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1­ Noções de Direito Internacional Privado 

1.1 As situações transnacionais 
1.1 Situações Transnacionais e situações privadas 
1.3 Carácter Transnacional 
1.4 Processo conflitual 
2 ­ Características das normas de conflitos de leis no espaço 
2.1 Normas de Regulação Indirecta 
2.2 Normas de conexão 
1.3 Norma formal 
2 ­ Planos, processos e técnicas 
2.1 Processos 
Natureza do Direito de Conflitos 
Orgãos de aplicação do Direito de Conflitos 
Fontes de Direito dos Conflitos 
Objecto e Função da Norma de Conflitos 
Normas Bilaterais 
Normas Bilaterais 
a) Bilateralismo e Unilateralismo 
b) Coexistência de bilateralismo e unilateralismo nos actuais sistemas de DIP 
c) As funções das normas de conflitos unilaterais no Direito Vigente 
d) Bilateralização de normas unilaterais 
e) Normas bilaterais imperfeitas 
Normas de remissão condicionada e normas de reconhecimento 
Normas de remissão condicionada 
Norma de reconhecimento 
Problema da relevância de normas imperativas estrangeiras 
Problema 
Principais teses sobre relvância das normas imperativas estrangeiras 
Posição de Lima Pinheiro (iure condendo) 
Posição de Lima Pinheiro (iure constituto) 
Relevância de normas imperativas de terceiros estados no quadro do Direito 
material da lex causae 
A justiça e Princípios Gerais do Direito dos Conflitos 
A justiça do direito dos Conflitos 
Os Princípios do Direito de Conflitos 
a) Preliminares 
b) Princípios de conformação global do sistema 


Para LP o legislador terá ido longe demais quanto a este princípio, sacrificando a 
Harmonia Internacional de Soluções. 
c) Princípios de Conexão 
Estrutura geral norma de conflitos 
Elementos da norma de conflitos 
Previsão 
Fenómeno do depeçage 
Estatuição 
Estatuição da norma de conflitos 
Modalidades de conexão em geral 
Elemento de Conexão 
Noção e Função 
Classificações de elementos de conexão: (não sai) 
A determinação da remissão em função das circunstâncias do caso concreto 
Critério da Conexão mais estreita 
Cláusula de Excepção 
Interpretação e aplicação da norma de Conflitos 
Intepretação da norma de conflitos 
Normas de Conflitos de Fonte Interna 
Normas de conflito de fonte supraestadual 
Integração de Lacunas no Direito de Conflitos 
Aplicação no tempo e no espaço do Direito dos Conflitos 
Aplicação no tempo do Direito dos Conflitos 
Do Elemento de Conexão 
Princípios Gerais de interpretação e aplicação 
1 ­ Intepretação 
2 ­  Concretização 
2.1 ­ aspectos gerais da determinação do conteúdo do concreto do elemento 
de conexão 
3 Conteúdo múltiplo e falta de conteúdo 
Concretização no Tempo 
Nacionalidade dos indivíduos, domicílio, e residência habitual 
a) Nacionalidade dos indivíduos 
b) Domicílio 
Remissão para ordenamentos Jurídicos Complexos 
Problema 
Princípios gerais de solução 
Quando é que norma remete para OjC no seu conjunto e quando é que remete 
directamente para um dos sistemas que nele coexistem? 
Como determinar, de entres os sistemas que vigoram no OJC, qual o aplicável 
Devolução ou Reenvio 
Introdução 
Tipos de Devolução 


Critérios Gerais de solução 
a) Tese da Referência material 
b) Teoria da referência global 
c) Teoria da devolução simples 
d) Teoria da devolução integral /foreign court theory ou dupla devolução 
e) Conclusão 
O regime vigente 
a) Regra geral da referência material 
b) Transmissão de competências 
Retorno 
d) Favor negotii como limite à devolução 
e) Casos em que não é admitida devolução 
f) Regimes Especiais de devolução 
g) Caracterização do sistema de devolução 
h) Apreciação crítica 
Qualificação 
Enquadramento e método 
a) Generalidades 
b) Operações envolvidas na qualificação 
d) Interpretação dos conceitos que delimitam o objecto da remissão 
d) Delimitação do objecto da remissão 
e) Qualificação em sentido estrito 
f) Especialidades das normas conflitos ad hoc e normas remissão condicionada 
Dificuldades introduzidas pelo fraccionamento conflitual das situações da vida 
Problemas especiais de Interpretação e aplicação do Direito dos Conflitos 
Questão Prévia 
Reserva de ordem pública internacional 
a) Reserva de ordem pública internacional enquanto cláusula geral que veicula 
princípios e normas fundamentais 
b) Outras características das Ordem Púbica internacional 
c) Consequências da intervenção da reserva de OPI 
Fraude à Lei 
Caracterização da Figura 
Sanção 
 

1- Noções de Direito Internacional Privado


 

1.1 As situações transnacionais


 

Uma pluralidade de estados soberanos reflecte­se numa pluralidade de sistemas jurídicos, 
com autonomia entre si e que por isso podem regular de formas diferentes os mesmos 
problemas. 
 
As situações jurídicas podem inserir­se apenas num ordenamento, não suscitando qualquer 
problema de DIP, mas é evidente que a “sociabilidade humana não pára nas fronteiras do 
estado” 
 
Hoje verifica­se uma crescente internacionalização das relações sociais, que começou 
sobretudo no século XX, consequência da internacionalização da economia, dos movimentos 
migratórios, das novas tecnologias de informação e comunicação. 
 
Em certas situações, que nascem precisamente desta internacionalização das relações 
sociais, o orgão de aplicação do direito tem antes de poder resolver o problema principal, 
determinar qual a lei aplicável. Mais, há que perceber quais os tribunais que são 
competentes para essa aplicar essa lei, isto é , há que determinar a competência 
internacional dos tribunais. Por fim pode ainda apontar­se outro tipo de problemas que é 
resolvido pelo DIP, o do reconhecimento de decisões estrangeiras (quando um litígio é 
resolvido pelo tribunal do país A questiona­se se pode produzir efeitos na ordem jurídica do 
país B). 
 
Lima Pinheiro fala por isso numa feição triangular dos problemas a resolver: determinação do 
direito aplicável, competência internacional e reconhecimento de decisões estrangeiras 
 

1.1 Situações Transnacionais e situações privadas


 
Entende­se tradicionalmente que o DIP regula situações de direito privado, como as que 
dizem respeito ao Direito Civil das Pessoas, das Coisas, da Família, das Sucessões. São 
também situações privadas aquelas em que, estando implicado um Estado ou ente público 
autónomo, este não  age na qualidade de sujeito público, mas como um particular “porque 
estas situações são regidas pelo direito Privado".  
 
Lima Pinheiro prefere falar apenas em situações transnacionais, pois algumas das situações 
não são reguladas exclusivamente pelo direito privado 
 
Situações transnacionais: aquelas em que se coloca um problema de determinação do 
direito aplicável que deva ser resolvido pelo DIP. Este problema de determinação de 
jurisdição pode ser colocado entre ordens juridicas estaduais, a ordem jurídica internacional e 
mesmo com o Direito autónomo do comércio internacional. 
 
Delimitação das situações reguladas pelo DIP 
 


Durante muito tempo vigorou o paradigma da absoluta territorialidade do direito público: o 
direito público seria territorial, pelo que os orgãos de aplicação do direito de um estado só 
aplicariam o direito publico interno. Juntava­se a este dogma o da concepção absoluta da 
imunidade de jurisdição dos Estados, pelo qual “um estado não poderia ser accionado nos 
tribunais de outro Estado, salvo em casos excepcionais”, e “um estado não poderia actuar 
em tribunais de outro estado com base em pretensões do seu direito publico: os litigios 
emergentes de relação jurídico­publica só podiam ser apresentados nos tribunais desse 
estado, onde seria exclusivamente aplicado o direito interno, mesmo que uma das partes 
fosse estrangeira. 
 
Nesta lógica nao se colocavam problemas de alicação no espaço do Direito Publico 
 
Esta concepção hoje caiu, pelo que o direito público de uma ordem jurídica estrangeira que 
tenha sido designada pela norma de conflitos pode ser aplicado. Quanto ao imunidade de 
jurisdição está hoje mitigada: os estados só têm imunidade de jurisdição relativamente aos 
actos praticado no exercício de actividades praticadas com ius imperii e não para os actos 
praticados iure gestionis,( aqueles que também podem ser praticados por particulares) 
 
Discute­se quanto à admissibilidade de pretensões formuladas por Estados estrangeiros, 
com fundamento no seu direito público, nos tribunais locais. Lima Pinheiro defende que a 
questão pode ser livremente resolvida pela ordem jurídica do estado local, isto é, com base 
em valores de cooperação jurídica ou de solidariedade, podem admitir a pretensão de um 
estado estrangeiro fundada no seu direito público. O limite, para esta admissibilidade, é o 
mesmo que determina a imunidade de jurisdições, pelo que quando um estado goza de 
imunidade de jurisdição esta possibilidade nao existe:  faz sentido que um estado não admitia 
nos seus tribunais pretensões de estados estrangeiros que digam respeito a situações que 
só podem ser objecto de regulação na ordem jurídica desses mesmos estados. 
 
Se pudessemos reconduzir todos os actos juridico­publicos aos actos praticados iure imperii 
poderíamos afirmar que só as relações de direito privado estabelecidas por sujeitos públicos 
de um estado podem ser apreciadas por tribunais estrangeiros ou transnacionais, pois só os 
actos ius imperii estão excluídos do DIP. Mas assim não é, por 3 razões 
 
● os litigios emergentes de certas relações de direito publico, como os contratos 
publicos, são arbitráveis. Isto é, quando exista uma clausula de arbitragem válida, 
coloca­se aos arbitros a questão de saber que direito aplicar ­ mesmo sendo regulada 
por Direito público 
● estado, mesmo que actue iure imperii, pode renunciar à imunidade de jurisdição: é o 
que acontece num pacto atributivo de jurisdição a tribunais estrangeiros. 
● distinção entre actos ius imperii e ius gestionis releva do DIPublico  e não 
corresponde necessariamente ao critério de classificação dos actos como sendo de 
Direito Publico ou direito privado por uma determinada ordem jurídica. É o caso de 
Portugal 


 
Conclui que uma relação conformada por Direito Publico do Estado A pode ser encarada 
pelos tribunais de outro estado, resultando de uma actuação iure gestionis, que não beneficia 
da imunidade de jurisdição, ou seja, que a qualificação de uma situação como transnacional 
na acepção relevante para o DIP, não pressupõe necessariamente o carácter juridico­privado 
da mesma. 
 
A participação de um sujeito publico só obsta ao carácter transnacional quando 
● a relação fique directamente ao direito público interno 
● quando a relação se insira na ordem jurídica de um estado estrangeiro, por se tratar 
de uma actuação iure imperii,  não ter sido celebrada uma convenção de arbitragem 
válida nem ter ocorrido renúncia à imunidade de jurisdição 
 
Em suma “ o Direito Internacional Privado português é aplicável a todas as relações que, 
embora implicando estados ou entes públicos autónomos estrangeiros, organizações 
internacionais ou agentes diplomáticos ou consulares de Estados estrangeiros, sejam 
susceptíveis de regulação na esfera interna”. 
 

1.3 Carácter Transnacional


 
O DIP regula situações de carácter internacional, isto é, que tenham contactos relevantes 
com mais de um estado soberano. Recorremos à expressão transnacional para evitar 
confusões com a situação internacional do DI público ( “relações entre estados ou 
organizações internacionais conformadas pelo DIPúblico”). 
 
São vários os factores que podem dar origem à tal transnacionalidade: 
● nacionalidade dos sujeitos 
● o seu domicílio ou residência habitual 
● local do estabelecimento 
● local dos factos 
● local onde se encontra o objecto do litígio 
 
A internacionalidade  da situação gera a sua estraneidade, face à ordem jurídica de 
referência. Os elementos de estraneidade “são os laços que ligam a situação a outros 
estados”. 
 
A transnacionalidade já não será chamada de estraneidade se estiver em causa a aplicação 
de DIP de fonte internacional, pois este não é exclusivo de uma ordem jurídica estadual. 
 
O critério de transnacionalidade relevante depende das normas de DIP em causa: pode 
variar conforme o sector do DIP em causa (direito de conflitos geral, direito de conflitos de 
arbitragem ou direito de reconhecimento). (ver melhor. esta merda toda). 


 

1.4 Processo conflitual


 
O DIP regula situações transnacionais através de um processo conflitual.  
 
Entende­se tradicionalmente que o núcleo do DIP são as normas de conflito: “ preposições 
que perante uma situação em contacto com uma pluralidade de sociedades estaduais 
determinam o direito aplicável” ­ ex: artigo 50º CC 
 
Sendo um direito de conflitos, há que distinguir de outros “direitos de conflitos”: 
● conflitos de soberanias: trata­se de determinar o direito aplicável a uma situação 
transnacional e não regular competências legislativas 
● conflito de normas: ainda que o DIP pressuponha uma pluralidade de sistemas 
jurídicos vigentes que apresentam diferenças na regulação da mesma situação, mas 
na ordem jurídica local, “aplicável” não existe qualquer conflito de normas.  
● conflitos de sistemas de direito internacional privado: quando os direitos dos conflitos 
das ordens jurídicas em presença divergem entre si sobre qual deve ser aplicado, isto 
é, quando surgem conflitos, positivos ou negativos de jurisdição. 
 
“quando falamos de conflitos de leis em DIP  queremos somente identificar o problema 
de determinação do direito aplicável gerado por uma situação da vida que está em contacto 
com a esfera social de mais de um estado”, problema esse que é resolvido pela norma de 
conflitos. 
 
 
O direito de conflitos visa regular situaçãos transnacionais, através de um processo de 
regulação indirecta: regula as situações mediante a remissão para o direito aplicável. Batiffol, 
adoptando outra perspectiva da mesma realidade, defende que a norma de conflitos 
“coordena ou articula as ordens jurídicas internacionais”. 
 
Mesmo na perspectiva do Direito de Reconhecimento, existe o recurso ao processo 
conflitual: as normas que determinam o reconhecimento dos efeitos de decisões 
estrangeiras, estabelecem as condições em que pode existir o tal reconhecimento, mas não 
disciplinam materialmente a situação. A regulação da situação jurídico­material resulta da 
remissão para o direito do estado de origem. 
 

2 - Características das normas de conflitos de leis no espaço


 

2.1 Normas de Regulação Indirecta


 


Em oposição às  normas de regulação material/directa, que “desencadeiam efeitos jurídicos 
que modelam as situações jurídicas das pessoas” ou que “determinam o regime aplicável à 
situação descrita na sua previsão” (ex: 122º e 123º CC.? 
 
Ou seja, as normas de regulação indirecta mandam aplicar à situação descrita na sua 
previsão outras normas ou complexos de normas. 
 
Contudo não são meras normas de decisão (por oposição a normas de conduta, que têm 
uma função orientadora da conduta das pessoas). Isto porque LP recusa a chamada “visão 
judiciária do DIP”: os sujeitos das situações juridicas transnacionais têm que saber qual o 
direito aplicável para poderem por ele orientarem a sua conduta. Ou seja, é uma norma de 
conduta “indirecta”. 

2.2 Normas de conexão


 
Conectam uma determinada situação da vida a um direito aplicável, mediante um elemento 
de conexão ­ “o legislador de DIP é como um pontifex que lança a ponte entre situação 
jurídica e ordem jurídica”. 
 
Esta conexão estabelece­se com recurso a elementos de conexão, “determinados laços que 
o DIP considera juridicamente relevantes para a determinação do direito aplicável. São 
exemplos clássicos de elementos de conexão  a nacionalidade, a residência e o lugar de 
situação de uma coisa. Podem ser: 
●  vinculos jurídicos que se estabelecem entre um elemento da situação e um Direito 
(caso da nacionalidade) 
● laços fácticos entre situação e a esfera social de um estado 
● consequências jurídicas que se projectam num determinado lugar (lugar do efeito 
lesivo) 
● factos jurídicos (a designação pelis interessados do direito aplicável). 
 
A selecção dos elementos de conexão operacionais não é abritrária, antes obedece a uma 
valoração que fundamente essa selecção: “a norma de conexão veicula uma justiça própria, 
a justiça da conexão, que se exprime na escolha dos elementos de conexão mais adequados 
às materias em causa” 
 
O que distingue as normas de conexão do DIP de outros direitos de conflitos (como o direito 
intemporal, o direito interlocal) é o objecto das suas normas de conexão: as situações 
transnacionais. 
 
Nem todas as normas de DIP são normas de conexão. 
 
Hoje abandonou­se uma visão das coisas que exigia que o elemento de conexão tem que ser 
um laço objectivo ­ pode ser subjectivo, como é o laço que resulta da designação pelas 


partes ­ assim, a norma que permite a designação pelas partes do direito aplicável é ainda 
uma norma de conexão. 
 
Já não serão normas de conexão as normas de conflito com conceito designativo de conexão 
indeterminado ­ 4º Convenção lei aplicável às obrigações contratuais manda aplicar lei com a 
qual o contrato apresente “conexão mais estreita”. Estas normas de conflito também estão ao 
serviço da justiça da conexão, mas agora trata­se de uma justiça do caso concreto e não 
uma abstracta. Só poderão ser normas de conexão num sentido amplo desse conceito, que 
abarque todas as normas ao serviço da justiça de conexão. 
 
Indiscutivelmente não serão normas de conexão: o 33/2 da Lei Arbitragem Voluntária manda 
aplicar o “direito mais apropriado ao litígio”. Neste caso já não estamos perante qualquer 
elemento de conexão. 
 
LP considera que qualquer norma que determine o direito aplicável será Norma de Conflitos, 
pois o que caracteriza o DIP enquanto ramo do direito é o processo de regulação indirecta, e 
esse processo pode ser cumprido tanto por normas de conexão como essas outras que 
remetem para um direito a aplicar sem recorrer a qualquer elemento de conexão.  
 
Conclui por isso que a característica essencial das normas de conflito é o seu carácter 
remissivo ou de regulação indirecta. 
 

1.3 Norma formal


 
Serão normas formais porque “na designação do direito aplicável não atendem ao resultado 
material a que conduz a aplicação de cada uma das leis em presença”, 
 
O carácter formal tem que ver com o conteúdo valorativo das normas em conflito ­ são 
diferentes as valorações subjacentes às normas materiais e às de conflito. Isto torna­se clari 
bi caso das normas de conflito que sejam normas de conexão: a justiça da conexão atende 
ao significado dos laços que a situação estabelece com os estados em presença e não às 
soluções materiais ditadas pelos direitos destes estados. 
 
Falta ­  limites ao formalismo. 

2 - Planos, processos e técnicas


2.1 Processos
 
1. Processo conflitual/regulação indirecta 
2. Processos materiais/directos 
 


Processos de regulação das situações transnacionais 
 
Podemos encontrar outros processo além do processo conflitual/ de regulação indirecta. 
Lima Pinheiro aponta 3 
∙   

● Aplicação directa do direito material comum 
● Criação de direito material especial de fonte interna 
● Unificação internacional direito material 
 
Professor  adopta  aqui  uma  perspectiva  que  contrapõe  a  regulação  indirecta  à  directa,  
conforme haja ou não necessidade de uma valoração conflitual. 
 
O processo  indirecto/conflitual consiste “no recurso a uma norma de conflitos, ou num sentido 
amplo, a uma valoração conflitual para a determinação do direito material aplicável” 
 
No  processo  directo  ou  material,  por  sua  vez,  “procede­se  directamente  à  regulação  de 
acordo com o direito material, sem necessidade de uma valoração conflitual” 
 
Podemos encontrar três casos de regulação directa na ordem jurídica estadual: 
 
1  –  Quando  o  direito  material  comum  do  foro  for  aplicado  a  quaisquer  situação, 
independetemente de comportarem elementos de estraneidade. 
 
2  –  Quando  soluções  ad  hoc  ou  de  direito  material  especial  de fonte interna forem aplicadas 
a  situações  que  comportam  determinados  elementos  de   estraneidade,  independentemente 
dos laços que apresentem com o estado do foro. 
 
3  –  Quando  direito  material  especial  de  fonte  supraestadual  for  aplicado  a  situações 
transnacionais,  independentemente  de uma conexão entre estas situações e um dos Estados 
onde  vigora  esse  direito  (caso  das  Convenções  internacionais  que  estabelecem  um  direito 
material unificado aplicável a certo tipo de contratos). 
 
A  regulação das situações transnacionais na ordem jurídica estadual é em regra indirecta. Os 
casos  em  que  se  recorre  aos  “métodos  de  regulação  material”  são  na  verdade  técnicas  de 
regulação  indirecta.  Assim,  temos  mais  uma  pluralidade  de  fontes  de  regulação  do  que  um 
verdadeiro pluralismo metedológico. 
  
Planos

Tradicionalmente  entende­se  que  as  situações  transnacionais  são  reguladas  na  esfera   de 
uma  ordem  jurídica  estadual,  pelo  que  o  único   plano  de  regulação  considerado   é  o  que 
corresponde à ordem jurídica estadual. 
 

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Podemos definir o conceito de Ordem Jurídica em duas vertentes 
1. Normativas: quais as normas e princípios aplicáveis 
2. Institucional:  quais  os  órgãos  competentes  para  aplicação  do  direito  a  situações 
jurídicas transnacionais. 
 
De acordo com óptica tradicional, as situações transnacionais deviam orientar­se 
exclusivamente pelas normas e princípios vigentes nas ordens jurídicas estaduais. Mais: o 
Direito Internacional Público, o Direito Comunitáro e o Direito autónomo do comércio 
internacional só relevam para a regulação de situações transnacionais mediante uma 
recepção ou remissão operada por determinada ordem jurídica estadual. 
 
Atendendo à evolução entretanto verificada, torna­se necessário analisar a regulação de 
situações transnacionais à luz destes Planos 
  
Regulação pelo Direito Estadual 
 
a)  Generalidades 
 Aquela que opera na esfera de uma ordem jurídica estadual, i.e. é em primeira linha 
regulada pelo direito vigente na ordem jurídica estadual e os respectivos tribunais estaduais 
são competentes. 
 
Em   ordens  jurídicas  como  a  nossa,  o  direito  aplicável  tanto  pode  ser de  fonte interna  como 
de fonte supraestadual, como é o caso do Direito Comunitário. 
 
O  nosso  sistema  de  direito  dos  conflitos  é  formado  essencialmente  por  um  conjunto  de 
normas  de  conflito  bilaterais  –  tanto  remetem  para  o   direito  do  foro  como  para  o  direito 
estrangeiro  –  e  de  normas  de  interpretação  e  integração  das  normas  bilaterais.  No  direito 
português estas normas são geralmente de fonte legal. 
  
b)  Alternativas ao sistema de Direito dos Conflitos 
  
1 – Aplicação directa do Direito Material Comum: situações transnacionais são reguladas 
como se tratassem de situações puramente internas. 
 
Esta é uma técnica de regulação directa que prescinde de normas de conflitos. Tem uma 
vantagem óbvia – é a via mais fácil para os órgãos de aplicação do direito. 
 
No entanto, são mais as desvantagens ­ comprometeria a continuidade das situações 
transnacionais, colocando em risco a segurança jurídica e a harmonia internacional de 
soluções:  
● O direito aplicável não seria previsível, pois iria variar consoante o estado em que 
questão fosse colocadas.  
● A aplicação de um direito diferente em cada estado fomentaria a desarmonia 

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internacional de soluções, e conduziria à incerteza sobre as situações jurídicas 
existentes: duas pessoas podiam ser casadas à luz lei holandesa e, chegando a 
Portugal deixariam de o ser. Isto seria um caso grave de frustração de expectativas 
objectivamente fundadas dos interessados. 
● Por fim, esta técnica incentivaria o fórum shopping e seria incompatível com o Direito 
Internacional Público que obriga os Estados a reconhecer aos estrangeiros um 
mínimo de protecção. 
 
