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A Gestão Ambiental

INTRODUÇÃO

A notável expansão das capacidades técnicas e produtivas, bem como o acelerado crescimento demográfico
mundial, vêm colocando em evidência, especialmente ao longo da segunda metade do século XX, que os
recursos naturais e os serviços daí derivados não são ilimitados e que sua escassez ou esgotamento
constituem uma séria ameaça ao bem-estar presente e futuro da Humanidade (ESPINOSA, 1993).

A importância dos recursos naturais é fundamental para a sobrevivência humana, nomeadamente se tivermos
em conta que, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico até agora alcançado, ainda não existem
condições de substituir completamente os elementos extraídos ou fornecidos pela natureza.

A evolução das tecnologias de comunicação alterou a capacidade das pessoas receberem informação e
influenciarem os acontecimentos que as afectam. Tal facto está na base de um movimento globalizante que
potenciou um enorme desenvolvimento traduzido no número de organizações, associações, empresas e
comunidades que manifestam publicamente os seus interesses.

Esta dinâmica tem-se acentuado em áreas relacionadas com o ambiente e exige da sociedade um
comportamento diferente, para o qual esta deve estar preparada, tanto na sua visão estratégica como ao nível
de técnicas de análise que lhe permitam quantificar o impacte associado às suas opções.

As técnicas de análise devem apoiar a transição para uma economia guiada pela tecnologia e pela
transferência de informação, na qual é notória a relação entre eficiência, lucro e protecção ambiental. A noção
de que a poluição e os resíduos estão associados à ineficiência e de que a ineficiência se paga, começa a
disseminar-se e a constituir parte integrante da orientação social e política.

É, assim, que após a década de 1970, passamos a tomar consciência do facto de que as raízes dos problemas
ambientais deveriam ser encontradas nas modalidades de desenvolvimento económico e tecnológico e de que
não seria possível confrontá-los sem uma reflexão e uma acção sobre essas modalidades de desenvolvimento
adoptadas (GODART, 1996).

Ao nível da indústria, a regulamentação ambiental constitui, simultaneamente, uma ameaça e uma


oportunidade. Com efeito, numa primeira fase, a indústria procurou apetrechar-se com equipamentos de
tratamento dos seus efluentes, para satisfazer a legislação, o que constitui uma ameaça à sua actividade, no
sentido em que aumenta os seus custos de exploração. Numa segunda fase, na qual se incluem as empresas
de sucesso com maior visão estratégica, a indústria propiciou a investigação e o desenvolvimento de novas
tecnologias de produção mais limpa e o eco-design, criando oportunidades de negócio com importantes mais-
valias, as quais são promovidas por um crescente eco-marketing.

Outros benefícios associados à produção mais limpa incluem a redução de custos de produção, tanto por
obviar aos equipamentos de tratamento de efluentes, como por propiciar menores custos energéticos e de
matérias-primas, devido à maior racionalidade da produção.

A crescente importância dos problemas


ambientais nos últimos anos deve-se
essencialmente à conjugação de dois factores,
o aumento da população e o crescimento da
actividade económica.

Recentemente, confirmando as previsões


realizadas, a população da Terra atingiu 6
biliões de habitantes. Isto representou um
vertiginoso aumento da procura por produtos e
serviços. Mesmo que fossem mantidas as
taxas de crescimento económico deste ciclo de
desenvolvimento isto determinará uma forte
pressão sobre os meios de produção, com destaque para a energia (REIS, 1995).

A população da Terra duplicou nos últimos 50 anos, o que, associado aos modelos de consumo inerentes a
uma sociedade mais "evoluída", implicou a procura crescente de alimentos, bens, serviços e espaço. A
escassez de alguns daqueles factores em muitas sociedades pôs em causa a sustentabilidade deste modelo
de desenvolvimento, nomeadamente através do aumento da pobreza. Tal constatação levou a Humanidade a
repensar a sua forma de desenvolvimento, essencialmente fundamentada na degradação ambiental,
determinando a procura de novos modelos e fez surgir uma nova abordagem de desenvolvimento, agora sob
uma nova óptica, conciliatória com a preservação ambiental e que garantisse um desenvolvimento sustentável.

Com efeito, qualquer forma de desenvolvimento económico ou social depende sempre da biosfera, do espaço
terrestre e da atmosfera onde se desenvolvem os seres vivos. Além disso, a estabilidade dos seres vivos e dos
ecossistemas é mantida por fluxos energéticos, em última análise provenientes do Sol, e por fluxos materiais
resultantes da reciclagem dos nutrientes e das interacções entre os seres vivos e a matéria inanimada.

Estes ecossistemas encontram-se organizados em diferentes escalas, nas quais conjuntos de pequenos
ecossistemas dão origem aos grandes, numa escala hierárquica cujo topo é a própria biosfera.

Deve, no entanto, salientar-se que o conceito de sustentabilidade não se restringe a aspectos ambientais, mas
apresenta três dimensões, a económica, a social e a ambiental, nas quais as noções de riqueza, equitatividade
e recursos são vectores fundamentais.

O termo "desenvolvimento sustentável" ganhou relevância internacional após a divulgação da publicação "Our
Common Future" (“O Nosso Futuro Comum”), em 1987, também designada por "Relatório de Brundtland", por
se tratar do resultado do trabalho de uma comissão nomeada pelas Nações Unidas, intitulada "WCED – World
Commission on Environment and Development", presidida pela ex-primeira-ministra norueguesa, Gro Harlem
Brundtland.

O Relatório de Brundtland contém a mais famosa definição de desenvolvimento sustentável:

«Desenvolvimento sustentável é aquele que permite satisfazer as necessidades das gerações actuais
sem comprometer a possibilidade de as futuras gerações satisfazerem as suas.»

