Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
vento e inundações. Embora as inundações tenham Número de grandes desastres naturais por ano,
sido responsáveis por mais de dois terços das pesso- 1950-2001
as afetadas por desastres naturais, essas são menos Outros
fatais do que muitos outros tipos de desastres e equi- Inundações
valem a apenas 15% das mortes (IFRC, 2001).
Os custos sociais e econômicos dos desas-
tres apresentam uma ampla variação e é difícil Tempestades
Custos econômicos dos grandes desastres naturais as morrem por desastre em países com baixos níveis
(bilhões de dólares), 1950-2000
de desenvolvimento (IFRC, 2001).
90 >167 Diversos especialistas associam a tendência
75 atual observada em eventos climáticos extremos com
um aumento da temperatura média global. Muitas
60
partes do mundo sofreram enormes ondas de calor,
45 inundações, secas e outros eventos climáticos extre-
mos. Embora eventos individuais, como os fenôme-
30
nos relacionados ao El Niño (ver box), não possam
15 ser associados diretamente à mudança antropogênica
do clima, prevê-se que a freqüência e a magnitude
0
desses tipos de eventos aumentem em um mundo
55
60
65
70
75
80
85
90
95
00
50
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
19
Edifício de
apartamentos
partido em dois
pelo terremoto
ocorrido em 1999
em Izmit, Turquia.
Fonte: Alexander
Allmann, Munich Re
294 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002
Em 1971, foi estabelecido o Escritório do Co- Prevenção e preparação para reduzir os custos dos
ordenador das Nações Unidas para Socorro em Ca- desastres
sos de Desastre – atual Escritório das Nações Uni-
das para a Coordenação da Assistência Humanitária A meta fundamental do programa de administração de desastres do
PNUMA é reforçar a centralização das preocupações ambientais na
(UNOCHA) –, com o objetivo de mobilizar e coorde- administração de desastres. O outro fundamento é a adoção de
nar atividades de socorro procedentes de todas as estratégias preventivas e medidas práticas que diminuam a perda
fontes em casos de desastre. O conceito de prepara- potencial de vidas humanas e propriedades, assim como a destruição do
meio ambiente.
ção para desastres foi desenvolvido durante as dé- O êxito de tal abordagem depende do aumento da consciência
cadas de 1970 e 1980 e incluía treinamento e algu- pública dos riscos que os perigos naturais, tecnológicos e ambientais
mas atividades multissetoriais para aumentar a ca- apresentam às sociedades, bem como da educação das pessoas sobre o
valor das abordagens existentes quanto à prevenção e à preparação. O
pacidade de resgate, socorro e recapacitação du- PNUMA contribui com esse processo por meio de seus programas sobre
rante e após um desastre. Mas mesmo as previsões direito ambiental, alerta e avaliação antecipados e do programa de
mais pessimistas não poderiam prever a espiral as- Conscientização e Preparação para Emergências em Âmbito Local
(APELL).
cendente das conseqüências socio-econômicas ne- O programa APELL do PNUMA, desenvolvido em conjunto com
gativas dos desastres naturais nas últimas décadas governos e com o setor industrial, reconhece que a incidência e os efeitos
dos desastres ambientais podem ser reduzidos por meio de iniciativas de
do século XX.
prevenção e preparação em âmbito local. O conceito do APELL foi
A década de 1990 foi declarada a Década In- introduzido com sucesso em mais de 30 países e em mais de 80
ternacional para a Redução dos Desastres Naturais comunidades industriais no mundo todo. A estratégia do PNUMA inclui a
promoção de processos e tecnologias de produção mais limpos e ajuda os
(IDNDR), e uma de suas principais metas foi incutir países a estabelecerem centros de produção mais limpa.
uma cultura de prevenção de desastres, por meio da Um dos principais objetivos do programa de alerta e avaliação
aplicação mais ampla de mecanismos conhecidos de antecipados do PNUMA é avaliar a crescente vulnerabilidade da sociedade
humana devido à mudança generalizada ambiental e climática, de modo
natureza científica e tecnológica por parte de uma a enfatizar a necessidade de uma sólida gestão ambiental integrada e
população mais bem informada. Como disse o secre- proporcionar alertas antecipados sobre ameaças emergentes, visando
tário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, “deve- preparação e reação.
mos, acima de tudo, mudar de uma cultura de reação
para uma cultura de prevenção. A comunidade hu-
manitária faz um trabalho formidável de reação a de-
sastres. Mas a tarefa mais importante a médio e a Em âmbito global, a ONU estabeleceu uma
longo prazo é fortalecer e ampliar programas que Estratégia Internacional para Redução de Desastres
reduzam o número e o custo de desastres em primei- (ISDR), uma plataforma global com o objetivo de
ro lugar. A prevenção não é apenas mais humana do ajudar todas as comunidades a se tornarem resili-
que a cura, é também muito menos dispendiosa” entes aos efeitos de desastres naturais e a passarem
(IDNDR, 1999b). A IDNDR teve êxito em colocar a da proteção contra os perigos para a administração
questão de redução de riscos em um patamar mais do risco por meio da integração da prevenção do
elevado da agenda política, assim como em estabe- risco ao desenvolvimento sustentável. A estratégia
lecer diversas prioridades a serem empreendidas por – fundamentada na experiência da IDNDR e em avan-
países e regiões no século XXI. ços como a Estratégia e o Plano de Ação de
Um número crescente de governos e orga- Yokohama para um Mundo mais Seguro, de 1994, e a
nizações internacionais está promovendo a redu- Estratégia “Um Mundo Mais Seguro no Século XXI:
ção dos riscos como a única solução sustentável Redução de Desastres e Riscos”, de 1999 – reflete
para reduzir os impactos sociais, econômicos e uma abordagem multisetorial e interdisciplinar à re-
ambientais dos desastres. As estratégias de redu- dução de desastres.
ção dos riscos incluem: A implementação da estratégia, que se baseia
no estabelecimento de parcerias entre governos, or-
· mapeamento da vulnerabilidade; ganizações não-governamentais, agências da ONU,
· identificação de áreas seguras para assentamen-
tos e desenvolvimento;
a comunidade científica e outros grupos de interesse
na redução de desastres, é parte integrante dos es-
· adoção de códigos de construção com base na forços que visam a promoção da meta global de de-
engenharia resiliente a desastres e nas avalia- senvolvimento sustentável. Também é um elemento
ções de riscos e perigos locais; e indispensável na busca de soluções planejadas para
· adoção desses planos e códigos por meio de in- enfrentar a ameaça crescente apresentada pelos peri-
centivos econômicos e de outras naturezas. gos naturais (ISDR, 1999).
