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Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 10, 1, jan-jun 2010, 37-51.

http://submission-pepsic.scielo.br/index.php/rpot/index Uma publicação da Associação Brasileira de


ISSN 1984-6657 Psicologia Organizacional e do Trabalho

Artigo

Construção e Validação de Escala de Impacto em


Profundidade: o Caso do Empretec
Silvana Alvim1
Elisabeth Loiola2

1. Programa de Pós-Graduação em Psicologia - UFBA. Rod. Admar Gonzaga, 1407/202 - Itacorubi, Florianópolis (SC), CEP 88034-001 .
silvana.alvim@gmail.com. lattes http://lattes.cnpq.br/6985529482413633.

2. Núcleo de Pós-Graduação da EAUFBA e Programa de Pós-Graduação em Psicologia - UFBA. beloi@ufba.br.


lattes http://lattes.cnpq.br/9281554339654244.

Resumo
O objetivo deste artigo foi desenvolver e validar instrumento de avaliação de impacto em profundidade de treinamen-
to não-corporativo voltado para o desenvolvimento de competências empreendedoras. A escala, denominada Escala de
Impacto em Profundidade do Empretec (EIPE), foi elaborada de forma customizada a partir de levantamento explo-
ratório do material didático e posterior definição dos objetivos de desempenho em termos de CHAs (competências,
habilidades e atitudes), cuja aquisição se esperava dos aprendizes do Empretec. O instrumento foi aplicado presencial-
mente a uma amostra de 752 participantes. As respostas foram submetidas a análises exploratórias dos componentes
principais e análise fatorial. Os resultados apresentaram índices psicométricos satisfatórios com cargas fatoriais que
oscilaram entre - 0,64 e 0,83. Foram encontrados dois tipos de estruturas igualmente confiáveis e válidas para esse
instrumento: uma escala geral e uma tridimensional. A escala geral, originalmente com 24 itens, ficou com 22 itens e
apresenta alto índice de confiabilidade (α = 0,93). Quanto aos fatores da estrutura tridimensional, foram denominados:
Realização e Poder (14 itens, α = 0,91); Planejamento (5 itens, α = 0,85) e Pró-Atividade (3 itens, α = 0,80).

Palavras-chave: impacto em profundidade, construção de escala, validação de escala, treinamento não-corporativo.

Abstract
Construction and Validation of an Impact in Depth Scale: The Case of Empretec

The goal of this paper was to develop and validate an evaluation instrument for impact in depth of non-corporate train-
ing focused on the development of entrepreneurial skills. The scale, called Scale of Impact in Depth of Empretec Training
(SIDE), was custom-prepared from an exploratory analysis of the teaching material and further definition of the per-
formance goals in terms of the skills, abilities, and attitudes that Empretec learners were expected to acquire. The
instrument was administered in person with a sample of 752 participants. The answers were submitted to exploratory
analysis by principal components and factor analysis. The results showed satisfactory psychometrics with factor loa-
dings ranging from 0.64 to 0.83. Two types of structures, equally reliable and valid for this instrument, were found: a
general scale and a three-dimensional one. The general scale, originally 24 items, retained 22 items, and results in high
reliability (α = 0.93). As for the three-dimensional structure, the factors were as follows: Performance and Power (14
items, α = 0.91); Planning (5 items, α = 0.85); and Pro-activity (3 items, α = 0.80).

Keywords: impact in depth, construction of scale, validation of scale, non-corporate training.

