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Caderno de Educaciio N° 6 Como fazer a escola que queremos: O PLANEJAMENTO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA — MST 1695-1995: 300 anos de Zumbi dos Palmares Caderno de Educagio n° 6 Apresentacao Este texto faz parte do processo de revisdo e aprofundamento do Caderno de Educagao n° 1 : "Como fazer a escola que queremos", editado pelo MST em 1992, Naquele caderno tratamos da questio do planejamento escolar junto com outras questdes sobre como fazer a nossa escola diferente, adequada aos desafios dos assentamentos, e do conjunto da luta pela Reforma Agréria. Aos poucos, conforme vio avancando as experigncias, ¢ vamos aprofundando a reflexdo sobre a nossa Prética, estamos retomando cada uma das questdes levantadas naquele primeiro texto. Isso para discutie melhor e detalhar mais 0 como fazer na prética cada uma delas. Assim, 0 Boletim da Educagio n° 4, "Escola, Trabalho e Cooperaglo", editado em maio de 94, aprofundou e detathou a questio espectfica de como fazer a relagdo entre escola e trabalho. J4 este Caderno vai tratar da questio do planejamento coletivo na escola. E a idéia € que um préximo texto aborde especificamente a questo da metodologia‘de ensino, indo mais fundo na proposta de trabalho com Temas Geradores, ¢ também tratando da questo de como trabalhar a dimensdo da capacitagao na escola. Um outro texto ainda, deverd enfrentar a polémica questo da avaliagdo. Deste jeito pensamos poder ir avangando no entendimento da nossa pritica, bem como, ir socializando as experiéncias que vém dando certo, Precisamos demonstrar que 0 nosso sonho de uma escola diferente é posstvel de realizar na pritica. Num proceso coletivo © com permanente estudo @ reflexdo sobre o que estamos fazendo ¢ sobre o que ainda pretendemos chegar a fazer... Desatar 0 né do planejamento na escola : este ¢ 0 objetivo central deste texto. Porque segundo as lighes da nossa pratica, o planejamento é uma das quest6es centrais no como fazer a escola que queremos. Ele tem a ver com um pensar mais estratégico a questo da educagdo. O que planejar, como, quando, com quem, Como garantir de verdade a participagio coletiva na escola através do planejamento. Como planejar as aulas para garantir que elas sejam coerentes com os princ{pios pedagégicos que defendemos. E por af que vamos desenvolver este texto, Nesta reflexdo sobre 0 planejamento escolar partimos mais diretamente da realidade das escolas de 1* a 4* série, Por que sio a maioria com as quais 0 Setor de Educagio atualmente trahalha. Mas gostariamos de ressaltar que esta proposta também é valida para as escolas de 5* a 8* série dos assentamentos, talvez apenas necessitando de algumas adaptagbes no que se refere ao planejamento das aulas. Que os companheiros e as companheiras possam nos ajudar, prosseguindo neste desafio de recriagio. Ocupar, resistir e produzir também na educagio! Porto Alegre, janeiro de 1995 Coletivo Nacional de Educagtio MST 3 Caderno de Educagio n° 6 Sumario Apresentagao Parte 1: O que é planejamento e qual a sua importancia? Parte 2: Na escola, 0 que planejar? Parte 3: Planejamento coletivo: que decide sobre 0 qué? Parte 4: Planejamento global da escola: quais os passos? Parte 5: Planejamento anual da escola: em que consiste? Parte 6: Planejamento das aulas: como fazer? — Revendo a caminhada. — Bibliografia de apoio. — Anexos: I — Exemplo de roteiro para um DIAGNOSTICO da realidade dos Assentamentos Il — Exemplo de planejamento de aulas. II — Sugestdo de conteddos basicos por drea para o ensino de 1* a 4* série, MsT Caderno de Educagio n° 6 Planejar ¢ pensar antes de fazer. E antecipar no pensamento (e no papel) os passos de uma ago. E 6 ir refletindo sobre cada passo e preparando o seguinte. Pensar sobre o fazer é, basicamente, tomar decisées sobre este fazer. © planejamento é, entio, um processo (também de aco) de tomada de deci- sdes sobre determinada a20. O planejamento € uma atividade essencialmente humana. Somente os seres humanos so capazes de antever uma agdo antes de realizé-la.' O objetivo de planejar € garantir que os resultados da acdo sejam os esperados. E que 0 processo seja de maxima qualidade. Em qualquer tipo de atividade humana o plane- jamento é importante. As vezes 0 processo de plane- jamento ¢ informal, répido e nem chega a ir para 0 papel: quando planejamos como vamos fazer a limpeza da nossa casa, por ex.; ou quando estabele- cemos alguns passos a dar para conquistar um O que é planejamento e qual sua importancia Parte 1 namorado ou namorada... Neste caso, 0 "plano de ago" fica s6 na cabeca, ajudando a organizar a acdo. Em outras dimensdes 0 processo de planeja- mento pode ser mais complexo, envolvendo pesqui- sa, cdlculos, registros ¢ muita discussao. E 0 caso, por exemplo, do planejamento econdmico de uma empresa, 0 planejamento da préxima safra agricola num assentamento e também, do planejamento de atividades de uma escola, Seja de que tipo for a ago, de modo geral podemos dizer que 0 planejamento envolve os seguintes elementos (ou decisdes): © O porqué fazer: a justificativa da agdo; * O para que fazer: 0 que se espera ou os objeti- vos da agao que fazer: os contetidos da ago; como fazer: a metodologia; O com que fazer: os recursos e onde obt8-los; O jeito de verificar se o fazer esté dando certo: a avaliagao. ‘nosso trabalho. Por isso é bom clarear a diferenga: Pass Pessoa. QUAL A DIFERENCA ENTRE PLANEJAMENTO E PLANO? Este ¢ apenas um detalhe, Mas ele pode ter algumas implicagdes importantes no desenvolvimento do — Chamamos de PLANEJAMENTO 0 processo da tomada de decisbes sobre a agio, Processo que num planejamento coletivo (que & a nossa meta) envolve busea de informagbes, elaboragio de Propostas, encontros de discussiio, reunides de decisio, a — Chamamos de PLANO 0 documento onde se registra por escrito, segundo um determinado roteiro, a8 devises tomadas no processo de planejamento, E et 0 papel que se consulta durante a realizagio da acto. IMPORTANTE: Nem sempre o roteiro que se usa para elaborar um PLANO é 0 mesmo que se utiliza para desenvolver a discussio. O registro costuma ser posterior € geralmente € tarefa de uma equipe ou i¢lo permanente... feito para ajudar a meméria do proceso. mesmo de comerar a fincar seu primero alcerce. 1 Como diz Mare: Entre 0 wrabalho de uma abetha que consirct sua colmeia de forma perféita, e 0 trabalho de sen engenheiro humano, por mals mediocre que este seja, hd sempre una diferenga fundamental farorvel a0 homer: ele conseguc imaginarlprojetar a casa que vel ConsPu, antes MST Caderno de Educagio n° 6 Mas tem gente que ndo gosta de fazer planeja- mento, E muito menos por decisdes no papel. Estas pessoas ou so do tipo auto-suficiente ou do tipo comodista. A pessoa auto-suficiente é aquela que pensa que sabe tudo, que no precisa se preparar para nada porque na hora "H” sempre vai saber 0 que fazer. Mesmo sem se dar conta, 0 auto-suficiente se torna um autoritério, Porque se planejar é tomar decisdes, quem planeja sempre se expe a criticas, a opinides, que podem levar a pessoa até mesmo a alterar 0 rumo previsto para a agdo. Quem nio planeja também decide; mas decide sozinho e na hora fem que estd agindo. Isto quer dizer que nao hé condi- ‘g6es de outros participarem; prevalece a idéia ou 0 impulso apenas de quem esté no comando da aco. ‘A pessoa comodista (ou preguigosa mesmo!) 6 aquela que busca trabalhar 0 menos possfvel. A lei ‘que mais respeita é a “lei do menor esforgo”. Nao gosta do planejamento porque ele torna claro 0 que tem pra fazer. E pra quem quer ficar “atrés da moita", nfo ter claro o que fazer & o jeito de conti- nuar sem fazer nada. Tmagine-se doente num hospital, sob os cuidados de um médico auto-suficiente ou comodista... Que tal?! Pois saiba que 0 risco é tdo grande quando o provocado por um professor ou uma professora que entra em sala de aula sem ter planejado o seu traba- Iho: faz os alunos de "cobaias", metendo os pés pelas mos. Um caos! Vocé nao & uma pessoa deste tipo, 6? Por outro lado, quando a gente se acostuma a planejar as ages, por menores que sejam, ndo se consegue mais viver sem planejamento. Passa a ser uma atitude de vida. Significa ter humildade. Signifi- ca pOr racionalidade e eriatividade nas coisas que se faz. Ao contrério do que os auto-suficientes dizem, a criatividade € 0 sentimento no esto no improviso, no agir sem pensar. Quanto mais planejada for uma aco, maiores as condigdes de se inventar coisas novas; e maior facilidade de alterar a ago, tornando © préprio plano flexfvel e adequado as informagies que © proceso permanente de avaliagao vai forne- cendo. Porque este também & um detalhe importante: 0 planejamento no pode ser uma "camisa-de-forca” Ele é uma referéncia para a nossa acio. Pode ser modificado sempre que a realidade apresentar dados novos e exigir nossa adequacdo. E isto que queremos dizer com planos flexiveis. E por isso tudo que tem quem diga que num bom: planejamento est a garantia de 50% da aco. Desde que ele no fique apenas no papel, é claro! seu professor ou sun professora PENSE E RESPONDA: Sera que nossas criancas continuariam vindo & escola, se soubessem que \da € do tipo que considera que planejar as aulas € besteira? DEFINICOES DE PLANEJAMENTO: + Trabalho de preparacio determinados. (Diciondrio Aurélio) ‘+ Planejar é agir racionalmente. (Gandin) capacidade de pensar antes de agir. (idem) total. (idem) Engels) para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos ‘+ Planejar é implantar um processo de intervengiio na realidade, (ELAP) ‘+ Plangjamento € 0 contrério da improvisasio. Uma ago planejada é uma aco no improvisa- da. Uma aco improvisada € uma acio ndo planejada. De acordo? (Whitaker Ferreira) Planejamento € um método de trabalho aplicvel por quem quiser. (idem) Fazer planos € coisa provayelmente conhecida do homem desde que ele se descobriu com + Plangjar € pensar antes qual é o melhor caminho para chegar. (Brichenti) * Planejamento é um processo de tomada de decisies. Plano € 0 registro das decisies. Aco € 0 ato de intervir na realidade, que pode ser planejado ou nao. (idem) ‘+ Todo plano precisa estar aberto & emergéncia € uo imprevisfvel, pois no existe planejamento * O homem conseguiu evoluir cada vez mais, e se distanciar da sua condigio de animal, quanto maior foi sua capacidade de desenvolver aces intencionais ¢ planejarias sobre a natureza. MST Caderno de Educacio n° 6 Planejar € tomar decisdes sobre o fazer. Entdo a pergunta aqui €: quais so as decisOes necessérias para garantir 0 fazer (trabalho) da escola? © planejamento escolar ndo tem s6 a ver com preparagao de aulas, como as vezes 6 entendido. Ele tem a ver com 0 conjunto das atividades desenvolvi- das pela escola. E mais, com a estratégia de inter- vencao na realidade que a escola vai adotar. Podemos dizer