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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO [—— NUMERO DO PROGESSO ~ LRatoa)acct2o1 i oe inlealic a 'SERVICO PUBLICO ESTADUAL ‘Processo n° E-18/001/305/2016 Governo do Estado do Rio de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura [Niieleo de Protocolo e Expediente ‘TERMO DE ABERTURA DE PROCESSO fim 14 de margo de 2016, cumprindo a ordem da Sr. Sérgio Linhares Miguel de Souza, Diretor de Departamento de Pesquisa ¢ Documentacio do Instituto Estadual do PatrimOnio Cultural desta Secretaria, efetuou-se & abertura do processo de n° E-18/001/305/2016. Com este fim ¢ para constar, eu, Fernando Jorge de Moura, servidor da Secretaria de Estado de Cultura, lavrei 0 presente termo que vai por mim assinado. Rio de Janeiro, 14 de margo de2016. SERVICO PUBLICO TADUAL Processe N'E=18/004]305 acts Data_44¥_/_©3 _/. Fls: OS Rubrica 32345075 Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Oficio Inepac n° 177/2016 Rio de Janeiro, 23 de abril de 2016. A Exma. Senhora EVA DORIS ROSENTAL DD. Secretiria de Estado da Cultura Assunto: Eneaminha proposta de Tombamento Provisério do Terreiro de Candomblé Ilé Axé Opé Afonjé, Sao Joao de Meriti, RI Senhora Secretaria, Cumprimentando-a, vimos encaminhar, em atendimento ao solicitado por meio de correspondéncia datada de 29 de agosto de 2015, de lavra da Ialorixé Regina Liicia de lemanja, (conforme Fis, 2 ¢ 3 do presente proceso), pedido de tombamento do “Terreiro de Candomblé “Tle Axé Opé Afonja”. O pedido foi realizado pela representante maior da comunidade de Axé, expresso em belissima carta que encerra a proposta de tombamento de um singelo terreiro de candomblé situado no nimero 1029 da Rua Florisbela, em Coelho da Rocha, bairro de Séo Jodo de Meriti. Foi emanado com convicgao, como vemos no trecho da carta abaixo copiado: “EU, [yd Regina Lticia dos Santos (...) muito consciente do significado desta agdo ~ com 0 apoio dos “Meus Mais Velhos” e “Mais Novos” desta Casa, manifesto 0 desejo de Tombamento deste espaco de Vida e Expiritualidade” De forma mais ou menos geral, no é comum que a sociedade compreenda plenamente as implicagdes do ato de tombamento, que, por sua vez, normalmente ¢ visto como negativo pelo proprietario do bem a ser protegido. Essa conseiéncia, como veremos mais a frente, é um dos pontos que se destacam no estudo de tombamenio que, a partir do pedido, foi elaborado. Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro ua da Quitanda, 86/ 8 andar - Centro Rio de Janeiro - Al ‘CEP 20091 902 Tel: 55 21 2216 8500 E-mail cultwre@eutura.r.gov.or-wwwculture.igov.br | pento pe VOCE SERVIGO PUBLICO ESTADUAL OE, / POAG * 48, (Ae _ Fst Rubrica psB 1b saztS ots ee Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Em seguida, foi recebida carta do Frei Athaylton Jorge Monteiro Belo ~ ou Frei Taté', como prefere ser chamado — que nao apenas reforga o pedido de tombamento da Iya Regina Lucia como também apresenta justificativas que se tomnariam alguns dos caminhos que foram percorridos na elaboragao dos estudos que ora encaminhamos & V. Exa: 0 culto, a cadeira ea origem da Casa 0 culto € em razdo de ser Xang6 o Orixd da Casa, um dos mais fortes na tradigiio do Candomblé. Isso se deve a0 fato de ter sido ele, segundo a mitologia, o mais poderoso rei da cidade de Oy6, que, por sua vez, foi o maior dos impérios iorubas. Apés a sua morte, Xangé se tornou Orixé e seu culto passou a ser mais importante da sua cidade”. A cadeira representa a forga, ou