Alvim & Loiola. Validação de Escala de Impacto

Recebido em: 02.03.2010


Aprovado em: 27.05.2010
Publicado em: 17.09.2010
38 Alvim & Loiola

ráticas de Treinamento, Desenvolvimento O Entrepreneur Training Workshop (ETW),

P e Educação (TD&E) vêm ocupando


posição estratégica no mundo do traba-
lho. Abbad (1999) destaca a necessidade de os
conhecido no Brasil como "Treinamento ou
Seminário Empretec", objetiva, em linhas gerais,
desenvolver 10 competências individuais rela-
treinamentos tornarem-se rapidamente instru- cionadas ao sucesso empreendedor: busca de
mentos eficazes para formação de perfil profis- oportunidade e iniciativa, persistência, correr riscos
sional que corresponda às exigências impostas calculados, comprometimento, exigência de quali-
por transformações vivenciadas por organizações dade e eficiência, planejamento e monitoramento
e pelo mercado de trabalho. Porém, como assi- sistemático, busca de informações e estabeleci-
nala a autora, para que tal eficácia seja atingida, é mento de metas, persuasão e rede de contatos,
necessário um esforço conjunto e bem articulado independência e autoconfiança (McClelland, 1972,
de pesquisadores e de outros profissionais da 1982; Colley, 1990). É importante destacar que,
área de TD&E para desenvolver novas tecnologias embora tenham sido feitas revisões e reestrutu-
de avaliação de treinamento e novos conheci- rações no desenho do treinamento ao longo dos
mentos a respeito das variáveis explicativas da seus 18 anos de aplicação, as 10 competências ini-
eficácia dos sistemas instrucionais. ciais sofreram poucas alterações. Todavia vale
Questões ainda não devidamente equa- enfatizar uma mudança fundamental: a tentativa
cionadas, relacionadas à construção de medidas e de reforçar a atitude voltada para a atribuição da
delineamentos das pesquisas em avaliação de responsabilidade pelo sucesso ou fracasso pessoal
treinamento, parecem ser algumas das principais também conhecida como "lócus de controle"
fontes de explicação para a relativamente baixa (Rotter, 1971) por meio da inclusão de conteúdo
taxa de difusão de práticas de avaliação de TD&E. teórico e atividades transversais focadas em auto-
A complexidade em captar o fenômeno em sua responsabilização ao longo de todo o treinamento.
totalidade, a ausência de cultura propícia a esse Desde que o Empretec foi implantado no
tipo de esforço e falta de recursos financeiros para País até 20071, cerca de cem mil pessoas já tin-
esse fim também justificam a negligência com ham sido treinadas e, além das avaliações de
processos avaliativos. Conforme assinala Zerbini reação obtidas ao final do treinamento, sobres-
(2007), importantes segmentos da sociedade saem três: a primeira, realizada por Cooley
como as instituições e organizações, que ofertam, (1990), concentrou-se na avaliação de impacto
de forma aberta ou fechada, programas de qualifi- após dois anos de treinamento; a segunda, de
cação e formação, estão à espera de avaliações de Lopes (1999), realizada como parte de sua disser-
efetividade. Tratando-se especificamente de tação de mestrado em psicologia na Universidade
treinamentos não-corporativos voltados para o de São Paulo (USP), focou os efeitos do treina-
empreendedorismo, como o Empretec (desen- mento nos níveis comportamental e de desem-
volvido originalmente pela Agência Internacional penho econômico dos negócios; e, em 2002, uma
para o Desenvolvimento dos Estados Unidos - pesquisa encomendada pelo SEBRAE Nacional ao
USAID e ofertado no Brasil pelo Serviço de Apoio Instituto Brasileiro de Produtividade e Qualidade
às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE), entre as - Paraná (IBPQ-PR) avaliou o impacto do progra-
dificuldades encontradas, ressalta-se a carência de ma no Brasil. Tais pesquisas não foram conduzi-
modelos e de escalas validadas para medir sua efe- das com base em escalas validadas.
tividade, o que certamente repercute negativa- Em recente artigo apresentado na
mente sobre a aprendizagem, o treinamento e a "Entrepreneurship Research Conference Babson-
educação empreendedora e, consequentemente, Kauffman", comparando os resultados de Lopes
sobre o campo por inteiro (Henry, Hill & Leitch, (1999) e de IBQP-PR (2002), Lopes (2004) afirma
2005; Fiet, 2000). que, apesar do uso de diferentes metodologias,

1 Dados obtidos junto ao Sebrae/NA.

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ambas as pesquisas sugeriram que o Empretec do-se dos modelos teóricos e achados de pesquisa
impacta positivamente nos níveis pessoal e da área de TD&E, neste artigo, descrevem-se os
empresarial dos indivíduos egressos. Contudo, processos de desenvolvimento e de validação de
faz algumas ressalvas. Entre elas, uma diz instrumento de medida de avaliação de impacto
respeito à necessidade de novos estudos sobre em profundidade de treinamento não-corporativo
treinabilidade das competências. para empreendedores, o Empretec.
Além das avaliações do Empretec, foram A seguir apresenta-se uma breve análise de
apenas três as pesquisas na área de avaliação de conceitos relacionados à avaliação de impacto e
treinamento, no contexto do empreendedoris- suas dimensões e, logo após, descrevem-se os
mo, encontradas na literatura de TD&E brasileira procedimentos de construção e validação da
revisada, e todas ressaltam a importância dos escala de impacto em profundidade para o treina-
fatores do macro ambiente, do ambiente interno mento avaliado.
e do nível de suporte oferecido pós-treinamento
para que o indivíduo possa aplicar as novas com- Avaliação de Impacto do
petências no trabalho (Carvalho, 2003; Zerbini, Treinamento no Trabalho
2003, 2007). Embora Carvalho (2003) e Zerbini Avaliar treinamento é o ato de julgar se ele valeu
(2003 e 2007) tenham encontrado resultados de ou não a pena em termos de algum critério de
avaliação em profundidade, o curso-alvo avalia- valor, à luz da informação disponível (Hamblin,
do pelas referidas autoras, "Iniciando um 1978). Trata-se de processo sistemático que visa à
Pequeno Grande Negócio - IPGN", também ofer- coleta e à análise de informações sobre treina-
tado pelo SEBRAE, possui objetivos e estratégias mento específico, as quais podem ser úteis para
de aprendizagem totalmente diferentes do planejar e orientar decisões, assim como para
Empretec, o que impossibilita a replicação da mensurar a relevância, efetividade e impacto de
escala validada. Já na literatura de empreende- vários de seus componentes (Raab, Swanson,
dorismo, mesmo tendo crescido o número de Wentling, 1991; Goldstein, 1991). No Brasil,
artigos que consideram a estrutura de oportu- autores como Abbad (1999) e Borges-Andrade
nidades e a influência do contexto como funda- (1982, 1996, 2006) tratam a avaliação de treina-
mentais para o desempenho empreendedor, mento como um subsistema de um sistema
ainda são escassos os esforços de pesquisa maior, o sistema instrucional, que envolve o le-
empreendidos para a investigação dessas impor- vantamento de necessidades, planejamento e
tantes variáveis nas avaliações de treinamento execução, e avaliação (Figura 1). Como se
(Busenitz, 2003). depreende da Figura 1, a avaliação fornece ele-
Dadas as lacunas relatadas até aqui e valen- mentos que retroalimentam todo o sistema, indi-

