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1. INTRODUÇÃO
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Graduanda em Letras – Português pela Universidade Federal do Maranhão, UFMA – Campus de Bacabal.
milenaoceria@outlook.com
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Graduando em Letras – Português pela Universidade Federal do Maranhão, UFMA – Campus de Bacabal.
alex.trombonecc@gmail.com
A maneira como realizamos a pesquisa foi buscando a letra da música em um site da
Web (letras.mus.br), ouvindo e analisando a mesma. Buscando assim, demonstrar como se dá
a construção do discurso de objetificação da mulher no Sertanejo Universitário.
Com este trabalho, temos por objetivo verificar as diversas estratégias de construção
discursiva, as quais estão presentes nas músicas do gênero aqui analisado e demonstrar de
forma clara esse processo de construção estratégica do discurso. Iremos ainda, identificar os
fatores que objetificam a mulher; verificar esses fatores na letra da música Vidinha de Balada;
analisar a linguagem presente na música; e analisar os discursos em torno da mulher presente
nessa música, a qual é interpretada pela dupla sertaneja Henrique e Juliano.
A relevância deste estudo se dá pelo fato do mesmo trazer uma apresentação crítica do
discurso por trás do enunciado de uma letra musical, demonstrando a maneira como a
sociedade brasileira e seu conceito de mulher se refletem dentro desse, levando assim uma
nova perspectiva aos olhos do público consumidor.
Na música analisada, vê-se a naturalização com que se fala da mulher no lugar de
objeto; percebe-se também que a mulher não tem voz ativa e está sempre sujeita às vontades
do eu-lírico, figura essa representada por um homem.
Para nos auxiliar na demonstração dessas considerações, utilizaremos conceitos
presentes na Análise do Discurso, tais como: Discurso e Ideologia (Gregolin, 1995) - os quais
nos ajudarão a entender o lugar de fala do eu-lírico da música e como isso se mostra no
decorrer das estrofes; e Sujeito (Possenti, 2009) que nos dará suporte para demonstrar quem é
o sujeito, ou seja, aquele que está sujeitado ao discurso e como ocorre o processo de sujeição
discursiva dentro da música.
O sertanejo universitário ultimamente tem sido um dos estilos musicais mais presente
entre adolescentes, jovens e adultos, como também, tem ocupado grande espaço no rádio, TVs
e paradas de sucesso de todo Brasil (CÁCERES , 2015). Diferente do sertanejo clássico, que
aborda em suas canções temas do cotidiano e da vida na zona rural, o universitário traz nas
letras de suas musicas temas como relacionamentos amorosos, traição, paixão, balada e amor
não correspondido, o que o torna aceito por diferentes públicos.
Segundo Rodrigues (2017), esse estilo musical surgiu com a dupla João Bosco e
Vinícius, no começo dos anos 2000, quando eles ingressaram no ambiente da universidade,
ambos na cidade de Campo Grande – MS, e começaram a fazer suas primeiras apresentações
para o público universitário.
Conforme as considerações de Bastos (2009), outras duplas sertanejas foram
essenciais ao longo dos últimos para a consolidação do sertanejo universitário atual, como
César Menotti e Fabiano e Jorge e Mateus, incorporando uma nova roupagem de ritmos e
instrumentos a esse gênero. Com isso, levando em consideração o sucesso, aceitação, e a
grande quantidade de interpretes desse gênero musical, percebemos a falta de questionamento
sobre as músicas, uma vez que abordam temas como relacionamento abusivo e sujeição da
mulher.
3. A ANÁLISE DO DISCURSO
Segundo Possenti (2009), a Análise do Discurso surgiu como uma resposta às questões
relacionadas à leitura, examinando relações entre linguística e história. Ou seja, a AD tornou-
se uma forma de compreender como a historicidade cultural e ideológica dos indivíduos
torna-os sujeitados aos seus próprios discursos, já que os mesmos não são um produto
original, trazendo sempre reflexos de outros discursos já existentes. Existem duas grandes
vertentes da AD, sendo que a primeira dedica-se aos dispositivos sociais de circulação dos
textos, não se preocupando diretamente com o com o sentido; estuda os textos que circulam
em determinado espaço, em quais épocas e por quais razões, além de levar em consideração
quem adquire e onde se compra o texto, como por exemplo, um livro de piadas. A segunda
preocupa-se propriamente com o sentido, ou seja, com aquilo que o texto significa,
considerando os aspectos implícitos e relacionando o discurso com o exterior. Podendo se
preocupar também com a circulação, caso isso afete a significação.
Deixando claras as diferenças entre as duas vertentes, utilizamos a segunda, pois nosso
propósito é mostrar o sentido implícito em Vidinha de Balada e para isso, devemos analisá-la
partindo do ponto de que a situação se relaciona com o discurso e que o texto é o suporte pelo
qual é possível realizar uma discursivização.
