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Direito Civil – Teoria Geral dos Contratos – Av2

Princípios contratuais: São condutores de valores que devem ser usados em toda e qualquer
situação. Possui caráter norteador, orientativo, genérico. Sempre orientando a interpretação da
aplicação da lei ao caso concreto, pode atuar de forma mais contundente ou mais branda. No âmbito
contratual, pode ser observado como uma cláusula que está prevista regularmente em todos os
contratos. Entretanto, podem também estar implícitos, como numa cláusula que estipula que o preço
de algo será determinado por terceiro, bem como na vedação da estipulação de preço por uma das
partes unilateralmente, seguindo em ambos os casos o princípio da boa-fé. Analisando cada um:

Autonomia da vontade: É visto sob dois vieses, através da liberdade de contratar (com quem, o
quê, quando?) e através da liberdade contratual (quais condições?). Essa vontade tem
reconhecimento e efeitos jurídicos. Essa liberdade deve ser garantida pelo Direito, já que o cidadão
deve poder contratar com quem o que quiser e como quiser. Esse último ponto, entretanto, haja
vista a evolução histórica do contrato, deve sofrer limitações do próprio Estado (dirigismo contratual),
corporificadas no Direito contratual, já que o “como” não pode ser absoluto, pois a “força” do
hiperssuficiente não pode ser tanta que configure prejudicialidade ao hipossuficiente. Portanto, o
princípio da autonomia da vontade tem, sim, exceção: a função social do contrato. Podendo também
ser vista como outro princípio, a função social deve ser imposta pelo Estado numa busca de
minimizar a fragilidade de uma parte frente à outra, diante da impossibilidade de uma delas contratar
de forma diversa da imposta. Encontramos a aplicabilidade dessa ideia, principalmente, nos contratos
de serviços essenciais, como energia e telefonia. Exemplo contado em sala: num contrato de energia
elétrica, o fornecimento não pode ser negado em área urbana, já que é essencial à vida do
contratante, tendo o fornecedor dever, por observância da função social desse contrato, fazer com
que esse fornecimento seja eficaz mesmo quando for em área urbana distante. Apenas ele tem os
mecanismos necessários para isso, podendo então ser imposta essa cláusula que equilibra a relação.

Consensualidade: Temos configurado um acordo quando duas manifestações se encontrando,


havendo consenso. A partir desse consenso temos o início, a existência do contrato. Até que haja
esse acordo, não há contrato iniciado. É importante conhecer o marco inicial do contrato, pois é a
partir daí que as partes passam a possuir direitos e obrigações, derivando disso suas ações nas
formas de adimplemento ou inadimplemento. Temos como exemplo as propostas encaminhadas por
uma operadora de telefonia móvel por meio eletrônico, como e-mail. Enquanto não houver consenso
entre as partes, a aceitação de quem recebeu a proposta, não há que se falar de contrato
concluído/iniciado, não havendo obrigações ou direitos de nenhuma das partes ainda. Apenas a partir
do acordo será possível exigir cumprimento do contrato de ambas as partes. Em regra, os contratos
são consensuais, já que é da natureza contratual que essa manifestação de vontade compatível dê
início ao contrato. Entretanto, os contratos reais se apresentam como exceção a essa regra, já que
mais do que vontades compatíveis, é preciso que a coisa seja entregue para que o contrato seja
concluído. Exemplos: empréstimo (comodato/mútuo), guarda ou depósito (deixar carro em
estacionamento), consignação ou estimatória; doação.