que 0 planejamento da escola envolve as seguintes dimensdes: * O PLANEJAMENTO GLOBAL MAIS PER- MANENTE, ou seja, a tomada de decisdes sobre as linhas pedagogicas e administrativas que devem nortear o funcionamento da escola: desde os objeti- ‘vos da escola, como vai funcionar, quais so as instn- cias de participago, 0 que decidem, quando se rei- nnem...; organizacao da escola; até as definigdes mais gerais sobre métodos de ensino, critérios para escolha de temas e contetidos, sistema de avaliacio... Uma vez tomadas estas decisSes elas valem até 0 momento em ‘que se considerar que precisam ser revistas ou alteradas. Isto é, no tem um perfodo prédeterminado de vigen- cia. Sao definigdes que precisam ser tomadas quando se comeca 0 trabalho da escola. Na escola, 0 que planejar? Parte 2 * 0 PLANEJAMENTO ANUAL DAS ATIVI- DADES da escola, ou a programagio da escola. E a tradugio do planejamento global para um plano de ago limitado a um perfodo deter- minado de tempo, geralmente um ano. Envolve a previsdo de todas as atividades pedagdgicas e admi- nistrativas da escola, a elaborag3o do orgamento, a previsio da busca de recursos, a distribuigao de tarefas, 0 processo de avaliacdo. Também a previsio dos dias letivos (n° de dias de aula), 0 cronograma das aulag, a.previsdo de quando e como se fara 0 planejamento das aulas, os planos de trabalho por sétor. * OPLANEJAMENTO DAS AULAS, ou seja, a tomada de decisdes referente ao espectfico de sala de aula: temas, contetidos, metodologia, recursos didéticos, avaliagdo. Este planejamento vai desde 0 mais geral: um plano de curso para 0 ano ou semes- tre; até plano por unidades (temdticas ou outras), © plano por semana e o planejamento de cada dia. Na seqiiéncia deste texto vamos tratar de cada uma destas dimensdes com detalhes, identificando 0 que, quem, como e quando se desenvolve cada uma delas A organizacio da participagao é chave para a pra go organizada de todos os envolvidos com a escola, no seu processo de PLANEJA- MENTO € essencial na construgio de uma DIREGAO COLETIVA das agdes educativas que acontecem dentro dela ou através dela. da demoeri Ea participa- MST Caderno de Educagio n° 6 Se planejar é tomar decisSes, entdo este é um mo- mento fundamental da participagdo coletiva na escola. Ou seja, como j4 dizfamos no Boletim da Educagio n° 4: participar é, sobretudo, ajudar a tomar decisdes. E 0 momento principal de tomar decisdes € no planejamento. Devem ser planejadas coletivamente desde as grandes até as pequenas agdes, do dia a dia na escola. Onde ndo hd planejamento no tem cooperagio. Onde o planejamento esté concentrado em poucas cabegas (acontece "de cima para baixo") no ha democracia. A gesto democrati- ca implica em planejamento coletivo...(pag. 14) E para nds, a democracia nfo & apenas um detalhe, uma palavra. Ela é um dos pilares bésicos da nossa proposta pedagdgica ¢ do nosso projeto de transfor- ‘macdo social Mas o que ¢ mesmo PLANEJAMENTO COLE- TIVO? O planejamento coletivo & um processo que combina PARTICIPACAO com DIVISAODE TAREFAS. Quer dizer, nio significa reunir todo mundo para planejar tudo, desde os objetivos da escola até a aula do dia seguinte, Significa, em outras palavras, organizar as instancias de tomada de decisdes. Como ORGANIZAR 0 PLANEJAMENTO COLETIVO na escola? primeiro passo é definir quais sdo as instdncias de decisio. Embora elas possam ser um pouco diferenciadas em func0 da realidade especffica de cada Assentamento ou comunidad, podemos identifi- car as seguintes instncias num processo democritico de planejamento escolar: ‘© A assembléia geral do Assentamento. ‘© A Equipe ou Comissio de Educagao do As- sentamento, que deve incluir um n® representativo de Planejamento Coletivo: quem decide sobre 0 qué? 2 Jd dase que nds, educadores, precisamos juntar @ mais linda wopia com o mais firme realismo. Do contréro ndo haveréirabatho educativa Parte 3 assentados, professores € alunos, e ter uma consti- tuigdo vidvel para encontros mais frequentes, poden- do ser ampliado para determinados tipos de discuss4o e decisio. * 0 coletivo de professores (quando tiver mais do que um), * O coletivo de outros trabalhadores da escola (onde houver). * O coletivo de alunos. * Cada professor, no seu trabalho espectfico, E ainda, é preciso considerar as instancias do proprio MST, que participam indiretamente (ou em alguns casos acompanham diretamente) do proceso. Ou seja, € preciso garantir que o Assentamento, através da sua Equipe de Educagio, participe do SETOR DE EDUCACAO, a nivel regional e de estado, para que as decisGes tomadas nesta escola em particular, estejam em sintonia com as linhas polfti- cas e a proposta pedagégica que vem sendo construf- da pelo MST, a nfvel nacional. © segundo passo & termos claro quem decide sobre 0 que neste processo, levando em conta as dimens6es do planejamento escolar que identificamos no item anterior. Neste momento precisamos, além de levar em conta nossos principios demoeraticos, ser REALIS- TAS.? A participagdo no processo de planejamento & educativa por si s6 : quanto mais gente tiver que “esquentar a cabeca" para definir os rumos da escola, maior 0 nimero de pessoas comprometidas com a prdtica de uma nova educago em nossas éreas de reforma agrdria. Mas, & bom lembrar que a educac3o e a escola so apenas uma das muitas questdes que precisam de participacio e de solugao nos assentamentos. Por isso é preciso racionalizar 0 MST Caderno de Educagio n° 6 tempo de encontros, reunides discussées, de modo a tornar visfvel 0 envolvimento da comunidade no planejamento da escola. Vejamos entao alguns exemplos de decisdes que caberiam a cada uma das instancias. Depois vamos discutir como realizar 0 processo de planejamento para chegar nelas. * A-uma ASSEMBLEIA GERAL do Assenta- mento ou de uma Cooperativa cabe discutir e aprovar 6 plano global da escola, bem como alteragdes que forem propostas no desenrolar de sua prética, sempre que elas mexerem com a proposta pedagégica da escola. Ex. : O assentamento decide que os alunos devem participar das instancias de direcio da escola, Nem a escola, nem a Equipe de Educa¢do podem mudar esta decisio sem diseutir isso numa assem- biéia. Também caberia ao conjunto dos assentados decidir sobre a expulsdo de algum professor, ou pela briga para a contratago de professores, ou sobre agdes maiores de reivindicagbes junto ao Estado... Para poder tomar decisdes sobre 0 plano global da escola, certamente a comunidade terd que ser chama- da pela Equipe de Educagio para alguns encontros onde seja discutida e estudada a proposta de educa- do do MST. Também & importante garantir que pelo menos uma vez por ano a comunidade se retina especifica- mente para avaliar o andamento da escola e tirar as linhas para o planejamento das atividades do ano seguinte, Este plano geral, depois de claborado poderia passar pelas instancias que jd existam no assentamento (sejam grupos de familia, micleos, setores de trabalho...) e, se for 0 caso, ser aprovado numa assembléia geral do Assentamento que nao seja chamada s6 para isso, mas que possa incluir esta ‘questo como um dos pontos de pauta. * Cabem & EQUIPE DE EDUCACAO e/ou ao CONSELHO ESCOLAR (onde ele existir) todas as decisdes que correspondam ao detalhamento do plano global e 4 elaboragio do plano geral de atividades & dos detalhes de sua execugio. E em assentamentos onde a organizagdo ainda ndo permita que o plano anual tenha a participagio efetiva da comunidade, a Equipe de Educagao passa a ser o frum, nao s6 da elaboragdo mas também, da aprovacdo deste plano. E bom lembrar que pela Equipe de Educagdo deveria passat a discussdo e, algumas vezes a prdpria elabo- raedo, das propostas a serem discutidas num encontro ou assembiéia dos assentados. A princfpio nao caberia & Equipe de Educacdo um envolvimento mais direto com o planejamento das aulas. A responsabili dade deste tipo de decisao caberia a0 coletivo interno a escola. Mas na prética, como existem muitas escolas que tém apenas um professor ¢ ele ou ela no teriam com quem se juntar para planejar, a Equipe de Educagdo acaba participando pelo menos do planejamento mais geral das aulas : plano de curso & planos de unidade. Se isso for necessério, € preciso {er presente na composicao da Equipe, pessoas com uma disponibilidade de tempo um pouco maior para se dedicar a esta atividade. Pode inclusive néo ser toda a Equipe a participar destes momentos especifi- cos. O princfpio é que o professor nao tenha que planejar 0 seu trabalho sempre sozinho, © Cabem aos professores e aos outros trabalha- dores da escola (juntos em seus coletivos espectficos, dependendo do mimero de pessoas), as decisées sobre 0 desenvolvimento das aulas e das outras, atividades que estejam na programacao da escola, Trata-se de um nivel fundamental, porque sao justamente as decisdes tomadas no dia a dia (que contedidos vamos trabalhar nesta semana, como vamos avaliar os alunos, como sed organizado 0 trabalho na 4rea produtiva da escola...) que garantem ou nfo a execugio das decisdes tomadas pelo conjunto do assentamento e, mesmo, pelo MST como um todo. Lembrando também que, de modo geral, os professores costumam participar todos (a menos que ‘o mimero seja muito grande) da Equipe de Educagio, compartithando pois, com os niveis de decisdo daquela instancia * Cabe ao coletivo de ALUNOS, 0 conjunto de decisdes sobre as atividades que the atribui o plano geral da escola, bem como sobre quest5es que scu proceso de auto-organizacdo for colocando e que no afetem a outras instincias. O nosso estimulo deve ser para que 0 coletivo de alunos chegue a elaborar propostas e levantar reivindicagGes para as demais instancias de decisto. Exemplos: se é tarefa dos alunos organizar e cuidar da farmécia da escola, cabe a eles planejar como vao fazer isso. Aos profes- sores cabe no méximo dar sugestdes, ¢ durante 0 processo ajudar na avaliagdo de como o atendimento da satide est4 acontecendo, de como pode methorar. Também o coletivo dos alunos pode se reunir para avaliar o andamento das aulas e apresentar sugesties, 0s professores sobre como torné-las mais agradé- veis. Estas sugestes deverdo ser discutidas. no MST Caderno de Educagio n° 6 coletivo dos professores, quando estiverem em — deverd definir o numero e os critérios: se é atividade de planejamento... idade, série, livre escolha pelo conjunto dos A representagio dos alunos deverd estar tam- alunos. bém na Equipe de Educagio. Cada assentamento Esclarecendo: EQUIPE DE EDUCAGAO = grupo ou comissio de pessoas escolhidas pelo assenta- mento para tratar das condigdes de educagio e representar a comunidade na direcio (real mas niio necessariamente legal) da escola. Sua composigio tem variado de um local para outro, mas de modo geral inclui alguns assentados (2 ou 3), representantes dos alunos (I ou 2, conforme os critérios de escolha) e os professores da escola. Uma variagio que costuma existir: se a escola 6 "nossa", ou seja, professores e diretor ou diretora sio do préprio assentamento, ou pelo menos, sio bem identificados com a realidade e com a luta dos assentados, todos eles fazem parte da Equipe. Se nao é esse 0 caso, 0s professores (sendo mais de um) terdo seus representantes na Equipe, mas nio estaro todos nela. CONSELHO ESCOLAR = se constitui nos locais onde passa a ser legalmente possivel a direcio coletiva da escola com a participagio dos alunos e da comunidade, Ou seja, 0 Conselho € um colegiado de composigio semelhante a da Equipe de Educagio, s6 que com funciio legal de dirigir a escola, Sua composigio obedece a regras que variam um pouco de estado para estado. De modo geral, 0 n° de representantes de cada segmento € proporcional ao n° de pessoas que envolve. Assim, por ex., quanto maior 0 n® de alunos numa escola, maior 0 n° de seus representantes no Conselho, © Conselho Escolar niio € a mesma coisa que os Circulo de Pais e Mestres, as Associagbes de Pais e Professores ou diretoria da escola. Ele vem para substit numa concepcio mais democriitica de participagio da comunidade. Em muit Conselho Escolar e Equipe de Educagio podem ser 9 mesmo grupo. Mas € preciso lembrar que as questdes da educagio vio bem além da escola: ereches, educagio familiar, alfabetizagio de adultos... 