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LIÇÃO 4

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO DA 4ª LIÇÃO DO 2º TRIMESTRE DE


2018 – DOMINGO, 22 DE ABRIL DE 2018

ÉTICA CRISTÃ E ABORTO

Texto áureo

“Os teus olhos viram o meu


corpo ainda informe, e no teu
livro todas estas coisas foram
escritas, as quais iam sendo dia
a dia formadas, quando nem
ainda uma delas havia.” (SL
139.16)
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE – Salmos 139. 1-18.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Sejam bem-vindos, distintos leitores, a mais uma lição deste trimestre. Desta
feita estudaremos assuntos muito em voga na atualidade e que trás uma carga forte
de alerta a nossa sociedade como um todo.

Abordaremos, nesta 4ª Lição, os seguintes assuntos: Aborto, conceito geral e


bíblico; o embrião e o feto são um ser humano e tipos de abortos e suas
implicações. Portanto, tenham um bom estudo!!!

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I – ABORTO: CONCEITO GERAL E BÍBLICO

1. Conceito geral de aborto.

De acordo com o estudo etimológico das palavras, a palavra aborto vem do


latim “abortus”, que, por sua vez, deriva do particípio do verbo aborior, palavra
composta que significa: “ab” – privar; e “orior” – levantar-se, sair, aparecer, nascer.
Aplicou-se com frequência na literatura latina ao ocaso dos astros, como morte ou
desaparição prematura. Este conceito é usado para fazer referência ao oposto de
orior, isto é, o contrário de nascer. O penalista Heleno Cláudio Fragoso
(1986),ensina que o “aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do
feto”.

Como tal, o aborto é a interrupção do desenvolvimento do feto durante a


gravidez, desde que a gestação ainda não tenha chegado às vinte semanas.
Ocorrendo fora desse tempo, a interrupção da gravidez antes do seu termo tem o
nome de parto prematuro.

Segundo estudos nesta área, existem dois tipos de abortos: o espontâneo ou


natural, e o induzido ou artificial. O aborto espontâneo ocorre quando um feto se
perde por causas naturais. De acordo com as estatísticas, entre 10% a 50% das
gravidezes acabam num aborto natural, condicionado pela saúde e pela idade da
mãe. O aborto induzido, por sua vez, é aquele que é provocado com o objectivo de
eliminar o feto, seja ou não com assistência médica. Calcula-se que, todos os anos,
cerca de 46 milhões de mulheres recorrem a esta prática, em todo o mundo. Desse
total, cerca de 20 milhões praticam abortos inseguros, sujeitas a pôr a sua vida em
risco.

2. O aborto no contexto legal.

Juridicamente falando, aborto é a descontinuação dolosa da prenhez, com ou


sem expulsão do feto, da qual resulta a morte do nascituro.

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De acordo com Jorge Hesse, Jornalista, professor e historiador licenciado
pela UnB,

Sempre houve leis severas contra a prática do aborto na humanidade. No


século XVIII a.C., o Código de Hamurabi destacava aspectos da reparação
devida a mulheres livres em casos de abortos provocados, exigindo o
pagamento de 10 siclos pelo feto morto. Na Grécia antiga, as leis de
Licurgo e de Sólon e a legislação de Tebas e Mileto tipificavam o aborto
como crime. Hipócrates, uma das figuras mais importantes da história da
saúde, frequentemente considerado "pai da medicina", negava o direito ao
aborto e exigia dos médicos jurar não dar às mulheres bebidas fatais para
a criança no ventre. Na Idade Média, a Lex Romana Visigothorum editava
penas severas contra o aborto. O Código Penal francês de 1791, em plena
Revolução Francesa, determinava que todos os cúmplices de aborto
fossem flagelados e condenados a 20 anos de prisão. O Código Penal
francês de 1810, promulgado por Napoleão Bonaparte, previa a pena de
morte para o aborto. Posteriormente, a pena de morte foi substituída pela
prisão perpétua. Além disso, os médicos, farmacêuticos e cirurgiões eram
condenados a trabalhos forçados.