296 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
Adams, J. (1994). Corporate Crime/Our Crime: What IFRC (2001). World Disasters Report 2001. ReliefWeb (2002). Natural Disasters. ReliefWeb: Project
citizens have done and can do to curtail corporate International Federation of Red Cross and Red Crescent of the United Nations Office for the Coordination of
‘crime’. In Context, 38, 45 http://www.context.org/ Societies http://www.ifrc.org/publicat/wdr2001/ Humanitarian Affairs http://www.reliefweb.int/w/
ICLIB/IC38/Adams.htm [Geo-2-329] [Geo-2-334] rwb.nsf
CNC-IDNDR (1999). Natural Disaster and Disaster Relief IPCC (2001). Climate Change 2001: The Scientific UNDHA (2001). United Nations Department of
in China; the China National Report on International Basis. Contribution of Working Group I to the Third Humanitarian Affairs: Internationally agreed glossary
Decade for Natural Disaster Reduction. Beijing, Chinese Assessment Report of the Intergovernmental Panel on of basic terms related to Disaster Management. United
National Committee IDNDR Climate Change. Cambridge, United Kingdom, and New Nations International Strategy for Disaster Reduction
York, United States, Cambridge University Press http://www.unisdr.org/unisdr/glossaire.htm [Geo-2-
CRED-OFDA (2002). EM-DAT: The OFDA/CRED 335]
International Disaster Database. Centre for Research ISDR (1999). Les retombées socio-économiques du
on the Epidemiology of Disasters http://www.cred.be/ seisme d’Izmit en Turquie. United Nations International UNDP (2001). Disaster Profiles of the Least Developed
emdat [Geo-2-330] Strategy for Disaster Reduction http://www.unisdr. Countries. Geneva, United Nations Development
org/unisdr/izmit.htm Programme Emergency Response Division
IDNDR (1999a). Progress and Challenges in Reducing
Losses from Natural Disasters http://www.usgs.gov/ ISDR (2001). The Concept of Disaster Reduction UNU (2001). Once Burned, Twice Shy? Lessons Learned
themes/sndr/sndr09.html [Geo-2-331] Embodied in the ISDR. United Nations International from the 1997-98 El Niño. Tokyo, United Nations
Strategy for Disaster Reduction http://www.unisdr. University http://www.esig.ucar.edu/un/index.html
IDNDR (1999b). Despite Dedicated Efforts, Number and org/unisdr/aboutisdr.htm [Geo-2- 333] [Geo-1-032]
Cost of Natural Disasters Continue To Rise. Press
Release, United Nations International Strategy for Munich Re (2001). Topics 2000: Natural Catastrophes WMO (1999). The 1997-1998 El Niño Event: a Scientific
Disaster Reduction http://www.unisdr.org/forum/ — The Current Position. Special Millennium Issue. and Technical Retrospective. Geneva, World
press3.htm [Geo-2-332] Munich, Munich Re Group Meteorological Organization
DESASTRES
297
África dependem muito da agricultura sem irrigação desmatamento e o excesso de pastoreio diminuíram a
artificial e são, portanto, vulneráveis às flutuações capacidade do meio ambiente de absorver a água em
dos níveis de precipitação. Em geral, é a população excesso e ampliaram o impacto das inundações
carente que mais sofre com a perda de colheitas cau- (Chenje, 2000; UNDHA, 1994).
sada por inundações ou seca, porque freqüentemente Nas últimas três décadas, milhões de africa-
cultiva áreas que são marginais em relação ao clima nos buscaram refúgio devido a desastres naturais e
para a produção de cultivos e não pode acumular antropogênicos que causaram impactos tanto ambi-
reservas para épocas de privações. entais como econômicos. Ao fim de 2000, havia 3,6
Tanto as secas quanto as inundações podem milhões de refugiados na África, 56% dos quais abai-
resultar em desnutrição e fome, e a importação de xo de 18 anos de idade (UNHCR, 2001b). Freqüen-
alimentos e a dependência da ajuda alimentar a isso temente, os refugiados se assentam em ecossistemas
associadas podem afetar o potencial de crescimen- frágeis, onde exercem uma pressão considerável so-
to econômico dos países atingidos. No Quênia, os bre os recursos naturais, já que não têm outros meios
baixos níveis dos reservatórios, resultantes da seca para sobreviver (ver box na página seguinte). Às ve-
e da sedimentação associada ao desmatamento, le- zes, as populações de refugiados também experimen-
varam a reduções na geração de energia hidrelétrica tam conflitos adicionais com comunidades vizinhas,
e, conseqüentemente, à necessidade de racionamen- ao competir pelos recursos.
to de água e energia elétrica, que devastou a econo-
mia do país em 1999 e 2000. As perdas causadas so-
mente pelo racionamento de energia foram calcula- Medidas em caso de desastres
das em US$ 2 milhões por dia, e o custo da demanda Não têm sido empreendidos esforços regionais pla-
de eletricidade não atendida foi calculada em US$ nejados para administrar os desastres, e as medi-
400 milhões a US$ 630 milhões, o equivalente a 3,8% das em caso de desastres na África tendem a foca-
a 6,5% do PIB (World Bank, 2000). Em Moçambique, lizar os âmbitos nacional e sub-regional. Os esfor-
os custos das inundações no ano 2000 foram calcu- ços também têm-se concentrado mais em reações
lados em US$ 273 milhões em danos materiais, US$ do que na mitigação mediante melhorias na gestão
247 milhões na perda de produção, US$ 48 milhões ambiental e nas práticas agrícolas.
em exportações perdidas e US$ 31 milhões em au- A natureza imprevisível dos eventos extre-
mentos nas importações (Mozambique National mos e o fraco desempenho econômico da maior par-
News Agency, 2000). te dos países africanos dificultam ainda mais a pre-
paração para os desastres e a prestação de socorro
quando ocorrem. No entanto, há alguns casos de
Desastres causados por atividades
êxito na prevenção da fome resultante da seca, como
antrópicas o projeto do Sistema de Alerta Antecipado contra a
Embora a variabilidade climática seja um fenômeno Fome (Famine Early Warning System – FEWS), a
natural, a freqüência e a gravidade crescentes dos implementação de um novo sistema de distribuição
eventos extremos podem ser parcialmente atribuídas eficiente de sementes no Níger e a promoção de
a atividades humanas, como o desmatamento e a ges- mais variedades de cultivos resistentes à seca.
tão inadequada da terra e dos recursos hídricos. Por No Norte da África, os esforços para respon-
exemplo, o desmatamento de florestas tropicais na der às dificuldades econômicas durante as secas in-
África Central e Ocidental tem alterado o clima local e cluem o financiamento de projetos de geração de
os padrões pluviométricos e aumentou o risco de empregos, para evitar que os agricultores abando-
ocorrência da seca. A retirada de vegetação também nem as terras em que a produtividade está diminuin-
pode aumentar o escoamento e a erosão do solo. A do. Na África Oriental, estão sendo implementados
construção de represas e a drenagem de áreas úmi- projetos de florestamento e reflorestamento para di-
das reduzem a capacidade natural do meio ambiente minuir o impacto de futuras mudanças ambientais,
de absorver a água em excesso, ampliando os impac- particularmente a mudança do clima. Na África Meri-
tos das inundações. Por exemplo, os países na África dional, a Unidade Regional de Alerta Antecipado da
Meridional sofreram inundações devastadoras em SADC, o Projeto Regional de Sensor Remoto, o Cen-
1999 e 2000, que afetaram mais de 150 mil famílias tro de Monitoramento de Secas e o Projeto FEWS
(Mpofu, 2000). A degradação de áreas úmidas como assessoram os governos quanto à preparação para
as de Kafue, na Zâmbia, a construção de represas, o períodos de seca (ver Capítulo 3). Implementou-se
DESASTRES
299
Chenje, M. (ed., 2000). State of the Environment Findlay, A.M. (1996). Population and Environment in UNEP (1999). Western Indian Ocean Environment
Zambezi Basin 2000. Maseru, Lusaka and Harare, Arid Regions. Policy and Research Paper No. 10, Paris, Outlook. Nairobi, United Nations Environment
SADC, IUCN, ZRA and SARDC International Union for the Scientific Study of Population Programme
Coe, M. and Foley, J. (2001). Human and Natural Gommes, R. and Petrassi, F. (1996). Rainfall Variability UNHCR (2001a). Refugees and the Environment —
Impacts on the Water Resources of the Lake Chad and Drought in Sub-Saharan Africa since 1960. FAO Caring for the Future. Geneva, UNHCR – The UN Refugee
Basin. Journal of Geophysical Research 27 February Agrometeorology Working Paper No 9. Rome, Food and Agency
2001, Vol. 106, No. D4 Agriculture Organization
UNHCR (2001b). Refugee Children in Africa; Trends and
CRED-OFDA (2002). EM-DAT: The OFDA/CRED IPCC (2001). IPCC Third Assessment Report — Climate Patterns in the Refugee Population in Africa Below the
International Disaster Database. Centre for Research Change 2001. Working Group II: Impacts, Adaptation Age of 18 Years, 2000. Geneva, UNHCR – The UN Refugee
on the Epidemiology of Disasters http://www.cred.be/ and Vulnerability. Geneva, World Meteorological Agency
emdat [Geo-2-330] Organization and United Nations Environment
Programme World Bank (2000). World Bank Board Approves $72
Dilley, M. (1997). Warning and intervention: what kind million for Kenya. World Bank News Release No: 2001/
of information does the response community need from Kim, S. (2000). Southern Africa Swamped by Rains. 105/AFR. World Bank http://wbln0018.worldbank.org/
the early warning community? Internet Journal of Disaster News Network http://www.disasternews.net news/pressrelease.nsf [Geo-2-340]
African Studies, Vol. 2. University of Bradford http:// /disasters/2-14-00_africa-swamped.shtml [Geo-2-
www.brad.ac.uk/research/ijas/ijasno2/dilley.html 337] World Bank (2001a). Upgrading Urban Communities,
[Geo-2-336] Version 2001. Spotlight on Alexandra, South Africa.
