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290 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

UNEP, Edwin C. Tuyay, Topham Picturepoint


Desastres

Panorama mundial Desastres naturais


As pessoas e o meio ambiente estão sofrendo cada
vez mais os efeitos dos desastres naturais devido a
Os desastres podem ocorrer como conseqüência do diversas razões, tais como altas taxas de crescimento
impacto de um risco natural ou causado por ativida- populacional e elevada densidade demográfica, mi-
des antrópicas. Os riscos naturais incluem fenôme- gração e urbanização não planejada, degradação am-
nos como terremotos, atividade vulcânica, desliza- biental e possivelmente a mudança do clima global. O
mentos de terra, maremotos, ciclones tropicais e ou- grande alcance dos impactos socioeconômicos dos
tras tempestades intensas, tornados e ventos fortes, desastres naturais causou uma mudança na aborda-
inundações fluviais e costeiras, incêndios florestais gem política para lidar com o conceito de risco nas
e a névoa que formam, seca, tempestades de areia e sociedades modernas.
de poeira e infestações. Os riscos causados por ativi- Comparando as duas últimas décadas, o nú-
dades antrópicas podem ser intencionais, como a mero de pessoas que morreram em desastres naturais
descarga ilegal de petróleo, ou acidentais, como der- e não-naturais foi maior na década de 1980 (86.328 ao
ramamentos tóxicos ou fusão nuclear. Todos esses ano) do que na década de 1990 (75.252 ao ano). No
riscos podem ameaçar as pessoas, os ecossistemas, entanto, mais pessoas foram afetadas por desastres
a flora e a fauna. As populações carentes são as mais na década de 1990 – de uma média de 147 milhões ao
vulneráveis aos desastres, porque dispõem de me- ano na década de 1980 para 211 milhões de pessoas
nos recursos e capacidade para lidar com os impac- anualmente na de 1990. Embora o número de desas-
tos ou evitá-los. tres geofísicos tenha permanecido bem constante, o
número de desastres hidrometeorológicos (causados
“Um desastre é uma grave interrupção do funcionamento de uma pela água e pelo clima) aumentou (ver gráfico na pá-
sociedade, causando perdas humanas, materiais ou ambientais que gina seguinte). Na década de 1990, mais de 90% das
excedem a capacidade da sociedade afetada de lidar com tais conseqüências
vítimas de desastres naturais morreram em eventos
com seus próprios recursos.” — Fonte: UNDHA, 2001
hidrometeorológicos, como secas, tempestades de
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vento e inundações. Embora as inundações tenham Número de grandes desastres naturais por ano,
sido responsáveis por mais de dois terços das pesso- 1950-2001
as afetadas por desastres naturais, essas são menos Outros
fatais do que muitos outros tipos de desastres e equi- Inundações
valem a apenas 15% das mortes (IFRC, 2001).
Os custos sociais e econômicos dos desas-
tres apresentam uma ampla variação e é difícil Tempestades

calculá-los em um âmbito global. As declarações de


danos como uma estimativa do impacto econômico
Terremotos
dos desastres tendem a induzir a erros. Consideran-
do as declarações de danos a seguradoras com rela-
ção às inundações ocorridas em 1999 na Áustria, na 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20
Alemanha e na Suíça, ao menos 42,5% dos danos O gráfico mostra uma crescente freqüência de “grandes” desastres naturais. As catástrofes são
consideradas de grandes proporções quando a capacidade de reação de uma dada região estiver
foram cobertos pelo seguro contra desastres. Mas comprometida, onde há necessidade de assistência interregional ou internacional, como
normalmente ocorre em situações que envolvem milhares de mortos, centenas de milhares de
na Venezuela, no mesmo ano, apenas 4% dos danos desabrigados ou quando o país sofre uma significativa perda econômica.
causados por inundações foram cobertos (CRED- Fonte: Munich Re, 2001
OFDA, 2002). É necessário obter dados sistemáti-
cos confiáveis sobre os desastres para ajudar a ava-
liar seus impactos socioeconômicos e ambientais,
tanto a curto como a longo prazo. Embora as comu-
nidades dos países em desenvolvimento sofram di-
versos desastres em escala local, como incêndios
florestais, pequenas inundações, secas e infesta-
ções, freqüentemente esses eventos não se refle-
tem nas estatísticas de desastres.
Os desastres mais dispendiosos em termos
puramente financeiros e econômicos são as inunda-
ções, os terremotos e as tempestades de vento, mas
eventos como seca e fome podem ser mais devasta-
dores em termos de vidas humanas. Embora os terre-
motos tenham sido responsáveis por 30% dos danos
calculados, causaram apenas 9% de todas as fatali-
dades por desastres naturais. Em contraste, a fome
causou a morte de 42%, mas foi responsável por so-
mente 4% dos danos na última década (IFRC, 2001).
Em 1999, calculou-se que as perdas financeiras glo-
bais devido a eventos catastróficos naturais excede-
ram US$ 100 bilhões – a segunda quantia mais alta já
registrada. Um total de 707 eventos de grande magni-
tude foi registrado em comparação com 530 a 600 even-
tos nos anos anteriores. É ainda mais surpreendente
que o número de grandes eventos catastróficos na
última década tenha triplicado, em comparação com a
década de 1960, enquanto o índice de perdas econô-
micas tenha aumentado quase nove vezes durante o
mesmo período (Munich Re, 2001).
Entre 1995 e 1997, os impactos dos riscos na-
turais custaram aos Estados Unidos no mínimo US$
50 bilhões por ano, ou o equivalente a cerca de US$ 1
bilhão por semana (IDNDR, 1999a). As perdas econô-
micas dos Estados Unidos devido ao fenômeno El
Niño ocorrido em 1997-1998 foram calculadas em US$
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Custos econômicos dos grandes desastres naturais as morrem por desastre em países com baixos níveis
(bilhões de dólares), 1950-2000
de desenvolvimento (IFRC, 2001).
90 >167 Diversos especialistas associam a tendência
75 atual observada em eventos climáticos extremos com
um aumento da temperatura média global. Muitas
60
partes do mundo sofreram enormes ondas de calor,
45 inundações, secas e outros eventos climáticos extre-
mos. Embora eventos individuais, como os fenôme-
30
nos relacionados ao El Niño (ver box), não possam
15 ser associados diretamente à mudança antropogênica
do clima, prevê-se que a freqüência e a magnitude
0
desses tipos de eventos aumentem em um mundo
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mais quente. As mudanças na temperatura média glo-


Em comparação
bal “muito provavelmente”’ afetarão parâmetros como
1,96 bilhão, ou 0,03% do PIB. O Equador sofreu per-
com a década de padrões de precipitação, velocidades dos ventos, umi-
1960, as perdas das equivalentes, mas representaram 11,4% de seu
econômicas dade do solo e cobertura vegetal, que parecem influ-
ocorridas durante PIB. As inundações na China em 1991, 1994-1995 e
os anos 1990 enciar a ocorrência de tempestades, furacões, inun-
foram multipli- 1998 causaram perdas que variaram de US$ 20 bilhões
cadas por um dações, seca e deslizamentos de terra (IPCC, 2001).
fator quase nove
a US$ 35 bilhões (CNC-IDNDR, 1999). Calcula-se que
vezes maior. a perda anual decorrente de desastres naturais du-
Nota: o gráfico rante o período de 1989 a 1996 oscile de 3% a 6% do
mostra somente o
custo das “grandes” PIB da China, em uma média de 3,9%. Em dezembro de
catástrofes naturais
– ver a figura da 1999, as tempestades Anatol, Lothar e Martin gera-
página 291 para
definição. ram perdas no norte da Europa equivalentes a US$ 5
Fonte: Munich Re,
bilhões a US$ 6 bilhões (Munich Re, 2001). Em caso
2001
de desastre, os países menos desenvolvidos, com
uma diversidade econômica limitada e infra-estrutura
precária, não somente estão obrigados a depender
em grande parte da ajuda internacional, mas suas eco-
nomias também precisam de mais tempo para recuperar-
se. Nas economias desenvolvidas, os governos, as co-
munidades e as pessoas têm uma maior capacidade de
lidar com desastres, as perdas econômicas são absorvi-
das até certo ponto por uma economia diversificada, e a
maior parte dos bens está assegurada.
Entre os países menos desenvolvidos, 24 dos
49 em questão enfrentam riscos elevados de desas-
tre; ao menos seis deles têm sido afetados por entre
dois e oito grandes desastres anualmente nos últi-
mos quinze anos, com conseqüências a longo prazo
para o desenvolvimento humano (UNDP, 2001). Des-
de 1991, mais da metade de todos os desastres
registrados ocorreu em países com níveis médios de
desenvolvimento humano (ver “Aspectos socioeco-
nômicos”). Entretanto, dois terços das vítimas foram
de países com baixos níveis de desenvolvimento hu-
mano, enquanto apenas 2% foram de países altamen-
te desenvolvidos. O efeito do desenvolvimento so-
bre os desastres é drástico: em média, 22,5 pessoas
morrem por desastre registrado em países altamente
desenvolvidos, 145 morrem por desastre em países
com desenvolvimento humano médio, e 1.052 pesso-
DESASTRES
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Por exemplo, a extensão dos danos causados por


O terremoto de 1999 em Izmit, Turquia
marés de tempestades pode ser associada diretamen-
te às variações do nível do mar. No dia 17 de agosto de 1999, um terremoto com uma
A mudança e a variabilidade do clima por si magnitude de 7,4 a 7,8 pontos na escala Richter
atingiu a cidade de Izmit e áreas circunvizinhas, na
sós não explicam o aumento dos impactos relativos a Turquia. Os danos causados pelo terremoto foram
desastres. “Natural” pode ser uma descrição enga- calculados em mais de US$ 13 bilhões. Mais de 15 mil
nosa para desastres como secas, inundações e ciclo- pessoas foram mortas, outras 25 mil ficaram feridas e
600 mil desabrigadas. O terremoto foi responsável
nes que afligem grande parte do mundo em desen- pelo aumento do déficit interno do país em cerca de
volvimento. Há muito tempo se faz necessário identi- US$ 3 bilhões em 1999-2000 (o equivalente a
ficar as causas antrópicas primárias e defender mu- aproximadamente 1,5% do PNB).
Uma parte considerável dos prejuízos poderia
danças estruturais e políticas para combatê-las (IFRC, ter sido evitada se os códigos de obra locais tivessem
2001). Por exemplo, a destruição do meio ambiente sido implementados com eficácia. Muitos edifícios
natural devido à exploração madeireira ou a usos ina- novos não haviam sido planejados apropriadamente,
não haviam sido construídos sobre fundações fortes o
dequados da terra para obter ganhos econômicos a suficiente para resistir a terremotos e não estavam
curto prazo é um dos principais fatores que promo- situados em áreas em que os efeitos de terremotos
vem inundações ou deslizamentos de lama, como os teriam sido atenuados.
que afligiram a Venezuela em dezembro de 1999. Simi- Fonte: ISDR, 1999
larmente, a migração da população para áreas urba-
nas e costeiras aumenta a vulnerabilidade humana à
medida que as densidades populacionais aumentam, Desastres induzidos por atividades
a infra-estrutura fica sobrecarregada, as áreas habita- antrópicas
cionais movem-se para perto de indústrias potencial- Vários acidentes de grande importância envolvendo
mente perigosas, e mais assentamentos são construí- produtos químicos e materiais radioativos chamaram
dos em áreas frágeis como planícies de inundação ou a atenção mundial para os perigos da má administra-
áreas propensas a deslizamentos de terra. Conseqüen- ção, particularmente nos setores de transporte, de
temente, as catástrofes naturais afetam mais pesso- produtos químicos e de energia nuclear. Tais eventos
as, e ocorrem mais perdas econômicas. Por exemplo, freqüentemente têm impactos que transcendem as
apesar do fato da atividade sísmica ter permanecido fronteiras nacionais; ressaltam também o fato de que
constante nos últimos anos, os efeitos dos terremo- as questões relativas à segurança tecnológica não
tos sobre a população urbana parecem aumentar. dizem respeito somente aos países desenvolvidos.

Edifício de
apartamentos
partido em dois
pelo terremoto
ocorrido em 1999
em Izmit, Turquia.

Fonte: Alexander
Allmann, Munich Re
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Alguns desastres resultaram na introdução