Alguns autores defendem que seria possível pensar que as normas sobre competência 
internacional fossem elaboradas de modo a que o estado só tivesse competência em relação 
a situações que apresentem uma conexão forte com esse estado de modo que se justificasse 
a aplicação do direito material. 
 
Lima Pinheiro salienta que podem existir razões para um estado atribuir uma esfera de 
competência aos seus tribunais diferente da esfera de aplicação do seu direito. Podem ter 
interesse em que certas situações sejam apreciados nos seus tribunais mesmo que não 
exista conexão suficientemente forte para determinar a aplicação do seu direito material. 
Mais: o regime de competência internacional tem de atender a certos factores como a 
proximidade relativamente às partes, a eficácia prática da decisão, etc, que são factores 
diferentes dos que justificam a aplicação de um direito material. Isto é: as finalidades 
prosseguidas pelo Direito da Competência Internacional justificam soluções diferentes das 
finalidades prosseguidas pelo Direito dos Conflitos. 
  
2­ Criação de um direito material especial de fonte interna 
 
Com precedentes no ius gentium, os estados podem criar direito material especial, aplicável 
exclusivamente às relações transnacionais. 
 
Este direito terá de ser de fonte legal, ao contrário do que defendem alguns autores, que 
poderia ser de origem jurisprudencial, sobretudo no âmbito das relações internacionais. 
 
Esta técnica oferece algumas vantagens: é mais adequada à especificidade das relações 
internacionais (como é mais evidente no domínio do tráfico corrente de bens e serviços). 
 
Mas só é verdadeiramente uma alternativa ao sistema de Direito dos Conflitos se for 
aplicável a quaisquer situações que comportem elementos estraneidade independentemente 
de uma ligação com o Estado do Foro, e nestes casos apresenta todas as desvantagens 
assinaladas a respeito da aplicação directa do direito material comum 
 
Por isso LP recusa esta técnica como alternativa global ao processo conflitual, mas admite 
que pode ser justificado o recurso à mesma em certos sectores bem delimitados. Serão 
consideradas normas de Direito Internacional Privado material. 
 

12 
Temos um exemplo destas normas no artº 54º nº 2. 
 
Justifica­se o recurso a esta técnica quando a actuação do direito dos conflitos se apresentar 
desadequada, o que se pode dever a problemas gerados pele técnica conflitual ou por 
especificidades da situação. 
 
Em   regra,  o  Direito  Material  especial  vê  a  sua  aplicação   depender  de  uma  ligação  com  o 
Estado  do  foro,  pelo  que  não  deixa  de  ser  uma  técnica  de  regulação  indirecta,  que  não 
prescinde de normas de conexão. 
 
No  entanto, estas norma de conexão podem ser gerais (ie,  a aplicabilidade do direito material 
especial depende do sistema de normas de conflitos) ou especiais. 
 
No primeiro caso dizemos que o direito material especial é dependente. Nestes casos o 
Direito material especial não será alternativa á regulação da situação pelo direito de conflitos. 
A única diferença é que a remissão operada pelo direito de conflitos será para uma normas 
de direito material especial e não uma de direito material comum. 
Será independente se depender de normas de conexão especiais. Esta será a regra. 
 
O seu campo de aplicação no espaço depende de dois pressupostos: uma conexão com um 
estado estrangeiro (ou elemento de estraneidade) e uma conexão com o estado do foro. Esta 
conexão com o Estado do foro é definida por normas de conexão ad hoc (normas de conflitos 
unilaterais que se reportam a normas ou conjunto de normas materiais individualizadas). 
 
A tendência não é o aumento da relevância destas normas, mas sim o desenvolvimento de 
normas de direito material especial relativamente a questões específicas, casos em que o 
DME realiza uma função que limita ou complementa o funcionamento do sistema de direito 
de conflitos, por razões económicas. 
Temos assim dois tipos de normas 
● Normas de aplicação dependente do sistema de direito dos conflitos (ex: 2223º) 
● Normas cuja aplicação resulta de normas de conexão especiais( ex: normas que 
estabelecem um tratamento específico para estrangeiros. São utilizadas no quadro da 
intervenção económica do estado sobre relações privadas) 
 
3 – Unificação internacional do direito material aplicável 
 
Para a criação de direito material especial unificado tem­se recorrido sobretudo à figura das 
Convenções. Para aferirmos a importância desta unificação internacional temos que 
distinguir 3 figuras. 
∙   
Uniformização: consiste na criação, por uma fonte supraestadual, de direito uniforme, ie, 
aplicável tanto nas relações internas como nas internacionais. Substitui por isso o direito 
comum de fonte interna. Exemplos: Lei Uniforme em matéria de Letras e livranças (e cheque) 

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– não confundir com as Convenções de Genebra sobre os conflitos de eis em matérias de 
letras e livranças. Estas últimas são fonte de DIP e não de direito material, decidem qual o 
direito aplicável, pois as leis uniformes podem não regular todos os aspectos de regime 
∙   
Unificação: criação, por fonte supraestadual, de direito material unificado, ie, direito material 
especial de fonte supraestadual. As principais áreas de unificação são a venda internacional 
de mercadorias, o transporte internacional, o direito sobre embarcações e aeronaves, o 
Direito Marítimo, a propriedade intelectual e as matérias do Testamento. 
∙   
 Harmonização: estabelecimento de regras ou princípios fundamentais comuns. Método com 

objectivos menos ambiciosos que a uniformização ou unificação. Existem instrumentos 
específicos da Harmonização, como a elaboração de Leis Modelo (corpos de regras 
uniformes ou propostas ou recomendadas para adopção no Direito Interno ou para que a 
legislação interna neles se inspirem) e as Directivas Comunitárias. Outros modelos de 
regulação podem ser instrumento de Harmonização, como o recuros aos Princípios (conjunto 
sistematizado de regras elaborados numa base predominantemente comparativa, em que o 
legislador nacional se pode inspirar) ou a “outros métodos” promevidos por organizações não 
governamentais, como os “guias jurídicos”, os modelos de contratos e termos contratuais 
normalizados. 
  
Qual a significação destes diferentes métodos? 
 
A  Harmonização  não  vem  alterar nada  no  normal  funcionamento do Direito do Conflitos, não 
elimina diferenças entre ordenamentos, apenas os aproxima. 
 
Quanto ao direito Uniforme e Unificado, importa distinguir se a aplicação destes direitos 
depende ou não do Sistema de direito dos conflitos. 
 
Se depender: trata­se de uma regulação de situação de regulação de situações 
transnacionais por meio desse sistema – a única diferença está no destino da remissão. Isto 
é o que se verifica em regra no Direito Uniforme: a aplicação das LULL depende das normas 
de conflito que constam das CG sobre conflitos de leis nesta matéria 
 
Se não depender: é o acto supraestadual que o cria que define os seus pressupostos de 
aplicação no espaço. É o que acontece em regra no direito unificado. 
 
Hipotesse em que o acto supraestadual é uma Convenção: 
 
Qual a “esfera espacial de aplicação” da convenção internacional:  
 
Em primeiro lugar as Convenções de unificação delimitam as situações reguladas pelo direito 
unificado tendo em conta matéria jurídica em causa. Trata­se do “domínio material de 
aplicação”. 

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Outra coisa é delimitar situações reguladas em função das suas conexões espaciais, ie, dos 
laços que estabelecem com  Estados Contratantes. Aqui recorre­se a um “relevante critério 
de internacionalidade” (exemplo: transporte de mercadorias entre portos de dois estados 
diferentes) e uma “conexão com um Estado Contratante” (lugar onde é emitido o 
conhecimento ou onde se situa porto de embarque). Conjugando estes dois elementos 
obtemos os “pressupostos de aplicação no espço”. 
 
Pode  sempre  Convenção  dispensar  “conexão  com  Estado  Contratante”,  reclamando 
aplicação  Universal  –  caso  da  Convenção  de  Haia  sobre   a  Venda  Internacional  de 
Mercadorias.  Nestes  casos aplicamos  a  todas  as  situações transnacionais que caiam no seu 
domínio material de aplicação. Isto foi muito criticado: 
● A aplicação do direito material unificado vigente numa OJ estadual a situações que 
não têm laços significativos com esse estado ou outro no qual esse direito vigore 
“representa um sacrifício da segurança jurídica” – partes não tinham razão para 
orientar sua conduta por esse direito. 
● Contribui para o “fórum shopping”: uma das partes pode intentar acção num estado 
contratante apenas para ver ser aplicado esse direito, com o qual a outra parte não 
devia contar no momento da celebração do contrato. 
 
Legislador internacional tem sido sensível a estas críticas – Convenção de Viena sobre 
Venda Internacional de Mercadorias só se aplica a contratos celebrados entre partes 
estabelecidas em Estados diferentes quanto estes estado são ambos estados 
contratantes ou as regras de DIP de um Estado contratante conduzam à aplicação da lei 
de um estado contratante. Trata­se neste caso de um processo de regulação indirecta, 
pois a aplicação direito unificado depende de uma  conexão com um Estado Contratante. 
No entanto trata­se de uma técnica diferente do Sistema do Direito de Conflitos, pois a 
norma de conexão é ad hoc, ie, é “uma norma de conexão contida numa convenção 
internacional, que se reportam às normas unificadas desta Convenção”.  
 
Quais as vantagens desta técnica? 
● Desde  que  situação  transnacional  caia  directamente  na  esfera  espacial  e  domínio 
material  de  aplicação  do  regime  convencional   “elimina­se  o  problema  da  escolha  do 
sistema local aplicável” e aplica­se sempre direito vigente na ordem jurídica interna. 
● Estados contratantes assumem uma posição uniforme sobre regulação jurídica da 
situação, garantindo­se harmonia internacional de soluções e previsibilidade das 
soluções. 
● Facilita­se o conhecimento da disciplina jurídica da situação por parte dos 
interessados. 
● Técnica particularmente adequada a situações transnacionais que surgem em 
conexão com meios de comunicação globais ou com número elevado de Estados. 
 
Parece solução óptima, mas tem alcance limitado 

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● Por razões práticas: processo de unificação é moroso, difícil e de custos elevados 
● Supressão dos conflitos de leis só seria atingida se a unificação fosse  geral (todas as 
matérias) e universal (todos os estados) – neste momento unificação nem é geral 
(certas matérias não se prestam à unificação, por estarem dependentes de 
valorações locais), por não se poderem “petrificar”) nem é universal 
● Divergências de interpretação e integração do direito unificado: apesar de um forte 
esforço nesse sentido, não é possível evitar em absoluto que venham a surgir 
soluções divergentes entre tribunais de estados diferentes. 
 
Surge aqui uma questão: quando isso acontece, não se deverá atender à solução 
jurisprudencialmente consagrada no ordenamento competente segundo o sistema de Direito 
de Conflitos?  
 
Lima Pinheiro distingue se jurisdição competente for estadual ou arbitral: 
­ se for estadual: resposta deve ser positiva. Para isso invoca o interesse das partes, “que se 
devem poder orientar pelo sistema nacional do Estado que apresenta o laço mais 
significativo com situação. Mais, esta é a posição que favorece mais harmonia internacional 
de soluções: se órgãos de aplicação seguirem orientação interpretativa dominante na sua OJ 
a solução do caso será mais vairável do que se atenderem à orientação da jurisprudência da 
ordem jurídica competente segundo o sistem de direito de Conflitos. 
­se for arbitral: só se deverá olhar para uma orientação de uma determinada OJ se as partes 
tiverem escolhido esse sistema para reger a situação. Se não escolherem qualquer OJ, o 
tribunal arbitral deverá pocurar solução mais adequada, tendo em conta os princípios comuns 
dos Estados Conectados c 
  
 
 
 

Natureza do Direito de Conflitos


 

Orgãos de aplicação do Direito de Conflitos


São orgãos de Direito dos Conflitos “as entidades que no exercício de funções jurisdicionais 
ou administrativas aplicam o direito de Conflitos”. Podem ser Supraestaduais ( quando 
relevam da ordem jurídica internacional ou da ordem jurídica comunitária), Estaduais (quando 
relevam das ordens jurídicas estaduais) ou Transnacionais (quando nem relevam de ordem 
estadual nem se fundamentam numa ordem jurídica supranacional) 
 
(...) 
 

Fontes de Direito dos Conflitos

16 
 
(...) 
 

Natureza Pública ou Privada do DIP


 
Tese clássica sobre objecto e função das normas de conflito encara­a como uma norma de 
delimitação de competências legislativas que resolve conflitos de soberanias estaduais, o 
que aponta para a natureza pública do DIP.  
 
No entanto hoje posição dominante entende que o DIP é Direito Privado, um direito especial 
regulador das situações transnacionais. Argumenta­se em primeiro lugar que a função do 
DIP é regular situações privadas transnacionais. LP não adere a este argumento: “este 
objecto abrange situações que, apesar de serem conformadas pelo Direito Público, colocam 
um problema de determinação aplicável que deve ser resolvido pelo DIP”.  Invoca­se me em 
segundo lugar que os fins prosseguidos pelo DIP se identificam/assemelham com os do 
Direito Privado. LP objecta que não é possível hoje fazer uma distinção rigída entre 
finalidades do Direito Privado e Público. Por fim, refere­se uma “afinidade” entre problemas 
de regulação do DIP ­ LP considera este argumento limitado devido à “possibilidade de 
remissão operada pelo Direito de Conflitos abranger normas de Direito Público”. 
 
Posição adoptada: considera predominantemente Direito Privado, sem excluir possibilidade 
de surgirem certas áreas em que se podem desenvolver soluções específicas para relações 
que comportem elementos público. 
 

Objecto e Função da Norma de Conflitos


 
Objecto da norma: realidade que regula 
 
Função (jurídica) da norma: qual o problema que a norma tem por missão resolver e o 
processo por que o resolve. 
 
Normas Unilaterais: só determinam a aplicação do Direito do Foro.  
exemplos: 
●  3/3 CC Francês ­ “leis francesas sobre estado e capacidade aplicam­se aos 
franceses mesmo que vivam no estrangeiro”;  
● 38º DL 178/86 “Aos contratos regulados por este diploma que se desenvolvam 
exclusiva ou preponderantemente em território nacional só será aplicável 
legislação diversa da portuguesa, no que respeita ao regime da cessação, se a 
mesma se revelar mais vantajosa para o agente.” 
 
Normas Bilaterais/Plurilaterais: tanto remetem para o Direito do Foro como para Direito 

17 
Estrangeiro 
exemplo: 50º CC “forma do casamento é regulada pela Lei do Estado em que acto é 
celebrado”. 
 
Em regra as normas do CC são bilaterais, com algumas excepções. 

Normas Bilaterais
 

a) Tese Clássica e da escola nacionalista italiana


 
Universalistas 
 
Objecto da norma de conflitos seriam os conflitos de soberania: na aplicação da lei 
estrangeira estaria em causa o reconhecimento da autonomia da soberania do do Estado de 
onde essa lei promana. Os interesses em causa seriam sobretudo interesses dos Estados. 
 
A função Jurídica da norma é a de resolver estes conflitos de interesses mediante a 
repartição da competência legislativa entre os Estados. 
 
Escola Nacionalista Italiana (Ago) 
 
Com um entendimento diametralmente oposto,  defendem que as NC não têm por objecto 
resolver verdadeiros conflitos de lei, dado que é impossível conceber uma norma de direito 
interno com esta função. Entendem estes autores que na ordem jurídica interna só 
vigorariam normas emanadas das fontes dessa ordem jurídica. Assim, a norma de conflitos é 
“uma norma reguladora de relações interindividuais, que nada tem a ver com a repartição de 
competências legislativas entre Estados” O objecto da Norma de conflitos são as relações 
interindividuais, e os interesses em causa são os interesses individuais e não os do Estado. 
 
Para esta escola o Direito de Conflitos regula relações interindividuais com certos elementos 
de estraneidade, que o legislador resolveu não submeter ao direito comum interno, mas sim 
receber um direito estrangeiro recebido pela norma de conflitos do foro. 
 
Assim, a função das normas de conflitos seria incorporar a ordem jurídica estrangeira na 
ordem local, “nacionalizar” a norma”. 
 
Esta doutrina ocupou­se ainda  dos termos exactos em que se processa esta recepção. 
Dividiram­se entre dois modos, que ainda hoje são reconduzíveis aos métodos de relevância 
de Direito Internacional na ordem interna: recepção formal e material. 
 
● Recepção material/ remissão material ou receptícia: ao remeter resolução do caso 
para lei estrangeira, cria na OJ nacional uma norma com conteúdo da norma 

18 
estrangeira 
● Recepção Formal/ norma sobre fontes: confere às fontes da OJ para a qual remete 
valor de fonte na ordem interna 
 
Para Ago , só pode ser entendida neste sentido, “uma vez que o conteúdo das normas de 
direito de estrangeiro designado só pode ser determinado com recurso a todo o sistema 
jurídico estrangeiro”. 
 
Ao defender que norma de conflitos é norma de fontes, podemos entender que, na aplicação 
das normas estrangeiras, devemos observar o sentido e valor que lhe é atribuído pelo 
sistema de origem. 
 
b) Posição adoptada 
 
Nacionalismo italiano deu uma primeira resposta, tornando claro que não está em causa um 
problema de respeita pela soberania estrangeira ­ “os conflitos de lei nunca perturbaram 
relações de política externa nem sequer provocaram o mais leve franzir de sobrolho de um 
diplomata” ­ Aubry. Trata­se de regular uma situação “privada”, mediante a determinação da 
ordem jurídica que vai fornecer a disciplina material aplicável. Ao chamar o Direito de um 
estado com base num determinado elemento de conexão, não vem determinar que só esse 
estado tem competência legislativa. 
 
Para LP o objecto da norma de conflitos é o mesmo do DIP: a situação transnacional. 
 
Escola de Coimbra tem entendimento diferente ­ para estes o objecto da norma de conflitos 
seriam normas materiais, porque as normas de conflitos são entendidas como “normas sobre 
normas” e não como normas de regulação indirecta (ver melhor). 
 
Quanto à teleologia da norma de conflitos, os interesses a ter em conta não são apenas os 
interesses dos Estados, mas sim sobretudo a “realização da justiça do Direito Privado”. Neste 
ponto escola nacionalista italiana é demasiado extrema: não se pode excluir que na 
determinação do Direito aplicável entrem em jogos interesses da comunidade política e fins 
de política legislativa ­ o próprio Direito privado material tem em conta interesses que não são 
exclusivamente privados. 
 
Função técnico jurídica da norma de conflitos: regulação das situações transnacionais 
mediante processo conflitual ou indirecto. 
 
Não concorda com escola italiana quando defendem norma de conflitos como uma norma de 
incorporação do direito estrangeiro: isso levaria a negar existência de normas de conflito que 
só remetem para o direito do foro, como são as normas unilaterais e não corresponde à 
realidade que a norma de conflitos só se aplique às situações que são submetidas ao Direito 
Estrangeiro, e que, por conseguinte, o direito material português se aplique directamente às 

19 
restantes situações estrangeiras ­ a aplicação do direito material português a situações 
transnacionais também depende da remissão operada pelo direito dos conflitos. Tal resulta 
do reconhecimento pela ordem jurídica portuguesa da co­vigência de ordens jurídicas 
estrangeiras e da função reguladora do direito dos conflitos.  
 
Em conclusão: o sistema de Direito de conflitos de base bilateral reconhece implicitamente 
que ordens jurídicas estrangeiras existem autonomamente, com uma dada esfera espacial de 
vigência, independentemente da remissão operada pela norma de conflitos do foro. Esta 
posição segundo LP ajusta­se melhor à realidade da comunidade internacional que a 
construção de AGO. 
 

e) Dupla Função Técnico Jurídica das normas de Conflito


 
As normas de conflitos, normas de regulação indirecta, operam através da remissão para um 
Direito, geralmente para uma ordem jurídica nacional. Através da “atribuição de competência 
a esta ordem local” a norma de conflitos serve para reconhecer determinada esfera de 
aplicação no espaço quer ao direito do foro quer ao direito estrangeiro. 
 
Mas: reconhecer uma certa esfera de aplicação do Direito Estrangeiro não é o mesmo que 
dizer que “regula competência legislativa do Estado Estrangeiro ­ “apenas atribui uma certa 
relevância na ordem jurídica portuguesa”. Deve ser(também)  por isso recusada a tese 
clássica. 
 
Posição adoptada: dupla função técnico jurídica das normas bilaterais consiste no seguinte 
1. norma de conflitos determina o Direito aplicável 
2. ao remeter para um direito estrangeiro ou extra­estadual, confere­lhe um “título de 
aplicação na ordem jurídica interna” 
 
Quanto à segunda função: 
 
Ao contrário do defendido pela escola nacionalista italiana, a norma de conflitos para LP não 
actua como norma de recepção: não é uma recepção material, pois  a norma não é tratada 
como se fosse portuguesa, antes é considerada como parte do seu sistema de origem, pelo 
que devemos recorrer ao seu sistema de fontes e de interpretação. Não é também uma 
norma de recepção formal, a fonte estrangeira não é incorporada a ordem jurídica do foro. O 
contrário seria defender que por via das normas de DIP, um ordenamento viria a 
compreender no seu seio todas as disposições de Direito Privado de todos os países do 
mundo. 
 
Assim, reconduz esta segunda função das normas a “dar um título de aplicação ao direito 
estrangeiro ou extra estadual no contexto sistemático da regulação do caso pelo DIP (...). Em 
Suma, a remissão operada pela norma de conflitos não é recipienda, a proposição jurídica 

20 
estrangeira não se transforma num elemento da ordem jurídica do foro enquanto critério de 
conduta/decisão, é aplicado como Direito Estrangeiro” (ver melhor) 
 

Normas Bilaterais
a) Bilateralismo e Unilateralismo
 
Sistemas Unilateralistas: os universalistas defendiam a existência de um sistema de DIP com 
validade internacional que se impõe aos ordenamentos nacionais. Como reacção a esta tese 
surgiram os particularistas/nacionalistas, como Franz Kahn e Bartin, que defendiam que não 
existia um sistema universal mas uma pluralidade Direitos de Conflitos de fonte interna 
diferentes entre si. No entanto não divergiam dos universalistas quanto à função de 
repartição de competências legislativas entre os estado da norma de conflitos ­ como se 
poderia defender esta função e ao mesmo tempo a sua natureza interna?  
 
Surgiu por isso no fim século XIX na Alemanha uma corrente que defendia que o legislador 
do DIP deve unicamente fixar os limites de aplicação do seu próprio direito material. Ou seja, 
todas a normas de DIP deveriam ser normas unilaterais.  
 
Deve contudo ser feita a ressalta: a opção por normas unilaterais tanto na Alemanha como 
em França deveu­se sobretudo a outras razões, de índole historica e política. 
 
Tendências mais recentes no campo do Unilateralismo surgiram nos anos 30, já baseadas 
não na concepção clássica sobre objecto e função do DIP mas na “vocação da norma 
material para um determinado domínio espacial de aplicação”. Defendiam que cada norma 
material conteria um domínio material de aplicação, mas também os limites da sua aplicação 
no tempo e no espaço, e ignorá­los seria uma “falsificação da norma”.  
 
