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DIREITO PENAL II
Apontamentos
Teoria da Infracção
Nota: estes apontamentos estão feitos, essencialmente, com base nas aulas práticas leccionadas pela Prof. Dra. Helena
Morão, materiais por ela fornecidos e complementados com o Manual da professora Maria Fernanda Palma e professor
Figueiredo Dias.
Abreviaturas:
FD – Prof. Figueiredo Dias
FP – Prof. Maria Fernanda Palma
HM – Prof. Helena Morão
TC – Prof. Taipa de Carvalho
ACÇÃO
FD: defende que o momento da acção não é relevante e consequentemente, este problema
deverá tratar-se na tipicidade.
FP: interessa discutir o momento da acção de forma autónoma, antes de discutir a tipicidade. Se
a acção não for penalmente relevante nem sequer pode ser tipificada.
- Para verificar se a acção é penalmente relevante tem que se ter em conta que tenha
havido um COMPORTAMENTO HUMANO E VOLUNTÁRIO.
Acção ou omissão livre da causa: exemplo do motorista que não respeita as horas de
descanso e adormece causando um acidente. Embora esteja num estado de
inconsciência aquando do acidente, esse estado de inconsciência é-lhe imputável por
não respeitar o período de descanso.
SONÂMBULISMO
HIPNOSE
ROXIN: pega no elemento biológico para criar um critério normativo. Segundo ele, o
automatismo é a manifestação da personalidade de cada agente e, sendo assim, o
comportamento é penalmente relevante. (ex: está um grupo de turistas no castelo de S. Jorge, há uma derrocada e A
ao cair agarra o B que acaba por cair também. Para Roxin esta é uma manifestação da personalidade do A) HM concorda.
JACOBS: critica bastante a visão de Roxin. Jacobs é um preventista de prevenção geral. Pode
haver acções instintivas que possam não ser um comportamento penalmente relevante. Para o
autor o agente pode não ter tempo de reagir da forma que lhe é exigida pelo direito. Tem que se
fazer uma análise, caso a caso, verificando se o agente teve tempo de conhecer o perigo e se
teve tempo para se motivar pela norma.
TIPICIDADE - OMISSÃO
Existem omissões puras e omissões impuras. Entre elas há um concurso aparente de normas
por subsidiariedade, porque o desvalor (omissão) é comum a ambas as normas.
- as omissões impuras advêm do art.10º CP, sendo uma técnica de tipicidade indirecta.
FD e FP dizem mesmo que sem esta norma não existiriam omissões impuras.
POSIÇÃO/DEVER DE GARANTE
IMPUTABILIDADE OBJECTIVA
TEORIA DO RISCO: é necessário que o agente tenha criado, aumentado ou não diminuído
(este último, quanto à missão) um risco.
Diminuição do risco
ROXIN: havendo diminuição do risco para o bem jurídico devido à conduta do agente, este não
pode ser penalmente responsável. Havendo diminuição do risco já não há desvalor da acção.
PAULO SOUSA MENDES: critica Roxin porque este verifica a diminuição do risco na fase ex
ante, enquanto que Paulo Sousa Mendes apenas o faz na fase ex post, pois na fase ex ante não
deixa de haver um risco proibido.
É aqui que a teoria do risco se afasta da teoria da causalidade adequada. Há que saber
quando há risco proibido e permitido.
- QUANDO NÃO HÁ REGRAS tem que se fazer uma interpretação do caso de acordo com o
conceito material de crime. (ex: A compra uma viagem a B na companhia aérea que tem mais percentagem de acidentes
de aviação, e o avião acaba mesmo por cair, não se poderá imputar objectivamente o resultado, porque não há uma verdadeira
concretização do risco no resultado)
Nos crimes por acção, a teoria do risco exige sempre um nexo de causalidade
(concretização do risco no resultado). Relaciona-se com a lógica do p. da culpa, ou seja,
que haja uma alternativa causal. A teoria do risco assenta numa causalidade científico-
natural.
As omissões assentam num juízo hipotético.