Figura 1. Modelo Sistêmico de Treinamento


Adaptado de Borges-Andrade (1996)

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cando os pontos positivos que devem per- artigo, definições do conceito complexo
manecer nos treinamentos futuros, bem como "Impacto do treinamento no trabalho", diferen-
sinalizando aspectos a serem modificados ou reti- ciando suas duas dimensões em amplitude e em
rados do planejamento. profundidade, são estratégicas.
Philips (1996) elencou as seguintes A noção de impacto do treinamento está
funções da avaliação de treinamento: determi- associada ao efeito do treinamento no âmbito
nar se a realização da ação está ou não de acor- do indivíduo e é muito próxima da ideia de
do com seus objetivos; identificar as forças e transferência apresentada por Hamblin (1978),
fraquezas de uma ação de recursos humanos; que se refere às consequências esperadas de um
determinar a razão custo/benefício de uma treinamento incluindo a aplicação dos CHAs
ação; decidir quem deve participar de futuras (competências, habilidades e atitudes) no tra-
ações; identificar os participantes que se benefi- balho. Já o conceito "impacto do treinamento
ciam mais ou menos de uma ação; reunir dados em situações de trabalho" é correlato ao de
para suportar futuras ofertas de ações educa- "Impacto do treinamento no trabalho", tendo
cionais; determinar que ação se mostra mais sido esse último aqui cunhado com vistas a
apropriada para atender a uma demanda especí- englobar as mais diversas situações de trabalho
fica. possíveis para egressos de treinamentos não-
Diante do exposto até aqui, percebe-se o corporativos ou extra-organizacionais. No caso
papel essencial da avaliação no sistema instru- do presente estudo, é importante ressaltar que
cional, já que, nessa etapa, geram-se infor- os resultados esperados voltam-se para a função
mações que retroalimentam e contribuem para empreendedora, no lugar do indivíduo
seu aperfeiçoamento constante, identificando- empreendedor, função essa que pode ser exerci-
se aspectos negativos e positivos. No entanto, a da em diferentes ambientes de trabalho junta-
revisão de bibliografia realizada aponta desafios mente com uma equipe ou individualmente. O
a serem vencidos para que as avaliações de desempenho desse empreendedor, portanto,
treinamento possam cumprir seu papel, uma vez está também associado a equipes, processos,
que há muitas sobreposições e até mesmo atividades e contextos (macro e micro), além de
imprecisões conceituais no subsistema "avali- expressar suas competências empreendedoras.
ação". No que tange a avaliações de treinamen- Sobre as fronteiras entre "impacto do
tos na área de empreendedorismo, os desafios treinamento no trabalho", "transferência de
tendem a ser ainda maiores, tendo em vista a aprendizagem" e "transferência de treinamen-
grande fragmentação conceitual e persistentes to", elas ainda não foram claramente estabeleci-
indagações no campo, como, por exemplo, das. Abbad, Pilati e Pantoja (2003) indicam que
sobre os resultados esperados de um treinamen- os três são conceitos similares, mas não podem
to para desenvolvimento de empreendedores, ser adotados como sinônimos. Segundo os
ou a que esferas das atividades humanas se apli- autores, a expressão mais utilizada em pesquisas
ca a função empreendedora, além da prática de nacionais é impacto do treinamento no traba-
negócios (Katz, 2007; Filion, 2001). Alguns des- lho, que compreende noções de transferência e
ses desafios são enfocados a seguir. desempenho no trabalho, enquanto em
Vasta literatura discute e analisa de pesquisas estrangeiras a expressão transferência
maneira aprofundada distinções entre dife- de aprendizagem é mais utilizada. Acrescentam
rentes tipos de avaliações (de impacto, de neces- que o termo "transferência de aprendizagem"
sidade, de efetividade), assim como particulari- tem sido muito utilizado para contextos infor-
dades dos conceitos "transferência de apren- mais de aprendizagem, enquanto o termo
dizagem", "transferência de treinamento" e "transferência de treinamento" é o mais ade-
"impacto de treinamento em profundidade e quado para ambientes formais ou induzidos de
amplitude", dentre outros. Para efeito deste aprendizagem. Para Zerbini (2007), o termo