Segundo Laís Amaral Rezende de Andrade, editora da Jus.com.br, “o aborto é


contemplado, pela primeira vez, em legislação específica, no Brasil, em 1830, com a
promulgação do Código Criminal do Império”. O Capítulo referente aos “Crimes
contra a segurança da pessoa e da vida”, estabelecia:

Art.199 – "Occasionar aborto por qualquer meio empregado interior ou


exteriormente com consentimento da mulher pejada. Penas - de prisão com trabalho
por um a cinco annos.

Se este crime fôr commettido sem consentimento da mulher pejada. Penas -


dobradas."

Art.200 – "Fornecer com conhecimento de causa drogas ou quaesquer meios para


produzir o aborto, ainda que este não se verifique. Penas - de prisão com trabalhos
por dous ou seis annos

Se este crime fôr commettido por medico, boticario, cirurgião ou praticante de taes
artes. Penas – dobradas” .

Ainda de acordo com Laís:

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Verifica-se, pois, que o auto aborto não era previsto como crime nem se
atribuía à mulher qualquer atitude criminosa pelo consentimento para o
aborto praticado por terceiros, sendo o bem tutelado a segurança da
pessoa e da vida. Era a sociedade do Brasil Império avançada? De forma
alguma, apenas a prática do aborto integrava os costumes, o cotidiano das
pessoas, onde importava punir aquele que atentasse contra a necessidade
de crescimento de uma população nacional.

Atualmente, tramitam no Congresso Nacional 11 projetos referentes à prática


do aborto, grande parte deles ampliando os casos de permissivos legais - no caso
de gestante portadora de HIV, quando o produto da concepção seja portador de
graves e irreversíveis anomalias, se a gravidez determinar perigo de vida para a
saúde física e psíquica da mulher -, alguns pela descriminalização do aborto, e um
que versa a obrigatoriedade de atendimento, pelo Sistema Único de Saúde, dos
casos de aborto já previstos no Código Penal. Este último desnecessário, não fosse
a resistência na implantação de serviços que garantissem o aborto quando a
gravidez resulte de estupro ou coloque em risco a sobrevivência da mulher –
conforme o dispositivo legal de mais de 5 décadas, posto que implica somente na
vontade política do poder executivo.

3. Conceito bíblico de aborto.

Em Êxodo capítulo 21, versículos 22 e 23, assim está escrito:

(v. 22) ”Se alguns homens pelejarem,


e um ferir uma mulher grávida,
e for causa de que aborte,
porém não havendo outro dano,
certamente será multado,
conforme o que lhe impuser o marido da mulher,
e julgarem os juízes.”
(v.23) “ Mas se houver morte,
então darás vida por vida,”

No artigo intitulado: Bioética: O Judaísmo frente ao Aborto, temos a seguinte


explicação, concernente ao tema proposto, e que merece nossa compreensão:

“Para uma clara compreensão de quando o aborto é permitido (ou até


exigido) e quando é proibido, deve haver uma avaliação de certas nuances da
halachá (Lei judaica) que determinam a condição do feto.”
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“O caminho mais fácil para formar um conceito acerca de um feto pela
halacháh é imaginando o feto como um ser humano crescido - mas não o bastante .
Na maioria das situações, o feto é tratado como qualquer outra "pessoa".
Geralmente, não é permitido prejudicar um feto deliberadamente. Entretanto,
enquanto parece óbvio que o Judaísmo apoia o aborto justificável, existem certas
sanções também para aquele que tenha atingido uma mulher grávida, causando-lhe
um aborto, sem ter tido essa intenção . Isto quer dizer que nem todas as citações
rabínicas consideram o aborto um assassinato. O fato da Toráh exigir um
pagamento monetário daquele que provocou um aborto é interpretado por alguns
Rabinos como indicando que o aborto não é um crime mortal e por outros indicando
meramente que a pessoa que o fez não será executada, embora se trate de um tipo
de assassinato. Não obstante, há concordância unânime de que o feto se tornaria
um ser humano crescido e que, portanto, deverá haver um motivo muito forte para
permitir o aborto”.

