As categorias de pessoa,
espaço e tempo. São Paulo: Ática, 1996. pp.32-33.
1
É nessa competência que incluímos as chamadas competência cultural e ideológica, ou seja,
a competência enciclopédica que é preciso ter para, por exemplo, decifrar no Brasil a frase “X
descolloriu”. Do nosso ponto de vista, todo conhecimento é linguístico e apresenta-se para nós
discursivamente (linguístico aqui se refere a todas as linguagens e não somente à linguagem
verbal). Não existe nenhum conhecimento que não esteja materializado numa linguagem, uma
vez que o pensamento conceitual é linguístico (Bakhtin, 1979, p.34-7; Schaff, 1974, p.160-1;
Vygotsky, 1979, p.61 e 64-5).
2
Nossa posição sobre os valores pragmáticos é que eles devem ser introduzidos na descrição
como traços semânticos a que se atribui um estatuto específico. Assim, enquanto os valores
pragmáticos se opõem aos semânticos em sentido estrito, constituem um subconjunto dos
traços semânticos em sentido amplo. Nossa posição segue o último Ducrot (“recuso-me a
distinguir o nível semântico e o nível pragmático”, 1977b, p.181), que altera a posição
manifestada em 1972 (“é preciso, pois, que o valor ilocutório da expressão [...] não possa
derivar de uma ‘significação’ do enunciado”, p.80). A solução descritiva aqui adotada é que o
conteúdo global do enunciado contém um “conteúdo proposicional” e um valor ilocutório, que
se
g) competência situacional, que diz respeito ao conhecimento referente à
situação em que se dá a comunicação e ao parceiro do ato
comunicativo3.
especifica com um marcador apropriado. Essa solução não é nova. Já Bally (1932) dizia que
em toda frase se distinguem o dictum e o modus. Searle (1972) faz a diferença entre
“significação de uma frase” e “sua força ilocutória”, que diz respeito aos valores ilocutórios que
se constroem com os enunciados.
3
É preciso insistir no fato de que esse conhecimento se dá por simulacros que se vão
constituindo ao longo do ato comunicativo e que, assim, interferem na constituição dos
enunciados (Landowski, 1989, p.218-29). Entram aqui as imagens que E 1 constrói de E2 e a
que ele imagina que E2 faz dele; a que E2 faz de E1 e a que ele imagina que E1 faz dele (cf.
Pêcheux, 1969, p.19-20).