CRÍTICA
Resumo
Introdução
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Sobre as tendências pedagógicas é possível localizar as diferentes tipificações em Saviani Escola e
Democracia (1984), Pedagogia Histórico-Crítica (2003), História das Idéias Pedagógicas no Brasil (2007), em
Libâneo (1989), Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e Luckesi (1990),
Tendências Pedagógicas da Prática Escolar.
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escola sustentada pela concepção liberal. Historicamente, esta pedagogia inicia-se com a
tendência tradicional, inspirada no princípio de que a educação é direito de todos e dever do
Estado. Este princípio defendido sob o pretexto da instauração de uma sociedade democrática
é lançado e defendido pela classe burguesa, que se firmava no poder. A defesa da sociedade
democrática tinha como objetivo instaurar e manter a democracia burguesa. A burguesia
acenava com a mensagem que dizia ser preciso transformar os súditos em indivíduos livres e
esclarecidos. “Para superar a situação de opressão, própria do 'Antigo Regime' e, ascender a
um tipo de sociedade fundada no contrato social celebrado 'livremente' entre os indivíduos,
era necessário vencer a barreira da ignorância. Só assim seria possível transformar os súditos
em cidadãos [...]” (SAVIANI, 1984, p. 9).
A escola passou, então, a ser pensada como instrumento capaz de sanear a
marginalidade, a miséria, o analfabetismo. Neste contexto é chamada a cumprir uma clássica
função, enquanto instituição encarregada da transmissão da cultura e do saber sistematizado.
das necessidades da infância e, ajudada pela biologia e psicologia, elaborou princípios neste
sentido. A marginalidade é explicada agora, não mais pela diferença entre os homens, o que já
era defendido pela tendência tradicional, mas pelas diferenças no desempenho cognitivo. “O
marginalizado já não é, propriamente, o ignorante, mas o rejeitado. Alguém está integrado
não quando é ilustrado, mas quando se sente aceito pelo grupo e pela sociedade em seu
conjunto” (SAVIANI, 1984, p.11).
À escola caberia o papel de contribuir para a constituição de uma sociedade, cujos
membros se aceitassem e se respeitassem na sua individualidade, independente das
diferenças. “Nesta perspectiva caberia à escola suprir as experiências que permitam ao aluno
educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre
estruturas cognitivas do indivíduo e estrutura do ambiente” (LIBÂNEO, 1989, p. 25).
Para cumprir este papel, a questão pedagógica deveria se deslocar do intelecto para o
sentimento, do aspecto lógico para o psicológico, dos conteúdos cognitivos para os métodos
ou processos pedagógicos; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade e
do professor para o aluno (SAVIANI, 1984).
No âmbito do pensamento escolanovista, que professor se fez necessário? Aquele
capaz de organizar as situações de sala de aula de modo a permitir o aprendizado do aluno.
Um estimulador e orientador da aprendizagem. Dewey ao fazer referência ao papel
desempenhado pelo professor enfatiza que este é essencial cabendo-lhe orientar, guiar e
estimular a atividade do aluno:
Como professor, não lhe cabe juntar fatos novos, ou novas hipóteses ou verificações
novas à ciência que ensina. Ele está interessado na matéria da ciência como
representativa de um determinado estágio e uma certa fase do desenvolvimento da
experiência. Sua tarefa é a de conduzir uma experiência viva e pessoal. Portanto, o
que importa como mestre, são os modos por que a matéria se tornou uma parte
daquela experiência; é o que realmente exista na criança de utilizável com referência
àquela experiência; o processo por que esses elementos podem ser aproveitados; o
modo como seu conhecimento da matéria possa assisti-lo na interpretação dos
desejos e atividades infantis, e, por fim, a descoberta do meio em que a criança deve
ser colocada para que seu crescimento venha a ser devidamente orientado. O seu
interesse não está na matéria de estudos como tal, mas como fator da experiência
total e crescente da criança. Encarar assim as matérias do programa é encará-las
psicologicamente (DEWEY, 1975, p. 55-56, grifos do autor).
processo de burocratização da escola, uma vez que a crença era de que o processo se
racionalizaria, na medida em que se agisse planificadamente.