“Como uma lei geral, o aborto no Judaísmo só é permitido se exister alguma


ameaça direta para a vida da mãe durante a gravidez ou no ato de dar à luz. Em tal
circunstância, o bebê é considerado um rodef, perseguidor da mãe, com o intento de
matá-la. Não obstante, como explicado na Mishnáh, se fosse possível salvar a mãe
deformando o feto, por exemplo, amputando-lhe um membro, o aborto estaria
proibido. A despeito da classificação do feto como um perseguidor, uma vez que a
cabeça do bebê ou a maior parte de seu corpo já tenha nascido, a vida do bebê tem
o mesmo valor que a da mãe, não sendo permitido escolher uma vida entre as duas,
pois se considera como se estivessem perseguindo um ao outro.”

Portanto, como diz Fábio Konder Comparato1: “[...] é preciso reconhecer que
há certos extremos, nada banais, em que a supressão do feto, por razões de
preservação de um valor humano superior, deixar de ser moralmente reprovável e,
por conseguinte, não deve ser considerado um ato ilícito”.

1
COMPARATO, Fábio Konder. Ética – Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno, São Paulo:
Companhia das Letras, 2006.

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Contudo, lembremos: Estes posicionamentos devem sempre ser pautados
sobre a ótica da Ética, da Medicina, do Código Penal vigente, da Bioética, da
Constituição, e, sobretudo das Sagradas Escrituras, que, inequivocadamente,
sempre é a favor da vida, pois Deus é o autor e a fonte da vida (Gn 2.7; Jó 12.10),
daí, ser dEle apenas, a palavra final.

4. Aborto na história da Igreja.

Em seu artigo - A Igreja e o aborto: uma síntese histórica, Ivanaldo Santos,


assim, argumenta:

“A rejeição ao aborto aparece em toda a história da Igreja, desde os documentos


dos primeiros cristãos, como, por exemplo, a Didaqué, a qual explicitamente
recomenda que “Não mate a criança no seio de sua mãe [o aborto], nem depois
que ela tenha nascido [o infanticídio]” (n. 2, 2). A Didaqué foi escrita
provavelmente no final da década de 90 d. C., logo, neste período, ainda haviam
apóstolos vivos. Por exemplo, o apóstolo João só morre, em Éfeso, no ano 103 d.
C. Esse fato demonstra como a rejeição ao aborto era presente na geração
apostólica e nos primeiros cristãos. Já a Epistola de Barnabé, outro documento
cristão do final do século I, analogamente a Didaqué, recomenda: “Não farás
morrer a criança no seio da mãe [o aborto], tampouco após o nascimento [o
infanticídio]”. Assim como a Didaqué, a Epistola de Barnabé também foi publicada
antes da morte do apóstolo João. Como se pode ver, desde a geração apostólica
que os cristãos rejeitam o aborto. Após a publicação da Didaché e da Epistola de
Barnabé se dá uma linha continua de testemunhos inequívocos dos Padres da
Igreja e dos escritores eclesiásticos, do Oriente e do Ocidente, sem nenhuma voz
discordante. Tetuliano, Santo Agostinho e Cesário de Arles são os autores deste
período que possuem mais intervenções em relação ao aborto. Apenas como
exemplo cita-se a seguinte passagem de Santo Agostinho: “Às vezes, chega a
tanto esta libidinosa crueldade, ou melhor, libido cruel, que empregam drogas
esterilizantes, e, se estas resultam ineficazes, matam no seio materno o feto [o
aborto] concebido e o jogam fora, preferindo que sua prole se desvaneça antes de
ter vida, ou, se já vivia no útero, matá-la antes que nasça [o aborto]. “Repito: se
ambos são assim, não são conjugues, e se tiveram esta intenção desde o
princípio, não celebraram o matrimônio, mas apenas pactuaram um concubinato”.
Aqui cabe ressaltar a dúvida de Santo Agostinho e de outros teólogos – dentre
eles Santo Tomás – sobre o início da vida. É verdade que pela tradução grega da
Bíblia foi criada uma distinção entre feto formado e feto não formado (distinção
derivada do pensamento grego e não existente no texto hebraico original de
Êxodo 21, 22-23). Porém, ainda que estes teólogos – pelas poucas ferramentas
científicas que possuíam – tivessem realmente tal dúvida, jamais defenderam que
o aborto seria lícito. Pelo contrário, Santo Agostinho afirma que ainda que não
estivessem formados (segundo a sua concepção) mereciam todo o respeito de
uma vida humana por aquilo que chegariam a ser. No caso explicito do aborto,
Tomás de Aquino afirma que de “nenhum modo é lícito matar ao inocente [o feto
ainda no ventre da mãe]”. Além disso, ele afirma que o que “fere a mulher grávida
faz algo ilícito, e, por esta razão, se disso resulta a morte da mulher ou do feto
animado, não se desculpa do crime de homicídio, sobretudo, quando a morte
segue certamente a esta ação violenta”.