CAUSALIDADE CUMULATIVA: cada uma das causas são insuficientes por si só para gerar
o resultado, mas cumulativamente acabam por produzir o resultado. Os agentes são punidos por
tentativa impossível.
A causalidade cumulativa coloca problemas À teoria do risco, quando
a outra causa se podia prever e devia adoptar-se um certo
comportamento.
FD: isto tem limites, porque se for claro que o outro agente não vai
cumprir não se pode invocar o princípio da confiança.
INDUBIO PRO REO: quando não se consegue concluir qual o agente que concretizou o
resultado, punem-se os agentes apenas por tentativa.
Em casos de omissão na esfera de protecção da norma: p.e. o médico que recusa prestar
os deveres de assistência médica a um paciente que entra nas urgências quando ele está
de serviço.
o As omissões não têm relevância na causalidade cientifico-natural, fazendo-se
neste casos um juízo hipotético (10º/1 CP), só a possibilidade de evitar o
resultado é que torna o resultado imputável ao agente.
No caso do médico, se ele não assiste por estar a atender um outro paciente, o resultado
não lhe é imputável, no entanto, se ele não assiste porque decide ir ver a bola naquele
momento o resultado já lhe é imputável porque uma conduta diferente da sua parte
poderia te evitado o resultado.
- No entanto, nem todos os casos nos permitem ter a certeza se o resultado era ou não evitável:
ROXIN: defende que não é preciso demonstrar que a acção devida seja manifestamente
necessária. Basta demonstrar que a acção teria diminuído o risco no resultado.
IMPUTAÇÃO SUBJECTIVA
Cognitivo (representação)
Volitivo (vontade)
TIPOS DE DOLO:
Dolo directo: caracteriza-se pela vontade livre e consciente do agente; o agente age
daquela maneira porque quer, é aquela a sua intenção. (art.14º/1 CP)
Dolo necessário: o agente assume a consequência necessária à realização da sua
conduta. (art.14º/2 CP)
Dolo eventual: ocorre quando o agente, mesmo não querendo efectivamente o resultado,
assume o risco de o produzir. (14º/3 CP)
Os casos de NEGLIGÊNCIA estão previstos no CP, logo, se não houver nenhum caso previsto,
nem se prossegue À análise do art.15º CP (ex: homicídio por negligência).
ERRO
Erro ignorância: ignora-se o facto de, p.e., ser uma coisa alheia. Neste erro não há
dolo, logo, só nestas situações se aplica a 1ª parte do art. 16º/1 CP.
Erro suposição: supõem-se que o elemento se verifica, mas afinal de contas não se
verifica. Segue o regime da tentativa impossível (art.23º/3).
ABERRATIO ICTUS
Aqui não há erro ignorância, nem erro suposição, há apenas uma falha na execução.
Limites das “aberratio ictus”: o limite da “Aberratio ictus” acaba quando há dolo em relação a
mais do que uma pessoas.
Casos em que não há presença do objecto: p.e. A envia uma bomba pelo correio a B,
mas por engano a bomba acaba na caixa de correio de C e é este que morre com a
explosão. – a “aberratio” não resolve de maneira eficaz estes casos, porque neste caso o
agente não poderia ser punido por tentativa em relação a B, porque nem chega a invadir
a esfera jurídica deste.
o FP: resolve este caso através do erro sobre a identidade da pessoa ou sobre o
objecto. Não há razão para excluir o dolo, logo, esta será a melhor opção.
DOLO ALTERNATIVO
Há dolo alternativo quando o agente quer atingir um ou outro objecto, mas ele apenas
quer atingir um deles, não os dois.
FP: faz uma dupla valoração do dolo, violando o p. da culpa, visto que defende haver
concurso efectivo ideal de crime consumado e de tentativa.
O agente atinge exactamente o objecto que queria mas de maneira diferente daquela que
tinha planeado.
FP: diz que o agente quando coloca em perigo um bem jurídico, deve prever que esse
bem possa ser lesado de outras maneiras supervenientes.