Este renovar do unilateralismo surge também ligado às intervenções legislativas que 
acompanham a mudança de concepções económicas, políticas e sociais ­ esta delimitação 
do domínio de aplicação das leis no espaço seria mais adequada que os métodos 
tradicionais do DIP. 
 
Quadri argumenta ainda que o sistema unilateralista será o mais consentâneo com o fim do 
DIP, de salvaguardar a estabilidade e continuidade das situações internacionais através do 
seu reconhecimento em todos os países. 
 
Por fim, o unilateralismo, ao tomar em conta a vontade de aplicação da lei estrangeira, 
serviria melhor a promoção da harmonia internacional de soluções que o bilateralismo. 
 
Lima Pinheiro rebate estes argumentos: 
1. Ideia segundo a qual toda a norma material integra na sua previsão elementos 

21 
espaciais e temporais é incorrecta, porque “com respeito à grande maioria de normas 
materiais a justeza da consequência jurídica é independente de qualquer elemento 
espacial ou temporal”. A determinação do direito aplicável obedece a valorações 
autónomas às subjacentes às normas materias, pelo que não há uma “ligação 
mecânica” entre normas materiais e normas de conflito 
2. Vantagem do unilateralismo quanto à prossecução do valor da Harmonia internacional 
de soluções só pode ser invocada quanto a ordenamentos que recusem a devolução: 
através desta os sistemas bilateralistas podem ter em conta a vontade de aplicação 
do direito Estrangeiro quando tal for justificado para promoção harmonia internacional. 
 
O sistema bilateral será o que mais garante o equilíbrio de soluções, dado que a aplicação do 
direito estrangeiro decorre do mesmo elemento de conexão que define a aplicação da lei do 
foro. Isto é, “o direito de conflitos do foro traça um âmbito de aplicação no espaço ao seu 
direito material igual ao que traça ao direiro estrangeiro”. 
 
Quanto ao unilateralismo, é mais provável que leve a um favorecimento da esfera aplicação 
do direito do foro, o que conduz à desarmonia internacional de soluções, pois aumenta o 
risco de os tribunais dos diferentes estados apreciarem de forma diferente a mesma questão. 
 
Outra crítica de LP ao unilateralismo é que “o seu quadro de soluções é mais aparente que 
real” ­ pense­se num caso em que a situação fica de fora da esfera de aplicação da lei foro, 
pelo que. deveriamos atender ao Direito que se considerasse competente. Pode acontecer 
que a) nenhum direito se considere competente, ou b) que dois direitos estrangeiro reclamem 
a sua aplicação. Para resolvermos esta questão, sob pena de “denegação de justiça”, o juíz 
terá que de, no 1º caso, de chamar um dos direitos à aplicação (apesar dos dois se 
recusarem) ou, no 2º caso, de decidir qual dos dois aplicar. Para resolver esta questão o que 
se tem verificado é que os estados integram as lacunas mediante uma “bilateralização das 
normas unilaterais”, isto é, ficciona­se que a norma unilateral é bilateral. exemplo: segundo o 
3º/3 do CC francês, o direito aplicável dos franceses quanto a questões de estado e 
capacidade é sempre lei francesa. Se o problema posto num tribunal francês fosse com um 
português, a norma sera “o direito aplicável aos portugueses quanto a questões de 
capacidade e estado é sempre lei portuguesa. 
 

b) Coexistência de bilateralismo e unilateralismo nos actuais sistemas de DIP


 
Não há, como assinal Vischer sistemas puramente unilateralistas nem puramente 
bilateralistas: desde o fim da II Guerra Mundial, a importância de políticas económicas e 
sociais no seio do direito privado, e o desenvolvimento do direito público da economia foram 
reforçando o unilateralismo, pois o legislador nestes domínio quis assegurar que as suas 
políticas legislativas seriam prosseguidas em situações que apresentassem conexão com o 
estado do foro, ainda que não fosse uma conexão relevante para determinar a aplicação do 
direito do foro por via de normas bilaterais. Outra das razões para a escolha de soluções 

22 
unilaterais pode ser a complexidade das matérias em causa ou o carácter inovador de certos 
regimes (caso do CVM, em que legislador não se arrisca a formular regras de conflitos 
bilaterais, apenas estabelece conexões das quais depende aplicação da lei. 
 
Este unilateralismo é diferente do unilateralismo clássico: não pretende ser uma alternativa 
global aos direito dos conflitos bilateral, apenas um complemento. 
 
Normas Unilaterais 
 
Podem ser gerais ou especias.  
● Gerais referem­se normalmente a estados ou categorias de relações jurídicas (3º/3 
CC fr) 
● Especiais: encontram­se numa relação de especialidade com outras normas de 
conflitos, bilaterais ou unilaterais. Podem assumir quanto á sua previsão, 3 
modalidades 
○ Normas que se reportam a estados ou categorias de relações jurídicas, que se 
encontrem numa relação de especialidade com outras normas que se 
reportam a categorias normativas. ex: 3º/1 2ª parte do CSC face à primeira 
parte do preceito 
○ Normas unilaterais que se reportam a questões parciais que em princípio 
estariam englobadas no domínio de aplicação de outras normas de conflito. ex: 
norma unilateral relativa à validade de uma determinada claúsula contratual 
○ norma que se reporta a uma norma ou lei material individualizada (também 
designada norma de conflitos ad hoc). ex: 37º Lei Arbitragem Voluntária. Este 
tipo de normas tem normalmente uma preocupação jurídico­material, o que 
determina a aplicação de determinada lei não será tanto uma “vocação 
intrínseca para um determinado campo de aplicação mas uma intencionalidade 
normativa(...)”.  
 
Estas normas unilaterais, tendo em conta as finalidades que prosseguem não deixam de 
fazer parte do sistema português de direito dos conflitos, pelo que as regras sobre 
interpretação e integração das normas de conflitos bilaterais são lhes aplicáveis.  LP parece 
defender que são “complemento necessário do sistema de direito dos conflitos de base 
bilateral”, mas depois afirma que se deve favorecer o seu enquadramento sistemático, 
mediante “generalização e bilateralização” 
 
Normas Autolimitadas 
 
Aquela norma material que, apesar de incidir sobre situações reguladas pelo DIP, tem uma 
esfera de aplicação no espaço diferente da que resultaria da actuação do sistema de Direito 
de Conflitos. Esta situação pode resultar do facto desta norma material ser acompanhada de 
uma norma de conflitos unilateral ad hoc, que se reporta exclusivamente a uma norma ou lei, 
ou de uma valoração casuística, feita pelo interprete.  

23 
 
Podem ser divididas em 4 categorias 
1. Normas que têm esfera de aplicação no espaço mais vasta do que aquela que 
decorreria do Direito de conflitos em  geral. Estas normas são aplicáveis sempre que 
o direito do foro é chamado pelo direito de conflitos e ainda noutros casos..1  
2. Normas que têm uma esfera de aplicaçao que só em parte coincide com aquela que 
decorreria do Direito de Conflitos em Geral ­ aplicam­se em alguns casos que o direito 
do foro é chamado pelo Direito de Conflitos, mas não em todos,  e noutros casos em 
que o direito do foro não é competente2  
3. As que têm esfera de aplicação no espaço mais restrita do que aquela que decorreria 
do DC geral 
4. As normas que têm uma esfera de aplicação inteiramente diferente da que decorreria 
do DC geral. 
 
 
Uma das formas de actuação das normas autolimitadas é através da “norma de aplicação 
necessária”. Estas podem prosseguir uma grande variedade de fins, pelo que são definidas 
pelo seu modo de actuação ­ por indicação expressa do legislador, sobrepõem­se à ordem 
jurídica chamada pelo Direito dos Conflito geral. 
 
Dado que são raros os casos em que o legislador estabelece uma norma de conflitos ad hoc 
para normas ou leis individualizáveis de Direito Comum, a doutrina tem colocado o acento no 
estabelecimento da autolimitação por via interpretativa, com recurso a um critério teleológico 
que atenda ao fim político­jurídico prosseguido pela norma material. Colocam­se algumas 
questões nesta autolimitação por via interpretativa: 
 
i) em primeiro lugar, é difícil, da interpretação de uma norma, retirar conclusões quanto à sua 
esfera de aplicação no Espaço. Apesar do seu conteúdo e fim poderem dar pistas, não será 
por si suficiente. Tem que  ser feito um raciocínio conflitual, “uma avaliação dos laços” que 
situação estabelece com os diversos estados em presença 
 
Normas autolimitadas susceptíveis de aplicação necessária, não constituem uma alternativa 
ao processo conflitual ou de regulação indirecta, mas uma maniferstação de um certo 
unilateralismo, que coloca o problema do direito aplicável em função de normas 
individualizadas. 

1
exemplo: artigo 38º DL 178/86 ­ o regime português da cessação do contrato será aplicável ao contrato em duas 
situações: a) quando contrato for regulado por lei portuguesa e b) quando, apesar de regulado por uma lei 
estrangeira, se desenvolva exclusivamente ou preponderantemente em território nacional, se tal regime for mais 
favorável ao agente que o contido em lei 
 
2
 DL 275/93: determina que as disposições materias do seu diploma devem ser aplicadas, qualquer que 
seja lei reguladora do contrato, quando imóvel estiver sito em Portugal. Em certos casos lei reguladora seria 
a Portuguesa por via das CR I ­ 4º/3, mas podia ser outra, nomeadamente, se as partes o designassem. 
24 
 
Se a norma material depende de uma nordma de conflitos ad hoc ou de uma valoração 
conflitual casuística, esta norma não é directamante aplicável, pelo que não deixa de ser este 
um processo de regulação indirecta. A diferença para o sistema de Direito dos Conflitos não 
é de Processo mas sim de Técnica. Por esta razão adopta LP a expressão “aplicação 
necessária” em vez de “ aplicação imediata”.3  
 
Questão Fundamental: quando é que o interprete deve entender que norma é “autolimitada”?  
 
A resposta é fácil se legislador formular expressamente uma norma de conflitos ad hoc ­ 
sendo norma de conflitos especial, prevalece sobre a geral 
 
Professor admite 3 vias: 
1. Inferência de norma de conflitos ad hoc implícita 
2. Criação de Norma de conflitos ad hoc à luz teoria das lacunas na lei 
3. Vigência de uma cláusula geral que permita colocar o problema da aplicabilidade da 
norma material em função circunstâncias do caso. 
 
O primeiro método está sujeito a directrizes “metedológicas estritas”: deve inferir­se das 
proposições legais ou de práticas acompanhadas de uma convicção de vinculatividade. Caso 
se tratem de normas relativas à concretização de de direitos fundamentais, pode ser inferida 
da norma de conflitos especial que tenha sido estabelecida com respeito à aplicação no 
espaço da regra constitucional que consagre o direito. 
 
O segundo método implica que seja necessário a criação de uma solução conflitual pelo 
interprete, por não existir norma implícita. Ou seja, é necessário constatar a existência de 
uma lacuna. Tem que ser uma lacuna oculta, pois a situação encontrar­se ia coberta em 
princípio por norma de conflitos geral, que não será aplicada por via de uma interpretação 
restritiva ou redução teleológica dessa mesma norma. Esta operação pode ser justificada 
com a circunstância de a norma não tutelar o valor subjacente à norma ou lei material em 
causa, quando esta falta de tutela se apresente como falha do sistema conflitual (e não 
quando o legislador deliberadamente excluiu a relevância desse valor). 
exemplo: As normas do R1, embora aplicáveis aos contratos arrendamentos de 
imóveis, não atendem ao fim de protecção da parte contratual mais fraca que subjaz ao 
regime português. Perante a aplixação do R1 pode ser determinado que é aplicável lei 
estrangeira. 
Ora, o R1 confere relevância à protecção contratual de parte mais fraca no caso dos 
consumidores e trabalhadores. A não relevância que deu a este valor no contrato de 
arrendamento terá sido porque a desigualdade das partes não é típica na generalidade dos 
ordenamentos. Podemos por isso defender a existência de uma lacuna no Direito dos 
Conflitos Geral, que deve ser integrada por solução ad hoc, que determine a aplicação de 

3
 Também não adora o vocábulo “autolimitada”: os limites não são intrínsecos mas extrínsecos. 
25 
normas protectoras do arrendatário a todos arrendamentos situados em Portugal. 
 
A terceira possibilidade é mais controversa, e LP recusa mesmo a existência de tal claúsula 
geral que permite ao interprete valoração casuística. Considera mesmo que não seria 
“recomendável” : “ a missão do legislador é a de formular normas de conflitos ad hoc 
apropriadas, não passar um cheque em branco aos tribunais”. O contrário “prejudica 
gravemente a certeza e previsibilidade jurídica e limita muito função orientadora do direito 
dos conflitos.” 
 
Assim, na falta de norma de conflitos ad hoc ou de revelação de lacuna, o intérprete não 
pode atribuir a uma regra material o carácter de “norma autolimitada”. Ou seja, as normas 
autolimitadas são excepcionais e não podemos afirmar que consubstanciem alternativa ao 
sistema de direito de conflitos ­ são um limite ao seu funcionamento. 
 
c) As funções das normas de conflitos unilaterais no Direito Vigente
 
Também têm por função realizar um processo de regulação indirecta de situações 
transnacionais, mas, porque apenas o fazem “chamando” o direito do foro, não podem ter a 
dupla função das normas de conflitos bilaterais. 
 
A função de norma de conflitos unilateral é diferente quanto à sua natureza geral ou especial: 
no nosso ordenamento não temos normas de conflitos unilaterais gerais, pelo que cabe 
analisar as especiais 
 
● 28º CC: a capacidade é, em princípio, regida pela lei pessoal ­ 25º CC. Porém, no 
negócio jurídico celebrado em Portugal por pessoa que seja incapaz segundo lei 
pessoal competente, a anulação não pode ser requerida com base na incapacidade 
se a lei portuguesa determinar que essa pessoa é capaz. A norma é depois 
bilateralizada pelo nº 3. 
● 3º/1 2ª parte: aplica­se lei portuguesa nas relações com terceiros, caso sede tenha 
administração no estrangeiro e sede estatutária em Portugal. 
● normas de conflitos ad hoc: aqui cabem as normas unilaterais ligadas às normas de 
direito material especial e normas que “autolimitam” normas de direito material 
comum.  
 
A função destas normas será em primeiro lugar delimitar a esfera de aplicação no espaço 
das normas a que se reportam. 
 
d) Bilateralização de normas unilaterais
 
Quando encontram lacunas ao aplicar normas unilaterais, os tribunais procedem geralmente 
à sua bilateralização. No entanto esta operação nem sempre é possível: só o é quando regra 
26 
unilateral valha como “revelação de um princípio geral, ie, como conexão adequada à 
situação ou questão parcial em causa.” 
 
(ver posição IMC, sobre “generalização” da ratio subjacente) 
 
Para LP o problema tem de ser colocado em dois níveis diferentes. 
1 ­ Saber se existe de facto uma lacuna. Para que possamos responder a esta questão é 
necessário distinguir os diferentes tipos de normas unilaterais: 
 
● quando, relativamente a certos estados ou categorias de relações jurídicas, um 
sistema não dispõe de normas bilaterais, mas somente de normas unilaterais, surge 
lacuna sempre que não seja aplicável lei do foro 
● questão torna­se mais complicada quando as normas unilaterais não aplicáveis sejam 
especiais face a outras normas de conflitos bilaterais, como será o caso do 3º/1 2ª 
parte co CSC: há lacuna ou devemos simplesmente aplicar norma geral? 
exemplo: quando tenha que se determinar o direito aplicável ao estatuto 
pessoal da sociedade nas relações com terceiros e a sociedade tenha sede 
estatutária num país estrangeiro que não é aquele onde se situa sede da 
administração. Devemos aqui bilateralizar a norma unilateral especial, de forma a 
relevar a sede estatutária estrangeira? LP entende que o legislador nesta norma quis 
dar protecção à confiança depositada por terceiros na competência da lei da sede 
estatutária, que também deve ser tutelada quando sede estatutária esteja situada no 
estrangeiro. Considera por isso que há lacuna e norma deve ser bilateralizada. 
 
Para determinar se existe lacuna, devemos ter em conta todas as valorações e princípios do 
sistema. 
 
● podem surgir dúvidas quando as normas de conflitos unilaterais se reportam a 
questões parciais, que em princípio, estariam englobadas no domínio de aplicação de 
normas de conflitos bilaterais. 
○ se norma se reportar a norma proibitiva: licitude do acto deve ser apreciado 
pela norma de conflitos geral ­ não há lacuna. 
 
Podemos recorrer aqui ao exemplo ofecido pela validade formal do testamento celebrado por 
português em país estrangeiro com observância da forma prescrita pela lei local: supondo 
que não existia norma como 65º/2, poderia colocar­se a questão de saber se “a forma do 
testamento celebrado por um estrangeiro, num país que não é o da sua nacionalidade, em 
conformidade com lei local, seria exclusivamente regido pelo direito aplicácel segundo regra 
de conflito de leis geral, ou se deveríamos aplicar norma semelhante à do 2223º que 
existisse no direito nacional do estrangeiro. 
 
Para LP, o 2223º tem subjacente a ideia de que devem ser respeitadas as exigências 
relativas á forma do testamento que a lei pessoal do autor da sucessão formule mesmo em 

27 
relação a testamentos celebrados no estrangeiro: a falta de uma norma de conflitos que 
permitisse aplicar preceitos semelhantes ao do 2223 constituiria uma falha no plano 
legislativo, pelo que deveria existir uma bilateralização da norma unilateral. 
 
2 ­ O segundo momento é o da integração da lacuna: detectada lacuna, deve ser preenchida 
do mesmo modo que a suscitada pelas normas unilaterais gerais, ie, pela sua 
bilateralização? 
 
Em princípio sim, mas temos “que ter em conta norma unilateral em causa e finalidades por 
ela prosseguidas”. 
 
Quanto a normas unilaterais ad hoc, que se reportam a normas materiais determinadas ­ 
bilateralização terá que ser condicionada à existência no sistema designado de normas e 
regimes com o mesmo conteúdo e função (?). 
 
Outra questão é saber se temos de ter em conta “vontade de aplicação” de normas e regimes 
materias estrangeiros. LP entende que, de acordo com os valores de “harmonia 
internacional” e “confiança objectivamente fundada das partes”, e pelo facto de existir em 
certos casos uma “impregnação” da norma unilateral de preocupações materiais, se pode 
defender que a bilateralização da norma seja consubstanciada na formulação de regras de 
remissão condicionada. 
 
Quais os impedimentos que se podem colocar à bilateralização? 
● circunstância de não se terem generalizado, noutros sistemas nacionais, regimes com 
conteúdos e finalidades semelhantes 
● nexo existente entre certas actividades realizadas pelo Estado e outros entes públicos 
no âmbito da gestão pública 
● desígnio de proteger interesses público ou privados locais, perante interesses 
estrangeiros ou em função de condições locais específicas. 
As normas unilaterais insusceptíveis de ser bilateralizadas são designadas por normas de 
delimitação. 
 
A bilateralização de normas unilaterais ad hoc envolve um processo, que LP designa de 
Generalização, e que envolve dois processos 
● alargamento da previsão: é necessário que a sua previsão seja reformulada, para que 
abranga normas materiais estrangeias com mesmo conteúdo e função 
● bilateralização 
 
e) Normas bilaterais imperfeitas
 
São aquelas normas que, podendo determinar a aplicação quer do direito do foro quer do 
direito estrangeiro, limitam o seu objecto a certos casos que têm ligação especial com o 

28 
Estado do Foro, não fornecendo solução para situações do mesmo tipo abstacto, mas em 
que falta referida ligação. 
 
exemplo: 1107º Código Seabra ­ “Se o casamento for contraído em pais estrangeiro 
entre português e estrangeira, ou entre estrangeiro e portuguesa, e nada declararem nem 
estipularem os contraentes relativamente a seus bens, entender­se­á, que casaram conforme 
o direito comum do pais do cônjuge varão”.  
 
O elemento de conexão que determina a lei aplicável é a nacionalidade do marido,e a ligação 
especial à OJ portuguesa é a nacionalidade portuguesa dos cônjuges, pelo que norma nada 
dispõe sobre direito aplicável quando está em causa casamento dois estrangeiros. 
 
Da mesma forma questiona­se quanto aos 51/1 e 2. 
 
Existindo lacuna, é admissível a aplicação analógica da norma bilateral imperfeita. (ver 
melhor) 
 

Normas de remissão condicionada e normas de reconhecimento


Normas de remissão condicionada
 
Para Pierre Lavive será quando regra de conflitos incorpora, enquanto condição de 
aplicação, a posição assumida pelo DIP da lei designada ­ é o caso do 47º CC (“desde que 
esta lei assim o determine”). 
 
Wengler adopta um conceito de remissão condicionada que permite pensar que condição 
pode simplesmente ser o resultado material. exemplo: norma que condicione a aplicação da 
lei designada apenas à circunstância de esta lei admitir validade de um negócio jurídico. Para 
este autor  a remissão condicionada à vontade de aplicação do Direito Estrangeiro é apenas 
o tipo de norma de remissão condicionada mais importante. 
 
LP adopta visão mais restrita, segundo a qual é norma de remissão condicionada aquela que 
tem em conta competência da lei estrangeira segundo o respectivo DIP, o que “permite 
relacionar estas normas com reforço actual do unilateralismo”. No entanto admite que a 
remissão pode ser cumulativamente condicionada a um determinado resultado material. 
 
Serão normas de remissão condicional: 
● 28/3 
● 31/2 
● 36/1 in fine 

29 
● 45/3 
● 47 
● 65/2. 
 
Qual diferença entre remissão condicionada e devolução? 
 
­ Devolução: se lei designada pelo nosso sistema de conflitos, pelo seu Direito de conflitos 
remeter para lei portuguesa (retorno de competência) ou para terceira lei (transmissão de 
competências. “Aceitamos” a devolução se aplicarmos a lei portuguesa ou a lei terceira. 
 
Para Pierre Lalive, a distinção com a devolução está em que na remissão condicionada não 
se abandona solução ao DIP estrangeiro, mas apenas se admite tomá­lo em consideração, 
dentro de limites definidos 
 
Posição LP: 
● nuns casos, a consideração do DIP estrangeiro parece limitar­se à vontade de 
aplicação. Nestes casos teremos uma abordagem unilateralista, distinta da devolução. 
○ exemplo: 47º CC: manda aplicar lex rei à capacidade para constituir direitos 
reais sobre imóveis, desde que essa lei assim o determine. Se esta lex rei 
sitae não se considerar competente, aplica­se lei pessoal 
● noutros casos, designadamente aqueles em que se prefigura um determinado 
resultado material, o DIP estrangeiro poderá ser aplicado ilimitadamente. 
○ ex: 31/2 CC (ver melhor o exemplo) 
 
A técnica de remissão condicionada pode justificar­se em dois tipos de situações: 
1. quando se admita um desvio excepcional à lei normalmente competente, que só se 
justifica quando situação esteja ligada por determinado elemento de conexão a outro 
estado e ordem jurídica desse estado se considere competente. 
a. exemplo: 28º/3 (interessados confiam na aplicação dessa OJ) ou 47º(quando 
OJ esteja priviligiada para impor o seu ponto de vista sobre a solução do caso 
2. No que diz respeito à remissão para normas ou regimes imperativos contidos numa 
OJ estrangeira 
 

Norma de reconhecimento
 
LP: “aquela que estabelece que determinado resultado material ou que efeitos jurídicos de 
uma determinada categoria se produzirão na OJ do foro caso se verifiquem noutro direito” 
 
Será o caso das normas de reconhecimento de efeitos de sentenças estrangeiras. 
 