Força obrigatória dos contratos: Esse princípio tem por objetivo vedar a mutabilidade das
condições contratuais. Já vista desde o Direito Romano (pacta sent servanda – os pactos devem ser
respeitados), a obrigatoriedade é uma das principais bases das relações contratuais, já que trazem
segurança ao contrato. Portanto, desde que a situação permaneça a mesma, considerando que as
condições iniciais sejam mantidas, a relação deve permanecer imutável. Ainda no Direito Romano, os
contratos admitiam uma cláusula rebus sic stantibus, cláusula essa que permitia, frente a mudanças
significativas, que as condições fossem alteradas e até o contrato deixasse de ser cumprido, de forma
excepcionalíssima. Trazendo para a nossa realidade, temos como regra geral a imutabilidade,
cabendo duas exceções em que mudanças nas condições contratuais poderão ser admitidas: nos
contratos em geral, mediante reconhecimento de fatos alterativos imprevisíveis e/ou inevitáveis; nos
contratos de relações consumeristas, mediante alteração dos fatos, mesmo que não seja comprovada
a imprevisibilidade ou inevitabilidade disso. Portanto, quando se tratar de relações particulares ou
empresariais, a teoria que regerá a imutabilidade será a da imprevisão, que assegura a força
contratual, mas permite que mediante a alteração que desequilibra as bases econômicas do contrato,
trazendo onerosidade excessiva, de forma imprevisível ou inevitável, a uma das partes, altere as
condições do contrato ou o resolva, antes da inadimplência, como nos casos de pagamento futuro ou
periódico. A partir daí, é possível distinguir a imutabilidade de contratos derivados de diferentes tipos
de relações, bem como os efeitos de fatos alterativos e dos requisitos necessários para que essa
nova realidade seja válida ao conceder mutabilidade às condições contratuais.

Relatividade: Em regra, os contratos são pautados nesse princípio, já que estabelecido o vínculo
entre as partes do contrato, o efeito desse acordo deve atingir/alcançar tão somente essas partes.
Entretanto, existem algumas exceções, em que terceiros serão atingidos naquilo que lhes couber,
como nos casos de direitos reais, de família e de sucessão. No âmbito das relações obrigacionais,
temos como regra a eficácia inter partes, salvo as exceções que serão analisadas a seguir:
I. Estipulação em favor de terceiro (436 a 438, CC): trata-se de algo estabelecido entre as partes
contratuais, mas que traz benefício a terceiro não envolvido. Ex: seguro de vida acordado entre o
segurado e a seguradora, mas que trará direito ao beneficiário apontado no contrato. Contrato A-B,
direito para C.
II. Promessa em nome de terceiro (439 e 440, CC): trata-se de algo acordado entre as partes
contratuais, mas que gera obrigação a terceiro. Ex: Empresário de cantor e dono de casa de show
celebram contrato, gerando obrigação a esse cantor empresariado pela parte de cantar nas condições
acordadas. Em regra, quem promete é quem recebe pelos eventuais prejuízos. Entretanto, se houver
ratificação do terceiro, em caso de inadimplência, a responsabilidade será do terceiro. Contrato A-B,
obrigação para C.
III. Contrato com pessoa a definir (467 a 471, CC): trata-se do contrato que permite, em cláusula, a
possibilidade de estipular futuramente quem será o figurante, a outra parte. Temos como melhor
exemplo o imóvel comprado na planta. A princípio, cabe a quem adquire o imóvel os direitos e
obrigações próprios de um contrato como esse. Entretanto, com a entrega do imóvel, é possível ao
comprador inicial estipular que terceiro assumirá o posto de parte, tendo direito e dever sobre o
apartamento agora entregue.
IV. Sucessão universal: trata-se de uma questão doutrinária e que carece de muito cuidado ao ser
analisada, já que possui algumas peculiaridades. Tratando-se, por enquanto, apenas das obrigações
contraídas através de sucessão: as obrigações serão sucedidas por terceiro apenas no limite do
quinhão hereditário.