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Deste modo, temos testemunhas importantes que são unanimes em afirmar
que o aborto é uma prática abominável aos olhos de Deus e da humanidade.

II – O EMBRIÃO E O FETO SÃO UM SER HUMANO

1. Quando começa a vida?

O Pr. Silas Malafaia, sobre este tema, assim argumenta: “A biologia, ciência
que estuda os seres vivos, afirma que a vida começa na concepção; é contínua, seja
intra ou extrauterina, até a morte do ser. Isto também é aceito pela genética, pela
embriologia e pela medicina fetal. Se a vida começa na concepção, abortar um ser
humano, em qualquer estágio da vida dele, é assassinato.”

E continua: “Sabe quais as diferenças entre um óvulo fecundado e um bebê?


O tempo de vida, o tamanho e a forma, o desenvolvimento e o tipo de nutrição. O
zigoto tem apenas alguns dias de existência, é minúsculo e ainda não se
desenvolveu o suficiente para parecer um ser humano, mas é tão humano quanto eu
e você, porque possui todas as informações genéticas para crescer e desenvolver-
se como tal. Ele se alimenta dos nutrientes no fluido amniótico da placenta, via
cordão umbilical. Já o bebê tem mais tempo de vida, é pequeno, apresenta forma
humana, e sua alimentação é ministrada pela mãe ou outra pessoa que cuide dele”.

2. O que diz a bíblia?

A Bíblia nunca trata especificamente sobre a questão do aborto. No entanto,


há inúmeros ensinamentos nas Escrituras que deixam muitíssimo clara qual é a
visão de Deus sobre o aborto.

Em Jeremias 1.5 nos diz que Deus nos conhece antes de nos formar no
útero: “Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da mãe
te santifiquei; às nações te dei por profeta.”

A Bíblia diz em Salmos 139.13-14: “Pois tu formaste os meus rins;


entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo tão

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admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha
alma o sabe muito bem.”

No Novo Testamento também temos algo sobre esta questão, vejamos:

O Apóstolo Paulo, em sua Primeira Epístola aos Coríntios, Capítulo 3,


versículo 16 e 17, escreveu: “Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o
Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o
destruirá; porque o santuário de Deus que sois vós é sagrado.” Assim, tanto no
Antigo como no Novo Testamentos encontramos referências que desaprovam a
prática do aborto e de outras atividades que interferem na verdadeira felicidade do
ser humano.”

É interessante notar que em Êxodo 21.22-25 dá-se a mesma pena a alguém


que comete um homicídio e para quem causa a morte de um bebê no útero. Isto
indica claramente que Deus considera um bebê no útero como um ser humano tanto
quanto um adulto.

Como se tem dito: “para o cristão, o aborto não é uma questão sobre a qual a
mulher tem o direito de escolher. É uma questão de vida ou morte de um ser
humano feito à imagem de Deus, (Gn 1.26,27; 9.).”

