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DUARTE Talo Sefyio. Anos 60 transfor ma gber da ade no BreasiLy Rio de Gancizo Gampes Gears, S997. Dentro do problema - um pouco mais que uma introdu¢ao Um contato imaginério No canto da sala esté um cescomunal hambtrguer de matéria-plstica almola- ada; na parede do fundo, uma grande tela, pintada om ligitex e impressa em silkscreen, traz Eivis vestide de cowboy @ aponiando 0 revélver para o espect- or, A seu lado, outra tela, na mesma técnica, apresenta closes de Jackie Kennedy; em alguns, cabisbaixa, com o rasta coberto por um véu negro, em al {umas das famosas fotos durante o anterro, em A\tington, do marido assassina- do. Em seqiéncia, esta reproduzida uma enorme lata de sopa Campbell, © uma bandeira americana pintada em encéustica. Em outra parede, esté uma grande tela que desioca para uma escala monumental, expondo sua estrutura grtica de cores reticuladas, a imagem de uma historia am quadrinhos. Nesta sala imagin4. fia, completa a cena a repradugdo de um posto de gasolina, onde todas as coi- ‘sas e objotos inanimados so reprodugbes exatas do mundo, enquanto os seres ‘humanes sao representados moldados em gesso com um acabamento proposi- tadamente rudimentar ‘Se mudamos de sala, nas detrontamos com manitastagBes dlametralmen. te opostas. Ao fundo, nos atrai um simples tubo de lampada fluorescente longo ‘acoso, fixado na parede a 45* do chée.-Recuames para melhor abservio e, ds: traidos, somos, de repente, chifados a atengao pelo seguranga: estamos pisan: {do em uma escuttura num canto da sala. Sao diversas placas de cobre de 1/4" de ‘espessura, quadradas, com S0cm de largura, dispostas de mado a formar um ‘grande tiéngulo etangulo, onde os catetos encostam nas paredes @ a hipotenu- ‘sa 6 vinualmente sugerida pelos vertices das chapas. Em autre lado, quatro gran- {des chapas de chumbo, apoiadas umas as outrase lgeiramente deformadas polo ptéprio peso, sugerem um paralelepipedo aberia na parte superior medindo 121,92 x 152.4 x 152,40m (48" x 60" x 60). Ainda sobre a parede encontr utra escultura, Sete paralelepipedas de ferro galvanizado, medindo 22,9 x 101,6 x 78,7om (3° x 40° x 31°, estdo dispostos vericalmenta,fixados por uma das faces de 22,9 x 101,60 separados entre si pela mesma distancia da atura de cada um ~ 22,9em. Uma tela, com grandes listas pintadas, lembra o tecido am. pllado de velnos pijamas. Hé ainda uma parede onde diversas obras esto docu- mentadas airavés de fotogratias: uma cagamba de caminhao despeja uma gran- de quantidade de astalto sobre uma rampa de terra, ha também um labirnto Circular sobre um campo nevado. Sao intervengbes na palsagem que nao pode- iam ser transportadas para uma sala de museu. Existem ainda diversas fologra- fias de performances. Por ultimo vemos uma cadeira muito simples, nada mais que uma cadeira, Nao é para 0 seguranga do museu descansar, é uma obra: sobre a parede, a seu lado, esté ampliado 0 verbete de um diciondrio em inglés descrevendo 0 sentido da palavra cadeirae a fotogratia da cadeira real Na primeira sala reconhecemos que a descticéo sugere claramente a pro- dugio de artistas pop como Claes Oldenburg, Andy Warhol, Jasper Johns, Roy Lichtenstein e George Segal, Na segunda esto manifestagées mais variadas, rimeiro da minimal at, que teria sido assim denominada, pela primeira vez, pelo critica @ protessor de filosoia Richard Wolteim'. As obras seriam, pela ordem, ‘de Dan Flavin, Carl Andre, Fichara Serra, Donald Judd, Danish Buren, Nas fotos {e land art estariam trabalhos de Robert Smithson e Alice Aycock. A cadeira ~ ‘06a racicalmente conceitual ~ seria de Joseph Kostth. Essas salas poderiam estar numa exposicéo em qualquer museu de arte ‘os