adequadas que as dos
O fenobarbital (Acrescentar estrutura
fármacos com propriedades anticonvulsivas
química) é um sedativo e hipnótico produzido
previamente comprovadas, resultou na
há mais de um século (desde 1912) que se
síntese de novas moléculas aprimoradas
tornou o medicamento de escolha para o
como a fosfenitoína (a partir da fenitoína), a
tratamento da epilepsia, por apresentar
oxcarbazepina (da carbamazepina), o
eficácia e pouca toxicidade. É provavelmente
levetiracetam (do piracetam) e a pregabalina
um dos fármacos antiepilépticos mais
(da gabapentina) (Acrescentar estruturas
receitados em todo o mundo, sua
química).118
popularidade está relacionada ao baixo
custo, experiência clínica prolongada e O último medicamento comercializado
segurança satisfatória. O principal caracterizado por atuar em novos
mecanismo de ação do fenobarbital está mecanismos de ação foi o perampanel (age
associado ao aumento da inibição do na modulação da neurotransmissão mediada
GABA.118 pelo ácido aminometilfosfônico). O
brivaracetam (sucessor do levetiracetam),
A fenitoína (Acrescentar estrutura
medicamento que se liga à canais de sódio e
química) passou a ser empregada no
à proteína da vesícula sináptica 2A com
tratamento farmacológico da epilepsia em
afinidade vinte vezes maior, aguarda
1938 e, desde então, tem sido um dos
aprovação para ser comercializado.121
medicamentos mais utilizados no tratamento
das crises convulsivas. Sua molécula foi Dentre os fármacos mais solicitados para
sintetizada a partir da estrutura do ácido controlar as convulsões de diversas origens
barbitúrico.119 Em um estudo explorando as destacam-se: ácido valpróico,
propriedades antiepilépticas de carbamazepina, clobazam, clonazepam,
determinadas moléculas, Putnam e Merritt etosuximda, felbamato, fenitoína,
concluíram que apenas fármacos hipnóticos fenobarbital, gabapentina, lamotrigina,
teriam ação anticonvulsiva, relacionando essa levetiracetam, oxcarbazepina, pregabalina,
característica à presença do anel fenil na primidona, tiagabina, topiramato, vigabatrina
molécula. A partir disso, passaram a analisar e zonizamida (Figura 9).122-124
derivados barbitúricos com a adição de

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Ácido valpróico Carbamazepina Clobazam Clonazepam

Etosuximda Felbamato Fenitoína Fenobarbital

Gabapentina Lamotrigina Levetiracetam Oxcarbazepina

Pregabalina Primidona Tiagabina Topiramato

Vigabatrina Zonizamida
Figura 9. Estrutura química dos mais solicitados para controlar processos convulsivos em geral

Até o presente momento, tratamento da epilepsia. Todavia, um terço


aproximadamente 25 anticonvulsivantes dos pacientes epilépticos apresenta
estão disponíveis comercialmente para o resistência ao tratamento farmacológico, os

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Matos, R. L. A. et al.