Boa-fé objetiva: Princípio mais que essencial, está expresso ou implícito em diversos dispositivos
espalhados pelo ordenamento jurídico, não admitindo hipótese nenhuma de exceção. Valendo
ressaltar os arts. 104 a 114, CC. Temos então que, nas relações contratuais, mais que a intenção das
partes, é preciso analisar sua ação, comportamento, atitude, já que uma relação contratual consiste
em ambas as partes cumprirem com as obrigações no tempo, lugar e forma compactuadas. Dentro
de uma linha de bom senso facilmente dedutível, o Direito deve exigir que o princípio seja observado
e seguido pelas partes em todas as fases da relação, desde a pré-contratual até o cumprimento das
obrigações. Pelo caráter absoluto que tem esse princípio, a boa-fé objetiva é vista como o mais
importante dentre os princípios contratuais, cumprindo três grandes funções no que toca o direito
contratual, funções essas que serão analisadas a seguir:
I. Interpretativa: ao realizar “leitura” de cláusulas cujo conteúdo é obscuro, cabe ao intérprete fazê-lo
orientado pelo princípio da boa-fé objetiva, não gerando as partes qualquer prejuízo/desequilíbrio.
II. Integrativa: quando nem todas as condições contratuais estiverem estabelecidas, deve ser
utilizada a boa-fé, em sua segunda função, para preencher as lacunas através de uma busca
estendida por todo o ordenamento jurídico. Ex: incidem sobre as relações de consumo normas do
CDC, do CC e, obviamente, da CF. Entretanto, a relação de plano de saúde ganhou regulamentação
específica, já que haviam lacunas a serem preenchidas.
III. Controladora: é a função da boa-fé objetiva que atua/incide sobre o contrato como definidora dos
limites e da forma como as partes exercerão seus direitos, já que se “o direito de um começa onde
termina o do outro”, é preciso ter um parâmetro para esse início e final. De maneira genérica, o
Direito estabelece limites através da função social e econômica do contrato, caracterizando o abuso
como ato ilícito. Esse controle, por sua vez, deve ser feito através da ótica da boa-fé objetiva, sempre
lembrando que a rotina contratual tem poder de alterar tacitamente o contrato. São reconhecidos
pelo mundo jurídico três tipos de situações em que isso é visível:
a. supressio: representa a perda do direito por falta de seu exercício habitual. Ex: pagamento de
dívida em prestações: acordado o pagamento em 10 parcelas, a serem pagas todo dia 1º, sob pena
de multa e juros. Entretanto, o devedor passa a pagar no 5º dia útil, pagamento esse que é recebido
pelo credor, sem cobrança adicional. Usando da função controladora da boa-fé, àquele credor que
não exerce seu direito de cobrar multa é atribuída aceitação tácita quanto à data de adimplemento
da obrigação. Dessa alteração tácita decai direito de cobrar futuramente por esse “descumprimento”.
b. surrectio: sendo o contrário da anterior faz nascer um direito pela prática constante. Ex: devedor
sempre vai à casa do credor pagar a prestação; em determinado momento, o credor começou a
receber essa prestação na casa do devedor, alterando tacitamente o local de adimplemento, gerando
ao devedor o direito de cumprir com sua obrigação em seu domicílio.
c. tu quoque: por fim, temos que apontar que é inexigível atitude diversa da que tenha tido em
situação com as mesmas circunstâncias. Ex: uso de espaço comum do condomínio: não age com
boa-fé objetiva quem reclama do vizinho, mas já agiu da mesma forma.

Contrato preliminar: tendo previsão legal nos artigos 462 a 466, CC, essa modalidade não é regra
ou obrigatória, mas também emanada de comunhão de vontades entre duas partes que desejam
registrar sua intenção de realizar contrato futuro, tendo o preliminar instrumento. O melhor exemplo
é a promessa de compra e venda, já que as partes, em pré-contrato, acordam pagamento parcelado
que terá como resultado o contrato definitivo efetuando a transferência de propriedade que é o
objetivo principal de uma compra de imóvel. Assim como o definitivo, o contrato preliminar também
gera direito e obrigação acordados pelas partes, com as mesmas exigências/requisitos que o
principal. Portanto, temos que o pré-contrato é forma que as partes têm de pactuar e formalizar a
intenção de firmar contrato definitivo futuramente. Além da promessa de compra e venda, o contrato
(atípico) de fornecimento nos serve de exemplo para entender melhor o contrato preliminar:
recorrente nas relações empresariais, uma empresa se compromete com a outra de comprar por
determinado período com a outra, naquelas condições, em pré-contrato. A cada mês que o preliminar
se renova é como se um definitivo estivesse sendo executado. Cabe ainda falar sobre a proposta, que
também é prevista e regulada pelo Código Civil, em seus artigos 427 a 435: a proposta feita deve
continuar tendo validade, salvo se: I. feita pessoalmente ou por telefone/meios de comunicação e
sem prazo de validade, a pessoa não tiver aceitado na hora. II. feito para pessoa ausente (não
definida/direta), sem prazo de validade e passado tempo suficiente para resposta. III. feito para
pessoa ausente (não definida/direta), sem resposta dentro do prazo proposto. IV. contando com
retratação anterior ou concomitante à resposta. Além da proposta, temos a oferta pública que será
equivalente à primeira, se apresentar todos os requisitos necessários de um contrato. A oferta
também é passível de revogação. A aceitação tardia deve ser respondida pelo responsável, sob pena
de perdas e danos, enquanto a aceitação fora do prazo que trouxer mudanças significativas em seu
conteúdo deverá gerar nova proposta/oferta. Sendo conhecida a retratação, não deverá existir
aceitação. É possível proposta/oferta entre ausentes (partes não identificadas), nos moldes do 434.