Estados Unidos, na Europa, ou numa Bienal Intemacional. Todas as obras, foram realizadas durante a década de 1960, mas tém aigo mais em comum do ‘ue a simples contemporaneidade: pertencem a um momento em que se opéem ‘o/ou desdobram o movimento anterior que marco de modo mais original © meio de arte do pds-querra: 0 expressionismo abstrato A diferenga brasileira “ ‘Salas do mesmo periodo da arte brasileira apresentariam semelhangas para olha- "re leigos © embrutecidos pelo cotidiano agitado da vida urbana. De um lado, es {aria 0 retoro @ iquragao habitada por icones da sociedade industria, sejam tipos humans, cenas, ou mercadorias. De outto estariam trabalhos que desdobrariam {8 experiéncias construtvas dos anos 50 ~ partcularmente © concretismo e 0 neoconeretismo junto @ outras que romper @ Inauguram novos campos com in- tervengées mais racicais sobre o ambionto e com 0 engajamento do corpo. Voremos que existem diferencas na arte brasiira deste period que Ihe do'um Ccaréterpréprio, mesmo que este possa passar desapercebido aos nao-iniciados. Mas precisamos ver como s@ preparou esse campo que, diga-se logo, nfo 6 t80 simples para o leigo em histria da arte, Os elementos anedéticos foram osados com as questées propriamonto esiétcas @ artsticas. Muitas dessas in- Yormagdes que contextualizam os problemas podem parecer excessivas para lei- {ores iniciados. Outros. ao contréio, vao sentir certos obstdcuies para a com: ‘Preensao dos problemas especifcaimente antisticos. Embora possa ser divertido, realmente, corer os olhos pelas imagens deste lio, o seu objetivo é evar a pen- ‘ar sobre essas imagens ao entrar em cortato com as iéias basicas que alimen- {aram as transformagbes da arte brasileira nos anos 60, A cireulagao de idéi vidio ‘Se, hoje, com 0 fendmeno da globalizagao, o inlercdmbio de experiéncias, nos mais diversos campos, 6 muito mals répido, naquela época os fenémenos cultu- ‘ais j8atravessavam tronteiras de modo acelorado @ se manifastavam, adequan- o-se a diferentes contextos culturals, om diversas partes do mundo. A questao da autenticidade de uma obra ja havia deixado de ser a adesao a parémetros na- Cionais; mas, como em uma cultura especifica — a de frontsira do sul de Brasil, a cheia de peculiaridades regionais como a do Nordeste, a industralmente Gada @ de interior de So Paulo ou a, endo, eminentemente politica e de itoral {0 Rio de Janeiro ~ uma determinada linguagem, em circulago em escala pla- ‘notéri, ita interagir © se materilizar Esta afirmagio nao quer dizer que encontraremos fendmenas camo a mi ‘imal ar, a pop-art, ou 0 que 0 crtico de arte italiano Germano Celant chamou {de arte povera, em todas as nagbes do mundo, mas que o artista de qualquer ‘pais, com acesso a informagbes basicas sobre o mundo da ate, tinha conheci- ‘mento da existéncia das mais diversas manilestagdes e, de alguma forma, est « va Bo Cros zie EHORA AGORA bbelecia um diélogo ou um debate com aquelas quesioes através de sua obra. As Iidéias © a informagao circulavam no como hoje via sale @ Internet, mas via- javam: e de modo bem mais répido do que as idéias iterdrias no sSculo XIX que tinham que “tomar o paquete" para chegar semanas dapols ao seu destino? E necessaro, também, lembrar que as lberdades demacréticas nfo haviam ainda aleane ios, como as ctaduras miltares ltinc-americanas ~ entre as quais a do Brasil, & partir do golpe de Estado de abril de 1964 -, coma os ragimes socialistas fs mesma expanso como no mundo de hoje, tanto os regimes autor totalérios,existiam em maior numero @ exerciam, em grauvariado, @ censura Aim prensa e & Ite criago, que, no caso da de exposigdes ao amadrontamento dos artistas, & prio, ao confinamento ¢ inter 8 pldsticas, podia ir