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História da Sociologia
Pressupostos, origem e desenvolvimento.
Introdução
Desde cedo A.Comte procurou fazer uma reflexão sobre a sociedade de sua
época. Toda a sua obra está permeada pelos acontecimentos que ocorreram na França
pós-revolucionária; ele defende parte do espírito de 1789 e critica a restauração da
monarquia, preocupando-se fundamentalmente em como organizar a nova sociedade
que, no seu entender, estava em ebulição e em total caos. Para Comte, a desordem e a
anarquia imperavam devido à confusão de princípios (metafísicos e teológicos) que não
podiam mais se adequar à sociedade industrial em expansão. Era, portanto, necessário
superar esse estado de coisas, usando a razão como fundamento da nova sociedade.
Auguste Comte, assim, propôs uma completa reforma da sociedade em que
vivia, através de uma reforma intelectual plena do homem. Ao se modificar a forma de
pensamento dos homens, através dos métodos das ciências de seu tempo, que ele
chamou de “filosofia positiva”, conseqüentemente haveria uma reforma das instituições.
Nesse ponto é que aparece a Sociologia, ou a “física social”, que, ao estudar a sociedade
através da análise de seus processos e estruturas, proporia uma reforma prática das
instituições.
A Sociologia representava, para Comte, o coroamento da evolução do
conhecimento, usando os mesmos métodos de outras ciências, pois todas elas buscavam
conhecer os fenômenos constantes e repetitivos da natureza. A Sociologia, como as
ciências naturais, devia sempre procurar a reconciliação entre os aspectos estáticos e os
dinâmicos do mundo natural ou, em termos da sociedade humana, entre a ordem e o
progresso, de modo que este deveria estar subordinado àquela. A ciência deveria ser um
instrumento para a análise da sociedade no sentido de torná-la melhor através do lema:
Conhecer para prever, prever para prover, o que significava que o conhecimento deve
existir para fazer previsões do acontecerá e também para dar a solução dos possíveis
problemas que viessem existir.
Outro postulado comtiano era combinação da ordem com o progresso, pois
acreditava que isso superaria tanto a teologia quanto a revolução, ou seja, propunha que
o progresso deveria ser o alvo a se atingir, mas sempre sob o manto das ordem, para que
não ocorressem distúrbios e abalos no sistema.
A influência de Comte no desenvolvimento da sociologia foi marcante,
sobretudo na escola francesa, através de Émile Durkheim e de todos os seus
contemporâneos e seguidores. Seu pensamento esteve presente em muitas das tentativas
de se criarem determinadas tipologias para explicar a sociedade. Suas principais obras
foram:
Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818. Filho de uma família judaica, de uma
linhagem de rabinos, rompida pelo seu pai que era advogado e havia abraçado a religião
protestante. Marx estudou Direito mas pouco a pouco foi deslizando para a Filosofia
onde defendeu em 1841 a tese de doutorado: A diferença da filosofia da natureza em
Demócrito e Epicuro. Neste período universitário teve uma vida em que se misturam a
boemia e a poesia, mas também o debate político principalmente aquele fundamentado
no pensamento de G.W. Friedrich Hegel, que conhece neste período e não se separará
mais, mesmo criticando-o. A partir de então sua vida é cheia de tribulações. Torna-se
jornalista e escreve (depois torna-se editor-chefe) para um jornal crítico do poder
prussiano, A Gazeta Renana. O jornal logo é fechado e ele se vê desempregado.
Em 1842 conhece em Colônia na Alemanha um jovem industrial, Friedrich
Engels que se tornará seu parceiro intelectual e amigo nas horas de infortúnio durante
toda a vida. Foi através dele que Marx passou a conhecer a situação econômica e social
da Inglaterra através do livro de Engels: A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra. Saindo da Alemanha passa a viajar pela Europa. Na França fica de 1843 a
1845 onde escreve os famosos Manuscritos econômicos e filosóficos (só publicados em
1932), Entre 1845 e 1847 exila-se em Bruxelas-Bélgica, onde escreve em conjunto com
F. Engels o livro A Ideologia Alemã e mais tarde o livro Miséria da Filosofia criticando
P.J. Proudhon.