10 Caderno de Educagio n° 6 Relembrando: este é 0 nivel de planejamento que corresponde as grandes decisOes sobre a organizacio, funcionamento e proposta pedagégica da escola. E 0 que mais requer a participago do conjunto da comunidade. E deve ser puxado pela Equipe de Educago. Ou, no caso de ainda no ter, por alguma lideranca que tenha mais clareza sobre a importincia de o assentamento assumir junto a diregdo da escola. As vezes € 0 proprio professor ou professora esta lideranca. Seja quem for, este pode ser um momento ‘oportuno para criar ou fortalecer a propria Equipe de Educagao, onde ela ainda nio existe ou ¢ frégil. Este planejamento deveria ser feito durante o primeiro ano de implantacao da escola, Se no foi, sempre é tempo de retomar a caminhada para melhor seguir em frente. Para situar ainda mais, estas so as decisSes que costumam ir para 0 Regimento Interno da escola, quando ela tem autonomia para elaborar 0 seu. Uma sugestio de método para desenvolver este planejamento consiste no seguinte: 1° PASSO: Conhecer a realidade A escola, junto com a Equipe de Educagio do Assentamento, deve fazer um levantamento de Parte 4 Planejamento global da escola: quais os passos? informagdes sobre a realidade do Assentamento e de suas relagdes com 0 conjunto do MST e suas lutas. Informagdes as mais completas possfveis, desde a hist6ria, pasando pela composigao das familias, organizacdo do trabalho, produgdo, caracterfsticas culturais... até quais as maiores discusses que se fazem no conjunto do Assentamento e com o MST. © objetivo & saber o que discutir e de onde comecar a discussio sobre a escola com os assenta- dos. Este momento é ainda mais importante numa escola onde os professores e outros trabalhadores niio sejam do proprio Assentamento. Para fazer este levantamento seré necessério definir na Equipe: a) Qual o roteiro a ser seguidi mages a serem buscadas; b) Quem busca. Aqui é muito educativo envolver também os alunos na investigacdo; ©) Como e onde buscar as informagoes. O que vai depender das condigdes e do envolvimento que 8 escola jd tem com a comunidade; 4) Quem junta as informagdes e registra por escrito uma sfntese delas. Esta tarefa é muito importante para que o processo continue depois; ¢) O tempo méximo para concluir esta etapa do planejamento. as infor- *q ‘Uma observagio importante: Nio podemos partir do principio de que se o professor é do préprio Assentamento ele niio precisa fazer este trabalho, porque ja conhece a realidade. J4 diz 0 dito popular, que "quem menos conhece a igua ¢ 0 peixe” ou seja, nio basta estar num meio para conhecé-lo. E preciso assumir uma realidade para conhecé-la mesmo. E isto que est proposto nesta fase do planejamento... ide investigativa, fazer perguntas ‘para todas as escola pablicas vinuladas aquele brpdo ofcal de ensin, 3 Exe jd 6 um dire assegurado em lei, mas em muitos lugares ainda ho sistema de Regimento Outorgado, ou seja, um docteento padrdo impesio ‘4 Ver um exemplo de rowiro para este levantamento de informogses no Anex® I deste Cadermo, MST u Caderno de Educagio n° 6 2° PASSO: Discutir com a comunidade E momento da Equipe de EducacZo chamar os assentados para discutir sobre a escola e conhecer a proposta de educacao do MST. © ponto de partida depende de cada caso. Se a escola j4 funciona ha tempo, o primeiro encontro pode ser para uma avaliacdo geral do seu andamento: se a comunidade estd satisfeita com o trabalho, o que poderia modificar... Os préximos encontros podem refletir sobre que escola precisamos a partir dos desafios da nossa realidade, aproveitando os elemen- tos levantados no 1° paso e estudando sobre a proposta de educacdo do MST para as escolas de Assentamento, E bom lembrar que neste momento os materiais do Setor de Educacao que melhor podem subsidiar este trabalho so: O Caderno de Formacao n° 18: O que queremos com as escolas de Assentamento; 0 Album seriado que traz também uma cartilha com nossos principais princfpios pedagégicos; 0 Boletim da Educagao n° 1: Como deve ser uma escola de Assentamento; e, conforme vai avancando 0 proces- so, 0 Boletim da Educagio n° 4: Escola, trabalho & cooperagao.... ‘A Equipe de Educagao deverd planejar 0 melhor jeito para utilizar estes materiais, de acordo com as caracterfsticas do grupo. Mais importante do que conhecerem todos os materiais de uma vez, é ga tir que a comunidade participe ativamente da discus- so, colocando suas opinides sobre como deve ser a escola deste Assentamento € quais dos prinefpios pedagégicos j4 € posstvel implementar e de que jeito. O mimero de encontros necess4rios nesta fase depende do tipo de organizagao da comunidade e das informagdes que jé tem sobre a questio da educagio. Em alguns locais um encontro ou dois jé sio sufi- cientes para passar a0 proximo passo. Estas discussdes com a comunidade também devem ser registradas no papel por alguém da Equipe ‘que fique responsével por isso. 3° PASSO: Elaborar propostas Um bom planejamento coletivo depende de boas informagdes e de boas propostas. E estas propostas no surgem espontaneamente durante as reunides, com todo mundo junto. E preciso que tenha pessoas que se dediquem a formular propostas e a levantar questdes priorité decisdes em conjunto. No caso do planejamento escolar pode ser a Equipe de Educagio que fica responsével por isso, podendo dentro dela também haver uma divisfo de tarefas sobre quem formula propostas sobre 0 que. Entéo, partindo da realidade e das primeiras discussdes feitas com 2 comunidade; levando em conta as exig@ncias legais que existem em relacdo & escola; e tendo como referencia a proposta pedagd- gica do MST, esta Equipe deverd levantar propostas ‘ou questées especialmente sobre: a) Os objetivos da escola, b) As instancias de diregdo da escola: quais so, fungbes, quando se retinem, quem convoca (vai ter Conselho Escolar? quem o compoe?) ©) A organizacao e o funcionamento da escola: quem faz 0 que, se vai ter setores de trabalho, se 0s alunos vio participar do trabalho e da gestdo da escola e em qiee exatamente, se vai ser reunides internas, de quando em quando e para que, qual serd a proposta de calendario escolar: se hd necessidade de adequar aos tempos da producdo agricola ou ndo, que tipo de atividades a escola deverd desenvolver atém das aulas com as criangas: alfabetizagao de adultos, programa- ges culturais, educagdo infantil... 4) Em que tipo de agdes a escolas deverd atuar junto com 0 Assentamento. e) Se haveré uma area de produgdo agropecudria prdpria para o trabalho da escola/alunos... f) O sistema de avaliagdo que ser adotado (0 que pode aprovar e reprovar um aluno, por exemplo), o jeito de divulgar os resultados. Se haverd notas: 0 que serd considerado na ava- iagdo dos alunos, se s6 as aulas ou também as outras atividades... 2) Que tipo de conteidos dar mais énfase nas aulas, em fungio dos objetivos da escola e a realidade do Assentamento; h) Que tipo de metodologia de ensino utilizar - as gerais nao entrando aqui em detalhes de didaticas — no sentido de criar sujeitos partic pativos, com capacidade de argumentasdo, sem medo de expor posi¢des, questionador...; i) Se existirdo regras de como se comportar dentro e fora da escola, Quem vai decidir sobre elas, Se haverd algum sistema de puni- io na escola: para que seria, quem seriam os responsaveis... 12 MST Caderno de Educagio n° 6 4° PASSO: Discutir as propostas no conjunto da escola e da comunidade E 0 momento de voltar 4 comunidade para discu- tir as propostas elaboradas. O jeito pode variar, Em alguns locais € possfvel aproveitar espagos de encon- tros ou reuniGes j4 existentes. Em outros as propos- tas podem ser passadas por escrito para discussio nos ‘grupos de famflia ou nos nécleos de produgio ou nos setores de trabalho. O importante é aproveitar a propria estrutura organizativa j4 existente. E nos Assentamentos onde ndo for costume as pessoas se reunirem, esta pode ser uma boa oportunidade para motivar encontros, que depois podem passar a incluir ‘outras questées do Assentamento. Sempre que possfvel a Equipe de Educag3o deveria acompanhar as discuss6es ¢ ir registrando as questOes mais polémicas, as dividas, as novas propostas. 5° PASSO: Decidir em assembléia ‘A menos que a propria comunidade delegue & Equipe de Educa¢do ou a um Conselho Escolar esta tarefa, € importante que 0 conjunto das propostas possa ser discutido © decidido numa assembiéia do assentamento. Isso compromete mais 0 coletivo com a implementac3o das ages na prética. Também para esta assembléia serd preciso uma preparacdo especial, que vai desde a m(stica de abertura até a divulgacao da pauta, colocando com clareza quais sto as ques- tes de discussdo e que decisdes terdo que ser toma- das. E nao podemos esquecer que um momento como esse € sempre um motivo a mais para cultivarmos os simbolos, as cangies e demais expressOes culturais que trazem a forga eo amor pela nossa organizagdo e pelo conjunto da classe trabalhadora, E a respon- jdade de puxar isso € de quem j4 sabe que isso € importante. Nao tem outro jeito! 