de normas voluntárias ou obrigatórias elaboradas
para prevenir ocorrências similares. A preocupação
do público após a explosão em uma fábrica de
pesticidas em Seveso, Itália, ocorrida em 1976, que
resultou na liberação de 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-
p-dioxina (TCDD), levou à introdução, em 1982, de
uma Diretriz Européia sobre os riscos de acidentes
de grandes proporções quanto a certas atividades
industriais. De forma similar, outros grandes aciden-
tes, como o vazamento de metil isocianato em Bhopal,
Índia, ocorrido em 1984, e o incêndio em uma indús-
tria química da Sandoz na Basiléia, Suíça, em 1989,
estimularam legislações em muitos países para pre-
venir e controlar incidentes com produtos químicos.
Sob a influência do acidente ocorrido em Bhopal,
em particular, a Organização Internacional do Tra-
balho elaborou em 1993 a Convenção nº 174 sobre a
Prevenção de Grandes Acidentes Industriais e a Re-
comendação nº 181 sobre a Prevenção de Acidentes
Industriais Maiores. Esses documentos exigem um
intercâmbio internacional de informações relevan-
tes, a elaboração de políticas destinadas a lidar com
os riscos e perigos de grandes acidentes e suas con-
seqüências, e o reconhecimento de que um grande
acidente poderia ter sérios impactos sobre a vida
humana e o meio ambiente.
Acidentes nucleares graves, como os ocorri-
dos em Three Mile Island, nos Estados Unidos, em
1979, e em Chernobyl, em 1986, não apenas geraram
ações para fortalecer a segurança nuclear e a prepa-
ração para situações de emergência, como também
forçaram muitos países a abandonar ou restringir comportamento das empresas em relação ao meio
severamente o desenvolvimento do setor de ener- ambiente. Os “Princípios de Valdez” orientam as em-
gia nuclear. Após o acidente em Chernobyl, dois im- presas quanto ao estabelecimento de políticas eco-
portantes tratados internacionais foram adotados – logicamente firmes e exigem a melhoria dos padrões
a Convenção sobre Assistência no Caso de Aciden- empresariais de segurança ambiental, assim como a
te Nuclear ou Emergência Radiológica e a Conven- tomada de responsabilidade dos possíveis danos
ção sobre Pronta Notificação de Acidente Nuclear. ambientais por elas causados (Adams, 1994).
Mais recentemente, foram adotadas a Convenção
de 1994 sobre Segurança Nuclear, que comprometeu
as partes a um nível mais elevado de segurança nu- Políticas de resposta
clear, e a Convenção Conjunta de 1997 sobre o Até a década de 1970, a comunidade internacional
Gerenciamento Seguro de Combustível Nuclear e considerou os desastres como circunstâncias excep-
Rejeitos Radioativos. cionais, em que as capacidades locais para lidar com
O derramamento de petróleo do Exxon Valdez, o problema se esgotavam e era necessária a ajuda
ocorrido no Alasca em 1989, resultou em enormes externa em situações de emergência. O termo admi-
danos ambientais e econômicos e acelerou a produ- nistração de desastres era equivalente em geral a
ção, pela Coalizão pela Economia Ambientalmente medidas em caso de desastres e tendeu a ficar den-
Responsável (Coalition for Environmentally tro da competência exclusiva de organizações como
Responsible Economics – CERES), dos “Princípios a Cruz Vermelha e Sociedades do Crescente Verme-
de Valdez”, um código de conduta voluntário para o lho ou instituições nacionais de defesa civil.
DESASTRES
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Em 1971, foi estabelecido o Escritório do Co- Prevenção e preparação para reduzir os custos dos
ordenador das Nações Unidas para Socorro em Ca- desastres
sos de Desastre – atual Escritório das Nações Uni-
das para a Coordenação da Assistência Humanitária A meta fundamental do programa de administração de desastres do
PNUMA é reforçar a centralização das preocupações ambientais na
(UNOCHA) –, com o objetivo de mobilizar e coorde- administração de desastres. O outro fundamento é a adoção de
nar atividades de socorro procedentes de todas as estratégias preventivas e medidas práticas que diminuam a perda
fontes em casos de desastre. O conceito de prepara- potencial de vidas humanas e propriedades, assim como a destruição do
meio ambiente.
ção para desastres foi desenvolvido durante as dé- O êxito de tal abordagem depende do aumento da consciência
cadas de 1970 e 1980 e incluía treinamento e algu- pública dos riscos que os perigos naturais, tecnológicos e ambientais
mas atividades multissetoriais para aumentar a ca- apresentam às sociedades, bem como da educação das pessoas sobre o
valor das abordagens existentes quanto à prevenção e à preparação. O
pacidade de resgate, socorro e recapacitação du- PNUMA contribui com esse processo por meio de seus programas sobre
rante e após um desastre. Mas mesmo as previsões direito ambiental, alerta e avaliação antecipados e do programa de
mais pessimistas não poderiam prever a espiral as- Conscientização e Preparação para Emergências em Âmbito Local
(APELL).
cendente das conseqüências socio-econômicas ne- O programa APELL do PNUMA, desenvolvido em conjunto com
gativas dos desastres naturais nas últimas décadas governos e com o setor industrial, reconhece que a incidência e os efeitos
dos desastres ambientais podem ser reduzidos por meio de iniciativas de
do século XX.
prevenção e preparação em âmbito local. O conceito do APELL foi
A década de 1990 foi declarada a Década In- introduzido com sucesso em mais de 30 países e em mais de 80
ternacional para a Redução dos Desastres Naturais comunidades industriais no mundo todo. A estratégia do PNUMA inclui a
promoção de processos e tecnologias de produção mais limpos e ajuda os
(IDNDR), e uma de suas principais metas foi incutir países a estabelecerem centros de produção mais limpa.
uma cultura de prevenção de desastres, por meio da Um dos principais objetivos do programa de alerta e avaliação
aplicação mais ampla de mecanismos conhecidos de antecipados do PNUMA é avaliar a crescente vulnerabilidade da sociedade
humana devido à mudança generalizada ambiental e climática, de modo
natureza científica e tecnológica por parte de uma a enfatizar a necessidade de uma sólida gestão ambiental integrada e
população mais bem informada. Como disse o secre- proporcionar alertas antecipados sobre ameaças emergentes, visando
tário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, “deve- preparação e reação.
mos, acima de tudo, mudar de uma cultura de reação
para uma cultura de prevenção. A comunidade hu-
manitária faz um trabalho formidável de reação a de-
sastres. Mas a tarefa mais importante a médio e a Em âmbito global, a ONU estabeleceu uma
longo prazo é fortalecer e ampliar programas que Estratégia Internacional para Redução de Desastres
reduzam o número e o custo de desastres em primei- (ISDR), uma plataforma global com o objetivo de
ro lugar. A prevenção não é apenas mais humana do ajudar todas as comunidades a se tornarem resili-
que a cura, é também muito menos dispendiosa” entes aos efeitos de desastres naturais e a passarem
(IDNDR, 1999b). A IDNDR teve êxito em colocar a da proteção contra os perigos para a administração
questão de redução de riscos em um patamar mais do risco por meio da integração da prevenção do
elevado da agenda política, assim como em estabe- risco ao desenvolvimento sustentável. A estratégia
lecer diversas prioridades a serem empreendidas por – fundamentada na experiência da IDNDR e em avan-
países e regiões no século XXI. ços como a Estratégia e o Plano de Ação de
Um número crescente de governos e orga- Yokohama para um Mundo mais Seguro, de 1994, e a
nizações internacionais está promovendo a redu- Estratégia “Um Mundo Mais Seguro no Século XXI:
ção dos riscos como a única solução sustentável Redução de Desastres e Riscos”, de 1999 – reflete
para reduzir os impactos sociais, econômicos e uma abordagem multisetorial e interdisciplinar à re-
ambientais dos desastres. As estratégias de redu- dução de desastres.
ção dos riscos incluem: A implementação da estratégia, que se baseia
no estabelecimento de parcerias entre governos, or-
· mapeamento da vulnerabilidade; ganizações não-governamentais, agências da ONU,
· identificação de áreas seguras para assentamen-
tos e desenvolvimento;
a comunidade científica e outros grupos de interesse
na redução de desastres, é parte integrante dos es-
· adoção de códigos de construção com base na forços que visam a promoção da meta global de de-
engenharia resiliente a desastres e nas avalia- senvolvimento sustentável. Também é um elemento
ções de riscos e perigos locais; e indispensável na busca de soluções planejadas para
· adoção desses planos e códigos por meio de in- enfrentar a ameaça crescente apresentada pelos peri-
centivos econômicos e de outras naturezas. gos naturais (ISDR, 1999).
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Referências: Capítulo 2, desastres, panorama mundial

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DESASTRES
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receber e distribuir alimentos e ajuda médica (Ehrlich


Desastres: África e Ehrlich, 1990). Há alguns indícios de que as secas
estão se tornando mais prolongadas e seus impac-
Eventos hidrometeorológicos extremos como inun- tos, mais graves (DMC, 2000; FAO, 2000).
dações e secas são comuns por toda a África, enquan- O risco de danos causados por chuvas fortes
to eventos geofísicos como terremotos ocorrem com é maior em áreas mais secas do que naquelas que
mais predominância no Norte da África, ao longo da geralmente apresentam níveis de precipitação mais
Cordilheira do Atlas, e no Vale Rift africano, que tam- elevados, porque há menos cobertura vegetal para
bém apresenta atividades vulcânicas. A oscilação absorver a água e estabilizar o solo. A expansão de
ocorrida no Hemisfério Sul devido ao El Niño – Osci- assentamentos informais para a zona de inundações
lação Sul (ENOS) causa alterações climáticas signifi- está colocando muitas pessoas em risco de inunda-
cativas na maior parte da África, seja na indução a ções, conforme ocorreu, por exemplo, no município
secas ou inundações, seja no aumento da temperatu- de Alexandra, em Johanesburgo, África do Sul, du-
ra do mar, o que ocasiona ciclones. rante as inundações de 2000, quando aproximadamen-
Esses eventos naturais tornam-se desastres te 3 mil famílias que moravam em barracos abaixo do
quando um grande número de pessoas ou itens de nível de inundação ficaram sujeitas aos danos causa-
infra-estrutura é afetado, como tem ocorrido nos últi- dos pela água e pelas epidemias de cólera (Kim, 2000;
mos trinta anos devido a elevadas taxas de cresci- World Bank, 2001a).
mento demográfico, principalmente nos centros ur- Os desastres podem ter impactos econômicos
banos e em áreas propensas a secas – 34% da popu- sérios que são difíceis de calcular. Nas ilhas do Ocea-
lação da África vive em áreas áridas, em comparação no Índico Ocidental, geralmente há ocorrência de dez
com apenas 2% da população européia (Findlay, 1996). ciclones por ano, entre novembro e maio, que provo-
Os impactos dos desastres incluem perda de cam ventos fortes e chuvas intensas. O fenômeno des-
vidas e de meios de subsistência, danos à infra-estru- trói a infra-estrutura, particularmente em áreas baixas e
tura e às comunicações, interrupção de atividades onde os assentamentos invadiram áreas propensas a
econômicas e maior risco de epidemias de doenças. inundações. Devido à destruição de atividades de ge-
Em muitos locais, esses impactos são agravados pela ração de renda, como o turismo, bem como à recupera-
pobreza e pela marginalização, além de pela super- ção e à substituição de infra-estrutura e cultivos dani-
população. Infra-estrutura inadequada, antiga e de- ficados, os custos são muito elevados.
teriorada e a falta de segurança econômica para for- Em escala global, a África sofre menos danos
necer ajuda em tempos difíceis também comprome- por desastres em termos puramente financeiros, mas
tem a capacidade da população para lidar com os pro- a importância dessas perdas pode, na verdade, ser
blemas e, portanto, aumentam os impactos dos de- maior com respeito ao impacto sobre o desenvolvi-
sastres. Há uma preocupação crescente de que a fre- mento econômico. A população e as economias da
qüência e a gravidade dos desastres estão aumen-
tando em uma época em que os sistemas de alerta an- Alguns dos piores desastres na África, 1972-2000
tecipado são inadequados e a administração de de-
Números Números de
sastres é deficiente (DMC, 2000). de óbitos pessoas afetadas
1972 fome Etiópia 600.000 sem registro
1973 seca Etiópia 100.000 sem registro
Desastres naturais 1974 seca Etiópia 200.000 sem registro
1980 seca Moçambique sem registro 6.000.000
A África sofreu alguns dos piores períodos de seca e 1982 fome Gana sem registro 12.500.000
fome, em termos do número de pessoas que morreram 1983 seca Etiópia sem registro 7.000.000
ou foram afetadas (ver tabela), com secas particular- 1984 seca Etiópia 300.000 7.750.000
1984 seca Sudão 150.000 8.400.000
mente severas em 1972-1973 e 1984-1985, que atingi- 1985 seca Moçambique 100.000 2.466.000
ram grande parte do Norte da África, da África Meri- 1987 seca Etiópia sem registro 7.000.000
dional, da África Oriental e da região do Sahel 1990 seca Etiópia sem registro 6.500.000
1991 seca Etiópia sem registro 6.160.000
(Gommes e Petrassi, 1996). Entre os países mais regu- 1991 seca Sudão sem registro 8.600.000
larmente afetados, estão Botsuana, Burkina Faso, 1993 seca Malavi sem registro 7.000.000
Chad, Etiópia, Quênia, Mauritânia e Moçambique 1993 fome Etiópia sem registro 6.700.000
1999 fome Etiópia sem registro 7.767.594
(FAO, 2001), onde os impactos da fome são agrava- 2000 seca Etiópia sem registro 10.500.000
dos pelos serviços de transporte inadequados para
Fonte: CRED-OFDA, 2002
298 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

África dependem muito da agricultura sem irrigação desmatamento e o excesso de pastoreio diminuíram a
artificial e são, portanto, vulneráveis às flutuações capacidade do meio ambiente de absorver a água em
dos níveis de precipitação. Em geral, é a população excesso e ampliaram o impacto das inundações
carente que mais sofre com a perda de colheitas cau- (Chenje, 2000; UNDHA, 1994).
sada por inundações ou seca, porque freqüentemente Nas últimas três décadas, milhões de africa-
cultiva áreas que são marginais em relação ao clima nos buscaram refúgio devido a desastres naturais e
para a produção de cultivos e não pode acumular antropogênicos que causaram impactos tanto ambi-
reservas para épocas de privações. entais como econômicos. Ao fim de 2000, havia 3,6
Tanto as secas quanto as inundações podem milhões de refugiados na África, 56% dos quais abai-
resultar em desnutrição e fome, e a importação de xo de 18 anos de idade (UNHCR, 2001b). Freqüen-
alimentos e a dependência da ajuda alimentar a isso temente, os refugiados se assentam em ecossistemas
associadas podem afetar o potencial de crescimen- frágeis, onde exercem uma pressão considerável so-
to econômico dos países atingidos. No Quênia, os bre os recursos naturais, já que não têm outros meios
baixos níveis dos reservatórios, resultantes da seca para sobreviver (ver box na página seguinte). Às ve-
e da sedimentação associada ao desmatamento, le- zes, as populações de refugiados também experimen-
varam a reduções na geração de energia hidrelétrica tam conflitos adicionais com comunidades vizinhas,
e, conseqüentemente, à necessidade de racionamen- ao competir pelos recursos.
to de água e energia elétrica, que devastou a econo-
mia do país em 1999 e 2000. As perdas causadas so-
mente pelo racionamento de energia foram calcula- Medidas em caso de desastres
das em US$ 2 milhões por dia, e o custo da demanda Não têm sido empreendidos esforços regionais pla-
de eletricidade não atendida foi calculada em US$ nejados para administrar os desastres, e as medi-
400 milhões a US$ 630 milhões, o equivalente a 3,8% das em caso de desastres na África tendem a foca-
a 6,5% do PIB (World Bank, 2000). Em Moçambique, lizar os âmbitos nacional e sub-regional. Os esfor-
os custos das inundações no ano 2000 foram calcu- ços também têm-se concentrado mais em reações
lados em US$ 273 milhões em danos materiais, US$ do que na mitigação mediante melhorias na gestão
247 milhões na perda de produção, US$ 48 milhões ambiental e nas práticas agrícolas.
em exportações perdidas e US$ 31 milhões em au- A natureza imprevisível dos eventos extre-
mentos nas importações (Mozambique National mos e o fraco desempenho econômico da maior par-
News Agency, 2000). te dos países africanos dificultam ainda mais a pre-
paração para os desastres e a prestação de socorro
quando ocorrem. No entanto, há alguns casos de
Desastres causados por atividades
êxito na prevenção da fome resultante da seca, como
antrópicas o projeto do Sistema de Alerta Antecipado contra a
Embora a variabilidade climática seja um fenômeno Fome (Famine Early Warning System – FEWS), a
natural, a freqüência e a gravidade crescentes dos implementação de um novo sistema de distribuição
eventos extremos podem ser parcialmente atribuídas eficiente de sementes no Níger e a promoção de
a atividades humanas, como o desmatamento e a ges- mais variedades de cultivos resistentes à seca.
tão inadequada da terra e dos recursos hídricos. Por No Norte da África, os esforços para respon-
exemplo, o desmatamento de florestas tropicais na der às dificuldades econômicas durante as secas in-
África Central e Ocidental tem alterado o clima local e cluem o financiamento de projetos de geração de
os padrões pluviométricos e aumentou o risco de empregos, para evitar que os agricultores abando-
ocorrência da seca. A retirada de vegetação também nem as terras em que a produtividade está diminuin-
pode aumentar o escoamento e a erosão do solo. A do. Na África Oriental, estão sendo implementados
construção de represas e a drenagem de áreas úmi- projetos de florestamento e reflorestamento para di-
das reduzem a capacidade natural do meio ambiente minuir o impacto de futuras mudanças ambientais,
de absorver a água em excesso, ampliando os impac- particularmente a mudança do clima. Na África Meri-
tos das inundações. Por exemplo, os países na África dional, a Unidade Regional de Alerta Antecipado da
Meridional sofreram inundações devastadoras em SADC, o Projeto Regional de Sensor Remoto, o Cen-
1999 e 2000, que afetaram mais de 150 mil famílias tro de Monitoramento de Secas e o Projeto FEWS
(Mpofu, 2000). A degradação de áreas úmidas como assessoram os governos quanto à preparação para
as de Kafue, na Zâmbia, a construção de represas, o períodos de seca (ver Capítulo 3). Implementou-se
DESASTRES
299