O Relatório Brundtland, ao aprofundar a compreensão das implicações do desenvolvimento sustentável, indica


que deverá haver mudanças de valores e atitudes para com o meio ambiente e coloca o ensino formal, entre
outros, como parceiro na transmissão de conhecimentos aplicáveis à gestão correcta dos recursos locais.
Observa, ainda, que a educação deveria ser mais abrangente e englobar as ciências sociais e naturais, para
que se pudesse entender a interacção dos recursos naturais com os humanos, do desenvolvimento com o
meio ambiente, e defende o estabelecimento de uma educação ambiental a todos os níveis do ensino formal, o
que levaria a modificar o senso de responsabilidade dos alunos com o estado do meio ambiente e os ensinaria
a controlá-lo, protegê-lo e melhorá-lo.

A expressão "desenvolvimento sustentável", embora se tenha tornado mais conhecida a partir do relatório
Brundtland, ficou consagrada a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em 1992, cujo relatório se denomina de Agenda 21, que no
seu Capítulo 1, no Preâmbulo, assim se refere:
“A humanidade encontra-se em um momento de definição histórica. Defrontamo-nos com a
perpetuação das disparidades existentes entre as nações e, no interior delas, o agravamento da
pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, bem como com a deterioração contínua dos
ecossistemas de que depende o nosso bem-estar.
Não obstante, caso se integrem as preocupações, relativas ao meio ambiente e desenvolvimento e a
elas se dedique mais atenção, será possível satisfazer as necessidade básicas, elevar o nível da vida
de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e administrados e construir um futuro mais próspero e
seguro. São metas que nação alguma pode atingir sozinha; juntos, porém, podemos – numa
associação mundial em prol do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”. (CNUMAD, 1997, p. 9).
Sendo ratificada, em 1997, no documento publicado pela ONU, "Agenda for Development", pode-se ler:
“O desenvolvimento é uma das principais prioridades das Organizações das Nações Unidas (ONU). O
desenvolvimento é uma compreensão multidimensional para atingir uma alta qualidade de vida para
todos os povos. O desenvolvimento económico, o desenvolvimento social e a protecção ambiental são
interdependentes e mutuantes, reforçando os componentes do desenvolvimento sustentável”. (UN,
1997,p.1)

A partir do Relatório Brundtland, em 1987, as questões ambientais relativas à poluição gerada por diversas
actividades do quotidiano orientaram diferentes documentos internos de muitos países, onde a discussão sobre
o papel da escola num mundo constituído por uma sociedade plural e globalizada passou a ser destacada.

Diversos factores contribuíram para o interesse no relatório e no tema do desenvolvimento sustentável,


nomeadamente a sua preocupação em introduzir, nas estratégias de desenvolvimento, critérios de justiça
social e de protecção do ambiente. O eventual financiamento destas estratégias por parte das nações mais
ricas constitui motivo de encorajamento para a população mundial que vive em condições de pobreza. Por
outro lado, tem-se desenvolvido uma corrente de opinião que não aceita que o "sucesso" económico seja
apenas aferido por indicadores macroeconómicos, como, por exemplo, o produto interno bruto. O que está em
causa é a mudança dos principais paradigmas das sociedades mais ricas, pois a sua eventual mudança afecta
a forma como aquelas sociedades são conhecidas.

A expressão "desenvolvimento sustentável" descreve um dos principais temas de discussão dos anos 90,
porque traduz a consciência de que o Homem já exerce na Terra uma pressão que condiciona a sua própria
existência.

Esta interacção pode ser fundamentada cientificamente com base nas leis da Termodinâmica, tal como foi
evidenciado por Delgado Domingos (1994), a primeira lei, que enuncia o princípio de conservação de energia,
constitui um património cultural comum, no entanto, em relação à segunda lei, o princípio do aumento de
entropia, esta está muito longe de ser compreendida e assimilada com todas as suas implicações. Assim,
refere que:

“.... com o segundo princípio da Termodinâmica, ou lei do aumento de entropia, o que se verifica não é
uma recusa da sua existência, mas um desconhecimento das suas implicações na vida corrente e,
sobretudo, das limitações que impõe à visão idealista da economia global, da sociedade e do planeta.
Basicamente, o que essa lei nos diz é que qualquer actividade (biológica, económica, social...), ou
qualquer ser vivo, exige um fluxo contínuo de energia para existir, enquanto entidade coerente com
estrutura própria.
Deste modo, embora a energia se conserve, essa energia perde capacidade para realizar trabalho,
sempre que essa mesma energia provocou qualquer alteração pelo seu fluir. Essa energia degradada
aparece sob a forma de calor. E a degradação resulta no facto de esse calor nunca poder ser
transformado integralmente, no mundo real em que existimos, nas outras formas de energia. Esta
degradação da energia mede-se pelo aumento de entropia.”

A complexidade associada à caracterização dos principais requisitos para garantir a sustentabilidade da


sociedade actual tem motivado numerosos estudos, entre os quais se salienta uma análise relativa aos
Estados Unidos da América, elaborada pelo comité presidencial para o desenvolvimento sustentável, a qual
contribuiu para dar uma resposta a esta questão através da publicação em 1996 da obra: "Sustainable
America: A new consensus". Esta análise baseia-se numa reflexão sobre a experiência dos últimos 35 anos da
sociedade norte-americana, sobre a qual tece as seguintes conclusões principais:
- Os problemas económicos, ambientais e sociais não podem ser abordados isoladamente. A
prosperidade económica, a qualidade ambiental e a equidade social têm de ser considerados
simultaneamente.
- Qualquer sistema de protecção ambiental deve ser baseado em critérios científicos que considerem o
impacte ambiental de processos e serviços.
- Regulamentações com base tecnológica devem privilegiar soluções do tipo preventivo relativamente a
soluções de controlo da poluição após a sua formação.
- Ciência, economia e valores sociais devem estar na base do processo de tomada de decisão. A
disponibilidade de informação fiável é essencial para o processo de planeamento estratégico.