Norma de Reconhecimento não é norma de recepção: direito estrangeiro não é recebido 
como fonte na OJ interna 

30 
 
Norma de Reconhecimento é norma de remissão: determina a aplicação do Direito 
estrangeiro à produção de efeito. 
 
Mas para LP a norma de reconhecimento não é uma simples norma de remissão: 
distingue­se das normas de remissão gerais porque “se reporta a um resultado material ou a 
uma categoria de efeitos jurídicos e porque conserva um maior controlo sobre a solução 
material. Isto é, a norma de reconhecimento pode­se reportar a um resultado material 
específico, e pode mesmo “modelar” a consequência jurídica, de modo a que não exista uma 
recepção pura de feitos jurídicos produzidos na OJ estrangeira. 
 
Pode ser ou não uma norma de conexão:  
● serão de conexão se condicionarem o reconhecimento à existência de uma conexão 
adequada entre o Estado de Origem da decisão e a situação. 
Podem ter por objecto efeitos desencadeados por um acto público estrangeiro constitutivo, 
modificativo, extintivo. 
 
Podem ser usadas para: 
● favorecimento de resultados materiais determinados (como a validade do negócio) 
● reconhecimento de situações jurídicas estrangeiras fixadas por actos públicos 
estrangeiros ­ reconhecimento de efeitos de sentenças estrangeiras. 
 

Problema da relevância de normas imperativas estrangeiras


Problema
 
Em que termos deve ser dada relevância a normas “autolimitadas” de ordenamentos 
estrangeiros que não são os chamados pelo sistema de direitos conflitos? 
 
O problema coloca­se especialmente com respeito aos contratos internacionais, quando este 
viola normas imperativas de ordenamento terceiro. No entanto tem um alcance mais geral: 
relaciona­se com o unilateralismo e com a questão da bilateralização de normas unilaterais 
ad hoc. 
 
A regra geral é que as normas imperativas estrangeiras só podem ser aplicadas na ordem 
jurídica local por força do título de aplicação que uma norma vigente nesta ordem lhe 
conceda. Podemos depois distinguir entre normas imperativas da lex causae e normas 
imperativas de terceiros ordenamentos: as normas imperativas da lex causa serão aplicadas 
por decorrência do título de aplicação conferido pela norma de conflitos geral. 
 

31 
Mas há quem defenda que a aplicabilidade de certas categorias de normas imperativas, as 
normas de intervenção, que põe em causa “interesses conflituais específicos” diferentes dos 
tutelados pelas normas de conflitos gerais, deve depender de normas de conflitos especiais.  
 
Como as normas de conflitos especiais limitam o domínio de aplicação de normas de 
conflitos gerais, as normas da lex causae que sejam reconduzíveis  à categoria normativa 
prevista na norma de conflitos especiais não serão aplicadas. 
 
exemplo: caso se entenda que são aplicáveis, pelo que toca ao seu efeito sobre 
validade de um contrato, normas de defesa da concorrência do estado em que ocorram 
práticas restritivas da concorrência, não serão chamadas normas de defesa da concorrência 
do direito regulador do contrato. 
 
Só não será assim se existir uma “conexão cumulativa”, por forma a que tais normas 
imperaticas sejam aplicáveis quer como parte da lex quer quando vigorem na OJ do estado 
que apresenta especial conexão com a situação. 
Este raciocínio pressupõe que exista uma norma de conflitos especial ou que haja 
possibilidade de o intérprete introduzir um desvio às normas de conflitos gerais mediante 
criação de norma ad hoc 
 
Outra dificuldade pode surgir quando as normas imperativas da lex causa sejam 
autolimitadas e excluam a sua aplicação à situação que são chamadas a disciplinar. Para 
resolver esta dificuldade LP apresenta duas regras 
1. se a negação de aplicabilidade não põe em causa a competência da OJ 
(nomeadamente, por ser aplicável norma geral), a autolimitação deve ser respeita 
2. se negação põe em causa a competência da ordem jurídica a que pertence, só pode 
relevar no quadro das regras sobre devolução 
 
Quanto às normas imperativas estrangeiras, temos que saber se a ordem jurídica local lhes 
confere um título de aplicação mediante proposições jurídicas especiais, ou se, de outro 
modo (?), permite a sua tomada em consideração. 
 
exemplo de norma sobre relevância de normas imperativas de terceiros ordenamentos: 7º/1 
CR (9ºRR I )  sobre obrigações contratuais. Do preceito decorre que só normas de aplicação 
necessária serão tidas em conta, no entanto, para LP esta restrição não faz sentido. Para o 
autor o problema diz respeito à relevância de quaisquer normas imperativas estrangeiras que 
não estejam integradas na ordem jurídica do direito competente segundo lex causa. 
 
(ver melhor). 
 

Principais teses sobre relvância das normas imperativas estrangeiras


 

32 
1 ­ Teoria do Estatuto Obrigacional 
 
Normas imperativas estrangeiras só relevarão quando integrem lex causae. Normas de 
terceiros ordenamentos só poderão relevar enquanto pressupostos de facto de normas lex 
causae 
 
2 ­ Teoria da Conexão Especial 
 
Wengler: cláusula geral segundo a qual são aplicadas, além das normas jurídicas que 
pertençam ao estatuto obrigacional, as que qualquer outra OJ, dispostas a aplicar­se, desde 
que exista uma relação suficientemente estreita entre OJ em causa e o contrato, tendo como 
limite a sua conformidade com ordem pública do foro. 
 
Utiliza o conceito indeterminado relação estreita e contém uma remissão condicionada à 
vontade. Solução consagrada no referido 7º/1 da CR 
 
LP: 
­ quanto à teoria do estatuto obrigacional: levada às suas últimas consequências, 
impediria qualquer desenvolvimento e aperfeiçoamento do sistema pela jurisprudência: 
estaria vedado o desenvolvimento de normas de conflitos especiais ou de cláusulas gerais 
com carácter bilateral, mesmo no caso de, na ordem jurídica do foro, o legislador houver 
consagrado normas unilaterais ad hoc ou uma clásula geral com respeito á aplicabilidade de 
normas materiais do foro. Esta atitude é contrária à tendência actual, que reconhece o papel 
criativo da jurisprudência e ciência jurídica. Dificilmente se vê razão para justificar que se 
negue a possibilidade de o intérprete fazer uma bilateralização quanto às normas unilaterais 
ad hoc. 
 
­ quanto á teoria da conexão espacial: as cláusulas gerais sobre relevância das 
normas imperativas de terceiros estados introduzem uma certa margem livee de apreciação 
ao intérprete, com a correspctiva perda de segurança sobre regime jurídico aplicável. 
 
Maior certeza e previsibilidade só é possível com a determinação de conexões relevantes e 
das exigências que devem ser postas ao conteúdo e fim das normas imperativas 
estrangeiras, o que “aponta para o desenvolvimento de normas de conflitos especiais.” 
Poderá para tal apostar­se na bilateralização das soluções consagradas para normas 
“autolimitadas” ou criação de normas de conflitos bilaterais independentemente de um 
processo de bilateralização. 
 

Posição de Lima Pinheiro (iure condendo)


 
Dá preferência à criação de normas de remissão condicionada a certas categorias de normas 
imperativas vigentes em em Estados que apresentam determinada conexão com a situação.  

33 
 
Remissão será condicionada à “disposição a aplicar­se” das normas em causa, quer se 
tratem de normas susceptíveis de aplicação necessária, ou outras normas imperativas que 
reclamem aplicação por força do respectivo sistem de Direito dos Conflitos. 
 
(ver melhor) 
 

Posição de Lima Pinheiro (iure constituto)


 
Não vigora na Ordem Jurídica portuguesa qualquer norma sobre a relevância de normas 
imperativas de ordenamentos terceiros. Todavia o DIP português contém algumas normas 
relevantes em certos domínios: 
 
● 16º Convenção de Haia sobre lei aplicável aos contratos de mediação e à 
representação:  
● 23º/2 do Regime das Cláusulas Contratuais Gerais 
● 69º/1 Lei 107/2001 (consagração legislativa de  
● 60º/8 DL 275/93 
 
Encontramos ainda alguns casos de normas de remissão condicionada que permitem ter em 
conta vontade de aplicação de normas estrangeiras: 
● 36/1 in fine 
● 45º/3 
● 47º 
● 65º/2 
 
Fora deste domínios, os orgãos de aplicação do Direito estão em princípio limitados a aplicar 
as normas imperativas da lei competente. O intérprete poderá criar soluções conflituais 
especiais, que atribuam um título de aplicação a normas imperativas de Direito Estrangeiro 
apenas quando encontrar lacuna por via de uma interpretação restritiva ou redução 
teleológica. 
 
Será facil encontrar lacuna nos casos em que o legislador introduziu limites às normas de 
conflitos gerais “com respeito” a normas autolimitadas do foro (por meio de normas 
unilaterais ad hoc. 
 
Em princípio é de supor que as normas unilaterais ligadas às normas “autolimitadas” do foro 
consagram, “soluções que se revelam adequadas para todas as normas que apresentem 
conteúdo e funções equivalentes, quer sejam normas do foro, quer sejam normas 
estrangeiras”. 
exemplo: em matéria de protecção de dados pessoais, na Lei 67/98 o legislador 
formulou uma norma ad hoc, segundo a qual a lei seria aplicável “ao tratamento de dados 

34 
pessoais efectuados no âmbito das actividades de estabelecimento situado em território 
portugues” ­ 4º/3 a). Esta norma é bilateralizável, por forma a que poderemos aplicar normas 
de protecção de dados pessoais do país estrangeiro em que esteja situado um 
estabelecimento que efectue o seu tratamento, mesmo que não pertençam à lei aplicável ao 
direito de personalidade em causa por força do direito de conflitos geral. 
 
No entanto, não será possível uma generalização, por via analógica, do que consta do 16º da 
Convenção de Haia ­ o legislador português, ao formular reserva sobre 7º/1 da CR foi claro. 
E das várias soluções heterogéneas analisadas supra não se pode retirar qualquer princípio 
geral sobre relevância de normas de terceiros estados. 
 

Relevância de normas imperativas de terceiros estados no quadro do Direito


material da lex causae
 
Mesmo que OJ local não atribua título de aplicação a normas imperativas de terceiros 
estados, estas podem ter relevância no quadro do direito material da lex causae. 
 
Esta “tomada em consideração” verifica­se nos casos em que norma é considerada 
pressuposto de facto de uma norma material da lex causae. 
exemplo: relevância da norma proibitiva do país de execução do contrato como facto 
gerador de impossibilidade de cumprimento. Vigência da norma pode constituir um 
impedimento efectivo à execução da prestação. 
 
Outro caso pode ser o problema das consequências que advêm para validade de negócio, da 
contrariedade do seu objecto ou fim a normas proibitivas de terceiros ordenamentos. LP 
entende que este contrato pode ser nulo por contrário aos bons costumes. 
 
 

A justiça e Princípios Gerais do Direito dos Conflitos


 

A justiça do direito dos ConflitoS


 
A ideia de justiça, num sentido amplo, surge como unificadora de todos os valores 
prosseguidos pelo Direito. No entanto, as valorações subjacentes às normas de conflitos são 
diferentes das valorações das normas materiais, o que é reconhecido nas normas de 
conexão: estas fundamentam­se numa valoração que tem por objecto os diferentes 
elementos de conexão que pode ser utilizados para individualizar o direito aplicável, com 
vista a determinar o elemento de conexão mais adequado. Ou seja, a justiça de conexão, 
atende ao significado dos laços estabelecidos entre situação e estados em presença, não às 
soluções materiais dadas por estes. 

35 
 
Trata­se pois de uma Justiça Formal/Conflitual, face à justiça material 
 
Nem todas as normas sobre a determinação do direito aplicável são normas de conexão: 
● normas com conceito desgnativo indeterminado: ainda estão ao serviço da justiça 
conflitual, mas uma justiça conflitual do caso concreto, pois não estabelecem em 
abstracto qual elemento de conexão mais adequado, remetem para interprete essa 
valoração conflitual 
● normas que remetem para “direito mais apropriado ao litígio” ou para o DIPúblico: já 
não são reconduzíveis à justiça da conexão nos termos em que foi definida 
 
No entanto, a justiça do Direito Internacional Privado, ou Justiça Conflitual é mais ampla que 
a justiça de conexão: 
● Justiça Conflitual pode exprimir adequação de um direito supra­estadual, como o 
DIPúblico, ou de um direito para­estadual, como a lex mercatoria, sem que esteja em 
causa qualquer laço entre situação em causa e um Estado 
● Justiça Conflitual pode atender a considerações jurídico­materiais, por exemplo, à 
adequação material de um direito estadual para reger determinada categoria de 
situações jurídicas 
● Mesmo quando actua através das tradicionais normas de conflitos. o DIP não se 
desinteressa completamente pelo resultado material (ver limites ao carácter formal da 
norma de conflitos) 
● Por via da reserva da ordem pública internacional, os princípios fundamentais da 
ordem jurídica do foro actuam como Princípios do DIP, limitando a aplicação do direito 
estrangeiro competente. O mesmo se pode dizer quanto aos limites impostos pelo 
DIPúblico e pelo Direito Comunitário 
 
Ou seja, LP conclui que a contraposição entre Justiça da Conexão e Justiça Material se 
esbate quando consideramos a Justiça Conflitual no seu conjunto 
 
Quando é que se justifica o favorecimento de um resultado material? 
 
Em primeiro lugar, exige­se que no Direito Material Interno haja uma finalidade subjacente a 
um ramo do direito ou a um instituto que que aponte nesse sentido. Seria contraditório que o 
DIP proseguisse finalidades materiais quando no direito interno fossem secundária. 
 
(...) 
 

Os Princípios do Direito de Conflitos


a) Preliminares
 

36 
Princípio: proposição jurídica com elevado grau de indeterminabilidade que, exprimindo 
directamente um fim ou valor da ordem jurídica, constituem uma directriz de solução 
 
Ou se encontra consagrado na lei, ou tem que ser obtido a partir de um exame das razões 
que justificam várias soluções particulares. No DIP temos que recorrer a esta operção, pois 
não se encontram legalmente consagrados 
 
Funções: 
● resolução de problemas de interpretação 
● integração de lacunas 
● redução teleológica 
 
Tese de BAPTISTA MACHADO/MOURA RAMOS: os princípios prevalecem sobre as normas 
de conflitos singularmente consideradas. Seriam portanto estas “meros critérios intrumentais 
que cederiam perante teologia intrínseca do DIP face às circunstâncias do caso concreto.” 
 
Esta tese leva a defender que vigora no DIP uma cláusula de excepção geral. 
 
LP não aceita: as normas de conflitos são tão imperativas como as nossas materiais. 
Defender que as normas de conflitos são “meras directrizes interpretativas” só se pode fazer 
no plano do direito a constituir, e implica partir da ideia que as normas de conflito não são 
normas de contuda (o que LP não aceita). 
 
Assim, para LP, os valores e princípios subjacentes às normas servem apenas para sua 
interpretação e podem justificar a extensão analógica ou a redução teleológica, mas nunca 
para derrogação de normas legais ­ assim o impõe o princípio da divisão de poderes e o 
dever de obediência à lei. 
 
Os princípios podem ser relativos à escolha das conexões relevantes ou às caracteristicas 
globais do DIP: 
 

b) Princípios de conformação global do sistema


 
A segurança e certeza jurídica são valores predominantes no DIP. Por isso, o Princípio 
Fundamental do DIP é a  
 
i) Harmonia Jurídica Internacional 
 
Segundo este princípio, deve ser o mesmo o direito aplicado a uma situação qualquer que 
seja estado em que venha a ser apreciada. 
 
Implica: 

37 
● adopção de um sistema de DIP de base bilateral 
● normas de conflitos estabelecidas por cada legislador estadual devem ser 
universalizáveis 
● na escolha dos elementos de conexão, deve atender­se à sua difusão internacional 
● deve­se aceitar a devolução quando permita alcançar a harmonia de soluções 
● deve adoptar­se reconhecimento de actos públicos estrangeiros. 
 
Apesar de ser acolhido no nosso sistema, tem limites: em regra o nosso ordenamento não 
admite a devolução, praticando referência material, o que se explica: 
● pela importância que se pretende dar à competência da lei pessoal, em matéria de 
estatuto pessoal ­ 17º/2 e 18º/2 
● pelo benefício que se pretende dar ao favor negotii ­ 19º/1 
 
Outro princípio é o da  
 
ii) Harmonia Material ou Interna 
 
Este princípio traduz a ideia de unidade do sistema jurídico, e implica a uniformidade de 
valoração das mesmas situações dentro da OJ. Por exemplo, não se pode dar um tratamento 
diferente ao casamento, conforme questão se coloque a nível principal ou incidental 
 
● Postula também a coerência na regulação das situaçoes da vida, evitando 
contradições normativas (matéria tratada na Adaptação) 
● “Aponta” no sentido de uma limitação do depecage (fraccionamento da situação da 
vida), para manter a unidade de regulação de cada situação. Entra assim em tensão 
com a “exigência de adequação do elemento de conexão” (que implica a formulação 
de normas de conflitos para diferentes segmentos de uma mesma situação). 
● Aconselha a que questões interdependentes sejam submetidas ao mesmo direito. Por 
exemplo, em matéria da responsabilidade civil extracontratual, se existir uma relação 
prévia entre as partes, deve ser a lei dessa relação a chamada a resolver a questão 
da responsabilidade. 
 
iii) Confiança 
 
Implica que: 
● seja dada relevância a situações jurídicas duradouras válidas à face de um direito, 
que, embora diferente do primariamente chamado pelo direito de conflitos do foro, 
seja competente segundo o direito de conflitos de um estado que apresenta conexão 
especialmente importante com a situação ­ 31º/2 
● justifica alguns desvios à lei normalmente competente ­ 11º da CR e 28º CC, 3º/1 in 
fine CSC 
● exige o respeito pela estabilidade e continuidade das situações jurídicas, quando a tal 
não obstem razões ponderosas. O que se concretiza na escolha de elementos de 

38 
conxeão especialmente estáveis em matéria de estatuto pessoal, que vigore o 
princípio da irretroactividade e continuidade das situações jurídicas 
● Influencia também o Direito de Reconhecimento 
 
iv) Efectividade 
 
Segundo este princípio, na resolução dos conflitos de leis há que atender à circunstância de 
certos estados estarem em situação priviligiada para imporem a sua regulação 
Pode implicar: 
● escolha do elemento de conexão primário ­ caso da regra da “lei da situação da 
coisa” em matéria de direitos reais ­ 46º CC 
● Desvios à lei normalmente competente ­ é o caso do 47º quanto à capacidade para 
constituir direitos reais sobre imóvel ou para dispor dele. Nesta vertente fala­se em 
princípio da maior proximidade, com acolhimento escasso no nosso ordenamento: o 
DIP português não abdica do seu critério de conexão só porque lei da situação dos 
imóveis se considera competente. 
 
v)  Favor Negotii 
 
Devem ser favorecidos a validade dos negócios e a legitimidade dos estatutos. 
 
● leva à paralisação da devolução no artigo 19º/1 
● fundamenta autonomamente a devolução nas questões relacionadas com a forma ­ 
36º/2 e 65º/1 in fine 

Para LP o legislador terá ido longe demais quanto a este princípio, sacrificando a Harmonia 
Internacional de Soluções. 
 
vi) Princípio da reserva jurídico­material 
 
O DIP não opera sem limites colocados pela justiça material, isto é, a justiça do elemento de 
conexão cede perante justiça material, quando esteja em causa normas e princípios 
supraestaduais ou fundamentais da ordem jurídica portuguesa. 
 
Forma­se assim uma reserva jurídico­material do sistema português do sistema de DIP 
português. 
 
Não são Princípios do DIP português: 
● boa admininstração da justiça: esta tenderia a priviligiar o direito do foro, para facilitar 
vida aos tribunais, em detrimento do princípio da paridade de tratamento do direito do 
foro e do direito estrangeiro.  
 

39 
c) Princípios de Conexão
 
i) Conexão mais Estreita 
 
Este princípio pode traduzir a própria justiça da conexão no seu conjunto, abrangendo todos 
os elementos de valoração. Isto é, o princípio da conexão mais extreita pode ser princípio 
geral dos elementos de conexão, sendo os vários elementos de conexão suas 
concretizações. 
 
Pode também exprimir a justiça da conexão objectiva em matéria de contratos obrigacionais 
­ ver 4º/1 CR (4º/3 e 4 RR II). Tem­se aqui em vista um outro sentido ­ a aplicação do Direito 
com que os interessados estão mais ligados. Só assim pode o Direito exercer a sua função 
de “conformação de condutas:” partes só se podem guiar por direito que julguem aplicável 
 
O princípio, altamente indeterminado, tanto contribui para fundamentar norma de conflitos 
com conteúdo especialmente indeterminado, cláusula de excepção, ou para a consagração 
de um determinado elemento de conexão. Mas em regra não aponta para um elemento de 
conexão como único “conflitualmente justo”. 
 
exemplo: em matéria de estatuto pessial, o princípio indica­nos que o elemento de 
conexão relevante deve ser um que exprime uma ligação íntima com pessoa: pode ser a 
nacionalidade, o domicílio ou a residência habitual. Mas não nos permite em definitivo saber 
qual o mais justo 
 
ii) Princípio da Personalidade 
 
Enquanto decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana, implica o respeito pela 
personalidade dos individuos. 
 
Manifesta­se: 
 
● Na noção de lei pessoal: certas qualidades e situações jurídicas são 
atributos/irradiações substanciais da pessoa humana, e devem ser reconhecidas por 
todas as ordens jurídicas. Daqui decorre que o início da personalidade, a capacidade, 
as relações de família, os direitos de personalidade, devem ser regidos pelo direito 
individualizado por um elemento de conexão que exprima uma ligação íntima e 
permanente com os interessados, como a nacionalidade, domicílio, e residência 
habitual. 
● O respeito pela competência da lei pessoal pode mesmo levar ao sacrifício da 
harmonia internacional, que se alcança através da devolução ­ 17º/2 e 18º/2 (o que 
LP parece não concordar) 
 

40 
3 ­ Princípio da Territorialidade? 
 
Vigora um princípio da territorialidade?  
 
Uma lei é territorial quanto aos orgãos de aplicação quando só é aplicada pelos orgãos do 
Estado que a edita. 
 
Uma lei é territorial quanto às situações reguladas quando se aplica a todas as situações que 
têm conexão com o território do estado que as edita. É este o sentido usado no 24º/1 
 
A territorialidade não vigora no primeir sentido. Quando ao segundo, a verdade é que no 
domínio do direito patrimonial a maior parte dos elementos de conexão utilizados pelo DIP 
apontam para um lugar no território como forma de designar lei aplicável. No entanto, o facto 
de se admitir a designação pelos interessados e a flexibilização dos critérios de conexão, 
atendendo a todos os laço significativos leva LP a afirmar que tal Princípio não vigora 

4 ­ Princípio da Autonomia Privada 
 
Enquanto princípio de escolha das conexões, actua a dois níveis: 
 
Em primeiro lugar, exprime­se na utlização de elementos de conexão cujo conteúdo concreto 
pode ser modelado pelas partes ­ isto verifica­se no domicílio, na residência habitual. Releva 
portanto a nível indirecto a liberdade das partes. 
 
Em segundo lugar, a liberdade de designação do direito aplicável, em matérias obrigacionais 
(RR I ­ artigo 4º/1), na arbitragem voluntária (33º/1 antiga LVAV) e mesmo em matérias 
extraobrigacionais (RR II ­ artigo 14º). 
 