6° PASSO: Passar as decisées para o papel E muito importante que todo este processo culmi- ne na elaboracdo de um documento escrito com todas as decisOes tomadas. Isso ajuda na meméria no s6 dos que participa- ram do processo, mas daqueles que vdo entrando no decorrer da execucao dos planos. E também é parte da chamada "meméria subversiva do povo", ou seja, do registro de um outro lado da histéria da educagao brasileira que nés, como seus sujeitos, temos obri- gagio de também escrever e preservar... O registro pode ser no préprio Regimento Esco- lar, que geralmente tem um roteiro determinado pelos Grgaos oficiais. Ou pode ser num documento especifico, com um roteiro que sugeriremos a se- gui. 7° PASSO: tomadas Socializar as decisées Mesmo quem, por algum motivo, nao tenha participado do proceso de planejamento precisa ficar sabendo do que foi decidido. Isso vale tanto para 0 conjunto da escola, como para o Assentamento © 0 Setor de Educagio do estado, A escola deve encontrar 0 melhor jeito para fazer circular as informagdes do plano. Seja divulgando 0 documento escrito, seja fazendo cartazes, aproveitan- do um programa de rédio ou 0 jornalzinho do Assen- tamento. Se a comunidade ainda nao tem estes instrumentos de comunicagdo é hora de incluir a sua c0 no prdprio planejamento das atividades da escola. Ou esse no € um campo privilegia~ do para a escola contribuir com 0 conjunto do Assentamento?! E quanto tempo leva para desenvolver este conjunto de passos? Isso depende do préprio estdgio de discusso em que se encontra a escola e a comunidade. Se a Equipe de Educa- doe os professores tiverem dominio da proposta de educagio do MST e tiverem Participado de algum processo ou de algum curso 4que hes tenha dado um certo traquejo nesta metodo- logia de planejamento coletivo, certamente 0 proces- so serd mais acelerado. Mas ndo hé maiores proble~ mas deste processo chegar a durar até um ano, em vista da discussdo ser realmente coletiva e as deci- 8026, além de coletivas, serem bem amadurecidas, Quanto mais profundo e abrangente for este nivel de planejamento, mais fécil serd o desenrolar dos nfveis, seguintes MST 2B Caderno de Educagio n° 6 Um possfvel roteiro para registrar este processo de planejamento: PLANO GLOBAL DA ESCOLA 1, Dados de identificagao da escola (Ver quais sdo os geralmente solicitados pelos érgaos oficiais) 2, Base tebrica (Organizar uma sintese das discussGes feitas sobre a proposta pedagdgica do MST ¢ 0 que ‘© Assentamento quer concretamente com esta escola) 3. Deserigao da realidade Resumo das informagées levantadas sobre: a) O Assentamento b) O MST da regio ©) O municipio em que se situa o Assentamento 4, Os objetivos da escola (Os grandes e mais permanentes) 5. Normas de organizagao e funcionamento da escola 5.1, Instancias e fungdes 5.2. OrganizacZo do trabalho 5.3. Regras de comportamento 6. Sistema de avaliagao 6.1, O que avaliar 6.2. Quem avalia o qué 6.3. Quando avaliar 6.4. Como avaliar 6.5. Registro e divulgago das avaliagtes 7. Orientagdes pedagégicas gerais (Sobre conteddos, métodos, relagio professor-aluno... enfim, os elementos que aparece- ram nas discussdes. De preferéncia em itens e de forma resumida. Ex: * os professores devem estimular a participagdo ativa dos alunos em aula.) 14 MST Caderno de Educagio n° 6 Consiste em elaborar a ESTRATEGIA DE ACAO para 0 prazo.de um ano (um pouco mais ou um pouco menos, conforme a realidade especifica de cada escola). Tomar as decisdes sobre 0 que, para que, como e com que se vai fazer/trabalhar na escola durante este perfodo, levando em conta as linhas tiradas no plano global. Geralmente € feito no infcio do ano letivo, se pos- sfvel antes de iniciarem as aulas. Se 0 grupo tiver as, informagdes necessfrias e algum tipo de experiéncia anterior de planejamento, poderd ser feito no prazo de uma semana intensiva. Mas também hé escolas {que preferem ir desenvolvendo 0 proceso através de uma série de encontros que vdo acontecendo durante Parte 5 Planejamento anual da escola: em que consiste? © primeiro més de atividades do ano, j4 com as aulas em andamento. Cada escola precisa encontrar 0 jeito que melhor se adeque & sua realidade. Como dissemos antes este planejamento é respon- sabilidade primeira da Equipe de Educagio ou do Conselho Escolar onde ele jé estiver implantado. A. comunidade como um todo podera/deverd participar da discussio e da aprovagdo das propostas mas no precisa estar nos encontros de trabalho, Este ¢ 0 princfpio da divisto de trabalho e de planejamento coletivo. A semana intensiva de planejamento que mencionamos acima, teria como participantes a Equipe de Educagio/Conselho Escolar mais todos os profes- sores € outros funciondrios da escola, se houver. menores. Mas a légica da real LEMBRETE IMPORTANTE: A seqiiéncia da elaboragio dos planos no € neces- sariamente eronoldgica, ou seja, um depois do outro, Nio € preciso ter pronto 0 plano global para fazer o plano anual ou para ir planejando as aulas. Claro que a Igica deste processo de planejamento pede coeréncia entre o plano maior ou mais abrangente e os planos ide € sempre a que tem 0 apelo mais forte, Ou seja: se as ‘aulas na nossa escola viio comegar na préxima semana e nio existe ainda um plano global, ‘vamos ter que primeiro planejar o imediato e depois ir para o estratégico. Certo?! Vamos aos passos deste planejamento: 1) RETOMADA DO PLANO GLOBAL E 0 momento de rever as decisdes e linhas tiradas sobre a proposta global da nossa escola, Isso serve para reavivar a meméria (para o caso de j4 ter um certo tempo), informar os novos membros do grupo © também para avaliar © andamento daquele plano. Ou seja, a prética pode estar mostrando que algumas decisdes tém que ser revistas ou aperfeigoadas. E 0 espago, ento, de propor estas alteragdes. No caso de a escola ainda nao ter o seu plano global, € preciso reservar este momento. para estudar a proposta de educacio do MST e refletir sobre como é posstvel implementé-la nesta escola conereta. E depois, na hora de estabelecer metas, prever quando e como poderd ser desencadeado o processo de planejamento global 2) DIAGNOSTICO DA REALIDADE No planejamento global falamos em levantamento de informagées sobre a realidade. Agora dizemos diagndstico, ¢ que pode se servir daquelas informa- des levantadas. MST 1s Caderno de Educagio n® 6 ‘Mas 0 que € DIAGNOSTICO? Segundo os estudiosos do assunto, um diagndstico 6 composto de pelo menos 3 elementos essenciais 4) Levantamento dos principais problemas de uma determinada realidade. b) Descrigao e andlise das causas e das implica- bes destes problemas. ©) Um jutzo de valor sobre a realidade, identifi cando quais os pontos prioritérios sobre os quais se deveria agir para resolver os proble- mas Utilizando um exemplo da medicina podemos deixar mais claro o que significam estes elementos: a) Um problema: 0 paciente diz a0 médico: estou com dor de ouvido” ) Andlise: 0 médico examina 0 ouvido e nio constata nada. Faz uma radiografia da cabega e verifica que o paciente tem uma infecgdo num dente. ©) Jutzo: O médico diz a0 paciente: "Sua dor de ouvido € provocada por uma infecgio na raiz de um dos seus dentes. Serd preciso tratar desta infecso para que ndo se alastre e para que cesse a dor." Feito 0 diagndstico certa- mente 0 médico prescreveria um tratamento: ‘um antibistico para tratar a infeccZo e a ida a0 dentista. ‘Voltando ao nosso planejamento escolar: precisa- mos fazer um diagnéstico da realidade em que estamos trabalhando para decidir sobre quais as agdes, que devem ser priorizadas na programacao deste ano. E qual a realidade a ser diagnosticada? Sugerimos que 0 diagndstico trabalhe pelo menos duas dimen- sies: © A realidade do conjunto do Assentamento: principais problemas ligados a produgzo, & satide, & comunicagdo, a0 relacionamento entre as familias..., fazendo a ligagdo com a situa- 80 do conjunto do MST e da luta pela Refor- ma Agraria. © A realidade da educagdo e da escola: tem analfabetismo, problemas de relagdo entre pais, efilhos, homem, mulher?.. ena escola, quais os principais nés?... Também aqui fazendo a ligagdo com os desafios da educagio no MST a nivel nacional ou buscando informagées sobre isso, Lembrando entdo que o diagnéstico ndlo & apenas Tevantamento de problemas, é andlise e identificagdo de prioridades de ago. No caso, € preciso identiticar concretamente em relagdo a quais problemas a escola pode prestar algum tipo de ajuda. Seja estimulando 4 pesquisa e 0 estudo sobre questdes relacionadas: ex.: 08 alunos estudarem sobre os efeitos da erosio na produtividade do solo do Assentamento; seja desenvolvendo atividades concretas a servigo da comunidade: ex.: escola vai puxar a organizagio de uma Equipe da Saiide no assentamento. S30 estas ages que vdo aparecer depois na programacio de atividades e nas metas, Para a realizacao deste diagndstico so necessérias boas informagdes, Se a Equipe ndo dispde dos dados sobre a realidade tem duas safdas: ow vai em busca (@ que quer dizer que 0 diagndstico ndo ficard pronto no 1° dia do planejamento); ou amplia a participagao da comunidade, trazendo as liderangas que t&m uma visio de conjunto do assentamento, para ajudar nesta discussio. 3) METAS PARA O ANO Confrontando 0 diagndstico da realidade com a proposta pedagégica da escola, e analisando 0 “fOlego” de trabalho da Equipe, & posstvel entio definir as metas para o perfodo. Ou seja, traduzir os desafios da realidade em plano ou estratégia de aco. E importante diferenciar meta de objetivo. Ambos apontam aquilo que se quer alcangar. Mas a meta se caracteriza por ser mais concreta, mais direta e, portanto, mais facil de identificar se foi atingida ou nio. Assim, por exemplo, podemos dizer que um dos OBJETIVOS da escola neste ano é melhorar a sua relagdo com a comunidade. J4 uma META que tornaria este objetivo mais palpavel poderia ser: Fazer um programa de atividades quinzenais na escola que envolva a participagio da comunidade. Nesta sugestdo de passos ndo estamos sugerindo a elaboragdo de objetivos, Se a escola achar impor- tante poder incluf-la. E que a prdtica tem nos mostrado que eles acabam sendo uma repeticao dos desafios que so identificados no momento do diag- ngstico. 16 MST. Caderno de Educagio n° 6 ‘As metas que devem constar no plano anual so de diferentes tipos. Pode haver metas em relagio a um problema concreto do assentamento: desencadear © movimento de alfabetizagdo de adultos neste assentamento; e metas em relaglo ao proceso pedagégico da escola: desenvolver o planejamento coletivo das aulas entre os professores; ou ainda metas administrativas ou de funcionamento da escola: organizar a biblioteca; ou definir uma linha de produgdo para ajudar no auto-sustento da escola... E assim por diante. O importante é que as metas deixem bem claro quais sdo as prioridades de agao e que sejam assumi- das como compromisso coletivo: vamos cumpri-las! E também que estejam em sintonia com a estratégia maior que temos em relagio & escola e & educagao nos assentamentos 4) PROGRAMA DE ATIVIDADES Ea hora de pér os pés ainda mais firmes no chio ¢ planejar um conjunto de atividades que a escola vai realizar durante 0 ano, Das mais simples as mais complexas. Sem medo de prever 0 dbvio, porque & exatamemte este que as vezes todos esquecem, Duas dicas para facilitar 0 trabalho: a) Programar as atividades a partir de cada meta. b) Utilizar um quadro ou esquema que permita visualizar melhor 0 conjunto do programa. Por exemplo: ATIVIDADES. 