também um fundo de combate à seca para mitigar os


Os impactos ambientais dos refugiados na África
efeitos de precipitações insuficientes (UNDHA, 1994).
Em algumas áreas, inclusive partes da Áfri- Apenas a reabilitação ambiental dos campos de refugiados na África
ca Ocidental, foram promulgadas medidas de lon- pode custar cerca de US$ 150 milhões ao ano. A degradação ambiental
é mais visível principalmente em países há muito tempo receptores de
go prazo, como normas de planejamento urbano que refugiados, como o Quênia e o Sudão. Foram removidas as árvores e a
proíbem a urbanização ao longo de cursos d’água, vegetação das terras que rodeiam os campos de refugiados. Nessas
embora as limitações de recursos freqüentemente situações, os refugiados podem ter de caminhar até 12 km em busca de
água e lenha.
evitem que sejam aplicadas de forma rígida. Outras No início da década de 1990, aproximadamente 20 mil hectares
medidas incluem a elaboração e a implementação de florestas foram desmatados a cada ano em Malauí, para fornecer
de alertas antecipados ou mecanismos de previ- lenha e madeira para os diversos campos que abrigavam refugiados de
Moçambique, enquanto em 1994, no auge da crise de refugiados,
são, como o da ENOS, que foi implementado na próximo ao Parque Nacional de Virunga na República Democrática do
África Meridional e na área do Oceano Índico Oci- Congo (o antigo Zaire), os refugiados estavam removendo cerca de
dental. Embora esse mecanismo tenha o potencial de 800 toneladas por dia de madeira e grama do parque uma quantia
muito acima de um rendimento sustentável possível. Apesar dos
alertar organizações de ajuda e evacuar comunida- esforços para restringir o impacto sobre o parque, quase 113 km2
des antecipadamente, sua atuação tem sido limita- foram afetados, dos quais mais de 71 km2 foram completamente
da devido a serviços inadequados de comunica- desmatados. Em outro local em Kivu Sul, aproximadamente 38 km2 de
florestas se perderam em um período de três semanas a partir da
ção (Dilley, 1997). Por exemplo, apenas 152 em cada
chegada dos refugiados. Em dezembro de 1996, mais de 600 mil
mil pessoas na África possuíam aparelhos de rádio refugiados do Burundi e de Ruanda foram alojados na região de
em 1997 (World Bank, 2000b). Kagera, no noroeste da Tanzânia. Mais de 1.200 toneladas de lenha
Com o aquecimento global, é provável que a foram consumidas a cada dia um total de 570 km2 de florestas foram
afetados, dos quais 167 km2 foram gravemente desmatados.
incidência de seca aumente em muitas partes da Áfri-
ca. A freqüência e a intensidade de ciclones e inunda- Fonte: UNHCR, 2001a

ções em algumas áreas também apresentam probabi-


lidade de aumentar, agravando os estresses relativos fora da área de ciclones, mas a elevação da tempera-
à água e à segurança alimentar e, possivelmente, con- tura do mar pode causar um aumento da intensidade
tribuindo para a ocorrência de epidemias (IPCC, 2001). dos ciclones e a expansão de sua área de ocorrência,
Por exemplo, as Seicheles se encontram atualmente abrangendo assim as ilhas (UNEP, 1999).

Referências: Capítulo 2, desastres, África

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300 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

período de 1971 a 2000; a Índia, com mais de 300


Desastres: Ásia e Pacífico desastres, teve mais de 120 mil mortes; as Filipi-
nas, com aproximadamente 300 fenômenos, perdeu
Cerca de 75% das principais catástrofes naturais do cerca de 34 mil pessoas; a Indonésia sofreu cerca
mundo entre 1970 e 1997 ocorreram na região da Ásia de 200 desastres causando mais de 15 mil mortes; e
e Pacífico, a maior parte em países em desenvolvi- Bangladesh sofreu 181 eventos, que provocaram a
mento assolados pela pobreza (UNESCAP e ADB, morte de mais de 250 mil pessoas.
2000). Tem havido uma tendência geral ascendente Algumas áreas estão mais expostas a peri-
no número de desastres naturais devido a eventos gos naturais devido a sua localização (no litoral ou
hidrometeorológicos (como ciclones e inundações) próximas a um vulcão ou falha geológica). Os ciclo-
na região, enquanto desastres geofísicos, como erup- nes ocorrem com mais freqüência no Noroeste do
ções vulcânicas, terremotos e maremotos permane- Pacífico, no extremo sul da Baía de Bengala, no leste
ceram bastante constantes (ver gráfico). da Índia e no sul de Bangladesh (UNESCAP e ADB,
1995; Ali, 1999; Huang, 1999; Kelly e Adger, 2000).
Bangladesh, China e Índia são os países da região
Desastres naturais mais propensos a inundações (Mirza e Eriksen, 1996;
A vulnerabilidade aos desastres está estreitamen- Ji e outros, 1993). As áreas montanhosas (China,
te associada à densidade populacional e aos recur- Índia, Nepal, Filipinas e Tailândia) são mais pro-
sos econômicos. O impacto dos desastres naturais pensas a deslizamentos de terra, agravados pelo
na região é grave: mais de 1,4 milhão de pessoas desmatamento e pela agricultura, que desestabi-
morreram e quase 4 bilhões foram afetadas, e os lizam as encostas. Os países ao longo de zonas
danos foram da ordem de US$ 438 milhões nas três sísmicas ou adjacentes a elas (Afeganistão, China,
últimas décadas (ver tabela). Apenas durante o Índia, Irã, Nepal, Filipinas e as Ilhas do Pacífico)
período de 1991 a 2000, o número total de mortes são mais vulneráveis a eventos sísmicos, enquan-
causadas por desastres naturais na região foi de to países ao longo da Bacia do Pacífico correm o
mais de 550 mil, ou 83% do total mundial (IFRC, risco de sofrer erupções vulcânicas, particularmen-
2001), a maior parte em países asiáticos com níveis te a Indonésia, o Japão e as Filipinas (UNESCAP e
baixos ou médios de desenvolvimento humano. ADB, 1995). O fenômeno El Niño tem impactos sig-
O maior número de mortes ocorreu no Sul da nificativos sobre amplas áreas na região, sendo a
Ásia (a sub-região com a mais alta densidade Indonésia a mais afetada (Glantz, 1999; Salafsky,
demográfica e a renda per capita mais baixa), e o 1994; Salafsky, 1998).
menor número, na Austrália e na Nova Zelândia, a
sub-região com a menor densidade demográfica e Outros desastres
com elevada renda per capita (UNPD, 2001; World A degradação e as mudanças ambientais estão se
Bank, 2001). tornando cada vez mais importantes, em relação tanto
A China sofreu mais de 300 desastres natu- à ocorrência como aos impactos de desastres natu-
rais e registrou mais de 311 mil mortes durante o rais. O desmatamento, por exemplo, agora se asso-

Impacto dos desastres naturais na Ásia e no Pacífico, 1972-2000

número de mortos número de pessoas afetadas danos


(milhares) (milhares) (US$ 1.000)
Sul da Ásia 761 2.164.034 60.881
Sudeste Asiático 73 284.074 33.570
Noroeste do Pacífico 606 1.447.643 317.174
e Leste Asiático
Ásia Central 3 4.895 986
Austrália e Nova Zelândia 1 15.761 21.900
Pacífico Sul 4 4.061 3.139

Total 1.447 3.920.467 347.649

Nota: os dados referentes à Ásia Central são de 1992/93-2000


Fonte: CRED-OFDA, 2002
DESASTRES
301

cia com freqüência a graves eventos de inundações Tendências dos desastres (número por ano): Ásia e
e deslizamentos. A exploração excessiva dos recur- Pacífico
sos hídricos já resultou em desastres ambientais sub- 500
regionais, como a dessecação do Mar de Aral na geofísicos

Ásia Central (ver box ao lado e texto abaixo). hidrometeorológicos


400
A maioria dos países da sub-região do No-
roeste do Pacífico e da Ásia Oriental e os países 300
insulares do Pacífico estarão particularmente vul-
neráveis à mudança do clima e à elevação associa- 200
da do nível do mar, porque muitos assentamentos
humanos e grande parte da infra-estrutura indus-
100
trial estão localizados em áreas costeiras ou bai-
xas. Para os pequenos países insulares em desen- 0
volvimento, a mudança do clima e eventos mete- 1971- 75 1976 - 80 1981 - 85 1986 - 90 1996 - 2000
orológicos extremos também podem ter impactos
Os desastres causados pela água e pelo tempo (desastres hidrometeo-rológicos) têm-se tornado
drásticos sobre a biodiversidade terrestre, os cul- mais freqüentes, enquanto o número de desastres geofísicos continua constante.
tivos de subsistência e as fontes florestais de ali- Fonte: CRED-OFDA, 2002
mentos (IPCC, 1998).
O rápido crescimento demográfico, a urba- disso, o rápido crescimento das indústrias em áre-
nização e o planejamento inadequado do uso da as urbanas tem induzido à migração de áreas rurais
terra são alguns dos motivos por que a população para urbanas, o que às vezes levou à exposição de
carente se desloca para áreas frágeis e de alto risco mais pessoas a perigos tecnológicos, como o de-
que ficam mais expostas aos perigos naturais. Além sastre de 1984 em Bhopal, Índia, em que o vaza-
302 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Seleção de desastres naturais: Ásia e Estar preparados: o programa de redução de


Pacífico desastres do Vietnã

julho de 1976: um terremoto na China causou O Vietnã tem uma longa tradição de mitigação dos
a morte de 242 mil pessoas efeitos de desastres. Quando a Assembléia Geral
abril de 1991: um ciclone em Bangladesh acom- das Nações Unidas designou a década de 1990 como
panhado por uma maré de tempestade provo- a Década Internacional para a Redução dos
cou 138.866 mortes Desastres Naturais, o Vietnã reagiu com a
fevereiro de 1990 e dezembro de 1991: ciclones organização de um Comitê Nacional e o
em Samoa causaram perdas equivalentes a US$ fortalecimento da função que seu Comitê Central
450 milhões, cerca de quatro vezes o PIB do país para o Controle de Inundações e Tempestades
janeiro de 1995: um terremoto em Kobe, Japão, (CCFSC) desempenha quanto à mitigação dos
tornou-se um dos desastres naturais mais efeitos de desastres. O CCFSC desenvolveu
dispendiosos da história 5.502 pessoas mor- programas, planos e medidas para a redução de
reram e mais de 1,8 milhão foram afetadas, com desastres em coordenação com outras organizações
danos calculados em US$ 131,5 bilhões relevantes, orientou a implementação de atividades
outubro de 1999: o Super Ciclone no estado relativas à mitigação dos efeitos de desastres e
oriental de Orissa, na Índia, causou mais de 10 coordenou ações com organizações internacionais
mil mortes, enquanto 15 milhões de pessoas de relevância.
ficaram desabrigadas, sem comida, abrigo ou No fim da década de 1990, o Vietnã sofreu
água, e seu gado foi devastado o ciclone pro- uma série de eventos extremos, incluindo o tufão
vocou danos em 1,8 milhão de hectares de Linda (1997) na área costeira ao sul do país. Embora
terras agrícolas e arrancou mais de 90 milhões as perdas humanas e econômicas tenham sido
de árvores trágicas, as agências em todos os âmbitos
janeiro de 2001: um terremoto de 7,7 graus na fortaleceram suas capacidades de busca e resgate,
escala Richter atingiu o estado de Gujarat, na resultando em dezenas de milhares de evacuações.
Índia, deixando um saldo de mais de 20 mil Mais de 5 mil pessoas foram salvas graças a esses
mortos e 167 mil feridos as perdas econômicas esforços. Quando o tufão minguou, o governo
foram calculadas em US$ 2,1 bilhões providenciou assistência às comunidades
pesqueiras locais. Como conseqüência desse e de
Fontes: ADPC, 2001; CRED-OFDA, 2002; DoAC India, 2002 outros desastres, o governo tomou decisões em
relação a políticas para cada parte do país, incluindo
aumentar a resistência a inundações e proteger
mento de metil isocianato de uma indústria matou áreas povoadas, por meio do fortalecimento do
sistema de diques e estruturas de desvio de
mais de 3 mil pessoas e afetou mais de 200 mil inundações no norte do Vietnã, de políticas para
(Robins, 1990). evitar e mitigar danos causados por inundações na
região central do país e da política do delta do rio
Mekong, planejada para preparar medidas para
conviver com inundações e minimizar seus danos.
Medidas em caso de desastre Em reconhecimento a essas realizações, a
Os países asiáticos estão em estágios diferentes ONU concedeu ao Vietnã o Certificado de Distinção
pela Redução de Desastres no dia 11 de outubro de
de desenvolvimento institucional com respeito à 2000, o Dia Internacional para a Redução de
redução de desastres. Alguns deles, como o Ja- Desastres.
pão, têm um sistema há muito estabelecido de ad-
Fonte: UNEP, 2001
ministração de desastres. Estimulados pela Déca-
da Internacional para a Redução de Desastres Na-
turais (IDNDR), outros países (como o Vietnã, ver
box na página 281) fortaleceram suas estruturas
existentes ou estão formulando novas (UNESCAP · o desmatamento deve ser detido;
e ADB, 1995).
Apesar de algumas realizações recentes,
· as medidas de mitigação e de preparação já
implementadas devem ser fortalecidas;
ainda restam medidas e ações significativas a se-
rem tomadas em âmbitos regional e nacional, vi-
· são necessárias ações para reduzir os níveis
de pobreza, com vistas a manter a base de re-
sando reduzir riscos e perdas resultantes de de- cursos e proteger a biodiversidade; e
sastres, a saber: · o desenvolvimento rural é um pré-requisito para
diminuir a migração de pessoas para cidades e
· o impacto da degradação ambiental precisa ser
avaliado – é de suma importância elevar a
áreas costeiras.