No bojo dos movimentos revolucionários de 1847 e 1848, Marx é expulso da
Bélgica, volta à França, mas não pode ficar lá, retorna à Alemanha sempre pensando nas
possibilidades de uma mudança estrutural em sua terra natal. Entretanto isso não
acontece e emigra para a Inglaterra e se fixa em Londres, onde se ficará até o final de
sua vida. Na Inglaterra, como exilado, desenvolveu suas pesquisas e seu maior trabalho.
Há quem diga que sem Londres não haveria esta obra que revolucionou a maneira de
pensar o sistema capitalista, pois foi nesta cidade que passava no Museu Britânico das 9
às 19 horas a maior parte de seus dias pesquisando, o que lhe permitiu escrever O
Capital- Crítica da Economia Política, que só conseguiu publicar o primeiro volume.
Os outros dois volumes foram publicados após a sua morte por F. Engels. Karl Marx
faleceu em sua mesa de trabalho em 14 de março de 1883.
Para se entender a obra de Marx é necessário entender um pouco do que estava
acontecendo em meados do século XIX. Com as transformações que estavam ocorrendo
no mundo ocidental, mas principalmente nas esferas da produção industrial, houve um
crescimento expressivo do número de trabalhadores industriais urbanos com as
conseqüências inevitáveis: precariedade da vida nas cidades deste segmento da
sociedade de então. Estas condições eram péssimas em todos os sentidos, desde as
condições de trabalho no interior das fábricas, que empregavam homens, mulheres e
crianças super-explorados, alimentação deficiente, insalubridade dos ambientes
externos, até as condições de vida nas casas em que viviam. Esta situação gerou a
organização dos trabalhadores em associações e sindicatos, e movimentos que visavam
a transformação das condições da vida em que viviam. Essas mudanças exigiram o
desenvolvimento de um pensamento explicativo das condições sociais, políticas e
econômicas para se definirem as possibilidades de intervenção nessa realidade.
Muitos pensadores procuraram desde o início do século XIX discutir a sociedade
que estava emergindo e demonstrando, desde uma perspectiva socialista as questões
sociais envolvidas. Na Inglaterra podem ser citados entre outros: William Godwin
(1756-1836), Thomas Spence (1750-1814), Thomas Paine (1737-1809), Robert Owen
(1771-1858), Thomas Hodgkin (1787-1869). Na França, Etienne Cabet (1788-1856),
Flora Tristan (1803-1844), Charles Fourier(1772-1837) Pierre Joseph Proudhon (1809-
1865).
Levando em conta estes pensadores, debatendo com alguns que foram seus
contemporâneos e até criticando-os, Marx incorporou também a tradição da economia
clássica inglesa presente principalmente em Adam Smith e David Ricardo e a filosofia
alemã de F. Hegel, sempre com um viés analítico e crítico.
Assim a tradição socialista nascida da luta dos trabalhadores, muitos anos antes e
em situações diferentes, tem como expressão intelectual o pensamento de Karl Marx
que, entre outros, procurou estudar criticamente a sociedade capitalista a partir de seus
princípios constitutivos e em seu desenvolvimento, tendo como objetivo dotar a classe
trabalhadora de uma análise política da sociedade de seu tempo.
Quanto à questão da ciência da sociedade, não há, para Marx, nenhuma
preocupação em definir uma ciência específica para se estudar a sociedade (como a
Sociologia, para A. Comte) e em situar o seu trabalho em algum campo científico
particular. Talvez seja a ciência da história a que mais se aproxime das preocupações
dele, não no sentido da história como uma ciência separada das outras ciências
humanas, mas naquele que entende a História como a única ciência social, por abarcar
as múltiplas dimensões da sociedade. Essa, para ele, deve ser analisada na sua
totalidade, não havendo uma separação rígida entre os aspectos sociais, econômicos,
políticos, ideológicos, religiosos, etc.
Para entender o fundamental do pensamento de Marx é necessário fazer a
conexão entre os interesses da classe trabalhadora, suas aspirações e as idéias
revolucionárias que estavam presentes no século XIX na Europa. Para ele, o
conhecimento científico da realidade só tem sentido quando visa à transformação dessa
mesma realidade. A separação entre teoria e prática não é colocada por ambos, pois a
“verdade histórica” não é algo abstrato e que se define teoricamente; a sua verificação
estaria na prática.
Marx escreveu muito e em várias ocasiões teve como seu companheiro F.