seja, 0 Axé, personificado na figura da lalorixa. A cadeira é, portanto, o simbolo da autoridade maior do culto a Kango em sua Casa, nesse caso, no Ue Axé Opé Afonjé (que pode ser compreendida como “Casa de Poder Sustentada pelo Grande Guerreiro Yorubé - Xangé”). A cadeira também representa todas as lyds (Maes) que a ocuparam ¢ & simbolo de primeira importincia na hist6ria ¢ na cultura desse terreiro. Destaca-se Eugenia ‘Ana dos Santos, Mie Aninha ou ya Oba Biyi, fundadora do Ilé Axé Op6 Afonjé®. Mae Aninha, por todo o servigo que prestou ao Candomblé, foi uma Iyalorixd de grande importincia no Rio de ' Ha de se registrar o fundamental papel de mediador e de grande incentivador do tombamento do Frei Tati, da Ordem dos Franciscanos Menores. O fato de ter sido esse frei franciscano negro quem ofereceu suporte dinamizagdo do processo de envolvimento com a comunidade tradicional candomblecista ¢ 0 melhor exemplo possivel de consciéncia religiosa nesse momento em que vivemos tantos atos de intolerancia. Janeiro e em Salvador e é reverenciada dessa forma até os dias de hoje. 2 Fonte: hitp:/www.filch.usp.br/sociologia/prandi/xangorei.htm > Mile Aninha de Afonjé fundou seu primeiro terreiro na Pedra do Sal, em 1886. Foi ali que ela iniciou seus primeiros descendentes, apés grande dispersio dos membros do Terreiro de Candomblé inttulado “Casa Branca’, em Salvador, seu terreiro de origem. O 18 Axé Op8 Afonjé de Salvador s6 foi criado em 1910, ou seja vinte © quatro anos apés a fundacio do primeiro, no Rio de Janeiro. A sua primeira fitha-de-santo do Ilé de Salvador viria a ihe suceder no lé do Rio de Janeiro. De fato, apenas na quarta geracio a Casa de Xango carioca teria a sua primeira Iyalorixd nascida no Rio, pois todas as suas antecessoras eram de Salvador. (InformagBes extraides do Livro “Da Pedra do Sal até Coelho da Racha ~ Il8 Axé Op Afonja, Rio de Janeiro”, de Ed Machado) * - ze aviGO. eee ESTAI Ua roasiont BAC (ert papier al [aoe ba ep 30313532 — Governa do Estado do Rio de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura ‘A origem da Casa é na Pedra do Sal, no ano de 1886. 0 Axé foi encontrado na Pedra do Sal e ali foram i iciados os primeiros descendentes de Mae Aninha. Em poucos pardgrafos seria tarefa inalcangdvel descrever a importineia do que isso representa. Cabe, ao menos, prestar trés declaragdes fundamentais: a Pedra do Sal é negra (1); a Pedra do Sal foi o primeiro monumento negro a ser tombado no Brasil (2)*; 0 primeiro monumento negro no Brasil foi tombado por iniciativa deste Inepac (3). Descrever a importincia desse tombamento para 0 Estado do Rio de Janeiro igualmente no se faz em um parigrafo (falaremos mais dele a seguir), de modo que cabe no minimo dizer que ele ¢ emblemdtico para o Inepac até hoje ¢ que, por isso, rendemos homenagens ao saudoso Joel Rufino’, Conselheiro de Cultura do Estado do Rio de Janeiro da época, por té-lo provocado, e a {talo Campofiorito, por t8-lo compreendido ¢ realizado, “4 Pedra do Sal é um monumento histérico da cidade do Rio de Janeiro. Dali, os moradores da Saiide saudavam os navios que chegavam da Bahia com familiares ¢ amigos, A Pedra do Sal era, para esses migrantes, 0 que & hoje 0 Cristo Redentor para 0s recém-chegados ao Rio: 0 primeiro abraco ¢ o primeiro sentimento da cidade. Ficou um raro testemunho da cidade negra. A Pedra do Sal é un monumento religioso do pove carioca.”