1) A autora moveu ação indenizatória contra laboratório por erro em exame de sangue que apontou alteração elevada de beta HCG, indicando gravidez quando ela não estava grávida.
2) O perito concluiu que não houve ato ilícito por parte do laboratório.
3) O juiz julgou improcedente o pedido por falta de prova de dano, já que o resultado do exame poderia ser impreciso, caracterizando um dano hipotético.
1) A autora moveu ação indenizatória contra laboratório por erro em exame de sangue que apontou alteração elevada de beta HCG, indicando gravidez quando ela não estava grávida.
2) O perito concluiu que não houve ato ilícito por parte do laboratório.
3) O juiz julgou improcedente o pedido por falta de prova de dano, já que o resultado do exame poderia ser impreciso, caracterizando um dano hipotético.
1) A autora moveu ação indenizatória contra laboratório por erro em exame de sangue que apontou alteração elevada de beta HCG, indicando gravidez quando ela não estava grávida.
2) O perito concluiu que não houve ato ilícito por parte do laboratório.
3) O juiz julgou improcedente o pedido por falta de prova de dano, já que o resultado do exame poderia ser impreciso, caracterizando um dano hipotético.
Apelante: DECIVANIA RANGEL DE FREITAS Apelado: HEMOCLIN CLINICA HEMATOLOGICA LTDA EPP Relator: Desembargador Luiz Fernando de Andrade Pinto
ACÓRDÃO
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.
ALEGAÇÃO DE ERRO EM RESULTADO DE EXAME LABORATORIAL DE SANGUE. ALTERAÇÃO ELEVADA BETA HCG. ELEMENTOS FUNDADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL (DANO E ATO ILÍCITO) AUSENTES. HIPÓTESE DE DANO HIPOTÉTICO. PERÍCIA DOS AUTOS A AFIRMAR A INEXISTÊNCIA DE QUALQUER ATO ILÍCITO. IMPRECISÃO DO RESULTADO DO EXAME QUE É ÍNSITA À MEDICINA. PRECEDENTES DESTE EG. TJRJ NO SENTIDO DA IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO.
1. O dano hipotético não é indenizável.
Doutrina e jurisprudência sobre o tema;
2. Sem ato ilícito, não se funda a
responsabilidade civil do agente;
3. In casu, o dano é hipotético, porque só
haveria imprecisão do diagnóstico emitido pela ré, se o exame de beta HCG realizado pela autora efetivamente confirmasse cabalmente a existência da gestação. Precedentes deste Eg. TJRJ;
4. Recurso desprovido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível
nº0002018-69.2008.8.19.0014, em que é apelante DECIVANIA RANGEL DE FREITAS e apelado HEMOCLIN CLINICA HEMATOLOGICA LTDA EPP.
A C O R D A M os Desembargadores da Vigésima Quinta Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator.
LUIZ FERNANDO DE ANDRADE PINTO:000017544 Assinado em 21/06/2017 15:30:38
Local: GAB. DES. LUIZ FERNANDO DE ANDRADE PINTO 176
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Quinta Câmara Cível
RELATÓRIO
Trata-se e de ação indenizatória versando a seguinte causa de
pedir:
DECIVANIA RANGEL DE FREITAS, qualificada na inicial,
propôs a presente ação pelo rito ordinário em face de HEMOCLIN -CLÍNICA HEMATOLÓGICA E LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS objetivando a condenação do réu em pagar indenização por danos morais, em razão de falha na prestação do serviço.
Alega a parte autora que no dia 26/04/2007 realizou junto à
empresa ré um exame hematológico a fim de confirmar para sua dermatologista que não estava grávida, tendo em vista os medicamentos utilizados no tratamento; que informou a sua médica que era virgem, mas mesmo assim se submeteu ao exame; que foi realizado junto a ré pelo SUS e para sua surpresa o resultado deu positivo; que ficou surpresa com o resultado; que submeteu ao exame de ultrassonografia e pagou outro exame hematológico junto a ré; que nos exames o resultado negativo. Acompanham a inicial os documentos de fls.05/13.
Considerando a natureza eminentemente técnica da controvérsia,
o saneador de índex 65 deferiu a prova técnica. Determinou, ainda, a colheita de prova documental superveniente.
Agravo retido interposto pela parte ré tendo em vista o
indeferimento da produção de prova oral de índex 70.
Laudo no índex 100.
Sobreveio a sentença de improcedência, no índex 132, nos
seguintes termos:
Ante o exposto: JULGO IMPROCEDENTES OS PEDIDOS da
parte autora. Em consequência, JULGO EXTINTO o processo com julgamento do mérito, nos termos do art. 487, I do CPC. Condeno a parte autora, como decorrência da sucumbência ao pagamento das despesas processuais, devidas por força de lei, bem como aos honorários advocatícios de 10% sobre o valor da causa, observada a gratuidade, já deferida. Publique-se nas mãos do escrivão. Registrado eletronicamente. Intimem-se as partes. Após o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquive-se. 177
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Apela, então, a autora no índex 137. Insiste em que teria sido
lesada pelo diagnóstico de alteração elevada no teste BETAHCG a que procedeu o réu, uma vez que o resultado fornecido pelo Laboratório apelado não teria nenhum apontamento informando que o resultado não era conclusivo. Diz dos seus desassossegos em razão dos fatos.
