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ORIGINAL
Palavras-chave: Avaliação psicológica. Testes de personalidade. O desporto paraolímpico tem conquistado um espaço
Testes psicométricos. cada vez maior no cenário nacional e mundial. Dessa for-
ma, tem-se evidenciado a necessidade de melhoria das con-
ABSTRACT dições de treinamento e também de melhor suporte para o
atleta paraolímpico dedicar-se às atividades esportivas. Nes-
Psychological profile of Brazilian paralympic athletes
se contexto, a preparação psicológica aparece como mais
The purpose of this study was to present and discuss the uma ferramenta de auxílio ao atleta1.
results of a psychological evaluation carried out with 64 Nessa oportunidade, a avaliação psicológica foi solici-
athletes from eight different sports disciplines. The evalu- tada pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) com a fi-
ation was carried out in the Paralympic training centers in nalidade de obter informações básicas sobre o perfil psi-
cológico de cada atleta (65 atletas) e sobre sua situação
1. Doutor em Psicologia do Esporte pela Universidade de Colônia, Alema-
nha. sociocultural. Os resultados das avaliações (psicológicas,
2. Mestre em Treinamento Desportivo/Psicologia do Esporte pela Universi- médicas, fisiológicas e biomecânicas) serviram como base
dade Federal de Minas Gerais – UFMG. científica para subsidiar e orientar melhor os trabalhos dos
técnicos na fase de preparação dos atletas para as Parao-
Endereço para correspondência: limpíadas em Sydney 2000.
Rua dos Construtores, 464
30830-550 – Belo Horizonte, MG
Além disso, os dados levantados servirão como referên-
E-mail: fnoce2000@yahoo.com.br cia para as próximas avaliações e preparações de atletas.
E-mail: sam@eef.ufmg.br Dessa forma, é possível observar e analisar o desenvolvi-
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 8, Nº 4 – Jul/Ago, 2002 157
mento psicossocial e o da performance de cada atleta a
longo prazo (nos próximos quatro-oito anos) e elaborar pa- SISTEMA SOCIAL
râmetros para comparações em nível internacional (insta- grupos / organização
lar um banco de dados sobre os atletas brasileiros no CPB).
Os objetivos gerais da preparação psicológica nesse pe-
ríodo foram obter informações sobre o perfil psicológico
de cada atleta e do grupo como um todo; dar suporte cien- -564-55-
tífico para o trabalho dos técnicos na área da psicologia do
esporte; e fundamentar cientificamente o trabalho da pre-
paração psicológica dos atletas para Sydney. Os objetivos SISTEMA BIOLÓGICO SISTEMA PSÍQUICO
específicos foram detectar problemas psicológicos especí- organismo personalidade
ficos relacionados com a competição esportiva; analisar os
objetivos, metas e motivos para a prática esportiva de cada Fig. 1 – Estresse como um produto tridimensional (Nitsch, 1981:53)
atleta; identificar fatores estressantes e motivadores antes
e durante a competição; e analisar o tempo de reação, o Motivação
nível de duração e a velocidade da percepção dos atletas. Segundo Samulski7, “a motivação é caracterizada como
um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o
Fundamentação teórica
qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos)
A avaliação de atletas paraolímpicos, no aspecto psico- e ambientais (extrínsecos)”. Segundo esse modelo (figura
lógico, é um procedimento complexo em função da hete- 2), a motivação apresenta determinante energética (nível
rogeneidade do grupo, de seu perfil e da influência de inú- de ativação) e uma determinante de direção do comporta-
meras variáveis presentes no contexto. Capacidades e mento (intenções, interesses, motivos e metas). Baseando-
habilidades básicas avaliadas em um primeiro momento, se nesse conceito de motivação podem-se distinguir técni-
tais como a motivação, o estresse, o tempo de reação e a cas de ativação (activation-control) e técnicas de estabelecer
velocidade de percepção, são essenciais para a definição metas (goal-setting strategies).
de um plano de trabalho eficiente em qualquer modalidade.
Estresse
MOTIVAÇÃO
MOTIVAÇÃO
De forma geral, “o estresse é produto da interação do
homem com o seu meio ambiente físico e sociocultural”2.