Mozambique National News Agency (2000). Massachusetts Institute of Technology http://web.mit.
DMC (2000). Ten-Day Bulletin. DEKAD 19 Report (1-10 Government reports on flood damage and edu/urbanupgrading/upgrading/caseexamples/
July, 2000). Nairobi, Drought Monitoring Centre reconstruction. AIM Reports, Issue No. 194, 6 overview-africa/alexandra-township.html [Geo-2-341]
November 2000. Mozambique National News Agency
Ehrlich, P. and Ehrlich, A. (1990). The Population http://www.poptel.org.uk/mozambiquenews/ World Bank (2001b). World Development Indicators
Explosion. London, Arrow Books newsletter/aim194.html#story1 [Geo-2-338] 2001. Washington DC, World Bank http://www.
worldbank.org/data/wdi2001/pdfs/tab3_8.pdf [Geo-2-
FAO (2000). ACC Inter-Agency Task Force on the UN Mpofu, B. (2000). Assessment of Seed Requirements 024]
Response to Long Term Food Security, Agricultural in Southern African Countries Ravaged by Floods and
Development and Related Aspects in the Horn of Africa. Drought 1999/2000. SADC Food Security Programme
Rome, Food and Agriculture Organization http://www.sadc-fanr.org.zw/sssd/mozcalrep.htm
[Geo-2-339]
FAO (2001). 17 Countries are Facing Exceptional Food
Emergencies in Sub-Saharan Africa – FAO Concerned UNDHA (1994). First African Sub-Regional Workshop
About Deteriorating Food Situation in Sudan, Somalia on Natural Disaster Reduction, Gaborone, 28 November
and Zimbabwe. Press Release 01/48. Rome, Food and to 2 December 1994. Gaborone, United Nations
Agriculture Organization Department of Humanitarian Affairs
300 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
cia com freqüência a graves eventos de inundações Tendências dos desastres (número por ano): Ásia e
e deslizamentos. A exploração excessiva dos recur- Pacífico
sos hídricos já resultou em desastres ambientais sub- 500
regionais, como a dessecação do Mar de Aral na geofísicos
julho de 1976: um terremoto na China causou O Vietnã tem uma longa tradição de mitigação dos
a morte de 242 mil pessoas efeitos de desastres. Quando a Assembléia Geral
abril de 1991: um ciclone em Bangladesh acom- das Nações Unidas designou a década de 1990 como
panhado por uma maré de tempestade provo- a Década Internacional para a Redução dos
cou 138.866 mortes Desastres Naturais, o Vietnã reagiu com a
fevereiro de 1990 e dezembro de 1991: ciclones organização de um Comitê Nacional e o
em Samoa causaram perdas equivalentes a US$ fortalecimento da função que seu Comitê Central
450 milhões, cerca de quatro vezes o PIB do país para o Controle de Inundações e Tempestades
janeiro de 1995: um terremoto em Kobe, Japão, (CCFSC) desempenha quanto à mitigação dos
tornou-se um dos desastres naturais mais efeitos de desastres. O CCFSC desenvolveu
dispendiosos da história 5.502 pessoas mor- programas, planos e medidas para a redução de
reram e mais de 1,8 milhão foram afetadas, com desastres em coordenação com outras organizações
danos calculados em US$ 131,5 bilhões relevantes, orientou a implementação de atividades
outubro de 1999: o Super Ciclone no estado relativas à mitigação dos efeitos de desastres e
oriental de Orissa, na Índia, causou mais de 10 coordenou ações com organizações internacionais
mil mortes, enquanto 15 milhões de pessoas de relevância.
ficaram desabrigadas, sem comida, abrigo ou No fim da década de 1990, o Vietnã sofreu
água, e seu gado foi devastado o ciclone pro- uma série de eventos extremos, incluindo o tufão
vocou danos em 1,8 milhão de hectares de Linda (1997) na área costeira ao sul do país. Embora
terras agrícolas e arrancou mais de 90 milhões as perdas humanas e econômicas tenham sido
de árvores trágicas, as agências em todos os âmbitos
janeiro de 2001: um terremoto de 7,7 graus na fortaleceram suas capacidades de busca e resgate,
escala Richter atingiu o estado de Gujarat, na resultando em dezenas de milhares de evacuações.
Índia, deixando um saldo de mais de 20 mil Mais de 5 mil pessoas foram salvas graças a esses
mortos e 167 mil feridos as perdas econômicas esforços. Quando o tufão minguou, o governo
foram calculadas em US$ 2,1 bilhões providenciou assistência às comunidades
pesqueiras locais. Como conseqüência desse e de
Fontes: ADPC, 2001; CRED-OFDA, 2002; DoAC India, 2002 outros desastres, o governo tomou decisões em
relação a políticas para cada parte do país, incluindo
aumentar a resistência a inundações e proteger
mento de metil isocianato de uma indústria matou áreas povoadas, por meio do fortalecimento do
sistema de diques e estruturas de desvio de
mais de 3 mil pessoas e afetou mais de 200 mil inundações no norte do Vietnã, de políticas para
(Robins, 1990). evitar e mitigar danos causados por inundações na
região central do país e da política do delta do rio
Mekong, planejada para preparar medidas para
conviver com inundações e minimizar seus danos.
Medidas em caso de desastre Em reconhecimento a essas realizações, a
Os países asiáticos estão em estágios diferentes ONU concedeu ao Vietnã o Certificado de Distinção
pela Redução de Desastres no dia 11 de outubro de
de desenvolvimento institucional com respeito à 2000, o Dia Internacional para a Redução de
redução de desastres. Alguns deles, como o Ja- Desastres.
pão, têm um sistema há muito estabelecido de ad-
Fonte: UNEP, 2001
ministração de desastres. Estimulados pela Déca-
da Internacional para a Redução de Desastres Na-
turais (IDNDR), outros países (como o Vietnã, ver
box na página 281) fortaleceram suas estruturas
existentes ou estão formulando novas (UNESCAP · o desmatamento deve ser detido;
e ADB, 1995).
Apesar de algumas realizações recentes,
· as medidas de mitigação e de preparação já
implementadas devem ser fortalecidas;
ainda restam medidas e ações significativas a se-
rem tomadas em âmbitos regional e nacional, vi-
· são necessárias ações para reduzir os níveis
de pobreza, com vistas a manter a base de re-
sando reduzir riscos e perdas resultantes de de- cursos e proteger a biodiversidade; e
sastres, a saber: · o desenvolvimento rural é um pré-requisito para
diminuir a migração de pessoas para cidades e
· o impacto da degradação ambiental precisa ser
avaliado – é de suma importância elevar a
áreas costeiras.