quais compõem o grupo da intitulada evitando os possíveis danos cerebrais que


epilepsia ef at ia ou poderiam ser desenvolvidos.126
fa a o esiste te ,125 fator evidentemente
Atualmente, a diversidade de fármacos
comum nas Síndromes de Dravet, Doose e
disponíveis é classificada de acordo com o
Lennox-Gastaut.108 De acordo com a
mecanismo de ação e com os inúmeros tipos
International League Against Epilepsy (ILAE),
de crises existentes, o que pode justificar a
a farmacorresistência da epilepsia equivale à
variabilidade das manifestações clínicas e das
falha a te tati a ap op iada de es olha de
respostas aos diversos tipos de
drogas antiepilépticas, monoterapia ou
medicamentos. Portanto, a eficácia do
terapia combinada, para atingir o sucesso no
anticonvulsivante para os vários tipos de
o t ole das ises o ulsi as ,125 o que
crises e seus aspectos farmacocinéticos são
pode gerar grande impacto na funcionalidade
condições primárias básicas para a escolha do
e na qualidade de vida cognitiva e
fármaco, pois são propriedades
comportamental do paciente.11 Entretanto,
indispensáveis para a otimização do
mesmo com o desenvolvimento de novos
tratamento.123
medicamentos antiepilépticos essenciais para
a melhoria do perfil de segurança do Na visão farmacológica, a eficácia do
tratamento, a porcentagem de pacientes tratamento inicial das convulsões baseia-se
farmacorresistentes permanece inalterada.125 em reduzir a excitabilidade do tecido
neuronal, elevando o tônus inibitório.127 Os
Alguns tipos de síndromes apresentam
principais mecanismos de ação dos
casos habituais de epilepsia refratária, como
anticonvulsivantes existentes no mercado
por exemplo a síndrome de Dravet, que
incluem os processos de bloqueio dos canais
corresponde a um tipo de epilepsia
de sódio dependentes de voltagem, bloqueio
mioclônica (contração muscular involuntária)
dos canais de cálcio, potencialização da
grave, caracterizada por crises convulsivas de
inibição GABAérgica (estimulando a abertura
difícil controle medicamentoso, que
dos canais de cloreto) e antagonismo dos
promovem um declínio no desenvolvimento
receptores glutamatérgicos.123
neuropsicomotor, atraso de linguagem,
ataxia em 80% dos casos e hiperreflexia. Na complexidade do sistema
Incluída na mesma condição, a síndrome de farmacológico associado ao processo
Lennox-Gastaut consiste em uma forma convulsivo, estão incluídos mecanismos
grave de epilepsia, caracterizada por sinápticos e não-sinápticos. Entre os
diferentes tipos de crises convulsivas mecanismos sinápticos destacam-se a
recorrentes, frequentemente associadas a redução da inibição GABAérgica, a ativação
retardo mental. Já a síndrome de Doose de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA)
refere-se a um tipo de epilepsia com crises para glutamato e alterações no potencial
mioclônico-astáticas, geralmente associadas excitatório pós-sináptico (PEPS). Entre os
ao atraso do desenvolvimento mecanismos não-sinápticos concentra-se o
neuropsicomotor, ataxia e retardo mental, aumento na concentração de íons potássio
podendo este último ser evitado com o extracelular próximos às células piramidais
controle adequado das crises epilépticas.108 corticais e região CA1 hipocampal, processo
capaz de promover a hiperativação
Diante desse quadro, fica evidente a
neuronal.110 Contudo, o desequilíbrio
importância do desenvolvimento de novos
patológico pode originar de defeitos em
fármacos para o tratamento da epilepsia,
genes específicos direta ou indiretamente
especialmente para pacientes refratários aos
envolvidos nos processos de sinalização,
tratamentos disponíveis, com drogas eficazes
regulação da atividade ou organização
que apresentem imprescindível redução de
neuronal.128-136
efeitos secundários, além da possibilidade de
modificar a história natural da doença, O excesso de atividade neuronal, processo

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Matos, R. L. A. et al.

denominado no ramo da Neurofisiologia após o desligamento dos genes codificando o


