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40º Encontro Anual da ANPOCS

ST 32 – Sociologia e Antropologia da Moral

Refazer-se: busca por dignidade em meio às ruas

Thiago Santos

Caxambu, 2016.
Introdução
What is a ghost? Stephen asks, and then gives one of his incisive
definitions.
(reading): "One who has faded into impalpability through death,
through abscence, through change of manners."

James Joyce, Ulysses.1921.

Tratam quem tá na rua como a pior coisa do mundo. Na verdade, só


tratam se a gente acabar atrapalhando a passagem ou for pedir
alguma coisa, né? Na maioria das vezes nem veem a gente.

Joaquim. Diário de Campo, 2016

Engane-se, por pressa ou ingenuidade, quem toma a experiência de habitar as ruas


como sendo ela própria a maior dor daqueles que ali se encontram. Acrescente a esta, que
por si só provoca sofrimentos diversos, as dores que dizem respeito ao descompasso
sentido por não reconhecer mais aquela pessoa que “ficou” num passado próximo na
memória, mas aparentemente inexistente para os outros no espaço público. Onde seus
vestígios são deliberadamente apagados pelos carros e ônibus que os encobrem de poeira,
seguidos dos olhares enviesados que não fazem distinção entre parede, chão e gente.
Os interlocutores ouvidos em minha pesquisa têm presente em suas falas o grande
contraste e dor sentida por não serem mais reconhecidos como pessoas dignas, como
úteis ou mesmo existentes, ao passo que adentraram à condição de rua: “também sou
gente” ou “somos invisíveis” são afirmativas recorrente em praticamente todas as falas.
Contexto que produz nestes uma série de sentimentos negativos sobre si mesmo, que vão
desde a vergonha até o questionamento sobre sua própria dignidade enquanto pessoa.
Revelando contextos e processos pelos quais moralidades são matizadas e postas em
questão, podendo ser ressignificadas em diálogo com este contexto emocional.
O presente artigo é uma discussão preliminar sobre como os indivíduos em
situação de rua, que habitam o Centro do Recife, Pernambuco, mobilizam sentido para a
categoria de dignidade e sobre o sentimento de ser digno. Se atendo analiticamente às
estratégias, discursivas e práticas, através das quais estes atores negociam a percepção
dos outros sobre si. Tomando estes discursos e práticas a partir de um olhar que coloca
em cerne os dilemas decorrentes das moralidades e emoções como sendo reconfiguradas
a partir do próprio contexto e biografia dos atores, como também extrapolando os limites
circunscritos ao grupo estudado.

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As sessões que se seguem refletem o direcionamento analítico que tenho dado nos
últimos meses as duas categorias que se colocarem centrais para meus interlocutores ao
longo da pesquisa: a cidadania e o trabalhador. De maneira que aqui está presente uma
discussão preliminar, como um ponto de partida, na qual tento articular as bases para
tomar a relação entre estas duas categorias e a percepção que os interlocutores têm sobre
dignidade e sentir-se digno.

A rua e os “seus”: da naturalização do estigma

“Esse povo tá na rua por que quer, não arruma um emprego e vive só
de esmola, de propósito claro, acordar cedo e arrumar um emprego
ninguém quer, né? Bando de desocupado.”
(Dona Maria do Fiteiro Azul, Diário de Campo, 2016).

Tem-se um processo de naturalização das pessoas em situação de rua nos grandes


centros urbanos, de forma que é comum se questionar menos “o que leva pessoas a
morarem nas ruas?”, e mais o “por quê continuam nas ruas?”. Como se fosse algo
simples e dependente apenas do querer individual. Tomamos a existência de pessoas em
condições de miséria como algo natural, próprio de nosso tempo. A questão é que não é
resultado apenas de processos que dizem respeito ao indivíduo, como costuma-se atribuir
normalmente às pessoas a responsabilidade sobre seu sucesso ou fracasso. Entender a
constituição histórica de certos tipos sociais se torna indispensável para pensar tal
condição.
Historicamente o início do que conhecemos como população em situação de rua
remonta ao surgimento do sistema capitalista, sendo ela uma consequência do processo
de adequações das estruturas sociais para sua eficaz efetivação. Ao passo que a
Revolução Industrial e Tecnológica se efetivava, a decorrente diminuição da oferta de
emprego no contexto rural e a intensificação da migração dos campos para os centros
urbanos, no final do séc. XVIII e começo do séc. XIX, forçou a criação de um excedente
de pessoas aptas para o trabalho que não pôde ser absorvido pela indústria. Estes não
tiveram como manter moradia convencional, alimentar-se bem, se qualificar para
empregos e consequentemente ficaram à margem dessa sociedade.

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Karl Marx define estes como lupemproletariado ou apenas lupem – palavra que
em seu sentido literal em alemão significa “trapo”, no sentido de resto/deplorável. Sendo
o lupemprotelariado a parte mais baixa do proletariado: o resto da classe trabalhadora.
Marx define tal configuração em três tipos, nos seguintes termos:
Primeiro, os aptos para o trabalho.[...] Segundo, órfãos e crianças
indigentes.[…]Terceiro, degradados, maltrapilhos, incapacitados para o
trabalho. São notadamente indivíduos que sucumbem devido a sua
imobilidade, causada pela divisão do trabalho, aqueles que ultrapassam
a idade normal de um trabalhador e finalmente as vítimas da indústria,
cujo número cresce com a maquinaria perigosa, […]. O pauperismo
constitui o asilo para inválidos do exército ativo de trabalhadores e o
peso morto do exército industrial de reserva. (Marx, 2008. p. 747).

Ao colocar que existe uma parcela da camada social que é configurada como mão
de obra disponível, como exército de reserva, que não será absorvida pela indústria por
ser necessária a ela a existências desse exército para manter baixo os preços dos salários,
e que tal condição gera um tipo social de miserável que “sucumbem devido a sua
imobilidade, causada pela divisão do trabalho”. Atribuindo a elas uma posição abaixo do
proletariado no que diz respeito à moral em decorrência de sua posição na estrutura
produtiva. Assim, aparece pela primeira vez – de forma muito insipiente – algo próximo
do que se entende hoje como um sujeito produzido especificamente pela estrutura
capitalista como pessoas em situação de rua. Pois, “as condições histórico-estruturais que
originaram e reproduzem continuamente o fenômeno nas sociedades capitalistas”,
argumenta Maria Lopes da Silva, “são as mesmas que deram origem ao capital e
asseguraram sua acumulação” (Silva, 2009. p.101-102).
Ou seja: é própria estruturação das sociedades capitalistas – sua dinâmica da
divisão do trabalho, sua atribuição de prestígio ou estigma social e a decorrente
consequência material na experiência dos indivíduos – que organizam as condições de
manutenção das desigualdades sociais, não só produzindo o tipo social do miserável,
dentro deste a população em situação de rua, como um “resultado inesperado” de um
processo de industrialização; ela não é só produto deste processo como também é uma
das manifestações que assegura a sua própria reprodução – do sistema e dos tipos de
sujeitos a ele vinculados. Tal processo fica muito claro na seguinte fala de um indivíduo
em situação de rua:
Somos ainda vítimas do atual sistema político, que, na cegueira do
capital, tem produzido milhares de novos moradores de rua a cada ano,