3. Qual a posição da Igreja?

Evidentemente, a condenação da interrupção voluntária da gravidez funda-se


numa proposição de fé, segundo a qual a vida humana tem caráter sagrado por ser
um dom divino. Atentar contra a vida é atentar contra o próprio Deus. Do direito à
vida derivam todos os outros direitos, dos quais aquele é condição necessária.
Assim, o mandamento divino: “Não matarás” refere-se à sacralidade da vida, que
deve ser respeitada, por vontade divina, segundo um princípio abstrato, absoluto,
universal e aplicável a todos os seres humanos.

Uma vez que, segundo algumas concepções, desde o primeiro momento da


fecundação há uma pessoa humana completa, o aborto torna-se um ato

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moralmente inaceitável e condenável, verdadeiro homicídio, i.e., um atentado
contra a vida e, consequentemente, contra o próprio Deus, criador da vida, um
pecado gravíssimo.

Encontra-se, no entanto, no mesmo ensinamento magisterial, uma distinção


entre aborto lícito e aborto ilícito. O primeiro é aquele indiretamente provocado: a
retirada do útero canceroso de uma mulher grávida e a eliminação de um feto
ectópico. Já o segundo se dá de forma direta, por motivos eugênicos ou por
problemas sociais, familiares e individuais. O aborto indireto pode ser provocado
licitamente, dada a limitação humana, já que, para se defender um bem, destrói-se
uma vida. A prática do aborto direto é condenada em razão de provocar a morte
de um ser humano considerado inocente, o que constitui uma situação de tríplice
injustiça: contra a soberania de Deus, único Senhor da vida; contra o próximo, que
é privado do direito de existir como pessoa; e contra a sociedade, que perde um de
seus membros.

A inocência presumida do nascituro vem do fato de ser ele incapaz de ato


moral. Considera-se, além disso, sua situação de ser indefeso incapaz de proteger-
se de uma agressão. O argumento da defesa da vida escuda-se ainda na ideia do
nascituro como pessoa possuidora de direitos desde a sua concepção, antes
mesmo da concessão destes pela sociedade, dada sua essência humana. Assim, o
direito à vida apresenta-se como um direito ao mesmo tempo sagrado, natural e
social. Ainda que a realização de um aborto possa conduzir ao alcance de certos
bens, como a saúde ou a vida da mãe, ele é sempre injustificável.

Outras razões, como as dificuldades que possa significar um filho a mais,


especialmente se apresenta anomalias graves, a desonra, ou o desprestígio social,
ainda que consideráveis, também não legitimam o ato abortivo: "deve-se sem
dúvida afirmar que jamais alguma dessas razões possa conferir objetivamente o
direito de se dispor da vida de alguém, mesmo em sua fase inicial”

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III – TIPOS DE ABORTO E SUAS IMPLICAÇÕES ÉTICAS

1. Aborto de Anencéfalo.

Segundo o artigo da Agência Brasil de 10 de Abril de 2012 às 12:10, temos


o seguinte debate:

“Dar continuidade a uma gestação em que o feto é diagnosticado com


anencefalia, um tipo de malformação rara do tubo neural, é motivo de polêmica entre
os especialistas. Os obstetras e geneticistas que são favoráveis ao aborto
argumentam que a morte do bebê é considerada certa e os riscos para a mulher
aumentam à medida que a gravidez é levada adiante.”

“Para o médico e professor de ginecologia da Faculdade de Medicina de


Jundiaí, Thomaz Gollop, a interrupção da gestação de um feto com anencefalia não
deveria ser considerada um aborto, já que não há perspectiva de sobrevida do bebê.
O termo correto, segundo ele, é antecipação do parto. “Não estamos discutindo o
aborto de um feto normal. No caso da anencefalia, a situação é mais dramática”,
destacou.”

“Já aqueles que se posicionam contra a atitude de dar fim à vida do bebê que
está sendo gerado dizem que essas crianças devem ser tratadas por profissionais
de saúde como pacientes de alta gravidade e a baixa expectativa. Esses obstetras e
pediatras acreditam que o sofrimento dos pais não justifica a interrupção da
gestação nesses casos.”