Vício redibitório: Conforme artigos 441 a 446, CC, em contratos comutativos é possível à parte,
frente a vício escondido na coisa recebida, pleitear anulação do contrato ou abatimento no valor
desses. O vício na coisa é anterior/existente já no momento do início do contrato, vício que se
conhecido pela parte possivelmente impediria a conclusão contratual. O vício redibitório, entretanto,
não deve ser confundido com a propagando enganosa, por exemplo, já que essa é eivada de
erro/dolo. Sendo inerente à coisa, a boa-fé do vendedor ao desconhecer também o vício não afasta a
possibilidade de redibir. Quando configuradas as condições características do vício redibitório, a parte
poderá fazer uso de algumas ações: I. ações edilícias: aquelas que têm por intuito anular o contrato,
com eventuais reembolso e perdas e danos, mediante devolução da coisa. II. estimatória/quanti
minoris: aquelas que têm como intuito a redução parcial do valor pago pela coisa, mas não a
anulação do contrato. Para essas ações, entretanto, existem prazos decadenciais, que variam de
acordo com o tipo de relação contratual. Se pautada no Código Civil, temos prazo, contado a partir
do contrato, para bem móvel (30 dias) e imóvel (um ano, reduzido pela metade se em posse), caso a
parte não tivesse conhecimento; contado a partir da ciência, móvel (180 dias) e imóvel (um ano),
quando pela natureza do bem o vício não pudesse ser sabido antes. Além dessas hipóteses, os
contratos podem ter cláusula de garantia, que garantirá que o prazo decadencial não corra, mas dará
o prazo de 30 dias para que o vício seja comunicado, contados a partir do descobrimento do vício.
Fora da esfera unicamente cível, o Código de Defesa do Consumidor traz prazos distintos para o vício
redibitório na esfera consumerista: os bens não duráveis (30) e os bens duráveis (90 dias), dentre
eles os imóveis, que também são duráveis, cabendo a inversão do ônus da prova. Sabendo dessas
diferenças, o reclamante terá abrir de um benefício, prazo mais longo CC ou processuais do CDC.
Vale ressaltar que:I. a teoria do vício redibitório não é aplicável à compra por lote quando o vício for
parcial, conforme art. 503. II. com advento do Código Civil de 2002, o arrematante de leilão público
já é entendido como possível reclamante de vício redibitório. III. Vício redibitório alegado em compra
de coisa usada só é possível quando não há cláusula “no Estado”, só cabendo devolução da coisa,
nesses casos. Contudo, comprovada a má-fé, caberão perdas e danos, além da devolução.