Engels. Apesar de haver algumas diferenças em seus escritos, os elementos essenciais
do pensamento destes autores podem ser situados, de um modo extremamente resumido,
nas seguintes questões abaixo, deixando claro que posteriormente abordaremos estas e
outras questões nos vários capítulos deste livro:
A obra desses dois autores é muito vasta, mas podem ser destacados alguns livros e
escritos:
Principais obras:
A ética protestante e o espírito do capitalismo. 1904/1919.
Ciência e política: duas vocações. 1917-9.
Economia e sociedade. Fundamentos da sociologia compreensiva. 1921.
Ensaios reunidos de sociologia das religiões.
Ética econômica das religiões mundiais.
História geral da economia. 1923.
A presença da sociologia nos EUA deve ser vista como uma sociologia que se
desenvolveu no mesmo período que na França e na Alemanha e é por isso que decidi
analisá-la, pois além disso ela é uma sociologia que teve e tem uma grande influência
em quase todo o mundo ainda hoje.
A sociologia desenvolvida nos EUA desde o início do século XX tem duas
grandes características: a) Uma multiplicidade de temas, problemas e propostas e uma
diversidade teórica e metodológica, num percurso desde a macro até a micro-sociologia.
Diferente da européia tem muito pouco interesse, em seu período inicial, com as
grandes discussões teóricas, é uma sociologia que se pretende ser prática, resolver os
problemas existentes na sociedade através de pesquisa aplicadas; b) A presença nas
atividades universitárias do financiamento privado (Fundação Rockfeller, Comitês e
Associações normalmente religiosas) paralelamente ao do Estado.
Na última parte do século XIX, os Estados Unidos da América (EUA) estavam
em franco desenvolvimento industrial com um crescimento econômico e urbano
significativo. Neste mesmo momento há um forte movimento imigratório
principalmente de populações européias. Assim, as principais as cidades passaram a ser
um espaço de conflito e de muitas preocupações. Temas como: imigração aculturação,
comportamentos desviantes, aculturação ou conflitos étnicos, políticas públicas, entre
outros se tornam presença importante na sociologia desenvolvida inicialmente neste
país.
Assim, em 1892, a Universidade de Chicago é fundada graças a financiamento
privado (Fundação Rockefeller) e nela o primeiro departamento de Sociologia sob a
direção de Albion Small (1854-1926), que vai determinar os primeiros passos da
sociologia nos EUA. A sua presença na sociologia americana se dá fundamentalmente
como um grande professor e um organizador da sociologia. Em 1895 cria o American
Journal of Sociology e em 1907 participa ativamente da criação da Sociedade
Americana de Sociologia. Ele publica junto com Georges Vincent em 1894 talvez o
primeiro manual de Sociologia para estudantes, intitulado Introdução ao estudo da
Sociedade.
A Universidade de Chicago, no início de seus trabalhos sociológicos sempre deu
primazia à pesquisa de campo, isto é, pesquisa empírica, procurando conhecer através
da observação direta a dinâmica das relações sociais. Desenvolveu uma forte tendência
pragmatista e microsociológica em Chicago que viria a ser conhecida com a Escola de
Chicago, tendo como um dos seus expoentes William F. Ogburn (1886-1959) que
desenvolverá instrumentos estatísticos com finalidade prática.
Vários autores participaram deste movimento. Entre os mais conhecidos
podemos citar William I. Thomas (1863-1947) e Florian Znaniecki (1882-1958) que
desenvolveram uma pesquisa e a publicaram sob o nome O camponês polonês na
Europa e na América durante os anos de 1918 a 1921. Robert E. Park (1864-1944) e
Ernest W. Burgess que escreveram Introdução à ciência da sociologia em 1921. Os
dois juntamente com R. Mackenzie escreveram o clássico livro A cidade em 1925.
Louis Wirth (1897-1952) publicou O gueto em 1928, e um artigo que se tornou famoso:
Urbanismo como modo de vida em 1938, estes últimos claramente influenciados por
George Simmel (que havia escrito um artigo também famoso: A metrópole e a vida
mental).
Além destes outros autores, desenvolveram pesquisas sobre temas que
evidenciavam a preocupação existente em Chicago e nas grandes cidades dos EUA,
como: a desorganização social nas cidades: marginalidade social, alcoolismo, drogas,
segregação racial, delinqüência demonstrando uma relação entre a pesquisa sociológica
e a intervenção dos organismos públicos. Há em alguns deles a preocupação com o que
eles chamam de ecologia humana em oposição à ecologia animal e vegetal.