do fechamento namento em hospitals psiquidtrices coma corte com dissidentes na Unido Sovitica, © alé ao assassinato, No Brasil, por exempl, em 1968, fol fechadla, pela Policia polfica, a II Bional Nacional de Artes Pidsticas. em Salvador, ¢ as obras ‘preendidas nunca foram devolvidas aos artistas, © mesmo apisddio se repetiu em utras ocasiGes. Artisias foram submetides a prisdes e interrogatéios. Isso para Questées de método Para balizarmos essas tvanstormacbes da arte nesse passade recente, 0 melhor ‘camino ¢ uma perspectiva histérca que examine seus antecedentes. E lembrar também alguns problemas com os quais © hisloriador se defronta,cilerente de um Ponto de vista crtico, come 0 deste ensaio. Na verdade, neste estudo, rd predo- ‘minar uma visao critica, isto ¢, uma visto onde deve precede a andlise das lin- ‘Quagens dos trabalhos, levando em consideragao o pano de fundo sécio-cutural sobre a visdo histérica. Esta 6 a investigagdo da arte em seus desdobramentos no tempo e no espaco documentada, antes de tudo, polas proprias obras @ por documentos auxilares como aqueles que atestam a existéncia de movimentos ar- tisticas, fatos biogrficas que podem acarelar mudangas na obra, acontecimen- tos institucionais, @ outros. Enim, numa explicagao esquemética a visdo critica fotograla um momento da arte na obra individual de um artista, de um conjunto de antistas ou de toda uma sociedade, aprotundando aspectos partculares ¢ idiossin: crétons, enquanto a visdo histérica subsume os sucessivos momentos sob o eixo do tempo, tendo uma visdo mais ampla de suas diferencas e mudancas. Mas, mesme predominando © ponto de vista critica, estaremos sempre in- teragindo com a visto historica por duas razbes basicas. A primeira, de ordem Conceitual: a perspectva erica que orienta este ensaio leva em consideragao a historia da arte como componente fundamental da teoria da arte. A segunda. razao, de ordem empiica, diz respeito& construgto do proprio objeto de estudo: um periodo dilatado no tempo incorparande diferantas mamentos @ processas de linguagem que o transtormam, necessariamente, num capitulo de histéia © primeiro problema de histéria que enfrentamos ¢ o de periodizagao: de- fine quando comeca isso que chamamos grosseiramente de ‘ransformacoes da arte nos anes 60’, no Brasil. Séculos e décadas, dependendo do ponto de vista, rao obedecem ao calendario. E 6em possivel que, do ponto de vista politico, 0 século XXI tenha comegada em 1989 cam a queda do muro de Berlim. A histé- Fa ndo respeita a regularidade da érbita trrestre para contar dias @ anos, ela tem seu proprio tampo. Para a arte, os anos 60 so um periodo que assist, no ‘mundo ¢ no Brasil, & perda da inluéncia dos abstracionismos informal e geomé- trico - das questbes eminentemente expressionistas e das tradigbes construtvis tas ~ @ a conquista da hegemonia estélica pelas novas figuragées, particular. ‘mente aquelas inspiradas em icones do mundo do consumo ¢ dos meios de informagao representados pela pop art. Periodo, também, da reflex80 minimal e quando encontram-se em gestagao poderosas correntes conceituais que iro ‘emergir na década seguinte. No Brasi, acrescente-se que nosso construtvismo tardio, que 86 ir se disseminar vigorosamento a partir da década de 1950, des: dobrou-se em Interessantes experiéncias originals durante os anos 60. E este 0 corte estabelecido para o inicio do estudo, onde intervém uma cota dose de arbitrio: as ransformagdes ou mudangas da arte brasileira no pe- riodo que interessam so aquelas que se manifesta na emergdncia da nova f- quragio @ o adventa de experiéncias tnbutarias dretamente do construtvismo, mas que no s40 mais redutiveis ao campo desenvolvido anteriormente no con: cretismo @ no neaconeratisme, O final do periodo estudado coincide com 0 ano de 1970, quando comegam a ecupar um espago cada vez maior as experiéncias conceituas inciadas no final dos anos 60. eres ae SARA ARAAEAB AR OT Ea aS aa spe sone tose aes {2 Th Mace of Moser RA New You Manet Anopdtage de Oswald Anat publends na Rava de Aopotg e 1928 ” i i ie el Eaoe hh bite (Hd rere Ei a Hf i : it | ail Wy fy il fit i if ( i i i it i fi : h i Os antecedontes histéricos da arte des anos 60 ne mundo {Um acidente de automéval com um morto em Long Island, e duas virinas de ‘moda fominina da loja de departamentos Bonwit Taller om Nova York? am 1956, podem nos servi de indicadores fatuais para o inicia do declinio da hegemonia {do expressionismo abstrato e 0 comeco da arte pop dos anos 60. No choque do ‘utomével com uma drvore, &s 22:15h de 11 de agosto de 1956, quem morre & ‘Jackson Pollock, aos 44 anos de idade. Um dos maiores artistas do séeulo XX, ‘ula obra se encontra no centro do movimento que confirma o deslocamenta da hhegemonia cultural no ecidente da Europa para os Estados Unidos, desaparece tragicamente. No fundo de uma das viines da Bonwitt Taller, com dols mane- ‘uins, o que esté exposto 6 uma tela com a bandeira americana pintade de bran. co 6m enciustca. No chao da virine, em primaire plano, esto, no formato de um liveo aberto, 0s crédites do estlista, autor das coupas e da tela com a seguin- te referéncia: "um dos jovans artistas classicos Jasper Johns", Na virine ao lado, uma tela de Rauschenberg, que de forma alguma poderia ser considérada como ‘dentro dos padres de julgamenta do expressionism abstrato, servia de fundo ‘@ outros dois manequins. Pode-se considerar que 0s adjetivs "jovens”e ‘classi- 1008" do créalio na vitrine s80 de autoria do proprio artista; afnal de contas, Johns ‘@ Rauschenberg, no inicio da carreira, ganhavam a vida como vitinistas da “Tifany © da Bonwit Taller Nao interessa uma ciaressio sobre os olementos biogréticos que condu- Ziram a morte precoce de Pollock, um artista cuja obra encerra magistralmente © capitulo da hist6ria dg arte que'ée iniciara com Cézanne eo cubism, Inieressa, agora, comor nna ~aquela que antecede, imediatamente, o que chamamos de pop ® minimal— ‘ evidenciar a mudanca da forma de insergao no mundo da nova arte que na- uele momento se inaugurava. Precisamas também de um recuo na historia da arte brasileira e lembrarmos os antecedentes modernistas, Estas comparagoes podem colaborar na construcao de um sentido de proporgdes e ajudar na avalia- 540 critica da contibuicdo dos artistas dos anos 60. Inder os elementos basicos da lormagao da grande arte america: “Antropétagos" bi nort Em 1928, hd setenta anos, o modernista brasileiro ~ poeta, tealr6logo, romar: cista, agtador cultural ~ Oswald de Andrade, publicava o Manitesta antropétago, Loge no ificio 0 arrebate: “S6 a ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente, Economicamente. Filosoficamente’. E continuava: “Unica lei do mundo, Expressdo mascarada de todos os indvidualismos, de todos os coletvismos. De todas as religides. De todos 0s tratados de paz”. E passava A promessa de pro- blema: “Tupi, or not tupi tha isthe question”. E, logo depois, pecava, amibiguo: “Contra todas as catequeses. E contra as maes dos Graces’. E afima o contra tio: *S6 me interessa o que nao é meu. Lei do homem. Lei de antronélago” omantico, como um ingnvo e tard discipulo de Rousseau, alirmava: “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil titha descoberto a felcidade’. No Intermezzo atrasado proclamava o espirito da coisa: “A alegria € a prova dos mericanos rove". E conciuia, como um deslumbrade litor de Bachoten, fazendo 0 elogio do direito materno primitvo: “Contra