Foi baseado nesta análise que o comité elegeu os critérios orientadores dos processos de tomada de decisão
para as décadas vindouras nos E.U.A.:
- Estender a responsabilidade sobre o produto. Um sistema de extensão de responsabilidade a todo o
ciclo de vida do produto deve ser garantido em conjunto pelo projectista, fabricante, distribuidor,
utilizador e processador de resíduos;
- Estabelecer novas forças de mercado e propiciar a sua utilização. Devem ser desenvolvidos novos
mecanismos de actuação de mercado, como a compra e venda de quotas de emissões, e de inovação
do sistema fiscal, taxando os resíduos, as emissões ou a ineficiência alternativamente à riqueza,
emprego ou investimento, como se verifica actualmente;
- Encorajar o desenvolvimento de tecnologias ambientais. Os sistemas de gestão económica e ambiental
devem criar um ambiente favorável à inovação e ao desenvolvimento de tecnologias que apoiem a
criação de emprego e de riqueza e simultaneamente contribuam para minimizar o impacte ambiental da
indústria e melhorar a qualidade de vida do cidadão.

Este conjunto de princípios, a adoptar pelos E.U.A., evidencia a inevitabilidade da introdução de novos
conceitos no contexto actual de uma economia global e muito competitiva.

A extensão da responsabilidade dos produtos a todo o seu ciclo de vida generaliza a preocupação da análise
ambiental, para além da fase da produção, que era a perspectiva tradicional muito centrada sobre a poluição
industrial, e indicia uma inovação nas formas de pensar o ambiente e favorece o desenvolvimento de novas
técnicas de análise ambiental, nomeadamente a avaliação de ciclo de vida.

A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

Os problemas associados à sustentabilidade do desenvolvimento foram reconhecidos durante a década de 60,


mas ganharam o reconhecimento público através da publicação do livro "Limits to Growth" em 1972, por Dennis
e Donella Meadows, os quais lideravam um grupo de investigação no MIT (Massachusetts Institute of
Technology). Este livro, que constitui um "best-seller" internacional, surgiu como resultado do trabalho que os
seus autores desenvolveram, a pedido do "Clube de Roma", um grupo de industriais que se reuniram em Roma
para discutir os "novos" problemas internacionais, que apelidaram de "Global Problematique".

"Limits to Growth" descreve os resultados de um modelo computacional de evolução da Humanidade (que os


autores denominaram por "World 3"), que identifica as consequências para o planeta das evoluções
exponenciais que se verificavam a nível do crescimento demográfico e da actividade industrial.

Concluiu-se, neste estudo, que, se a tendência de crescimento não se alterasse, os limites ao crescimento na
Terra seriam atingidos em menos de 100 anos, o que significava que se verificaria um acentuado declínio na
actividade industrial, por falta de recursos naturais, cerca do ano 2010 e um rápido declínio da população,
cerca de 40 anos mais tarde.

Estes dados motivaram fortemente a opinião pública para o problema, assim como a comunidade científica,
entre a qual se gerou um interessante confronto de ideias. Em particular, surgiram diversas críticas ao modelo
adoptado, por este não prever a reacção da sociedade a estes problemas, nomeadamente a sua reacção
"natural" em termos da diminuição da taxa de expansão demográfica e ao desenvolvimento tecnológico e
inovação que permitiriam, no futuro, obter níveis de produção industrial semelhantes com menor consumo de
recursos.

No entanto, as críticas focaram detalhes, não se atacando a hipótese básica, de que o crescimento, suportado
pelo crescente consumo de recursos naturais, não era sustentável, num mundo finito.

Por outro lado, a aposta do livro estava ganha através do impacte que conseguiu nas sociedades mais
industrializadas e, em particular, através da opinião pública, junto do poder político.
Deve salientar-se que, em 1992, este grupo publicou uma actualização deste trabalho, num livro intitulado
"Beyond the Limits", tendo as conclusões fundamentais permanecido praticamente inalteradas, o que quer
dizer que o caminho para a sustentabilidade ficou mais estreito.

No entanto, em "Beyond the Limits", o grupo do MIT [http://web.mit.edu/] concluiu que:


- Na ausência de reduções significativas nos fluxos de matéria e energia, nas próximas décadas verificar-
se-á um declínio acentuado no consumo per capita de alimentos, energia e produção industrial;
- Este declínio não é, no entanto, inevitável. Para o evitar, são essenciais duas mudanças. A primeira
consiste numa revisão das políticas e práticas que perpetuam o crescimento material e demográfico. A
segunda consiste num rápido aumento na eficiência com que os materiais e a energia são utilizados;
- Uma sociedade sustentável é ainda técnica e economicamente possível e é preferível a uma sociedade
que procura resolver os seus problemas através de uma lógica de constante expansão.

A demonstração de interesse pelo tema também surge nas Nações Unidas, que promoveram uma conferência
na Suécia em Estocolmo, em1972, subordinada ao tema “Human Environment”.

A conferência de Estocolmo não constituiu o primeiro acontecimento destinado a procurar um acordo ambiental
entre nações. No entanto, foi a primeira reunião em que participou um número muito significativo de nações,
119 países e 400 organizações não governamentais (ONG), de forma concertada e com o objectivo de dar
respostas reais para os problemas ambientais, a nível global.

Nesta reunião, era clara a posição dos países do Norte, os quais estavam conscientes da necessidade de fazer
uma gestão dos recursos e da poluição, a nível global, actuando contra as fontes poluidoras de forma incisiva.
Este tipo de aproximação foi mal recebida pelos países do Sul, para os quais a preocupação com a poluição
constituía um "luxo", enquanto os seus problemas associados ao baixo nível de vida não se encontrassem
ultrapassados.

No entanto, esta reunião originou a "Declaração de Estocolmo para o Ambiente Relacionado com o Homem", a
qual faz parte da constituição das Nações Unidas, conjuntamente com a "Declaração dos Direitos do Homem".

Na declaração de Estocolmo constam 26 artigos, os quais não conseguem ultrapassar as reservas dos países
do Sul, falando-se em "desenvolvimento integrado" ou "planeamento racional", mas não se apresentando
medidas ou metodologias concretas para estabelecer uma orientação para um desenvolvimento sustentável,
conceito que ainda não foi utilizado nesta declaração.

Em Portugal deve ser referido o trabalho pioneiro de Delgado Domingos (1972) que analisa os dados do livro
"Limits to Growth", publicado nesse ano por Dennis e Donella Meadows, com base nas leis da Termodinâmica,
extrapolando as suas consequências nas três dimensões da sustentabilidade, a nível global e particularizando
para Portugal. Neste âmbito concluiu que é necessário aprender a optimizar globalmente e nunca a
suboptimizar. Deve-se saber prever, medir as consequências.