Ali, A. (1999). Climate Change Impacts and Adaptation Huang, Z.G. (1999). Sea Level Changes in Guangdong Salafsky, N. (1994). Drought in the Rainforest: Effects
Assessment in Bangladesh. Climate Research, special and its Impacts. Guangzhou, China, Guangdong Science of the 1991 El Niño Southern Event on a Rural Economy
6, 12 (2/3), 109–16 and Technology Press (in Chinese) in West Kailimantan, Indonesia. Climate Change, 27,
373–96
ADPC (2001). Asian Disaster Management News, Vol. IFRC (2001). World Disaster Report 2000. Geneva,
7, No. 1, January-March 2001. Bangkok, Asian Disaster International Federation of Red Cross and Red Crescent Salafsky, N. (1998). Drought in the Rainforest, Part II:
Preparedness Centre, Asian Institute of Technology Societies an Update Based on the 1994 ENSO Event. Climate
Change, 39, 601–3
CRED-OFDA (2002). EM-DAT: The OFDA/CRED IPCC (1998). The Regional Impacts of Climate Change:
International Disaster Database. Centre for Research An Assessment of Vulnerability. Cambridge, UNEP (2001). Disasters. Our Planet http://www.
on the Epidemiology of Disasters http://www.cred.be/ Cambridge University Press ourplanet.com/imgversn/113/ngo.html [Geo-2-344]
emdat [Geo-2-330]
Ji, Z.X., Jiang, Z.X and Zhu, J.W. (1993). Impacts of UNESCAP and ADB (1995). State of the Environment in
DoAC India (2002). Super Cyclone Orissa. Natural Sea Level Rise on Coastal Erosion in the Changjiang Asia and the Pacific 1995. United Nations Economic and
Disaster Management, Department of Agriculture and Delta Northern Jiangsu Coastal Plain. Acta Geographica Social Commission for Asia and the Pacific and the Asian
Cooperation, India http://ndmindia.nic.in/ Sinica, 48 (6), 516–26 (in Chinese with English Abstract) Development Bank, United Nations, New York
cycloneorissa/ [Geo-2-343]
Kelly, P.M. and Adger, W.N. (2000). Theory and Practice UNESCAP and ADB (2000). State of the Environment in
FAO (1998). Time to save the Aral Sea? Agriculture 21, in Assessing Vulnerability to Climate Change and Asia and Pacific 2000. Economic and Social Commission
1998 http://www.fao.org/WAICENT/FAOINFO/ Facilitating Adaptation. Climate Change, 47, 325-52 for Asia and the Pacific and Asian Development Bank.
AGRICULT/magazine/9809/spot2.htm (26/09/2001) New York, United Nations http://www.unescap.org/
[Geo-2-342] Mirza, M.Q. and Ericksen, N.J. (1996). Impact of Water enrd/environ/soe.htm [Geo-2-266]
Control Projects on Fisheries Resources in Bangladesh.
Glantz, M. H. (1999). Currents of Change: EL Nino’s Environmental Management, 20(4), 527–39 World Bank (2001). World Development Indicators 2001.
Impact on Climate and Society. Cambridge, Cambridge Washington DC, World Bank http://www.worldbank.
University Press Robins, J. (1990). The World’s Greatest Disasters. org/data/wdi2001/pdfs/tab3_8.pdf [Geo-2-024]
London, Hamlyn
304 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
mais antigas da Federação Russa e da Lituânia, que tema de Relatório de Acidentes Maiores (Major
foram construídas de acordo com um planejamento Accident Reporting System – MARS) e o banco de
similar ao do reator de Chernobyl. dados do Sistema de Recuperação de Informações
As análises de grandes acidentes industriais sobre as Usinas Seveso (Seveso Plants Information
indicam que as falhas de componentes e os erros Retrieval System) são ferramentas práticas que aju-
humanos são as duas causas imediatas mais comuns, dam os países a tomarem decisões quanto à admi-
mas as principais causas latentes identificadas fo- nistração do risco.
ram a segurança e a gestão ambiental inadequadas Em geral, as informações sobre a extensão e a
(Drogaris, 1993; Rasmussen, 1996). O tempo de exis- localização de perigos tecnológicos estão melhoran-
tência das usinas de processamento é mais um fator, do. Os planos de reação em caso de emergência ago-
já que, quanto maior, há mais probabilidades de fa- ra podem ser elaborados para acidentes tecnológicos,
lhas por “desgaste” (M&M Protection Consultants, mas ainda são necessários mais esforços para reduzir
1997). A falta de investimentos em segurança e ges- os riscos (EEA, 1999).
tão ambiental e o funcionamento de usinas após o Uma vez que a poluição não cessa em frontei-
término de sua vida útil são, freqüentemente, resul- ras políticas, um dos acordos multilaterais mais impor-
tado da pressão dos acionistas que desejam aumen- tantes a esse respeito é a Convenção de Helsinque de
tar a lucratividade, embora essa pressão possa re- 1992 para a Proteção e Uso de Cursos de Água Trans-
sultar em grandes perdas a longo prazo. No entanto, fronteiriços e Lagos Internacionais, que entrou em vi-
também revelam lacunas no regulamento e no monito- gor em 1996. Essa convenção inclui exigências para
ramento. O acidente na mina de Baia Mare, na Romê- conduzir avaliações de impacto ambiental (EIAs) e
nia, em janeiro de 2000, serviu como um lembrete para notificar estados a jusante sobre acidentes, e ain-
bastante sério das deficiências de aplicação das nor- da reforça o princípio “poluidor-pagador”. A Conven-
mas ambientais nos países do Leste Europeu (ver ção de 1991 sobre Avaliação de Impacto Ambiental em
box na página anterior). Contextos Transfronteiriços, que entrou em vigor em
1997, exige que as partes notifiquem e consultem umas
Políticas de resposta às outras sobre todos os grandes projetos em anda-
Para muitos desastres tecnológicos, as abordagens mento que sejam perigosos em potencial (ECE, 1991).
holísticas estão se tornando mais predominantes, com Está sendo considerada uma abordagem inovadora em
crescente atenção à redução do risco de impactos relação a um protocolo conjunto sobre responsabili-
ambientais a longo prazo, bem como à redução de da- dade proposto de acordo com a Convenção de Helsin-
nos sérios à saúde e à propriedade causados por aci- que e a Convenção sobre os Efeitos Transfronteiriços
dentes (EEA, 1999). É de suma importância a esse res- de Acidentes Industriais (REC, 2000).
peito a diretriz da Comissão Européia sobre o contro- A maioria dos países europeus é parte desses
le de grandes desastres acidentais envolvendo subs- tratados multilaterais, e a cooperação internacional
tâncias perigosas (freqüentemente referida como “Di- de acordo com suas cláusulas ajuda os governos a
retriz Seveso II”), agora também incorporada ao sis- melhorarem as políticas nacionais quanto à preven-
tema jurídico da maioria dos países da Europa Central ção e à mitigação de desastres causados por ativida-
e do Leste Europeu. O banco de dados de seu Sis- des antrópicas.
EC (undated). Major Accident Reporting System of the ITOPF (2000). Historical Data. International Tanker UWIN (1996). Worldwide Paper on River and Wetland
European Commission. MARS http://mahbsrv.jrc.it/ Owners Pollution Federation http://www.itopf.com/ Development. Carbondale, Universities Water
mars/Default.html [Geo-2-3??] stats.html Information Network, Southern Illinois University
DESASTRES
307
Eventos hidrometeorológicos
O evento hidrometeorológico mais conhecido é o fe-
nômeno El Niño, cujos impactos podem ser graves.
Por exemplo, após a ocorrência do El Niño em 1983, o
PIB do Peru caiu em 12%, principalmente devido a
uma redução na produção agrícola e na indústria pes-
queira. A economia nacional levou uma década para
se recuperar. Os danos nos países da Comunidade
Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela)
causados pelo El Niño de 1997/1998 foram calculados
em mais de US$ 7,5 bilhões (CEPAL, 1999).