Contrarrazões no índice 157, em prestigio a r. sentença.
É o relatório.
VOTO
Conheço do recurso, tempestivo e próprio que é.
Inicialmente, deixo de apreciar o agravo retido interposto pela parte
ré, ora agravada, tendo em vista a não interposição de recurso de apelação e não ter sido ratificado eis que foi apresentado na vigência do CPC/73.
De saída, refira-se que a relação articulada entre as partes é
colhida pelo microssistema do Código de Defesa do Consumidor. Verificam-se, no caso concreto e à luz da teoria finalista, todos os requisitos objetivos e subjetivos que qualificam as figuras dos artigos 2º e 3º da Lei 8078/90.
No mérito, tenho que, ausentes os ativos principais da
responsabilidade civil (o ato ilícito e o dano), de rigor a manutenção da improcedência do pleito.
Ressalte-se, neste ponto, que, consoante preceitua o enunciado
sumular nº 330 do Eg. TJRJ, “os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito”.
De outro lado, como parece óbvio, o pressuposto intrínseco à
responsabilidade civil é o dano. Ora, somente experimentado um prejuízo, moral ou material, haverá o dever de recompô-lo.
Neste sentido, Agostinho Alvim repugna a presunção de dano, pois
deve ele ser cabalmente provado:
O nosso Cód. Civil determina, no art.1065: não cumprindo a
obrigação ou deixando de cumpri-la pelo modo e no tempo devidos, responde o devedor por perdas e danos. E também não resta dúvida que, consistindo a prestação uma utilidade para o credor, a sua não efetivação, ordinariamente, 178
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razoavelmente, lhe trará prejuízo. Há, portanto, uma
presunção comum, de existência de dano, até certo ponto reconhecida pelo art.1056. Mas essa presunção não é suficiente para condenar o devedor, Presume-se haver dano, porque é isso que ordinariamente sucede (presunção “hominis”). Todavia, sendo certo que pode haver infração do ajustado sem dano, como vimos supra, não é possível condenar com base somente nessa presunção. Por isso mesmo, a lei requer que o pedido de perdas e danos tenha por fundamento não só a infração, como ainda a lesão, como diz expressamente o art.1092, parágrafo único... Admitir que o juiz possa condenar o devedor, tomando a violação do avençado como presunção de dano, equivale a admitir a inversão do ônus da prova... O que se convence do estudo da matéria é que a prova da existência do dano é indispensável e deve ser feita na ação, sob pena de ser o devedor absolvido. O juiz só condena se há prova do dano. Na liquidação apura-se apenas o “quantum”... Não é possível condenar por dano incerto.
Sobre o dano, como elemento essencial do dever de indenizar,
também discorre Antunes Varela:
O quarto requisito essencial, para que haja obrigação de
indenizar, é a produção de um dano para o credor. A responsabilidade civil não tem por fim a punição do devedor faltoso, mas a reparação do prejuízo sofrido pelo credor. Se, excepcionalmente, o não cumprimento da obrigação não acarreta nenhum dano para o credor, não há lugar para a indenização. O objeto da indenização consiste precisamente na reparação do dano. Faltando o dano, não há lugar à indenização1.
Em conclusão, “somente danos diretos e efetivos, por efeito
imediato do ato culposo, encontram no Código Civil suporte de ressarcimento. Se dano não houver, falta matéria para indenização. Incerto e eventual é o dano quando resultaria de hipotético agravamento da lesão”2.
Na espécie, somente se poderia verificar dano indenizável se
comprovado que, por força da imprecisão do diagnóstico emitido pela ré, o exame de beta HCG realizado pela autora efetivamente confirmasse cabalmente a existência da gestação.
1 Direito das obrigações, vol.II, págs.127/128.
2 RT 612/44 179
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Mas, não foi isso que ocorreu. Em verdade, os demais exames
laboratoriais descartaram tal hipótese.
Para assentar este vértice, ressalte-se que o i. perito asseverou
que o interregno entre os exames não permitiu a concretização de qualquer dano à consumidora.
De mais a mais, no que toca ao ato ilícito em si, aproveito as razões
versadas no laudo D de índex 100: .