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"transferência de treinamento" seria o mais neste artigo, não é possível observar os efeitos
apropriado para investigar treinamentos em da ação instrucional no comportamento subse-
ambientes abertos de trabalho, ou seja, em quente do indivíduo em seu cargo ou função em
treinamentos não-corporativos, enquanto que uma determinada organização. Conforme já
"impacto de treinamento no trabalho" se aplica assinalado, são diversos os ambientes de traba-
a treinamentos em ambientes corporativos, lho em que os egressos do Empretec podem
como foi proposto por Hamblin (1978). aplicar os CHAs aprendidos (e.g. criação de
Em caso de treinamento voltado ao desen- empresa, expansão de empresa existente, aper-
volvimento de competências empreendedoras, feiçoamento de uma função numa organização
como o Empretec, outras questões tornam-se pública ou privada na qual é funcionário, função
relevantes nesse debate conceitual, como a no terceiro setor, autônomo). Portanto,
grande variedade de ambientes e de possibili- entende-se que para treinamentos não-corpo-
dades de aplicação do aprendido. O ato de rativos voltados a empreendedores, como o
empreender é dinâmico, contingencial e com- caso do treinamento Empretec, a expressão
plexo. A função empreendedora, por sua vez, é "situações de trabalho" é a que melhor traduz
descontínua no tempo e, por isso, o indivíduo as possibilidades de aplicação do aprendido,
pode desempenhá-la ao lado de outras funções por ser suficientemente ampla para abrigar a
e competências (Schumpeter, 2002). Além disso, maioria das possibilidades vivenciadas pelos
o resultado da aprendizagem de competências seus egressos.
empreendedoras pode ser revelado no alcance Segundo Pilati e Abbad (2005), caso o
do autossustento, na habilidade de o indivíduo objetivo do profissional de treinamento seja
inserir-se no mercado de trabalho assalariado, avaliar os efeitos diretos do treinamento, obti-
ocupar cargos ou funções mais complexas em dos por meio da observação dos objetivos
organizações, dentre outras. Daí a necessidade instrucionais específicos, então impacto em pro-
de adaptação de conceitos da área de TD&E, fundidade é a medida mais adequada. Por outro
cuja produção concentra-se principalmente em lado, se o que se deseja medir são os efeitos da
ambientes corporativos, para ambientes não- ação instrucional no desempenho global, ati-
corporativos. tudes e motivação do indivíduo, a medida de
Assim, neste trabalho, define-se "Impacto impacto do treinamento em profundidade não é
do treinamento no trabalho" como a influência suficiente. O indivíduo que aplica os CHAs no
que o evento instrucional exerce sobre o desem- trabalho não apresenta, necessariamente,
penho subsequente do participante, que reflete, mudanças globais em seu comportamento.
por sua vez, os CHAs adquiridos ou reforçados Portanto, nesse caso, a medida apropriada é de
ao longo do evento instrucional. Pode ser medi- impacto em amplitude.
do em dois níveis de complexidade: em profun- Conforme Zerbini (2007), há muitos
didade e em amplitude, em conformidade com autores que trabalharam com medidas de
os objetivos da avaliação. impacto em amplitude. Por outro lado, há um
Constatou-se, não só em estudos de número bem menor de pesquisadores que estu-
Hamblin (1978), mas em muitas pesquisas em daram impacto em profundidade. Esse fato pode
TD&E (Freitas, Borges-Andrade, Abbad & Pilati, ser explicado em razão das inúmeras dificuldades
2006), a prevalência do uso do termo impacto para realizar avaliações de impacto em profundi-
do treinamento no trabalho para a avaliação de dade, sobretudo por ser avaliação customizada, o
eventos educacionais em ambientes corpora- que implica elevado custo financeiro e de tempo,
tivos onde o público-alvo é formado por fun- exigindo profissional qualificado para desenvolvi-
cionários, gerentes ou supervisores de uma mento de instrumentos de medida com base no
mesma organização e exerce cargos ou funções levantamento exploratório e análise do material
específicas. No caso do treinamento focado didático do treinamento. Além disso, quando o

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número de treinandos é pequeno, torna-se Treinamento-Alvo


inviável a verificação da precisão e validade psi-
O Empretec é um treinamento voltado, em sua
cométrica do instrumento. Por outro lado, a origem, a empresários e futuros empreende-
avaliação de impacto em amplitude é mais facil-dores, cuja execução no Brasil, inicialmente
mente viabilizada, por se amparar em objetivos coordenada pelos bancos Badesc e Badesul,
genéricos. Em função disso, é possível aplicar a
desde 1993, está a cargo, atualmente, do
mesma escala, com pequenas adaptações, para SEBRAE em parceria com o Programa das Nações
avaliar diferentes treinamentos. Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com a
A revisão de bibliografia realizada até aqui
Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do
especifica conceitos-chave a serem utilizados Ministério das Relações Exteriores (MRE)
assim como evidencia a necessidade de realização
(SEBRAE/IBPQ-PR, 2002).
de mais pesquisas que avaliem os efeitos diretos Em aplicação no Brasil há 18 anos, o
de ações educacionais sobre os desempenhos Empretec visa a estimular e desenvolver carac-
específicos relacionados aos CHAs desenvolvidosterísticas individuais do empreendedor, de
por meio do Empretec, propósito maior deste tra-
forma a propiciar sua empregabilidade e per-
balho. Importante ressaltar que os resultados manência no mercado, por meio de metodolo-
aqui apresentados fazem parte de uma pesquisa gia de aprendizagem experiencial. Visa a
mais ampla, na qual foram aplicadas também favorecer a aquisição ou o fortalecimento de
escala de impacto em amplitude, além de outras.10 competências empreendedoras, identifi-
Portanto, alguns critérios foram utilizados para
cadas a partir de uma extensa pesquisa, cujos
adoção do termo "Escala de Impacto em resultados foram apresentados por Cooley
Profundidade", em lugar de "Escala de (1990): busca de oportunidade e iniciativa;
Transferência de Treinamento". Prioritariamente,
persistência; correr riscos calculados; compro-
foram considerados critérios relativos às decisões
metimento; exigência de qualidade e eficiên-
estratégicas, para facilitar o entendimento doscia; planejamento e monitoramento sistemáti-
questionários pelos pesquisados no momento da co; busca de informações e estabelecimento
coleta dos dados. Somado a isso, entende-se quede metas; persuasão e rede de contatos; inde-
a discussão conceitual entre "Escala de Impactopendência e autoconfiança.
em Profundidade" e de "Escala de Transferência Possui base cognitivo-comportamental e
de Treinamento" ainda está em processo, haven- também fortes componentes afetivos, que sem-
do muito a ser ponderado e discutido no âmbito pre emergem em avaliações de reação aplicadas
científico, especialmente no que tange a treina-
pelo próprio SEBRAE no último dia de cada
mentos não-coorporativos. Adicionalmente, o treinamento. É ministrado por instrutores cre-
termo mais usado no Brasil é, como já foi registra-
denciados pelo SEBRAE em parceria com a ONU,
do, "Escala de Impacto em Profundidade". Assim em regime intensivo e carga horária diária de
a maior difusão da denominação "Escala de oito horas-aula presenciais, totalizando 60 horas
Impacto em Profundidade" foi outro fator que de treinamento.
pesou na escolha realizada. Por fim, registre-se O formato atual do Empretec compreende
que essa denominação põe mais em relevo a 22 módulos, fundamentalmente focados no
natureza customizada desse tipo de escala. ensino das 10 competências empreendedoras
acima mencionadas, as quais foram agrupadas
MÉTODO em três bases motivacionais: realização (busca
Nesta seção, são apresentados uma breve de oportunidade e iniciativa; persistência; correr
descrição do treinamento-alvo e os procedimen- riscos calculados; comprometimento; exigência
tos metodológicos adotados para o desenvolvi- de qualidade e eficiência); planejamento (plane-
mento e testes de validação da Escala de jamento e monitoramento sistemático, busca de
Impacto em Profundidade do Empretec (EIPE). informações e estabelecimento de metas); e