* 0 tombamento mais antigo que diz respeito 4 cultura negra brasileira incide sobre 0 acervo do Museu da Magia "Negra, decorrente de apreensées da Policia do Estado do Rio de Janeiro de bens culturais de diferentes religides de thatriz africana, Esse tombamento foi promovido pelo IPHAN em 05 de maio de 1938, caracterizando-se como 0 primeiro tombamento emogrifico do Brasil. No entanto, por ser mais um apanhado aleatrio de bens culturais do gue uma colegio constituida por uma curadoria e por ndo ser mais de propriedade das comunidades das quaisfizera parte, entendemos que nilo se trata, de fato, de um monumento, O tombamento da Casa Branca, ainda que tenha obtido a aprovaglo do Conselho Consultivo do IPHAN em maio de 1984, s6 ocorreu efetivamente 1986, ou sea, posteriormente ao tombamento da Pedra do Sal, plo INEPAC. + Joel Rufino foi um dos mais importantes porta-vozes da forga do movimento social negro intitulado “Movimento Negro Unifieado”, o MNU, criado em 1978. Tornou-se Conselheiro Estadual de Cultura pela sua forte ligaeo com ‘Abdias Nascimento, iniciada nos tempos do Teatro Experimental Negro. Juntos findaram o Movimento Negro Unificado. Abdias acompanhou Leonel Brizala ~ de quem se tomara amigo no exilio — na fundag3o do Partido Democritico Trabalhista (PDT), nico partido que tinha em seus quadros homens e mulheres negras. © Texto do entio Conselheiro Estadual de Cultura, Joel Rufino. Processo de Tombamento da Pedra do Sal — Inepac/1984) Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro ua da Quitends, 85/ 8? andar Cantro Rio de Janeiro RU scans ‘CEP 20091 902—Tel.: 55 21 2216 8500 = pecucrume E-mail cutture@cukure.f.gov.br-wwrw.culturas.gov.br SERVIGO PUBLICG_ESTADUAL| paces E4004 [305/8016, ua) OF JAG Pe rua AGS ib de 13075 | Governo do Estado do Rio de Janciro Secretaria de Estado de Cultura “De agora em diante, levanta-se uma nova hierarquia de valores no morro da Conceigdo. Nao sao s6 os entornos do Palécio Episcopal, da Fortaleza da Conceieéo, da Tereja de Sao Francisco da Prainha — bens tombados por sua gidria superior — que garantem 0 velho casario: de baixo para cima, é 0 monumento negro e popular que protege o resto, Em ambas as falas, a vontade de inaugurar uma nova politica preservacionista, que considerasse valores ha tanto preteridos, se fez valer. Um momento de fundamental importincia para 0 pensamento ¢ a ago dos drgios de protegaio dos bens culturais. Em termos técnicos, os 6rgios de preservago, de fato, nfo haviam ainda se debrugado seriamente sobre esse assunto no Estado do Rio de Janeiro, ao menos de modo a criar alguma protegio efetiva ao patriménio material oriundo da cultura affodescendente. E isso é, em parte, compreensivel por duas razies principais. A primeira se deve ao fato de, historicamente, a administragdo publica e diversos setores da sociedade civil terem ignorado ou mesmo perseguido outras praticas religiosas que nfo o catolicismo. Construiu-se, principalmente em relagao as religiées de matriz africana’ - sob a alcunha de “magia negra” - uma visto deturpada, relacionando-as no com o sagrado, mas com 0 7 justfcatva do entéo Diretor do Departamento de Cultura do Esado do Rio de Janeiro, 0 Arquiteto filo Campofioito, para efetaro importante tomsamento provisério de 1984, romado defntvo em 1987. 5 4 perseguigto aos cultos negros € de amplo conhecimento. 