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pois, à medida que as novas tecnologias substituem o trabalho feito por
operários e/ou camponeses, surgem novos desempregados que, ao não
conseguirem novo emprego, inevitavelmente, irão para a rua, onde
ficarão vulneráveis á bebida, às intempéries do tempo e a outros
traumas causados por essa situação. (Direitos dos Moradores de Rua.
p.23)

Essa condição é tida com certa clareza por muitas das pessoas em situação de rua – as
que aparecem em documentários, citações nas pesquisas, em minhas entrevistas em
campo –, há uma certa partilha da percepção do fato de que não é uma questão de ter sido
o único responsável por sua condição atual, mas que existe um processo estrutural, “uma
força maior”, que o levou ao tal ponto e que, estando nele, é muito difícil sair, como um
ciclo vicioso ao qual se vê atado e impotente.
Afinal, quais as dimensões devem ser levadas em consideração afim de
caracterizar o complexo fenômeno que é este? Visto que, apesar de ser um fenômeno ao
qual se pode associar ao surgimento do sistema capitalista e sua manutenção, este é um
ponto central mas não único. Além deste, muitos outros fatores estão relacionados com a
motivação de pessoas passarem a ocupar logradouros públicos como forma de moradia e
sustento.
É fundamental levar em consideração de partida que, mesmo sendo um processo
macroestrutural, este se manifesta de maneiras múltiplas internamente, a população em
situação de rua é formada por um grupo extremamente heterogêneo: “o que todas as
pesquisas revelam”, nos diz Sarah Scorel, “é que não há um único perfil da população de
rua, há perfis; não é um bloco homogêneo de pessoas, são populações” (Escorel, 2000.
p.155).
Para Silva (2009), o fenômeno pode ser caracterizado através de seis pontos
fundamentais: múltiplas determinações, onde estão presentes os fatores estruturais, bem
como os biográficos – podendo estar relacionados entre si; é uma expressão radical da
questão social na contemporaneidade, encarando-a como uma questão própria da
sociedade moderna, sendo ela resultado da dinâmica e acirramento das desigualdades
sociais; está majoritariamente localizada em grandes centros urbanos, pela maior oferta
de possibilidades de sanar necessidades básicas; têm o preconceito como marca do grau
de dignidade e valor moral atribuído pela sociedade às pessoas atingidas pelo
fenômeno; os grupos tem particularidades vinculadas ao território em que se

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manifestam; e, por último, há uma tendência a naturalização do fenômeno. Existem,
ainda, três condições que ela destaca que devem ser levadas em consideração como
características gerais, articulando-as entre si, por serem condições que perpassam todas
as variações das tipologias de pessoas em situação de rua. São elas: a pobreza extrema;
têm os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados; por fim, a inexistência de
moradia convencional regular.1
Assim sendo, há um ponto que é fundamental reiterar: a dimensão do preconceito
como marca do grau de dignidade e valor moral atribuído pela sociedade às pessoas
atingidas pelo fenômeno. Os interlocutores de minha pesquisa estão submetidos à
recorrente discriminação moral, por parte da sociedade em que estão inseridos,
decorrente do lugar que ocupam. Pois, a forma que a sociedade encontra para classificar
as pessoas em situação de rua é através das categorias de vagabundo, marginal,
desocupado etc, “ele é o outro, o que não faz parte, que precisa ser afastado ou
reintegrado”, afirmam Vieira, Bezerra e Rosa, “no entanto, o morador de rua assume de
forma extremamente rígida o estigma lançado sobre si, utilizando os olhos da sociedade
para avaliar sua condição social” (Vieira, Bezerra, Rosa, 2004. p. 100). Ao mesmo tempo
em que se é vitimado por um estigma que não reconhece em si mesmo, os interlocutores
passam, gradualmente, a assumir esta imagem em alguma dimensão para perceber a si
mesmo.
Esse duplo movimento do estigma demonstrado acima é relatado recorrentemente
pelos interlocutores das pesquisas. Este é o tipo de experiência de viver sob signos
depreciativos o qual é tematizado por Erving Goffman, que dá conta de duas dimensões
extremamente pertinentes para a problematização aqui proposta: a primeira é o processo
de fixação do estigmatizado com o alguém que se torna menos humano e, em segundo, a
influência negativa que o estigma tem sobre seus portadores, fazendo com que os

1Deter-se a estas dimensões a possibilitou formular a seguinte definição: “a população em situação de rua
é um grupo populacional heterogêneo, mas que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos
familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, em função do
que as pessoas que o constituem procuram logradouros públicos (ruas, praças, jardins, canteiros, marquises
e baixos de viadutos) e as áreas degradadas (dos prédios abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de
veículos) como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente,
podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, repúblicas, casas de acolhida temporária ou moradias
provisórias, no processo de construção de saída das ruas” (Silva, 2009. p.29). Tal definição é amplamente
aceita e utilizada pelos movimentos sociais de pessoas em situação de rua, acadêmicos e pelo Estado para a
promoção de políticas públicas.

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próprios refaçam a imagem de si a partir do estigma.
A percepção social das pessoas que têm algum estigma é a consideração deste
como alguém diminuído, aquele sujeito o qual não é mais tão humano quanto os outros
na sociedade, quanto o sujeito normal (aquele que é a referência): o portador do estigma
é uma “pessoa marcada, ritualmente poluída, que deveria ser evitada, especialmente em
lugares públicos” (Goffman, 2008. p.11). Quando essa relação se estabelece é
manifestado o estigma que é, no final das contas, decorrente da atribuição da diferença
entre a identidade virtual, a representação das qualidades de um sujeito a partir da
atribuição social de signos de depreciação, e a identidade real, a pessoa em si, para além
das representações das marcas depreciativas. Operando num nível profundo de forma
que, afirma Goffman, “por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma
não seja completamente humano”, reiterando ainda que, “com base nisso, fazemos vários
tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar,
reduzimos suas chances de vida.”(ibid. p.15). Em um segundo momento, como
consequência dessa repetição do estigma como a própria identidade do sujeito:
“o indivíduo estigmatizado tende a ter as mesmas crenças sobre
identidade que nós temos; isso é um fato central. Seus sentimentos mais
profundos sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma
“pessoa normal”, um ser humano como qualquer outro, uma criatura,
portanto, que merece um destino agradável e uma oportunidade
legítima”(ibid. p.16)

Assim sendo, a experiência de ser pessoa em situação de rua é marcada


indistintamente pelo estigma que o associa à degradação, moral e material. Sendo
largamente compartilhada pelos atores sociais que estão ao seu entorno na convívio do
espaço social. É está dimensão que faz com que a Dona Maria do Fiteiro Azul atribua
uma percepção cristalizada de culpa individual das pessoas em situação de rua, como
únicos responsáveis por sua permanência nas ruas. Isto não é um julgamento “só” dela,
mas introjectado socialmente por grande parte das pessoas.
Esta é uma característica própria de sociedades que, a partir de uma lógica
política, econômica e social, mobilizam uma série de valores morais vinculados a
formas/experiências de vida sem que se perceba, a princípio, que estas em si mesmas não
são melhores ou piores; mas que, independente disto, atribuem valorações morais sem ter
claro o que as produzem. Neste caso, a própria Dona Maria não percebe que desempenha