ROXIN: há casos em que o erro sobre o processo causal releva ( como é o caso do caso
7, em que o agente empurra a vítima de uma ponte para que esta morra afogada, mas no entanto,
esta morre porque cai em cima de um barco que ia a passar). O prof. dá um exemplo em que o
erro sobre o processo causal releva: caso em que o A dá a B um medicamento com o intuito de o
deixar infértil, mas no entanto o medicamento não gera infertilidade a B, mas sim cegueira.
Neste caso há um concurso efectivo ideal, uma tentativa à ofensa da integridade física e uma
ofensa à integridade física dolosa consumada.
DOLUS GENERALIS
WELZEL: teoria da acção final – desde que o agente tenha planificado logo a segunda
acção (para encobrir a primeira), só deverá ser punido por um único crime consumado por haver
unidade de acção, caso contrário não é punido por um único crime consumado, mas sim por
vários crimes. FP concorda.
DOLO EVENTUAL
UNIDADE DO SISTEMA
Há causas de justificação quer no Direito Civil, quer no Direito Penal, embora com
alguns pressupostos diferente. No entanto, um comportamento que não seja justificado no
Direito Civil também não pode ser justificado no Direito Penal, e vice-versa. É uma questão de
unidade do sistema, tal como nos refere o art.31º. CP.
LEGÍTIMA DEFESA
Pressupostos:
- ACTUALIDADE:
FD – ofensa em curso ou iminente.
FP + TC – afere-se pelo art.22º./2 CP, tendo de se encaixar em alguma das alíneas.
- PROPORCIONALIDADE:
FD – defende que a legítima defesa se rege por limites ético-sociais, e não pelo
pressuposto da proporcionalidade.
o Caso em que o agressor é inimputável (desprovido de culpa) e nos casos de
simples provocação.
Casos em que FD diz
o Situações de crassa desproporcionalidade (em causa, bens jurídicos de valor
não se poder recorrer
diferente).
à legítima defesa
o Agressores em relação aos quais haja posição de garante.
o Agentes de segurança pública nunca exercem um direito de legítima defesa.
Nota importante: na legítima defesa actua-se SEMPRE contra o AGRESSOR, não contra
terceiro (se não, nem seria um caso de legítima defesa, pois só há necessidade de defesa em
relação ao agressor).
Teoria dos elementos negativos do tipo: defende que o erro recai sobre o tipo,
excluindo o dolo tipo, o que faz com que o agente apenas possa vir a ser punido por
negligência.
Welzel: diz que não faz sentido haver exclusão do dolo, porque matar uma mosca não é
a mesma coisa que matar uma pessoa, quanto muito exclui-se a culpa, não o dolo. Esta
teoria é completamente afastada pelo art.16º./2 CP.
Artigo 16º./2 CP: aproxima-se da teoria dos elementos negativos do tipo, mas difere
desta porque esta exclui o dolo do tipo e o 16º./2 exclui o dolo da culpa.
Caso em que não há excesso: se o A tem 1,90m, pesa 120kg e agride o B que tem 1,50m e pesa
50 kg, não há excesso se o B se defender da agressão do A com uma navalha.
FP – aplica-se analogicamente o art.33º. CP nos casos de excesso extensivo (ou seja que
prescinde já da actualidade) e nos casos de proporcionalidade qualitativa.
Exemplos:
1. Tenho duas pessoas na mesma situação de morte iminente, escolho salvar o meu amigo
e não o desconhecido.
2. Ambos na mesma situação, decido salvar um francês em vez de um muçulmano porque
sou racista.
Não é por a motivação ser racista que eu vou conseguir salvar os dois, pois eu
só posso salvar um. Quando as pessoas estão ao mesmo nível eu sou livre de
fazer a escolha que quiser para salvar uma delas, porque só uma pode ser salva e
há um conflito de deveres – MOTIVAÇÕES LÍCITAS.
3. Um médico salva a vida de um idoso em vez da vida de uma criança (ambas são vidas
humanas, e ambas valem o mesmo).