como atividade neuronal epileptiforme, receptor CB1 em animais experimentais.
ocorre em consequência de um defeito Notou-se que, ao desligar os receptores
crônico ou agudo nos mecanismos exclusivamente nos neurônios
fisiológicos responsáveis pela regulação do glutamatérgicos, os animais revelaram maior
fluxo de estimulação (ativação sináptica). Tal susceptibilidade para convulsões induzidas
fluxo depende dos mecanismos por ácido kaínico, um agonista de receptores
autorregulatórios em cada sinapse e da glutamatérgicos. Contudo, não foi observada
conectividade entre os neurônios inibitórios e qualquer distinção na resposta de animais os
excitatórios dos circuitos neurônicos, que em quais o desligamento dos receptores CB1 foi
condições anormais, provoca um descontrole realizado especificamente nos neurônios
excitatório pela carência de GABAérgicos.144 A partir disso, é possível
contrabalanceamento mantido pelos compreender a importância da atuação do
neurônios inibitórios.132 sistema endocanabinoide em convulsões
oriundas de hiperativação de neurônios
A hiperativação gera um ciclo de
glutamatérgicos, pois a ativação dos
retroalimentação (autocorreção) que se
receptores CB1 promove a redução no
propaga entre os circuitos neurônicos como
excesso de atividade.143
uma reação em cadeia, promovendo ampla
sincronização entre os neurônios de caráter Porém, quando as convulsões procedem
não fisiológico, resultando assim, em um de uma alteração no controle inibitório, a
fluxo desordenado de atividade pelos ativação desses receptores em neurônios
circuitos afetados. Por conseguinte, de GABAérgicos pode diminuir expressamente a
acordo com a extensão da hiperativação e força inibitória dos neurônios,
dos circuitos afetados, a reação do organismo potencializando a hiperativação.143
tende a se revelar de diversas formas, como
A incidência mais duradoura (5 minutos
nas várias manifestações decorrentes da
ou mais) de descargas epileptiformes é
convulsão.137
intitulada de status epilepticus (estado
Externamente, as convulsões epiléptico), podendo este ser convulsivo ou
propriamente ditas manifestam-se por seus não-convulsivo.141,142,145,146 Em uma pesquisa
efeitos motores, entre os quais estão clínica desenvolvida por Blair e colaboradores
incluídos: descontrole motor e espasmos (2006), foram analisados os mecanismos
musculares, autonômicos (salivação, sinápticos de formação do status epilepticus
desordens sensoriais e de estado de através de culturas de neurônios produzidas
consciência, como crises de ausência ou como modelo experimental, os quais
perda transitória da consciência), parestesias revelaram a influência dos canabinoides no
(sensação de formigamento, picada, bloqueio da formação das atividades
queimadura ou choque elétrico), alterações epileptiformes pela ativação de receptores
na percepção visual (geralmente, como CB1.147
flashes de luz), escurecimento da visão, bem
Recentemente, este modelo experimental
como alucinações coloridas da visão,
foi utilizado para demonstrar o poder
fantosmia (alucinações olfativas), alucinações
inibitório do paracetamol (medicamento
gustativas, entre outras manifestações.138-142
aplicado como analgésico e antipirético) na
Geralmente, endocanabinoides são formação de atividade epileptiforme
produzidos em resposta à atividade semelhante à do status epilepticus,
epileptiforme, com o intuito de ativar abrangendo um mecanismo que envolve a
receptores CB1 de neurônios excitatórios, ativação de receptores CB1 por
para conter o excesso de atividade endocanabinoides.148
neuronal.143 Em um estudo clínico conduzido
O mecanismo de ação do paracetamol foi
por Monory e colaboradores (2006),
melhor elucidado a partir da descoberta da
observou-se os efeitos fisiológicos gerados

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Matos, R. L. A. et al.

participação do sistema endocanabinoide na O agonismo da anandamida sobre o CB1 é