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um papel social, o de vendedora informal, que não é reconhecido como uma ocupação de
prestígio. Ademais, esta mesma ocupação está situada numa escala menos depreciada que
as ocupações que as pessoas em situação de rua desenvolvem, o que ainda a “legitima”
reproduzir um julgamento moral depreciativo sobre outras formas de vida consideradas
menores socialmente.
Em minha pesquisa duas categorias se tornaram cruciais para compreender esta
dinâmica entre o lugar que o estigmatizado pela situação de rua ocupa, tanto pela
demonstração feita até aqui de sua consolidação e reprodução, como também pelos
sentidos mobilizados pelos próprios interlocutores para as esferas que dizem respeito à
sentir-se alguém digno. As categorias postas em questão são as de cidadania e trabalho,
estão vinculadas à imagem do cidadão de bem e o do trabalhador. Não por acaso, não se
pode pensar essa inter-relação entre tais categorias/noções de maneira separada. A noção
de cidadão de bem, pessoa digna e honrada, tem como mote a vinculação de fato com a
dimensão da estrutura do mundo do trabalho, como será demonstrada na próxima sessão.
Podendo, ambas, serem tomadas a partir uma perspectiva que considere moralidades e
emoções como pontos interligados: pensar o carga moral de ser depreciado é um fator
que interfere diretamente nos sentimentos que mobilizamos sobre nós mesmos como
pessoas dignas.

Cidadania e trabalho: a tomada moral da pessoa por suas ocupações.

A todo esse contexto demonstrado anteriormente, devemos incluir aos estigmas e


preconceitos atribuídos à população em situação de rua mais uma dinâmica: a relação
entre as formas precárias de trabalho que desempenham e os dilemas de cidadania
próprios do Brasil. De maneira que esta se mostra como uma importante variável na
percepção destes indivíduos como pessoas dignas.
O valor atribuído aos outros tem, recorrentemente, dois pontos fundamentais: a
consideração da condição deste como cidadão, e a alocação deste numa escala moral a
partir da ocupação que este sujeito tem na estrutura do mundo do trabalho. Não se pode
entender o valor atribuído às formas de vida em nossa sociedade, sem fazer referência às

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categorias de cidadania e trabalho – mais ainda, sem fazer referência à constituição da
primeira em estrita sintonia com a segunda.
A relação entre o respeito dedicado às pessoas e sua posição no mundo do
trabalho não é algo novo em nossa sociedade, além de ter um papel central sobre a
constituição social da “identidade” e respeito dedicado a estes. A centralidade do status
que o trabalho tem sobre a maneira como o ser social é representado/reconhecido é
importante aqui por que ele manifesta valores sociais que se consolidaram sobre esta
categoria. Tanto pela forma que esta instituiu distinções entre sujeitos e “melhores e
piores”, como também pela relação intrínseca que mantém com a noção de cidadania e
sua implementação. Tanto a noção de cidadania como o valor atribuído aos tipos de
trabalho, têm em si uma carga moral extremamente pertinente. Compreender os
processos que permitiram estas dimensões morais é proceder de maneira a verificar
como estas se consolidaram historicamente, ao ponto de hoje dizer-se que “apenas
através da categoria do “trabalho” é possível se assegurar de identidade, autoestima e
reconhecimento social” (Souza, 2012. p.170).
Esta intricada questão pode ser analisada a partir do processo de constituição da
cidadania no Brasil, como se estabeleceu historicamente os sujeitos que teriam ou não a
garantia de seus direitos civis, políticos e sociais. Um olhar processual sobre a relação
entre essas duas categorias, mostra que certos tipos de trabalho sempre tiveram atribuição
de características positivas, em detrimento de outras formas de trabalho, que trazem
consigo uma carga depreciativa para os que ocupam tais funções 2; sendo a categoria
cidadão um elemento que acirrou e incorporou as distinções provenientes dos dilemas
das classificações morais dos trabalhadores por ocupações.
O conceito de cidadania traz consigo a proposta de assegurar a consolidação da
igualdade humana básica, no intuito de que os direitos alcancem todos os membros de
um Estado Nação. No início das discussões, o conceito de cidadania proposto por
Thomas Marshall (1977) é o de que ela depende de uma implementação gradual de
direitos, que seriam efetivados a partir dos direitos civis, passando pelos direitos
políticos e, por fim, os direitos sociais. No Brasil a implementação da cidadania se deu
2 Acerca disto, ver Fernando Braga da Costa (2009), que demonstra como o fardamento é uma forma de
invisibilização social do trabalhador. Costa, a partir de uma etnografia com garis e como gari,
demonstra como subempregos atuam como maneira de invibilização dos atores sociais que
desempenho suas funções enquanto pessoas.

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por outras vias e interesses. De acordo com José Murilo de Carvalho (2002), aqui
tivemos antes acesso aos direitos sociais mediante a suspensão dos direitos políticos e
civis por conta do regime ditatorial. Resultando disto que o ponto de partida para a
consolidação da cidadania, no modelo de Marshall, continua inacessível a grande maioria
da população brasileira.
A grande maioria da população brasileira que não tem acesso a estes direitos é
composta, não por acaso, daqueles que ficaram à margem do projeto modelo de vida
digna e de cidadão que o Estado brasileiro mobilizou para lidar com suas políticas e
ações. Em muito este processo tem como divisor, nas cidades urbanas, a dimensão do
trabalho. Wanderley Guilherme dos Santos afirma que, a partir da década de 1930, a
cidadania passou a ser atestada no contexto urbano pela posse do documento da carteira
de trabalho. Assim, passou-se a afirmar que para ser cidadão era necessário ter um
trabalho regulamentado pelo Estado, materializado o valor desta ocupação e do trabalho
na carteira de trabalho assinada: ela se efetiva como uma “certidão de nascimento
cívico”.
A condição de cidadão está intrinsecamente ligada à obtenção de um emprego
regulamentado pelo Estado. O qual irá partir da segmentação e regulamentação do
trabalho a maneira pela qual prestará contas e garantias. Nesse contexto, as ocupações
formalizadas através da lei efetivaram o status de cidadãos àqueles que as
desempenhavam, e “consequentemente, foram considerados pré-cidadãos”, nos informa
Santos, “todos os trabalhadores urbanos não regulamentados” (Santos apud. Peirano,
2006. pg. 124). O Estado passa a gerir suas políticas visando uma minoria privilegiada de
cidadãos, deixando a margem a grande maioria da população. A nação só existe como
abstração e é composta, nas palavras de Marisa Peirano, “por indivíduos hierarquizados
que se diferenciam por sua profissão e pelo lugar que ocupam no conjunto da sociedade”
(Peirano, 2006. pg. 125).
Assim, é nítido que a cidadania mobiliza dois sentidos: o primeiro diz respeito à
formalidade do conceito, que abarca igualmente todas as pessoas pertencentes a um
Estado Nação; e o segundo, que é a cidadania como experienciada pelas pessoas na
sociedade, de diferentes formas de acordo com os locais que cada uma ocupa. Nesta
última, há uma diferença no trato e respeito entre as pessoas. Há negação da condição de