4. Há um incêndio numa casa onde está uma pessoa e na casa ao lado há outro incêndio
onde estão cinco pessoas, o bombeiro decide salvar a casa onde estava apenas uma
pessoa (cinco vidas não valem mais do que uma, valem o mesmo).
5. Há dois pacientes vítimas do mesmo acidente, no entanto, há um que chega primeiro ao
hospital e é ligado à única máquina disponível, o outro chega cinco minutos depois,
igualmente em estado grave. Pode o médico abdicar do tratamento do primeiro para
salvar o segundo, ligando a máquina a este?
É necessário que o agente saiba que vai ser vítima de um crime, a falta de
conhecimento/consciência afasta a legítima defesa.
No art. 32º. Não está presente nenhum elemento subjectivo, no entanto, considera-se
que está implícito nas causas de justificação e na caracterização da acção.
Se este elemento faltar o facto (a defesa) é ilícito. Artigo 38º./4 CP : regula-se a falta de
elemento subjectivo através da aplicação analógica deste artigo.
CULPA
FP: o fundamento da culpa é a vontade, defende uma ideia de culpa pela vontade porque o
agente é culpado por fazer a escolha da acção.
FD: adopta o critério da culpa pela personalidade. A culpa não é só aquilo que fazemos, é
aquilo que somos.
Critérios de censurabilidade
FP: tende às particularidades do caso concreto. As emoções não são apenas forças que nos
condicionam, pois podem ser educadas. As próprias emoções exprimem valores , logo estas
podem ser valoradas positivamente ou negativamente. Tem de se analisar a estrutura emocional
do agente. Importa a qualidade ética da emoção.
Admite a aplicação analógica de causas de exclusão da culpa. P.e. mãe que tem dois
filhos a morrer nos seus braços, mas esta não consegue escolher nenhum dos dois então
deixa que ambos morram – CONFLITO DE DEVERES DESCULPANTE no fundo não seria
justo não desculpar o acto desta mãe, porque ela cometeu uma acção que acaba por ter relevância para o Direito que foi a igua ldade
(direito reconhecido constitucionalmente) entre os dois filhos, não se exige a uma mãe que tenha de escolher entre um dos filhos.
o Caso Kimura: caso de uma mãe japonesa que vivia nos EUA com a sua família,
e após saber que o marido a traía tentou suicidar-se com os dois filhos, só que
ela sobreviveu e os dois filhos morreram. A verdade é que Kimura só falava
japonês e só tinha convivência com pessoas da sua cultura, e visto que na sua
cultura a infidelidade do marido significava que a mulher falhara e reproduzia-
se numa vergonha, sendo que no Japão em que os filhos são vistos como uma
extensão da mãe, esta mãe matou os filhos para os salvaguardar da vergonha
que iria provir. (este caso gera alguma controvérsia, porque coloca-se em causa
até que ponto a cultura do agente, sendo que este vivia nos EUA, poderia
predominar).
FD: critério do homem médio, do homem fiel ao Direito, o que este faria em determinada
situação.
Quando existe falta de consciência da ilicitude é necessário saber qual o artigo a aplicar.
Enquanto o art16ª/1, 2ª parte fala de uma consciência razoavelmente indispensável, por
interpretação a contrario o art. 17º fala de uma consciência razoavelmente dispensável.
FD: há crimes que são axiologicamente relevantes, ou seja que todo o homem médio sabe que é
crime (ex: homicídio, furto, ofensa à integridade física, corrupção).
Por isso o artigo 17º aplica-se quando se tratem de comportamentos axiologicamente
relevantes.
Exemplo:
A começa a trabalhar numa empresa como secretária, passados 15 dias, A entra na sala
de reuniões para distribuir os cafés que lhe hão sido pedidos e houve algo sobre o lançamento de
uma OPA. A quando chega a casa e pergunta ao seu filho, dono de uma empresa, o que era uma
OPA, visto que ela tinha ouvido que a empresa na qual trabalha iria lançar uma. O filho de A
não perdeu tempo e mandou investir. A acabou por dar informação privilegiada a um investidor
sem se aperceber.