origem de seus efeitos analgésicos, pois, o mais fraco que do 2-AG, porém, embora
medicamento é metabolicamente possua efeito apenas parcial sobre o
desacetilado e posteriormente conjugado receptor, a anandamida apresenta maior
com ácido araquidônico para formação da N- afinidade do que o 2-AG.157 Portanto, ao
araquidonoil-fenolamina, substância que passo em que a anandamida é acumulada em
bloqueia a recaptação de anandamida, seus sítios de ação, a mesma tende a retirar o
promovendo seu acúmulo nas sinapses.149-157 2-AG dos receptores a fim de substituí-lo. Em
hipótese, a aplicação sistêmica de CBD e
Portanto, o paracetamol produz
subsequente interação da anandamida e do
indiretamente um efeito semelhante a uma
2-AG pode resultar na manutenção de um
das principais ações farmacológicas do CBD,
estado intermediário de ativação dos
que consiste na inibição da recaptação da
receptores CB1, onde os mesmos encontram-
anandamida.153,154
se nem desativados, nem inteiramente
A farmacologia do CBD é complexa, ativados pelo 2-AG.18
abrangendo interações diretas e/ou indiretas
Dessa forma, onde ocorrer o estímulo à
com receptores de vários sistemas de
produção de endocanabinoides, o CBD
controle celular.53 Entretanto, diversos
intensificará a ativação de CB1 por
efeitos farmacológicos do CBD resultam de
anandamida em receptores que se
sua ação inibitória sobre o mecanismo de
encontrem previamente vazios. Em
recaptação e degradação da anandamida.158
contraste, a ativação de CB1 mantida pela
Esta, por sua vez, constitui um ativador interação do 2-AG será reduzida pelo CBD,
parcial do receptor CB1 com alta afinidade ocorrendo a substituição do
por este. Porém, é provável que ela aumente endocanabinoide pela anandamida
a ativação de CB1 quando este se encontra acumulada, aplacando assim, a ativação dos
desocupado, mas que reduza em parte a circuitos neuronais potencialmente
ativação se o receptor estiver ocupado por envolvidos na propagação da atividade
um ligante de baixa afinidade, como o CBD e epileptidorme.18
o 2-AG, um endocanabinoide agonista
Os primeiros estudos acerca dos efeitos
seletivo de CB1.157
anticonvulsivantes provenientes do CBD
A interação farmacológica do CBD e dos foram realizados pelo Centro Brasileiro de
dois endocanabinoides (anandamida e 2-AG) Informações sobre Drogas Psicotrópicas
sobre o receptor CB1 pode manifestar, pelo (CEBRID), na Escola Paulista de Medicina a
menos em parte, uma reação de inversão do partir de 1975, conduzidos pelo professor
efeito na medida em que a concentração do Elisaldo Carlini.164
CBD é elevada.53,96,158
Os efeitos benéficos do CBD contra
Portanto, a propagação da atividade convulsões foram observados primeiramente
epileptiforme oriunda de circuitos cuja em ratos e, mais tarde, em pacientes. No
localização dos receptores CB1 está nos estudo clínico principal, oito pacientes foram
neurônios glutamatérgicos, pode ser tratados com doses diárias de CBD (200 a 300
eventualmente reduzida mediante a ação do mg/dia por quatro meses), dos quais quatro
CBD, neste caso, com a interrupção no foco indivíduos apresentaram-se livres de
de origem. Além disso, a aplicação sistêmica convulsões, três manifestaram uma melhora
de CBD pode provocar o acúmulo de parcial e apenas um não apresentou resposta
anandamida em qualquer ponto de produção ao tratamento. Em contraste, somente um
da mesma, seja por efeito da ação sináptica, dos pacientes que recebeu placebo obteve
por liberação tônica e/ou por ação melhora clínica.17
hormonal.159-163
Além de um único efeito adverso ter sido

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relatado (sonolência) durante o tratamento tipos de epilepsias refratárias. Inicialmente,


com CBD, efeitos tóxicos significativos não todos os pacientes foram observados por
foram observados. A ausência da toxicidade quatro semanas com o(s) medicamento(s)
foi analisada através de exames de sangue, que já faziam uso (linha de base), passando,
de urina, análise da atividade elétrica e logo após esse período, a receber o CBD (5 a
cerebral (ECG e EEG), exames clínicos e 20 mg/kg/dia) por, pelo menos, doze
neurológicos.43 semanas em combinação à medicação
utilizada (linha de base). A porcentagem de
Em 2013, um levantamento realizado por
redução de crises na 12ª semana foi
Porter e Jacobson, nos Estados Unidos,
comparada com as quatro semanas da linha
analisou os efeitos do uso de linhagens da
de base e a redução média alcançada foi de
Cannabis spp. ricas em CBD no tratamento de
44%; 70% das crises foram reduzidas em 41%
dezenove crianças com epilepsias refratárias,
dos pacientes e 15% ficaram livres das crises;
das quais treze possuíam Síndrome de
já nos pacientes com síndrome de Dravet, a
Dravet, quatro tinham a Síndrome de Doose,
redução média de crises foi de 52%.90
uma com Síndrome de Lennox-Gastaut e uma
com epilepsia idiopática. Ao findar três meses A ocorrência de efeitos adversos no dado
de acompanhamento, dezesseis (84%) dos estudo foi analisada num total de sessenta e
pais que responderam a pesquisa relataram duas crianças (vinte e sete com, pelo menos,
uma significante redução na frequência das doze semanas de tratamento e as demais
crises convulsivas. Dentre estes, dois (11%) com um tempo inferior), onde não foi
confirmaram a extinção total das convulsões, necessária a retirada de nenhum paciente
oito (42%) relataram uma redução superior a por efeito adverso. Por conseguinte, os
80% na frequência das crises e seis (32%) efeitos adversos manifestados apresentaram-
afirmaram observar uma redução de 25 a se de intensidade leve ou moderada e os
60% das convulsões. Os pais ainda mais comuns (>10%) foram: sonolência
mencionaram uma melhora no estado de (40%), fadiga (26%), diarreia (16%),
alerta das crianças e não foram relatados diminuição do apetite (11%) e aumento do
efeitos adversos graves, embora alguns casos apetite (10%).90
tenham manifestado sonolência e cansaço.165
Em uma extensa revisão, foram analisados
Recentemente, o professor da New York mais de 120 estudos de toxicidade e efeitos
University School of Medicine, Orrin adversos do CBD, dentre os quais, a maioria
Devinsky, recebeu autorização da Food and realizada em animais e poucos em humanos,
Drug Administration (FDA) para dirigir um sugerem que o mesmo é bem tolerado e
estudo com um produto denominado seguro, até em doses elevadas e com uso
comercialmente de Epidiolex, contendo 98% crônico.104
de CBD, fabricado pela empresa
As pesquisas clínicas realizadas até o
biofarmacêutica GW Pharmaceuticals.106 O
presente momento indicam segurança e
ensaio clínico aberto e prospectivo envolve
eficácia no uso terapêutico do CBD, podendo
crianças e adultos jovens acometidos por
ele se tornar o primeiro canabinoide aplicado
crises epilépticas farmacorresistentes, e vem
no tratamento da epilepsia. Contudo, as
sendo realizado desde o final de 2013, no
informações advindas de estudos clínicos
Centro Médico Langone da Universidade de
controlados, principalmente estudos
Nova York e na Universidade da Califórnia em
farmacocinéticos, ainda permanecem
São Francisco.90
insuficientes, impossibilitando a
De acordo com uma análise parcial deste determinação das doses ideais e a
estudo, vinte e sete pacientes identificação das possíveis interações
(predominantemente crianças) completaram medicamentosas que podem interferir na
pelo menos doze semanas de tratamento, eficácia do tratamento ou promover
dentre os quais, nove possuem síndrome de toxicidade. Além disso, os alvos responsáveis
Dravet e os demais compreendem outros pelos efeitos anticonvulsivantes do CBD, em

