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Mar Adentro, é um filme baseado em uma história verídica, dirigido por Alejandro

Amenábar que funciona como um drama imperdível para quem gosta da vida ou para quem
precisar reafirmar sua existência. Diria, sem medo de errar, que é uma verdadeira obra de arte,
uma poesia pura e visual. A história retrata a vida de Ramón Sampedro (Javier Bardem),
marinheiro galego, mecânico de barcos que aos 20 anos já dava volta ao mundo e aos 26 anos,
num mergulho em águas rasas, instalou-se para sempre em uma cama, entre as quatro paredes
torturantes de seu quarto de onde olha o mar, o mesmo mar que tanto viajou lhe roubou a vida
e a juventude.
Ex-marinheiro era um homem totalmente saudável, inteligente e viril, que fica
tetraplégico ao sofrer um acidente e ser obrigado a viver, contra sua vontade, paralisado em
uma cama, dependendo da ajuda de seus familiares para todas as suas necessidades básicas.
Vinte e seis anos depois, ele consegue uma advogada disposta a ajudá-lo na luta em legalizar a
eutanásia e finalmente morrer com dignidade. Confrontando questões morais, religiosas e
sociais, Ramón tenta legalizar uma petição que lhe dê autorização para cometer eutanásia, sem
que nenhumas das pessoas que o ajudaram sejam prejudicadas por suas ações.
O conflito existente seria o da possibilidade de um ser humano dispor livremente de sua
vida. Nesse sentido, é preciso argumentar quais seriam os limites dessa atuação. Quais as
consequências que poderiam nascer de uma atitude em que uma pessoa dispõe de sua vida? A
sociedade teria condições de aceitação para essas questões? Quem auxilia a pessoa
"permitindo-a" morrer age com ética ou não?
A partir dos dilemas levantados podemos então supor algumas questões, mas nunca
findá-las. Se pensarmos que o ser humano habita com os outros o mundo, seria vil tirar a própria
vida. De outro lado, se a vida é individual, seria lícito entregar nas mãos de cada um essa
possibilidade. Seria injusto, por esse prisma, obrigar o tetraplégico a carregar o fardo de sua
vida. Mas e se houver mesmo um deus?
A ética serve, então, para que essas questões nos façam refletir e reconhecer que os
valores que sustentam o homem, em verdade, são seus próprios alicerces. Não é eticamente
correto obrigar alguém a uma vida que não quer. Mas essa pessoa, fragilizada, não poderia em
verdade ser levada a criar novas dimensões para o seu corpo? Podemos dar dois exemplos para
essa reflexão: Stephen King e Marcelo Yuka.
“... nada nem ninguém pode de qualquer forma permitir que um ser humano inocente
seja morto, seja ele um feto ou um embrião, uma criança ou um adulto, um velho ou alguém
sofrendo de uma doença incurável, ou uma pessoa que está morrendo”. Fonte: Congregação
para a Doutrina da Fé. Declaração sobre Eutanásia. Cidade do Vaticano: Vaticano, 1980.
(...) a vida humana, dom precioso de Deus, é sagrada e inviolável, e, por isso mesmo, o
aborto provocado e a eutanásia são absolutamente inaceitáveis; a vida do homem não apenas
não deve ser eliminada, mas há de ser protegida com toda a atenção e carinho; a vida encontra
o seu sentido no amor recebido e dado, em cujo horizonte haurem plena verdade a sexualidade
e a procriação humana; nesse amor, até mesmo o sofrimento e a morte têm um sentido,
podendo tornar se acontecimentos de salvação, não obstante perdurar o mistério que os
envolve; o respeito pela vida exige que a ciência e a técnica estejam sempre orientadas para o
homem e para o seu desenvolvimento integral; a sociedade inteira deve respeitar, defender e
promover a dignidade de toda a pessoa humana, em cada momento e condição da sua vida.
(João Paulo II, Evangelium Vitae, 81 b)
Consideramos que seria ético deixar a pessoa decidir. No entanto, essa solução não
encerra o debate, apenas seria a saída que imaginamos causar menor aflição e dar um pouco de
autonomia e dignidade de escolha para essa pessoa.

https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3366

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