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Crítico-Social dos Conteúdos: denominação utilizada por Libâneo (1989), em Democratização da Escola
Pública. Nesta vertente, a preocupação da escola deve ser com a “transmissão e assimilação dos conteúdos
culturais historicamente situados” (p. 71).
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Diferentemente dos outros animais, que se adaptam a realidade natural tendo sua
existência garantida naturalmente, o homem necessita produzir continuamente sua
própria existência. Para tanto, em lugar de se adaptar à natureza, ele tem que adaptar
a natureza a si, isto é, transformá-la. E, isto é feito pelo trabalho (SAVIANI, 2003, p.
11).
Para sua subsistência, o homem necessita produzir bens materiais, trabalho material.
Neste processo de produção da vida material, “o homem necessita antecipar em ideias os
objetivos da ação, o que significa que ele representa mentalmente os objetivos reais”
(SAVIANI, 2003, p. 12). Envolve a ciência, a ética e a arte. A produção de ideias, conceitos
valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades, traduzem-se no trabalho não-material. Sendo
a educação um fenômeno próprio dos seres humanos constitui-se ela própria, um processo de
trabalho, trabalho não-material. Trabalho em que o produto não se separa do ato de produzir.
Para Saviani (2003) essa é a natureza da educação. Quanto à especificidade da educação, o
autor enfatiza:
[...] o que não é garantido pela natureza tem que ser produzido historicamente pelos
homens e aí se incluem os próprios homens [...]. Consequentemente, o trabalho
educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente em cada indivíduo singular,
a humanidade que é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto dos
homens (SAVIANI, 2003, p. 13).
Segundo Saviani (2003, p. 15) “a escola existe para propiciar a aquisição dos
instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio
acesso aos rudimentos desse saber”. A fim de atender o objetivo proposto é necessário dirigir
o olhar para o professor, para sua formação.
Ao discutir a formação docente, Saviani (1997) argumenta, recorrendo às concepções
pedagógicas, que existem dois modelos predominantes de formação de professores. Na
primeira ordem, uma formação que contemple os conteúdos culturais-cognitivos; na segunda,
o conhecimento pedagógico-didático. O autor acrescenta ainda que, essas modalidades não
encerram os saberes necessários à atuação docente. Existe ainda o pedagógico; o crítico-
contextual e o atitudinal.
O domínio desses conhecimentos possibilitará ao professor uma postura crítica em
relação aos conteúdos apropriados por ele mesmo, transmitidos e apropriados pelos alunos
(FACCI, 2004). Para transmissão dos conhecimentos é preciso que o professor utilize
métodos de ensino. O trabalho na escola se refere à apropriação do saber, por parte do aluno
concreto. Este saber deve ter um conteúdo específico que, somente “será progressista se o
meio pelo qual é transmitido for progressista” (WACHOVICZ, 1989, p. 91). Nesse sentido
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Tem como primeiro passo ver a prática social dos sujeitos da educação. A tomada de
consciência sobre essa prática deve levar o professor e os alunos à busca do
conhecimento teórico que ilumine e possibilite refletir sobre seu fazer prático
cotidiano. O segundo passo consiste na teorização sobre a prática social. O
levantamento e o questionamento do cotidiano imediato e remoto de um grupo de
educandos conduzem à busca de um suporte teórico que desvele, explicite, descreva
e explique essa realidade. O terceiro passo dessa metodologia de ensino é o retorno à
prática para transformá-la. Depois de passar pela teoria, isto é, pelo abstrato, o
educando pode se posicionar de maneira diferente em relação à prática, pois
modificou sua maneira de entendê-la. Em consequência, sua prática também não
seria a mesma (p. 6-8, grifo do autor).
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
DEWEY, John. Vida e educação. Tradução de Anísio Teixeira. São Paulo: Edições
Melhoramentos, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. São Paulo:
Paz e Terra, 1997.
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. São Paulo:
Autores Associados, 2007.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1990. (Coleção
Magistério 2º Grau- Série Formação de Professores).
______. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1991.
______. História das idéias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007.
VIEIRA, Sofia Lerche. Escola - função social, gestão e política educacional. In: FEREIRA,
Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Angela de S. (Orgs.). Gestão da educação:
impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000.
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