“Para a coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do


Hospital São Francisco, Cinthia Macedo Specian, o feto anencéfalo, ao contrário do
que considera o Conselho Federal de Medicina (CFM), não deve ser considerado
um natimorto cerebral. “Ele tem um comprometimento severo de um órgão muito
importante, mas não posso classificá-lo como um indivíduo que está em morte
encefálica. Estudos mostram que todos eles têm respiração espontânea, mais de
50% conseguem mamar, sugar e deglutir o leite. Pacientes com morte encefálica
não deglutem nem a saliva e não têm movimento ocular”, explicou.”

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Mas este debate não para por aqui, vejamos no âmbito jurídico este tema.

O portal Âmbito Jurídico. com.br, destacou o artigo: Aborto de Anencéfalos:


Direito a Vida e Impacto Sucessório. Vejamos alguns trechos:

“O presente trabalho demonstra como a decisão do STF, prolatada no último


dia 11 de abril na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental sob nº 54,
que teve como objetivo ver declarada inconstitucional qualquer interpretação do
Código Penal no sentido de penalizar a antecipação terapêutica de parto de fetos
anencéfalos, fere a Constituição Federal Brasileira, o Pacto de São José da Costa
Rica e o Código Civil Brasileiro, e relata em especial, os reflexos que a permissão do
aborto dos fetos anencefálicos produz no âmbito do Direito Sucessório.”

“Polêmica e, para alguns, assustadora foi a decisão do Supremo Tribunal


Federal – no STF ao julgar, no último dia 11 de abril, a Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) sob nº 54, interposta pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Saúde (CNTS).”

“A arguição teve como objetivo ver declarada inconstitucional qualquer


interpretação do Código Penal Brasileiro, no sentido de penalizar o que a entidade
denominou de “antecipação terapêutica de parto de fetos anencéfalos” e, em
consequência, reconhecer o direito da gestante de antecipar o parto nos casos de
gravidez de feto anencefálico, devidamente diagnosticado por médico habilitado,
sem a necessidade de autorização judicial prévia.”

“O Pleno do Superior Tribunal Federal julgou, por maioria dos votos,


procedente a referida ação e, assim, declarou inconstitucional qualquer interpretação
do Código Penal no sentido de tipificar o aborto quando se tratar de feto
anencefálico.”

“A Constituição Federal, no seu art. 5º que trata dos “Direitos e Garantias


Fundamentais”, assevera que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida". Deste modo, não há dúvida de que o direito

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à vida é posto como “marco primeiro no espaço dos direitos fundamentais”, de
acordo com as palavras do então Procurador Geral da União, Cláudio Lemos
Fonteles, quando encaminhou seu parecer ao Supremo Tribunal Federal sobre a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54 ajuizada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde.”

“Logo, nas palavras de Teixeira de Freitas, o nascituro é pessoa por nascer,


já concebida no ventre materno, e que por tal fato, já tem o direito intrínseco à vida,
livre dos prematuros e falíveis julgamentos humanos.”

“Se ainda assim persistirem dúvidas acerca da necessidade primeira de


proteção do direito à vida e do momento em que este direito passa a existir e, em
consequência, o momento em que sua proteção deve iniciar-se, a Convenção
Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San José da Costa Rica,
determina o seguinte, no seu art. 4º: “Toda pessoa tem o direito de que se respeite
sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da
concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”.

“A questão central é definir se os fetos anencefálicos, unicamente por terem,


estatisticamente, 25% de chance de nascerem vivos e, se isto ocorrer, viverão por
um indefinido, mas curto espaço de tempo, não merecem a proteção jurídica do seu
direito à vida. É juridicamente possível legitimar a morte, aniquilar o direito
constitucionalmente previsto, unicamente em função do tempo de previsão humana
de vida que o bebê terá fora do útero materno? Pode-se aferir o direito à vida
apenas pelo tempo provável, humanamente calculado, de sobrevida extrauterina?”