FD: aqui basta o dolo para que a pessoa se possa confrontar com o facto do seu
comportamento ser lícito ou ilícito. Diz que neste caso o comportamento não é axiologicamente
relevante, mas axiologicamente neutral, por isso não é um caso do 17º, mas sim um caso do
16º/1, 2ª parte, porque o agente não tinha que saber desta proibição. O conceito de dolo não é só
o conhecimento dos elementos do tipo de crime, mas também ter conhecimento das proibições.
JOSÉ ANTÓNIO VELOSO: o campo de aplicação do art. 16º/1, 2ª parte não deve caber nos
casos dos agentes de sector (aquele que exerce uma actividade num sector de uma forma estável
e tem um maior de ver de informação).
FP: concretiza a ideia do prof. José António Veloso, recorrendo ao caso concreto, pois a ideia
do professor, em certos casos, poderia ter dificuldade de aplicação, como é o caso da secretária
que trabalha no sector há 15 dias.
Para os sectores, existem três critérios:
Experiência profissional
Evidência das normas violadas
Perigosidade da conduta do agente
Nota: pela ideia dos critérios dos sectores, a secretária, a ser punida, seria punida por
negligência, por força do art. 16º/1, 2ª parte.
Censurabilidade no art. 17º - FD: critério da rectitude da consciência errónea, ou seja, ele está
em erro, mas a sua acção é recta. Três requisitos:
Incriminação controversa, estão em jogo dois valores jurídicos, em que a ordem jurídica
deu prevalência a um quando podia dar a outro (ex: aborto)
É necessário que o agente realize o outro valor.
É necessário que o agente actue motivado pela razão do comportamento.
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
Um facto praticado pela nossa própria liberdade de consciência pode ser típico?
o P.e. as injúrias ao PR, se considerarmos que cabe dentro do nosso direito à
política, sim, mas se não, não será típico nem ilicitude, porque está na nossa
esfera de liberdade de consciência.
Decisão de consciência
AUGUSTO SILVA DIAS assenta a sua teoria sobre a decisão de consciência no imperativo
categórico de Kant, na ideia de universalidade, traduzindo-se a decisão de consciência no
comportamento que o agente adopta no campo da sua liberdade de consciência que não ofende
outrem.
EXEMPLOS:
1. O agente é chamado para ir à tropa, fazer o serviço obrigatório, mas ele é pacifista,
enquanto tal deveria ter-se pronunciado a cerca disso no prazo fixado, mas não o fez.
No entanto, o agente não compareceu, mas não poderia ser punido por deserção, porque
o seu comportamento é universalizável, se ninguém fizer serviço militar não há guerra.
Havendo alternativas para exercer a objecção de consciência, que era o caso,
assegura-se a liberdade de consciência.
2. Pai e mãe apresentam-se com o filho doente no hospital, que precisa ser operado e
levar uma transfusão de sangue, visto que os pais são testemunhas de Jeová não
autorizaram a transfusão. Podiam os pais ser punidos por homicídio? Não, porque o
médico não deixa de operar uma criança só porque os pais não autorizam, há vários
meios para suprir a falta de autorização.
3. Marido e mulher estão em casa, a mulher sente-se mal e precisa necessariamente de
uma transfusão de sangue, mas visto que ela era Jeová, o marido respeitou a suas
crenças e não a levou ao hospital, acabando a mulher por morrer. Pode o marido ser
punido por homicídio por omissão? Não. O tratamento médico só é legítimo quando o
paciente quer. O paciente tem o direito de não ser tratado, Costa Andrade, entre outros,
diz mesmo que nestes casos o médico deixa de ter posição de garante. Se o médico
tratar sem autorização, comete um crime (156º).
4. A mulher precisa de levar uma transfusão de sangue, mas como o marido é Jeová,
não a leva ao hospital. Aqui existe um crime por convicção. AUGUSTO SILVA DIAS
recorre à desculpa por haver violação do p. da dignidade da pessoa humana. FD aplica
tudo ao art.17º (faz mais sentido a ideia de A. S. DIAS).