Evicção: trata-se da perda total ou parcial da coisa por sentença judicial que reconheceu direito de
terceiro anterior ao contrato sobre o bem. Como bem sabemos, quem aliena algo deve, não só
entregar a coisa, como também garantir que quem receba tenha propriedade e use-a sem
interferência. Prevista apenas nos contratos onerosos, vale lembrar que é evicto quem adquiriu, de
boa-fé, a coisa do alienante, que é quem aliena a coisa evicta, com vício judicial, sem ser proprietário
dela, sendo evictor quem reivindica direito sobre a coisa vendida pelo alienante como sua e tem
procedência na reclamação através de sentença judicial. A evicção é tratada nos artigos 447 a 457,
CC, disposições que serão analisadas a seguir: 447: em toda e qualquer alienação resultante de
contrato comutativo e oneroso está implícita a cláusula de garantia impondo ao alienante a obrigação
de responder pelos riscos da evicção, pois como já vimos cabe a esse garantir a entrega, a
propriedade e o domínio como um todo a quem recebe. 448: em contrato, as partes podem expandir,
reduzir ou excluir a cláusula de garantia. 449: mesmo que haja cláusula de exclusão, o evicto que
não soube ou não assumiu o risco da evicção terá direito de receber o que pagou pela coisa. 450:
além do preço que pagou pela coisa, o evicto tem direito à indenização pelos frutos que foi obrigado
a restituir, pelas despesas do contrato e eventuais prejuízos diretos da evicção e pelas custas judiciais
e honorários de seu advogado, salvo se houver cláusula expressa no contrato que reduza essas
hipóteses | §único: o preço a ser pago pelo alienante deverá ser calculado pelo valor que a coisa
tinha à época, em concordância com o grau de evicção, total ou parcial. 451: mesmo deteriorada a
coisa (sem dolo do adquirente), o alienante deverá restituir o valor pela evicção. 452: quando houver
dolo/vantagem recebida do adquirente pela deterioração, esse valor será abatido da restituição
devida. 453: benfeitorias úteis ou necessárias serão abonadas pela evicção ou pagas pelo alienante.
454: se as benfeitorias forem feitas pelo alienante, será abatido do preço que deve restituir ao
adquirente. 455: o preço a ser restituído pela coisa evicta parcial será definido dependendo do efeito
considerável (indenização e restituição) ou não considerável (indenização) que tiver. 456: assim que
souber da evicção, cabe ao adquirente/evicto contatar o alienante e assim exercitar seu direito |
§único: se não se manifestar o alienante e a procedência da evicção for previsível, o evicto não
precisará contestar ou recorrer. 457: se conhecido o vício judicial (coisa alheia ou litigiosa) pelo
adquirente, esse não poderá demandar pela evicção em juízo.

Interpretação: o intérprete de contrato deve ater-se a regras gerais de interpretação e a regras


próprias de contratos, seguindo as etapas elencadas a seguir: I. intuição a Constituição Federal, com
ênfase no princípio da dignidade da pessoa humana, constando se nenhuma das partes está sendo
ferida. II. busca no Código Civil, em sua parte geral, as normas a serem acolhidas nos fatos jurídicos,
quanto a existência, validade e eficácia desses negócios. III. Além dos princípios e disposições gerais,
é preciso encontrar as especialidades de acordo com o tipo de contrato (consumo, particular ou
empresarial) em questão. Visto os dispositivos pertinentes, é preciso identificar o sentido que a
norma abstrata tem em relação ao concreto, buscando equilibrar a relação jurídica, de forma que ao
fim da interpretação o conflito entre as partes seja solucionado. OBS: sempre com os princípios
gerais dos contratos, principalmente o da boa-fé objetiva, como norteadores de sua interpretação.