De acordo com Nitsch3, existem fatores pessoais (proces-
Ativação Direção
sos psíquicos e somáticos) e fatores ambientais (ambiente
físico e social) que se interagem no processo de surgimen-
to e gerenciamento do estresse. Intensidade Persistência Intenção Orientação
A concepção de estresse, compartilhada entre diferentes a uma meta
autores4-6 mostra concordância unânime no que se refere à
associação do estresse com estado de desestabilização psi- Fig. 2 – Determinantes da motivação (Samulski, 1995:55)
cofísica ou a pertubação do equilíbrio pessoa-meio ambien-
te. O conceito de estresse como reação, segundo Selye6, Existem, de acordo com Samulski8, várias teorias de
compreende a “totalidade das reações de adaptação orgâ- motivação que podem influenciar a prática da atividade fí-
nica, as quais objetivam a manutenção ou reestabelecimento sica e esportivas dos atletas paraolímpicos brasileiros. Den-
do equilíbrio interno e/ou externo”. tre elas, podem-se destacar duas:
O conceito de estresse, de acordo com Nitsch3, pode ser • A motivação para a prática esportiva que, de acordo
compreendido como um produto tridimensional (figura 1). com Weinberg e Gould9, envolve a interação de fatores
Os conceitos biológicos, psicológicos e sociológicos de- pessoais e ambientais, sendo que a importância desses fa-
vem ser sempre pensados em dependência recíproca, pois tores pode mudar, dependendo das necessidades e oportu-
processos psíquicos e sociais são ligados, de determinada nidades atuais.
forma, a processos biológicos. Processos sociais, por sua • A teoria da motivação do rendimento: que explica a
vez, são influenciados através de aspectos psicológicos e motivação para o rendimento como o resultado da intera-
ambos podem tornar-se grandes influenciadores de respos- ção de fatores pessoais e situacionais, em que os autores10,11
tas biológicas. destacam cinco componentes fundamentais (fatores da per-
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sonalidade e motivos, fatores situacionais, tendências re- ção científica proposta, de acordo com a qual “tempo de
sultantes, reações emocionais e comportamento de rendi- reação” é o intervalo entre a aplicação do estímulo e o iní-
mento). cio da resposta14.
TABELA 3
Objetivos e metas no esporte (deficiência)
Deficiência
Mental Visual Físico-motora
Objetivos Objetivos Objetivos
no esporte no esporte no esporte
N % N % N %
TABELA 4
Freqüência dos motivos que mantêm o grupo praticando esportes (geral)
Deficiência
Mental Visual Físico-motora
Média D. padrão Média D. padrão Média D. padrão
TABELA 6
Freqüência dos motivos que podem levar ao abandono do esporte (geral)
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
33
35
Já para os DVs, a situação mais estressante é “não ter
condições adequadas de treino” (–2,70 ± 0,67). É impor- Fig. 3 – Análise geral do teste de estresse psíquico
TABELA 7
Teste de estresse psíquico (deficiência)
Deficiência
Mental Visual Físico-motora
Média D. padrão Média D. padrão Média D. padrão
da (esta forma de apresentação pode ser identificada nos rença significativa nos valores de números de estímulos (p
resultados como tempo 1). A medida que o indivíduo não < 0,05) e tempo (p < 0,05). Isso significa que os DFs conse-
consegue responder adequadamente aos estímulos, estes guem perceber e memorizar estímulos que aparecem mais
vão-se tornando cada vez mais nítidos e o tempo de per- rapidamente e menos nítidos.
manência no visor vai aumentando gradativamente. Este O estudo de Samulski et al.19 demonstrou que a privação
teste visa mensurar uma série de capacidades psicológi- de sono associada a intensa atividade física com pressão
cas, entre elas: percepção, atenção e memória a curto pra- psicológica pode afetar em até 25% o rendimento do indi-
zo13. víduo na variável velocidade de percepção.
Pode-se verificar (tabela 10) que, de forma geral, o gru-
po foi relativamente heterogêneo neste teste. O melhor re- CONCLUSÕES E CONSEQÜÊNCIAS
sultado é o indivíduo responder a apenas cinco estímulos,
Baseado nos resultados das avaliações psicológicas e com
sendo todos corretos e no tempo 1 (o mais rápido e menos
o apoio da literatura, torna-se possível o desenvolvimento
nítido).
de um programa de treinamento psicológico para os atle-
Já em relação aos tipos de deficiência (tabela 11), não
tas1. A intervenção in loco do psicólogo do esporte auxilia
foi possível nenhum DV realizar este teste. Assim, compa-
a observação e determinação de metodologias mais apro-
rando os DMs com os DFs, verificou-se que existe uma dife-
priadas ao contexto do desporto paraolímpico.
Durante as intervenções in loco, o psicólogo responsá-
TABELA 10
Resultado do teste de velocidade de percepção (geral)
vel conversou com os atletas e técnicos sobre problemas
existentes e aplicou algumas técnicas psicológicas como:
N Mín. Máx. Média D. padrão de concentração e motivação, de relaxamento, de visuali-
zação e de controle emocional22. Com os times de basque-
No de estímulos 53 5 17 6,32 2,22 tebol e futebol foram aplicadas também técnicas de dinâ-
No corretos 53 3 8 4,79 0,93 mica de grupo com a finalidade de desenvolver o espírito
Tempo 53 1 13 2,25 2,43
de time e união de grupo.
TABELA 11
Resultado do teste de velocidade de percepção (deficiência)
Deficiência
Mental Físico-motora
Média D. padrão Mín. Máx. Média D. padrão Mín. Máx.