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poder (persuasão e rede de contatos, inde- Na segunda etapa, com o intuito de veri-
pendência e autoconfiança). ficar a clareza, objetividade e representatividade
Para participar, o candidato inicialmente dos objetivos instrucionais formulados na etapa
preenche um questionário com seus dados 1, os 37 objetivos instrucionais e as orientações
pessoais e proposta empresarial e, em segui- para suas avaliações foram submetidos, por
da, submete-se à entrevista individual. O meio eletrônico, à avaliação de nove instrutores-
objetivo principal da entrevista é traçar o per- líderes do treinamento, residentes em diferentes
fil empreendedor do candidato com base nas regiões do Brasil. Após análises das respostas
10 competências empreendedoras. Os partic- dos instrutores, mais junções, eliminações e
ipantes recebem o seu perfil no primeiro dia redefinições foram realizadas, obtendo-se 15
do treinamento, obtendo, com isso, um objetivos instrucionais finais.
repertório de entrada em relação a seu perfil O próximo passo foi verificar se os objetivos
empreendedor. instrucionais, de fato, representavam CHAs cujo
desenvolvimento ou consolidação se objetivava
Desenvolvimento e Validação de Juízes e para os aprendizes. Assim, foi realizado um mapea-
Semântica do Instrumento mento minucioso de cada objetivo instrucional
O desenvolvimento do instrumento de medida descrito em termos de competências (CHAs),
foi feito em quatro etapas. Na primeira etapa, decompondo-os em suas três dimensões constitu-
realizou-se análise documental do Manual do intes (conhecimentos, habilidades e atitudes), con-
Empretec (2002), visando à sistematização das forme o exemplo constante do Quadro 1. Em
estratégias de ensino e formulação dos objetivos seguida, após eliminação dos objetivos considera-
instrucionais. Tomando-se como base os dos intermediários e acréscimo dos objetivos rele-
critérios para descrição de objetivos instru- vantes, foram extraídos os itens do instrumento.
cionais ou de desempenho estabelecidos por Na quarta etapa, o instrumento com 23
Mager (1979), segundo o qual cada objetivo itens foi submetido à avaliação de especialistas
deve conter os componentes de desempenho, acadêmicos para avaliação semântica.
condição e critério, 103 objetivos foram inicial- Participaram da oficina de três horas profes-
mente elaborados. Com o suporte de um instru- sores, estudantes de graduação e pós-gradu-
tor sênior, foram eliminadas duplicidades e ação em Psicologia e Administração, que anali-
irrelevâncias, chegando-se a 37 objetivos instru- saram e criticaram o instrumento quanto à
cionais. clareza, objetividade, precisão e adequação dos

Quadro 1. Exemplo de decomposição de um objetivo instrucional nas três dimensões (CHAs)

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itens e instruções. Os ajustes sugeridos pelo (zero), não aplico, e 10 (dez), aplico totalmente,
referido grupo foram, em sua maioria, com estrutura originalmente unifatorial. O
aproveitados, o que resultou na versão final do quadro 2 apresenta alguns itens que compõem
instrumento com 24 itens, vinculados a uma o instrumento proposto, assim como a escala
escala Likert de 11 pontos, com variação entre 0 utilizada.
Quadro 2. Exemplo de itens do instrumento proposto

Participantes e Procedimentos de diferentes regiões do Brasil no período de outubro