A maioria dos países da América Central e do
Caribe se encontra dentro da zona de furacões, tanto Fonte: UNICEF, 2001
308 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
da safra foi perdida (MoPD Venezuela, 2000). Estima- mento da exploração do mineral. Somente na Bacia do
se que tenha havido 30 mil mortes, 30 mil famílias Caroni, 3 mil quilos de mercúrio foram despejados, e
desabrigadas e mais de 81 mil habitações destruídas um derramamento de 1,5 milhão de toneladas de resí-
(IFRC, 2002). duos poluídos com cianureto foi registrado nos Rios
Omai e Esequibo na vizinha Guiana (Filártiga e Agüero
Eventos geológicos Wagner, 2001; AMIGRANSA, 1997). O maior derra-
As atividades sísmicas e tectônicas são particular- mamento de petróleo na região foi o originado de uma
mente intensas ao longo da costa do Oceano Pacífico explosão submarina de petróleo no poço Ixtoc na Baía
e na bacia do Caribe por causa de pressões geradas de Campeche em 1979, o segundo maior registrado
entre as placas oceânicas e continentais. Essa ativi- no mundo, com mais de 500 mil toneladas (Cutter
dade apresenta um risco relativamente alto de terre- Information Corp, 2000).
motos, maremotos e erupções vulcânicas que, em al-
gumas áreas, agravam o risco já elevado de furacões Políticas de resposta
e inundações. Entre 1972 e 1999, os eventos geológi- Muitos países, principalmente os localizados em ilhas,
cos extremos provocaram a morte de 65.503 pessoas são vulneráveis a desastres naturais (ver tabela). En-
e afetaram outras 4,4 milhões (CRED-OFDA, 2002). tre os principais motivos de preocupação quanto às
políticas, vale citar os seguintes (UNEP, 1999):
Desastres causados por atividades
antrópicas • deficiência na prevenção de desastres, incluindo
Certos desastres, como derramamentos de substân- a falta de zoneamento de áreas vulneráveis du-
cias químicas perigosas e produtos derivados de pe- rante o processo de planejamento do desenvol-
tróleo, têm origem tecnológica. No delta do Rio vimento;
Orinoco e nas regiões vizinhas da Venezuela, por exem- • mecanismos ineficientes de mitigação;
plo, o uso de cianureto e mercúrio na extração de ou- • deficiência e uso limitado de medidas de constru-
ro aumentou 500% na última década com o cresci- ção anti-sísmicas, assim como organização admi-
nistrativa e recursos humanos; inadequados para
a aplicação de tais medidas;
Vulnerabilidade dos países do Caribe aos • inexistência de apólices de seguro para famílias
perigos naturais de baixa renda; e
furacões terremotos vulcões enchentes secas
• sistemas inadequados de apoio às comunidades
afetadas.
Antígua e Barbuda
AMIGRANSA (1997). Posición de AMIGRANSA ante el Filártiga, J. and Agüero Wagner, L. (2001). Fiebre del Segnestam, L., Winograd, M. and Farrow, A. (2000).
decreto 1.850 de explotación de los bosques de Imataca. oro y ecoapocalipsis en Venezuela. Apocalipsis Geo- Developing Indicators: Lessons Learned from Central
Press Release. Communications for a Sustainable Ambiental. El Imperialismo Ecológico http://www. America. Washington DC, World Bank
Future, University of Colorado http://csf.colorado.edu/ quanta.net.py/userweb/apocalipsis/Venezuela/
mail/elan/jul97/0068.html [Geo-2-353] body_venezuela.html [Geo-2-355] UNEP (1999). Caribbean Environment Outlook. Mexico
City, United Nations Environment Programme, Regional
CEPAL (1999). América Latina y el Caribe: El Impacto IFRC (2002). Venezuela: Floods. Situation Report No. Office for Latin America and the Caribbean
de los Desastres Naturales en el Desarrollo, 1972-1999. 9. Geneva, International Federation of Red Cross and
Mexico City, Commisión Economica para America Red Crescent Societies UNICEF (2001). El Salvador Earthquakes. United
Latina y el Caribe, Naciones Unidas Nations Children’s Fund http://www.unicef.org/emerg/
MoPD Venezuela (2000). Venezuela Rises Above ElSalvador.htm [Geo-2-356]
CRED-OFDA (2002). EM-DAT: The OFDA/CRED Destruction. Caracas, Ministry of Planning and
International Disaster Database. Centre for Research Development, Venezuela WHO (1999). El Niño and Health. Geneva, World Health
on the Epidemiology of Disasters http://www.cred.be/ Organization
emdat [Geo-2-330] PAHO (1998). Health in the Americas. 1998 Edition.
Scientific Publication No. 569. Washington DC, Pan World Bank (2000). In Wake of Floods, Bank Urges
Cutter (2000). Oil Spill Intelligence Report. Cutter American Health Organization Venezuela to Protect Poor …. Press release 7 March
Information Corporation http://cutter.com/osir/biglist. 2000 http://wbln0018.worldbank.org/external/lac/
htm [Geo-2-354] lac.nsf/[Geo-2-357]
310 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
0
4
0
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
74
76
78
80
82
84
86
88
90
92
94
96
98
00
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
NIFC, 2000
2000). Os efeitos previstos da mudança climática in-
cluem as mudanças no fenômeno El Niño. Acredita-
se que um evento El Niño extraordinariamente forte proteção contra incêndios; mudanças nas políticas
ocorrido em 1997-1998 tenha sido responsável por relativas à queimada controlada; e maior acesso do
inundações graves na Flórida, na Califórnia, em al- público às florestas. A mudança do clima também
guns estados da região central dos Estados Unidos está envolvida. A importância relativa desses fato-
e em partes do estado de New England (Trenberth, res é polêmica.
1999). Nos lugares em que as tempestades se inten- Há muito tempo os Estados Unidos aplicam
sificam e as inundações aumentam, há um maior po- uma política agressiva de extinção de incêndios, e,
tencial de danos em assentamentos localizados em até a década de 1970, os incêndios eram mantidos
áreas baixas e nas instalações portuárias e de em cerca de 2 milhões de hectares por ano nos 48
atracamento, assim como aumenta o potencial de estados mais baixos, em comparação aos 16 milhões
problemas com a distribuição de água e com os sis- de hectares queimados a cada ano na década de
temas de esgoto, o que pode trazer prejuízos à saú- 1930 (Booth, 2000; CEQ, 2000; H. John Heinz III
de (EC, 1999a). Center, 2001).
312 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
Booth, W. (2000). ‘Natural’ Forestry Plan Fights Fires CIFFC (2001). Canadian Interagency Forest Fire Centre. EC (1999a). The Canada Country Study (CCS), Volume
With Fire. Washington Post, 24 Sep. 2000 Hectares by Year http://www.ciffc.ca/graphs/ VIII, National Cross-Cutting Issues Volume.
hectares.html [Geo-2-359] Adaptation and Impacts Research Group http://www.
Bruce, J.P., Burton, I. and Egener, I.D.M. (1999). ec.gc.ca/climate/ccs/execsum8.htm [Geo-2-362]
Disaster Mitigation and Preparedness in a Changing COTF (2000). Exploring the Environment: Yellowstone
Climate. Ottawa, Minister of Public Works and Fires. Wheeling Jesuit University/NASA Classroom of EC (1999b). Sustaining Canada’s Forests: Timber
Government Services the Future http://www.cotf.edu/ete/modules/yellowstone/ Harvesting, National Environmental Indicator Series,
YFfires1.html [Geo-2-360] SOE Bulletin No. 99-4. Ottawa, Environment Canada
Brun, S.E., Etkin, D., Law, D.G., Wallace, L., and
White, R. (1997). Coping with Natural Hazards in Canada Dalgish, A. (1998). The Mississippi Flooding of 1993. EC (2000). Environment Canada. Floods http://www.
http://www.utoronto.ca/env/nh/pt2ch2-3-2.htm http://www.owlnet.rice.edu/~micastio/ann3.html ec.gc.ca/water/en/manage/floodgen/e_intro.htm
[Geo-2-358] [Geo-2-363]
Easterling, D.R., Meehl, G.A., Parmesan, C.,
CCFM (2000). National Forestry Database Program. Changnon, S.A., Karl, T.R. and Mearns, L.O. (2000). EC (2001). Environment Canada. Tracking Key
Canadian Council of Forest Ministers http:// Climate Extremes: Observations, Modelling, and Environmental Issues http://www.ec.gc.ca/tkei/
nfdp.ccfm.org/ [Geo-2-389] Impacts. Science 289, 5487, 2068-74 main_e.cfm [Geo-2-364]
CEQ (2000). Managing the Impact of Wildfires on EC (1998a). Climate Trends and Variations Bulletin for FEMA (1999). About FEMA: History of the Federal
Communities and the Environment. A Report to the Canada: Annual 1997 Temperature and Precipitation in Emergency Management Agency http://www.fema.