1. Iniciar trabalho de aliabetizagio de adul- tos LA, Fazer 0 levanta mento do n® de anal- fabetos 41.2. Organizar campa- tha no Assentamento 1.3. Capacitar monito- Res PER[ODO ANG Abril MailJun Mailun RESPONSAVEL | CONTROLADOR (Aquele que cutuca © responsivel) Sr, Joie ona Maria Dona Maria Profa. Rejane Profs, Rejane ‘Seu Mario Nido hd necessidade aqui de detalhar as atividades. Isso 6 tarefa posterior do responsdvel que certamente vai reunir uma equipe e planejar passo a passo cada atividade que assumiu no plano anual... Um lembrete importante: E neste momento de programacdo das atividades que precisamos ser PLANEJAMENTO ANUAL OU SEMESTRAL DAS AULAS Boa parte desta etapa jé foi vencida junto com 0 plano anual da escola: * O levantamento de Temas Geradores; + A discussdo sobre as préticas a serem enfiatiza- das; ‘© A elaboragio da lista de contetidos priorits- tios; * O detalhamento das normas e procedimentos da avaliagao. A proposta agora € fazer um planejamento POR TURMA (seja multisserisda ou de uma série sé, conforme a realidade especffica de cada escola). Prestando atencao mais diretamente ao processo de aprendizagem de cada grupo de alunos e qual a estratégia para superar as dificuldades, promover 0 crescimento de todos. Como adequar nossa pro- posta pedagdgica as caractertsticas proprias destas criangas, Passos que podem ser seguidos para fazer este planejamento: 2) DIAGNOSTICO DA TURMA DE ALUNOS No capitulo anterior explicamos 0 que ¢ fazer um diagndstico. Vale a mesma orientagao, s6 que aqui a realidade a ser diagnosticada € a da sala de aula Mais precisamente do grupo de alunos e suas rela- ‘ges entre si, com os professores, com a escola, com 0 assentamento, MsT 2 Caderno de Educagio n° 6 Precisamos conhecer a fundo quem sZo os princi- pais destinatérios de toda esta estratégia que estamos ‘montando com tanto cuidado e passo por passo. Se estamos planejando para uma turma com a qual j4 trabalhamos e conhecemos, 0 diagnéstico consta do seguinte: * Analisar as principais caracterfsticas da turma; ‘© Identificar as principais dificuldades ou proble- ‘mas do grupo como um todo e, se possfvel, de cada aluno em particular. Dificuldades de aprendizagem, de relacionamento, de compor- tamento, de desempenho no trabatho...; * Identiticar se hd problemas espectficos por ser uma classe multisseriada; ‘© Analisar os problemas, discutindo causas, rela- io com fatores internos e externos a escola; © Discutir quais so os principais desafios em relagdo a turma. Se a turma € nova, 0 primeiro passo € buscar 0 maior nimero possfvel de informagdes sobre cada crianga, se possivel visitar suas familias, observar 0 grupo no trabalho, nas brincadeiras... Os outros passos podem ir sendo cumpridos conforme os professores consigam conhecer melhor a realidade do grupo. Neste caso, este diagndstico nao precisa estar pronto antes de iniciarem as aulas. Pode ir sendo feito ao longo dos primeiros meses de trabalho. b) OBJETIVOS E METAS EM RELACAO A CADA TURMA A partir do diagndstico e da proposta pedagégica da escola (que aparece no plano global ¢ no plano anual), © que pretendemos atingir neste ano (ow semestre) com esta turma? No caso das turmas multisseriadas, talvez seja importante fazer uma discussio sobre cada série, estabelecendo algumas, metas especificas. E se a escola tiver mais de uma turma, ver que objetivos podem ser comuns entre as turmas e quais so especificos para cada uma delas Exemplos de objetivos e metas: * Objetivo comum para todas as turmas: apren- der a trabalhar coletivamente. © Meta: desenvolver experiéneias de organizagao coletiva do trabalho na escola e na sala de aula. * Objetivo especttico de uma turma: superar dificuldades de expressio oral. © Meta: organizar situagies diversas onde todos os alunos tenham que fazer exposi- es orais © Objetivo espectfico para 4° séi fazer pesquisas cientificas. Meta: desenvolver dois projetos de pesquisa (uma bibliogréfica e outra de campo) a cada semestre. aprender a ©) TEMAS GERADORES Se o levantamento de sugest&es jé foi feito, 6 0 momento de: © Analisar a potencialidade geradora de cada tema e como poderiam, em grandes linhas, ser desenvolvidos; * Definir que temas poderdo ser trabalhados pelo conjunto das turmas e séries, e quais os temas ‘que deveriam ser trabalhados mais restritamen- te; @ se um mesmo tema poderia ter aborda- gens diferentes numa turma e noutra, numa série e noutra; © Discutir sobre qual seria a melhor seqiigncia entre os temas e projetar o tempo necessério para cada um deles; ver quantos ser possfvel desenvolver a cada semestre; * Pensar com que préticas este estudo poderd se vincular. E certo que estas projegdes poderao ser altera- das, 8 medida que © proceso for para a prética mesmo, ¢ oS alunos passarem a ser interlocutores mais presentes. Alguns exemplos de Temas Geradores: * A produgdo de carvdo nos Assentamentos da nossa regio: alternativa vidvel? O IIT Congreso Nacional do MST. E a satide do nosso povo, como vai? Eleigdes no Brasil Como tornar mais bonito 0 nosso Assenta- ‘mento. * Como melhorar nossos sistemas de comunica- sao. '* 1695 — 1995: 300 anos de Zumbi dos Palma- res, Lembrando: a melhor fonte para buscar estes temas é 0 DIAGNOSTICO DA REALIDADE. A mais préxima e a mais distante... 22 MST Caderno de Educagio n° 6 4) PRATICAS A SEREM ENFATIZADAS Da mesma forma que o anterior, é 0 momento de analisar as sugestdes levantadas, adequando-as a cada turma e a cada série. Exemplo: Foi considerado importante fazer a horta da escola. E nesta escola tem 2 turmas: a turma A € de I? a 3* séries; ¢ a turma B é de 4* ¢ 5? séries. Quem vai fazer a horta: a turma A ou a turma B? Seria bom que as duas se envolvessem, isso é certo. Mas pode acontecer um envolvimento diferente. Em relagio a turma B (4# e 5* séries), ossa meta pode ser a capacitacdo em horticultura mesmo. Daf os alunos terdo que, além de trabalhar na horta, estudar e pesquisar bastante sobre isso, e também receber instrugées sobre técnicas de plantio, cultivo... Pode ser até que queiram fazer a horta virar um tema gerador... Mas j4 a turma A (1*, 2* € 3% séries) que vai ajudar no trabalho da horta (Geguindo as orientagdes dos alunos da turma B, que tal?!), vai ter aula de ciéncias na horta, vai discutir sobre a importiincia do trabalho na terra mas nao terd nna horta sua prética central. Pode ser que estejam ‘mais envolvidos em fazer matérias para o jornalzinho da escola... Ficou clara a diferenga? E este tipo de reflexdo que cabe fazer nesta etapa do planejamento... e) CONTEUDOS PRIORITARIOS ‘Se jd temos uma lista mfnima, basta refletir um pouco mais sobre ela, relacionando-a com as necessi- dades espectficas de cada turma, de cada série, e com os temas, as prdticas e as metas definidas ante- riormente. Além disso, uma tarefa essencial neste momento & pesquisar possfveis fontes para estudo destes contetidos, Para os alunos e para os professores. E momento de verificar quais deles vio exigir maior preparagio dos professores: leitura, pesquisa, conver- sa com outras pessoas, coleta de materiais... E se for um grupo de professores (mesmo que nao da mesma escola), ser possfvel dividir tarefas: cada um se encarrega de buscar textos ou outros materiais sobre determinados conteddos. Também combinar encon- tros espectficos para estudar e socializar os materiais encontrados. Lembretes importantes: 1) O mesmo procedimento pode ser utilizado em relagdo aos Temas Geradores, Antes de iniciar 0 estudo com os alunos, os professores precisam pesquisar, estudar e discutir entre si. Sem diivida, a qualidade do trabalho seré bem maior... 2) De nada servir4 um bom planejamento de aulas se o professor ou a professora nao tiver dominio de contetidos; se nfo tiver 0 que de fato ensinar aos seus alunos... E ninguém nasce sabendo no! & preciso ESTUDAR, ESTUDAR ¢ ESTUDAR, cada vez mais. f) METODOS DE AVALIACAO As linhas j4 esto tiradas, o sistema proposto, os métodos indicados. Aqui, se 0 grupo julgar que ainda € necessdrio, pode fazer uma reflexdo especifica em relaglo a que aspectos dos métodos devem ser enfatizados, em vista das metas definidas em cada turma. Sugestdo de roteiro: PLANO DE CURSO 1 2. Objetivos 3. Metas 4, Temas geradores 5. Praticas 6. Contetidos prioritérios 7. Fontes de pesquisa 8. a) Quem prepara o qué b) Quando se reunir Om 9. Métodos de avaliagto Diagnéstico da turma (um resumo breve da andlise). revistas, livros, pessoas.. . Organizacdo do estudo entre os professores MST 23 Caderno de Educagio n° 6 Observagdes: 4) Como alguns dos itens deste roteiro constam também no plano anual, o grupo deve decidir se 0 mais pratico & registrar em documentos separados ou juntar tudo num s6. b) Mesmo que este planejamento seja feito pelos professores de diferentes turmas, a sugestao € que cada professor registre o plano da sua turma, ©) No caso de escolas que tém apenas um profes- sor, além de reunir uma eqquipe de pessoas da comunidade (ou a prdpria Equipe de Educacdo do assentamento) para ajudar neste plane- jamento, uma sugesto é trabalhar com os professores das escolas dos assentamentos da regio, porque isso enriqueceria 0 trabalho e as proprias diferencas entre as realidades poderiam ser refletidas num coletivo maior. 2? ETAPA> PLANEJAMENTO POR TEMAS Esta etapa serd desenvolvida se a escola tiver coptado em trabalhar com os Temas Geradores. A idéia € que antes do infeio de cada um, © grupo planeje todo 0 seu possivel desenvolvimento, num processo de detalhamento das grandes linhas tiradas na elaboragao do plano de curso. Se a escola nio estiver trabalhando com Temas Geradores, 0 grupo poderd optar por um outro tipo de unidade para fazer este planejamento. Pode ser, por exemplo, uma unidade de tempo: planejamento mensal ou a cada dois meses. Ou ainda o grupo pode preferir passar direto para a 3? etapa, que € 0 planejamento semanal, especial- mente se na propria escola existir uma equipe de professores que possa se reunir com um bom tempo, a cada semana.’ Os passos que vamos desenvolver agora tém em vista 0 planejamento por TEMAS, Podem ser os seguintes: 5 Nosso entmulo é para que as excolas experimentem o trabalho com Temas Geradores, plas razdes jd mencionadas nas péginas anteriores, Mas é soda precisa de prepara e bastante dominio de conledox capacidade de andlise da realidade por parte dos professores. Sendo vira tama simples conversa e 08 alunos ndo aprendem nada de novo. Por isso o grupo precisa decidir com responsabllidade, assum os desafos gue esta certo que este dectsao vat aplicar {5 Um exemplo de Plano por Tema voct tem desenvolvido no Aneeo It deste Cademo. Una sugesido & que o exemple sja lio na sei estes pastos. a) COMPREENDER 0 TEMA E SUA ABRANGENCIA (Ou seja, antes de iniciar o trabalho com determinado tema € preciso que os professores jf 0 dominem razoa- vyelmente; tenham estudado e discutido bastante sobre ele para saber 0 que vo propor aos alunos, e qual a potencialidade do tema: Que tipo de estudo requer? Com que se relaciona? Poderd gerar conhecimentos cientificos sobre 0 qué? Quais as Areas que sero mais trabalhadas? Poderd gerar também ages concretas? No planejamento é a atitude de investigacao sobre 0 tema: perguntar e pesquisar sobre ele. Até para verificar se realmente ele tem a potencialidade necesséria para ser inclufdo no currfculo desta escola, neste momento...° b) CONVERSAR COM OS ALUNOS SOBRE 0 TEMA Uma troca de idéias informal que pode acontecer no final de uma aula, caminhando com os alunos pela estrada, enquanto se fazem tarefas manuais... Os objetivos desta conversa: — Levantar informagdes sobre 0 que os alunos jé sabem e querem saber sobre o tema; — Ir criando um clima de expectativa e de prepa- ragdo que desperte ou aumente o interesse dos alunos pelo tema, Ndo podemos esquecer que ‘0 tema precisa ser significativo e atraente para ‘os alunos e ndo apenas para 0 professor. ou mesmo para os pais. Se a criangada ndo 0 agarrar, ele nio vai GERAR nadat ©) CLAREAR MUITO BEM OS OBJETIVOS Sem saber onde queremos chegar no h4 como escolher 0 caminho. Este &, pois um momento chave desta etapa do planejamento: definir o que pretende- mos com este trabalho. E aqui devemos nos preocupar com dois tipos de objetives: a) O que queremos aleangar em relagdo a0 tema, Ex.: Se o tema € a questo da satide no Assen- tamento, posso ter pelo menos dois objetivos deste tipo: ada tetra 24 MsT Caderno de Educagio n° 6 — compreender cientificamente as causas ¢ a pre- vengao das principais doengas que tem apare do no assentamento; — mobilizar-se para a luta da comunidade pela construgio de um posto de saiide. Neste caso terfamos um objetivo mais ligado ao estudo (que depois poderia ter implicagdes praticas de atitudes em relacdo a higiene e a alimentagdo, por exemplo...), e outro diretamente ligado a uma agdo; — b) O que queremos alcarigar junto com o tema, Ex.: no mesmo tema, ou a propdsito dele poderemos também ter como objetivos funda- mentais: — desenvolver habilidades de investigagio, de fazet entrevistas, de conversar com as pessoas para buscar informagoes; — estimular a organizacio do coletivo de alunos; — desenvolver habitos de higiene. 4) ESCOLHER OS CONTEUDOS A SEREM ESTUDADOS A pergunta central aqui é a seguinte: que conted- dos sfio necessérios para responder 3s questdes da realidade levantadas pelo Tema Gerador? Ou seja, no se trata de verificar, como as vezes se faz, quais so 0s contetidos que podem ser "encaixados” neste tema. O ponto de vista tem que ser 0 contrério: que conteidos ou conhecimentos este tema exige, Se estamos estudando sobre porque optamos pela producdo de milho em nossos Assentamentos, que conhecimentos de matemética, geografia, ciéncias, sto necessdrios para este estudo ser 0 mais cientifico ¢ sitl possivel? Respondida esta pergunta, é importante analisar que 4reas de estudo estdo sendo privilegiadas neste tema e quais quase no tm relagao. Se for 0 caso, pode-se levantar alguns conteddos a serem trabalha- dos paralelamente a0 tema, 2 medida que sejam importantes para atingir outros objetivos previstos no planejamento anual. ) PREVER COMO SERA DESENVOLVIDOO TEMA No € momento dos detalhes. E hora de projetar as grandes ou as principais atividades que caracteri- zardo a abordagem do tema. Se vai envolver pesquisa de campo, como serd feita, se ir4 incluir visitas ou se serdo necessdrias assessorias especializadas em algum contetido espectfico; se acontecerdio agdes concretas no Assentamento, como serd isso; se vai ter expe mentagdes, trabalhos em equipe... E 0 mais importante: prever como seré 0 infcio, © desenvolvimento, e em que deveré culminar 0 estudo deste tema. E preciso pensar em atividades marcantes, que realmente envolvam 0 conjunto de alunos. Pode ser que aquilo que se planeja neste momento se modifique totalmente com o andar do ‘tema; especialmente se os alunos assumirem também © comando do proceso. Mas € isso mesmo. O planejamento no é feito para ser imutével. Ao contrério, quanto mais clara estiver para o professor ou a professora, a estratégia (as grandes linhas de ago), maior flexibifidade e abertura ao novo seré possivel, sem perder o controle do proceso. £) PREVER OS RECURSOS NECESSARIOS Tanto os recursos materiais como os recursos humanos (pessoas a convidar, a visitar...) espectficos para a realizacdo das atividades previstas. Se implicar em gastos financeiros nao previstos no orgamento da escola, € 0 momento de prever quem, como e até ‘quando serdo conseguidos. E em relaglo &s pessoas, € sempre bom garantir agendas com uma boa antece- déncia, g) PLANEJAR OPROCESSODE AVALIAGAO io s6 decidir sobre os procedimentos espectficos de avaliagdo dos alunos para este perfodo e quando realizé-los, mas também prever como serd feita e em ‘que momento a avaliag4o sobre 0 desenvolvimento do tema e em que medida os objetivos estdo sendo atingidos e como podem ser qualificados, Além da avaliacdo que vai ocorrendo durante 0 desenvolvimento deste plano, é fundamental que antes de se comecar um novo tema, a equipe de professores, junto com os alunos fagam uma avalia- do bem rigorosa de tudo que aconteceu de posi € de negativo durante 0 processo. Isso é para que o préximo plano jé incorpore as ligdes da pratica e possa ser ainda mais perfeito do que o ultimo... h) PREVER O TEMPO DE DURACAO DO. TEMA Ou seja, ap6s a previsio de tudo que incluird o estudo deste tema, a pergunta é Qual o tempo necessdrio para desenvolver isso tudo que foi planeja- do? Duas semanas, um més, dois meses? E preciso também considerar algumas varidveis: criangas pequenas ndo se prendem durante muito MST 28 Caderno de Educagao n° 6 tempo num mesmo assunto; um tema mais emplo pode ser traduzido em sub-temas, garantindo a novidade e 0 encadeamento do estudo, Por outro lado, nao adianta escolher um tema com bastante potencialidade e tentar esgotlo numa semana. Porque certamente nao se ird além da superficie das questOes que ele contém, De um modo geral, em se tratando de 1* a 4* série, 0 tempo de um més parece ser recomendével. Também pode acontecer que um mesmo tema seja encerrado para as primeiras séries e conti- nue com as séries que tém criangas mais velhas ou onde o tema tenha despertado maior feresse ou curiosidade. Também aqui trata-se de uma projeg3o de tempo e nfo de uma determinacio obrigatoria. roteiro para registro deste proceso de plane- jamento: 2. Deserig&o do tema 2.1 Titulo 2.2. Origem e importancia 2.3 Questdes que envolve 3. Objetivos 3.1 Em relagdo ao tema 3.3. Em relagdo a cada série (se houver 4. Contetidos 4.1 Por frea 5. Metodologia Descrever as grandes a (final) do estudo deste tema. 6. Recursos necessérios, 6.1 Humanos 6.2. Materiai 6.3 Como obter os recursos 7. Procedimentos de avaliagao 8, Bibliografia utilizada PLANO TEMATICO 1. Dados de identificagao Turma: Série: .. Professor(a): .. N° de alunos: ... 3.2 Em relagdo & turma (a propésito do tema) iferenciagdo significativa) 4.2 Por série (os que forem diferentes entre uma série e outra) idades que marcarao o inf 9. Tempo de execuséo previsto para este plano , 0 desenvolvimento e a culminancia 26 MST Caderno de Educacio n° 6 3* ETAPA> PLANEJAMENTO SEMANAL 0 momento de cada professor fazer 0 detalha- mento do plano temético, prevendo o que sera desenvolvido a cada semana, Também ¢ 0 momento de refletir sobre 0 que aconteceu na semana anterior € 0 que precisa ser ajustado da estratégia geral para ‘a semana que inicia, Analisar 0 processo de aprendi- zagem de cada aluno, prever formas de acompanha- mento aos alunos com maior dificuldade. E ainda, dar conta da dindmica educativa geral da escola e do assentamento: 9 que precisa ser inclufdo nesta semana e que nao estava previsto no plano temdtico, ‘mas tem a ver com o plano anual da escola ou com fatos inusitados que esto acontecendo na realidade. Dissemos que a tarefa ¢ de cada professor. No entanto, se na escola tiver mais de um professor, a sugestao é que também nesta etapa ocorram momen- tos de discussio em equipe. E é sempre importante incluir a participagdo dos alunos no processo, reser- vando algum tempo da ultima aula da semana para levantar com a turma sugestées para as aulas da proxima semana, Com o coletivo de professores, geralmente a escola escolhe o sdbado para esta atividade. Podendo ser reservado um tempo para discussio no coletivo (que também pode incluir, dentro do possfvel, alguns membros da Equipe de Educacdo) e outro tempo para que cada professor faga o registro de seu plano semanal e prepare para a aula de segunda-feira. Por exemplo, no sdbado de ‘mand ou 3 tarde: uma hora para o planejamento em equipe, uma hora para estudo de algum contetido ou questo ligada ao tema em que se necessite de aprofundamento © mais duas horas para registro e preparacdo pessoal de cada professor. Nao parece pratico? Sugestdes de passos para este planejamento: a) AVALIACAO DA SEMANA ANTERIOR © momento de refletir sobre o trabalho desen- volvido na semana anterior; em que medida os objetivos foram alcangados, como esté sendo o desenvolvimento do tema, 0 aproveitamento da turma, de cada aluno; situagdes que merecem andlise e trabalho posterior na préxima semana. Esta avaliagdo certamente terd mais qualidade se cada professor ou professora for anotando as obser- vagdes e reflexSes que faz sobre a aula diariamente (veja a préxima etapa do planejamento). Neste momento serd socializar, aprofundar a reflexio ¢ definie prioridades de ago para seguir no caminho tragado, b) DEFINIGAO DE OBJETIVOS E METAS PARA A SEMANA Quer dizer, traduzir os objetivos que estio no plano temético em objetivos menores ou metas especfficas que possam ser atingidos no perfodo de uma semana, Além disso, podem ser inclufdos novos objetivos que se definam em fungdo da andlise do desempenho da turma, ou em vista de desafios extras que sero assumidos pelos alunos nesta semana. Quanto mais concretos e detalhados forem estes objetivos, mais facilidade o grupo teré de avaliar se © trabalho est4 dando certo ou se ainda precisa de ajustes. ©) ESCOLHA CONTEUDOS SEMANA A partir da lista preparada no plano tematico, é s6 verificar quais deverdo ser trabalhados nesta semana. Em fungdo dos objetivos, das atividades ligadas a0 desenvolvimento do tema e do tempo disponfvel. E importante no planejamento fazer uma selegao por dreas, para ajudar a manter um certo equilfbrio nha abordagem: no trabalhar durante a semana s6 com uma rea ou duas. Se possfvel, é bom trabalhar contetidos de todas as dreas, mesmo que alguns, como