Coleta de Dados de 2007 a março de 2008. A amostra foi definida
Os questionários foram remetidos para os instru- por acessibilidade, condicionada ao acesso obtido
tores pelo correio juntamente com uma cor- através dos instrutores e do SEBRAE para apli-
respondência com as orientações de aplicação. cação dos questionários no período proposto. A
As turmas foram escolhidas com base na agenda maioria dos respondentes é do sexo masculino
de treinamentos dos Estados e na disponibili- (60,8%), com faixa etária entre 21 e 30 anos
dade do instrutor para aplicação dos ques- (35,5%), reside na região Sudeste (45,3%), possui
tionários. Após serem aplicados, os questionários 3o grau completo (27,4%) e são empresários
foram devolvidos pelos instrutores ou pela agên- (43,0%). Nessa amostra, a maioria participou do
cia Sebrae (através do correio), e os dados foram Empretec no mês de novembro de 2007 (37,9%).
inseridos num banco de dados do Statistical
Package for the Social Science (SPSS) versão 13.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Compuseram o estudo 752 participantes do Antes do início das análises de validação, os
treinamento Empretec de turmas oferecidas em dados foram submetidos a análises descritivas e

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exploratórias, com a finalidade de obter fre- um, e o critério de Harman, no qual cada com-
quências absolutas e relativas das respostas, ponente deveria explicar no mínimo 3% da va-
verificar a exatidão da entrada dos dados, a dis- riância total. A análise do scree plot apresentou
tribuição dos dados omissos, a identificação de a existência de quatro componentes, como
outliers, e a distribuição das variáveis, assim pode ser observado na Figura 2.
como os pressupostos para a realização das Pela análise paralela de Horn, entretanto,
análises posteriores.
A partir das análises explo-
ratórias do banco de dados comple-
to, as respostas dos 752 participantes
aos 24 itens do questionário apre-
sentaram 1 caso extremo univariado
e 72 casos extremos multivariados,
os quais foram retirados do arquivo
de dados, que passou a contar com
679 casos válidos. Foram identifica-
Figura 2. Scree Plot da Escala de Impacto do Treinamento em
dos valores omissos entre 0,1 a 0,4%, situações de trabalho em profundidade
não sendo necessário estimar valo-
res para substituí-los, conforme sugerido por observaram-se apenas três fatores para essa
Hair, Babin, Money, e Samouel (2005). escala. O Quadro 3 apresenta os valores
Para realizar a análise da matriz de cova- próprios, empíricos e aleatórios para cada com-
riância em termos de fatorabilidade, foram ponente, de acordo com a análise paralela de
analisados o tamanho das correlações e a ade- Horn.
quação da amostra. A matriz apresentou um Como apresentado no Quadro 3, os três
valor de correlação inferior a 0,30, enquanto primeiros componentes da estrutura apresen-
todos os outros valores encontrados na matriz tam valor próprio empírico maior que o forneci-
apresentaram correlações superiores a 0,30, do pela análise paralela, indicando uma estrutu-
indicando que a matriz é fatorizável. Quanto ao ra composta por três fatores. Na análise dos va-
teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), obteve-se lores próprios e variância explicada, oito com-
um valor de 0,93, considerado por Pasquali ponentes foram indicados; na análise do scree
(2005) um excelente índice de adequação da plot, verificou-se maior ênfase para uma estru-
amostra. tura com quatro componentes; e, na análise
A análise dos componentes principais, paralela de Horn, obtiveram-se três fatores.
com tratamento pairwise para os casos omissos, Diante disso, foram realizadas análises para a
sugere uma estrutura empírica com oito com- extração final dos fatores com quatro e três
ponentes, de acordo com o critério dos eigen- fatores para comparação.
values (valores próprios) maiores ou iguais a As análises foram realizadas por meio da
Quadro 3. Valores próprios empíricos e aleatórios dos oito componentes de Impacto do Treinamento em
Situações de Trabalho (em profundidade)