Estas conclusões mantêm actualidade e são muito interessantes no âmbito do desenvolvimento da técnica da
Avaliação do Ciclo de Vida, quando salientam a necessidade de uma análise global e simultaneamente alertam
para a forma como se utiliza a informação que lhe está subjacente.

No contexto internacional, em 1980, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) publica o
documento intitulado "WCS - World Conservation Strategy", no qual se refere o conceito de "Desenvolvimento
Sustentável", em termos que serviram de referência para o Relatório de Bruntland, considerando a sua
definição de conservação: "a gestão da utilização humana da biosfera, de forma a proporcionar o maior
benefício sustentável às gerações presentes, mantendo a sua capacidade de satisfação das necessidades e
aspirações das gerações futuras". Adicionalmente, definem-se três objectivos principais para a conservação:
- Manter os principais processos ecológicos e os sistemas de suporte à vida;
- Preservar a diversidade genética;
- Assegurar a utilização sustentável das espécies e dos ecossistemas.
Este documento apresenta algumas sugestões concretas para as estratégias nacionais a adoptar, as quais
divide em quatro etapas:
- Rever os planos de desenvolvimento nacionais, à luz dos três princípios de conservação atrás
enumerados e estabelecer um plano de prioridades para a conservação;
- Caracterizar os obstáculos à prossecução das prioridades de conservação definidas e estimar os custos
inerentes à sua ultrapassagem;
- Definir as espécies e os ecossistemas cuja conservação seja prioritária;
- Preparar um plano de acção concreto.

Considera-se ainda que as estratégias nacionais devem ser baseadas em princípios estratégicos, tais como:
- Integrar: abandonar a análise sectorial e adoptar uma perspectiva integrada para o desenvolvimento e a
conservação;
- Adoptar soluções mistas de cura e prevenção: evitar provocar problemas que possam ser piores que os
que se pretendem resolver;
- Dar tanta importância às causas como aos sintomas: evitar a necessidade de conservação, adoptando
medidas preventivas para a degradação do ambiente, quando os seus sintomas são identificados.

Este documento termina com uma secção intitulada "Em direcção ao desenvolvimento sustentável",
salientando a necessidade de equacionar simultaneamente as opções de desenvolvimento com as de
conservação e valorizando aspectos éticos fundamentados no princípio de que: "nós não herdámos a Terra dos
nossos pais, mas pedimo-la emprestada aos nossos filhos", reforçando a responsabilidade dos nossos actos
de gestão.

As Nações Unidas, considerando os problemas ambientais globais e o agravamento dos desequilíbrios entre
os povos mais pobres e os mais ricos, nomearam três comissões independentes, para a elaboração de
relatórios nos diversos aspectos da crise, que ficaram também conhecidas pelo nome dos seus responsáveis:
- Comissão Independente para os Assuntos de Desenvolvimento Internacional (ICIDI), Comissão Brandt,
constituída em 1977.
- Comissão Independente para o Desarmamento e para os Assuntos da Segurança (ICDSI), Comissão
Palme, constituída em 1980.
- Comissão Internacional para o Ambiente e o Desenvolvimento (WCED - World Comission on
Environment and Development), Comissão Brundtland, constituída em 1984.

A última comissão, a WCED, é aquela cujo trabalho mais se relaciona com o tema do desenvolvimento
sustentável.

A Assembleia-Geral das Nações Unidas definiu como missão desta comissão: Sugerir estratégias ambientais
de longo prazo, com o objectivo de se atingir um desenvolvimento sustentável no ano 2000 (e para além dele)
e, consequentemente, preparar uma Agenda para a mudança.

A Cimeira Mundial do Desenvolvimento Sustentável, também conhecida por WSSD, Cimeira da Terra ou
Rio+10, realizou-se em Joanesburgo, África do Sul, entre 26 de Agosto e 4 de Setembro de 2002.
Esta Cimeira teve lugar 10 anos depois da Cimeira do Rio e 30 anos após da Cimeira de Estocolmo, que em
1972 reuniu pela primeira vez os líderes internacionais a fim de discutirem, de forma global, o ambiente e o
processo de desenvolvimento.

A Cimeira de Estocolmo (UN Conference on the Human Environment), produziu um plano de acção que
evidenciou de forma clara os problemas ambientais relacionados com a educação, informação, sociedade e
cultura.

Nos anos 80 a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento apresentou um relatório chamado "O
Nosso Futuro Comum" (relatório de Brundtland) que na realidade foi uma versão prévia da Agenda 21 e da
Cimeira do Rio.
A Cimeira do Rio, de 3 a 14 de Junho de 1992, contou com a presença de 152 líderes mundiais.

Foram assinadas várias convenções que se encontravam pendentes e publicaram-se inúmeros relatórios
detalhados. Os principais foram a "Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento" e a "Agenda 21" -
um programa de acção de quarenta capítulos, que engloba a Convenção para as Alterações Climáticas, a
Convenção para a Diversidade Biológica e a Declaração de Princípios para a Floresta.
No capítulo 38 da Agenda 21 é criada a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável com o objectivo de
assegurar um “follow up” da Cimeira, promover a cooperação internacional, assim como, uma racionalização
na política intergovernamental, avaliando o progresso da implementação da Agenda 21.

Na Cimeira de Monterrey, no México, de 18 a 22 de Março de 2002, denominada Conferência para


Financiamento do Desenvolvimento concluíram-se alguns acordos que vieram determinar o fundamento das
iniciativas anunciadas na Cimeira de Joanesburgo.

Em Doha, Qatar de 9 a 14 de Novembro de 2001, na 4ª Convenção Ministerial da OMC clarificaram-se as


posições entre os adeptos da globalização corporativa e os dos direitos humanos e preservação do ambiente.

Em Joanesburgo as negociações sobre comércio prosseguiram com base na estrutura desenhada nesta
conferência.

Em Março de 2002 as nações do G8 anunciaram um "Plano de Acção para África". Este plano prevê o apoio ao
NEPAD (New Partnership for Africa Development): melhor "governance", melhoria das medidas de segurança,
melhoria nas condições de comércio e reenfatizou as condições ligadas à libertação da dívida.