vimos antes, nao tenham rela¢ao direta com 0 tema. Mas durante esta selegio, os professores jf podem ir levantando alternativas de como garantir ‘que os contexidos sejam tratados de forma relaciona- da, envolvendo varias disciplinas ao mesmo tempo. Também aqui é necessdria a previsdo de contet- dos para cada série, no caso de serem turmas multis- seriadas, pos DA d) DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES LIGADAS AO TEMA GERADOR As grandes atividades previstas para 0 desenvol- vimento do tema precisam agora de um planejamento especifico. Primeiro temos que decidir quais delas vao acontecer nesta semana. E depois prever os Passos e o tempo a ser destinado a cada uma delas, Na escola e em casa. Atencdo especial deve ser dada ao desenvolvimen- to dos contetidos: qual a didatica que utilizaremos para ensind-los? MST 27 Caderno de Educagio n° 6 ©) PREVISAO_E DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES Este € 0 momento de prever aquelas atividades que nao tém ligacdo com o tema, mas sim, com o planejamento da escola. E nesta semana que vamos comecar a ensaiar a pega de teatro para apresentar & comunidade? J4 estd na hora de tirar um tempo para refletir com os alunos como est o andamento do trabalho que estdo realizando nos setores da escola? E aquele dirigente do MST estadual que vai estar no assentamento nesta semana: nao € 0 caso de trazé-lo para conversar sobre a luta com as eriangas? ‘Também aqui pode ser inctufdo o planejamento dos estudos de contesidos complementares, previstos no item dos contetidos: Como vamos fazer para reforgar a nogdo do espaco (geogréfico) da turma, que tem dificuldades de localizacao? f) PREVISAO E ORGANIZACAO DE RECURSOS NECESSARIOS Dos recursos previstos no plano temético, veri car quais serdo necessdrios nesta semana, se jé foram abtidos ou contatados e o que ainda temos por fuzer Sugesto de roteiro para registro escrito: - PROCEDIMENTOS DE AVALIAGAO E 0 momento de xecar se as pessoas convidadas confirmaram presenga ou terdo de ser substitu(das, E também € 0 momento de organizar © maior nimero possivel dos materiais a serem utilizados durante ‘semana, evitando assim, as correrias de tiltima hora. g) DETALHAMENTOS DOS Prever critérios e elaborar pelo mens 0 esbogo dos instrumentos de avaliagdo a serem utilizados. Em relagdo aos alunos, a0 desempenho do professor ou da professora, e a0 desenvolvimento das atividades. Em relagdo aos alunos, se ainda nfo tem, é hora de prever e organizar um Caderno de Registros sobre © processo de aprendizagem de cada aluno. No mesmo Caderno & posstvel reservar vérias folhas para cada aluno e ir anotando, diariamente as obser- vagdes feitas sobre as suas dificuldades, destaques, comportamentos que merecem atencao. Observaco: Quanto mais detalhado for o planeja- mento semanal, mais breve poderd ser o planejamento didrio, E importante que os professores levem isso em conta para melhor distribufrem 0 tempo de seu trabalho. 1, Tema Gerador 2. Objetivos e metas 3. Contetidos Por area Por série 4. Atividades ligadas ao tema 5. Atividades complementares 6. Recursos 7. Avaliago 8. Bibliografia a ser utilizada com os alunos PLANO SEMANAL 28 MST Caderno de Educagio n° 6 4° ET, nes PLANEJAMENTO. DL Tarefa individual de cada professor/professora. Trata-se do momento didrio em que reflete sobre a aula realizada e prepara a seguinte, fazendo os ajus- tes necessdrios ao plano semanal. E também o momento de pensar no proceso de cada aluno: registrar as observagdes no Caderno, analisar os registros dos dias anteriores e decidir o que fazer para acelerar a aprendizagem de todos, ¢ especialmente, como ajudar os alunos com dificuldades, No caso de um plano semanal ter sido bem detalhado, 0 planejamento didrio seré mais uma reparacdo espectfica do professor/professora para a proxima aula: estudar detalhes do contetido, organizar os materiais, criar alguma novidade ou motivacio para o infcio da aula, prever a tarefa que serd dada para fazer em casa, ler os cadernos dos alunos, Neste sentido néo hé passos espectficos ou suges- io de roteiro, porque nao hé necessidade de um pla- no didrio. A nio ser que o professor/professora se sinta mais seguro e queira elabord-lo. Daf o roteiro pode ser 0 mesmo do semanal, s6 adequando para 0 tempo de um dia. documento que pode ficar sempre junto, para consulta durante a aula, € 0 prdprio plano semana. O registro escrito que sugerimos para o planeja- mento diario € um Caderno de Reflexdes, onde a cada dia 0 professor/professora vai registrando suas reflexdes sobre a prética: que ligdes o processo ensina; quais fatos mais marcantes do dia; em que 0 planejamento furou e porque; o que precisa qualificar em seu trabalho educativo... e assim por diante, Se preferir, este registro pode ficar junto com o Cader- no ou Pasta onde se registra o plano semanal. O importante € no deixar de escrever. Porque o ato de escrever sobre o que fazemos nos estimula a refletir vai organizando melhor nossas idéias. Pode experi- mentar para voce verificar como isso é verdade mesmo! Lembrete: Além dos niveis € tipos de planejamento que tratamos aqui, 6 preciso lembrar que qualquer atividade a ser realizada requer um planejamento especifico. Ou seja, 0 programa definido para a escola no plano anual, para ser cumprido necessita que cada atividade seja planejada e executada pelos responsiiveis. Os alunos, a medida que vio assumindo tarefas ligadas ao funcionamento € gestiio da ‘escola, também precisam ser estimulados a elaborarem seus PLANOS DE TRABALHO, ‘onde constem as tarefas, os prazos, os responsdyeis, as formas de controle... MsT 29 Caderno de Educagio n° 6 Revendo a caminhada Neste Caderno tratamos das principais questées do chamado PLANEJAMENTO ESCOLAR. Tra- gamos téticas para nosso. planejamento estraté- gico, coletivo. Ou seja, organizamos um método para construir, paso a passo, a escola que queremos. Vamos agora rever num quadro-resumo, os diversos niveis de planejamento e as instancias do coletivo que mencionamos neste texto: PLANEJAMENTO GLOBAL PLANEJAMENTO ANUAL Abaixo 0 improviso ¢ seu autoritarismo! Preci- samos ter coragem para definir ¢ redefinir objetivos ce agdes. Nossa organizagdo exige nosso compromisso e seriedade. A educacdo faz parte de um projeto maior. Todos somos convocados a participar do seu desenvolvimento, COMUNIDADE, Ud EQUIPE DE EDUCACAO CONSELHO ESCOLAR PLANOS DE TRABALHO PLANEJAMENTO GERAL, DAS AULAS COLETIVO DE PROFS. PLANEJAMENTO TEMATICO COLETIVO. DE OUTROS ‘TRABALHADORES PLANEJAMENTO SEMANAL COLETIVO DE ALUNOS PLANEJAMENTO DIARIO. PROFESSOR/PROFESSORA 30 MST. Caderno de Educagio n° 6 Mas como jé disse alguém : A MELHOR MA- NEIRA DE TESTAR UMA TEORIA E A PRA- TICA. Por isso, para quem ainda no tema experiéncia de trabalhar desta forma, planejada- mente, 0 desafio € comecar a fazer isso. Daf volta- mos a nos encontrar para refletir sobre a nossa Prética e, quem sabe, revisarmos todo este planeja- mento. Boa prética! MST 3 Caderno de Educagio n° 6 Bibliografia de apoio 1, BRIGUENTI, Agenor. Metedologia para um processo de planejamento participativo. 2* ed., Sio Paulo, Paulinas, 1988, 2, FERREIRA, Francisco Whitaker, Plancjamento sim © nio, 12% ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992. 3. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz Terra, 1974 4. FUNDEP. Coragem de educar, Uma proposta de educagio popular para.o meio rural. Petrdpolis, Vozes, 1994. 5. GANDIN, Danilo. Planejamento como prética educativa, 3* ed., Sdo Paulo, Loyola, 1986. 6. MST. Como faver a escola que queremos. Caderno de Educagio n° 1. Sio Paulo, 1992. 17. MST. Escola, trabalho © cooperagi. Boletim da Eéueagion® 4, Sio Paulo, 1994 8. PISTRAK. Fundamentos da escola do trabalho. Sio Paulo, Brasiliense, 1981 "Em uhima instancia, 0 que diferencia 0 homem dos ‘animais, € a capacidade desenvolvida pelo homem de realizar um trabalho planejado, para alcangar determinados objetivos." (Engels, 1876) 32 MST Caderno de Educagio n° 6 1 — Levantamento de informagdes 2 — Andlise da realidade 1, LEVANTAMENTO DE INFORMAGOI 1.1 Dados de identificagio 1.1.1 — Nome do Assentamento ou Acampamento 1.2 — Data do inicio do Assentamento/Acampa- mento 1.1.3 — Tamanho da drea 1.1.4 — Numero de familias existentes: n° de crian- gas, n° de mulheres, n° de homens 1.1.5 — Tamanho do lote de cada familia 1.1.6 — Municipio e Estado onde se localiza, 117 — 1.2. Dados sobre a produgio 1.2.1 —O Assentamento tem Iinhas de produgdo definidas? Quais s40? Que critérios foram utilizados para definir estas linhas? 1.2.2 — Qu sdo os produtos agricolas do Assen- tamento? 1.2.3 — Ha trabalho com animais? Qu 1.2.4 — Faga o levantamento dos custos de produ- ¢4o dos principais produtos agrfcolas (¢ ou- tos) do Assentamento, 1.2.5 — Que tipo de tecnologia € empregada no trabalho agropecudrio? 1.2.6 — Ha algum tipo de agroinddstria no Assenta- mento? 1.2.7 — Quem participa da produgdo no Assenta- mento? 1.2.8 — O resultado total da produgao do Assenta- ‘mento esté voltada para: * Subsisténcia Diagnéstico da realidade — Sugestio de roteiro Anexo I: © Subsisténcia e mereado + Mercado 1.2.9 — Existe alguma atividade extrativista no Assentamento? Qual? 1.2.10- . 1.3 Dados sobre a organizagio do Assentamento 1.3.1 — Como estd organizado o trabalho? Indivi- dual? Coletivo? Semicoletivo? (Coletivo em qué?) 1.3.2 — Qual a forma de organizagdo do Assenta- mento? Existem grupos coletivos? Associa- ges? Cooperativa? Existe uma coordena- g40 do Assentamento? Existem setores de atividades?... 1.3.3 — Qual a instancia maxima de poder no As- ‘sentamento? 1.3.4 — Em que se dé a participagdo das mulheres no conjunto do Assentamento? 1.3.5 — Em que se dé a participacdo dos jovens das criangas no Assentamento? 13.6 —.. 1.4 Dados sociais, culturais e politicos 1.4.1 — Como moram as familias do Assentamento? Nos lotes individuais ou numa agrovila? 1.4.2 — Como sao as casas: de lona, de madeira, de alvenaria, de outro material? 1.4.3 — No Assentamento tem luz elétrica? 1.4.4 — No Assentamento tem agua encanada? 1.4.5 — Como acontece 0 atendimento da sade? Ha posto de satide? Hé médicos que vem no Assentamento? A que distincia fica 0 atendimento de emergencia mais préximo? Hi farmédcia caseira no Assentamento? MST Caderno de Educagio n° 6 1.4.6 ~ Quais so os meios de comunicagdo que existem no Assentamento? Quais os meios de transporte utilizados pelos assentados? Quais as condigies das estradas 1.4.8 — Que religides existem no Assentamento? 1.4.9 — Qual origem dos assentados? Lugares ¢ ragas. 1.4.10— Quais as datas que costumam ser celebra- das/comemoradas? .11— Que tipo de lazer existe? .12— A que distancia fica a sede do municipio mais proximo? 1.4.13— Quantas pessoas so s6cias de sindicatos? ‘Quais os sindicatos? 1.4.14 Quantas pessoas «so filiadas a partidos politicos? Quais partidos politicos que tm 14.7 filiados? 