Nesta liberdade de designação do direito aplicável manifesta­se directamente a autonomia 
das partes. Para justificar tal faculdade invocam­se razões de certeza, previsibilidade, e 
facilidade, ligadas à protecção da confiança recíproca. Presume­se ainda que a designação 
pelas partes exprime, numa concreta situação da vida, a solução mais adequada aos 
interesses das partes. 
 
LP entende contudo que esta liberdade devia ser muito mais limitada nas relações 
indisponíveis, como as matérias do estatuto pessoal. 
 
5 ­ “Ideia” de favorecimento de pessoas merecedoras  de especial protecção 
 
Não se trata de um princípio, apenas uma ideia que se manifesta em certas soluções. 
 
● favorecimento do menor ­ 57º CC e  
41 
● favorecimento do consumidro ­ RI 
● favorecimento do trabalhador ­ RI 
● favorecimento do lesado ­ 7º RII 
 

Estrutura geral norma de conflitos


Elementos da norma de conflitos
Previsão
 
Objecto da norma de conflitos: a previsão da norma de conflitos define os seus pressupostos 
de aplicação. Através destes pressupostos, a previsão da norma delimita o seu objecto e 
delimita  alcance material da remissão. 
 
O objecto da norma será a situação transnacional (ou um seu aspecto). 
 
As normas de conflitos do tipo utilizado no Direito de Conflitos Geral delimitam o seu campo 
de aplicação com recurso a conceitos técnico­jurídicos, que atendem ao “conteúdo típico e a 
notas funcionais”. 
exemplo: norma de conflitos do 25º reporta­se a “estado”, “capacidade”, a do 46º a 
“posse”, “propriedade”, 
 
Estas normas determinam a aplicação de certa ordem jurídica a uma categoria de situações 
ou a uma dada questão 
 
A determinação/indeterminação dos conceitos utilizados irá depender por regra do número 
de normas de conflito existentes num ordenamento: conceitos tendem a ter alcance mais 
“vasto” em sistemas com poucas normas e mais restrito em sistemas com mais normas, mais 
especializados. 
 
Há que ter cuidados quanto à extensão do objecto da norma de conflitos, pois se esta implica 
uma remissão com base no elemento de conexão, “importa assegurar que a previsão de uma 
norma de conflitos compreenda apenas as situações para as quais, segundo o juízo de 
valorlegislativo, é adequada a conexão.” 
 

42 
Na formação dos conceitos utilizados o legislador deve atender ao Direito Comparado, para 
promover a harmonia internacional de soluções, mas também para garantir que abarca a 
generalidade dos institutos jurídicos, mesmo os nossos desconhecidos. 
 
Quanto a normas unilaterais ad hoc, que se reportam à aplicação do direito material unificado 
ou de determinadas normas ou leis de fonte interna, têm por objecto igualmente “situações 
da vida ou aspectos de situações da vida”. No entanto, nas primeiras, a delimitação das 
situações da vida é feita por normas sobre domínio material de aplicação da Convenção 
(exemplo: 4º/3 e 4 da Lei 67/98) enquanto no segundo caso é pela previsão da norma 
material cuja aplicabilidade está em causa. 
 
Em certas Convenções de unificação do Direito dos Conflitos, utiliza­se na previsão da norma 
não conceitos técnico jurídicos mas sim eminentemente fácticos, para evitar difuculdades de 
interpretação resultantes da utilização dos conceitos mais jurídicos. 
 
Os conceitos utilizados não desempenham apenas a função de delimitação do objecto da 
norma, também delimitam o alcance material da remisão ­ “pois norma de conflitos só chama 
à aplicação as normas e princípios materiais que sejam reconduzíveis a esses conceitos ­ 
15º CC” (ver melhor) 
 
Fenómeno do depeçage
 
Muitas normas de conflitos não se reportam a situações típicas globalmente consideradas 
mas apenas a certos aspectos parcelares/ questões parciais: regulam por exemplo apenas a 
forma do negócio jurídico ­ 36º. O mesmo acontece em muitas normas de conexão ad hoc: 
exemplo do 23º LCCG 
 
Mesmo no caso de normas de conflito que se reportam a categorias de relações jurídicas 
podem levar ao fraccionamento na regulação das situações materiais, dado que uma mesma 
situação pode suscitar o “cruzamento” de diferente domínios do direito material ­ por 
exemplo, na regulação da CV, concorrem normas gerais sobre o negócio jurídico, normas de 
direito das obrigações e normas de direitos reais. Para definir a disciplina aplicável a uma 
determinada operação de CV, é necessário recorrer às normas de conflitos relativas à 
substância do contrato, à forma do mesmo e aos efeitos reais ­ normas essas que podem 
remeter para direitos diferentes. 
 
Quanto mais especializado for o Direito dos Conflitos, mais normas existirão e por isso mais 
casos destes podem ocorrer. Um fenómeno denominado Dépeçage (“fraccionamento das 
situações transnacionais pelo direito dos conflitos“ 
 
A regra no actual DIP é de que cada relação da vida internacional é susceptível de ser 
regulada mediante a remissão para uma pluralidade de Direitos. LP admite que se sacrifica 

43 
um pouco a “harmonia material”, no entanto é a melhor forma de obter soluções mais 
adequadas à matéria. 
 
O risco pode ser atenuado, “se conceitos respeitarem, tanto quanto possível, as únidades de 
regulação em que estão inseridas as normas singulares e os conjuntos normativos 
interdependentes”. Não se afasta por completo o risco de “antinomias”, pelo que se exige do 
DIP a “reconstrução da unidade e coerência perdidas com o fraccionamento do direito 
aplicável, mediantr a conjugação dos diferentes estatutos”. 
 

Estatuição
Estatuição da norma de conflitos
 
À estatuição damos o nome de conexão, e corresponde ao chamamento de um ou mais 
direitos para regularem a situação. 
 
A estatuição carece de concretização, que “resulta da concretização do elemento de conexão 
que é co­gerador da consequência jurídica concreta” (???) 
 
Como já vimos, à norma de conflitos corresponde uma dupla função técnico jurídica. 
Podemos também considerar que a norma de conflitos determina uma dupla consequência 
jurídica? 
● Por um lado, remete para um Direito. A esta consequência damos o nome de 
remissão (questiona­se aqui se a remissão abrange também o DIP da ordem jurídica 
designada, e também qual o concreto alcance da remissão, quais as proposições 
jurídico­materiais que são chamadas por esta norma. 
● Por outro lado, quando remete para um direito estrangeiro ou extra­estadual, 
produz­se uma segunda consequência, a atribuição de um título de aplicação ao 
direito material estrangeiro 
 
Conjunto de proposições jurídico­materiais que são chamadas por uma norma de conflitos é 
geralmente designada por “estatuto”. A palavra “estatuto” pode também servir para designar 
o conjunto de proposições jurídico­materiais que são chamadas pelas várias normas de 
conflitos que regulam determinado âmbito de matérias. 
 
Modalidades de conexão em geral
 
Pode ser: 
● Singular: quando só desencadeia a aplicação de um direito para resolver a questão 
○ simples: a norma de conflitos designa de forma directa e imediata um único 
direito aplicável à questão (ex: 46º CC 

44 
○ subsidiária: norma de conflitos dispõe de uma série de elementos de conexão 
que operam por ordem sucessiva, pelo qual a actuação do elemento de 
conexão seguinte depende do não preenchimento do elemento anterior 
(exemplos: 25º + 31º + 32º; 3º e 4º CR; 52º CC( 
○ alternativa: cntém dois ou mais elementos de conexão, susceptíveis de 
designarem dois ou mais direitos, sendo aplicádo aquele que no caso concreto 
se mostrar favorável à produção de determinado efeito jurídico (exemplo ­ 36º 
ou 65º CC não é pura conexão alternativa porque contém uma reserva a favor 
da lei da substância 
○ optativa: dispõe de dois ou mais elementos de conexão, susceptíveis de 
designarem dois ou mais direitos, mas é a vontade de uma determinada 
categoria de sujeitos que vao decidir direito aplicável (exemplo: artigo 7º 
regulamento R2) Nestas existe uma preocupação com o resultado material, 
mais do que com a autonomia privada, dado que a escolha vai caber apenas a 
uma das partes. Por regra, quando pensamos em “escolha de lei aplicável 
pensamos nos casos em que as partes entre si acordam a escolha de uma lei 
● Plural: quando desencadeia a aplicação de mais de um Direito para regular questão 
○ simples: norma de conflitos exige, para que se produza certo efeito jurídico, a 
concorrência de dois ou mais direitos, ou seja, o efeito tem de ser reconhecido 
por dois ou mais direitos (exemplo ­ norma do 33º/3 cc). Simétrica à conexão 
alternativa: enquanto esta visa favorecer  a produção de um efeito jurídico, 
aquela visa dificultar a produção desse efeito. No entanto este 
desfavorecimento não é sempre intencional, pode resultar apenas de 
problemas específicos de regulação ­ é o caso do 33º/3: legislador não  tem 
razão para desfavorecer a personalidade colectiva, mas não seria aceitável, à 
luz dos fins prosseguidos pela norma de conflitos em causa, que 
personalidade subsistisse quando lei sede anterior determinasse a extinção, 
nem quando a lei da sede actual não a reconhecessse. 
○ condicionante: não há uma atribuição de competência paritária a dois Direitos, 
chama um como primariamente competente, e outro com um função limitativa 
ou condicionante quanto à produção de certo efeito (exemplo, 60º/1 e 2 + nº4). 
Pode ter subjacente um juízo desfavorável à produção de certo efeito, mas 
mais frequentemente “encontrará sua justificação em certos problemas 
específicos de regulação ou na promoção da harmonia internacional de 
soluções” (necessidade de conjugar estatutos) ou pode ter ainda subjacente a 
preocupação de não criar soluções “coxas”, i.e., não reconhecidas num dos 
estados com o qual tenha conexão mais estreita ­ será esta a justificação do 
artigo 60º: quer­se evitar a constituição do vínculo de adopção quando a lei 
reguladora das relações entre adoptando e seus progenitores não conheça o 
instituto.  
 
Podem também ser: 

45 
● autónomas: a norma de conflitos dispõe de elemento de conexão que opera o 
chamamento 
● dependentes: é necessário recorrer a outra norma de conflitos para determinar direito 
aplicável 
 

Elemento de Conexão
Noção e Função
 
Noção tradicional: “laço entre situação da vida e um dado ordenamento de um Estado 
Soberano que se entende ser o determinante para escolha do ordenamento aplicável” 
 
LP critica: a situação da vida, enquanto realidade social, encontra­se num plano da realidade 
diverso do das Ordens Jurídicas 
 
O elemento de conexão pode por isso consistir: 
● laço fáctico entre situação da vida e um determinado lugar que permita individualizar o 
direito aí vigente ­ exemplo: o lugar da situação da coisa 
● vínculo ou qualidade jurídica que permita individualizar o Direito que o estabelece ­ 
exemplo: nacionalidade e domicílio 
● consequência jurídica que se projecta num determinado lugar no espaço, 
possibilitando a individualização do direito aí vigente 
● facto jurídico, como a designação do direito aplicável 
 
Enquanto a conexão chama uma ou mais ordens jurídicas, o elemento de conexão faz a 
ponte entre a situação e ordem jurídica aplicável. 
 
O elemento de conexão tem um carácter bifrontal:  
1 ­ “para estabelecer a ponte, tem que mergulhar as suas raízes na situação da vida em 
causa” 
exemplo: 25º e 31º/1 CC submetem o estatuto pessoal à lei individualizada pelo 
elemento de conexão nacionalidade ­ a nacionalidade é uma das qualidades das pessoas 
visadas no artigo 25º, uma das determinações possíveis do objecto. o 36º remete para lei 
designada pelo elemento de conexão lugar da celebração ­ assim a nacionalidade ou o lugar 
de celebração são os elementos que relevam face à norma de conflitos como factores de 
individualização do direito que há de reger o estatuto pessoal ou a forma do negócio jurídico. 
2­  Por outro lado, o elemento de conexão “serve também” a estatuição: o artigo 25º chama 
lei da nacionalidade, o 36º chama a lei do lugar da celebração. 
 
O elemento de conexão é essencial nas normas de conexão, mas não nas normas de 
conflitos (entendidas estes nos termos amplos em que LP as define). 
 

46 
Classificações de elementos de conexão: (não sai)
 
Podem ser: 
● Pessoais: referem­se aos sujeitos da relação  
○ exemplos: nacionalidade, domicílio, residência, sede 
● Reais: referem­se ao objecto da relação, a factos materiais 
○ o lugar onde é praticado o delito, o lugar de celebração do acto 
Não é classificação exaustiva: não engloba por exemplo a designação pelas partes. 
 
De acordo com o modo como elementos de conexão realiza sua função de designação do 
direito aplicável: 
● por via directa: quando elemento de conexão aponta directamente para o direito 
aplicável, sem necessidade de mediação de um ponto preciso no  
 

A determinação da remissão em função das circunstâncias do caso concreto


 
Uma das tendências recentes do DIP é a procura de soluções mais individualizadoras, para 
uma justiça do caso concreto. De acordo com tal linha, a determinação do direito aplicável 
não depende da concretização do elemento de conexão, mas de “critérios flexíveis que 
deixam margem de apreciação ao intérprete”. 
 
Os sistemas positivos, ainda que consagrem certas normas materialmente orientadas, não 
admitem uma escolha do direito aplicável exclusivamente em função do resultado. Já noutros 
casos se admite que seja inteiramente uma “justiça do caso concreto” a determinar o Direito 
aplicável ­ no Regulamento RII, na falta de desingação pelas partes, aplica­se ao contrato a 
lei do estado com o qual tenha conexão mais próxima (ver melhor) 
 
Esta tendência reflecte­se no uso de novos tipos de proposições conflituais, em que não 
encontramos um elementos de conexão, mas um “conceito altamente indeterminado”, como 
o tal de “conexão mais estreita”, ou “centro dos principais interesses do devedor”. São 
conceitos que têm de ser preenchidos por recurso a uma “valoração conflitual”. 
 
Algumas destas proposições podem ser classificadas como clausúlas gerais, dado que a sua 
previsão é igualmente ampla, não se reportando a categorias de situações jurídicas ou 
questões parciais ­ exemplo LAV que manda aplicar ao litígio o direito mais apropriado. Em 
sentido oposto encontramos normas que delimitam o seu campo de aplicação a categorias 
de relações jurídicas, mas que depois utilizam os conceitos indeterminados para determinar 
direito aplicável. 
 

Critério da Conexão mais estreita


 
47 
Surge no nosso ordenamentos pelo 4º/4 do RR 1, no 52º/2 2ª parte e 60º/2 in fine  
 
É um conceito carecido de preenchimento valorativo, que pode atender aos vários laços 
existentes entre a situação e esfera social dos estados. Problema da interpretação deste 
conceito é matéria de DIP 2 
 

Cláusula de Excepção
 
Norma que permite afastar direito primariamente chamado, quando situação apresente 
ligação manifestamente mais estreita com outro estado. Aqui a justiça do caso concreto 
intervém num momento secundário, para “corrigir” a designação do direito aplicável 
exemplo: 15º Lei suiça; 19º Código belga de dip 
 
No direito português não vigora cláusula geral de excepção. No entanto há quem defenda 
que as normas de DIP são “simples critérios instrumentais”, que podem por isso ser 
afastados pelo aplicador. Para estes é admissível a vigência implícita de uma tal cláusula 
excepcional, com base no princípio da proximidade. 
 
LP defende que as normas de DIP são tão vinculativas como “as materiais”, pelo que rejeita 
a vigência de tal norma. Mais, o legislador de 1996 optou conscientemente pelo recurso a 
normas de conflito “tradicionais”, do tipo que usam conceitos designativos do elemento de 
conexão determinados. 
 
Defende que no nosso ordenamento serão normas de excepção as dos artigos 45º/3, as do 
4º/3, 5º/2, 10º/4, 11º/4 e 12º/2 do RR 2 
 
No entanto, defende de iure condendo a existência de tal cláusula, dado que a justiça da 
conexão é posta em causa quando norma remete para lei de um Estado e a situação 
apresenta uma ligação mais estreita com outro estado. No entanto tal norma teria que ter 
aplicação restrita, para os casos em que ostensivamente a situação apresentasse conexão 
mais com outro estado que não o chamado 
 
 

Interpretação e aplicação da norma de Conflitos


Intepretação da norma de conflitos
 
Os critérios de interpretação das normas variam conforme a sua natureza interna ou 
supraestadual: 
● normas de fonte interna: deve­se ter em conta o disposto nos artigos 8º e 9º do CC 

48 
● normas de fonte internacional: temos que atender às regras específicas do DIPúblico, 
como a do 31º da CV sobre tratados 
● normas de fonte comunitária: há que ter em consideração critérios de interpretação 
reconhecidos pela jurisprudência e doutrina comunitárias 
● normas de conflitos estrangeiros: temos que considerar os critérios dos sistemas onde 
estão inseridos 
 

Normas de Conflitos de Fonte Interna


 
Têm que ser interpretadas a partir do Direito Material Interno, do contéudo aí atribuido, por 
exemplo, a conceitos como “capacidade”, “forma”, etc. No entando, se interpretação é 
ancorada no direito material interno não lhe está subordinada: a especialidade do direito dos 
conflitos exige que se tomem em conta os próprios fins do ramo. Ou seja, pode­se atribuir a 
estes conceitos um sentido e alcance diferente dos conceitos do direito material interno 
 
“É uma interpretação autónoma relativamente ao direito material interno(...)” 
 

Normas de conflito de fonte supraestadual


 
Destacam­se aqui as normas contidas em Convenções internacionais de unificação do direito 
aplicável e em Regulamentos Comunitários. 
 
Quanto às primeiras, LP entende que interpretação tem de ser autónoma relativamente ás 
ordens jurídicas dos diversos estados participantes, e assentar num juízo de comparação de 
Direitos ­ “só assim se pode promover a uniformidade de interpretação das normas 
convencionais pelas diferentes jurisdições nacionais” 
 
A intepretação das normas de confltitos contidas em Regulamentos deve também ser 
autónoma, pelo que se deve ter em conta “os objectivos e o sistema” dos Regulamentos  e 
também “os princípios gerais que decorrem do conjunto dos sistemas jurídicos nacionais” dos 
EM. 
 

Integração de Lacunas no Direito de Conflitos


 
Temos lacunas da lei do Direito dos Conflitos quando não encontramos norma de conflitos 
que indique a lei reguladora de determinada situação que, segundo o “sentido regulador do 
sistema”, deve estar submetida ao regime especial constituído pelo DIP 
 
Perante um sistema codificado as lacunas seriam raras, enquando num não codificado 
seriam mais comuns. 
 
49 
No entanto, a lacuna pode não ser patente, mas sim oculta ­ descobre­se uma lacuna oculta 
mediante uma operação de interpretação restritiva ou de redução teleológica. 
 
Baptista Machado e Moura Ramos defendem que as lacunas em DIP só podem ser ocultas ­ 
isto porque para os autores as normas de conflitos são aplicáveis através de analogia 
directamente (ver melhor, mas LP não entrou no tema na aul) 
 
Detectada a  lacuna, deve ser integrada, em primeiro lugar por analogia legis (recurso à 
norma aplicável a caso análogo), e, se esta não for possível, através de analogia iuris 
(solução do caso é obtida mediante recurso aos princípios gerais e ideias orientadoreas do 
Direito dos Conflitos) 
 
Não sendo possível por nenhum destes meios integras a lacuna, caberá ao interprete criar 
uma norma ad hoc (geral e abstracta, susceptível de ser seguida em casos semelhantes”) 
“dentro do espírito do sistema”, i.e. a solução, que já não pode decorrer do Sistem, tem que 
com ele ser compatível. 
 
Nota: só haverá lugar aos processos indicados se não existir um costume praeter legem, 
dado que o costume continua a ser fonte de direito. 
 

Aplicação no tempo e no espaço do Direito dos Conflitos


 
Afirma­se frequentemente que todo o direito estadual é situado no tempo e no espaço, e 
mais, que é relativo no espaço (perante coexistência de pluralidade de sistemas) e no tempo 
(dada a mutabilidade das ordens jurídicas) 
Poderá esta afirmação ser aplicada ao Direito do Conflitos? 
 
Em primeiro lugar temos que estabelecer se as normas de conflitos são normas de conduta, 
ou, saber quem são os seus destinatários 
 
­ Para a Escola de Coimbra: normas de conflitos têm como principais destinatários os 
tribunais e não os particulares. Como já vimos, para estes autores são normas que visam 
resolver conflitos de leis. 
 
Assim, serão normas que têm âmbito de aplicação ilimitado no espaço e no tempo, são 
normas de aplicação universal e imediata ­ do que decorre, por exemplo, que se aplicará 
sempre a nova norma. 
 
Admitem contude que podem operar como norma de conduta quando a lex fori for uma das 
interessadas. (ver melhor) 
 

50 
­ Para a Escola de Lisboa ( e LP): normas de conflitos são normas de regulação indirecta, e 
por isso, visam orientar a conduta dos sujeitos, só excepcionalmente são meras normas de 
decisão. 
 
Do reconhecimento desta natureza resultam consequências sobre as questões de aplicação 
no tempo e no espaço (não são, a priori, de aplicação imediata nem reclamam esfera de 
aplicação universal), sendo que nós só vamos analisar a aplicação da lei no tempo; 
 

Aplicação no tempo do Direito dos Conflitos


 
A questão do inicio e termo da vigência não suscita questões particulares, aplicam­se as 
regras gerais, como as da vacatio legis. 
 
O problema aqui relevante é o da sucessão da lei no tempo: 
 
exemplo: substituição das normas de conflitos do C Seabra pelas do CC actual ­ qual 
a lei reguladora do regime de bens do casamento celebrado em 65 entre português e 
britânica que residam em Inglaterra, dado que segundo lei anterior seria a da nacionalidade 
do marido, e na lei actua a da “residência habitual”? 
 
Solução: o problema pode ser resolvido pelo próprio legislador, por meio de normas 
transitórias que expressamente resolvam o problema. Na omissão do Legislador, o que se 
tem defendido (Isabel Magalhães Colaço, depois seguida pelo TC) é que devemos recorrer 
ao Direito Intertemporal da ordem jurídica em que estão integradas as normas de 
conflitos em causa.  (ver outras teses e argumentos de LP, de que professor não falou na 
aula) 
 
Seriam por isso aplicáveis as regras gerais sobre a sucessão de leis no tempo, contidas nos 
artigos 12º e 13 CC. 
● artigo 12º: consagra a doutrina do facto passado: a valoração dos factos ocorridos na 
vigência lei antiga não é, em princípio, prejudicada pela lei nova (o que não impede 
que legislador adopte normas especiais de direito transitório 
● em princípio também serão aplicadas normas especiais de direito transitório que certo 
diploma legal 
● podem ser aplicadas analógicamente as regras de direito transitório que se reportem 
apenas a normas materiais 
 
Conclui assim LP que no caso do exemplo, seria aplicável o regime do código de Seabra. A 
esta solução não se opunha uma eventual inconstitucionalidade da norma de conflitos do 
1107º, pois a lei fundamental não obriga a uma revaloração de todas as situações já 
constituídas (pois as próprias normas constitucionais têm limites temporais de aplicação, e 
assim o reclama o princípio da continuidade das situações jurídicas) 

51 
 

Do Elemento de Conexão
Princípios Gerais de interpretação e aplicação
 
Importa distinguir dois momentos na interpretação e aplicação do elemento de conexão: 
1. Interpretação: determinação do contéudo do conceito que designa o elemento de 
conexão ­ “o que se entende por nacionalidade” 
2. Concretização: determinação do laço em que se traduz o elemento de conexão ­ “qual 
o estado de que antónio é nacional”. 
 