Em Nova Deli (Índia), estiveram reunidos até


dia 1 de Novembro, os 185 membros da
Convenção das Alterações Climáticas da
ONU. Reuniram-se para decidir quais os
mecanismos a utilizar pelos governos para
cumprir o protocolo de Quioto. Dos temas
em agenda salientaram-se os projectos de
florestação para combater a poluição
atmosférica e as formas e fontes de
financiamento para sustentar as medidas de
combate às emissões de gases produtores
de efeitos de estufa.

Esquema elucidativo do Efeito de Estufa


(Fonte: adaptado de "The Environment in
Switzerland", SFSO/SAEL, 1997)
A GESTÃO AMBIENTAL

A gestão ambiental não é um conceito novo nem uma necessidade nova. O homem sempre teve de interagir
responsavelmente com o meio ambiente. Nos casos em que tal não ocorreu, o homem teve de enfrentar as
consequências nefastas da sua actuação.

A acumulação indiscriminada de resíduos que se verificou na Idade Média, com a consequente poluição da
água e do ar, resultou em gravíssimos problemas de saúde pública. A industrialização veio agravar este
problema ao contribuir de forma bastante acentuada para a poluição do meio ambiente.

Até ao final da década de oitenta e início da década de noventa, a gestão ambiental era em grande parte
tratada caso a caso, como resultado da pressão popular ou de algumas medidas legislativas. O ambiente era
tratado caso a caso por equipas técnicas e jurídicas, responsáveis pelas questões reguladoras.

Contudo, com o aumento dos conhecimentos sobre a gestão do meio ambiente, as entidades reguladoras
começaram a funcionar mais em termos de ecossistemas e de ecorregiões. Um número cada vez maior de
organizações começou a tratar o meio ambiente de forma sistemática.

Assim, verifica-se actualmente que as empresas começaram a encarar a necessidade de implementar medidas
de protecção ambiental como parte do seu modelo de gestão.

Hoje em dia o ambiente é um ponto essencial no planeamento estratégico de qualquer empresa,


especialmente no que diz respeito à indústria. Verifica-se uma consciencialização crescente na necessidade de
proteger o meio ambiente. Consumidores e distribuidores, muitas vezes, fazem as suas opções de compra
baseadas em aspectos ambientais, verificando-se que esta tendência influencia necessariamente as
organizações.

No passado, as empresas não se preocupavam com os aspectos ambientais, algumas inclusive procuravam
negar a existência de quaisquer problemas. Actualmente, os administradores das empresas procuram
demonstrar a capacidade destas de cumprir a legislação ambiental.

Desde a V Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo) em 1972, o
ambiente, e especialmente a relação entre ambiente e empresas, transformou-se num tema cada vez mais
importante de política pública e de estratégia de negócios. Como resultado directo desta conferência, foi criado
o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Praticamente em simultâneo com a Conferência de Estocolmo, grande parte dos países
industrializados criou ministérios, secretarias e agências ambientais. O Relatório Brundtland publicado em 1987
pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente tornou-se um marco na história da gestão ambiental,
consagrando o conceito de desenvolvimento sustentável e estabelecendo com muita clareza o importante
papel que as empresas devem ter na gestão ambiental. Este relatório foi também o principal responsável pela
agenda da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que teve lugar no Rio de
Janeiro em 1992 e que ficou, por isso, conhecida por Cimeira do Rio. Nesta conferência foi reconhecida a
importância da gestão ambiental no nível intergovernamental.

A experiência de sucesso com a série ISO 9000 e a criação de normas ambientais em diversos países, fizeram
que a ISO avaliasse a necessidade de criação de normas internacionais de gestão ambiental. Assim, criou em
1991 o Grupo Estratégico de Aconselhamento sobre o Ambiente (SAGE) para decidir se tais normas poderiam
servir para:
- Promover uma abordagem comum à gestão ambiental, semelhante à que havia sido desenvolvida para a
gestão da qualidade;
- Aumentar a capacidade das organizações de atingir e avaliar as melhorias no seu desempenho
ambiental;
- Facilitar o comércio e remover barreiras comerciais.
Em 1992, as recomendações do SAGE deram origem à criação de uma nova comissão (ISO/TC 207) para a
normalização internacional da gestão ambiental. Esta comissão e as respectivas subcomissões incluíram
representantes da indústria, organizações normalizadoras, governo e organizações ambientais de muitos
países.

A série de normas ISO 14000, internacionalmente aceites sobre gestão ambiental, foi elaborada para abranger:
- Sistemas de gestão ambiental;
- Auditoria ambiental;
- Avaliação de desempenho ambiental;
- Rotulagem ambiental;
- Avaliação de ciclo de vida;
- Aspectos ambientais de normas sobre produtos.

Estrutura da Comissão ISO/TC 207 e respectivas subcomissões que elaboraram as Normas ISO 14000

JCG ISO/TC 207 CAG


Grupo de Coordenação Integrada Gestão Ambiental Grupo de Aconselhamento do Presidente

SC3 SC4 SC5


SC1 SC2
Rótulo Avaliação Análise do
SGA Auditoria Ambiental
Ecológico Desempenho Ambiental Ciclo de Vida do Produto

TCG WG4 WG5


Termos e Definições Comunicação Ambiental Alterações Climáticas

As questões ambientais têm assumido uma relevância crescente na gestão das empresas. Medidas legislativas
restritivas, por um lado, e a procura dum desenvolvimento sustentável, por outro, fizeram que no nível
empresarial se verifique uma crescente consciencialização ambiental. Esta consciencialização reflecte-se no
facto das empresas procurarem, cada vez mais, demonstrar um desenvolvimento ambiental sólido. Este
objectivo reflecte-se na introdução de mecanismos de gestão destinados a controlar e minimizar os impactos
ambientais significativos das suas actividades, produtos e serviços.