conscientização sobre os perigos da degrada-


ção ambiental entre os governos e a população;
DESASTRES
303

Referências: Capítulo 2, desastres, Ásia e Pacífico

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304 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Desastres: Europa O plano de ação para o Rio Reno


quanto à defesa contra inundações

Em janeiro de 1998, a XII Conferência de Ministros


Em toda a Europa ocorrem desastres que resultam de do Reno adotou um Plano de Ação para Defesa contra
perigos causados por fatores naturais e antropo- Inundações a ser implementado em vinte anos. Os
gênicos, que freqüentemente ocasionam danos objetivos mais importantes do plano são reduzir os
danos em até 10% para 2005 e em até 25% para
ambientais significativos, perdas econômicas, feri- 2020. Os níveis extremos de inundação a jusante do
mentos em seres humanos e mortes prematuras. As Alto Reno regulado devem ser reduzidos em até 30
conseqüências gerais dependem tanto da magnitude cm para 2005 e em até 70 cm para 2020. Prova-
velmente essas metas ambiciosas serão alcançadas
do evento quanto de fatores como densidade demo- apenas por meio de uma abordagem de gestão
gráfica, prevenção de desastres, medidas de prepara- integrada em âmbitos local, regional e internacional.
ção e reação aos desastres e planejamento para ca- Durante os dois últimos séculos, o Reno
sos de emergência. Em geral, a Europa sofre menos perdeu mais de 85% de suas planícies de inundação
naturais para construções e atividades agrícolas.
com os desastres do que muitos países em desenvol- Houve inundações graves em 1993 e 1995. Os danos
vimento, devido a um nível mais elevado de “capaci- que poderiam ser causados nas áreas em risco de
dade de lidar com as conseqüências dos desastres” inundações podem ser equivalentes a 1,5 trilhão de
euros. As medidas de resposta, como a preservação
em termos da capacidade do governo de preparar-se e a expansão de planícies de inundação e um melhor
Lothar,
a primeira
e reagir em caso de desastres. armazenamento de água em toda a área da bacia
de duas hidrográfica, devem visar a melhoria ecológica do
tempestades Reno, de seu vale e de sua bacia hidrográfica.
intensas que
passaram pela
Desastres naturais
Europa Ocidental Na Europa, os desastres naturais mais comuns são Fonte: ICPR, 2001
nos dias 26-27 de
dezembro de tempestades e inundações, embora de fato ocorram
1999, causou
sérios danos. Essa terremotos em alguns países. Tempestades e inunda-
imagem mostra a
tempestade
ções também são os desastres mais dispendiosos em lhões de euros. Um dos piores anos da história em
passando pela termos de perdas econômicas e seguradas. As tem- termos de danos causados por inundações foi o de
Europa às 12.00
UTC do dia 26 de pestades de vento Lothar e Martin, que ocorreram em 2000, correspondente a quase um quarto do total de
dezembro; a costa
do Norte da África dezembro de 1999, custaram cerca de 5 bilhões de US$ 10,6 bilhões de custos segurados (Swiss Re,
aparece delinea-
da abaixo. euros devido a danos a cultivos, florestas e infra-es- 2001). Nos últimos anos, muitos países europeus so-
Fonte: copyright
trutura, enquanto o custo dos danos causados por freram intensidade e duração de precipitações anor-
EUMETSAT, 2002
inundações entre 1991 e 1995 foi calculado em 99 bi- malmente elevadas, principalmente nos meses de in-
verno, o que ocasionou inundações na República
Checa, na França, na Alemanha, na Hungria, na Itália,
em Portugal, na Suíça, na Ucrânia e no Reino Unido.
Entre 1971 e 1996, 163 grandes inundações ocorreram
na Europa. Os principais fatores que induzem ou in-
tensificam as inundações e seus impactos incluem a
mudança do clima, a impermeabilização do solo, mu-
danças no uso das terras de bacias hidrográficas e de
planícies de inundação, o crescimento demográfico,
a urbanização e assentamentos crescentes, a cons-
trução de estradas e ferrovias e, às vezes, medidas de
engenharia hidráulica (EEA, 2001a).
Incêndios florestais e secas são um proble-
ma nos países ao sul, ao longo da costa do Mediter-
râneo (Croácia, França, Grécia, Itália, Eslovênia e
Espanha), e os incêndios também são comuns na
região da Sibéria na Federação Russa, onde a reces-
são econômica causou um sério declínio da capaci-
dade de reação das autoridades e das equipes lo-
cais de combate a incêndios florestais. A cada ano,
centenas de milhares de hectares de florestas de tai-
ga se perdem em virtude de incêndios. Cerca de 80%
DESASTRES
305

dos incêndios florestais são conseqüência do desco-


nhecimento das pessoas em relação às normas de se-
gurança contra incêndios.
O número médio anual de desastres naturais
parece estar crescendo, e, desde o fim da década de
1980, também tem havido um aumento dos impactos
desses desastres e das perdas econômicas a eles as-
sociadas, ao menos na União Européia (EEA, 1999).
Por exemplo, na fronteira da Alemanha com a França,
as águas de cheia do Rio Reno subiram mais de 7
metros acima do nível de inundação cerca de uma vez
a cada vinte anos entre 1900 e 1977. A partir de 1977,
esse nível foi alcançado, em média, uma vez a cada
dois anos (UWIN, 1996). Têm sido implementadas
ações e medidas, tanto no âmbito nacional como no
regional, para reduzir os impactos dos desastres na-
Um helicóptero joga
turais (ver box à esquerda), embora não haja uma po- ráveis e suficientemente detalhadas. Uma ampla cam- água sobre um dos
incêndios florestais
lítica específica. O planejamento integrado do uso da panha para aumentar a segurança de novos reatores que periodicamente
assolam os países
terra pode, até certo ponto, evitar os impactos sobre nucleares civis e dos que estão em funcionamento, do sul da Europa,
como Croácia,
os seres humanos. Planos de reação em caso de emer- principalmente nos países da Europa Central e do França, Grécia,
gência foram elaborados por toda a União Européia Leste Europeu, foi impulsionada pelo acidente nu- Itália, Eslovênia e
Espanha; os
com o objetivo de reagir ante diversos desastres na- clear de 1986 em Chernobyl, na antiga União Sovié- incêndios também
são comuns na
turais, mas tais planos parecem ser ad hoc, em geral tica. Foram alocados recursos significativos para au- região da Sibéria,
na Federação Russa
não testados, e considera-se improvável que funcio- mentar a segurança nuclear em usinas de processa-
Fonte: UNEP, Rougier,
nem bem na prática (EEA, 1999). mento nuclear (por exemplo, a Comissão Européia Topham Picturepoint
gastou 838 milhões de euros entre 1991 e 1998) (EC,
Principais desastres causados por 2001). Contudo, um fator que complica a questão é a
atividades antrópicas deterioração crescente das usinas de energia nuclear
Na Europa, os desastres causados por atividades
antrópicas provocam mais fatalidades humanas e per- Baia Mare: a análise de um acidente
das econômicas do que os desastres naturais. Ape- em uma mina
sar dos elevados níveis gerais de tecnologia e segu-
Às 22 horas do dia 30 de janeiro de 2000, caiu o muro
rança na Europa, o número de acidentes industriais de uma represa de uma usina de recuperação de
na União Européia continua subindo (EC, sem data). refugo de mina em Baia Mare, no noroeste da
Em 1997, houve 37 grandes acidentes industriais – o Romênia, derramando 100 mil m3 de águas residuais
poluídas com cianureto no Rio Tisa, que logo
número anual mais alto desde que os registros tive- chegaram ao Danúbio e finalmente no Mar Negro,
ram início, em 1985 (EEA, 1999). Em contraste com os quando então tinha se tornado bastante diluído. O
acidentes em instalações fixas, os acidentes com gran- derramamento devastou uma grande quantidade de
espécies da flora e da fauna silvestres nos sistemas
des derramamentos de petróleo de transportes mari- fluviais.
nhos e instalações em alto-mar apresentaram uma ten- A Força Tarefa de Baia Mare, estabelecida para
dência de diminuição (ITOPF, 2000), embora o núme- investigar o caso, relatou que as falhas no
planejamento da usina em operação, inclusive a
ro total de derramamentos de petróleo pareça estar construção inadequada das represas, contribuiu para
aumentando (EEA, 2001b). o acidente. Acredita-se que o problema principal
É provável que o risco geral de acidentes nu- tenha sido a ineficiência das autoridades
responsáveis pela concessão de licenças e pela
cleares tenha aumentado na década de 1970 à medida
aplicação de normas. O processo de licenciamento era
que mais usinas entraram em funcionamento, mas deve extremamente complexo, e a Força Tarefa concluiu
ter diminuído na década de 1990 conforme usinas an- que a avaliação original do impacto ambiental
tigas foram desativadas e a construção de novas usi- continha erros. Além disso, não foram estabelecidas
medidas para lidar com situações de emergência, e o
nas diminuiu ou foi completamente abandonada de- monitoramento do nível da água no depósito de
vido à pressão da população. No entanto, não é pos- decantação do refugo no local em que a represa ruiu
sível quantificar o risco de liberações acidentais de era inadequado.
radionuclídeos devido à falta de informações compa- Fonte: BMTF, 2000
306 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

mais antigas da Federação Russa e da Lituânia, que tema de Relatório de Acidentes Maiores (Major
foram construídas de acordo com um planejamento Accident Reporting System – MARS) e o banco de
similar ao do reator de Chernobyl. dados do Sistema de Recuperação de Informações
As análises de grandes acidentes industriais sobre as Usinas Seveso (Seveso Plants Information
indicam que as falhas de componentes e os erros Retrieval System) são ferramentas práticas que aju-
humanos são as duas causas imediatas mais comuns, dam os países a tomarem decisões quanto à admi-
mas as principais causas latentes identificadas fo- nistração do risco.
ram a segurança e a gestão ambiental inadequadas Em geral, as informações sobre a extensão e a
(Drogaris, 1993; Rasmussen, 1996). O tempo de exis- localização de perigos tecnológicos estão melhoran-
tência das usinas de processamento é mais um fator, do. Os planos de reação em caso de emergência ago-
já que, quanto maior, há mais probabilidades de fa- ra podem ser elaborados para acidentes tecnológicos,
lhas por “desgaste” (M&M Protection Consultants, mas ainda são necessários mais esforços para reduzir
1997). A falta de investimentos em segurança e ges- os riscos (EEA, 1999).
tão ambiental e o funcionamento de usinas após o Uma vez que a poluição não cessa em frontei-
término de sua vida útil são, freqüentemente, resul- ras políticas, um dos acordos multilaterais mais impor-
tado da pressão dos acionistas que desejam aumen- tantes a esse respeito é a Convenção de Helsinque de
tar a lucratividade, embora essa pressão possa re- 1992 para a Proteção e Uso de Cursos de Água Trans-
sultar em grandes perdas a longo prazo. No entanto, fronteiriços e Lagos Internacionais, que entrou em vi-
também revelam lacunas no regulamento e no monito- gor em 1996. Essa convenção inclui exigências para
ramento. O acidente na mina de Baia Mare, na Romê- conduzir avaliações de impacto ambiental (EIAs) e
nia, em janeiro de 2000, serviu como um lembrete para notificar estados a jusante sobre acidentes, e ain-
bastante sério das deficiências de aplicação das nor- da reforça o princípio “poluidor-pagador”. A Conven-
mas ambientais nos países do Leste Europeu (ver ção de 1991 sobre Avaliação de Impacto Ambiental em
box na página anterior). Contextos Transfronteiriços, que entrou em vigor em
1997, exige que as partes notifiquem e consultem umas
Políticas de resposta às outras sobre todos os grandes projetos em anda-
Para muitos desastres tecnológicos, as abordagens mento que sejam perigosos em potencial (ECE, 1991).
holísticas estão se tornando mais predominantes, com Está sendo considerada uma abordagem inovadora em
crescente atenção à redução do risco de impactos relação a um protocolo conjunto sobre responsabili-
ambientais a longo prazo, bem como à redução de da- dade proposto de acordo com a Convenção de Helsin-
nos sérios à saúde e à propriedade causados por aci- que e a Convenção sobre os Efeitos Transfronteiriços
dentes (EEA, 1999). É de suma importância a esse res- de Acidentes Industriais (REC, 2000).
peito a diretriz da Comissão Européia sobre o contro- A maioria dos países europeus é parte desses
le de grandes desastres acidentais envolvendo subs- tratados multilaterais, e a cooperação internacional
tâncias perigosas (freqüentemente referida como “Di- de acordo com suas cláusulas ajuda os governos a
retriz Seveso II”), agora também incorporada ao sis- melhorarem as políticas nacionais quanto à preven-
tema jurídico da maioria dos países da Europa Central ção e à mitigação de desastres causados por ativida-
e do Leste Europeu. O banco de dados de seu Sis- des antrópicas.