De acordo com Heldman (2012), o termo Objetificação começou a ser usado a partir
de 1970, e diz respeito ao processo que trata a pessoa como objeto. Nesse sentido, tendo
definido o significado de tal conceito, pode-se partir para a análise discursiva das música
escolhida, desenvolvendo através da AD a dissecação do processo de objetificação da mulher,
mostrando a influência da ideologia no discurso do sujeito. Ao falar de mulher objetificada na
música brasileira, devemos levar em consideração quem, quando e como fala, por isso se faz
necessária a AD neste estudo, pois a mesma nos dá uma visão para além do texto, explorando
o plano da enunciação.
Vidinha de Balada
Oi, tudo bem? Que bom te ver
A gente ficou, coração gostou não deu pra esquecer
Desculpe a visita, só vim te falar
Tô afim de você e se não tiver "cê" vai ter que ficar
Vejamos a terceira estrofe: o primeiro verso diz “Vai namorar comigo sim”, isso
ratifica a ideia trazida nas estrofes já analisadas, visto que, de acordo com Possenti (2009),
sujeito é efeito, ou seja, sujeitado à sua historicidade e aos discursos produzidos durante toda
sua vida e até aqui vimos que um discurso marcante entre os ouvintes é o machismo4. No
segundo verso é dito “vai por mim igual nós dois não tem”, demonstrando, mais uma vez, a
3
Decorre do verbo naturalizar, que significa “torna-se natural, comum ou familiar.” (NATURALIZAR, 2003-
2017).
4
Segundo DRUMONT (1980, P. 82), o conceito de machismo diz respeito ao “sistema representações-
dominação que utiliza o argumento do sexo, mistificando assim as relações entre os homens e as mulheres,
reduzindo-os a sexos hierarquizados, divididos em polo dominante e dominado.
imposição masculina diante da figura feminina, mas levando ao público a impressão de que
está sendo romântico ao dizer “igual nós dois não tem”. Possenti nos diz também que “o
leitor pode associar determinado texto a determinado discurso ao invés de associá-lo a outro, e
por isso faz dele uma leitura e não outra (...)” (POSSENTI, 2009, p. 14). Portanto, a letra é
associada pelas pessoas ao romantismo e não ao que pode ser chamado de objetificação da
mulher.
Já o terceiro verso, explícita de certa forma a objetificação contida na enunciação da
música: “Se reclamar cê vai casar também, com comunhão de bens”, no qual fica clara a
dominação discursiva do ponto de vista masculino, assim podemos levar em consideração seu
autor, Diego Silveira, de 23 anos, que compõe para grandes duplas do sertanejo universitário,
pois segundo Gregolin “Podemos observar as projeções da enunciação no enunciado; os
recursos de persuasão utilizados para criar a “verdade” do texto (relação
enunciador/enunciatário) e os temas e figuras utilizados”. (GREGOLIN, 1995, p. 18). Há uma
tendência discursiva nas músicas compostas por ele, como podemos observar em Ficadinha,
composta para a dupla Henrique e Diego; Comé que larga desse trem, e Quando o assunto é
cama, compostas para a dupla Maiara e Maraisa. Todas contendo uma contextualização da
mulher da mesma forma: sujeitada às vontades masculinas.
Dessa forma, a junção da memória discursiva do autor (isto é, os discursos que
formaram o texto) e a dos adeptos do gênero musical justifica a existência do discurso de
objetificação da mulher presente na música em análise.
Continuando a verificação da estrofe em questão, vamos ao quarto verso, que diz
“Seu coração é meu e o meu é seu também”. Para entendermos o que está implícito no
enunciado, evocamos Gregolin, que mostra:
A quarta estrofe é apenas uma repetição daquilo que é dito na terceira. Mas antes de
terminarmos a analise da música em questão, podemos acrescentar o que diz Possenti (2009),
sobre os textos: todos são heterogêneos, ou seja, sempre trazem em si misturas de diversos
outros textos. Podemos perceber isso nesta canção, que trata em tom de romantismo sobre
temas explícitos como: relacionamentos afetivos, balada, ressaca, casamento; e também temas
implícitos na enunciação, como: machismo e relacionamento abusivo.
Por fim, temos a última estrofe, que é constituída por apenas uma frase, a mesma já
citada várias vezes nos versos anteriores: “vai namorar comigo, sim!”. Essa frase resume todo
o discurso que a música traz: a objetificação da mulher enquanto produto cultural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CÁCERES, A. Após anos dominando as paradas, até onde vai o sertanejo universitário?
Blog Uol Música, 2015. Disponível em:
<https://uolmusica.blogosfera.uol.com.br/2015/03/02/apos-anos-dominando-as-paradas-ate-
onde-o-sertanejo-universitario-vai>. Acesso em: 27/12/2017.
POSSENTI, S. Questões para analistas do discurso. Parábola Editorial. São Paulo, 2009.
__________ Perfil geral do ouvinte do rádio brasileiro, segundo pesquisa do Kantar Ibope
Media, 28/10/2013. Disponível em: < https://www.kantaribopemedia.com/tribos-musicais/>.
Acesso em: 29/12/2017.
AVON. Percepções dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher, pesquisa
realizada pelo Instituto Avon/Data Popular, 2013. Disponível em: <
http://centralmulheres.com.br/data/avon/Pesquisa-Avon-Datapopular-2013.pdf>. Acesso em
29/12/2017.