1.4,15— Que entidades costumam apoiar 0 Assenta- mento? 1.4.16— O Assentamento costuma participar das Jutas do MST? 1.4.17— O Assentamento tem pessoas liberadas para o MST? Quantas? O que esto fazendo? 1.4.18— Existe algum Niicleo de Militantes no Assentamento? 1.4.19— Existe Equipe de Educagao no Assentamento? 14.20— . 1.5 Dados sobre 0 meio ambiente 1.5.1 — Como € a qualidade de dgua no Assenta- mento? 1.5.2 — Descreva as condigdes do solo e do lima. 1.5.3 — Como ¢ feita a conservagio e corregio do solo? E adubagio verde? Organica? Outras formas? 1.5.4 — Existe algum riacho, rio ou vertente de gua no Assentamento? 1.5.5 — Existe problema de eroséo no Assentamen- 10? 1.5.6 — Existe alguma drea de floresta? 15.7 —O que € feito com o lixo do Assenta- 1.6 Dados sobre educagio 1.6.1 — Quantas escolas existem no Assentamen: to/Acampamento? 1.6.2 — Quantos professores lecionam em cada uma delas? H4 outras pessoas que trabalham na(s) escola(s)? Quantas? O que fazem? Como foi escolhida a direcao da escola? 1.6.3 — Como séo as condigées fisicas da escola? 1.6.4 — Quantas criangas hi em cada escola? Na 1? série, na 2*,’na 3%, na 4, de 5? a 8 séries? 1.6.5 — A escola realiza algum tipo de atividade envolvendo a comunidade? Quais? 1.6.6 — Existem analfabetos mo Assentamento? ‘Quantos? 1.6.7 ~ Existe algum trabalho de alfabetizagio de Jovens e adultos no Assentamento? Quantas pessoas esto envolvidas? A partir de quan- do comecou? 1.6.8 — Existe creche e pré-escola? Quem faz o trabalho? Quantas criangas estdo envolvi- das? 1.6.9 — Que outras atividades de educacdo aconte- cem no Assentamento? 1,6.10— Quais os materiais produzidos pelo Setor de Educagdo que j4 foram lidos ou estudados pelos assentados ou acampados e pela Equipe de Educagio? 11— Existem efreulos ou grupos de leitura? -12— Qual € a instancia do Assentamento que decide sobre as questies de edu- cago? 1.6.13—... ae 2, ANALISE DA REALIDADE 2.1 A partir das informagies levantadas e de discussio feita na comunidade, responda: Quais so os principais problemas deste Assenta- mento/Acampamento? E quais so as causas destes problemas? (Se preferir pode analisar bloco por bloco das informagées, ou seja, quais os principais mento? problemas na drea da produgdo, da organizagio, da 15.8 —... educagio, e assim por diante), Observacio: Este roteiro foi elaborado para a utilizagio dos professores de Acampamentos e Assentamentos que esto fazendo 0 curso Magistério na escola do Departamento de Educagio Rural — DER/FUNDEP, em Braga/RS, em julho de 1994. MsT Caderno de Educagio n° 6 PLANO TEMATICO, 1, DADOS DE IDENTIFICACAO 1.1 — Escola Estadual Chico Mendes — Assenta- mento 25 de Maio 1.2 — Turma: A 1.3 — Séries: 3* e 44 1.4 — N° de alunos: 22 3? série: 14 alunos (8 F e 6 M) 4? série: 8 alunos (3 Fe 5 M) 1.5 — Professora responsdvel: Marisa da Silva 2. DESCRICAO DO TEMA 2.1 — Titulo: A produgdo e a comercializagiio de carvao nos Assentamentos da regiao oeste de SC. 2.2. — Origem e importancia do tema: Através do diagnéstico da realidade do Assenta- mento, percebemos que a questo do carvdo € central por aqui. Os assentados comegaram a produzir carvéo como uma alternativa para o sustento, jd que a roca nio estava dando conta. A maioria das erian- gas deste Assentamento trabalha nos fornos de carvio. $6 que a situaco nJo est nada boa, porque além deste tipo de trabalho causar muitos problemas de saiide, tanto nos adultos como nas criancas, hd dividas se 0 carvao € realmente uma alternativa vidvel de geragao de renda. Até porque a comerciali- zacio é feita por atravessadores e os assentados nao se organizam para fazer frente & exploragdo que acabam sofrendo. Conversando por af, ficamos sabendo que esta realidade ndo € s6 deste Assentamento, mas sim de toda a regio. E também constatamos que a maioria dos assentados, ndo sabe fazer 0 célculo dos custos de produco do carvao, para analisar a sua viabilida- ae. Exemplo de plano de aula Anexo II: ‘Trazer esta discussio para dentro da sala de aula pode ser muito importante para provocar uma an: um debate no conjunto do Assentamento... 2.3 — Questies que envolve: a) Por que os Assentamento da regido estio optando pela producdo do carvao? Qual a trajetéria da producdo nestas dreas desde que foram criadas? b) Como acontece a comercializago do car- vo? Por que se diz que hd exploragdo de alguns trabalhadores sobre outros? ©) Por que neste Assentamento nao hé mais trabalho coletivo? © que aconteceu? 4) Como se dé o trabalho das criangas nos fornos? ©) Como acontece a produgao de carvao? 1) Qual 0 custo de producdo do carvao? Qual a média da regiao? Comparando com a produgio de outros produtos, 0 que se constata? 2) Quais os problemas de saide causados pelo trabalho com o carvao? Por que ‘ocorrem? h) Afinal, vale & pena produzir carvio? E comercializar, vale? Qs 3. OBJETIVOS 3.1 — Em relacdo ao tema: a) Despertar para a necessidade de fazer cdlculos de custo de produgéo e de co- mercializaydo do carvao. b) Capacitar a aluno para fazer estes cAlcu- los de custo de produgdo. ©) Entender como acontece 0 proceso de produgéo do carvao, e quem lucra com esta producdo na regio. 4) Comparar a produgdo de carvio e de outros produtos nos Assentamentos da regito MST 35 Caderno de Educagio n° 6 ©) Pesquisar e discutir sobre as conseqiign- cias do trabalho com carvao para a satide das pessoas, buscando alternativas para superar os problemas. f) 3.2 — A propésito do tema: a) Promover um intercambio entre os alunos deste e de outros Assentamentos da re- gido. b) Provocar no Assentamento uma reflexio sobre as condigiies do trabalho das erian- {gas © suas conseqiiéncias. ©) Desenvolver a capacidade de organizacao coletiva das eriangas. 4) Despertar o interesse pela pesquisa cientt- fica, aprendendo os seus pasos basicos. ©) Aproveitar o saber que os alunos trazem do seu mundo de trabalho. fy 3.3 — Em relagio a cada série: 3 série: maior énfase no estudo sobre a sade... 4? série: maior énfase no estudo dos custos de produsdo. 4, CONTEUDOS: Por area: Matemética: 4 operagdes; medidas de capacidade, peso © comprimento; fragées; porcentagem: juro: tabelas e gréficos, problemas envolvendo célculo de custos de produgio. Estudos Sociais: exploragio do carvdo na regi no estado € no pats; relevo & vegetacio da regi utilidade do carvao; etapas do processo produtivo do carvo € comparagio com outros processos; © que Jo custos de produgo e como se calculam; histéria da produgao agricola na regio; histdria dos Assenta- mentos da regio; 0 que so meios de producao; 0 que € comercializacao e quais as formas; formas de organizagao do trabalho existentes nos Assentamen- tos; reforgo nas nogdes de tempo ¢ espago. Ciencias: recursos naturais, reflorestamento; composigao do carvao; adubaao organica (partindo da utilizagdo do carvao); poluiggo do ar: 0 que é, como surge, quais tipos e conseqiiéncias; o fendmeno da combustéo; corpo humano: aparelhos respiratério e circulatorio; principais doengas; habitos de higiene; cuidados para quem trabalha com 0 carvio, Comunicasio e Expressio: leitura e interpretagao de textos; produgio de textos: entrevistas, relatsrios, convites, offcios..., prestando atengao na capacidade de expresso, sintese, ortografia © concordancia; expressZo oral : entrevistas, articulacdies, exposigdes, cantos, declamacio, dramatizaglo...; téenicas de elaboragio de cartazes...; téenicas de discussio & debate; técnicas de elaboragao de jornal 5. METODOLOGIA. As grandes atividades previstas sdo as seguintes: a) Pesquisas bibliogréficas sobre 0 carvlo e sew proceso de produgdo e sobre as implicagdes na satide. Busca de dados também com insti- tuigdes tipo IBGE e outras, para estatisticas. 'b) Pesquisa de campo sobre a produgao de carvo no Assentamento e sobre a comercializacao, ©) Visitas dos alunos a pelo menos dois outros Assentamentos da regido para pesquisa de campo e intercdmbio com as criangas e jovens. 4) Seminério com os assentados para exp discussio dos resultados das pesquisas. &) Elaboragio de um painel com gréficos e tabe- Jas mostrando dados comparativos da producdo de carvao na regido, incluindo custos de produgdo. f) Produgio de um jornal para divulgagdo dos resultados do estudo e que poderd continuar sendo produzido depois. O estudo do tema poderd iniciar com a visita dos alunos a um dos fornos de carvao e a entrevista com alguns assentados sobre a produgdo. Ea culminancia poderd ser neste Semindrio com os assentados, onde os alunos, através de suas equipes, mostrardo os resultados dos seus estudos e se far uma discussio. ‘Um ponto alto deverd ser a visita a outros Assenta- mentos que deverd ser organizada pelos proprios alunos. Na sala de aula vamos dar bastante énfase & produgdo de textos e aos problemas envolvendo os custos de produgd 6, RECURSOS NECESSARIOS 6.1 — Humanos: Participagiio. de assentados nas aulas sobre 0 proceso de produgo do carvao; podemos trazer 36 MST Caderno de Educagio n° 6 agentes de savide para explicar os efeitos do trabalho nos fornos de carvao; © precisamos da assessoria de uum técnico para os estudo sobre os custos de produ- 40, j4 que nao estamos com muita firmeza nisso; 0 pessoal da Entidade X poderia vir fazer uma oficina de elaboracdo de jornal 6.3 — Como obter os recursos: 6.2 — Materiais: Livros e revistas sobre o tema; papel para os cartazes, para 0 jornal...; recursos econd- micos para a viagem, para a reprodugio do Jornal... Tarefas Responséveis Prazo 1. Contatar os assentados e acertar pai Marisa tres dias pagdo 2. Contatar agente de saiide e acertar agen- Rejane uma semana da 3. Conversar com a lideranca para indicar Rejane dois dias técnico 4. Contatar téenico Rejane uma semana 5. Buscar materiais na Prefeitura Marisa uma semana 6. Retirar livros na biblioteca municipal Marisa a cada semana 7. Contatar com a Entidade X para oficina Jodo duas semanas sem cobranga de honor4rios 8. Contatar os Assentamentos proximos Joaquim uma semana para verificar se é possivel a visita e abrir caminho para a articulagZo dos alunos 9. Encaminhar com os alunos: orgamento Marisa 1 semana de estudo das viagens, do jornal e busca de recur- do tema sos 7. PROCEDIMENTOS DE AVALIACAO. 7.1 — Em relago aos alunos © Um teste escrito individual a cada duas semanas, envolvendo os contetidos estu- dados. * Andlise dos relatérios de pesquisa e outros produtos escritos: felta pelos alunos (nas equipes) e pela profes- sora ‘ Andlise das exposigdes orais e do desem- penho nas entrevistas e nos semindrios. Pelos alunos e professora. * Critica e autocritica em relagdo as tarefas assumidas e envolvimento no estudo. Feita entre os alunos, com o acompanha- mento da professora. 7.2. ~ Em relagio & professora * Organizar um momento a cada duas semanas para que os alunos, em equipes, MST 37

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