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46 Alvim & Loiola

PAF, com método de rotação oblíqua e trata- conjuntos de Realização e Poder do Empretec,
mento pairwise para casos omissos. Na PAF com com exceção dos dois itens referentes a auto-
quatro fatores, dois itens não permaneceram na conhecimento (EIP 15 - Identifico com clareza os
escala (EPI 4 - Reconheço fontes de oportu- pontos fortes do meu comportamento
nidades e atuo sobre elas para abrir um novo empreendedor - e EIP16 - Identifico com clareza
negócio ou oferecer um novo serviço - e EPI 24 os pontos fracos do meu comportamento
- Atribuo a mim mesmo(a) as causas dos meus empreendedor), que são conteúdos transver-
sucessos e fracassos); três itens comparti- sais. Esse fator apresentou alto índice de con-
lhavam variância em dois fatores e apenas dois sistência interna (α = 0,91) e itens com cargas
itens (EIP 15 - Identifico com clareza os pontos fatoriais que variaram entre 0,31 e 0,79.
fortes do meu comportamento empreendedor - O fator 2, Planejamento, composto por
e EIP16 - Identifico com clareza os pontos fracos cinco itens, coleta informações sobre autoavali-
do meu comportamento empreendedor) agru- ações do impacto do treinamento nos desem-
param-se, formando o quarto fator. Já na PAF penhos referentes a estabelecimento de metas
com três fatores, dois itens obtiveram cargas e planejamento. Os CHAs avaliados por esse
abaixo do critério de 0,30 (EIP 22 - Realizo com- fator são ensinados nos módulo 3 e 14
pras, vendas, investimentos ou outras (Estabelecimento de Metas e Planejamento e
transações financeiras levando em conta o meu Monitoramento Sistemáticos), respectiva-
planejamento financeiro - e EIP 24 - Atribuo a mente. Esse fator apresentou bom índice de
mim mesmo(a) as causas dos meus sucessos e consistência interna (α = 0,85) e itens com car-
fracassos), porém houve apenas um comparti- gas fatoriais entre 0,40 e 0,81.
lhamento de variância entre os itens, e as cargas O fator 3, denominado Pró-Atividade,
fatoriais, de uma maneira geral, apresentaram coleta informações sobre autoavaliações do
valores mais altos. impacto do treinamento no que se refere a
Os resultados mencionados no parágrafo análises de informações e critérios antes da
anterior indicam a possibilidade de soluções tomada de decisão. Os CHAs avaliados por esse
fator são ensinados principalmente nos módulo
para três ou quatro fatores. Assim, optou-se
6 e 8 (Correr riscos calculados e Busca de infor-
pela estrutura com três fatores, escolha reforça-
mações). O fator apresentou um índice de con-
da pelos resultados obtidos na análise paralela
sistência interna de 0,80 e itens com cargas
de Horn e também por encontrar amparo nas
fatoriais entre -0,64 e -0,73. Seus três itens
bases de aplicação do treinamento encontradas
obtiveram cargas negativas, indicando que
no Manual do Instrutor do Empretec (Manual
atuam na mesma direção.
do Instrutor, 2002).
Para analisar a estabilidade, verificou-se o
O Quadro 4 apresenta a estrutura empíri-
quanto os itens eram bons representantes do
ca da escala, as cargas fatoriais, as comunali-
fator pelo tamanho das cargas fatoriais.
dades (h2) dos itens, as médias e desvios
Tomando como referência o ponto de corte de
padrão, os índices de consistência interna e os
valores próprios e percentuais de variância 0,40, apenas dois itens obtiveram cargas inferi-
explicada de cada fator. ores: EPI 4 - Reconheço fontes de oportu-
O fator 1, denominado Realização e Poder, nidades e atuo sobre elas para abrir um novo
é composto por 14 itens que coletam infor- negócio ou oferecer um novo serviço - que
mações sobre autoavaliações do impacto do obteve carga fatorial de 0,36, e EPI 9 - Consulto
treinamento nas competências de iniciativa, especialistas antes de tomar uma decisão que
relacionamento interpessoal e persistência e envolva conhecimentos técnicos sobre um
autoconhecimento. Os CHAs avaliados pelos determinado assunto - com carga fatorial de
itens que compõem esse fator são ensinados 0,31. Os resultados apresentados demonstram
primordialmente nos módulos relativos aos estabilidade da estrutura empírica da escala

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Validação de Escala de Impacto 47

Quadro 4. Estrutura Empírica da Escalas de Impacto do Treinamento em Situações de Trabalho (em profundidade) - EIP

(Hair e cols., 2005). Para nomear os fatores, os (de 0,57 a 0,73), explicação de 41,37 % da var-
agrupamentos foram interpretados com apoio iância total da resposta e alpha Cronbach de
na análise do material didático. 0,93, considerado excelente de acordo com
As correlações bivariadas entre os Hair e cols. (2005). Os mesmos itens excluídos
fatores foram relativamente altas (r 1,2 = 0,53; para análise com três fatores novamente apre-
r 1,3 = -0,61; r 2,3 = 0,38), indicando a possi- sentaram cargas fatoriais abaixo de 0,30 (EPI
bilidade do agrupamento dos fatores. Como 22 - Realizo compras, vendas, investimentos e
essa indicação também faz sentido teórico, foi (ou) outras transações financeiras levando em
feita uma nova análise PAF, forçando uma conta o meu planejamento financeiro - e EPI
solução unifatorial. A estrutura empírica pare- 24 - Atribuo a mim mesmo (a) as causas dos
ceu consistente em 679 casos válidos. Os itens meus sucessos e fracassos), sendo, portanto,
apresentaram cargas fatoriais acima de 0,30 retirados da matriz final, que se configurou