Referências: Capítulo 2, desastres, Europa


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DESASTRES
307

Desastres: América Latina e Caribe O fenômeno El Niño e as doenças epidêmicas

As variações cíclicas da temperatura e das precipitações associadas ao


Na região da América Latina e Caribe, os principais El Niño são de importância particular, uma vez que podem favorecer o
desenvolvimento e a proliferação de vetores de doenças epidêmicas,
perigos naturais são secas, furacões, ciclones, tem- como a malária, a dengue, a febre amarela e a peste bubônica (WHO,
pestades tropicais, inundações, maremotos, avalan- 1999). Na América do Sul, as epidemias mais graves de malária
ches, deslizamentos de terra e de lama, terremotos e ocorrem geralmente um ano após o início do El Niño, associadas a um
aumento nas precipitações (como em 1983, na Bolívia, no Equador e
atividade vulcânica. Os acidentes associados à mine- no Peru) ou a uma redução nas precipitações e no escoamento (como
ração e a derramamentos de petróleo representam os na Colômbia e na Venezuela).
Sugeriu-se uma associação similar entre o aquecimento das
principais desastres causados por atividades an-
águas oceânicas superficiais provocado pelo El Niño, a proliferação de
trópicas na região. algas marinhas e o aparecimento do cólera na América do Sul em
Registrou-se um total de 65.260 mortes em vir- 1992. O impacto de níveis extremos de precipitações (tanto
excessivas como escassas) é igualmente importante na propagação
tude de desastres naturais na região durante a déca- de doenças transmitidas pela água, como o cólera, infecções
da de 1990. As mortes resultaram principalmente de gastrointestinais e vários tipos de diarréia. Houve epidemias de cólera
inundações (54%), epidemias (18,4%), tempestades, em 1997-1998 em Honduras, na Nicarágua e no Peru, relacionadas ao
aumento nos níveis de precipitação em conseqüência do El Niño
ciclones e furacões (17,7%), terremotos (5,2%) e (WHO, 1999; PAHO, 1998).
deslizamentos de terra (3,2%) (CRED-OFDA, 2002).
Considerando o fato de que as inundações e os des-
lizamentos de terra são freqüentemente associados a na costa do Atlântico como na do Pacífico. O Furacão
tempestades e furacões, os números indicam que três Mitch, que atingiu a região em 1998, afetando prin-
quartos do total de perdas humanas devido a desas- cipalmente Honduras e Nicarágua, provocou a morte
tres naturais na região têm origem hidrometeorológica. de mais de 17 mil pessoas e deixou 3 milhões desa-
O número de mortes causadas por desastres brigadas; os danos foram calculados em US$ 3 bi-
caiu consideravelmente entre 1972 e 1999, coinci- lhões. O furacão também causou mortes e sérios da-
dindo com a tendência global. O total de fatalidades nos ambientais e econômicos na Costa Rica, na Re-
na década de 1990 foi menor do que um terço do re- pública Dominicana, em El Salvador e na Guatemala
gistrado na década de 1970, enquanto o número de (CRED-OFDA, 2002).
pessoas feridas caiu para quase a metade (após au- As inundações ocorridas em 1999 na costa
mentar em aproximadamente 30% na década de 1980) norte da Venezuela também tiveram um forte impacto,
(CEPAL, 1999). Essa tendência pode ser explicada com prejuízos estimados em mais de US$ 3,2 bilhões
pela ocorrência de menos terremotos graves em áre- ou 3,3% do PIB do país (World Bank, 2000). No esta-
as densamente povoadas ou altamente vulneráveis, do de Vargas, a área mais atingida, perderam-se mais
bem como pelo estabelecimento de sistemas de aler- de 230 mil empregos. O estado de Miranda também
ta antecipado e medidas de preparação para casos foi cruelmente atingido: a represa de El Guapo ruiu,
de desastre em alguns países nos últimos trinta anos causando escassez de água, e registrou-se que 60%
(PAHO, 1998). As perdas econômicas causadas por
desastres aumentaram quase 230% entre as déca-
das de 1960 e 1990 (CEPAL, 1999), novamente refle-
tindo uma tendência global.

Eventos hidrometeorológicos
O evento hidrometeorológico mais conhecido é o fe-
nômeno El Niño, cujos impactos podem ser graves.
Por exemplo, após a ocorrência do El Niño em 1983, o
PIB do Peru caiu em 12%, principalmente devido a
uma redução na produção agrícola e na indústria pes-
queira. A economia nacional levou uma década para
se recuperar. Os danos nos países da Comunidade
Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela)
causados pelo El Niño de 1997/1998 foram calculados
em mais de US$ 7,5 bilhões (CEPAL, 1999).
A maioria dos países da América Central e do
Caribe se encontra dentro da zona de furacões, tanto Fonte: UNICEF, 2001
308 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

da safra foi perdida (MoPD Venezuela, 2000). Estima- mento da exploração do mineral. Somente na Bacia do
se que tenha havido 30 mil mortes, 30 mil famílias Caroni, 3 mil quilos de mercúrio foram despejados, e
desabrigadas e mais de 81 mil habitações destruídas um derramamento de 1,5 milhão de toneladas de resí-
(IFRC, 2002). duos poluídos com cianureto foi registrado nos Rios
Omai e Esequibo na vizinha Guiana (Filártiga e Agüero
Eventos geológicos Wagner, 2001; AMIGRANSA, 1997). O maior derra-
As atividades sísmicas e tectônicas são particular- mamento de petróleo na região foi o originado de uma
mente intensas ao longo da costa do Oceano Pacífico explosão submarina de petróleo no poço Ixtoc na Baía
e na bacia do Caribe por causa de pressões geradas de Campeche em 1979, o segundo maior registrado
entre as placas oceânicas e continentais. Essa ativi- no mundo, com mais de 500 mil toneladas (Cutter
dade apresenta um risco relativamente alto de terre- Information Corp, 2000).
motos, maremotos e erupções vulcânicas que, em al-
gumas áreas, agravam o risco já elevado de furacões Políticas de resposta
e inundações. Entre 1972 e 1999, os eventos geológi- Muitos países, principalmente os localizados em ilhas,
cos extremos provocaram a morte de 65.503 pessoas são vulneráveis a desastres naturais (ver tabela). En-
e afetaram outras 4,4 milhões (CRED-OFDA, 2002). tre os principais motivos de preocupação quanto às
políticas, vale citar os seguintes (UNEP, 1999):
Desastres causados por atividades
antrópicas • deficiência na prevenção de desastres, incluindo
Certos desastres, como derramamentos de substân- a falta de zoneamento de áreas vulneráveis du-
cias químicas perigosas e produtos derivados de pe- rante o processo de planejamento do desenvol-
tróleo, têm origem tecnológica. No delta do Rio vimento;
Orinoco e nas regiões vizinhas da Venezuela, por exem- • mecanismos ineficientes de mitigação;
plo, o uso de cianureto e mercúrio na extração de ou- • deficiência e uso limitado de medidas de constru-
ro aumentou 500% na última década com o cresci- ção anti-sísmicas, assim como organização admi-
nistrativa e recursos humanos; inadequados para
a aplicação de tais medidas;
Vulnerabilidade dos países do Caribe aos • inexistência de apólices de seguro para famílias
perigos naturais de baixa renda; e
furacões terremotos vulcões enchentes secas
• sistemas inadequados de apoio às comunidades
afetadas.
Antígua e Barbuda

Bahamas É essencial melhorar a gestão para reduzir os


Barbados desastres, principalmente implementar ações não es-
Belize truturais de mitigação, mediante a utilização de meca-
Cuba nismos naturais. Por exemplo, as áreas úmidas redu-
Dominica
zem as inundações, as florestas diminuem os desli-
República Dominicana
zamentos de terra e os manguezais atenuam o efeito
de tempestades costeiras e marés extremas. Em geral,
Granada
o bom uso da terra mantém os ecossistemas saudá-
Guiana
veis, fornece recursos e facilita as ações não-estrutu-
Haiti
rais de mitigação. Essa estratégia é particularmente
Jamaica
atraente em países em que o seguro contra riscos e a
São Cristóvão e Nevis mitigação estrutural são dispendiosos.
Santa Lúcia Dada a enorme carga econômica, social e am-
São Vicente e Granadinas biental dos desastres, foi atribuída uma atenção con-
Suriname siderável, na última década, à preparação para
Trinidad e Tobago casos de desastre, sua avaliação e mitigação. Muitas
das ações foram realizadas no contexto da Década
Internacional para a Redução de Desastres Naturais
(IDNDR). Em âmbito regional, sua ordem de promo-
alta vulnerabilidade média vulnerabilidade baixa vulnerabilidade
ver a cooperação internacional nessa área teve o
apoio da Conferência Interamericana sobre Redução
DESASTRES
309

de Desastres Naturais, realizada em Cartagena, em cionais. Um item fundamental é fortalecer e padroni-


março de 1994. zar métodos de produção de dados em âmbito regio-
Diversos países da região, como Brasil, Cos- nal, não apenas para evitar inconsistências durante
ta Rica, Cuba, Chile, Colômbia, Guatemala, Nicará- casos de emergência, mas também para avaliar as per-
gua e Panamá, criaram e fortaleceram instituições das. São igualmente relevantes os esforços para iden-
nacionais na área de administração de desastres. Tais tificar a vulnerabilidade dos territórios e das popula-
instituições incluem o Centro para a Coordenação para ções quando enfrentam perigos naturais e causados
a Prevenção dos Desastres Naturais na América Cen- por atividades antrópicas (ver box). As medidas pre-
tral, estabelecido em 1988, e a Agência Caribenha de ponderantes em caso de desastres referem-se à admi-
Resposta de Emergência em Caso de Desastre, esta- nistração do risco, que possui um elemento crescen-
belecida em 1991. Sob os auspícios da Organização te de participação local e comunitária e utiliza de for-
dos Estados Americanos, a Convenção Interame- ma não centralizada as organizações não governa-
ricana para Facilitar a Assistência em Caso de De- mentais e os grupos de cidadãos. Dentro dessa es-
sastre foi adotada em 1991 e entrou em vigor em 1996 trutura, surge uma nova visão: o processo de desen-
(PAHO, 1998). volvimento deve reduzir o risco, por meio da diminui-
A experiência mostrou os efeitos positivos do ção da vulnerabilidade social, econômica e ambiental
planejamento e da criação de competências institu- das populações e dos territórios.

Referências: Capítulo 2, desastres, América Latina e Caribe

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310 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Desastres: América do Norte

Perigos naturais, como terremotos, erupções vulcâ-


nicas, tornados, furacões, tempestades de neve, se-
cas, tempestades de areia e outros eventos extre-
mos, ameaçam diferentes partes da América do Nor-
te. Inundações e incêndios florestais também são
motivos prioritários de preocupação. Os governos
da região implementaram muitos mecanismos de res-
posta para evitar e atenuar os danos causados por
tais fatores. Apesar de normas firmes que regulam o
manejo de material perigoso, acidentes graves ocor-
rem ocasionalmente, os quais induzem à elaboração
de mais leis preventivas.

Inundações e mudança do clima


Acredita-se que a interrupção e a intensificação do
ciclo hidrológico da Terra seja um dos efeitos fun-
damentais da mudança do clima (White House,
2000). É possível que já ocorram mudanças nas con-
dições hidrológicas da América do Norte, conforme
No Canadá (como demonstrado pelo aumento nos níveis anuais médi-
nos Estados
Unidos), a os de precipitação nos últimos trinta anos (ver grá-
precipitação anual
(média móvel,
fico). Nos Estados Unidos, o nível médio de umida-
linha sólida) tem de na atmosfera aumentou 5% por década entre 1973
estado, nos
últimos períodos e 1993 (Trenberth, 1999). A maior parte desse au-
observados,
acima da média de mento se deve a chuvas mais intensas que resulta-
1951-80.
ram em inundações e tempestades (O’Meara, 1997;
Fonte: EC, 1998 a
Easterling e outros, 2000).

hidrográficas, mas também podem ser destrutivas e


Mudanças na média de precipitação anual (em mm):
causar prejuízos econômicos (ver box acima). Em res-
Canadá
posta a esses eventos, os Estados Unidos aprova-
15 ram a Lei Nacional de Seguro contra Inundações
10
(National Flood Insurance Act), de 1968, e a Lei de
Ajuda em Caso de Desastres (Disaster Relief Act), de
5 1974. Muitas das responsabilidades separadas e frag-
0
mentadas de programas paralelos de ação em caso de
desastre, em âmbito tanto estadual como local, foram
-5 fundidas em 1979 na Agência Federal de Administra-
-10 ção de Emergências (Federal Emergency Management
Agency) (FEMA 1999). Em 1975, o Canadá implemen-
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tou o Programa de Redução de Danos Causados por


Inundações (Flood Damage Reduction Program –
Durante as décadas de 1960 e 1970, mais de FDRP) e, em 1988, estabeleceu a Defesa Civil do Ca-
90% dos desastres naturais nos Estados Unidos fo- nadá (Emergency Preparedness Canada – EPC) (EC,
ram o resultado de eventos meteorológicos ou climá- 2000). Esses programas ofereceram melhores medi-
ticos extremos (Changnon e Easterling, 2000). As inun- das de mitigação, preparação, resposta e recupera-
dações são naturais e essenciais à saúde das bacias ção em matéria de inundações.
DESASTRES
311