PUNIBILIDADE
TENTATIVA
A tentativa verifica-se quando começa a ilicitude, é neste limiar que pode haver
flagrante delito.
ROXIN: defende que há dois critérios cumulativos da tentativa: a ingerência e uma estrita
conexão temporal entre o acto e a tentativa (não fará muito sentido, porque há casos em que não
há conexão temporal entre o acto e a tentativa e, no entanto, faz todo o sentido punir o crime
tentado)
ACTOS PREPARATÓRIOS: não são puníveis (salvo disposição em contrário), porque não
chega a haver uma interferência na esfera jurídica de terceiro.
ACTOS DE EXECUÇÃO: são puníveis porque já existe uma interferência na esfera jurídica
de terceiro.
ARTIGO 22º/2
Alínea a) – serve para crimes de forma vinculada (p.e. roubo, assenta sempre na
subtracção de património alheio; furto; burla) – aqui a tentativa pode estar acabada ou
inacabada.
Alínea b) – serve para os crimes de forma livre, que podem ser praticados de qualquer
forma (p.e. homicídio, ofensa à integridade física) – aqui a tentativa está sempre
acabada.
Alínea c) – é sempre cumulativa com as alíneas a) ou b), quando aplicável, e é a
chamada tentativa inacabada.
Tentativa impossível
É verificada ex post. Pode verificar-se uma tentativa impossível por inexistência do objecto ou
tentativa impossível por ineptidão do meio.
Nota: na matéria da tentativa, nos casos práticos, quanto à tipicidade objectiva, o resultado não
se imputa ao agente, verifica-se ex ante se há actos de execução (art.22º/2). Na tipicidade
subjectiva ter em atenção que não há tentativas negligentes, a tentativa é sempre dolosa
(qualquer tipo de dolo).
Salvo os casos em que a lei prevê expressamente o crime tentado (p.e. tentativa de furto
– art.203º/2), a tentativa só é punível se o respectivo crime consumado tiver uma pena
superior a três anos (p.e. a tentativa de homicídio é punível porque a pena prevista,
sendo de oito a dezasseis anos, é superior a três anos – art. 131º).
O nº 2 do artigo 23º prevê a moldura penal da tentativa, que se traduz numa atenuação
da pena aplicável ao crime consumado, nos moldes do artigo 73º CP.
DESISTÊNCIA
Voluntariedade da desistência
EXEMPLOS: A prepara-se para matar B, mas entretanto passa um gato preto e visto que
A é extremamente supersticioso, acaba por ir embora ≠ A prepara-se para matar B, mas
entretanto vê um polícia a aproximar-se e vai-se embora.
No caso do gato, as condições objectivas são as mesma, com gato ou sem gato ( a
superstição é um critério subjectivo que não releva para afectar a voluntariedade da desistência),
por isso parte-se do pressuposto que o agente decidiu desistir voluntariamente – neste caso a
desistência afasta a punibilidade da tentativa.
No caso do polícia, as condições objectivas não são claramente as mesmas com ou sem
polícia, será óbvio que a motivação para a desistência, do ponto de vista do homem médio,
tenha sido o aparecimento do polícia e não por sua própria vontade – neste caso a desistência,
por ser considerada involuntária, não afasta a punibilidade da tentativa.
ROXIN: cria a figura da tentativa fracassada e diz que esta é aquela que não admite
desistência (ex: A quer violar uma mulher bonita e vê a B de longe agarrando-a para a violar, no entanto, quando a
encosta à parede percebe que B é uma mulher feia e vai-se embora – aqui a desistência não deixa impune o facto
praticado por A).
Nos casos em que o agente ainda não criou todas as condições indispensáveis à
consumação do facto, a desistência dá-se por omissão (art.24º/1 “desistir de prosseguir na
execução de um crime).
Nos casos em que o agente já criou todas as condições para a consumação do facto,
tornando-se necessário que haja da sua parte uma intervenção activa destinada a impedir a
consumação da realização em curso.