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dignidade, de cidadania, por parte da sociedade e do Estado para com grupos que compõe
o mesmo Estado Nação. Se faz pertinente notar que nesse contexto se produz relação em
que se manifesta o déficit de cidadania, o qual Luís Roberto Cardoso de Oliveira se
refere, ao discutir as concepções de igualdade e desigualdade no Brasil, afirma que este
se dá sempre que numa relação não há equidade entre os princípios que norteiam as
ideias de justiça e solidariedade, ou quando essa equidade não se faz presente entre o
respeito aos direitos do indivíduo e a consideração à pessoa do cidadão (Cardoso de
Oliveira, 2009; 1996). A relação da sociedade3 e do Estado para co mas pessoas em
situação de rua quase sempre está baseada nessa dinâmica do déficit de cidadania: há
sempre um saldo negativo para estes indivíduos no que e refere ao respeito dedicado à
eles como sujeitos de direito, cidadãos e, em certa medida, humanos.
Uma dimensão além pode ser trazida com um dos argumentos mobilizados por
Jessé Souza, sobre a efetiva existência da produção deliberada da subcidadania. Ao
sustentar que existem sujeitos detentores de um habitus precário4 que não poderão
disputar uma melhoraria de vida nesse sistema ilusório de mérito, da “ideologia do
desempenho”5, e ainda a naturalização das desigualdades sociais que produzem essas
experiências de vida. Como resultado, não só a as experiências de subcidadania são
reproduzidas no tecido social, mantida os valores morais associados a elas, como também
é reforçado a dimensão “natural” dessas significações.
O que está posto é que, ao atribuir aos sujeitos integralmente a responsabilidade
por sua condição de vida, eximindo de responsabilidade as estruturas sociais que
subjazem e produzem as condições de vida e possibilidades, baseados nesse devaneio
próprio do liberalismo, que se reifica estigmas relativos à condição precárias dos atores
sociais: teríamos assim, um senso compartilhado de que há de um lado os vencedores,

3 Pode-se levar em consideração aqui que a atitude blasé de George Simell, que indicaria não uma
dimensão de perversidade das pessoas em relação ao sofrimento dos outros, mas uma impossibilidade
se sentirem comovidos por todas os problemas próprios da modenidade a priori.
4 Habitus precário é, define Jessé Souza, “aquele tipo de personalidade e de disposições de
comportamento que não atendem às demandas objetivas para que, seja um indivíduo, seja um grupo
social, possa ser considerado produtivo e útil em uma sociedade de tipo moderno e competitivo.
(Souza, 2012. p. 168).
5 A ideologia do desempenho, que Jessé busca em Reinhard Kreckel, diz respeito a “uma espécie de
legitimação subpolítica incrustrada no cotidiano, refletindo a eficácia de princípios funcionais
ancorados em instituições opacas e intransparentes como mercado e Estado. Ela é intransparente posto
que “aparece” à consciência cotidiana como se fosse efeito de princípios universais e neutros”.
(ibid.170-171). Novamente é salutar lembrar do fala de Dona Maria do Fiteiro Azul.

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que conseguiram por seus méritos e esforços próprios vencer na vida, e de outro lado os
fracassados, que por desventura de suas próprias escolhas pararam em condições
precárias de vida.
Por isso que, como ressaltado no início desta sessão, são reforçados em vários
aspectos que “apenas através da categoria do “trabalho” é possível se assegurar de
identidade, autoestima e reconhecimento social”. Não é diferente voltarmos nossas
análises para grandes empresários, para trabalhadores médios, ou para população em
situação de rua: a busca pela identidade, autoestima e reconhecimento social – por sua
dignidade – aparece, a princípio, tendo a dimensão do trabalho como central. A
identidade das pessoas está diretamente vinculada à ocupação de certos postos de
trabalho – ou a sua ausência –, tornando-se a própria referência que constitui a pessoa:
confere uma identidade sobreposta a outras possíveis para quem as ocupa. E ainda, é
justamente uma estrutura social que referencia as profissões/carreiras como experiências
de vida mais ou menos dignas, estabelecendo o exemplo referencial de uma forma digna
de viver a vida, em detrimento de outras.
As pessoas numa sociedade pautada por esta ética do trabalho mantém, ainda que
não reconheçam que fazem parte desse processo, um padrão socialmente excludente
mediado pela valorização de uma experiência de vida que tem como referência o sucesso
ou fracasso na afirmação da vida a partir da estrutura do trabalho.
O dito popular de que “o trabalho dignifica o homem” associado a ideia de que
meritocracia informa um repertório moral incorporado, o qual Charles Taylor denomina
de configurações, informando as bases pelas quais as pessoas experienciam o mundo em
diálogo com este repertório. Agir de acordo com uma configuração moral é “incorpora
um conjunto crucial de distinções qualitativas” onde, afirma Taylor, “pensar, sentir, julgar
no âmbito de tal configuração é funcionar com a sensação de que alguma ação ou modo
de vida ou modo de sentir é incomparavelmente superior aos outros que estão
imediatamente a nosso alcance” (Taylor, 2013. pg. 35). É pertinente notar como esta
lógica está condizente com a maneira pela qual nos orientamos. E ainda, o fato de que
viver fora dessa forma “superior”, à margem dessa vida digna de ser vivida socialmente
referenciada como melhor, significa estar submetido(a) todo o tempo a discriminações

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por avaliações fortes6 – as discriminações informadas por essa configuração moral que
classificaram os sujeitos em bom ou mau, melhor ou pior, ou mesmo classificando sua
vida como sendo uma que “não vale a pena ser vivida”.
O espaço de manifestação dessas configurações é na afirmação de si na vida
cotidiana. Nela, é estabelecida a ideia de que a principal estrutura do bem viver na
modernidade, da vida digna, é a percepção de que sua realização se dá na esfera do
trabalho e da família. A estruturação da família e o posto que se ocupa no mundo do
trabalho, se realizam na esfera da vida cotidiana como símbolos de distinção, validação e
degradação, que prescrevem formas de vida que são percebidas como mais ou menos
dignas.
No que diz respeito aos interlocutores de minha pesquisa, os dois pilares da
estrutura do bem viver identificados por Taylor estão comprometidos: tanto o trabalho é
precário e socialmente depreciado, quanto a dimensão da estrutura familiar tem seus
laços fragilizados ou inexistentes. Esses processos têm influência direta sobre os
sentimentos que estes sujeitos passam a sentir por este motivo, vergonha e humilhação,
bem como a forçosa necessidade de se repensar, a necessidade cabal de refazer-se.