1 - Intepretação
 
Existem diferenças quanto a interpretação de conceitos técnicos jurídicos e de conceitos 
fácticos: dado que os primeiros assumem conteúdo diferente nos diferentes sistemas 
jurídicos, é necessário determinar quais as regras e princípios jurídicos a que se deve 
recorrer. 
 
Como já vimos, norma deve ser interpretada no contexto do sistema a que pertence, mas 
com autonomia relativamente ao direito material aí vigente, isto porque “as finalidades 
prosseguidas pelas normas de conflitos podem justificar a atribuição de sentido e alcance 
diferente do atribuído aos conceitos homólogos do direito material estrangeiro 
 

2 - Concretização
 
Temos que resolver 3 problemas: 
2.1 - aspectos gerais da determinação do conteúdo do concreto do elemento de conexão
 
Não oferecerá problemas quando se tratem de elementos de conexão que consistem em 
“laços fácticos” como o lugar da situação da coisa, lugar celebração de um contrato ­ 
“trata­se apenas de estabelecer os factos relevantes 
 
Na concretização de elementos de conexão que se reportam a conceitos técnicos jurídicos 
(como vinculos jurídicos, consequências jurídicas ou factos jurídicos) já se levantam alguns 
problemas: 
 
No caso de elementos de conexão que se reportam a um vínculo jurídico (como 
nacionalidade ou domicílio legal), surge a questão se deve ser concretizado lege fori ou lege 
causae ­ aponta questão para capitulo onde analisa elementos de conexão 
 

52 
(ver melhor, professor aqui parece não dizer nada em concreto ) 
 

3 Conteúdo múltiplo e falta de conteúdo


 
Há um problema de conteúdo múltiplo quando no caso concreto surgem vários laços, que 
se estabelecem com diferentes estados, reconduzíveis ao mesmo conceito designativo, e 
problema de falta de conteúdo quando no caso concreto não existe no caso concreto o laço 
designado ­ caso do apátrida. 
 
O problema do conteúdo múltiplo  
 
Pode ser resolvido por norma especial ­ é o que se verifica com a nacionalidade, em que os 
artigos 27º e 28º lei da nacionalidade estabelecem os critérios do concurso de 
nacionalidades. 
● Nos termos do 27º, se uma das nacionalidades for portuguesa prevalece sobre as 
outras ­ de resto solução adoptada na maioria das legislações e convenções sobre a 
matéria.  
 
Solução tem sido criticada: no âmbito do DIP solução mais conforme aos fins do DIP seria a 
a aplicação da lei do Estado da nacionalidade efectiva. Marques dos Santos defende mesmo 
que a nacionalidade estrangeira prevalece se for “inquestionável a conexão manifestamente 
mais estreita” com a mesma. LP não aceita que se defenda tal solução de iure constituto, 
dado o 27º 
 
● Nos termos do 28º, em caso de concurso de nacionalidade estrangeiras, releva a 
nacionalidade do Estado em cujo território tenha residência habitual. Se não a tiver 
em nenhum dos Estados em conflitos, releva a nacionalidade do Estado com que 
mantenha conexão mais próxima ­ princípio da nacionalidade efectiva (igualmente 
aceite na maioria dos ordenamentos. Neste juízo haverá que atender a todos os 
laços, de carácter objectivo ou subjectivo. 
 
Aplica­se igualmente o 28º nos casos em que uma das nacionalidade em conflito é de um 
Estado Membro? Ac Micheletti entendeu que para efeitos de liberdade de estabelecimento 
prevaleceria sempre nacionalidade de um EM. Podemos estender os efeitos deste acordão a 
outras àreas? Marques dos Santos entende que sim, seguido por LP, que entende que “não 
faria sentido que um plurinacional fosse tratado como nacional de um Estado para uns efeitos 
e como nacional de outro Estados para outros”. 
 
Problema da Falta de conteúdo 
 
Em primeiro lugar há que atender à norma especial que resolva o problema. 
 

53 
­ 32º/1 1ª parte determina que lei pessoal do apátrida é a do lugar da residência habitual. Não 
tendo residência habitual, o nº2 do mesmo artigo remete para o 82º/2, pelo que pode relevar 
residência ocasional, ou mesmo o paradeiro.4  
 
Não havendo norma especial: 23º/2 2ª parte manda aplicar lei subsidiariamente competente. 
Na falta de conexão subsidirária, será aplicável lei do foro, por aplicação analógica do 348º/3 
CC (mesma solução para o caso de impossibilidade de concretizar elemento de conexão) 
 
 
 

Concretização no Tempo
 
O problema coloca­se quanto a elementos de conexão móveis (aqueles cujo conteúdo 
concreto é susceptível de sofrer alteração no tempo). Com a alteração do conteúdo concreto 
do elemento de conexão surge uma sucessão de estatutos ou conflito móvel. 
exemplo: deslocação de coisa móvel de um estado para outro ­ muda a lei designada 
pelo elemento de conexão, ou seja, há uma sucessão de estatutos. 
 
Existem duas teses: 
1. Batista Machado: Há analogia entre sucessão de estatutos e o conflito de leis no 
tempo, pelo que são aplicáveis analógicamente as regras gerais do Direito 
Intertemporal 
2. IMC: não podem ser formuladas regras gerais neste matéria, a determinação do 
momento relevante para concretização do elemento de conexão é um problema de 
interpretaçao da norma, pelo que depende “dos fins que subjazem à norma em causa” 
 
LP ­ Sucessão de Estatutos não é igual  a sucessão de Leis: na sucessão leis temos a 
“substituição de uma lei por outra lei dentro da mesma OJ. A vigência da lei antiga é 
condicionada pela entrada em vigor da lei noca”. Na sucessão de estatutos o que muda “é a 
situação da vida, há um “deslocamento da situação da vida relativamente aos estados em 
presença”. 
 
Não é que não haja um “relativo paralelismo” entre sucessão de Estatutos e sucessão de 
Leis no tempo”: 
● em ambos os casos se procede a uma delimitação ( falta acabar) 
 
Solução:  
 
 
4
 LP critica esta solução ­ seria preferível que na falta de residência habitual se recorresse à 
“lei do país com o qual apátrida apresentasse conexão mais estrita” 
 
54 
Nacionalidade dos indivíduos, domicílio, e residência habitual
 
a) Nacionalidade dos indivíduos
 
Tem relevância na determinação do estatuto pessoal, como elemento de conexão primário 
nos termos do 31º/1 CC, e, enquanto nacionalidade comum, em matéria de família. (52º e 
53º) 
 
Fora do estatuto pessoal tem relevância na Responsabilidade Civil Extracontratual ­ 45º/3. 
Ou seja, nem sempre lei nacionalidade é a lei pessoal.  
 
Quanto à sua interpretação 
 
Devemos partir da noção de nacionalidade como vínculo jurídico­político que une pessoa a 
estado. No entanto este vínculo pode assumir diferentes significados: pode ser estabelecido 
vínculo com estado soberano, mas também com estados não soberanos. 
 
exemplo: nos USA existe uma nacionalidade primária, a do estado federal, e uma 
nacionalidade secundária, que se estabelece com o Estado Federado do domicílio 
 
 Pode ainda falar­se de nacionalidade com respeito a um vínculo com entidade supraestadual 
que não seja estado: é o caso da “nacionalidade” europeia. LP considera expressão infeliz, 
dado que não se trata verdadeiramente de uma nacionalidade. 
 
Atendendo aos fins da nossa norma de conflitos, o que releva é a Nacionalidade do Estado 
Soberano. 
 
Concretização 
 
Surgem duas possibilidades: concretização lege fori, aplicando o direito do foro, e a 
concretização lege causae, mediante aplicação do Direito do estado em questão. 
 
Ora a resposta está já condicionada pelo princípio da Liberdade dos estados determinarem 
os seus nacionais: concretização tem que ser feita lege causae.  
 
(remissão para as aulas práticas: temos que perguntar a todos os direitos envolvidos se 
consideram pessoa seu nacional ­ ver melhor) 
 
Questão prévia de DIP suscitada na determinação da nacionalidade 
 
relevante? 
 
55 
b) Domicílio
 
Definido como “vínculo jurídico entre uma pessoa e um lugar situado num determinado 
espaço territorial”. Tem um reduzido campo de aplicação, no estatuto pessoal apenas 
funciona como elemento de conexão subsidiária na falta de nacionalidadade. 
 
Releva em três casos:  
● determinação lei pessoal de apátrida menor, enquando domicílio legal ­ 32º/1 2ª parte 
● determinação da lei pessoal de refugiados políticos ­ 12º/1 Convenção Genebra 
● matéria de representação voluntária, enquanto domicílio profissional ­ 39º/3 
 
Apresenta no entanto relevância na aplicação de DIP estrangeiro, designadamente na 
devolução 
 
Interpretação 
 
Tem que ser interpretado no contexto do sistema a que pertence, mas com autonomia. No 
conceito de domicílio no direito usado nas normas de conflito interno duas notas serão 
importantes: uma objectiva, de permanência num determinado lugar, e outra subjectiva, de 
intenção de ai permanecer. No resto deve ser aberto a vínculos de domicílio diferentes do 
estabelecido pela ordem do foro 
 
Concretização 
 
Por respeito à harmonia internacional de soluções, deve ser feita lex causae, através de um 
método de tentativas. Assim, para saber se um apátrida está domiciliado num estado 
estrangeiro não podemos recorrer ao 58º, temos que atender ao disposto sobre o domicílio 
legal no direito desse estado 

Remissão para ordenamentos Jurídicos Complexos


Problema
 
1 ­ quando é que a norma de conflitos remete para o ordenamento jurídico complexo? 
2 . supondo que remete para o OJC, como se determina, entre os vários sistemas possíveis 
que nele vigoram, o aplicável? 
 
Temos que considerar ­ 20º CC, 22º RR 1 e 25º RR 2 

56 
 

Princípios gerais de solução


Quando é que norma remete para OjC no seu conjunto e quando é que remete
directamente para um dos sistemas que nele coexistem?
 
Artigo 20º só se refere à remissão feita pelo elemento conexão nacionalidade, pelo que surge 
outra questão: como proceder quanto elemento de conexão seja residência habitual, 
domicílio ou lugar da situação? 
 
Duas Posiçãos 
1. Ferrer Correia: quando o elemento de conexão aponta directamente para um lugar no 
espaço, será competente o sistema em vigor nesse lugar 
2. IMC: a remissão da norma é feita, em princípio, para o Ordenamento do Estado 
Soberano. LP concorda: “ao DIP compete determinar o Direito aplicável, não resolver 
conflitos internos” 
 
Em matéria de obrigações contratuais e extracontratuais, os artigos 22º R1 e 25º R2 
estabelecem que a remissão feita pelas normas do mesmo é entendida como referência 
directa a um dos sistemas locais. LP entende que a solução não será a mesma se parte 
tiverem designado como lei aplicável a OJC no seu conjunto: nesse caso é “inevitável” 
considerar que remissão é para ordenamento do Estado Soberano no seu conjunto. 
 

Como determinar, de entres os sistemas que vigoram no OJC, qual o aplicável


 
2 princípios: 
1. pertence ao OJC resolver os conflitos de leis internas 
2. se OJC não resolver conflito, deve aplicar­se, dentro dos que vigoram no âmbito do 
OJC o que apresentar conexão mais estreita com situação. 
Como se concretizam estes princípios quando remissão é feita pelo elemento de conexão 
nacionalidade 
 
a) Nos ordenamentos de base territorial:  
● o 20º/1, em consonância com o primeiro princípio, remete solução para o OJC ­ é que 
acontece quando OJC dispuser de um sistema unitário de direito interlocal ou quando 
os ordenamentos locais estejam de acordo com o ordenamento aplicável (será 
suficiente o acordo daqueles que estão em contacto com  a situação) 
● Não se resolvendo pelo 20º/1, o nº2 “presume analogia com o DIP e prescreve o 
recurso ao direito Internacional Privado unificado 
● Não havendo direito internacional privado, o 20º/2 manda atender ao lugar residência 
habitual. Em que termos?  

57 
 
IMC: só se deverá atender à residência habitual dentro do estado da nacionalidade. 
Para a autora, a função do preceito seria apenas indicar o sistema aplicável 
dentro dos que integram o ordenamento complexo, pelo que deve ser feita 
interpretação restritiva, o que gera a constatação da existência de uma lacuna: qual o 
sistema aplicável no caso de residência habitual se situar fora do estado da 
nacionalidade? Lacuna deve ser integrada de acordo com princípio da conexão mais 
estreita. LP adere a esta posição ­ defender o contrário seria tratar como apátrida 
quem tem nacionalidade. Invoca ainda a “insercção do preceito no seu contexto 
significativo” e a “consideração dos vectores do sistema”. 
 
Para a Escola de Coimbra, aplicar­se à a lei da residência habitual mesmo que esta 
se situe fora do Estado da Nacionalidade. Invoca­se entre outros argumentos, os 
trabalhos preparatórios do 20º, dado que o ante­projecto consagrava a tese oposta, 
entretanto afastado. 
 
LP responde a este argumento: “não é conclusivo de uma intenção legislativa de 
aplicar a lei da residência habitual quando a pessoa tenha residência habitual fora do 
Estado da nacionalidade”. 
 
Assim: em matéria de estatuto pessoal, devemos aplicar, dentro dos sistemas do 
OJC, aquele com que pessoa mais está ligada ­ analogia com 28º da Lei da 
Nacionalidade. Para determinar esta conexão mais estreita, devemos atender a todos 
os “laços objectivos e subjectivos que exprimam ligação entre pessoa e um dos 
sistemas”. 
 
b) para os ordenamentos complexos de base pessoal: 
● 20º/3 determina que pertence ao OJC determinar o sistema pessoal 
competente 
● se legislador de OJC de base pessoal não dispuser de critérios para solucionar 
questão, deve­se atender à conexão mais estreita. 
 
Quando remissão para OJC é operada por elemento de conexão que não a nacionalidade 
O caso não é contemplado pelo 20º, pelo que, no entendimento de IMC, existe lacuna, que 
deve ser integrada por aplicação analógica do artigo 20º 
 
Ou seja: 
1. deve­se atender ao direito interlocal e ao Direito Internacional Privado Unificado do 
OJC 
2. Se não, não aplicamos norma do 20º/2 in fine ­ porque 
3. Se não existirem essas normas, e remissão operada pela norma de conflitos apontar 
para um determinado lugar no espaço, entende­se que remissão da norma de 
conflitos opera como uma remissão para sistema local ­ ou seja, entendemos os 

58 
sistemas locais como “autónomos”” e que norma de conflitos, ao remeter para lugar 
específico, remete indirectamente para o sistema que aí vigora 
4. Se elemento de conexão não indicar um preciso lugar no espaço, “atender­se­à 
igualmente ao sistema local para que directamente remetam (???) Ver este fim 
melhor. 

Devolução ou Reenvio

Introdução
 
Quando norma de conflitos portuguesa remete para OJ estrangeira, pode ser que esta 
também considere aplicável o seu direito, mas também pode ocorrer que não considere, e 
que remeta para outra lei ­ surge o problema da Devolução 
 
O problema é este: devemos aplicar lei designada, mesmo que não se considere 
competente, ou devemos ter em conta o DIP da lei designada? 
 
Resposta resultará do entendimento que tivermos da norma de conflitos e do alcance que lhe 
atribuímos: a referência que faz dirige­se directa e imediatamente para o Direito Material da 
Lei Designada ­ referência material ­ ou pode entender­se que também abrange o seu DIP ­ 
referência global.  
 
Temos problema de devolução quando: 
1. norma de conflitos do foro remeta para lei estrangeira 
2. que a remissão possa não ser entendida como referência material 
3. que lei estrangeira não se considere competente 
 

Tipos de Devolução
 
Pode apresentar­se como 
● retorno de competência/reenvio de 1º grau: quando Direito de Conflitos estrangeiro 
remete a solução para o Direito do Foro 
● transmissão de competência/reenvio de 2º grau: direito de conflitos estrangeiro 
remete solução para ordenamento estrangeiro 
○ retorno indirecto: quando L2 remete para L3 com referência global e L3 
devolve para o Direito Do Foro 
○ transmissão em cadeia: quando L2 remete para L3 com referência global e 
essa lei tb não se considere compente, devolvendo para uma quarta lei 
○ transmissão com retorno: por exemplo, quando L3 remete para L2 
 

59 
Critérios Gerais de solução
 

a) Tese da Referência material


 
Segundo esta tese a referência feita pela norma de conflitos é sempre e necessariamente 
entendida como referência material, ou seja, apenas para o Direito material da lei designada.  
 
Não tem em consideração o DIP, pelo que LP entende que esta tese se opõe não apenas às 
teses da referência, mas a qualquer sistema de Devolução (que pode ter em conta DIP 
estrangeiro mas não o aplica) 
 
Tese consagrada em alguns sistemas da América Latina, e nos Regulamentos R1 e R2 (24º). 
 
Principal argumento a favor da tese é o “respeito pela valoração feita pelo legislador na 
escolha da conexão mais adequada ­ aceitar devolução implica abdicar da escolha 
consagrada pela norma de conflitos do foro”. 
 
Contra pode­se invocar Princípio da Harmonia Internacional de Soluções, pois, ao ignorar o 
DIP estrangeiro “fomenta desarmonia internacional de soluções”. 
 
Justifica­se no âmbito de Convenções Internacionais e Regulamentos, pois aplicar DIP de 
fonte interna é contrário ao “sentido unificador” destes instrumentos. 
 

b) Teoria da referência global


 
Segundo esta teoria, remissão da norma de conflitos para ordem jurídica estrangeira abrange 
“sempre e necessariamente” o seu DIP. Ou seja, a designação das normas materiais 
aplicáveis não é feita directa e imediatamente pelas normas de conflito.. 
 
Teoria fundamenta­se: 
●  no Princípio da harmonia internacional (“ao ter­se em conta do Direito de Conflitos da 
lei para que se remeta, fomenta­se a harmonia de soluções entre leis do circuito”). 
●  na incindibilidade das normas de conflitos em relação às normas de conflitos, que 
decorreria da “unidade do sistema jurídico” e da “integração das normas de conflitos 
na previsão de normas materiais”. LP não concorda com esta concepção: Direito 
Material e DIP são subsistemas suficientemente autónomos. 
 
Contra esta teoria podem invocar­se “objecções de fundo” e “objecções de natureza prática”. 
Quanto ás primeiras 

60 
1. é de rejeitar a que se funda no alegado “territorialismo” do DIP (segundo o qual o 
orgão de aplicação está sujeito ao DIP do foro, não podendo aplicar DIP estrangeiro), 
desde logo por recusa do tal territorialismo 
2. ao fazer referência global, o Direito de Conflitos do Foro renuncia ao juízo de valor 
sobre conexão mais adequada, adoptando na prática o critério de conexão do Direito 
de Conflitos estrangeiro 
Quanto às de natureza prática 
1. transmissão ad infinitum ­ LP não adere a esta crítica: todas as situações estão em 
contacto com nº limitado de Estados, pelo que transmissões em cadeia serão raras. 
2. pingue­pongue perpétuo/ciclo vicioso 
 
 

c) Teoria da devolução simples


 
Entende­se que a norma de conflitos do foro abrange normas de conflito da ordem 
estrangeira, mas a remissão que depois as normas de conflitos façam entendem­se como de 
referência material.  
 
Era a teoria adoptada pela jurisprudência portuguesa antes CC 66, e é teoria seguida em 
França e Alemanha. 
 
Teoria que é adoptada sobretudo nos casos de retorno de competência, para favorecer a 
aplicação da lei do Foro. 
 
Inconvenientes: “só casualmente leva à harmonia internacional de soluções” (pode ser 
aplicada L3 apesar de não se considerar competente, por L1 praticar devolução simples 
 

d) Teoria da devolução integral /foreign court theory ou dupla devolução


 
Na devolução simples o tipo de remissão do DIP estrangeiro é indiferente, na devolução 
integral, o tribunal deve decidir questão transnacional como se ela fosse julgada pelo tribunal 
do país da OJ designada. Garante­se assim harmonia entre L1 e L2. 
 
Vigora em Inglaterra e nos EUA, mas apenas quanto a questões parciais. 
 
exemplo: caso Annesley 
 
Dificilmente generalizável segundo LP: pressupõe, em caso de retorno, que a ordem jurídica 
designada não pratique também devolução integral, sob pena de se formar um ciclo vicioso 
 
 

61 
e) Conclusão
 
LP: pesados os argumentos, não se justifica uma atitude radical pró­devolucionista ou 
anti­devolucionista. IMC defende mesmo que problema teria que ser resolvido á luz de cada 
uma das normas de conflitos, atendendo aos seus princípios. Hoje a tendência é a adopção 
de uma regra geral, com vários desvios. O sistema português, por exemplo, parte da regra 
geral de referência material, mas aceita a devolução em certos casos. 
 
De forma geral, “devolução deve ser admitida como mecanismo de correcção do resultado a 
que conduz no caso concreto a aplicação da norma de conflitos do foro, quando tal seja 
exigido pela justiça conflitual”. Será o princípio da harmonia internacional de soluções que em 
regra pode fundamentar a aceitação da devolução, mas o mesmo se pode dizer do princípio 
do favor negotii e a da ideia de favorecimento de pessoas que são merecedoras de especial 
protecção justificam que, perante, normas de conflito que visam favorecer estes resultados 
materiais, só seja admitida a devolução quando favoreça estes resultados materiais 
 

O regime vigente
a) Regra geral da referência material
 
O artigo 16º do CC estabelece que na falte de preceito especial, se entende que a referência 
das normas de conflitos determina apenas a aplicação do direito interno dessa lei. Direito 
Interno deve­se ler “direito material”, que tanto pode ser de fonte interna como internacional, 
comunitária, ou transnacional. O mesmo deve ser entendido nos artigos 17º e 18º. 
 
Apesar do artigo consagrar a regra da referência material, não se pode defender que 
consagra a Tese da Referência material, pois o próprio artigo abre a possibilidade de ser 
consagrada a tese oposta, o que acontece logos nos artigos 17º e 18º. Baptista Machado 
entende por isso que o artigo 16º não contém “a regra geral”, mas apenas uma “regra 
pragmática”. LP admite que se pode ir ainda mais longe defendendo a sua aplicação tem um 
alcance residual, sendo a regra a devolução, mas só toma posição “mais à frente”. 
 

b) Transmissão de competências
 
O artigo 17/1º permite em certas condições a transmissão de competências: . 
 
“Se, porém, o direito internacional privado da lei referida pela norma de conflitos portuguesa 
remeter par outra legislação e esta se considerar competente para regular o caso, é o direito 
interno desta legislação que deve ser aplicado.” 
 
Onde se lê remeter deve­se ler aplicar. 

62 
 
Pressupostos da transmissão: 
● que o Direito Estrangeiro designado pela norma de conflito portuguesa aplique outra 
ordem jurídica ­ que L2 aplique uma outra lei (L3 ou não) 
● esta ordem jurídica aceite a competência (que L3 se aplique a si própria) 
 
Também pode operar a transmissão de competências em cadeia: L2 aplica L4 e L4 
considera­se competente. Embora esta hipótesse não esteja directamente prevista no 17º, é 
abrangida pela sua ratio. 
 