O ambiente é considerado uma parte integrante na gestão das empresas, através da implementação de
sistemas de gestão ambiental (SGA).
Componentes da gestão empresarial evidenciando a componente ambiental
Os sistemas de gestão ambiental (SGA) foram projectados para permitirem a uma empresa ou organização
integrar uma abordagem planeada, coordenada e organizada para a gestão dos efeitos das suas actividades,
produtos e serviços, sobre o meio ambiente.

Ajudar no controlo das condições ambientais é indiscutivelmente uma responsabilidade de todos e não
somente de uma pessoa ou grupo de pessoas. Todos devemos contribuir para a preservação do ambiente,
incluindo empresas, agências governamentais e o público em geral.

Na sua maioria, as indústrias e empresas têm processos ou produtos que utilizam nas suas instalações e que
potencialmente podem ter um efeito negativo sobre o meio ambiente, constituindo assim uma preocupação na
luta pela melhoria das condições ambientais.

Uma solução para auxiliar as empresas a cumprir o seu papel no controlo de potenciais impactes ambientais é
a implementação de um sistema de gestão ambiental (SGA). Os sistemas de gestão ambiental desempenham
um papel importante na determinação do sucesso ambiental de uma empresa.

A adesão a um sistema de gestão ambiental beneficia a empresa, considerando a percepção que o público e
outras organizações têm da empresa. Através do reconhecimento público da utilização de um SGA, a empresa
pode assegurar a todas as partes interessadas que conduz os seus negócios de um modo amigo do ambiente.
Os clientes que têm a percepção de que estão a lidar com uma empresa com um SGA integrado podem sentir-
se mais confortáveis com o facto de saberem que se estão a relacionar comercialmente com uma empresa
amiga do an1biente e, assim, criarem maiores oportunidades de negócio.

Os SGA são um passo na direcção certa para a diminuição dos impactes sobre o ambiente. De facto, estes
servem como o enquadramento que as empresas podem seguir para manterem e melhorarem as suas
contribuições e impactes sobre o meio ambiente.

Um SGA pretende, assim, melhorar o desenvolvimento económico global das empresas através do aumento do
seu desempenho ambiental.

Durante a última década surgiram diversas normas e regulamentos relativos à implementação de sistemas de
gestão ambiental, salientando-se a mundialmente a Norma ISO 14001: 1996 e o EMAS no nível europeu.

AS VANTAGENS DA GESTÃO AMBIENTAL

A implementação de um sistema de gestão apresenta diversas vantagens para as empresas ou organizações


envolvidas. A análise da necessidade ou não de implementação de um SGA deve considerar diversos aspectos
que lhe estão associados:

- Melhor acesso ao mercado


As normas de gestão ambiental como a ISO 14001 poderão ser uma pré-condição para a realização de
um negócio. Este requisito não é um requisito legal, podendo, no entanto, surgir como um requisito
para a concretização de determinados negócios.
- Incentivos reguladores
A legislação de muitos países oferece incentivos a quem implemente voluntariamente sistemas de
gestão ambiental como, e. g., o que está consagrado na ISO 14001. Esses incentivos podem
apresentar-se, e. g., sob a forma de inspecções menos frequentes, aprovações, autorizações
consolidadas e/ou redução no montante de multas e coimas. No caso europeu e em Portugal existem
ainda diversos programas aos quais as empresas podem submeter projectos para financiamento (e. g.
SIME, PRIME). A adopção e o investimento em medidas voluntárias podem também contribuir para a
melhoria das relações com as entidades fiscalizadoras.
- Redução da responsabilidade e do risco
Os acidentes representam custos elevados para as empresas. Um SGA eficaz, como é o caso da ISO
14001, permite identificar e gerir de forma sistemática o risco e a responsabilidade ambiental. A
existência de um SGA representa, por isso, uma contribuição importante em caso de acidente
permitindo minimizar os danos e os custos associados à sua reparação.
- Melhor acesso aos seguros
As seguradoras podem reconhecer na implementação de um SGA um sinal do empenho e
preocupação da empresa em atingir um bom desempenho ambiental. Esta situação poderá, em muitos
casos, facilitar a contratação de um seguro e/ou redução do custo do mesmo.
- Acesso facilitado a empréstimos bancários em condições mais vantajosas
Tal como as seguradoras, também os investidores e credores reconhecem na implementação de um
SGA um sinal do interesse e da preocupação da empresa em atingir um bom desempenho ambiental.
Um SGA poderá, assim, facilitar à empresa o acesso a empréstimos em condições economicamente
mais vantajosas. Num futuro próximo, a existência de um SGA poderá mesmo vir a tornar-se numa
condição obrigatória para a concessão de financiamento a determinadas empresas (em particular
àquelas que se encontram associadas a actividades mais poluentes).
Neste contexto, as empresas certificadas pela ISO 14001 poderão vir a qualificar-se para:
- Empréstimos com prazos mais alargados;
- Cláusulas contratuais ambientais simplificadas;
- Apreciação mais rápida do pedido de empréstimo;
- Juros iniciais mais baixos;
- Cláusulas contratuais menos restritivas.
- Melhoria na eficiência do processo
Uma abordagem sistemática para identificar os aspectos e impactes ambientais leva, em geral, a uma
produção mais eficiente, com a concomitante redução do desperdício de energia e de matéria-prima. A
ISO 14001 exige um compromisso constante na prevenção da poluição.
- Melhoria do desempenho ambiental
A implementação de um SGA por parte de uma empresa conduz a melhorias no seu desempenho
ambiental. A natureza de uma organização determina que, quando uma questão é levada à
administração, ela é tratada de forma sistemática e positiva. O sistema administrativo de uma empresa
pressupõe a definição de metas e objectivos. Assim, sempre que se avalia uma organização, e as
pessoas que a constituem, para se verificar se os objectivos e metas estabelecidos foram atingidos,
dessa avaliação resultará sempre uma melhoria.
- Melhoria na Gestão Global
Os sistemas de gestão ambiental fornecem abordagens comuns de terminologia e gestão. Em
organizações nas quais as práticas de gestão são menos sofisticadas, uma abordagem sistemática,
como a que está estabelecida na norma ISO 14001, pode influenciar positivamente outras questões-
chave da organização. Nas organizações com múltiplas divisões, ou em empresas com fornecedores e
clientes, uma abordagem sistemática e documentada pode contribuir para uma maior confiança e
estabilidade nas relações empresariais.
- Redução de custos e aumento das receitas
A implementação de um SGA por parte de uma organização traduz-se numa maior eficiência, num
aumento de competitividade, numa diminuição de custos de produção e num aumento da receita
associada à redução de custos. A utilização pelas empresas multinacionais de um SGA, estabelecido a
partir de uma norma internacional única, facilita a sua implementação por ser supranacional.
- Relações com os clientes
Até há relativamente pouco tempo, os consumidores, antes de adquirirem um produto, preocupavam-
se sobretudo com a sua origem, durabilidade, segurança e qualidade. Contudo, os consumidores
questionam-se, cada vez mais, sobre os eventuais danos que os produtos possam causar ao meio
ambiente e sobre a eventual utilização de testes com animais no desenvolvimento dos produtos. Esta
tomada de consciência resulta principalmente de um papel mais interventivo, e de divulgação, das
associações de consumidores (caso da DECO - Associação Portuguesa para a Defesa dos
Consumidores), grupos ambientalistas (caso da QUERCUS - Associação Nacional de Conservação da
Natureza, e da LPN - Liga para a Protecção da Natureza) assim como de associações protectoras dos
animais. A implementação de um sistema de gestão ambiental reconhecido pode ajudar a identificar,
responder e conferir a necessária segurança relativamente a essas preocupações.
- Melhoria na relação com os fornecedores
As empresas podem beneficiar se os seus fornecedores cumprirem certas metas de política ambiental.
É cada vez mais frequente que as empresas (do sector alimentar ao automóvel) imponham aos
fornecedores certas restrições ambientais no âmbito dos seus contratos, como forma de diminuírem os
seus riscos e responsabilidades. Os contratos podem, e. g., impor limites à utilização de produtos
geneticamente modificados (indústria alimentar) ou à ausência, nos sistemas compressores, de gases
prejudiciais à camada de ozono (indústria de electrodomésticos).
- Melhoria nas relações com os colaboradores
A formação adequada dos colaboradores, associada a procedimentos sistemáticos bem definidos,
melhora a qualidade do trabalho executado. Além disso, o moral dos colaboradores aumenta quando
estes se sentem orgulhosos de estarem associados a uma organização certificada. Uma equipa com
moral baixo exige uma rotatividade elevada para tentar compensar a baixa produtividade, resultando
necessarian1ente num aumento dos custos de produção.
- Melhoria nas relações com grupos de pressão
Cada vez mais as organizações percebem a importância crucial de manterem boas relações nas
comunidades em que operam, assim como com os diversos grupos de pressão (como é o caso dos
ambientalistas, dos académicos e dos investigadores). Estes grupos podem exercer uma forte pressão
sobre uma organização, condicionando as preferências dos compradores e as opções destes. Assim, é
essencial manter um bom relacionamento com estes grupos, transmitindo-lhes a confiança resultante
da implementação de um SGA, reconhecido e certificado por uma entidade independente.
- Melhoria na imagem pública
O desempenho ambiental de uma empresa que possua um SGA reconhecido será encarado, pelos
media e pela sociedade, de forma muito mais positiva que o desempenho de empresas sem SGA.
- Contribuição para um desenvolvimento sustentável
Do ponto de vista das políticas públicas, a existência de um SGA eficiente contribui de modo
significativo para o desenvolvimento sustentável.