As evidências demonstram que as mortes e A Comissão Internacional dos Grandes La-


os danos provocados por inundações aumentaram gos (IJC) auxilia os dois governos a administrar suas
drasticamente desde o início da década de 1970 águas compartilhadas. Em um relatório sobre a inun-
(USGRP, 2000). Mais pessoas e seus assentamentos dação do Rio Vermelho ocorrida em 1997, advertia-
estão expostos a inundações em virtude do aumen- se que, considerando o iminente aumento das inun-
to e da concentração da população, assim como do dações devido à mudança do clima, uma estratégia
aumento da prosperidade econômica (Easterling e binacional abrangente deveria ser elaborada e
outros, 2000). A tendência de estabelecer assenta- implementada (IJC, 2000).
mentos em áreas propensas a inundações também é
influenciada pela percepção de que o risco diminuiu Incêndios florestais
graças a estruturas de proteção, como represas, di- Os incêndios florestais são uma parte natural da pai-
ques e desvios, e por causa da disponibilidade de sagem da América do Norte e desempenham uma
socorro em caso de desastre (Brun e outros, 1997; função importante ao manter e regenerar alguns ti-
Bruce e outros, 1999). pos de florestas (NIFC, 2000). Os incêndios provo-
As estruturas que evitam a inundação de rios cados por raios são úteis para eliminar árvores ve-
freqüentemente provocam inundações extremamente lhas e mortas, que são rapidamente substituídas por
danosas quando a água finalmente transborda (ver árvores novas e fortes (CCFM, 2000). Esses incên-
box na página ao lado). Na década de 1990, os Esta- dios abrem espaço a novas mudas, ajudam a aumen-
dos Unidos, país sujeito a eventos meteorológicos tar a diversidade, eliminam os restos e elevam a dis-
mais freqüentes e graves do que o Canadá, começa- ponibilidade de nutrientes (Jardine, 1994).
ram a promover abordagens não-estruturais para a Desde a década de 1970, a área anual queima-
prevenção de inundações, como projetos de reas- da por incêndios florestais aumentou (ver gráfico).
sentamentos e recuperação de áreas úmidas. No Ca- O aumento se deu por uma série de fatores: a acu-
nadá, promoveu-se o desestímulo a assentamentos mulação de combustível de programas anteriores de
em áreas propensas a inundações, por meio de
mapeamento e indicação de mais de 320 áreas com Superfície florestal queimada
risco de inundações (EC, 1998b). O país estabeleceu (milhões ha/ano): América do Norte
a Agência de Infra-estrutura Crítica e Preparação para
10
Casos de Emergência (Office of Critical Infrastructure Desde que as
and Emergency Preparedness – OCIPEP) em 2001, 8 autoridades
decidiram deixar
com o objetivo de elaborar e implementar uma abor- que os incêndios
6 espontâneos se
dagem mais abrangente à prevenção de desastres extinguissem
naturalmente, as
(OCIPEP, 2001). 4 áreas de
florestas
De acordo com alguns modelos de mudança queimadas têm
2
do clima, prevê-se o aumento da magnitude, da fre- aumentado a
cada ano.
qüência e do custo de eventos hidrológicos extremos 0
Fonte: CCFM, 2000;
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em algumas regiões da América do Norte (USGCRP, CIFCC, 2001 e


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NIFC, 2000
2000). Os efeitos previstos da mudança climática in-
cluem as mudanças no fenômeno El Niño. Acredita-
se que um evento El Niño extraordinariamente forte proteção contra incêndios; mudanças nas políticas
ocorrido em 1997-1998 tenha sido responsável por relativas à queimada controlada; e maior acesso do
inundações graves na Flórida, na Califórnia, em al- público às florestas. A mudança do clima também
guns estados da região central dos Estados Unidos está envolvida. A importância relativa desses fato-
e em partes do estado de New England (Trenberth, res é polêmica.
1999). Nos lugares em que as tempestades se inten- Há muito tempo os Estados Unidos aplicam
sificam e as inundações aumentam, há um maior po- uma política agressiva de extinção de incêndios, e,
tencial de danos em assentamentos localizados em até a década de 1970, os incêndios eram mantidos
áreas baixas e nas instalações portuárias e de em cerca de 2 milhões de hectares por ano nos 48
atracamento, assim como aumenta o potencial de estados mais baixos, em comparação aos 16 milhões
problemas com a distribuição de água e com os sis- de hectares queimados a cada ano na década de
temas de esgoto, o que pode trazer prejuízos à saú- 1930 (Booth, 2000; CEQ, 2000; H. John Heinz III
de (EC, 1999a). Center, 2001).
312 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Conseqüentemente, as espécies normalmen- a incêndio mais dispendioso da história dos Esta-


te eliminadas pelos incêndios tornaram-se dominan- dos Unidos (NPS, 2000).
tes. As árvores mortas ficaram acumuladas durante O desafio do manejo de incêndios florestais
períodos de seca, criando cargas excessivas de com- tem sido agravado pelos aumentos demográficos
bustível. A extinção dos incêndios evitou que in- próximos a áreas propensas a incêndios. Calcula-se
cêndios naturais de baixa intensidade queimassem que na década de 1990 os incêndios tenham danifi-
esse combustível acumulado. O resultado foi a ocor- cado seis vezes mais casas do que na década anteri-
rência de incêndios cada vez maiores e mais desas- or (Morrison e outros, 2000). Os incêndios flores-
trosos (CEQ, 2000). tais também provocam muita fumaça, e algumas ro-
A importância dos incêndios naturais perió- dovias, aeroportos e áreas de recreação devem en-
dicos começou a ser reconhecida na década de 1970. cerrar suas atividades periodicamente devido à visi-
As políticas dos Estados Unidos de extinguir todos bilidade reduzida. A fumaça também constitui um
os incêndios antes que atingissem uma área de 4 perigo à saúde, devido às substâncias químicas tó-
hectares até as 10 horas da manhã do dia seguinte xicas que contém.
foram suspensas no final dessa década (Gorte, 1996). É possível que as mudanças climáticas passí-
Decidiu-se não interferir nos incêndios em áreas sil- veis de provocar condições meteorológicas mais se-
vestres ou parques nacionais, a menos que houves- cas e tempestades mais graves também tenham um
se ameaça a pessoas ou a terras vizinhas (COTF, papel na mudança dos padrões de incêndios. Em 1989,
2000; Turner, 2001). Além disso, implementaram-se por exemplo, incêndios sem precedentes ocorreram no
queimadas controladas e políticas de “deixar que se oeste do Canadá e nas áreas a leste da Baía de James.
extinga” para reduzir o combustível acumulado e Foram causados por condições meteorológicas inco-
proteger assentamentos e empresas. Esses incêndi- muns e por uma onda de calor inédita no Ártico (Jardi-
os são provocados propositadamente ou ocorrem ne, 1994; Flannigan e outros, 2000). A gravidade do
por raios, e permite-se que se extingam por si só. A período de incêndios de 1995 no Canadá, que queimou
cada ano, mais de 2 milhões de hectares recebem 6,6 milhões de hectares de florestas, deveu-se parcial-
tratamento de queimadas controladas nos Estados mente também a condições meteorológicas extrema-
Unidos (Mutch, 1997). mente secas (EC, 1999b).
No entanto, essas políticas não estiveram li- No futuro, o índice anual de gravidade de
vres de polêmica. Em 1988, permitiu-se que partes incêndios na América do Norte tem grande possibi-
do Yellowstone – o maior Parque Nacional dos Esta- lidade de aumentar em função da mudança do clima.
dos Unidos – fossem queimadas após serem atingi- Acredita-se que a mudança climática aumentará o
das por um raio. Os incêndios se espalharam rapida- número de raios, bem como a intensidade e a fre-
mente por causa de uma grave seca de verão e ven- qüência das tempestades de vento (Jardine, 1994).
tos fortes. Por fim, decidiu-se extinguir os incêndi- Estão sendo intensificadas as pesquisas sobre as
os. Ao custo de US$ 120 milhões, esse foi o combate associações entre a mudança climática e a florestal.

Referências: Capítulo 2, desastres, América do Norte

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314 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

em comparação ao ano anterior e 40% em compara-


Desastres: Ásia Ocidental ção à produção média dos cinco anos anteriores (FAO,
1999). Um relatório de uma missão da FAO/ WRP na
A Ásia Ocidental é árida e vulnerável a secas, e as Síria declarou que uma grande parte da população de
chuvas são escassas e variáveis (ACSAD, 1997). Apro- pastores nômades enfrentava a “ruína financeira”,
ximadamente 80% da região é classificada como com 4.700 famílias gravemente vulneráveis à escas-
semidesértica ou desértica (AOAD, 1995). A seca é o sez de alimentos, necessitando de assistência alimen-
desastre natural mais importante da região. tar com urgência. A produção de cereais também foi
seriamente afetada. Calculou-se que a safra de ceva-
Seca da foi de apenas 380 mil toneladas – menos da metade
Aparentemente, os níveis de precipitação estão cain- do total de 1998 e 72% a menos do que a média anual
do em alguns países da costa do Mar Mediterrâneo. dos cinco anos anteriores. As necessidades locais
Nos últimos cem anos, os níveis de precipitação caí- tiveram de ser atendidas por meio de importações. O
ram mais de 5% em grande parte do território ao longo declínio na produção de trigo foi menos grave (28%
do Mediterrâneo, com poucas exceções, como a Líbia abaixo da média), porque 40% dos campos de trigo da
e a Tunísia (IPCC, 1996). A região sofreu períodos de Síria são irrigados. A Jordânia também sofreu os efei-
seca durante as décadas de 1930, 1960 e 1990. Nos tos negativos da seca, que em 1999 reduziu a produ-
A seca de 1998- invernos de 1991-1992 e de 1992-1993, foi raro nevar ção de trigo e cevada do país em 88% (WFP, 2001).
1999 nos países do
Mashreq teve em muitas áreas do Mediterrâneo oriental (WMO e A seca traz problemas econômicos, sociais e
graves efeitos na
criação ovina e em UNEP, 1994). Os ciclos de seca tornaram-se intensos ambientais. As dificuldades econômicas se intensifi-
seus proprietários –
muitos pastores
e mais freqüentes. A seca de 1998-1999 afetou muitos cam durante a seca e podem levar a conflitos sociais
foram forçados a países, e a Síria foi a mais atingida, sofrendo sua pior entre usuários da terra, principalmente nos países do
vender seus
rebanhos por seca em vinte e cinco anos (FAO, 1999). Mashreq e no Iêmen, onde prevalece uma economia
preços baixos por
falta de pastagens. Os efeitos mais diretos da seca foram más co- baseada na agricultura. A seca também é um dos prin-
Fonte: UNEP, Topham lheitas e declínio na produção de cereais e gado. No cipais fatores que limitam o desenvolvimento econô-
Picturepoint
Iraque, por exemplo, a produção de cereais caiu 20% mico da região, já que afeta o desenvolvimento dos
DESASTRES
315

sistemas agrícola e hídrico e, em última análise, a pro-


dução de alimentos.
A forragem se torna escassa nas terras de pas-
tagem durante os períodos de seca. Além disso, o
declínio na produção de cereais e a disponibilidade
limitada de resíduos de safras agravam o impacto da
seca sobre o gado ovino e, conseqüentemente, sobre
o bem-estar humano. A perda de ovelhas e o alto pre-
ço da alimentação complementar levaram a uma que-
da significativa das rendas dos agricultores, e muitas
famílias foram forçadas a vender seus animais e ou-
tros bens a preços baixos (FAO, 1999).
A degradação da terra, principalmente na for-
ma de desertificação, é um dos problemas mais sérios
da região. Embora a desertificação seja freqüentemente
atribuída a práticas inadequadas de uso da terra, a
seca agrava o efeito e estende a superfície propensa
à desertificação, abrangendo áreas que normalmente
não correm esse risco. Os declínios da cobertura ve-
getal devido à seca também podem aumentar a ero-
são e levar a uma perda quase irreversível do potenci- Todavia, o maior derramamento de petróleo Alguns dos 600
poços de petróleo
al produtivo e, subseqüentemente, à desertificação ocorreu em janeiro-fevereiro de 1991, durante a Guer- incendiados
deliberadamente
(Le Houérou, 1993; Parton e outros, 1993). ra do Golfo (1990-1991), quando 9,5 bilhões de litros durante a
segunda Guerra
As nações reagiram à seca melhorando os es- de petróleo foram vertidos propositadamente no de- do Golfo em
janeiro de 1999.
forços nacionais de combate à desertificação e inte- serto. Calcula-se que 1,5 bilhão de litros de petróleo
grando-se aos esforços internacionais com o mesmo tenham sido jogados nas águas do Golfo e que mais Fonte: UNEP, Sandro
Pintras, Topham
objetivo, como a Convenção das Nações Unidas de de 600 poços de petróleo no Kuwait tenham sido in- Picturepoint

Combate à Desertificação. Sob o patrocínio desse tra- cendiados (Bennett, 1995). Esse desastre antro-
tado internacional, foram desenvolvidos programas pogênico teve imensos impactos sobre o meio ambi-
de ação nacional, e, em 2000, foi adotado um progra- ente e a saúde humana. Os efeitos ambientais de lon-
ma de ação sub-regional de combate à desertificação go prazo da Guerra do Golfo podem persistir por dé-
e à seca (UNCCD, 2001). cadas (UNEP, 1991). Além da poluição terrestre e ma-
Em âmbito nacional, as ações e as medidas rinha, quantidades incríveis de poluentes como
adotadas incluem modificar as políticas agrícolas e dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, monóxido
hídricas e dar prioridade às áreas afetadas pela seca. de carbono e material particulado foram emitidos pe-
los poços de petróleo incendiados. Os elevados ní-
veis de partículas em suspensão foram associados a
Desastres causados por atividades
uma reação alérgica nas pessoas. Estudos hospitala-
antrópicas res indicam que cerca de 18% da população civil do
Os desastres causados por atividades antrópicas es- Kuwait sofre de algum distúrbio respiratório, princi-
tão principalmente associados à indústria petrolífera. palmente asma, em comparação a somente 6% nos
A extração intensiva de petróleo na região resulta em Estados Unidos (US DoD, 2000).
freqüentes descargas de petróleo no Golfo. Calcula-
se que aproximadamente 10% do petróleo descarre- Conflitos armados
gado na região penetre no meio ambiente marinho Juntamente com os desastres naturais, a região tem
(Al-Harmi, 1998). Também ocorrem derramamentos sido assolada por guerras. Desde o início do século
acidentais de petróleo, e 3 desses acidentes estão XX, a região foi palco da guerra entre árabes e israe-
entre os 20 maiores do mundo: 300 milhões de litros lenses em 1948, da Guerra dos Seis Dias em 1967, da
procedentes da Plataforma de Nowruz, no dia 26 de guerra de outubro de 1973 e da invasão israelense no
janeiro de 1991, 144 milhões de litros do petroleiro sul do Líbano em 1982. Nas décadas de 1980 e de
Sea Star, em 19 de dezembro de 1972, e 118 milhões 1990, a primeira e a segunda guerra do Golfo causa-
de litros de tanques de armazenagem no Kuwait, no ram grandes problemas ao meio ambiente. A poluição
dia 20 de agosto de 1981 (Oil Spill Intelligence Report). ambiental foi um dos principais impactos. As flores-
316 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

tas foram deliberadamente incendiadas e os recur- ximadamente 350 mil palestinos e mais de 150 mil sírios
sos hídricos foram poluídos e/ou destruídos. O fogo tornaram-se refugiados no fim da Guerra dos Seis
de artilharia destruiu os recursos da terra. Os re- Dias. Cidades e vilarejos na Palestina e nas Colinas
cursos marinhos foram poluídos, assim como a at- de Golã foram despovoados e destruídos. Hoje há
mosfera, em conseqüência dos incêndios dos po- cerca de 3,8 milhões de refugiados em 59 campos
ços de petróleo, e os solos foram contaminados pe- registrados na Agência das Nações Unidas de Assis-
los derramamentos de petróleo durante a segunda tência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próxi-
Guerra do Golfo. mo (UNRWA, 2002). Os refugiados palestinos estão
As guerras geram refugiados. Em conseqüên- espalhados em diversos países, incluindo a Jordânia,
cia da guerra entre árabes e israelenses em 1948, mais o Líbano e a Síria. A maioria vive em condições de po-
de 750 mil palestinos foram destituídos de suas terras breza, pressionando ainda mais os recursos naturais
e ficaram desabrigados. Em uma segunda onda, apro- já limitados.