Lei aplicada por L2 pode considerar­se competente directa ou indirectamente: imagine­se 
que L2 aponta para L3 com RM, e L3 aponta para L2 com DS: L2 aplica L3 e L3 considera­se 
indirectamente aplicável. 
 
Baptista Machado e Ferrer Correira defendem que, em certos caso no âmbito do estatuto 
pessoal se aceite transmissão de competências mesmo que Ln não se considere 
competente. Seria o caso de tanto a “lei residência habitual” e “lei da nacionalidade” 
apontarem para Ln. 
 
LP considera que não se pode defender esta solução de iure constituto, por afrontar o 17º. 
Nesses caso será aplicável artigo 16º 
 
Artigo 17º/2 : “Cessa o disposto no número anterior, se a lei referida pela norma de conflitos 
portuguesa for a lei pessoal e o interessado residir habitualmente em território português ou 
em país cujas normas de conflitos considerem competente o direito interno do Estado da sua 
nacionalidade. “ 
 
Preceito só se aplica em matéria de estatuto pessoal, verificando­se uma de duas situações 
1. interessado tem residência habitual em portugal 
2. interessado tem residência habitual noutro Estado que aplica o direito material do 
estado da nacionalidade 
 
LP coloca  problemas: 
●  a 2ª parte do 17º/2 revela que legislador representou L2 como sendo lei 
nacionalidade. Segundo a ratio do preceito também não faria sentido que se aplicasse 
quando a lei pessoal fosse lei nacionalidade. Ou seja, L2 tem que ser lei 
nacionalidade. (ah? 
● interessado é “aquele que desencadeou o funcionamento do elemento de conexão 
que designou L2 
● Concretização no tempo do elemento de conexão: qual o momento relevante ? 
 
Qual a razão de ser do 17º/2, da dificultação da transmissão em matéria de estatuto pessoal? 
 

63 
Visa dar primazia ao elemento de conexão nacionalidade, dando relevância ao elemento 
conexão residência habitual, se este dificultar a aplicação da lei da nacionalidade. 
 
BM e FC:  
● “Quando o interessado tem residência habitual em Portugal existe uma conexão 
estreita com o Estado do Foro, que não deve abdicar da solução que elegeu como 
mais justa: lei competente continuará a ser para ele a lei da nacionalidade” ­ neste 
caso prevalece o critério de justiça subjacente à escolha da lei da nacionalidade face 
à harmonia internacional. 
● Quando interessado tem RH habitual no Estado da Nacionalidade ou no estado para 
que remete a lei da nacionalidade, o problema não se coloca “visto que obviamente 
neste caso a lei da residência habitual não aplica a lei nacionalidade 
 
A 2ª parte do 17º/2 releva quando o interessado rem residência habitual noutro estado que 
aplica lei nacionalidade. Nestes casos a a) lei da nacionalidade não consagra, relativamente 
a dada matéria que para nos se integra no estatuto pessoal, os elementos de conexão 
normalmente relevantes ( a nacionalidade, a RH ou o domicílio) e b) verificamos que face à 
lei da residência habitual é aplicável lei nacionalidade. Garantimos harmonia assim não com 
L2 mas com Lei da RH, por se entender que se garante que esta lei tem ligação “íntima e 
estável” com o interessado 
 
LP coloca algumas reservas:  
● 17º/2 faz cessar devolução com L3 se for lei do domicílio, e este não coincidir com RH 
● harmonia internacional (aqui sacrificada) é especialmente importante em matérias do 
estatuto pessoal 
 
 
Artigo 17º/3 ­ vem “repor a transmissão” 
 
Pressupostos de aplicação: 
1. Que se aplique artigo 17º/ e 2 
2. que se trate de uma das matérias nele indicada (tutela, curatela, relações patrimoniais 
entre cônjuges, poder paternal, relações entre adoptante e adoptadi, sucessão por 
morte) 
3. que lei nacionalidade aplique lex rei sitae. 
4. que lex rei sitae se considere competente 
 
Trata­se portanto de um afloramento do princípio da maior proximidade: DIP português 
abdica do seu critério de conexão para asssegurar efectividade das decisões dos seus 
tribunais. 
 

64 
Retorno
 
Artigo 18º vem admitir em certas condições o retorno de competências: 
 
“Se o direito internacional privado da lei designada pela norma de conflitos devolver para o 
direito interno português, é este o direito aplicável. 
 
 
Só depende por isso de um pressuposto: que L2 aplique o Direito Material português (pois 
assim a devolução é condição necessária e suficiente para garantir harmonia com L2). 
 
Retorno pode ser indirecto: L2 remete para L3 (com DS) e L3 remete para L1. L2 aplica L1 
logo há retorno. Mesmo que uma das Leis da cadeia não aplique L1, ou seja, mesmo que 
uma lei instrumental fique em desarmonia ­ harmonia com L2 é mais importante que 
harmonia com L3 
 
­ E no caso de L2 condicionar resposta ao sistema português, isto é se condicionar a 
aplicação ou não do DM português à nossa aceitação ou não? Será o caso em que L2 
pratica dupla devolução, ou um caso em que está involvido um PALOP 
 
BM entendeu que no caso de L2 fazer dupla devolução seria de aceitar o retorno “porque se 
aceitar retorno L2 aplicará o Direito Material Português” e porque “facilita a administração da 
justiça”. O segundo argumento “acabaria com o DIP”, enquanto o primeiro encerra um 
raciocínio circular 
 
LP entende que há razões de fundo para não aceitar o retorno: não é necessário para haver 
harmonia, pois se nós aplicarmos L2 esta também se considerará competente. Não existem 
razões que nos devam levar a abdicar da justiça do elemento de conexão. Defende ainda 
que o nosso sistema assenta numa ideia de paridade entre lei do foro e lei estrangeira, pelo 
que não faz sentido favorecer ao máximo a aplicação da lei do foro “só porque sim” 
 
Artigo 18º/2 
 
O retorno também é limitado em matéria de estatuto pessoal: 
 
“Quando, porém, se trate de matéria compreendida no estatuto pessoal, a lei portuguesa só é 
aplicável se o interessado tiver em território português a sua residência habitual ou se a lei do 
país desta residência considerar igualmente competente o direito interno português.” 
 
Ou seja, em matérias de estatuto pessoal, só se aceita retorno se interessado tiver residência 
habitual 
1. em portugal  OU 

65 
2. num estado que aplica direito material português 
 
Visa­se assim dar primazia ao elemento de conexão nacionalidade. LP só não entende 
porque é que se dificulta mais o retorno que a transmissão de competências, pois o 17º/2 
vem dizer “retorno só cessa em dois casos” enquanto o 18º/2 “o retorno só se mantém em 
dois casos” 
 
Segundo o Anteprojecto: “em caso de retorno, se elemento de conexão da lei da 
nacionalidade designa lei portuguesa, tal significa que há em regra, conexão forte com ordem 
jurídica do foro, pelo que não se justifica o abandono do critério de conexão do foro. A 
harmonia internacional só justificaria neste caso o retorno quando este fosse condição 
necessária e suficiente para se alcançar o retorno quando interessado tiver RH num Estado 
que aplique Direito Material Português (ver melhor) 
 

d) Favor negotii como limite à devolução


 
Artigo 19º :”Cessa o disposto nos dois artigos anteriores, quando da aplicação deles resulte 
a invalidade ou ineficácia de um negócio jurídico que seria válido ou eficaz segundo a regra 
fixada no artigo 16º, ou a ilegitimidade de um estado que de outro modo seria legítimo.” 
 
Ou seja, o favor negotii vem para a devolução, com o fim de “facilitar e desenvolver o 
comércio internacional por meio do favorecimento da validade e eficácia dos negócios 
jurídics”, prevalecendo este valor sobre o da Harmonia Internacional 
 
Sempre que haja devolução, por via do artigo do 17º ou do 18º, devolução é paralisada se L2 
for mais favorável à validade/eficácia do negócio jurídico. 
 
BM e FC defendem interpretação restritiva do preceito: “19º/1 só seria aplicável às situações 
já constituídas ­ e não à sua constituição em Portugal com intervenção de uma autoridade 
pública ­ e desde que a situação esteja em contacto com a ordem jurídica portuguesa ao 
tempo da sua constituição”. 
 
LP não aceita esta interpretação, pois “não respeita o sentido possível do texto legal”, sendo 
por isso uma verdadeira redução teológica, pelo que se teriam que invocar outras normas ou 
princípios vigentes no Ordenamento Jurídico 
 

e) Casos em que não é admitida devolução


 
A devolução não é admitida nos casos em que remissão é feita pelo elemento de conexão 
designação pelos interessados. (como no 34º e 41º) ­ 19º/2 
 

66 
Também não é admitida em certas matérias:  
● no que toca às obrigações, RR I e RR II excluem o reenvio ­ artigos 20º(?) e 24º 
respectivamente 
● obrigações alimentares, representação voluntária e nos contratos de mediação, nas 
respectivas Convenções de Haia 
● valores mobiliários ­ 42º CVM 
 

f) Regimes Especiais de devolução


 
Encontramos no 36º/2 e 65º/1 in fine normas especiais sobre a devolução em matéria de 
forma, que visam essencialmente reforçar o favo negotii.  
­ o 36º/1 abre a porta a duas possibilidades: negócio pode obedecer à forma de uma das leis 
ai indicadas. No entanto admite­se a observância da forma prescrita pela lei para que remete 
a norma de conflitos da lei lugar celebração . Há quem diga que preceito adopta sistema de 
DS, , LP entende que não, “remeter” é usado no mesmo sentido do 17º 
 
­ 65º/1 vem consagrar o mesmo modelo, abrindo uma quarta hipótesse para salvar validade 
formal de disposição por morte 
 

g) Caracterização do sistema de devolução


 
1 ­ Regra geral é a da referência material, que decorre não dos pressupostos do 17º/1 e 18º 
mas sim dos limites colocados à devolução pelos seus nºs 2 e 19º 
 
2 ­ 17º e 18º contêm regras especiais, configurando um sistema de devolução sui generis, 
que no entanto está próxim da Dupla Devolução, dado que se pressupõe 
 
3 ­ Em matéria de forma do negócio jurídico admite­se transmissão de competências para 
uma lei que não esteja disposta a aplicar­se para obter validade formal do negócio ­ 36º e 
65º9 
 

h) Apreciação crítica
 
LP considera que sistema “tem a sua lógica”, pois assegura a harmonia com L2, mas nunca 
permite o ciclo vicioso em que se pode entrar com um sistema de devolução integra 
 
No entanto coloca reticências aos limites criados à devolução em matéria de estatuto pessoal 
 
 
 

67 
Qualificação
 

Enquadramento e método
 

a) Generalidades
 
A qualificação em sentido amplo visa resolver os problemas de interpretação e aplicação da 
norma de conflitos que dizem respeito aos conceitos jurídicos usados na previsão. 
 
Estes conceitos (estado, capacidade, relações de família, etc) delimitam o objecto da 
remissão, i.e., a matéria que a norma de conflitos remete para determinado direito 
Em sentido estrito, a qualificação é concebida como “operação pela qual se subsume uma 
situação da vida ou um seu aspecto, no conceito técnico jurídico utilizado para delimitar o 
objecto da remissão”. 
 
O problema a solucionar é saber se determinada situação da vida deve ser reconduzida à 
norma x ou y. 
 
A qualificação não é exclusiva do DIP, mas sofre aqui problemas acrescentados: não opera 
com apenas um sistema de normas materiais, ou seja, tem que se ter em conta o Direito 
Material e de Conflitos de uma pluralidade de ordenamentos 
 

b) Operações envolvidas na qualificação


 
Não se deve isolar a interpretação da norma, o aplicador tem que fazer um “vaivém” entre a 
norma e o caso, que se pode traduzir numa adaptação da norma . 
 
O problema é pois fundamentalmente um problema de interpretação das normas de conflitos. 
 
Tradicionalmente recorre­se a uma lógica formal, sob a forma de silogismo de subsunção, 
pelo que no problema da Qualificação podemos distinguir três fases: 
1. Premissa Maior, que consiste na previsão da norma de conflitos. Interessa por isso 
interpretar a previsão normativa, “mediante um enunciado das suas notas 
conceptuais” 
2. Premissa Menor: neste momento importa delimitar o objecto da remissão que se vai 
subsumir. Esta é feita tendo em conta as suas notas características, através da 
caracterização da situação da cida. 
3. Conclusão/Subsunção: corresponde à qualificação em sentido estrito, momento 
“largamente” pré determinado 

68 
 
Duas notas: 
a) na maior parte das vezes este será um puro raciocínio lógico­formal. No entanto em certos 
casos será necessária uma valoração, sobretudo nos conceitos com grande grau de 
indeterminabilidade. 
 
LP: “há conceitos carecidos de preenchimento valorativo que são insusceptíveis de definição, 
mesmo perante modernas teorias da definição. Nesses casos considera LP que já não se 
poderá falara de subsunção na operação de recondução dos factos da vida aos conceitos, 
mas dado que isto apenas diz respeito à premissa menor, não afecta o silogismo judiciário ­ 
apenas o silogismo de subsunção. 
 
Em suma, ainda que a operação 2 seja valorativa e não subsuntiva, isso não afecta o 
silogismo no seu todo. 
 

d) Interpretação dos conceitos que delimitam o objecto da remissão


 
Notas prévias: 
 
No CC o legislador optou por utilizar na previsão das normas de conflitos conceitos técnico 
jurídicos (e não factícos, como “imóveis”) 
 
Estes conceitos encontram correspondência com os utilizados no legislador material: a 
secção do Direito de Conflitos reproduz toda a sistemática do CC, e com ela a chamada 
“classificação germânica”, que distingue entre obrigações, direitos reais, relações de família e 
sucessão por morte. Esta distinção não assenta num critério uníco: 
 
­ entre direitos reais e obrigacionais recorre­se a um critério estrutural: 
● na obrigação o conteúdo da situação jurídica é o dever de prestar e o direito à 
prestação, com acento na obrigação 
● direito real: conteúdo da situção jurídica é a atribuição de uma coisa corpórea, que 
todos devem respeitar 
 
­ entre relações de famíllia e sucessões, o critério será o de pendor funcional e institucional: 
● sucessões por morte ­ transmissão de direitos mortis causa, 
● direito da família ­ situações jurídicas que respeitem à instituição familiar 
 
Este excurso é relevante: interpretada o conceito quadro, tendencialmente vamos concluir 
que se trata de norma aplicável a direitos reais/obrigacionais.  
 
Questão: a que direito recorrer para interpretar os conceitos técnico­jurídicos utilizados pelo 
legislador? 

69 
 
1 ­ Solução Clássica: 
 
Recurso aos conceitos homólogos do direito material do foro 
exemplo: para se determinar conteúdo de obrigação, devemos recorrer à norma do 
397º, pra o de casamento, o 1577º 
 
A favor desta tese: 
● “união pessoal” entre legislador do DIP e do Direito Material/Unidade do Sistema 
Jurídico 
 
Contra: 
● conceitos interpretados à luz do nosso direito material vão deixar de fora institutos 
jurídicos de ordens jurídicas estrangeiras 
○ exemplo: casamento até 1910 era visto como contrato perpétuo entre homem 
e mulher. Poderíamos subsumir às normas de conflitos que se reportam ao 
estado e capacidade para casamento, um casamento entre alemães, dado que 
no seu ordenamento se admitia o divórcio? Igual questão se coloca em relação 
ao casamento poligâmico 
 
Há portanto necessidade de uma maior abertura dos conceitos utilizados pela norma de 
conflitos, e esta tese clássica não o admite (sem que se perverta) 
 
 
 
2 ­ Recurso ao Direito Comparado 
 
Proposta por Rabel, “na interpretação das normas de conflitos deveríamos basear­nos no 
Direito Comparado”. 
 
LP não aceita esta solução: ainda que o recurso ao Direito Comparado se possa afigurar útil, 
não constitui um verdadeiro Direito Positivo, pelo que não pode por sí só decidir. 
 
3 ­ Tese de Isabel Magalhães Collaço  
 
Devemos partir do Direito Material do foro, retirando da sua análise notas para a 
determinação do conceito empregue pela norma de conflitos, mas tendo em conta as 
finalidades prosseguidas pelo DIP. 
 
A especialidade do DIP leva­nos sobretudo a defender uma especial abertura dos conceitos 
utilizados. Como lembra Ferrer Correia, “DIP é por natureza um Direito aberto a todas as 
instituições e conteúdos jurídicos conhecidos do mundo” 
 

70 
exemplo: perante direito sobre coisa desconhecido do nosso ordenamento, devemos 
atender a notas que se retiram do direito material interno ­ será sobretudo importante que o 
direito “atribua uma coisa corpórea independentemente de uma relação intersubjectiva que 
funda pretensões perante terceiros que exprimeme a sequela”. Se o direito apresentar estas 
notas, será possível caracterizá­lo como direito real, enquadrável no 46º CC. 
 
LP segue esta Tese, de “interpretação ancorada do direito material, mas autónoma” 
 
Em certos casos esta “abertura” a realidades jurídicas estrangeiras resulta mesmo da lei: 30º 
CC, 64º/c) CC 
 
Sobre normas de conflitos de fonte supraestadual: ver regras gerais de interpretação das 
normas de conflitos. 
 

d) Delimitação do objecto da remissão


 
Como delimitamos as situações da vida que hão de ser reconduzidas aos conceitos 
interpretados nos termos já expostos? 
 
Objecto da Norma: situações da vida ou aspectos dessa situação. Para sua “delimitação” a 
previsão da norma utiliza conceitos técnicos jurídicos que atendem ao contéudo típico ou a 
critérios funcionais 
 
A caracterização incide portanto sobre o objecto da norma e consiste na “determinação da 
relevância jurídica de determinada desse objecto” . 
 
O problema é que não se pode dizer simplesmente que o direito do arrendatário, por 
exemplo,  se qualifica como direito de crédito ou real em abstracto, porque tal 
enquadramento varia entre ordenamentos jurídicos 
 
Questão: a que sistema jurídico devemos pedir a caracterização? 
 
1 ­ Ao direito material do Foro 
 
Tese defendida por AGO, apresenta vários inconvenientes: 
 
­ contrária à ideia de paridade de tratamento entre lei do foro e lei estrangeira 
 
­ podemos ser levados a aplicar, por força de norma de conflitos, norma material estrangeira 
que não corresponde à categoria normativa utilizada na previsão da norma de conflitos, o 
que se apresenta como contrário à justiça da conexão e à ideia de adequação entre a 
previsão e estatuição da norma que lhe está subjacente  

71 
 
exemplo: poderíamos ter de aplicar normas jurídico reais de sistema estrangeiro por 
força de norma de conflitos relativa às obrigações voluntárias 
 
Ou seja, a competência atribuída a um Direito deve ter o conteúdo e os fins das normas 
materiais que nesse direito são aplicáveis ­ 15º CC. Só devemos aplicar por força das 
normas de conflitos as normas materiais correspondentes à categoria normativa utilizada na 
previsão da norma de conflitos ­ i.e. o alcance material da remissão é limitado (a tal 
Remissão Selectiva de que falava o professor (????) 
 
Só assim se garante a adequação do elemento de conexão utilizado à especificidade da 
questão material a regular. 
 
­ fácilmente se geram problemas de falta de normas aplicáveis:  
 
exemplo: o destino de um imóvel situado em frança, de um francês residente em 
portugal que morre intestado. À luz do direito material português situação será qualificável 
como sucessória. No entanto em frança o destino destes imóveis é uma questão de direitos 
reais. Como à luz do artigo 15º só podemos aplicar as normas francesas relativas aos 
imóveis, não encontramos qualquer norma que regule o destino dos bens 
 
­ pode ser que situação seja juridicamente relevante perante sistema com o qual apresente 
conexão estreita, mas não o seja em portugal  ­ uma caracterização legi fori levaria à 
negação de tutela jurídica a uma situação que é tutelada pelo sistema com que está mais 
conectada, o que para LP se afigura como uma contradicção face à justiça da conexão 
 
 
2  ­ Caracterização lege causae 
 
Objecta­se que poderemos assim estar perante um pensamento viciado: como sabemos qual 
a lex causae se nem a qualificação determinámos? 
 
LP resolve a questão apelando a um juízo hipotético: devemos atender à relevância jurídica 
dos factos perante cada uma das ordens jurídicamente aplicáveis. 
 
E que ordens são essas? Todas as que apresentarem uma conexão com a situação 
relevante para o DIP português. 
 
Procedemos por isso segundo um método de tentativas, semelhante ao usado para 
determinar nacionalidade de uma pessoa ­ aqui vamos perguntar às várias OJ´s que 
relevância jurídica dariam aos factos se lhe fossem aplicáveis. Assim só será feita 
caracterização à luz do foro se esta for uma das ordens potencialmente aplicáveis, o que em 
regra sucede. 

72 
 
Como se faz a caracterização? 
 
Em primeiro lugar devemos atender às proposições materiais aplicáveis ao caso, atendento 
aos efeitos jurídicos estatuídos por essas normas (nomeadamente poderes e deveres). 
Devemos também ter em conta os institutos em que normas se inserem, os nexos 
intrassistemáticos existentes, as finalidades prosseguidas por essas normas, a função dos 
institutos 
 
A importância relativa das notas estruturais e das notas funcionais pode depender da 
categoria normativa em causa, ie, há categorias que são definidas pelo seu conteúdo típico e 
categorias agrupadas segundo critérios funcionais  (ver melhor) 
 
A inserção sistemática é um elemento importante, mas nunca será decisivo: atente­se no 
877º, inserido no livro das obrigações, cujo conteúdo é essencialmente regular as relações 
familiares. Deve ser enquadrada situação referente ao 877º no artigo 57º CC e não no 41º 
 

e) Qualificação em sentido estrito


 
Neste terceiro momento cabe­nos reconduzir a situação da vida, já “devidamente” 
caracterizada, ao conceito empregue na previsão da norma de conflitos. 
 
Esta operação tem uma vertente positiva ­ aplicação da norma x ­ e uma vertente negativa ­ 
não aplicação de todas as outras normas. 
 
exemplo: aplicando o 57º conluímos pela não aplicação das normas de conflitos 
reguladoreas das  obrigações contratuais. 
 
 
Entre direitos “vizinhos” ( que pertençam à mesma familia de Direitos), pode presumir­se a 
equivalência de qualificações ­ uma matéria que no direito português seja qualificada como 
direitos reais será vista como de direito reais no direito italiano, alemão, françês. Mas esta 
“presunção” é sempe ilidível, sempre que o conteúdo e função do instituto jurídico estrangeiro 
imponha qualificação perante direito de conflitos português 
 
exemplo: qual a norma de conflitos reguladora de um negócio de disposição de um 
direito real sobre coisa situada na alemanha? No direito alemão vigora o princípio da 
separação entre efeitos reais e obrigacionais, pelo que situação é fraccionada. A “presunção 
de qualificações” levaria a manter qualificação real, aplicando a norma de conflitos 
reguladora dos direitos reais. LP não concorda: nestes casos será de aplicar regulamento R1 
quanto à formação e validade do negócio, e o 46º para a produção de efeitos reais. 
 

73 
Em suma, a última palavra sobre a qualificação do objecto pertence aos critérios de 
qualificação do sistema a que pertencem normas de conflito em jogo 
 
Qualificação quando normas forem de fonte supraestadual: deve­se atender em primeiro 
lugar à estrutura e finalidade do Direito de Conflitos contido na convençao, mas tendo em 
conta as normas de conflitos de ordenamentos em contacto com a situação? 
 