O exame de sangue com dosagem de BetaHCG em valores
tão baixo, 30m1U/ml, como foi o caso da Autora, seria motivo de uma repetição com 48 hs de intervalo, sendo uma gravidez, os valores dobrariam. Neste caso não foi médico ginecologista quem solicitou o teste de gravidez, e nem sequer havia suspeita de gravidez, afinal não houve nenhum relacionamento íntimo da Autora com um parceiro, realmente não tem como supor uma gravidez em curso. Se fosse por uma suspeita, o ginecologista deveria pensar numa gravidez mal sucedida, um provável futuro aborto (o embrião não desenvolve), ou mesmo, um aborto recente. Se este exame fosse confirmado em uma contraprova, e ela negando contato com esperma, o ginecologista pesquisaria um tumor produtor de HCG (melanoma, carcinoma de mama, pulmão, estômago, pâncreas, cólon. ovário, bexiga). A história clinica da paciente sempre prevalecerá, e a história é de uma mulher virgem, ou seja, só usando a técnica fertilização "in vitro" para obter uma gravidez, sem o relacionamento direto de um casal. Ressalvando que a mulher pode ainda não ter sido deflorada, mas ter tido contato íntimo com o espermatozoide do homem, e engravidar. Realmente o teste de betaHCG, tem uma especificidade elevada, sendo raro o seu falso positivo, mas com tantas causas para a interferência deste teste, não se pode falar de erro laboratorial quando o médico lê uma dosagem ligeiramente aumentada de HCG no sangue, e já que não suspeitava-se de gravidez, sempre pensar num falso positivo, e solicitar novo exame, com 48 hs, que no caso de gravidez, dobra o valor.
Em arremate, a jurisprudência sobre o tema:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE
REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. EXAME LABORATORIAL DE SANGUE BETA HCG. RESULTADO CONHECIDO COMO "FALSO NEGATIVO". POSTERIOR CONSTATAÇÃO DE GRAVIDEZ PELA PACIENTE. INEXISTÊNCIA DE FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PACIENTE QUE RECEBE RESULTADO NEGATIVO DE EXAME BETA-HCG E, POSTERIORMENTE, DESCOBRE ESTAR GRÁVIDA POR 180
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Vigésima Quinta Câmara Cível
MEIO DA REALIZAÇÃO DE ULTRASSONOGRAFIA
OBSTÉTRICA. OS EXAMES DE SANGUE DE HORMÔNIO BETA HCG, REALIZADOS PARA A VERIFICAÇÃO DA GRAVIDEZ, SÃO SUGESTIVOS E NÃO POSSUEM O CONDÃO DE AFIRMAR A EXISTÊNCIA DE GESTAÇÃO, SENDO TAL FUNÇÃO DO MÉDICO, A QUEM CABE ANALISAR OS DADOS CONTIDOS NO EXAME, E NÃO DA PACIENTE. EXISTÊNCIA DE FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR NO RESULTADO DO EXAME, COMO A PRECOCIDADE DA REALIZAÇÃO, ALTERAÇÃO DE REAGENTES OU FATORES EMOCIONAIS. A CONFIRMAÇÃO DA GRAVIDEZ DEVE OCORRER COM A COMBINAÇÃO DOS EXAMES DE BETA-HCG E A ULTRASSONOGRAFIA OBSTÉTRICA, QUE DEVEM SER ANALISADOS PELO MÉDICO DA PACIENTE. AUSÊNCIA DE FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO PELO LABORATÓRIO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SENTENÇA QUE SE REFORMA. RECURSO CONHECIDO, DANDO SE PROVIMENTO AO APELO DA RÉ. (Apelação cível 0009279-80.2011.8.19.0208 - Des(a). ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT - Julgamento: 14/01/2015 - VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR). .................................................................................................
APELAÇÃO - AÇÃO INDENIZATÓRIA. ALEGAÇÃO DE
DIAGNÓSTICO EQUIVOCADO NO EXAME LABORATORIAL. PRETENSÃO COMPENSATÓRIA POR DANO MORAL. LAUDO PERICIAL QUE INFIRMA AS ALEGAÇÕES AUTORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. AFASTADA A HIPÓTESE DE ERRO DE DIAGNÓTICO E NÃO DEMONSTRADA A PRÁTICA DE CONDUTA ENSEJADORA AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, A SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DEVE SER MANTIDA. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. (Apelação Cível 0061558-48.2012.8.19.0001 - Des. Jose Acir Giordani - Julgamento: 30/09/2015 - Vigésima Quinta Câmara Cível Consumidor) .................................................................................................
RELAÇÃO DE CONSUMO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.
EXAMES LABORATÓRIAIS SUPOSTAMENTE COM ERROS. ULTRASSONOGRAFIAS TRANSVAGINAL E MAMÁRIA. PERÍCIA QUE CONCLUI PELA INEXISTÊNCIA DO ALEGADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO POR UNANIMIDADE. (Apelação Cível 0016696- 55.2009.8.19.0208 - JDS. Des. Tula Barbosa - Julgamento: 10/06/2015 - Vigésima Quinta Câmara Cível Consumidor). 181