“E a razão, não se sustenta em cálculos e previsões humanas, mas em fatos.


Fatos, cuja força probatória contradiz no todo o argumento que embasa a
legitimação da morte a fim de prestigiar o direito de quem já teve o direito de nascer
e viver.”

“A menina Marcela de Jesus, é exemplo do citado. Nascida em 20 de


Novembro de 2006, no Município de Patrocínio Paulista, sem o córtex cerebral,
apenas o tronco cerebral, responsável pela respiração e batimentos cardíacos. O
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caso gerou divergências, pois alguns especialistas levantaram a hipótese de que a
menina sofria na realidade de uma má formação do crânio (encefalocete) associado
a um desenvolvimento reduzido do cérebro (microcefalia). Outros acharam que o
que ocorreu foi uma forma ¨não clássica¨ de anencefalia. Marcela faleceu em 31 de
Julho de 2008, em consequência de uma pneumonia aspirativa. E segundo os
médicos a sobrevivência surpreendente de Marcela mostra que o diagnóstico não é
nada definitivo. Em entrevista feita quando Marcela ainda estava viva, a pediatra
Marcia Beani Barcelos, profissional que mais acompanhou o caso, afirmou que a
discrepância não era só em relação ao diagnóstico intrauterino, mas aos
prognósticos geralmente feitos. Ela não pode ser comparada com uma criança com
morte cerebral que não tem sentimentos. A Marcela não vive em estado vegetativo.
Agora como ela processa isso, é um Mistério.”

“Vitória de Cristo é outro caso raro diagnosticada com anencefalia que


sobreviveu além dos prognósticos médicos. Nascida em 13 de Fevereiro de 2010
em uma cidade de São Paulo, tendo completado dois anos agora em 2012. Com 12º
semanas de gestação, ela foi diagnosticada com Acrania, situação que evolui para
anencefalia, e seus pais foram contra a interrupção da gravidez, e ao nascer Vitoria
foi diagnosticada como anencéfala e aos quatro meses de vida, um exame de
Ressonância Magnética relatou ¨Anencefalia Incompleta¨. Aos dois anos de idade,
Vitoria faz fisioterapia alimentasse normalmente, responde à estímulos, engatinha e
até manifesta sorrisos. Os seus pais acreditam que isso só vem demonstrar que
como o diagnóstico de anencefalia é complexo.”

“Não se pode admitir, sob a versão do exercício do “direito” de


autodeterminação procriativa e de liberdade sobre seu próprio corpo, o exercício do
direito de matar, sob pena de, em se desviando da justiça, se perder o próprio
Direito. Afinal, onde na verdade o direito é injusto, e me parece que o direito de
decidir pela morte o é não há o próprio Direito. Aliás, Gustav Radbruch concluiu em
sua doutrina pós segunda guerra: O “direito” extremamente injusto, não é Direito. O
debate é inexaurível e o diálogo, espera-se poder continuar.”

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Destarte, como bem escreveu o Pr. Douglas Baptista, citando as Escrituras:

“para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11).

2. Aborto em caso de estupro.

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, assim destaca:

“O primeiro argumento que sempre surge contra a opinião cristã sobre o


aborto é: “E no caso de estupro e/ou incesto?”. Por mais horrível que fosse
ficar grávida como resultado de um estupro e/ou incesto, isto torna o
assassinato de um bebê a resposta? Dois erros não fazem um acerto. A
criança resultante de estupro/incesto pode ser dada para adoção por uma
família amável incapaz de ter filhos por conta própria – ou a criança pode
ser criada pela mãe. Mais uma vez, o bebê não deve ser punido pelos atos
malignos do seu pai.”