President In Response to the Wildfires of 2000. Council Historical Perspective. Environment Canada, gov/about/history.htm [Geo-2-365]
on Environmental Quality http://clinton4.nara.gov/ Atmospheric Environment Service http://www.msc–
CEQ/firereport.pdf smc.ec.gc.ca/ccrm/bulletin/annual97/ [Geo-2-361] Flannigan, M.D., Stocks, B.J., and Wotton, B.M.
(2000). Climate Change and Forest Fires. The Science
Changnon, S.A. and Easterling, D.R. (2000). US Policies EC (1998b). Canada and Freshwater: Experience and of the Total Environment, 262, 221-9
Pertaining to Weather and Climate Extremes. Science Practices. Ottawa, Environment Canada
289, 5487, 2053-5
DESASTRES
313
Francis, D. and Hengeveld, H. (1998). Extreme Weather Morrison, P.H., Karl, J.W., Swope, L., Harma, K., Allen, Searchinger, T.D. and Tripp, J.T.B. (1993). Planning for
and Climate Change. Downsview, Ontario, Ministry of T., Becwar, P. and Sabold, B. (2000). Assessment of Floods: Another Look at Rising Waters. Environmental
the Environment http://www.msc-smc.ec.gc.ca/saib/ Summer 2000 Wildfires. Pacific Biodiversity Institute Defense Fund http://www.edf.org/pubs/EDF–Letter/
climate/Climatechange/ccd_9801_e.pdf [Geo-2-366] http://www.pacificbio.org/pubs/wildfire2000.pdf 1993/Nov/m_floodplan.html
[Geo-2-371]
Gorte, R.W. (1996). Congressional Research Service Trenberth, K.E. (1999). The Extreme Weather Events
Report for Congress: Forest Fires and Forest Health. Mutch, R.W. (1997). Use Of Fire As A Management of 1997 and 1998. Consequences: Nature and
The Committee for the National Institute for the Tool On The National Forests: Statement of Robert W. Implications of Environmental Change 5 (1) http://
Environment http://cnie.org/NLE/CRSreports/ Mutch Before the Committee on Resources, United www.gcrio.org/consequences/vol5no1/extreme.html
Forests/for-23.cfm [Geo-2-367] States House of Representatives Oversight Hearing. [Geo-2-376]
Committee on Resources, US House of Representatives
H. John Heinz III Center (2001). Designing a Report on http://resourcescommittee.house.gov/105cong/ Turner, C. (2001). Fighting Fires: Blazing a Trail. CBC
the State of the Nation’s Ecosystem: Selected fullcomm/sep30.97/mutch.htm [Geo-2-372] News http://cbc.ca/news/indepth/fightingfires/
Measurements for Croplands, Forests, and Coasts and blazing.html [Geo-2-377]
Oceans. The H. John Heinz III Center for Science, NIFC (2000). National Interagency Fire Center http://
Economics and the Environment http://www.us- www.nifc.gov/ [Geo-2-373] USGCRP (2000). Climate Change Impacts on the United
ecosystems.org/forests/index.html [Geo-2-368] States: The Potential Consequences of Climate
NPS (2000). Wildland Fire. The National Park Service, Variability and Change. US Global Change Research
IJC (2000). International Joint Commission Cautions Yellowstone National Park http://www.nps.gov/yell/ Program http://sedac.ciesin.org/National Assessment/
that Efforts Must Remain Focused on Protecting Against nature/fire/wildfire.htm [Geo-2-374] [Geo-2-378]
Flood Damages. International Joint Commission http:/
/www.ijc.org/news/redrelease3e.html [Geo-2-369] O’Meara, M. (1997). The Risks of Disrupting Climate. White House (2000). Vulnerabilities and Potential
World Watch 10, 6, 10-24 Consequences. White House Initiative on Global Climate
Jardine, K. (1994). The Carbon Bomb: Climate Change Change http://clinton4.nara.gov/Initiatives/Climate/
and the Fate of the Northern Boreal Forests. Greenpeace OCIPEP (2001). The Office of Critical Infrastructure vulnerabilities.html
International http://www.subtleenergies.com/ormus/ Protection and Emergency Preparedness http://www.
boreal.htm [Geo-2-370] epc-pcc.gc.ca/whoweare/index_e.html [Geo-2-375]
314 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
Combate à Desertificação. Sob o patrocínio desse tra- cendiados (Bennett, 1995). Esse desastre antro-
tado internacional, foram desenvolvidos programas pogênico teve imensos impactos sobre o meio ambi-
de ação nacional, e, em 2000, foi adotado um progra- ente e a saúde humana. Os efeitos ambientais de lon-
ma de ação sub-regional de combate à desertificação go prazo da Guerra do Golfo podem persistir por dé-
e à seca (UNCCD, 2001). cadas (UNEP, 1991). Além da poluição terrestre e ma-
Em âmbito nacional, as ações e as medidas rinha, quantidades incríveis de poluentes como
adotadas incluem modificar as políticas agrícolas e dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, monóxido
hídricas e dar prioridade às áreas afetadas pela seca. de carbono e material particulado foram emitidos pe-
los poços de petróleo incendiados. Os elevados ní-
veis de partículas em suspensão foram associados a
Desastres causados por atividades
uma reação alérgica nas pessoas. Estudos hospitala-
antrópicas res indicam que cerca de 18% da população civil do
Os desastres causados por atividades antrópicas es- Kuwait sofre de algum distúrbio respiratório, princi-
tão principalmente associados à indústria petrolífera. palmente asma, em comparação a somente 6% nos
A extração intensiva de petróleo na região resulta em Estados Unidos (US DoD, 2000).
freqüentes descargas de petróleo no Golfo. Calcula-
se que aproximadamente 10% do petróleo descarre- Conflitos armados
gado na região penetre no meio ambiente marinho Juntamente com os desastres naturais, a região tem
(Al-Harmi, 1998). Também ocorrem derramamentos sido assolada por guerras. Desde o início do século
acidentais de petróleo, e 3 desses acidentes estão XX, a região foi palco da guerra entre árabes e israe-
entre os 20 maiores do mundo: 300 milhões de litros lenses em 1948, da Guerra dos Seis Dias em 1967, da
procedentes da Plataforma de Nowruz, no dia 26 de guerra de outubro de 1973 e da invasão israelense no
janeiro de 1991, 144 milhões de litros do petroleiro sul do Líbano em 1982. Nas décadas de 1980 e de
Sea Star, em 19 de dezembro de 1972, e 118 milhões 1990, a primeira e a segunda guerra do Golfo causa-
de litros de tanques de armazenagem no Kuwait, no ram grandes problemas ao meio ambiente. A poluição
dia 20 de agosto de 1981 (Oil Spill Intelligence Report). ambiental foi um dos principais impactos. As flores-
316 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
tas foram deliberadamente incendiadas e os recur- ximadamente 350 mil palestinos e mais de 150 mil sírios
sos hídricos foram poluídos e/ou destruídos. O fogo tornaram-se refugiados no fim da Guerra dos Seis
de artilharia destruiu os recursos da terra. Os re- Dias. Cidades e vilarejos na Palestina e nas Colinas
cursos marinhos foram poluídos, assim como a at- de Golã foram despovoados e destruídos. Hoje há
mosfera, em conseqüência dos incêndios dos po- cerca de 3,8 milhões de refugiados em 59 campos
ços de petróleo, e os solos foram contaminados pe- registrados na Agência das Nações Unidas de Assis-
los derramamentos de petróleo durante a segunda tência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próxi-
Guerra do Golfo. mo (UNRWA, 2002). Os refugiados palestinos estão
As guerras geram refugiados. Em conseqüên- espalhados em diversos países, incluindo a Jordânia,
cia da guerra entre árabes e israelenses em 1948, mais o Líbano e a Síria. A maioria vive em condições de po-
de 750 mil palestinos foram destituídos de suas terras breza, pressionando ainda mais os recursos naturais
e ficaram desabrigados. Em uma segunda onda, apro- já limitados.