4 em 1912, o episédio “Quebra de Xango”, destruiu inimeros tereiros no estado de Alagoas. “O artigo 137 do primeiro eédigo penal republicano proibia o espiritsmo, ‘a magia e seus sortilégios para despertar sentimentos de dio e amor e fascinar a credulidade piiblica. Outro artigo proibia, como até hoje, 0 ‘curandeirismo™ (In htp://s1.globo.convplatb’vvonnemaggie/2011/ 08/12/obietos-da- {eiticaria/). "No Brasil império a liberdade religiosa era restrita ao culto doméstico. O local de culto no poderia ter nenhuma fachada que indicasse ser ai templo religioso (Silva Jr, 2007)". (..) "Na Bahia, esta obrigacdo durow aié 1976 (Braga, 1995). Na Paraiba, uma lei de 1966, outorgava que os cultos africanos precisariam da ‘autorizacdo da Secretaria de Seguranca Piiblica e ‘uma prova de sanidade mental do responsével pelo culo, mediame —realizagdo —de.~=—=Ssexame —psiquidtrico'' = (Siva. dr,_—-2007:310)"(In :(hwwusxiconlab eventos. dvpe.com.briresources/anais/3/1308318199 ARQUIVO artigo marina_barbosa.pdi). ‘Obs.: 0 “Candomblé em siléncio” trouxe para as comunidades a resisténcia por meio do samba de roda, nos Candomblés da Bahia (Salvador, RecOncavo Baiano, etc), do Céco, em Pernambuco ¢ arredores, ¢ do Samba Afoxés, no Rio de Janeiro, Na frente do terreiro essas expressbes davam conta de esconder as priticasreligiosas que ocorriam nos fundos das casas. Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro ue da Quitanda, 86/ 88 andar - Centro Ro de Janelro - RI CEP 20091 902 ~Tef.: $52 2216 8500 E-mail cultura@cultura.j.gov.br-www.cultura.r gov.br Governo do Estado do Rio de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura demoniaco. Essa forma preconceituosa se perpetuou em nossa sociedade como uma doenca. ‘Ainda que haja vitrias ¢ avangos enormes, esse preconceito ainda hoje é visivel e vem se manifestando sob a forma da intolerdncia religiosa. ‘A segunda € que houve também certa resisténcia € dificuldade dos érgdos de preservagdo de lidarem com a cultura afrodescendente, assunto que os técnicos se mantinham a certa distancia, seja por considera-lo desprovido de qualidade artistica ou estética, seja por ignorar a sua relevancia popular. ‘Ainda que, jé em 1938, o IPHAN tenha promovido a protego de bens culturais religiosos nais aftodescendentes pela Policia do Estado do Rio de expropriados das comunidades trad Janeiro” — sem sombra de diividas um tombamento sui generis para o seu tempo — aquela ficou relegada a segundo plano", ndo tendo sequer figurado nas publicagdes dos guias dos bens tombados do IPHAN até 1984. Jé 0 tombamento, em 14 de agosto de 1986, do Terreiro de Candomblé “Casa Branca do Engenho Velho”, ou Ilé Axé Iya Nass6, em Salvador, BA, também pelo IPHAN, foi um marco nos postulados de preservagiio de bens culturais de natureza material dessa ordem, ou seja, de edificagées que abrigam religides de mairiz africana. Ainda assim, foi um desafio conceitual para 0 Conselho Consultivo do IPHAN de entdo, que a principio, se mostrou dividido. Fundamental, naquela ocasiéo, foi a efetiva participagdo dos movimentos sociais, que deram forga e preméncia ao tombamento. Nas palavras de Gilberto Velho, entio Conselheiro Consultivo do IPHAN: ida que a inserigdo do tombamento date de 05 de maio de 1938 (in http://portal.iphan.gov-br/ans), no ha ata correspondente disponivel no Portal do IPHAN (In http: jhan. gov bri selho data=1938%42F 1940) & encontramas que “a primeira reunido do Consetho acorreu em 10 de maio de 1938(..)” (In jlrevistamuseologiaepatrimonio mast bvindex. pi wi 3/265, pig. 113). "9 fm CORREA, Alexandre Femandes. “A Coleedo Museu de Mogia Negra do Rio de Janeiro: 0 Primeiro Patrimonio Etnogréfico Do Brasi.Publicasto do Departamento de Histria e Geografia da Universidade Federal do Rip Grande do Norte, Campus