Refazer-se: busca por dignidade em meio às ruas

A articulações entre a análise das moralidades em interface com as emoções –


focalizando como estas reconfigurações de valores e as emoções próprias deste processo
têm sobre a percepção de sentir-se digno – é feita aqui a partir da perspectiva de uma
antropologia das moralidades que se compromete com a tomada da moralidade como
possível de múltiplas valorações e cambiável de acordo a biografia dos atores sociais ou
grupos, apontando para além de sua dimensão circunscrita a estes. Assim também, as
emoções são tidas aqui antes em sua dimensão micropolítica que em seu sentido restrito
do termo. Busco demonstrar que ser os sentimentos de humilhação e vergonha
6 Avaliações fortes “envolvem discriminações acerca do certo ou errado, melhor ou pior, mais elevado ou
menos elevado, que são validadas por nossos desejos, inclinações ou escolhas, mas existem
independentemente destes e oferecem padrões pelos quais podem ser julgados. Assim, embora possa não
ser julgado um lapso moral o fato de eu levar uma vida que na verdade não vale a pena nem traz realização,
descrever-me nesses termos é, de certo modo, condenar-me em nome de um padrão, independente de meus
próprios gostos e desejos, que eu deveria reconhecer”. (Taylor, 2013. pg. 17)

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mobilizados pela situação de rua, o não sentir-se digno, condensa uma série de
significações morais sobre uma forma de vida que em si não é mais ou menos digna que
outras, mas que pode aludir a dimensões que estão além da experiência do indivíduo
consigo mesmo: diz respeito a inter-relação com todo um mundo social ao redor.
Inclino-me de maneira geral a acatar a proposta de Didier Fassin sobre o
programa de uma antropologia moral, que estabelece como seu objeto a “a construção
moral do mundo”. Recusando-se às análises de moralidades circunscritas e limitadas em
si mesmas, indica que as moralidades devem ser tomadas em conjunto com as outras
esferas que compõe a experiência humana, pois estas são inextrincavelmente vinculadas
às malhas do tecido social, sendo impossível separar a análise de contextos morais sem
fazer referências à dilemas que estão para além do referido contexto – “abstrações”,
como em nosso caso, a maneira pela qual economia, estado e cidadania estão imbicados
na “tomada moral do mundo” por parte dos interlocutores :

explora as categorias morais através do qual podemos apreender o


mundo e identificar as comunidades morais que interpretamos,
examinar o significado moral da ação e o trabalho dos agentes morais,
analisa questões morais e debates morais a nível individual ou coletivo.
Trata-se da criação de vocabulários morais, a circulação de valores
morais, a produção de sujeitos morais e a regulamentação da sociedade
através de imposições morais. O objeto de uma antropologia moral é a
tomada de moral do mundo. (Fassin, 2012. p. 5).

Assim também como as moralidades para Fassin, as emoções para Lila Abu-
Lughod devem ser tomadas para além de sua dimensão circunscrita e limitada, em sua
relação com outras dimensões do social. Em sua proposta da tomada das emoções em sua
dimensão micropolítica, Abu-Lughod diz que é necessário analisar os sentimentos
externados pelos interlocutores nas pesquisas a partir de uma perspectiva que leve em
consideração a micropolítica das emoções, a qual não só evidencia as relações de poder
contidas nos discursos que os interlocutores mobilizam, mas também aponta para o fato
de que as emoções dizem respeito também aos lugares que os sujeitos ocupam no tecido
social, de maneira que é importante compreendê-las para além do seu lugar
“circunscrito”.
A proposta de Abu-Lughod é a de uma análise pragmática das categorias
emotivas, em favor de enquadrar as práticas e discursos em que os atores estão

14
envolvidos. Isto significa tomar as maneiras pelas quais as emoções são acionadas nos
discursos em variados contextos, no esforço de relacionar os estes discursos sobre as
emoções que os atores mobilizam em dinâmicas de negociações sobre aspectos da vida e
jogos de poder. E ainda, a existência de uma dimensão micropolítica das emoções
evidencia “a capacidade que as emoções têm de atualizar, na vivência subjetiva dos
indivíduos, aspectos de nível macro da organização social” (Coelho, 2010).
Estes dois atores destacados acima têm em comum um ponto essencial para a
abordagem que tenho articulado desenvolver em minha pesquisa, mesmo que difiram em
área, propostas e objetos7. Guardadas estas distinções, tomo como importante o fato de
que ambos autores explicitam que tanto moralidades como emoções apontam para a
dimensão macro em relação com a micro, e vice-versa: é no perceber as nuances das
moralidades e das emoções que pode-se compreender a relação de conformação e
reconfiguração que estas têm com contextos estruturais.
Se faz pertinente ressaltar assim que, em meu campo, moralidades e emoções
fazem parte de um mesmo processo de percepção de si: o sentir-se digno, ou a negação
de dignidade, força os indivíduos a rever seus valores morais e, posteriormente,
influencia sobre o que faria com que a possibilidade de sentir-se digno se efetivasse em
suas vidas. Estando, assim, as moralidades reconfiguradas pela transição às ruas e as
emoções experienciadas neste novo contexto, informam uma a outra, fazendo-se
indissociáveis do processo de constituição de si. Me permitindo tomar analiticamente as
moralidades e emoções provenientes desse contexto em diálogo com as dimensões
estruturais de efetivação de cidadania – reconhecimento social de que se é um sujeito de
direitos – e as ocupações no mundo do trabalho.
Com efeito, é chegada a hora de se questionar: o quê se julga constituir as bases
de nossa percepção de si como dignos? A resposta é, aparentemente simples e está
vinculada a adequação de sua forma de vida à configuração vigente. Respondendo à
pergunta, Taylor diz que:
minha visão de mim mesmo como chefe de casa, pai de família,
detentor de um emprego, provedor de meus dependentes; tudo isso pode
ser a base do meu sentido de dignidade. Do mesmo modo como sua

7 Se por um lado Fassin toma as moralidades em relação aos objetos de estudos como a ajuda humanitária,
refugiados, etc; E por outro, Abu-Lughod pensa a relação dos discursos amorosos para além da relação que
se pudesse esperar, de uma declaração de amor, mas sim como algo que diz respeito à contestação de
valores da sociedade beduínda.

15
ausência pode ser catastrófica, capaz de abalá-lo ou solapar por inteiro
meu sentimento de valor pessoal. Aqui, o sentimento de dignidade está
envolvido nessa noção moderna da importância da vida cotidiana.
(Taylor, 2013. p. 30).