Referências: Capítulo 2, desastres, Ásia Ocidental

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DESASTRES
317

de petróleo ou materiais perigosos em suas zonas


Desastres: as Regiões Polares árticas. Outras atividades antrópicas incluem a ex-
ploração de petróleo e recursos minerais por parte
Desastres naturais de todos os países, exceto Finlândia e Suécia. A Is-
Os impactos de perigos naturais, combinados com lândia possui um vertedouro de materiais perigo-
condições climáticas extremas nos pólos (baixas tem- sos, e a Federação Russa tem diversos sítios nucle-
peraturas, verões curtos, cobertura extensa de neve e ares e vertedouros de resíduos radioativos em sua
gelo no inverno) e a vulnerabilidade de ecossistemas e área ártica. Um estudo de risco ambiental causado
infra-estrutura, podem facilmente resultar em desas- pelas atividades humanas no Ártico, realizado sob
tres no Ártico. Por exemplo, durante o período de 1996- o patrocínio do Conselho do Ártico, concluiu que a
2001, houve duas inundações catastróficas sem pre- maior ameaça proveniente de liberação de poluentes
cedentes no Rio Lena. No inverno de 2001, as tempera- que possa exigir uma reação emergencial é o trans-
turas atingiram uma baixa inédita, alguns rios congela- porte e o armazenamento de petróleo. Os sítios nu-
ram por completo e, portanto, demoraram a degelar, e cleares, embora avaliados em geral como menos que
os blocos de gelo obstruíram o fluxo natural. Além dis- uma ameaça, poderiam afetar áreas muito maiores
so, naquele mesmo ano, a precipitação de neve foi par- (EPPR, 1997).
ticularmente intensa. Os níveis da água na parte cen- Rupturas e vazamentos em oleodutos, como
tral do Lena excederam a média normal em nove metros os que ocorreram na área russa de Usinsk em 1994,
ou mais. As perdas econômicas e a devastação quando 116 milhões de litros de petróleo bruto foram
ambiental foram graves (Kriner, 2001a, b). Devido ao derramados (Oil Spill Intelligence Report, 2002), e o
fato de que a mudança do clima provavelmente au- acidente com o petroleiro Exxon Valdez no Alasca
menta a precipitação nas áreas de bacia dos rios árti- em 1989, com quase 50 milhões de litros de petróleo
cos (IPCC, 2001a), pode haver um aumento correspon- bruto derramados (NOAA, 2001), são exemplos de
dente na freqüência e na magnitude das inundações. impactos ambientais catastróficos na região. Muitos
O aumento de temperatura observado nas mas- acidentes de menor porte, como poços de petróleo
sas continentais do Ártico nos últimos anos resulta que surgem e jorram sem controle e a descarga aciden-
no degelo do pergelissolo em muitas áreas. Nas áreas tal de lodo contaminado durante a perfuração, também
desenvolvidas do Ártico, serão necessários esforços resultam em poluição ambiental local (AMAP, 1997).
para reduzir os impactos do degelo sobre edifícios e a Atividades, tanto do passado como atuais, que
infra-estrutura de transporte (IPCC, 2001b). A zona de envolvem materiais radioativos no Ártico criam um
pergelissolo cobre 58% da Federação Russa. É possí- elevado potencial de risco de acidentes, embora ain-
vel que o limite da zona se desloque 300 km a 400 km ao da não tenha havido poluição radioativa em larga es-
norte até 2100 (Interagency Commission, 1998). cala. Por exemplo, acidentes como o naufrágio do
Outro desastre natural que afeta o ecossistema submarino nuclear soviético Komsomolets em 1989 e
do Ártico é a invasão de pragas, que podem devastar o do submarino nuclear russo Kursk em 2000, bem
uma área de floresta e afetar as atividades econômicas como a queda de uma aeronave norte-americana com
associadas. Epidemias de pragas são um grande pro- carregamento de armas nucleares próximo a Thule, na
blema nas florestas de tundra. O escolitídeo de abeto Groenlândia, em 1968, não resultaram na liberação de
(Dendroctonus rufipennis) causou uma grave destrui- substâncias radioativas no meio ambiente.
ção e morte da vegetação na floresta de abeto do A União Soviética despejou resíduos radioati-
Alasca. Na Escandinávia, traças da espécie Epirrita vos de níveis alto, intermediário e baixo nos mares de
autumnata causam desfolhamento maciço das flores- Kara e Barents, entre 1959 e 1991 (ver mapa na página
tas de bétulas em intervalos de aproximadamente dez seguinte), incluindo seis reatores nucleares submari-
anos. Essas florestas não se recuperam durante sécu- nos e uma montagem de proteção do reator de um na-
los devido ao ritmo lento de recuperação da vegetação vio quebra-gelo contendo combustível gasto (AMAP,
no Ártico (CAFF, 2001). 1997). Desde então, as pesquisas e os dados coletados
têm indicado que não houve migração de quantidades
Desastres causados por atividades significativas de materiais radioativos a partir do
antrópicas vertedouro, e apenas amostras muito locais apresen-
Com exceção da Finlândia, todos os países que fa- taram níveis elevados de radionuclídeos. Os principais
zem fronteira com a área do Ártico possuem termi- riscos podem ocorrer a longo prazo, à medida que os
nais de petróleo ou importantes rotas de transporte contêineres sofrerem corrosão.
318 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

taminação de nível baixo do Ártico (AMAP, 1997;


Depósitos de lixo atômico: Ártico
OTA, 1995). Existem dados limitados sobre a quanti-
dade de material radioativo descarregado ou sobre
a localização dos vertedouros no Ártico, e qualquer
Fiorde Blagopoluchiye um desses locais pode ser “um desastre latente”
Fiorde Techeniy
(AMAP, 1997).
Fiorde Sedov
Fiorde Oga Governos, empresas e organizações interna-
Fiorde Tsikolka
cionais estão tomando medidas para aumentar a pre-
Canal Novaya Zamiya paração em caso de desastre na região. A cooperação
Baía Stepovogo
Baía Abrosimov intergovernamental é realizada de forma tanto bilate-
ral como multilateral, principalmente por meio do Con-
selho do Ártico. Dois dos programas do Conselho do
Ilha de
Kolguyev Ártico – Prevenção, Preparação e Reação Emergencial
(EPPR), e Proteção do Meio Ambiente Marinho do
Ártico (PAME) – produziram informações e diretrizes
importantes sobre os riscos ambientais no Ártico. Por
lixo líquido
exemplo, o EPPR elaborou, em 1997, as Diretrizes para
a Exploração em Alto-Mar de Petróleo e Gás Natural
lixo sólido
no Ártico, dirigidas às agências reguladoras. O PAME
elaborou uma diretriz sobre a transferência de produ-
O mapa mostra tos petrolíferos de navios para a costa e de navio
depósitos para A contaminação radioativa proveniente das para navio (Arctic Council, 2001). A IUCN e a Associ-
os lixos radio-
ativos sólidos e usinas de reprocessamento européias na década de ação de Produtores de Petróleo e Gás Natural prepa-
líquidos nas
regiões árticas 1970 e dos testes atmosféricos de armas nucleares raram diretrizes para a proteção ambiental no Ártico e
da Federação na década de 1960 tem contribuído para a atual con- no Sub-Ártico (IUCN e E&P Forum, 1993).
Russa.

Fonte: AMAP,1997

Referências: Capítulo 2, desastres, as Regiões Polares

AMAP (1997). Arctic Pollution Issues: a State of the IPCC (2001a). Climate Change 2001: The Scientific Kriner, S. (2001b). Flood Disaster Averted Again in
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CAFF (2001). Arctic Flora and Fauna: Status and Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working National Oceanic and Atmospheric Administration
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Change Problems Siberia. American Red Cross, 17 May 2001 http://
www.redcross.org/news/in/flood/010517siberia.html
[Geo-2-386]
DESASTRES
319

NOSSO MEIO AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO: o Mar de Aral,


Ásia Central

A destruição do ecossistema do Mar de Aral


foi súbita e grave. Com início na década de
1960, as demandas agrícolas privaram esse
vasto lago salgado da Ásia Central de água
suficiente para sustentar a si mesmo, e ele
minguou rapidamente. O Uzbequistão, o
Cazaquistão e outros países da Ásia Central usaram essa
água para cultivar algodão e outras safras de exportação,
com conseqüências ambientais generalizadas que incluí-
am perda nas atividades de pesca, contaminação da água
e do solo e níveis perigosos de sedimentos poluídos trans-
portados pelo ar.
O Mar de Aral é uma das maiores catástrofes ambi-
entais já registradas. Os seres humanos fizeram uso das
águas da bacia do Aral por milhares de anos, extraindo-as
de seus dois rios principais: o Amu Darya, que flui para o
Mar de Aral vindo do sul, e o Syr Darya, que atinge o mar
em seu extremo norte. O Canal Kara Kum foi aberto em
1956, desviando grandes quantidades de água do Amu A foto acima mostra um barco de pesca abandonado em uma área que costumava ser
o Mar de Aral. As imagens de satélite abaixo mostram a redução do tamanho do mar
Darya para o deserto do Turcomenistão, e milhões de hec- entre 1973 e 1999.
tares de terras tornaram-se irrigados após 1960. Embora o
Mar estivesse recebendo cerca de 50 km3 de água por dia
em 1965, até o início da década de 1980 essa quantia caiu 1990, a superfície do Aral havia diminuído para quase a
para zero. À medida que o Aral diminuiu, sua salinidade metade, e seu volume caiu 75%. Os ventos carregavam
aumentou, e até o início da década de 1980 os peixes para sedimentos com sais e pesticidas, o que gerou conseqüên-
uso comercial haviam sido eliminados, o que acarretou o cias devastadoras à saúde dos habitantes das regiões vi-
fechamento de uma indústria que empregava 60 mil pessoas. zinhas (ver também box sobre o Mar de Aral em “Desas-
O declínio do nível do mar baixou o nível das águas tres: Ásia e Pacífico”).
subterrâneas na região, destruindo muitos oásis próximo
Dados Landsat: USGS/EROS Data Center
à sua costa. A irrigação excessiva causou a acumulação Compilação: UNEP GRID Sioux Falls
de sal em muitas áreas agrícolas. No início da década de Foto: UNEP, Topham Picturepoint

1973 1986 1999


320 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Conclusões
As seções anteriores deste capítulo mostram que Estocolmo, a Estratégia Mundial para a Conserva-
tem havido uma enorme mudança tanto nas condi- ção, Nosso Futuro Comum, a Declaração do Rio e a
ções humanas como nas ambientais nos últimos trinta Agenda 21 serviram de orientação para a agenda
anos. Em um período de um aumento populacional ambiental no período de 1972-2002. Os sistemas jurí-
sem precedentes, o meio ambiente tem suportado a dicos vinculantes – alguns anteriores a 1972 – agora
carga de satisfazer múltiplas necessidades humanas. integram o corpo do direito ambiental internacional,
Em muitas áreas, o estado do meio ambiente é muito fornecendo a força necessária para promover seu
mais frágil e degradado do que era em 1972. O resul- cumprimento. Além das políticas e da estrutura jurídi-
tado é que o mundo pode agora ser categorizado em ca, as três últimas décadas testemunharam também
quatro divisões principais: uma proliferação de instituições ambientais pelos se-
tores público e privado e pela sociedade civil em ge-
• Linha divisória ambiental – caracterizada por
um meio ambiente estável ou melhorado em al-
ral. Agora são comuns os ministérios ou departamen-
tos de meio ambiente em todas as regiões. O desen-
gumas regiões, por exemplo na Europa e na volvimento sustentável e os padrões ambientais tor-
América do Norte, e um meio ambiente degrada- naram-se parte da lingua franca de grandes empre-
do nas outras regiões, principalmente nos paí- sas, e muitas delas elaboram relatórios ambientais
ses em desenvolvimento; anuais como parte da agenda corporativa. A socieda-
• Linha divisória política – caracterizada por duas
dimensões distintas relativas à elaboração e à
de civil chegou à maioridade, registrando muitos ca-
sos de êxito em diferentes níveis – do âmbito comuni-
implementação de políticas: algumas regiões são tário ao internacional. Alguns dos progressos alcan-
fortes nos dois aspectos e outras ainda enfren- çados desde 1972 incluem os seguintes:
tam dificuldades nesses mesmos aspectos;
• Diferença de vulnerabilidade – divisão que se
está ampliando dentro da sociedade, entre paí-
• O tratamento da destruição da camada de ozônio
é uma vitória notável para a boa gestão ambiental
ses e por regiões, pela qual os menos favoreci- mundial. No entanto, requer vigilância contínua.
dos correm mais riscos de mudanças ambientais
e desastres; e
• A preocupação com os níveis de poluentes at-
mosféricos comuns resultou em um incentivo às
• Linha divisória do estilo de vida – resulta parci-
almente do aumento da pobreza e da prosperi-
reduções em muitos países, que têm sido reali-
zadas por meio de medidas específicas de políti-
dade econômica. Um lado da linha divisória do cas, incluindo padrões de emissões e de quali-
estilo de vida se caracteriza pelos excessos de dade do ar, assim como normas de fundamento
consumo por parte de uma minoria equivalente tecnológico e diferentes instrumentos baseados
a um quinto da população mundial, que é res- no mercado.
ponsável por aproximadamente 90% do total de
consumo pessoal; o outro lado se caracteriza
• Abordagens mais holísticas para a gestão de ter-
ras, como os sistemas integrados de nutrientes
pela pobreza extrema, em que 1,2 bilhão de pes- de solos agrícolas e gestão integrada de pragas,
soas vivem com menos de um dólar por dia. têm sido implementadas com resultados positi-
vos para a saúde dos ecossistemas agrícolas em
Essas quatro delimitações constituem uma séria ame- algumas regiões.
aça ao desenvolvimento sustentável. Os parágrafos
seguintes enfatizam alguns dos desafios ambientais
• As políticas relativas à água doce estão deixan-
do de concentrar-se nos direitos de comunida-
que a humanidade enfrenta hoje e alguns progressos des ribeirinhas para dedicar-se a melhorar a efici-
alcançados nas três últimas décadas. ência e a gestão de bacias hidrográficas. Atual-
mente, a gestão integrada dos recursos hídricos
é amplamente aceita como uma iniciativa estraté-
Realizações ambientais gica de políticas.