24º/1 (“impedir a consumação”): aqui não interessa como é que o agente evita a
consumação, o que interessa é que a não verificação da consumação se deva a um
comportamento activo do agente com o intuito de a impedir. No entanto, se por um
motivo que o agente não controla, a consumação tenha sido evitado não pelo agente,
mas por outra causa, este não será punido desde que se tenha esforçado seriamente para
evitar a consumação (art.24º/2).
Desistência parcial
Exemplo: A quando tenta a realização de um furto qualificado, traz consigo uma arma
(art 204º”, f) CP), no entanto decide não a usar deitando-a fora, levando a cabo apenas o furto
intencionado. A doutrina dominante tem considerado que esta desistência é relevante.
Exemplo: B decide praticar um roubo com uma arma de fogo que se propõe a usar
unicamente em caso de resistência para assustar a vítima, disparando para o ar ou para o chão.
No entanto, quando a vítima resiste, por negligência, o B atinge a vítima matando-a. Face a este
acontecimento, o B desiste do furto. A maioria doutrinária atribui relevância a esta desistência
visto que existe claramente voluntariedade (≠ ROXIN).
COMPARTICIPAÇÃO
Nota: a comparticipação verifica-se na imputação objectiva e não na punibilidade. Ver resoluções de exames para perceber melhor
o esquema de resolução dos casos.
AUTORIA E PARTICIPAÇÃO (art.26º CP)
AUTORIA
dolosos gerais. Autoria imediata (domínio da acção); autoria mediata (domínio da vontade):
co-autoria (domínio funcional do facto).
3ª alternativa do art. 26º/1: “quem (…) tomar parte directa na execução do facto, por
acordo ou conjuntamente com outro ou outros”´
Concepção dos actos de execução: para que os agentes sejam considerados co-autores, têm de
praticar pelo menos um acto de execução (art.22º/”CP).
ROXIN, “domínio do facto funcional: cada co-autor tem uma função para determinado facto,
existe uma distribuição de funções, mas a sua função é aquela que se ele não prestar o facto
dificilmente se concretiza.
Punição: cada co-autor é punido na moldura penal prevista para o facto decidido e executado
conjuntamente, tal como se o houvesse cometido sozinho.
CUMPLICIDADE ( = participação)
Cumplicidade e tentativa
Cumplicidade falhada: casos em que alguém tenta prestar auxílio à prática de um facto ilícito-
tipico por outrem e, esse outrem, recusa o auxilio ou não se decide pelo facto. Esta
cumplicidade não é punível porque o auxílio acaba por não se verificar e não pode falar-se em
cumplicidade sem auxilio.
INSTIGAÇÃO
Apesar de o instigador ser um mero participante e actuar numa fase que se distancia da
fase da execução, sem exercer qualquer domínio do facto, há factores criminológicos que
determinam que a instigação tem a mesma “necessidade da pena” que a autoria, visto que, o
instigador acaba por criar o risco proibido que dá inicio à execução criminosa por parte do
instigado, criado assim um risco mediato de ataque ao bem jurídico.
Instigação em cadeia
CASO: “A decide matar B e, para esse efeito, contacta com C, propondo-lhe a realização do
facto, a troco do pagamento de uma certa quantia. A proposta é acompanhada de um plano de
execução e encobrimento bastante minucioso traçado pelo próprio A, que abrange data, hora,
local, modo de execução, arma a utilizar, elementos de identificação e localização da vítima, e
ainda a simulação do móbil do crime. C afirma a sua aceitação, mas entrega todos os elementos
de que dispõe à entidades policiais e não realiza o facto.”
Solução da instigação
De acordo com esta orientação o A seria um autor mediato com pleno domínio do facto.
Esta tese assenta essencialmente na motivação pessoal do executor. Para CONCEIÇÃO
VALDÁGUA, a subordinação voluntária do autor material à decisão do homem-de-trás será
uma forma de domínio do facto que fundamenta a autoria mediata. No entanto, no nosso caso
demonstra-se que a realização do facto não se encontra na mão do contratante, visto que o
aliciado pode mudar de ideias e deixar de ser sensível ao aliciamento.