Essas mesmas distinções morais apontadas teriam interferência direta na percepção dos
sujeitos sobre si como pessoas dignas em nossa sociedade, pois a “ visão de mim mesmo
como chefe de casa, pai de família, detentor de um emprego, provedor de meus
dependentes” é válida como parte integrante de nossas configurações morais e das
avaliações fortes que descriminam as pessoas com base nesse tronco comum – por mais
que esses valores estejam sendo postos em xeque, ainda figuram como dimensão
referencial para nortear a imagem da vida digna de ser vivida. Distanciando-se me muito,
como foi ilustrado anteriormente, as pessoas em situação de rua são definidos através das
ausências dessas características: pobreza extrema, ausência de moradia e laços familiares
fragilizados ou inexistentes.
Os interlocutores entrevistados para a pesquisa são apenas aquelas pessoas que
passaram à situação de rua após adultos, que foram educados dentro de uma configuração
moral que “cobra” deles a efetivação de si como um “cidadão que deu certo”, tendo
absorvido os valores de cidadania e trabalho como dimensões morais das quais tiveram
alguma vinculação e, pela situação de rua, tiveram que repensá-los e/ou reconfigurá-los.
Porque me interessa aqui a ruptura produzida por essa transição sobre os valores da
configuração moral amplamente compartilhada. Esta transição de condições é um campo
fértil para analisar valores morais é pertinente porque a “experiência de mobilidade
social, a ascensão ou descenso”, de acordo com Gilberto Velho, “introduz variáveis
significativas na experiência existencial”(Velho, 2013. p.93). Tais variáveis significativas
na experiência existencial aqui significam uma reconfiguração com todas as esferas do
cotidiano, das práticas como higienizar-se e busca por meios de manter-se alimentado,
até dimensões que dizem respeito à percepção de si como pessoa digna, como humano.
Neste sentido o primeiro choque que a situação de rua promove nos interlocutores
é a gradativa invisibilização de si no tecido social, não serem mais percebidos enquanto
pessoa, enquanto dignos. Aqui, o respeito atitudinal8 já não se demonstra como uma

8 Respeito atitudinal é usado para mobilizar o sentido condensado na frase “fulano tem o meu respeito”.
É usado no sentido de denotar admiração, respeito, pela forma de vida de outrem, mesmo que esta seja
diferente ou incompatível com a sua.

16
possibilidade, e se efetiva a negação da própria atenção ritual, onde as pessoas passam a
“agir como se ele fosse uma “não pessoa” e não existisse, para nós, como um indivíduo
digno de atenção ritual.” (Goffman, 2008. p.27). Todas as narrativas sobre o processo
gradual de adentrar às ruas comungam deste ponto em comum, de partida, quase que
como um batismo. E de fato é um sentir-se, tais relatos mobilizam a dimensão de
sentimento de serem invisíveis no ambiente social: “somos invisíveis” e “parece que não
somos gente” e por isso nos sentimos depreciados. Tais frases e associações figuram
quase que obrigatórias nos inícios de entrevista ou conversa.
Não demora para que o sentimento de invisibilidade se mostre mais claramente
associado a outros sentimentos. Ser invisível é não ser percebido como gente, é ser igual
às coisas que compõe a paisagem dos centros urbanos, indistinto de postes ou paredes, é
passar por humilhações cotidianas, ser tratado como um menos humano. Ainda como
consequência, viver com suas experiências e trocas mediadas pelo sentimento de
vergonha de si, de ser o tempo todo reconhecido e tratado como este pessoa depreciada e
não ter à mão recursos que a façam se dissociar deste estigma.
Colocar para os entrevistados a possibilidade de que falem sobre suas trajetórias
de vida é o momento em que outras dimensões se façam presentes, para além das
primeiras afirmações, subjacentes às falas: a maneira pela qual justificam suas trajetórias
de vida, seus planos, o fato de estarem nas ruas, a percepção de serem dignos e o
desconforto de saber que é preciso livrar-se da vergonha de estar fora da configuração
vigente e estigmatizado por isso. Este trecho da entrevista com Joaquim, que ao ser
entrevistado disse ter quarenta e poucos anos, demonstra bem essas dimensões:

Tratam quem tá na rua como a pior coisa do mundo. Na verdade, só


tratam se a gente acabar atrapalhando a passagem ou for pedir alguma
coisa, né? Na maioria das vezes nem veem a gente. Eu mesmo não sou
pior nem melhor que ninguém. Sinto vergonha da forma como me
olham, como me tratam. Não tenho vergonha de mim... Veja: sempre fui
homem trabalhador… minha vida toda mesmo, ainda trabalho até hoje.
Só não tenho carteira assinada por que não me dão oportunidade.
Sempre que procura emprego dão qualquer desculpa para não me dizer
que não vão contratar um morador de rua... A verdade é essa”.
(Entrevista de Joaquim; Diário de Campo, 2016)

A ênfase dada à segunda parte do texto, demarcada pelo “veja:” demonstra que o
Joaquim tem em sua consciência a certeza de que não precisava provar para ninguém que

17
é alguém digno: sabe que o que torna alguém socialmente respeitado, mesmo que
minimamente, é a vinculação com a imagem do trabalhador, atividade que ele sempre
desempenhou e que continua desempenhando, mesmo nas ruas. E, se é isso que torna
alguém digno de ser respeitado, é o caso dele. Ele sabe que não deveria sentir vergonha
de sua condição, pois ele está fazendo o que está ao seu alcance para se manter. Porque
ele é de fato igual às outras pessoas e sabe disso, mas que só a partir do discurso que o
recolocará como um trabalhador, alguém que trabalha a “vida toda mesmo, ainda
trabalho até hoje”, pode justificar que mesmo nessa condição que o estigma sugere total
degradação, ele se mantém digno.
Os interlocutores quase sempre mobilizam as diversas formas de
trabalho/ocupação – comumente chamados como bicos, oia ou corres – que
desempenham para garantir sustento como a possibilidade de revalidar sua imagem frente
a sociedade, frente aos outros. Nestas ocupações se manifestam claramente uma condição
ambígua: se por um lado estas atividades cumprem com a necessidade de garantir “o pão
de cada dia”, que é a rigor a função do trabalho, e exigem destes um esforço físico muito
maior do que o dedicado em subempregos/empregos formalizados – como, por exemplo,
passar 12h do dia catando materiais recicláveis –, por outro lado, estas ocupação, assim
como sua experiência de vida, são tornadas invisíveis: não são levadas em consideração
como atividade de trabalho, ou que tenha valor.
Um outro exemplo disto é justamente o caso de Anderson, que mobiliza a mesma
questão de ter qualificação profissional, mas é impedido de conseguir empregos pela
atuação de estigmas que pairam sobre si. Anderson, jovem de 25 anos ao tempo da
entrevista, trabalhava como soldador no Estaleiro de Suape-PE, e morava com os pais, no
Recife. No período de uma semana sua vida mudou completamente: por conta de um
desentendimento em casa, foi às ruas como forma de retaliação à situação vivenciada em
casa. Ao chegar nas ruas, Anderson foi assaltado e ficou sem documentos e dinheiro.
Orgulhoso, em detrimento de voltar para casa, preferiu tentar roubar alguém para passar
mais um tempo longe de casa como protesto e foi preso por esse ato. Contudo, não ficou
preso por que se tratava de um crime “menor” e de uma pessoa que tinha ficha limpa,
domicílio fixo e trabalho. Foi feito a vinculação do crime ao seu nome. Anderson tentou
voltar para casa e não foi aceito pelo acúmulo dessas questões, como também não teve

18
sucesso no retorno ao trabalho pelo fato de ter tido implicações com a polícia. Em meu
diário de campo observei o seguinte:

Anderson considera que parar na rua foi de certa forma escolha mesmo,
pois “não quis morar com minha mãe, quis ficar por aqui mesmo. Ligo
pra ela todo mês. Mas, não quero morar com ela nem com ninguém
não, tá ligado?”; mas ao mesmo tempo gostaria de sair da rua, morar
numa casa, e acha que a saída é possível através de conseguir
contratação em um emprego que lhe garanta renda fixa por que
“emprego é o principal pra sair da rua, né? Tem outras coisas, mas o
emprego é o mais importante”. Contudo, ele acredita que conseguir um
emprego é difícil, mais por que ele tem “passagem” do que por ser
morador de rua – ser morador de rua vem como problema secundário.
(Entrevista Anderson, Diário de Campo, 2014).