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48 Alvim & Loiola

mais confiável com 22 itens. Em síntese, foram autores (MCclelland, 1982; Cooley, 1990), a va-
encontrados dois tipos de estruturas igual- riável lócus de controle necessita ser avaliada a
mente confiáveis e válidas para esse instru- partir de uma escala própria. Além disso, sua
mento: uma escala geral e uma tridimensional. exclusão parece sinalizar a necessidade de
A escala geral, denominada Impacto em mudanças na grade curricular e na proposta
Profundidade do Empretec (EIPE), original- metodológica do Empretec, tendo em vista que
mente com 24 itens, ficou com 22 itens e apre- o lócus de controle vem sendo apontado com
senta o alto índice de confiabilidade de 0,93. um dos principais fatores no desenvolvimento
de competência empreendedora, conforma
Quanto aos fatores da estrutura tridimension-
assinalado anteriormente.
al, foram denominados: Realização e Poder (14
Abordagens mais recentes (Baron &
itens, α = 0,91); Planejamento (5 itens, α =
Shane, 2007; Busenitz & Arthurs, 2007) em
0,85) e Pró-Atividade (3 itens, α = 0,80). Do
empreendedorismo retomam a discussão sobre
instrumento originalmente proposto, foram lócus de controle de uma perspectiva cogni-
excluídos os itens EPI 22 (Realizo compras, tivista mais ampla, focada em reconhecimento
vendas, investimentos e (ou) outras transações de oportunidades e tomada de decisão com
financeiras levando em conta o meu planeja- base em informações do ambiente. No entanto,
mento financeiro) e EPI 24 (Atribuo a mim a relação entre lócus de controle e empreende-
mesmo as causas dos meus sucessos e fracas- dorismo ainda não foi adequadamente explora-
sos). A escala validada corresponde à apresen- da em pesquisas na área de empreendedoris-
tada no Quadro 4. mo. Sob o ponto de vista da área de TD&E,
Além das indicações estatísticas, algumas Meneses e cols. ( 2006) apontam para a neces-
razões teóricas e práticas justificam a exclusão sidade de mais pesquisas que explorem a
desses itens. O item EIP 22 trata do planejamen- relação entre a variável lócus de controle e
to financeiro, que vem sendo muito pouco tra- impacto de treinamento, supondo que essa ca-
balhado em comparação com os demais con- racterística psicossocial, juntamente com
teúdos da grade curricular do treinamento, autoeficácia, possam ter influência importante
sobretudo nos últimos anos de aplicação do nos resultados de treinamento.
Empretec. O conteúdo de planejamento finan-
ceiro no Empretec, no Brasil, é trabalhado no CONCLUSÕES
sentido apenas de sensibilizar o participante a Este estudo procurou tomar como referência as
buscar um treinamento específico sobre tal ferramentas e o escopo teórico sobre avaliação
matéria. Portanto, já se esperava que tal item de treinamento advindos da área de TD&E para
pudesse ser eliminado da escala original. construir e validar uma escala de avaliação de
O outro item excluído (EIP 24 - Assumo impacto em profundidade do Empretec - treina-
responsabilidade pessoal pelas minhas decisões mento não-corporativo em empreendedorismo.
e ações) refere-se ao conteúdo de autorrespon- Os resultados encontrados evidenciam a per-
sabilização, um dos componentes de escalas de tinência de duas soluções válidas e confiáveis,
lócus de controle, que originalmente era traba- sendo uma unifatorial, denominada Escala de
lhado de forma transversal no Empretec e pos- Impacto em Profundidade do Empretec (EIPE), e
teriormente passou a ter conteúdos relaciona- outra composta de três fatores denominados:
dos abordados também de forma pontual. A "Realização e Poder", "Planejamento" e "Pró-
exclusão do item confirma o que já se previa: Atividade".
dada a sua importância, tanto para a previsão Por ser um instrumento específico para o
de impacto de TD&E (Meneses, Abbad, Zerbini Empretec, a Escala de Impacto em
& Lacerda, 2006) quanto como competência Profundidade do Empretec não pode ser aplica-
empreendedora essencial, segundo vários da a treinamentos com outros focos. No entan-

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Validação de Escala de Impacto 49

to, com base no que já foi destacado em ligam-se à potencialização das possibilidades de
pesquisas anteriores, já mencionadas no corpo desenvolvimento do País. A validação da escala
deste trabalho, a validação de escalas de medi- de Avaliação de Impacto do Empretec (EIPE) via-
da de impacto em profundidade é um avanço biliza a realização de avaliação mais precisa e
para a área de TD&E. A validação de um instru- com desenho de pesquisa mais consistente para
mento para mensurar impacto de treinamento identificar a efetividade do referido treinamen-
em profundidade é fato raro na área, por serem to. Seus resultados podem indicar necessidades
poucos os treinamentos oferecidos a um de ajuste tanto de seus conteúdos programáti-
número suficiente de participantes (Zerbini, cos quanto das metodologias adotadas, no sen-
2007), que permitam análises exploratórias da tido de favorecer o alcance de seus objetivos
estrutura empírica do instrumento, além do instrucionais e, consequentemente, a aquisição
tempo e recursos humanos e financeiros ou reforço das competências, desdobradas em
necessários para viabilizá-la. Ainda como já conhecimentos, habilidades e atitudes, por seus
mencionado, algumas pesquisas apresentam participantes.
instrumentos de mensuração da transferência Para prosseguir no esforço de acumular
de treinamento ou impacto em profundidade, evidências empíricas sobre a percepção dos
mas que não foram validados estatisticamente treinandos acerca dos impactos de tais treina-
por insuficiência do tamanho da amostra. mentos, sugere-se, para estudos futuros, que
Em vista disso, a validação da Escala de haja a reaplicação do instrumento validado
Impacto em Profundidade do Empretec (EIPE) é com outras amostras oriundas das turmas do
relevante na medida em que contribui para mesmo treinamento, que permanece sendo
preencher importantes lacunas da área de avali- oferecido em todo o Brasil e internacional-
ação de TD&E em geral, promovendo o avanço mente, para, assim, investigar a estabilidade
do conhecimento necessário para o desenvolvi- das soluções identificadas. Ressalta-se que essa
mento desse tipo específico de escala, eviden- escala pode ser aplicada tanto presencialmente
ciando que os objetivos instrucionais e sua como via Web, o que facilita a realização da
descrição na forma de competências - decom- pesquisa em diferentes países. Além disso,
postas em conhecimentos, habilidades e ati- também se recomenda aproveitar o roteiro de
tudes - são insumos estratégicos para a cons- procedimentos para desenvolvimento do
trução do instrumento a ser testado e validado. instrumento como modelo para a concepção
Tal procedimento mostrou-se muito adequado de novas escalas de impacto em profundidade,
ao objetivo de desenvolvimento da escala, cuja seja para treinamentos corporativos ou aber-
versão original só teve dois itens descartados, tos.
em um conjunto de 24, após a aplicação das
técnicas de validação. REFERÊNCIAS
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empreendedorismo, o desenvolvimento e vali- do impacto do treinamento no trabalho -
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