arealidade social, vestda e opressora, cadas- fet Inoue Ane Cortoportnes da Unnersiseo de So Pa trada por Freud ~ @ realidade sem complexes, sem loucura, sem prestituigdes © sem penitenciérias do matriarcado de Pindorama’. E assinava: "Oswald de Andrade. Em Piratininga, Ano 374 da Deglutigdo do Bispo Sardinha’? que esperar de afimmagbes t8o "radicals"? Uma arte & altura dessas pa- lavras? Nada disso. Nosso modernismo 6 timido e envergonhado, como quem sal da casa-grande para @ cidade e ndo quer mostrar ~ aids, com justa razo — Seu passado recente escravocrata e ignorante © As tolas geniais de Tarsila, que fazem parte de nossa historia da ato, nao tém nada de antropotigicas, a nfo ser titulo de uma delas. Em nenhum momento a forma devora o “estrangeiro”. A assimilagdo das lgtes cubistas © pés-cubistas,jé em andamento aquela altura, anos 20, encontra uma adequagsio conciliatria no meio brasleco. Em algumas {elas de Tarsla 6 clara a incorporacdo iteral, mimética, das lighos de sou mestre Léger. Essa afirmagéo néo implica dasconhecar seus mértos. "A negra (1828) de Tarsita ndo escapa dessa consciéncia. & uma das de- monstragées que © Brasil podoria s@r moderna. A negra vai bem mais longe do {que 0 mestre Légor; nao na heranga formal & qual se mantém fel, mas no inves: timonto de semtido, naquilo que faz com que Tarsila nfo siga 4 fa maniére do. & tum nu, cuja radicalidade ¢ contextuaizada. Todos os esteraétipos - especial mente a inveja e 0 cidme da mulher branca brasileira — que a classe dominante {ez da sua rival negra estardo presentes. © peito & caida, talvez de tanto dar de amar aos fos dos senhores @ os labios s8o exageradamonte grossos, mas Tarsila jf esta om outro tempo que nao € o de Manet, fiha inteigente do cubis ‘mo, mas mantém um,pé nas-sslugbes de compromisso da arte brasileira; 0 de- talne nao bastara para esclarecer. Toda a ambivaléncia @ a ambiguidade da arte moderna brasileira esto agora expostas numa ovtra tensdo. A negra, como Les demolsales «Avignon, & um quadro manifesto. Quando observamos os dese- ‘hos que preparam A negra estamos diante de um corpo redurido a um plano, fiol a seu tempo, coisa rarissima por essas bandas, as ilusbes académicas, nenhuma concessao. O brutaismo da figura ofende, antes de tudo porque nao repete itralmente a lcd cubista. © corpo daformado 6 continuo, nao se fragmenta, nam & objeto de gesto destrutivo. O plano se afr- ‘ma numa composigao do corpo ‘nteir® que, sem exagero, diriamos construtiva. E isso esta um elemento de tense. Porque, na pintura, as retas fazem parte do ambiente, que nao chega a ser fundo, mas so acessorias; as relas seriam os ‘elementos consirutivos por exceléncia, como 0 so am varios outros rabalhos do Tarsiia, distipula de Léger. Na Negra, como no Abaporu (1928), sto as curvas ‘que aparentemente constréem. Mas é na Negra que temos @ arqutetura mais ‘completa, embora, & primeira vista, menos provocadora. O selo que se sobrepde ‘a0 brago quer ser uma espécie de primeiro plano que nfo pode exis. Nao hé, ‘além da superposiggo do desenho, nenhuma llusto de protundidade, apesar da representagao de volume, que radicaliza, ma non troppo. Se as linhas do dese- ‘nho so curvas, um sistema de retas ausentes organiza todo 0 quadro, produzin- do sentido. Os labios obliques indicam um mal-estar ou um certo aégout @ 08 colhos, em fecha, exprimem mais altvez e tédio do que édio. Aimagem da Negra ‘ocupa 0 quadro intero, nao é figura numa composicao™ ‘Sentada no chao, a:Gioconda brasil monsiro moderne’? 10 somente na arte. Nada do sore. € um maravihoso ar desses aventuais desao: a tmiez com que nos arstas ‘modernistas” - mesmo Tarsila @ Di Cavaicant

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