O estigma que acomete as pessoas em situação de rua parecia não ter se fixado
sobre a subjetividade de Anderson. As variáveis que podem ser elencadas neste processo
são as de que ele teve a passagem pela polícia como também o pouco tempo de estadia
nas ruas. Entre o dia que ele passou a estabelecer a rua como único local possível de se
manter e o dia em que eu o entrevistei, não havia passado mais que seis meses. Apesar de
todo o discurso e contexto apresentado por ele, em grande parte descrito aqui, ele nega de
maneira veemente que é uma pessoa em situação de rua. Recorrendo à imagem do
trabalhador de Suape que não está tão distante, por mais que não pudesse parece naquele
momento, do profissional qualificado de carteira assinada que havia ficado num passado
próximo, distância não medido em termos de tempo, mas sim em gradação de valor
moral.
Nesses dois exemplos um ponto fundamental é explicitado. O primeiro é de que
em ambos os casos, seja com a comprovação recente de trabalho formal qualificado ou
com o argumento de experiência de trabalho de uma vida, não são ofertadas tantas
possibilidades de emprego formal para pessoas em situação de rua, provavelmente pelas
associações negativas que seu estigma sugere. O segundo é o de que os dois vêm no
emprego formalizado a possibilidade de melhorar sua condição de vida, moral e material:
a observação a ser feita é que está em questão o emprego em si, mas aceitação social
deste
Ainda, a vergonha ficou manifesta nos dois casos, e sua presença se dá por vários
motivos. Há um duplo movimento no jogo sob o qual a vergonha se manifesta nas
entrevistas. Desde a vergonha frente ao outro com o qual se interage, até a vergonha de

19
ocupar um lugar depreciado na sociedade – o que faz com que os indivíduos tentem, de
diversas formas, se dissociar da imagem descreditada: associando-se a imagens que
representam os valores morais da sociedade, trabalhador, e reafirmando qualidades
depreciativas para as outras pessoas que figuram o mesmo grupo depreciado. A vergonha
aparece nesses sentidos pois, ela tanto faz com que a pessoas que a sente esta numa
condição diferenciada por ter feito, afirma Nobert Elias, “alguma coisa que a faz entrar
em choque com pessoas a quem está ligada de uma forma ou de outra, e consigo mesma,
com o setor de sua consciência mediante o qual controla a si mesma. (Elias, 1993. pg.
242-3). E ainda, no que diz respeito a relação com depreciações grupais:

Há sempre uma suposição de que cada membro do grupo inferior está


marcado pela mesma mácula. Eles não conseguem escapar
individualmente da estigmatização grupal, assim como não conseguem
escapar individualmente do status inferior de seu grupo. (Elias 2000.
pg.131)

É uma dimensão que acompanha o indivíduo. Gera um momento anterior à


primeira palavra, onde todo um repertório de desrespeito e humilhação cotidiana é
invocado. Isso se dá por que para a própria pessoa não é um mera “confusão” na maneira
pela qual as pessoas a reconhecem. É um contexto que força o indivíduo a agir, sentir e
pensar em formas de incluir-se como pessoa, digno… como alguém na configuração
vigente, nos termos anteriormente apontados, acabando por recorrer a táticas outras onde

a forma que o morador de rua encontra de se livrar dessa imagem de si


mesmo é negar a sua prática e seu grupo social, buscando, no nível da
representação, identificar-se com os papéis socialmente aceitos. (Vieira,
Bezerra, Rosa, 2004. pg.101)

Isto porque a grande questão reside no fato de que não se resume meramente ao
confronto da situação do indivíduo com a opinião social majoritária: a situação em que o
indivíduo se encontra é extremamente conflituosa confrontando-se com ele mesmo, a
parte dele que, de certa forma, representa esta opinião social. É um conflito no processo,
ou a eminente possibilidade, de se reconhecer como inferior e romper o elo que o conecta
aos demais no âmbito social (Elias, 1993. p. 242). Assim, a questão é que no momento da
interação social os indivíduos envolvidos estão sempre pensando e evitando passar por
vergonha, ou ser assemelhados à símbolos degradantes, e esta dinâmica tem uma inflexão
muito forte sobre sua percepção de si mesmo enquanto pessoa. A referência ao

20
trabalhador se dá nesse contexto, como uma forma de afirma-se como alguém que
desempenha um papel socialmente aceito – é o trabalhador de fato ou o que trabalhou
sempre, nunca desocupado ou mendicante.
Seguindo muito dessas indicações, Thomas Scheff dá um destaque ainda mais
claro à vergonha ao apontá-la como principal e central emoção para compreensão da
sociabilidade moderna. O autor propõe que, tanto a causa motivadora, quanto o efeito da
maioria das emoções, é decorrente de dois estados expressos pelos conceitos de conexão
e desconexão: no primeiro caso, sentir-se parte de um grupo é algo bom, na medida em
que não torna o sujeito um sobreconectado – que ao nutrir um amor incondicional ao
grupo o qual pertence acabaria por se tornar algum tipo de fanático; no segundo caso – o
que se refere ao contexto aqui analisado – sentir-se desconectado9 é condição que
acomete o sujeito de uma vasta gama de emoções negativas, como vergonha e
humilhação. Por isso, argumento que a categoria trabalho aparece aqui mobilizada como
mecanismo capaz de solucionar o descompasso em perceber-se desconectado, como
mecanismo capaz de promover a revalidação social. Ela é a possibilidade de tornar o
sujeito desconectado com a sociedade, novamente conectado através de sua validação
como cidadão através de sua identidade de trabalhador.
O trabalho não tem apenas o valor em si de fonte de renda, pois mais de 85% 10
das pessoas em situação de rua têm algum tipo de atividade remunerada – isso quer dizer
que, sim, menos de 15% deles têm como fonte de renda mendicância e ainda 90% afirma
não receber qualquer tipo de benefício de órgãos governamentais (Ministério Público,
2015). O que está em questão é o trabalho moralmente validador de um cidadão. Pois, de
acordo com Lucas,
Todo mundo aqui trabalha, faz seus corres, cata papelão e latinha. Pode
passar ali na rua [R. Duque de Caxias] que você vai ver, os papelões
todos juntados direitinho. Que a gente junta pra fazer de abrigo pra
passar a noite e vender. Mas, quem diz que a gente é trabalhador por
fazer isso? Só chamam de vagabundo, por mais que a gente trabalhe o
dia todo no sol catando lixo. (Lucas, Diário de Campo. 2014).