de Caies. V.07.N. 18, out/nov, de 2008 ~Semestal, pg. 407-417 ‘CEP 20081 902 - Tel.: 55 21 2216 8500 = Be —- $< SS x SERVIGO PYBLICO ESTADUAL| Proceso t 4 /00- eee seo te SSS ae Ta Governo do Estado do Rio de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura “E inegdvel que, para a vitéria do tombamento, foi fundamental a atuagdo de um verdadeiro movimento social com base em Salvador, reunindo artistas, intelectuais, Jornalistas, politicos e liderangas religiosas quese empenharam a fundo na campanha pelo reconhecimento do patriménio afro-baiano.” Mas, mesmo considerando os tombamentos relacionados apés esse marco'!, podemos observar que 0 acautelamento de bens culturais relacionados 4 cultura negra ainda era pontual e destacado das politicas piiblicas relacionadas & preservago do patriménio cultural no Brasil, seja pelo governo federal, estados ou municipios. E, de fato, recente o fenémeno da valorizagio objetiva da cultura negra como parte do patriménio cultural nas politicas de preservaeao, tanto por ela em muito ter se conectado a nomeagio de um negro a Ministro da Cultura, quanto pelas tens6es sociais decorrentes da criago do Decreto Federal 3551/2000, A dificuldade dos érgios de preservago est registrada também em alguns textos do tombamento da Casa de Xang6 baiana, o Terreiro de Candomblé ‘Ilé Axé Opé Afonjé’ em Salvador. Dois deles gostaria de aqui destacar, quer seja por terem sido escritos por técnicos da mais alta qualidade técnica, quer seja pela sensibilidade ¢ coragem com que eles destacaram essa ‘omissio por parte dos érgios de preservacio. “Tombamento de objetos culturais de tradicao afro-brasileira é assunto de diminuta experiéncia institucional, havendo apenas dois precedentes na Casa: 0 ‘Museu da MAGIA Negra’ (Rio de Janeiro), primeiro a ser inscrito no Livro de Tombo Arqueolégico, Etnogréfico ¢ Paisagistico, do endo SPHAN, a 5 de Maio de 1938, ¢ 0 ‘Terreiro da Casa Branca’, inscrito, a 14 de agosto de 1986, nos Livros de Tombo Arqueolégico, Etmogréfico ¢ Paisagistico e no Histérico. Por ocasido do pedido de tombamento do ‘Terreiro Filhos de Oba’ (Sergipe), fizemos significar a necessidade de se proceder a estudo que buscasse estabelecer pardmetros conceituais destinados a permitir a Casa interviesse nesse universo de bens culturais de maneira a contemplar um ™ Vide Anexo 01 — Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janelro ua da Quitanda, 86/ 8° andar - Centro - Rio de lanelra - Rd CEP 20081 $02 —Tel. $5 21 2216 8500 E-mail: culura@eultura.t.gov.br- www.cultoraigov.r | peeto Os VOCE <9 PUBLICO ESTADUAL » 46) eo (BOS otc At!_03° 46 "a S: 1b 8254505 Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura conjunto de bens representatives do contributo da tradi¢do afro-brasileira na formagdo cultural do nosso povo. Infelizmente, por falta de aparelhamento institucional que incentive 0 desenvolvimento de pesquisas, tal recomendagiio ndo teve a atengao por »2 parte da instituigdo e o assunto permaneceu pendent “A divisio de Estudos de Acautelamento do DEPROT. conforme registrado nos Memos 1, 830/98 e 21/99, se mostra preocupada com a conclusdo desse proceso, uma vez que seria pouca a experiéncia da instituigdo nesse tipo de tombamento & insuficiente 0 conhecimento técnico acumulado sobre o assunto para permitir uma avatiagdo rigorosa sobre os terreiros que, por seu valor cultural, importaria proteger. Haveria, assim, a necessidade de formar equipe de especialistas para orientar a aciio do IPHAN neste campo, permitindo-the