Parque das Nações - Ambiente - Gestão Ambiental


http://www.parquedasnacoes.pt/pt/ambiente/gestaoambiental.asp

Projectos Integrados
A requalificação do Parque das Nações foi feita tirando o máximo partido da integração das intervenções
de remediação ambiental que houve necessidade de levar a cabo na zona. Dessa integração, a qual foi
equacionada a nível de projecto e à medida que foi sendo detalhado o conhecimento dos problemas
ambientais existentes, resultaram efeitos altamente favoráveis no decorrer da fase de construção, não só
em termos económicos mas, acima de tudo, com consequências positivas enquanto minimizadores dos
incómodos que uma obra desta envergadura poderia ter junto das populações vizinhas.

Demolições / Reciclagem de Materiais

Os resíduos resultantes das demolições (não poluentes) permitiram adoptar localmente, no Parque das
Nações, mecanismos de reciclagem simples que levassem os empreiteiros a absorver os resíduos da
demolição, reutilizando-os como matéria prima nas futuras obras de construção, evitando a exploração de
locais de empréstimo de materiais com as consequências ambientais daí advenientes. Para o efeito foi
instalado no Parque das Nações um sistema de reciclagem de grande capacidade, que serviu para
processar os materiais resultantes das acções de demolição. Este processo de reciclagem envolveu cerca
de 812 000 toneladas de materiais de betão, acrescidos de todas as alvenarias de tijolo, blocos ou pedra
num montante de 190 000 toneladas e os pavimentos de betão e betuminosos com um total de 60 000
toneladas. A quantidade de aço resultante da separação de betão ronda as 5 000 toneladas que foram
levadas à fundição para transformação adequada. Os materiais ferrosos, e outros cuja reciclagem não foi
possível na instalação existente no Parque das Nações, foram processados em unidades exteriores.