 
 
exemplo de qualificação: 
A pede condenação de B a cumprir obrigação titulada por titulo de crédito. Lei reguladora é a 
do Tenesse (LT), segundo  a qual obrigação prescreve no prazo de 6 anos. De acordo com 
lei alemã (LA) a obrigação prescreve no prazo de 3 anos. Tinham passado mais de 6 anos 
sobre data de vencimento do titulo de crédito subscrito por B, e o demandado invoca junto 
tribunal alemão a prescrição 
 
O tribunal entendeu que não seriam aplicáveis normas do direito americano, porque à face 
desta ordem jurídica normas sobre prescrição são entendidas como Direito Processual, e 
como tal, são sempre aplicáveis a título de lex fori. No entanto as norma alemãs sobre 
prescrição são de natureza substantiva e não processual, pelo que só podem ser aplicadas 
quando o direito do foro for competente. 
 
Dado que nenhumas das normas seriam aplicáveis, o tribunal condenou o réu a pagar dívida. 
LP critica esta solução, pois face às duas leis a obrigação já não seria aplicável 
 
O que faltou ao tribunal? Não bastava ter apurado que na LT i instituto é qualificado como 
processual, tinhamos que atender ao contéudo e função do instuto e compará­lo com o 
conteúdo e função na alemanha. No caso chegaríamos à conclusão que desempenham 
função idêntica, pelo que as disposições sobre prescrição do DT deviam ser reconduzidas ao 
conceito de obrigação utilizado pela norma de conflitos alemã. 
 
Ou seja, qualificação pode ser lege fori, e a caracterização lege forae (ver melhor) 

f) Especialidades das normas conflitos ad hoc e normas remissão condicionada


 
Aparentemente nenhumas. Siga 
 

Dificuldades introduzidas pelo fraccionamento conflitual das situações da vida


 

74 
Surgem duas dificuldades, a delimitação dos aspectos abrangidos por uma e outra norma de 
conflitos em jogo, e o concurso e falta de normas aplicáveis. Este segundo não nos interessa 
para o curso. 
 
Delimitação  
 
Surge quando situações, com o conteúdo dado pelas leis em presença, têm carácter misto, 
chamando duas normas de conflitos que se reportam a categorias de situações jurídicas 
diferentes. É o caso de contrato de compra e venda, que gera efeitos obrigacionais e reais. 
 
A delimitação destas questões parciais vai­se traduzir na recondução das mesmas a uma ou 
outra das normas de conflito. 
 
(falta acabar) 
 

Problemas especiais de Interpretação e aplicação do Direito dos


Conflitos
 

Questão Prévia
 
São quatros os pressupostos de um problema de questão prévia no DIP: 
 
1 ­ que a previsão da norma material aplicável por força de norma de conflitos integre um 
pressuposto cuja verificação constitui matéria abrangida por outra norma de conflitos 
 
exemplo: na sucessão legal de suíço que falece com último domcílio na Suiça, 
deixando bens em portugal. Questão principal é determinação dos sucessíveis e das suas 
quotas herditárias. O 62º CC aponta para lei suiça e o 457º CC suiço estabelece como 
primeira classe de sucessíveis, os filhos do autor. Pode ser discutido se determinado sujeito 
é filho ou não do autor. A questão prévia é pois uma de qualificação, (pois é matéria objecto 
de outra norma de conflitos ­ 56º).  
 
nota: o problema só se coloca se questão for autonomamente conectada pelo sistema 
conflitual do foro 
 
2 ­ Para reger questão principal lei competente é lei estrangeira. 
 
no exemplo: seria a lei suiça 
 

75 
3 ­ Divergência entre norma de conflitos portuguesa aplicável à questão prévia e a norma de 
conflitos da lei reguladora da questão principal aolicável à questão prévia 
 
no exemplo:  Em portugal: a questão prévia, estabelecimento da filiação, nos termos 
56º/2 designaria como lei competente a lei alemã. A norma suiça consideraria competente o 
seu direito material 
 
4 ­  Divergência entre o DIP do foro e o da lex causae, leva à apreciação da questão prévia 
segundo leis diferentes que dão solução diferente à questão prévia 
 
no exemplo; filiação seria reconhecida face à lei alemã e não reconhecida face à lei 
suiça. 
 
São concebíveis duas soluções: 
 
● aplicar norma de conflitos do foto para determinar o direito aplicável à questão prévia ­ 
Tese da conexão autónoma (Defendida por LP) 
● aplicar norma de conflitos da lei reguladora da questão principal para determinar 
direito aplicável à questão prévia ­ tese da conexão subordinada. 
 
A Tese da Conexão Autónoma é tradicionalmente seguida na generalidade dos sistemas. 
Perante a sua lógica o problema nem se coloca: as normas de conflito do foro aplicam­se às 
questões, quer prévias quer “principais”. 
 
Só para os defensores da Tese Conexão Subordinada (entre nós, CORTES ROSA, 
BAPTISTA MACHADO) é que surge um problema, pois para estes não faz sentido dar à 
questão prévia uma solução diferente dada pelo DIP da lei reguladora da questão principal. 
 
Argumentos a favor tese conexão subordinada 
● “se a norma do ordenamento estrangeiro aplicável à questão principal coloca como 
pressuposto de aplicação um determinado facto/situação jurídica, só a esse 
ordenamento cabe decidir se o pressuposto se encontra verificado 
 
LP não aceita este argumento, tendo em conta a autonomia entre problema de determinação 
do direito aplicável e o problema jurídico materual, bem como entre valorações conflituais e 
materiais. 
● Princípio da harmonia internacional de soluções: a aplicação do direito do foro encerra 
o risco de uma divergência entre ordem jurídica do foro e a ordem jurídica reguladora 
da questão principal 
 
LP questiona se não será mais adequado a prosseguir este objectivo de harmonia a 
Devolução: isto porque rejeira que a questão prévia surja apenas no momento de 
interpretação das normas de direito material anteriormente identificadas ­ face à metedologia 

76 
adoptada pelo autor, a questão prévia é logo detectada no momento da qualificação. Isto 
porque a qualificação exige um apuramento da relevância jurídica de todos os aspectos da 
situação, perante todas as ordens jurídicas potencialmente aplicáveis, pelo que antes da 
conclusão pela aplicação do 62º já teriamos concluído pela existência de um problema de 
filiação. 
 
Ora a devolução neste caso iria levar à aplicação do direito suiço, pois o direito alemão, para 
o qual apontava em primeiro lugar a lei portuguesa, remetia para o direito suiço, que, como já 
sabemos, se considerava competente, pelo que, à luz do artigo 17º, havia transmissão de 
competências, e chegávamos à mesma solução da tese da conexão subordinada 
 
É certo que noutros casos a solução poderá não ser a mesma, mas por que razão se deve 
dar prevalência à harmonia com lei da questão principal, face à harmonoa com lei reguladora 
questão prévia? 
 
● Segundo BAPTISTA MACHADO, seria possível estabelecer entre normas materiais e 
complexos regulativos de um sistem nexos de causalidade e pressuponência. Quando 
a relação entre complexo regulativo da questão principal e complexo regulativo da 
questão prévia fosse de pressuponência, a questão prévia seria apreciada segundo 
tese da conexão subordinada. O contrário se passaria quando existisse nexo de 
causalidade 
 
LP considera esta recondução dos nexos intrassistemáticos a relações de causalidade  e 
pressuponência “inexequível”. Muito mais relações podem existir entre complexos 
regulativos. Argumenta ainda que entre a questão prévia e a questão principal não há 
nenhuma hierarquia: a questão prévia será apenas “prévia” numa dada questão. Não se 
justifica por isso tratamento  diferenciado à mesma situação da vida consoante o títula a que 
seja colocada ­ o princípio da harmonia interna assim o exige. 
 
Contra a tese da conexão subordinada invoca ainda LP dois argumentos: 
 
1 ­ Certeza sobre lei aplicável: as dificuldades com que autores se deparam para delimitar a 
questão prévia, bem como para definir as sua excepções, prejudicam a certeza na 
determinação da lei aplicável 
 
2 ­ Estrutra Analítica do DIP português: adoptando o nosso sistema de DIP um sistema 
analítico, que submete diversos aspectos da vida a diferentes normas de conflitos, não é 
compatível com a regra geral da conexão subordinada 
 
3 ­ No plano jurídico positivo, a tese da conexão subordinada teria que justificar perante o 
sistema legal do foro o abandono da norma de conflitos que regula questão prévia. Ora os 
defensores da tese da conexão subordinada não demonstraram que o princípio da harmonia 
internacional de soluções justifica a não aplicação do DIP português às questões que se 

77 
suscitam como préjudicais ­ quando examinado o princípio em causa foi inclusivamente 
reconhecido por LP que o mesmo tinha “relevãncia limitada” no nosso ordenamento. 
De tudo isto não se conclui que não se possa em casos específicos seguir tese da conexão 
subordinada. Isto verifica­se mesmo em direito vigente, sobretudo em matérias em que 
vigora Direito Unificado: 
● 10º da CV Haia sobre lei aplicável às obrigações alimentares 
● 1º/1 2ª parte da CMunique sobre lei aplicável aos nomes próprios e apelidos 
 
Nestes casos o recurso à conexão subordinada explica­se pelo desígnio de harmonia de 
soluções entre Estados Contraentes: não se quis apenas unificar o Direito de Conflitos, mas 
também assegurar que os pressupostos de que dependem são apreciados pela mesma lei 
 
De iure condendo, LP considera que também pelo princípio da efectividade, a conexão 
subordinada seria justificada relativamente a bens imóveis situados no estrangeiro 
 
nota: nos casos em que se segue conexão subordinada, deve ser entendida no sentido de se 
aplicar o DIP da ordem jurídica reguladora da questão principal, no seu conjunto e não 
apenas a norma de conflitos, ou seja, o sistema de devolução, as normas de conflitos 
especiais, etc, seriam igualmente aplicáveis. 
 
 

Reserva de ordem pública internacional


 

a) Reserva de ordem pública internacional enquanto cláusula geral que veicula


princípios e normas fundamentais
 
A Reserva de Ordem Pública Internacional encontra­se consagrada no artigo 22º CC. Outras 
disposições internas referem­se à OPI ­ 1651º/2 CC, 1069º/f) CPC e 6º CRC. 
 
A OPI é um dos limites à aplicação do Direito Estrangeiro ou transnacional competente 
segundo o Direito de Conflitos ­  perante uma multiplicidade de situações em que resultado a 
que conduz a aplicação do Direito pode ser intolerável segundo a concepção de justiça do 
foro, o legislador formulou uma cláusula geral, que actua quando, perante conjunto das 
circunstâncias, o resultado seja incompatível com princípios e normas fundamentais da 
ordem jurídica portuguesa. LP considera por isso a cláusula um “veículo para a actuação dos 
princípios e normas fundamentais da ordem jurídica portuguesa”. 
 
Não é possível a priori definir o conteúdo desta cláusula, pois a actuação da reserva de OPI 
depende do conjunto de circunstâncias do caso concreto. 
 

78 
Esta ordem é “internacional” porque é específica do DIP, não por ser para do Direito 
Internacional. É “nacional” porque veicula princípios e normas fundamentais da ordem 
jurídica do foro ­ mas cuidado, não confundir ordem jurídica do foro com direito de fonte 
interna. O direito de fonte internacional também constitui direito do foro, pelo que a Ordem 
pública de Direito Internacional também integra a ordem jurídica portuguesa. 
 
A OPI estrangeira também pode ser relevante, nos casos em que DIP estrangeiro seja 
aplicado pelo DIP do foro, como se verifica em sede de devolução, 
 
OPI e Ordem pública de Direito Material (referida no 271º/1. 280º/2): 
 
Há algo de comum entre os conceitos (“certos princípios e regras, pela sua importância, não 
podem ser afastados na solução de um caso” ???), mas também há diferenças: 
 
Em primeiro lugar o conceito de ordem pública de direito material é controverso, sendo que 
para LP o conceito ciêntifico  incluirá “regras e princípios gerais imperativos”, enquanto os 
preceitos atrás referido apenas se referem aos princípios gerais imperativos. 
 
Os princípios e regras incluídos na OPI representam um núcleo restrito dentro do conceito de 
ordem pública de direito material ­ mesmo quanto a certos princípios comuns aos dois 
conceitos, a violação do mesmo no âmbito da OPI  tem que ser consideravelmente mais 
grave para que seja relevante. 
 
Assim, contraposta à ordem pública de direito material, a OPI constitui um reduto de 
princípios e normas de ordenamento do foro de cuja aplicação esta ordem jurídica não 
abdica quando se trata de situação transnacional e o direito estrangeiro seja chamado a 
regê­la. 
 
Reserva da ordem pública internacional como limite à aplicação do direito estrangeiro 
 
O problema só se coloca depois de resolvidas todas as questões de concretização do 
elemento de conexão, de devolução, de fraude à lei e de qualificação. É portanto no fim do 
processo que se avalia compatibilidade da solução com a OPI. 
 
O artigo 22º acolhe concepção aposteriorística da OPI, o que nem sempre foi assim: em 
tempos defendeu­se uma concepção apriorística, segundo a qual certas leis do foro terial 
como qualidade inerente serem de ordem pública. Hoje, a reserva de OPI só intervém a 
posteriori, quando a solução material concreta é intolerável face a certos princípios e norma 
da Ordem Jurídica Estrangeira ­ exige­se portanto uma comparação entre  o resultado a que 
chegariamos pela aplicação da lei do foro e o resultado a que chegamos aplicando lei 
estrangeira. 
 

79 
Ou seja, o que viola a OPI não é determinada lei estrangeira, mas sim o resultado material a 
que ela leva.  
 
Há um certo sector da doutrina que considera as “Normas de aplicação imediata” como 
pertencentes à OPI. Abre­se assim a porta à concepção apriorística da OPI 
 
LP: a inclusão/exclusão destas normas do âmbito da OPI pode depender de uma delimitação 
dos valores jurídicos­materiais em jogo. A questão não passa por uma suposta divergência 
entre fins que cabem na OPI e fins proesseguidos pelas normas autolimitadas: a OPI é apta 
a veicular todos os princípios e normas fundamentais, e as normas de aplicação necessária 
não se circunscrevem a fins económicos, sociais e políticos. 
 
As normas de aplicação necessária sobrepõem­se  ao DIP geral por via de uma normas de 
conflitos unilateral ou por via de uma valoração casuística. Ora nada garante que a norma 
seja “fundamental”, no sentido de desencadear intervença da OPI. Não é correcto afirmar­se 
em genérico que as normas de aplicação necessária são expressão de uma OPI apriorística, 
 
Referência às cláusulas especiais de ordem pública 
 
Para LP estas cláusulas constituem normas autolimitadas, aplicáveis qualquer que seja 
conteúdo da lei estrangeira que na sua ausência seria competente. 
 
exemplo: 192º do DL 94­B/98, relativo ao cesso e exercício da actividade de 
seguradora 
 
(???) 
 

b) Outras características das Ordem Púbica internacional


 
Uma característica fundamental da cláusula de OPI consiste na sua excepcionalidade: só 
intervém quando solução, mais do que diferente da que resultaria do direito portuguêss, seja 
manifestamente intolerável. 
 
Não confundir natureza manifestamente intolerável com “grau de divergência entre ordem 
jurídica interna e direito estrangeiro”: o direito estrangeiro pode dispor de disposições 
semelhantes às da ordem jurídica do foro, mas no caso ditarem soluções opostas.  
 
Outra característica é o seu carácter evolutivo: o conceito de OPI acompanha evolução da 
ordem jurídica. 
 
exemplo: em 62 o STJ considerou que não violava a OPI a lei estrangeira que negava 
direitos sucessórios aos filhos ilegítimos. Entretanto a CRP entra em vigor, proibindo a 

80 
discriminação entre filhos nascidos dentro e fora do casamento, e em 78 o STJ vem invocar 
OPI contra discriminação de filhos ilegítimos quanto aos seus direitos sucessórios. 
 
 
Relatividade ­ a sua actuação depende da intensidade dos laços que a situação apresenta 
com o Estado do Foro. Isto é um resultado pode ser manifestamente intolerável quando a 
ligação com estado do foro for muito intensa (por exemplo, quando se trata de nacional, 
residente habitual ou alguém com domicílio) e não ser intolerável quando essa relação é 
menor (pense­se no caso em que tribunais do foro só são competentes por via de pacto de 
jurisdição). Não se exclui em definitivo o funcionamento da cláusula de OPI, mas será em 
princípio para casos ainda mais excepcionais. 
 
LP reconduz a questão da “pretensa variabilidade da OPI conforme se trate de constituição 
de situação ou reconhecimento de efeitos de situações já constituídas” ao critério da 
relatividade: nos casos em que doutrina aponta como sendo exemplos de “efeito atenuador 
da OPI”, verifica­se que no momento da constituição da situação não tinha laços 
significativos com o estado do foro, e apesar de no momento em que estão se coloca estes 
laços existem, já nao está em causa a constituição da situação, mas apenas de efeitos que 
pressupõem essa válida constituição (exemplo: pedido de pensão de alimentos por uma das 
mulheres de casamento poligâmico). 
 

c) Consequências da intervenção da reserva de OPI


 
As consequências são o afastamento do resultado a que conduz a aplicação do direito 
estrangeiro ou o não reconhecimento de decisão estrangeira. 
 
Vale contudo um princípio do mínimo dano à lei estrangeira:  
 
1 ­ se do afastamento da solução contrária à OPI não resultar lacuna continua­se a aplicar 
direito estrangeiro ou transnacional. 
 
exemplo: norma que leva a resultado inaceitável é especial, pelo que pode ser 
aplicada norma geral. 
 
2 ­ Se no entanto se gerar lacuna: deve­se procurar integrar lacuna à luz do direito 
estrangeiro.  
 
3 ­ Só em último caso é que recorremos às regras de direito material do foro ­ 22º/2 
exemplo: caso em que norma é accionada por não existir norma que desencadeie 
uma obrigação de conduta, por exemplo, de obrigação de alimentos 
 

81 
De iure condendo LP defende a aplicação do direito que fosse subsidiariamente compente. 
Para tal invoca o respeito pela justiça do elemento de conexão. 
 
 

Fraude à Lei
Caracterização da Figura
 
Não nos cabe discutir a relevância geral da figura, dado que está especialmente consagrada 
no DIP. 
 
O problema  no direito material surge­nos principalmente no domínio dos negócios jurídicos, 
quando os sujeitos tentam superar proibição legal através da utilização de um tipo negocial 
não proibido ­ trata­se pois de uma violação indirecta de norma proibitiva.  
 
No DIP a lógica é a mesma: trata­se de alcançar resultado que norma proibitiva pretende 
evitar, mas através da fuga para outra ordem jurídica. 
 
Caso Bibesco: Princesa B. queria divorciar­se, o que à luz da lei francesa não era 
admitido. Assim, separa­se, naturaliza­se num estado alemão, onde se equipara a sepração 
ao divórcio e casa­se com o Romento Bibesco. Tribunais consideraram este segundo 
casamento nulo. 
 
Não confundir com OPI: na OPI está em causa compatibilidade do resultado a que conduz 
aplicação da lei com a justiça material da OJ do foro. Na fraude à lei está em causa o 
afastamento da lei normalmente competente e o desrespeito por norma integrante, ainda que 
o Direito do Foro não contenha norma idêntica. 
 
No direito português o instituto da fraude à lei constitui instrumento da justiça da conexão e 
um limite ético colocado à justiça privada na modelação do resultado pretendido. 
 
Podemos distinguir entre casos de 
●  manipulação do elemento de conexão ­ para afastar lei normalmente competente, 
agente vai “Modelar” o conteúdo do elemento de conexão 
○ exemplo: dois malteses naturalizam­se portugueses para obterem o divórcio, 
não admitido à luz do direito maltês 
● casos de internacionalização fictícia de uma situação interna ­ numa situaºão que era 
puramente interna, estabelece­se conexão com ordem estrangeira, para desencadear 
a sua aplicação 
○ exemplo: dois portugueses vão a espanha celebrar contrato para que seja lei 
espanhola a reger o contrato 
 

82 
 
Elementos da Fraude: 
a) Objectivo: consiste na manipulação com êxito do elemento de conexão ou 
internacionalização. Tem que haver portanto “manobra contra lei normalmente aplicável”, 
pelo que não está preenchido elemento objectivo se damos às partes a faculdade de 
escolher lei aplicável (desde que contrato seja efectivamente internacional). 
 
Exige­se que exista efectivamente uma norma imperativa objecto da fraude. LP não 
concorda, pois o objecto da fraude é  a justiça da norma de conflitos e não a norma material 
a que partes procuram fugir. “A fraude à lei em DIP pressupõe que haja norma material 
defraudada mas tutela a justiça da conexão e não a justiça material”. 
 
Exige­se por fim que a fraude tenha êxito. 
 
Discute­se se constitui fraude o caso em que a conduta fraudulenta consiste na mudança de 
nacionalidade e o naturalizado se integra na comunidade nova. LP entende que no ínicio 
existiria, mas que se “sanou” com a integração efectiva. 
 
b)  Elemento Subjectivo/Volitivo: 
 
Consiste na vontade de afastar a norma imperativa que seria naturalmente aplicável. 
Exige­se dolo, não pode ser mera negligência.  
 
Tem que ser inferido dos factos objectivos, com base em juízos de probabilidade, fundados 
em regras da experiência. 
 
Ao consagrar este elemento adopta o legislador uma concepção subjectivista da fraude. 
 
 
Medidas preventivas da fraude: em certos casos o legislador “qualifica” o elemento de 
conexão, para evitar ou dificultar a fraude. É o caso do 33º/1, em que legislador manda 
atender à sede efectiva da sociedade, para evitar a relevância de sedes fictícias.  
 
O mesmo objectivo pode ser prosseguido por via de uma imobilização do elemento de 
conexão, em que se fixa definitivamente o momento da concretização do elemento de 
conexão ­ 55º/2 CC 
 
 

Sanção
 
Existem duas teses: 
 

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a) Francesa, adoptada por Fernando Olavo: todos os efeitos intergrados no processo 
fraudulento são considerados nulos/inoperantes.  
 
b) Outra, mais recentemente adoptada na doutrina portuguesa, declara que o estado do foro 
não pode declarar inválida a aquisição de uma nacionalidade, mas sim recusar que esta 
produza qualquer efeito quanto à aplicação da norma de conflitos 
 
O legislador no artigo 21º parece seguir esta tese: a sanção da fraude à lei limita­se a 
considerar irrelevante a manipulação do elemento de conexão ou a internacionalização 
fictícia, aplicando a lei normalmente competente. 
 
exemplo: se um português se naturaliza inglês para poder deixar seus bens todos a 
um amigo, a consequência não será ignorar o testamento, mas simplesmente aplicar a lei 
portuguesa, que implica a redução da deixa testamentária. 
 
Outra questão: no tratamento da fraude à lei estrangeira deve­se ter em conta posição lei 
defraudada? 
 
● Ferrer Correia e Baptista Machacho: não diferenciam entre fraude à lei do foro e 
fraude à lei estrangeira 
● IMC: fraude à lei estrangeira só é sancionada em dois casos: 
○ se lei estrangeira também sanciona fraude 
○ se lei estrangeira não sanciona fraude, deve ser sancionada se um princípio do 
mínimo ético nas relações internacionais assim o exigir.  
 
LP segue esta tese: o princípio da harmonia internacional de soluções assim o exige. No 
entanto ressalva que só pode sancionada fraude não sancionada no ordenamento 
estrangeiro quando tal “seja eticamente intolerável à face do DIP português”. O que se tem 
de salvaguardar é justiça do elemento de conexão e não a justiça material 
 

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