ACSAD (1997). Water Resources and their Utilization IPCC (1996). Climate Change 1995: The Science of UNEP (1991). A Rapid Assessment of the Impacts of
in the Arab World. 2nd Water Resources Seminar, March Climate Change. Contribution of Working Group I to the the Iraq-Kuwait Conflict on Terrestrial Ecosystems:
8–10, Kuwait Second Assessment Report of the Intergovernmental Part II - the State of Kuwait. Manama, Bahrain, UNEP
Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Regional Office for West Asia
Al-Harmi, L. (1998). Sources of Oil Pollution in Kuwait Cambridge, United Kingdom, and New York, United
and Their Inputs in the Marine Environment. EES-125 States UNRWA (2002). United Nations Relief and Works Agency
Final Report. Kuwait, Kuwait Institute for Scientific for Palestine Refugees in the Near East http://www.
Research Le Houérou, A. N. (1993). Vegetation and land-use in the un.org/unrwa/about/index.html [Geo-2-383]
Mediterranean Basin by the year 2050: a prospective study.
AOAD (1995). Study on Deterioration of Rangelands and In Jeftic, L., Milliman, J.D. and Sestini, G. (eds.). Climatic US DoD (2000). Oil Well Fires Environmental Exposure
Proposed Development Projects (in Arabic). Khartoum, Change and the Mediterranean. London, Edward Arnold Report. The Department of Defense. http://www.
Arab Organizaton for Agricultural Development gulflink.osd.mil/owf_ii/ [Geo-2-382]
Oil Spill Intelligence Report (2002). Oil spills involving
Bennett, M. (1995). The Gulf War. Database for Use in more than 10 million gallons http://cutter.com/osir/ WFP (2001). Estimated Food Needs and Shortfalls for
Schools http://www.soton.ac.uk/~engenvir// biglist.htm [Geo-2-380] WFP Operations and Projects. Rome, World Food
environment/water/oil.gulf.war.html [Geo-1-002] Programme
Parton, W.J., Scurlock, J.M.O., Ojima, D.S., Gilmanov,
Cynthia, H.A., Gilbert, P.M., Al-Sarawi, M.A., Faraj, T.G., Scholes, R.J., Schimel, D.S., Kirchner, T., Menaut, WMO and UNEP (1994). The Global Climate System
M., Behbehani, M. and Husain, M. (2001). First record J.-C., Seastedt, T., Moya, E.G., Kamnalrut, A. and Review. Climate System Monitoring June 1991 —
of a fish-killing Gymnodinium sp. bloom in Kuwait Bay, Kinyamario, J.I. (1993). Observations and modeling of November 1993. Geneva, World Meteorological
Arabian Sea: chronology and potential causes. Marine biomass and soils organic matter dynamics for the Organization
Ecology Progress Series 214, 15-23. grassland biome worldwide. Global Geochemical Cycles
7, 4, 785-805
FAO (1999). Special Report: Drought Causes Extensive
Crop Damage in the Near East Raising Concerns for UNCCD (2001). Sub-Regional Action Programme
Food Supply Difficulties in Some Parts http://www.fao. (SRAP) to Combat Desertification and Drought in West
org/WAICENT/faoinfo/economic/giews/english/ Asia http://www.unccd.int/actionprogrammes/asia/
alertes/1999/SRNEA997.htm [Geo-2-379] subregional/westasia/westasia.php [Geo-2-381]
DESASTRES
317
Fonte: AMAP,1997
AMAP (1997). Arctic Pollution Issues: a State of the IPCC (2001a). Climate Change 2001: The Scientific Kriner, S. (2001b). Flood Disaster Averted Again in
Arctic Environment Report. Oslo, Arctic Monitoring Basis. Contribution of Working Group I to the Third Siberian City. American Red Cross, 23 May 2001 http:/
and Assessment Programme Assessment Report of the Intergovernmental Panel on /www.redcross.org/news/in/flood/010523siberia.
Climate Change. Cambridge, United Kingdom, and New html [Geo-2-387]
Arctic Council (2001). Arctic Council Activities http:/ York, United States, Cambridge University Press
/www.arctic-council.org/ac_projects.asp [Geo-2-384] NOAA (2001). The Exxon Valdez Oil Spill. Office of
IPCC (2001b). Climate Change 2001: Impacts, Response and Restoration, National Ocean Service,
CAFF (2001). Arctic Flora and Fauna: Status and Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working National Oceanic and Atmospheric Administration
Conservation. Helsinki, Arctic Council Programme for Group II to the Third Assessment Report of the http://response.restoration.noaa.gov/spotlight/
the Conservation of Arctic Flora and Fauna Intergovernmental Panel on Climate Change. spotlight.html [Geo-2-388]
Cambridge, United Kingdom, and New York, United
EPPR (1997). Environmental Risk Analysis of Arctic States, Cambridge University Press Oil Spill Intelligence Report (2002). Oil spills involving
Activities. Risk Analysis Report No. 2. The Emergency more than 10 million gallons http://cutter.com/osir/
Prevention Preparedness and Response Working Group IUCN with E&P Forum (1993). Oil and Gas Exploitation biglist.htm [Geo-2-380]
of the Arctic Council http://eppr.arctic-council.org/ in Arctic and Subarctic Onshore Regions. Gland,
risk/riskcover.html [Geo-2-385] Switzerland, and Cambridge, United Kingdom, World OTA (1995). Nuclear Wastes in the Arctic: An Analysis
Conservation Union with the Oil Industry Exploration of Arctic and Other Regional Impacts from Soviet
Interagency Commission (1998). The Second National and Production Forum Nuclear Contamination. Washington DC, US Office of
Communication to the UNFCCC. Moscow, Interagency Technology Assessment
Commission of the Russian Federation on Climate Kriner, S. (2001a). Winter Chills Bring Spring Floods to
Change Problems Siberia. American Red Cross, 17 May 2001 http://
www.redcross.org/news/in/flood/010517siberia.html
[Geo-2-386]
DESASTRES
319
Conclusões
As seções anteriores deste capítulo mostram que Estocolmo, a Estratégia Mundial para a Conserva-
tem havido uma enorme mudança tanto nas condi- ção, Nosso Futuro Comum, a Declaração do Rio e a
ções humanas como nas ambientais nos últimos trinta Agenda 21 serviram de orientação para a agenda
anos. Em um período de um aumento populacional ambiental no período de 1972-2002. Os sistemas jurí-
sem precedentes, o meio ambiente tem suportado a dicos vinculantes – alguns anteriores a 1972 – agora
carga de satisfazer múltiplas necessidades humanas. integram o corpo do direito ambiental internacional,
Em muitas áreas, o estado do meio ambiente é muito fornecendo a força necessária para promover seu
mais frágil e degradado do que era em 1972. O resul- cumprimento. Além das políticas e da estrutura jurídi-
tado é que o mundo pode agora ser categorizado em ca, as três últimas décadas testemunharam também
quatro divisões principais: uma proliferação de instituições ambientais pelos se-
tores público e privado e pela sociedade civil em ge-
• Linha divisória ambiental – caracterizada por
um meio ambiente estável ou melhorado em al-
ral. Agora são comuns os ministérios ou departamen-
tos de meio ambiente em todas as regiões. O desen-
gumas regiões, por exemplo na Europa e na volvimento sustentável e os padrões ambientais tor-
América do Norte, e um meio ambiente degrada- naram-se parte da lingua franca de grandes empre-
do nas outras regiões, principalmente nos paí- sas, e muitas delas elaboram relatórios ambientais
ses em desenvolvimento; anuais como parte da agenda corporativa. A socieda-
• Linha divisória política – caracterizada por duas
dimensões distintas relativas à elaboração e à
de civil chegou à maioridade, registrando muitos ca-
sos de êxito em diferentes níveis – do âmbito comuni-
implementação de políticas: algumas regiões são tário ao internacional. Alguns dos progressos alcan-
fortes nos dois aspectos e outras ainda enfren- çados desde 1972 incluem os seguintes:
tam dificuldades nesses mesmos aspectos;
• Diferença de vulnerabilidade – divisão que se
está ampliando dentro da sociedade, entre paí-
• O tratamento da destruição da camada de ozônio
é uma vitória notável para a boa gestão ambiental
ses e por regiões, pela qual os menos favoreci- mundial. No entanto, requer vigilância contínua.