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Matos, R. L. A. et al.

sua totalidade, ainda não foram nos anticonvulsivantes disponíveis que,


completamente compreendidos.65 geralmente, mostram-se ineficazes em casos
como estes.
Para que o CBD possa tomar parte da
composição de medicamentos específicos
para a epilepsia, é essencial que haja a
Referências Bibliográficas
descrição do perfil químico da droga ou
produto botânico, porém, os dados
atualmente disponíveis ainda não preenchem 1
Zuardi, A. W. History of cannabis as a
estes critérios.166 medicine: a review. Revista Brasileira de
Atualmente, a maior dificuldade referente Psiquiatria 2006, 28, 153. [CrossRef]
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do uso de compostos derivados da cannabidiol, a product isolated from the
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Journal of the American Chemical Society
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activity. Science 1970, 169, 611. [CrossRef]
Mediante as pesquisas bibliográficas [PubMed]
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realizadas para a composição deste estudo, é Russo, E.; Guy, G. W. A tale of two
cannabinoids: the therapeutic rationale for
possível concluir que o canabidiol possui
amplo potencial terapêutico em nível do combining tetrahydrocannabinol and
cannabidiol. Medical Hypotheses 2006, 66,
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bem como evitar os irreversíveis danos 6
Martin, B. R.; Mechoulam, R.; Razdan, R. K.
cerebrais e impedir os efeitos retrógrados no
Discovery and characterization of
desenvolvimento de crianças e adolescentes.
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Dessa forma, é necessário que estudos 1999, 65, 573. [CrossRef] [PubMed]
clinicamente comprovados, envolvendo um 7
Crippa, J. A. S.; Zuardi, A. W.; Hallak, J. E. C.
elevado número de pacientes, sejam Uso terapêutico dos canabinoides em
realizados em prol da análise minuciosa das psiquiatria. Revista Brasileira de Psiquiatria
propriedades farmacocinéticas do canabidiol, 2010, 32, 56. [CrossRef]
para que o processo de aprovação para o uso 8
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medicinal do canabinoide como fármaco de psychiatric disorders – the road ahead.
escolha no tratamento de epilepsias de difícil Revista Brasileira de Psiquiatria 2010, 32, S5.
controle seja realizado o mais rápido [CrossRef] [PubMed]
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