Na Universidade de Harvard também existia esta preocupação. Um dos seus
expoentes foi Elton Mayo (1880-1949) que desenvolveu aí sua sociologia industrial
iniciada com uma grande pesquisa entre 1927e 1932 com os operários da Western
Eletric, onde procuravam entender a influência das relações sociais na produtividade
dos trabalhadores. Seu livro mais conhecido é Os problemas humanos de uma
civilização industrial escrito em 1933.
Na Universidade Colúmbia, Franklin Giddings (1855-1931) através das
pesquisas de comunidade (community social surveys) seguiu o que se fazia em Chicago,
pois a situação urbana era muito parecida. Posteriormente esta tendência será
desenvolvida por Paul Lazarsfeld (1901-1976) sociólogo alemão, que imigrou para os
EUA e que desenvolveu metodologias quantitativas utilizando todo instrumental
estatístico para analisar o comportamento dos habitantes dos EUA, desde os meios de
comunicação de massa, as escolhas eleitorais atitudes políticas e padrões de consumo.
Preocupação teórica
Interacionismo
A sociologia crítica nos EUA tem em Charles Wright Mills (1916-1962) o seu
representante mais expressivo que teve muita presença no Brasil. Tendo a influência de
Karl Marx e de Max Weber, procurou conciliar o conceito de classe social com o de
status visando esclarecer processos e mecanismos dos conflitos e da mudança sociais.
Através de suas pesquisas procurou esclarecer a complexidade de estruturas de poder,
particularmente das elites (em lugar de classes dominantes) e de seu papel na mudança
social, fugindo da idéia de revolução como única via para a transformação social.
Mesmo assim ele se tornou um autor maldito na sociologia dos EUA porque resolveu
atacar de frente todo o conjunto da sociologia de seu país quando em seu livro
Imaginação sociológica fez críticas á grande teoria de Parsons, aos empiricistas da
escola de Chicago, ao pensamento burocratizado no interior das universidades.
Wright Mils sempre fez uma apaixonada defesa da ciência social inseparável da
vida pessoal do cientista. Propõe que a intuição, a imaginação, o comprometimento com
o tempo que se vive eram fundamentais para compreender cientificamente o mundo
social dos homens. Procurou incitar os sociólogos de seu tempo e também seus alunos a
assumirem responsabilidade social como agentes ativos na sociedade, desenvolvendo
assim a sua capacidade de criticar a sociedade em que viviam.
Suas pesquisas mais importantes podem ser conhecidas nos livros nos livros A
Elite do poder, e A nova classe média. Outros sociólogos que buscaram uma
postura crítica, continuadores ou não de Wright Mills, são Irving L. Horowits
e Martin Nikolaus e André Gunder Frank, Alvin Gouldner (1920-1980)
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Resumindo, pode-se dizer que as grandes três vertentes — a marxista ou histórico-
estrutural, a durkheimiana ou funcionalista e a weberiana ou compreensiva, além da
forte influência teórica e empiricista norte-americana, inspiraram outros tantos
pensadores que, refletindo sobre a realidade em que vivem mesclando ou não
contribuições de diferentes linhas teóricas, criando inclusive uma série de conceitos
novos, demonstraram as possibilidades e a diversidade do pensamento sociológico e
fizeram a sociologia avançar muito no processo de compreensão da realidade
contemporânea.
Se até a década de 1970 podíamos falar em uma sociologia por países após esta
década tendo em vista um processo significativo de circulação de informações através
dos mais variados meios de comunicação se pode dizer que os principais cientistas
sociais se tornaram globalizados como também a literatura sociológica passou a ser
parte deste universo.
As questões sociais que até então podiam estar mais localizadas em países ou em
blocos de países, a partir de então elas se tornaram mundializadas também, fazendo com
que houvesse uma preocupação também com estes novos fenômenos. Vários pensadores
passaram a refletir sobre temas chamados de pós-modernos, hiper-modernos ou
simplesmente contemporâneos que afetam um país, uma região ou a totalidade deles.
Neste sentido se pode dizer que hoje há uma sociologia mundial com variações
dependendo do que se está pesquisando formando um conjunto de pensadores que se
propõem a pensar a sociedade dos indivíduos. Entre eles podemos citar alguns
sociólogos, além dos que já foram citados anteriormente:
5. A Sociologia no Brasil