Mas a questão não é tão simples assim. Muitas mulheres vítimas desse ato
infame – estupro – sentem-se repugnadas e passam a ter repulsa pelo seu corpo e a
rejeitar o bebê que está no seu ventre, e a tendência é abortar. Contudo, ao
engravidarem e após abortarem (as mais pobres de maneira clandestina) muitas
delas sentem-se culpadas e arrependidas de ter praticado tal ato – afinal de contas
ela torna-se mãe do filho indesejado. O que fazer? Já houve casos em que a vítima
optou em ter o seu filho e de forma surpreendente, o amou profundamente. Pois
bem, o assunto é polêmico, mas atualíssimo. Assim, ainda é preferível optar pela
vida, pois um crime não justifica outro crime!!Como bem destacado: “Não te deixes
vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21).

3. Aborto Terapêutico.

O que é o Aborto Terapêutico? Também chamado de necessário é aquele


utilizado para salvar a vida da gestante ou impedir riscos iminentes à sua saúde em
razão de gravidez anormal. É interessante que o Chile (1989) e El Salvador (1997)
eliminaram por completo os casos de impunibilidade do aborto, inclusive o do
supramencionado aborto, ou seja, aquele realizado a pretexto de salvar a vida da
gestante. O Brasil, vergonhosamente, ainda mantém impune tal tipo de aborto no art.
128 do Código Penal:
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Não se pune o aborto praticado por médico:

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de


consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
legal.

Em ambos os casos, o aborto continua sendo crime, embora isento de pena.


Ocorre, porém, que não há motivo para deixar de punir tais tipos de aborto. Segundo
muitos este artigo 128 deveria simplesmente ser revogado. Pois bem, O direito
natural proíbe a morte direta de um ser humano inocente. A morte de um inocente
pode ser tolerada quando ocorre indiretamente, como um segundo efeito (ou efeito
colateral) de uma ação que, em si, é boa.

Costa Júnior refutou, uma por uma, as principais “indicações” para o aborto
terapêutico: nas cardiopatias, na hipertensão arterial, na tuberculose pulmonar, nas
perturbações mentais e nos vômitos incoercíveis. A título de ilustração, vamos
reproduzir um trecho de sua argumentação contra o aborto em gestantes
tuberculosas: “Schaeffer, Douglas e Dreispon, em 1955, após meticulosa
observação de tuberculosas grávidas, durante vinte anos no New York Lying-in
Hospital, divulgaram as seguintes e eloquentes conclusões, que encerram
indubitavelmente qualquer discussão sobre tal assunto:

Resultados dos Com aborto Sem aborto


casos terapêutico terapêutico
observados
Melhorados 13% 56%
Inalterados 47% 38%
Agravados 33% 3%
Mortes 7% 3%

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Deste modo, pergunta-se “como, pois, conciliar o aborto terapêutico com a
legislação penal ante esses resultados, quando o previsto legalmente é para salvar a
vida ou, segundo outros códigos, também preservar a saúde da gestante, e não para
aumentar o índice de mortalidade ou a percentagem dos malefícios?” Deste modo,
bem expressou o comentarista de nossa lição: “Não afirmam as Escrituras que a
vida e a morte são, unicamente, da alçada divina? (I Sm 2.6; Fl 1. 21-24).”

CONCLUSÃO

Como bem escreveu o comentarista de nossa Lição, Pr. Douglas Baptista: “A


valorização da dignidade humana, o direito à vida e o cuidado à pessoa vulnerável
são princípios e doutrinas imutáveis do Cristianismo. Em uma sociedade
secularizada o cristão precisa tomar cuidado com o relativismo e estar alerta quanto
às ações de manipulação de sua consciência e o desrespeito à vida humana. (1 Tm
4. 1,2).”

Alegremo-nos entoando o belo coro do Hino 141 da Harpa Cristã:

Guia-me sempre, meu Senhor,


Guia meus passos, Salvador;
Tu me compraste sobre a cruz;
Rege-me em tudo, meu Jesus.

[Professor. Teólogo. Tradutor. Jairo Vinicius da Silva Rocha – Presbítero,


Superintendente e Professor da E.B.D da Assembleia de Deus no Pinheiro.]
Maceió, 21 de abril de 2018.

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