Classificação:
I. Quanto às partes atingidas e a proporção de cada uma:
a. unilateral: implica, como em todos os negócios jurídicos, duas manifestações de vontade; a
diferença, portanto, está na geração de deveres para apenas uma das partes, não havendo
contraprestação. Ex: doação simples ou pura, mútuo, comodato.
b. bilateral: são os mais comuns, pois geram direitos e deveres a ambas as partes, com prestações
equivalentes, proporcionais. Ex: compra e venda, locação.
c. plurilateral: trata-se também de direitos e deveres proporcionais aos envolvidos, diferindo do
bilateral pelo quantitativo superior a duas partes. Ex: sociedade, condomínio, seguro de vida coletivo.
II. Quanto ao valor econômico/sacrifício patrimonial:
a. oneroso: aqueles que geram prestação e contraprestação para ambas as partes, trazendo
vantagem/proveito para as duas também. Ex: compra e venda.
b. gratuito/benéfico: sob a ótica do art. 114 (restritiva), são aqueles contratos que geram ônus a
uma das partes e apenas bônus à outra, sem contraprestação. Ex: doação pura ou simples.
III. Quanto à certeza ou aos riscos das prestações:
a. comutativo: são contratos em que as prestações já são estabelecidas pelas partes. Ex: compra e
venda (preço/imóvel), locação (coisa/aluguel).
b. aleatório: trata-se de prestação que tem sua exatidão condicionada por fato ainda desconhecido
no momento da contratação. Essa incerteza pode derivar de sua própria natureza (seguro, apostas,
jogos) ou de elemento acidental (compra de colheita futura).
IV. Quanto à possibilidade de negociação:
a. paritário: deveria ser a regra, já que é da natureza histórica do contrato o acordo de vontades das
partes, mas tem se tornado a exceção. Trata-se do contrato cujo conteúdo foi discutido e acordado
entre os sujeitos, em condição proporcional ao negociar.
b. de adesão: de acordo com o art. 54, CDC, são aqueles contratos pré-elaborados pelo fornecedor,
restando ao consumidor aderir ou não ao conteúdo constante do contrato. Ex: banco (abertura de
conta, empréstimo). OBS: 423 e 424, CC, trazem proteção especial para esse tipo de contrato.
V. Quanto à previsão legal:
a. típicos: são contratos que possuem mínima base legal, sendo essa suficiente para basear as
relações. Ex: compra e venda, locação, comodato, prestação de serviço, empreitada, mútuo.
b. atípicos: são contratos lícitos, desde que sigam os princípios gerais dos contratos, conforme art.
425, CC, mas que serão criados pelas partes, já que não possuem nem mínima base legal já
estabelecida. Ex: garagem, estacionamento.
VI. Quanto à formalidade exigida:
a. solene: são aqueles contratos que exigem determinada solenidade pública para serem legais,
como no art. 108, CC, que fica estabelecida a necessidade de escritura pública nos contratos de
compra e venda de imóveis com valor acima de 30 vezes o maior salário mínimo vigente.
b. não solene: são opostos ao tipo supracitado, já que sua maior simplicidade não exige tal
solenidade. Tomando como exemplo a compra e venda de imóvel, sabemos que não será exigida
escritura pública como ato solene nos imóveis de valor inferior a 30 vezes o maior salário mínimo.
VII. Quanto à conclusão do contrato:
a. consensual: são aqueles contratos que as partes discutem e aperfeiçoam as condições/cláusulas
contratuais, dando início ao contrato quando chegar num acordo. Ex: compra e venda, locação.
b. real: são contratos em que início só é dado quando há, mais que o aperfeiçoamento das
condições, entrega efetiva da coisa. Ex: mútuo, comodato, guarda/depósito em estacionamento.
VIII. Quanto à possibilidade de transmissão:
a. pessoal: são contratos que estão condicionados à pessoa do contratante e nem por herança
podem ser transmitidos. Ex: contrato de fiança, vide art. 836, CC.
b. impessoal: são contratos que a pessoa do contratante não tem relevância, configurando a regra e
sendo passível de transmissão por herança.
IX. Quanto à definitividade:
a. preliminar: é um pré-contrato que visa demonstrar interesse e garantir celebração de contrato
futuro, como acontece na promessa de compra e venda.
b. definitivo: trata-se do contrato padrão, que não depende de ato futuro, quando o intuito principal
é efetivado. Ex: concluídas as prestações da promessa de compra e venda, há a transferência de
propriedade e a escritura pública definitiva.
X. Quanto à execução:
a. imediata:

b. diferida:

c. continuada:

XI. Quanto à existência:


a. principal.

b. acessório:

Observações:
I. Onerosidade excessiva só pode ser alegada frente a contratos de trato sucessivo.
II. A prescrição em contratos sucessivos: prazo contado em cima de cada parcela.
III. Sendo nulo o principal, será nulo o acessório. Mas, o inverso não é necessário.

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