Lucas aponta para o fato de que claramente – reforçando o argumento levantado


9 Essa desconexão se dá em três níveis: de um indivíduo com outro indivíduo, do indivíduo com o outro
grupo, e de um grupo com o outro grupo. Esses quadros montados a partir da relação entre sujeitos
conectados e desconectados acarretam à eles uma série de problemas, trazem consigo todo um
acúmulo de consequentes cargas emotivas decorrentes da interação.

10 Em algumas capitais, atualmente, esse percentual chega a mais que 90%.

21
anteriormente a partir dos exemplos de Anderson e Joaquim – o que está em questão não
é se a pessoa desenvolve uma ocupação com a qual tira seu sustento diário. A questão é
que o tipo de atividade desempenhada não tem prestígio algum, ainda que se passe mais
horas por dia engajado em atividades de trabalho braçal, no final das contas ainda
prevalecerá a imagem do “vagabundo que não quer nada com a vida”, que a Dona Maria
do Fiteiro faz questão de matizar.
Ainda tem uma dimensão que complica muito esta condição: a partilha que o
próprio Estado tem do preconceito para com esta população. De forma que o
desconhecimento e o interesse em compreender e possibilitar melhorias para estes é
muito precária. Em determinada etapa da pesquisa entrevistei Cosme, que relatou o
seguinte:
Trabalhei a vida toda de carteira assinada, rapaz. Tinha profissão, já
viajei que só trabalhando. Comia em qualquer restaurante que eu
quisesse. Hoje estou sem conseguir trabalho bom, mas fico aqui na rua
cuidando de carro. Mas, o negócio está tão ruim que quando foram
cadastrar os flanelinhas11 nem deram chance para a gente, porque você
tem que ter isso e aquilo [se refere a necessidade de apresentar
identidade, CPF, comprovante de residência] para poder fazer uma
coisa que você faz todo dia, sendo que agora dão pra outras pessoas que
não vão roubar ou fazer coisa errada com o carro dos outros. (Entrevista
Cosme, Diário de Campo 2015).

que tinha como um de seus bicos a atividade de flanelinha – vigiar carros estacionados,
lavá-los quando possível, ajudar em manobras e correlatos – no mesmo período, a
Prefeitura da Cidade do Recife havia iniciado o cadastramento dos flanelinhas que
atuavam no Bairro do Recife, com o intuito oferecer cursos e promover a diminuição dos
índices de casos de extorsão e constrangimento. Não houve nenhum preocupação em
refletir sobre a condição das pessoas que desempenhavam esta função, justamente porque
elas não eram a questão relevante para “o social”: melhor que não existissem ali.
Acirrando ainda mais alguns dos divisores entre “nós e eles”:

11 Uma matéria de um jornal local, publicada ao tempo, dá o tom: “Para obter a permissão de trabalho, os
guardadores de carro precisam apresentar RG, CPF e comprovante de residência. Eles ainda serão
fotografados e terão a ficha de antecedentes criminais consultada. Com o cadastro, a prefeitura
pretende identificar os guardadores de carros para evitar ações de constrangimento ou extorsão dos
motoristas que estacionam na região.” http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/12/prefeitura-da-
inicio-cadastro-de-flanelinhas-no-bairro-do-recife.html

22
Considerações finais

Foi demonstrado, ao longo do texto, como a população em situação de rua teve


origem na transição enter os séculos XVIII e XIX, como resultado da adequação das
estruturas sociais para o processo de efetivação do sistema capitalista. De maneira que
esta conjuntura foi responsável por produzir tipos de sujeitos próprios, resultantes da
organização da estrutura produtiva. E que, desde então, as qualificações morais
associadas a relação com a estrutura produtiva já operavam de modo similar ao que ainda
temos hoje. Destacou-se que a população em situação de rua tem como uma de suas
características central serem depreciados pelo estigma como marcador de seu valor
moral. Ponto que evidência o mote central do artigo: como que a experiência de tornar-se
pessoa em situação de rua reconfiguram os valores morais, relacionando-os com os
discursos emocionais que os atores mobilizam.
Pelo fato de que a percepção sobre sentir-se dingo recorrentemente apareceu nas
entrevistas associada às categorias de cidadania e trabalho, dei especial ênfase a
demonstrar como constituição da cidadania no Brasil esteve vinculada com a gerência do
mundo trabalho – tornando certos tipos de ocupações legitimadores de cidadania, em
detrimento de outras. Adicionando no contexto atual a naturalização da desigualdade
social, a responsabilização individual dos indivíduos por seus estados precários ou
possibilidade de sucesso na vida. Para assim poder discutir a partir das narrativas de
indivíduos que estão no polo negativo dessa classificação, e que têm consciência de que
não é uma questão de culpa individual.
Quis evidenciar com esta problematização que os interlocutores ouvidos em
minha pesquisa ocupam um lugar socialmente depreciado, acarretando a eles uma série
de sentimentos negativos que forçosamente fazem com que estes não mais se
reconheçam. Há uma ruptura brutal entre a imagem de si como pessoa que se sabe que é,
que há um tempo atrás foi digna de respeito atitudinal e considerado como cidadão, para
um progressivo esvaziamento do sentido dessas palavras na prática. Desrespeito e
negação de direitos passam a ser a experiência do cotidiano. Este contexto faz com o que
eles revejam os sentidos e os valores morais que a sociedade também, que reconfigurem
suas percepções sobre o padrão de vida digna de ser vivida: ao colocarem em

23
comparação sua forma de vida, ressaltando criticamente a diferença de valor atribuído às
outras formas, conseguindo ainda questionar a própria fragilidade do estigma que
carregam, estes indivíduos colocam em xeque pontos críticos sobre como nossa
sociedade lida na prática com o nosso respeito à vida e o valor da dignidade humana.
Além de demonstrar que trabalho por trabalho, engajamento prático com fins de obter
recursos financeiros, não é o cerne da possibilidade de revalidação de si enquanto digno,
mas sim a necessidade de uma mudança de percepção social sobre os processos que estão
presentes na dinâmica de vida das pessoas em situação de rua, com fins de desnaturalizar
esta condição e quebrar como estigma
Esta discussão indica que ainda tem muito que se fazer dentro mesmo de uma
perspectiva da antropologia das moralidades e das emoções, em interface com outras
disciplinas. Pois, tomar o mundo em sua dimensão moral, em conexões com economia,
política, sociedade, etc a partir da significação própria mobilizada por atores e grupos, a
partir de suas biografias e contextos é extremamente pertinente para pensar formas de
compreensão dos grupos, como também a possibilidade de alargamento da noção de
cidadania e relações mais efetivas que visem incluir estes sujeitos numa dinâmica de
garantia de direitos. Processo que, ao que os estudos indicam, está intimamente ligado
com a maneira pela qual o sentimento de dignidade tem potencial de se manter vivo.

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