dos correm mais riscos de mudanças ambientais
e desastres; e
• A preocupação com os níveis de poluentes at-
mosféricos comuns resultou em um incentivo às
• Linha divisória do estilo de vida – resulta parci-
almente do aumento da pobreza e da prosperi-
reduções em muitos países, que têm sido reali-
zadas por meio de medidas específicas de políti-
dade econômica. Um lado da linha divisória do cas, incluindo padrões de emissões e de quali-
estilo de vida se caracteriza pelos excessos de dade do ar, assim como normas de fundamento
consumo por parte de uma minoria equivalente tecnológico e diferentes instrumentos baseados
a um quinto da população mundial, que é res- no mercado.
ponsável por aproximadamente 90% do total de
consumo pessoal; o outro lado se caracteriza
• Abordagens mais holísticas para a gestão de ter-
ras, como os sistemas integrados de nutrientes
pela pobreza extrema, em que 1,2 bilhão de pes- de solos agrícolas e gestão integrada de pragas,
soas vivem com menos de um dólar por dia. têm sido implementadas com resultados positi-
vos para a saúde dos ecossistemas agrícolas em
Essas quatro delimitações constituem uma séria ame- algumas regiões.
aça ao desenvolvimento sustentável. Os parágrafos
seguintes enfatizam alguns dos desafios ambientais
• As políticas relativas à água doce estão deixan-
do de concentrar-se nos direitos de comunida-
que a humanidade enfrenta hoje e alguns progressos des ribeirinhas para dedicar-se a melhorar a efici-
alcançados nas três últimas décadas. ência e a gestão de bacias hidrográficas. Atual-
mente, a gestão integrada dos recursos hídricos
é amplamente aceita como uma iniciativa estraté-
Realizações ambientais gica de políticas.
mentos de políticas para protegê-los têm sido in- políticas, e verifica-se o fortalecimento dos me-
suficientes ou esporádicos. canismos de resposta e dos sistemas de alerta
• Recentemente, tem havido uma evolução a partir
das abordagens de esgotamento de recursos para
antecipado.
metas de sustentabilidade; verifica-se também Uma observação geral é de que muitas das políticas
uma mudança modesta para uma abordagem mais mencionadas neste capítulo não tinham critérios cla-
integrada a políticas e gestão ambientais, que se ramente definidos nem critérios de execução específi-
concentra na sustentabilidade de ecossistemas e ca, ou tampouco os critérios possuíam relação direta
bacias hidrográficas, por exemplo, em vez de na com o desempenho ambiental. Tal observação vale,
preservação dos rendimentos. por exemplo, para políticas econômicas associadas a
• Atualmente, reconhece-se que a redução da po-
breza, o desenvolvimento econômico e a estabili-
tributação, comércio e investimento. Embora algumas
delas tenham uma relação significativa com questões
dade ambiental devem ser metas comuns. Esse ambientais (em alguns casos, como forças motrizes
reconhecimento rompe com a idéia predominante importantes da mudança ambiental), seus próprios
nas décadas de 1970 e 1980 que considerava a critérios de avaliação são em geral limitados ao de-
proteção ambiental e o desenvolvimento econô- sempenho econômico, o que tornou sua avaliação
mico como objetivos conflitantes. um desafio especial de um ponto de vista ambiental e
• A prosperidade e uma sociedade civil informada e
ativa têm sido as principais forças motrizes de po-
de desenvolvimento sustentável.
táveis mudanças ambientais causadas tanto por ativi- gião continuará enfrentando diversos desafios, in-
dades antrópicas como por fenômenos naturais. cluindo a gestão eficaz dos bens comuns. Seu papel
de liderança na gestão ambiental internacional é im-
portante e deve ser orientado pelo princípio de res-
Europa ponsabilidades comuns, porém diferenciadas, que é
Na Europa, muitas das questões ambientais funda- amplamente aceito na atualidade. A participação de
mentais são similares às questões comuns na África governos, de ONGs e da sociedade civil em âmbitos
e na região da Ásia e Pacífico. Entre elas, cabe menci- nacional, regional e internacional é fundamental para
onar a degradação de florestas, a quantidade e a qua- avançar no cumprimento das metas estabelecidas
lidade da água, a erosão costeira e as emissões de na Agenda 21 e na Declaração do Milênio, além de
gases de efeito estufa. Outras questões mais especí- outros objetivos determinados por fóruns subse-
ficas analisadas incluem a degradação, a impermea- qüentes, como a Cúpula Global para o Desenvolvi-
bilização e a contaminação do solo, e os organismos mento Sustentável. Muitas regiões continuarão a
geneticamente modificados. Em geral, a Europa é uma buscar a assistência da América do Norte em termos
das regiões mais bem posicionadas para lidar com de capacitação e auxílio ao desenvolvimento.
seus desafios ambientais, em virtude de seu desen-
volvimento econômico, além de estruturas jurídicas e Ásia Ocidental
institucionais bem estabelecidas, em âmbito tanto Mostrou-se que os conflitos relativos a políticas,
nacional como regional. Apesar de suas vantagens, como os associados à gestão de recursos hídricos,
no entanto, a região não pode combater as questões à produção de alimentos e à segurança alimentar,
ambientais globais por si só e deve continuar a de- prejudicam os esforços para alcançar o desenvolvi-
sempenhar um papel importante, principalmente em mento sustentável. É fundamental que haja uma
matéria de mudança climática. maior sinergia, e a elaboração e implementação de
políticas estratégicas devem incluir os diferentes
grupos de interesse para evitar sobreposições e
América Latina e Caribe competição que comprometam sua eficácia. Na re-
A região compartilha muitos problemas ambientais com gião, identificou-se a gestão integrada dos recursos
a África e com a região da Ásia e Pacífico. Outras ques- hídricos como uma das principais iniciativas de po-
tões incluem o sistema de posse de terras, a exploração líticas necessárias para melhorar a gestão de seus
excessiva de estoques pesqueiros e os desastres, como limitados recursos hídricos. Os países da região tam-
furacões, terremotos e derramamentos de substâncias bém continuarão combatendo os problemas da seca
perigosas. Esses problemas continuarão exercendo e da desertificação, os quais impõem sérias limita-
uma grande pressão sobre a vida humana e o meio ções ao meio ambiente e ao desenvolvimento.
ambiente, prejudicando quaisquer esforços para alcan-
çar o desenvolvimento sustentável. Existe o risco de
que milhões de pessoas na região continuem sendo As Regiões Polares
marginalizadas, o que mina os esforços para melhorar Alguns dos impactos ambientais identificados nas
as condições socioeconômicas e administrar o meio regiões polares também são sintomas claros dos
ambiente com eficácia em benefício das gerações atual excessos de atividades antrópicas por todo o glo-
e futuras. Sem políticas de resposta mais eficazes, é bo. As substâncias que destroem a camada de ozô-
provável que a tendência atual de piorar as condições nio utilizadas pela humanidade se manifestaram
ambientais continue, o que contribui para uma maior nessas regiões juntamente com a descoberta do
vulnerabilidade humana à mudança ambiental. buraco na camada de ozônio há cerca de duas dé-
cadas. As emissões de gases de efeito estufa são
outro exemplo de como os problemas ambientais
América do Norte “locais” podem se tornar globais. As regiões pola-
A América do Norte, o motor da globalização, enfrenta res continuarão sofrendo os impactos dos proble-
questões ambientais importantes, entre elas o uso de mas gerados em outras regiões. No entanto, a coo-
pesticidas, a gestão de florestas virgens, a invasão bio- peração contínua por diversas frentes, em âmbito
lógica e a qualidade dos Grandes Lagos. Apesar de sua tanto regional como global, deve auxiliar no com-
estrutura institucional e jurídica bem desenvolvida e do bate a alguns dos problemas existentes e na identi-
cumprimento bem-sucedido das leis ambientais, a re- ficação dos emergentes.