Solos das petrolíferas / Aterro Sanitário de Beirolas

Os estudos de diagnóstico efectuados na parte Sul do Parque das Nações, onde desde os anos 40 se
instalavam as companhias petrolíferas, permitiram identificar a presença pontual de teores de
hidrocarbonetos acima dos limites aceites para uso residencial dos terrenos, como previsto no Plano de
Urbanização aprovado. No entanto, os resultados desses estudos foram animadores, já que permitiram
confirmar que as características geológicas do local (foi identificada uma camada de argilas de reduzida
permeabilidade) serviram de barreira natural à migração de contaminantes em profundidade. A
profundidade até onde foi detectada a contaminação do solo não ultrapassou, em regra, os 2 metros,
tendo-se estimado em cerca de 250.000 m3 o volume total de solos a necessitar de tratamento. O Aterro
Sanitário de Beirolas localiza-se no extremo Norte do Parque das Nações, entre o rio Trancão e a Estação
de Tratamento de Águas Residuais de Beirolas. Este aterro serviu, no período de 1985 a 1990, de local
preferencial de depósito dos resíduos sólidos originados em Lisboa. Foi utilizado durante um período
superior ao inicialmente previsto, daí resultando a sua sobre-exploração e consequente deficiência de
funcionamento dos sistemas de drenagem de lixiviados e biogás que haviam sido projectados, bem como
alguma instabilização dos taludes do aterro, facto que foi detectado no decorrer das visitas efectuadas ao
local na altura da execução dos estudos de diagnóstico. Os trabalhos executados para a recuperação
ambiental do aterro passaram pela (1) suavização dos taludes do aterro, de forma a garantir a sua
estabilidade; (2) extracção das lixiviados acumuladas no interior do aterro e seu tratamento em local
adequado; (3) extracção do biogás e seu tratamento (queima ou aproveitamento para produção de
energia); (4) isolamento dos resíduos depositados, mediante a aplicação de membrana impermeabilizante;
(5) instalação do sistema de drenagem de águas superficiais; (6) colocação de camada de terra vegetal
que permite a instalação da vegetação prevista para o Parque Urbano do Tejo, o parque de 80 ha que
ocupa a parte Norte do Parque das Nações. A necessidade de limpar rapidamente os solos das
petrolíferas, em ordem a avançar com a modelação geral dos terrenos, e de suavizar os taludes do Aterro
Sanitário, à custa de material de enchimento, garantindo a sua estabilidade, foram factores determinantes
na selecção da solução técnica para limpeza dos solos das companhias petrolíferas. Assim, a escavação e
transporte dos solos com hidrocarbonetos até ao Aterro Sanitário de Beirolas, onde foram depositados em
célula confinada de modo a ser garantido o seu isolamento, foi considerada a solução mais adequada face
aos prazos disponíveis para o processo de limpeza dos terrenos das petrolíferas, já que qualquer das
outras soluções estudadas (desorção térmica ou bioremediação) implicaria prazos muito superiores,
incompatíveis com os tempos de desenvolvimento do projecto EXPO`98. Por outro lado, esta solução
permitiu utilizar os solos das petrolíferas como material de enchimento necessário à suavização e
estabilização de taludes do Aterro Sanitário. A instalação de uma Estação de Tratamento de Águas
Residuais móvel durante os trabalhos de escavação dos solos permitiu a limpeza das águas subterrâneas,
e a recuperação de produto livre (diversos tipos de produtos petrolíferos), o qual, após separação da
fracção aquosa, foi encaminhado para reutilização de acordo com as características apresentadas.

Aterro Sanitário/ Estação de Tratamento de Águas Residuais de Beirolas

No âmbito da recuperação do Aterro Sanitário de Beirolas é necessário proceder à extracção dos lixiviados
resultantes da degradação dos lixos, garantindo o seu tratamento adequado, já que se tratam de águas
agressivas e poluidoras do ambiente. A proximidade da Estação de Tratamento de Águas Residuais de
Beirolas facilita o tratamento destas águas, as quais são bombadas através de sistema elevatório instalado
no Aterro Sanitário e devidamente tratadas na Estação de Tratamento de Águas Residuais. Por outro lado,
as obras de beneficiação da Estação de Tratamento de Águas Residuais de Beirolas, da responsabilidade
da C.M.L., prevêem a introdução de tratamento terciário, o que permitirá utilizar a água tratada na Estação
de Tratamento de Águas Residuais para a rega dos espaços verdes do Parque das Nações,
nomeadamente aqueles que existem na zona do Aterro Sanitário. Este foi um dos casos em que, partindo
da presença de duas infra-estruturas ambientalmente desagradáveis numa perspectiva de qualificação
urbana, o Plano de Urbanização da Parque EXPO potenciou uma recuperação integrada de grande valor
ambiental.

Transplantes

Cerca de 500 árvores previamente existentes nos terrenos do Parque das Nações fazem parte das zonas
verdes criadas pelo Plano de Urbanização da Parque EXPO. Recorrendo a uma tecnologia alemã - o
sistema optimal - essas árvores foram transplantadas dos locais onde se encontravam para uma zona
provisória antes de irem para o local definitivo. Estes transplantes permitiram a preservação destas árvores
que, doutro modo, seriam certamente abatidas no decorrer das obras. Apesar de constituírem uma
pequena parcela das 10.000 árvores previstas no Plano de Urbanização, também essas 500 árvores
representam, no terreno, o esforço da Parque EXPO na procura de soluções integradas para a
prossecução do projecto. Para além destas árvores existentes foram transplantadas para o Parque das
Nações, algumas já para locais definitivos, cerca de uma centena de árvores de Lisboa e arredores,
através do sistema tradicional de transplante.

Preparação de Terra Vegetal

Em alternativa à importação de terra vegetal para suporte das plantações previstas no Plano de
Urbanização, a Parque EXPO preparou, no interior do Parque das Nações, a terra vegetal que utilizou nas
zonas verdes. A preparação dessa terra vegetal recorreu à utilização de materiais oriundos do próprio
Parque das Nações, incluindo as lamas da Estação de Tratamento de Águas Residuais e o composto
resultante do tratamento dos lixos na ETRS de Beirolas. A caracterização detalhada dos vários tipos de
solos existentes no Parque das Nações permitiu identificar as proporções adequadas em que, misturados
em conjunto com os materiais anteriormente referidos, eram obtidas as condições agronómicas mais
indicadas para suporte do coberto vegetal previsto em cada uma das áreas verdes do Plano de
Urbanização. A Parque EXPO já preparou nos seus terrenos cerca de 150 000 m3 de terra vegetal, a qual
já foi aplicada nos espaços verdes construídos.

SITES COM INTERESSE:

Earthsummit-Info
Euractiv
IISD-The Earth Negotiations Bulletin
G8-Summit Site
Joanesburgo Earthsummit News
United Nations Environment Programme
United Nations-Sustainable Development
Earth Summit 2002
Johannesburg Summit 2002
Earth Media Summit
FAO-World Summit on Sustainable Development

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