As políticas articuladas em documentos como a De-


• Surgiu um novo entendimento teórico dos bene-
fícios dos serviços prestados pelos ecossistemas;
claração e o Programa de Ação da Conferência de entretanto, na prática, as informações e os instru-
DESASTRES
321

mentos de políticas para protegê-los têm sido in- políticas, e verifica-se o fortalecimento dos me-
suficientes ou esporádicos. canismos de resposta e dos sistemas de alerta
• Recentemente, tem havido uma evolução a partir
das abordagens de esgotamento de recursos para
antecipado.

metas de sustentabilidade; verifica-se também Uma observação geral é de que muitas das políticas
uma mudança modesta para uma abordagem mais mencionadas neste capítulo não tinham critérios cla-
integrada a políticas e gestão ambientais, que se ramente definidos nem critérios de execução específi-
concentra na sustentabilidade de ecossistemas e ca, ou tampouco os critérios possuíam relação direta
bacias hidrográficas, por exemplo, em vez de na com o desempenho ambiental. Tal observação vale,
preservação dos rendimentos. por exemplo, para políticas econômicas associadas a
• Atualmente, reconhece-se que a redução da po-
breza, o desenvolvimento econômico e a estabili-
tributação, comércio e investimento. Embora algumas
delas tenham uma relação significativa com questões
dade ambiental devem ser metas comuns. Esse ambientais (em alguns casos, como forças motrizes
reconhecimento rompe com a idéia predominante importantes da mudança ambiental), seus próprios
nas décadas de 1970 e 1980 que considerava a critérios de avaliação são em geral limitados ao de-
proteção ambiental e o desenvolvimento econô- sempenho econômico, o que tornou sua avaliação
mico como objetivos conflitantes. um desafio especial de um ponto de vista ambiental e
• A prosperidade e uma sociedade civil informada e
ativa têm sido as principais forças motrizes de po-
de desenvolvimento sustentável.

líticas destinadas a tratar diversos problemas


ambientais que se tornaram visíveis no início do Desafios ambientais
período de trinta anos nas nações desenvolvidas.
• A qualidade do ar ambiental e a poluição da água
proveniente de fontes focalizadas têm sido abor-
Apesar dessas realizações, uma população mundial
crescente – para mais de 6 bilhões de pessoas (e
dadas de forma satisfatória em muitas áreas, a ainda aumentando) – está agravando a demanda de
reciclagem tornou-se mais comum, o tratamento recursos e serviços, além de aumentar a geração de
de águas residuais melhorou, os resíduos da in- resíduos para atender a muitas dessas demandas.
dústria de papel e celulose diminuíram, e as amea- Em geral, as políticas de resposta não têm sido ade-
ças de resíduos perigosos foram reduzidas. Áreas quadas para neutralizar as pressões impostas pela
protegidas têm sido crescentemente designadas pobreza crescente e pelo consumo descontrolado.
para fins de conservação e recreação. As partes anteriores do Capítulo 2 apresentam pro-
• Os casos de êxito no mundo em desenvolvimen-
to têm sido variados: há um crescente processo
vas indiscutíveis de degradação ambiental contínua
e generalizada.
de democratização e participação que sustenta
de forma positiva o meio ambiente e o desenvol- • Os recentes impactos das atividades antrópicas
vimento em algumas regiões, com uma maior cons- sobre a atmosfera têm sido imensos, e as emis-
ciência do debate por parte da sociedade civil. sões antropogênicas consistem em uma das prin-
• Está surgindo um agrupamento natural de políti-
cas sobre biodiversidade, cujo núcleo é a CDB,
cipais causas dos problemas ambientais. As emis-
sões de quase todos os gases de efeito estufa
mas que também inclui uma série de outros trata- continuam aumentando.
dos e iniciativas, como a CITES, a CMS e a Con- • O ozônio troposférico, a névoa urbana e as partí-
venção de Ramsar. culas finas surgiram como riscos consideráveis à
• A mudança tecnológica tem ajudado a aliviar al-
gumas pressões ambientais: uma menor intensi-
saúde, provocando ou agravando problemas res-
piratórios e cardíacos, principalmente em pesso-
dade de materiais usados na produção; uma mu- as vulneráveis, como crianças, idosos e asmáti-
dança de materiais e fornecimento de energia cos, de igual modo nos países desenvolvidos e
para a prestação de serviços; um modesto avanço nos em desenvolvimento.
na tecnologia renovável; e, em algumas regiões, • A exploração excessiva de muitos dos recursos
uma limpeza considerável em indústrias anterior- de águas superficiais e grandes aqüíferos, de que
mente “sujas”. dependem a agricultura irrigada e o abastecimen-
• Nos últimos anos, a redução do risco tem ocu-
pado um lugar mais importante nas agendas
to doméstico, resultou no fato de que cada vez
mais países enfrentam estresse hídrico ou escas-
322 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

sez de água. Cerca de 1,2 bilhão de pessoas ainda


não têm acesso a água potável e aproximadamen- Desafios regionais
te 2,4 bilhões não contam com serviços de sane-
amento, o que causa a morte de 3 milhões a 5 Em âmbito regional, as principais questões ambientais
milhões de pessoas a cada ano em conseqüência incluem a mudança do clima, a degradação da terra e do
de doenças associadas à água. solo, a degradação e o desmatamento de florestas, o
• A diversidade biológica da Terra está sob amea- estresse e a escassez de água doce, assim como sua
ça crescente. Acredita-se que o ritmo de extinção qualidade/ poluição, a degradação e a poluição de áreas
de espécies esteja acelerando. A destruição de costeiras e marinhas, a perda de habitats e de espécies,
habitats e/ou sua modificação são as principais o crescimento de assentamentos não planejados e dos
causas de perda de biodiversidade, seguidas da crescentes resíduos sólidos, bem como secas e inunda-
pressão provocada por espécies invasoras. ções cada vez mais freqüentes e intensas. Muitas das
• Tem havido uma forte tendência mundial para a regiões enfrentam desafios ambientais similares, embo-
exploração e a destruição cada vez mais intensas ra a magnitude e a extensão dos problemas variem.
de populações de peixes silvestres. Diversos es-
toques pesqueiros foram esgotados e outros são
ameaçados pela exploração excessiva. África
• A degradação das terras continua piorando, par- Na África, as principais questões ambientais incluem
ticularmente nos países em desenvolvimento, em degradação da terra, desmatamento, degradação do
que as populações carentes são deslocadas para habitat, estresse e escassez de água, erosão e degrada-
terras marginais com ecossistemas frágeis, e em ção da área costeira, inundações e secas e conflitos
áreas onde a terra é cada vez mais explorada para armados. Esses e outros problemas têm contribuído para
satisfazer as necessidades alimentares e agríco- a mudança ambiental que agravou o subdesenvolvi-
las, sem apoio econômico e político adequado mento, a pobreza e a insegurança alimentar na região.
para a adoção de práticas agrícolas apropriadas. Também têm limitado a eficácia de diversas medidas de
• Muitos dos ecossistemas florestais remanescen- resposta, como o Plano de Ação de Lagos e outras po-
tes têm sido degradados e fragmentados. Desde líticas ambientais, que têm sido adotadas pela região
1972, monoculturas florestais extensas têm sido nos últimos trinta anos. Combater os problemas
estabelecidas no mundo em desenvolvimento, ambientais da região não apenas consiste em uma op-
mas não substituem a complexidade ecológica ção, mas é um passo fundamental para alcançar o de-
das florestas naturais. senvolvimento sustentável, sem o qual a pobreza conti-
• A produção agropecuária tem contribuído para o nuará piorando, o que contribui para ainda mais explo-
grande aumento do nitrogênio reativo na biosfera ração excessiva do meio ambiente.
global, o que facilita a acidificação e a eutroficação
dos ecossistemas.
• Considerando que quase a metade da população
global vive nos países menos desenvolvidos, em Ásia e Pacífico
áreas urbanas e metrópoles, a infra-estrutura e os A maior região do mundo, tanto em termos de superfície
serviços municipais são inadequados para aco- como de número de habitantes, possui um conjunto
modar os milhões de pessoas carentes nas áreas eclético de desafios ambientais, que refletem a diversi-
urbanas. A poluição atmosférica e a deterioração dade de suas sub-regiões. Algumas das principais ques-
da qualidade da água nas cidades causam sérios tões ambientais que a região enfrenta incluem degrada-
impactos econômicos, sociais e à saúde. ção de terras e florestas, perda de habitat, escassez e
• Um aumento na freqüência e na intensidade dos poluição da água, emissões de gases de efeito estufa e
desastres naturais nos últimos trinta anos tem mudança climática, gestão de resíduos e desastres na-
feito com que mais pessoas corram riscos maio- turais, como inundações, secas e terremotos. O resulta-
res, e a maior carga recai sobre as comunidades do da avaliação realizada nas seções anteriores deste
mais carentes. capítulo é que algumas partes da região estão sob um
grave estresse, colocando em risco as opções de meios
de subsistência de milhões de pessoas. Outras partes
da região, como o Japão, a Nova Zelândia e a Austrália,
são desenvolvidas o suficiente para lidar com as inevi-
DESASTRES
323

táveis mudanças ambientais causadas tanto por ativi- gião continuará enfrentando diversos desafios, in-
dades antrópicas como por fenômenos naturais. cluindo a gestão eficaz dos bens comuns. Seu papel
de liderança na gestão ambiental internacional é im-
portante e deve ser orientado pelo princípio de res-
Europa ponsabilidades comuns, porém diferenciadas, que é
Na Europa, muitas das questões ambientais funda- amplamente aceito na atualidade. A participação de
mentais são similares às questões comuns na África governos, de ONGs e da sociedade civil em âmbitos
e na região da Ásia e Pacífico. Entre elas, cabe menci- nacional, regional e internacional é fundamental para
onar a degradação de florestas, a quantidade e a qua- avançar no cumprimento das metas estabelecidas
lidade da água, a erosão costeira e as emissões de na Agenda 21 e na Declaração do Milênio, além de
gases de efeito estufa. Outras questões mais especí- outros objetivos determinados por fóruns subse-
ficas analisadas incluem a degradação, a impermea- qüentes, como a Cúpula Global para o Desenvolvi-
bilização e a contaminação do solo, e os organismos mento Sustentável. Muitas regiões continuarão a
geneticamente modificados. Em geral, a Europa é uma buscar a assistência da América do Norte em termos
das regiões mais bem posicionadas para lidar com de capacitação e auxílio ao desenvolvimento.
seus desafios ambientais, em virtude de seu desen-
volvimento econômico, além de estruturas jurídicas e Ásia Ocidental
institucionais bem estabelecidas, em âmbito tanto Mostrou-se que os conflitos relativos a políticas,
nacional como regional. Apesar de suas vantagens, como os associados à gestão de recursos hídricos,
no entanto, a região não pode combater as questões à produção de alimentos e à segurança alimentar,
ambientais globais por si só e deve continuar a de- prejudicam os esforços para alcançar o desenvolvi-
sempenhar um papel importante, principalmente em mento sustentável. É fundamental que haja uma
matéria de mudança climática. maior sinergia, e a elaboração e implementação de
políticas estratégicas devem incluir os diferentes
grupos de interesse para evitar sobreposições e
América Latina e Caribe competição que comprometam sua eficácia. Na re-
A região compartilha muitos problemas ambientais com gião, identificou-se a gestão integrada dos recursos
a África e com a região da Ásia e Pacífico. Outras ques- hídricos como uma das principais iniciativas de po-
tões incluem o sistema de posse de terras, a exploração líticas necessárias para melhorar a gestão de seus
excessiva de estoques pesqueiros e os desastres, como limitados recursos hídricos. Os países da região tam-
furacões, terremotos e derramamentos de substâncias bém continuarão combatendo os problemas da seca
perigosas. Esses problemas continuarão exercendo e da desertificação, os quais impõem sérias limita-
uma grande pressão sobre a vida humana e o meio ções ao meio ambiente e ao desenvolvimento.
ambiente, prejudicando quaisquer esforços para alcan-
çar o desenvolvimento sustentável. Existe o risco de
que milhões de pessoas na região continuem sendo As Regiões Polares
marginalizadas, o que mina os esforços para melhorar Alguns dos impactos ambientais identificados nas
as condições socioeconômicas e administrar o meio regiões polares também são sintomas claros dos
ambiente com eficácia em benefício das gerações atual excessos de atividades antrópicas por todo o glo-
e futuras. Sem políticas de resposta mais eficazes, é bo. As substâncias que destroem a camada de ozô-
provável que a tendência atual de piorar as condições nio utilizadas pela humanidade se manifestaram
ambientais continue, o que contribui para uma maior nessas regiões juntamente com a descoberta do
vulnerabilidade humana à mudança ambiental. buraco na camada de ozônio há cerca de duas dé-
cadas. As emissões de gases de efeito estufa são
outro exemplo de como os problemas ambientais
América do Norte “locais” podem se tornar globais. As regiões pola-
A América do Norte, o motor da globalização, enfrenta res continuarão sofrendo os impactos dos proble-
questões ambientais importantes, entre elas o uso de mas gerados em outras regiões. No entanto, a coo-
pesticidas, a gestão de florestas virgens, a invasão bio- peração contínua por diversas frentes, em âmbito
lógica e a qualidade dos Grandes Lagos. Apesar de sua tanto regional como global, deve auxiliar no com-
estrutura institucional e jurídica bem desenvolvida e do bate a alguns dos problemas existentes e na identi-
cumprimento bem-sucedido das leis ambientais, a re- ficação dos emergentes.

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