estabelecer uma politica séria e ampla de protecdo dos bens culturais representativos da contribuigdo negra na formagdo cultural da nagdo. Nao hé diivida de que é grande a divida do IPHAN para com o inventério e a protegao de bens culturais vinculados @ cultura ajro-brasileira. Estudos amplos dessa natureca so, de fato, necessdrios e & urgente o estabelecimento de uma politica institucional de protegdo aos referidos bens. E justa, portanto, a reivindicagdo da Divisdo de Estudos de Acautelamento do DEPROT que promovam estudos de dmbito nacional sobre esse tema Contudo, embora sejam desconhecidos da maior parte do IPHAN, nos anos 80, foram realizados rigorosos estudos sobre 0 assunto na Bahia e os seus resultados permitem hoje selecionar, com muita seguranca, os terreiros de candomblé que melhor informam sobre 0 surgimemo dessa genuina manifestacdo religiosa afro-brasileira e melhor preservam suas tradigoes."" ? Processo de Tambamento do Ilé Axé Op8 Afonjé, Salvader, BA. Volume 2, Fls. 12 ~ Parecer do Dr. Marcos Tadeu. * Processo de Tombamento do II6 Axé Opé Afonjd, Salvador, BA. Volume 2, Fis. 98 ¢ 99. Parecer da Dra. Marcia, Santana. Secretaria de Estado de Cultura do Rlo de aneiro Rua da Quitanda, 86/ 8 andar - Centro - Rio de Janeiro - RL (CEP 20081 902 ~Tel.:55 21 2216 8500 E-mail cultura @eultura..gov.br -worw.cultura.f.gov-be a SERVIGO PUBLICO ESTADUAL Sos|ec1e _ Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Ainda que os pedidos de tombamento de terreiros tenham se ampliado significativamente 2 partir do inicio desse milénio, a politica de preservagdo desses bens culturais foi se consolidar mais claramente no territério do patriménio imaterial — ou seja, por meio de registro ¢ no por tombamento, Convencionou-se, por assim dizer, que a forma de identificagdo desses espacos litirgicos é de importancia relativa ao patrimdnio imaterial, o que acaba por impor uma série de obstaculos a uma politica publica de preservagdio mais holistica dos seus bens culturais. Talvez, por essa raziio, seja ainda o tombamento de terreiros muito pouco frequente e visto de forma excessivamente cuidadosa por parte dos profissionais da area. E certo que hé ainda forte caréncia de antropélogos, museélogos, socidlogos, pedagogos, historiadores da arte, entre outros, na conformagiio da area técnica dos érgiios de preservagdo. Por tudo isso, segue, em parte, ainda um tanto prejudicada a protegdo material de bens da cultura negra e, especialmente, das religides de matriz africana. Independente as questbes de carateres politico e técnico acima debatidas, inquestiondvel & hoje a importéncia histérica do candomblé para a formagio da identidade e da cultura brasileira ¢,em particular, do Estado do Rio de Janeiro. A ancestralidade do culto a Xang6, no caso do Tie Axé Opé Afonja (na lingua iorubé escrevemos JIé Ase Opé Afanjd), remete a fins do século XIX, quando seu axé foi encontrado na Pedra do Sal, no bairro da Satide, na cidade do Rio de Janeiro. A Pedra do Sal, como jé dito, é considerada o tombamento mais representativo ja feito no estado em reconhecimento A importincia da cultura afto-brasileira para a identidade fluminense. Esse tombamento, que teve no saudoso lider negro Joel Rufino seu provocador, lastreou o mérito da solicitagao da Iya Regina Licia. Valores sempre renegados estavam mais uma vez. postos mesa. Contudo, ainda que fosse undnime a certeza da relevancia cultural do terreiro, houve diivida se © instrumento juridico do tombamento conseguiria aprender ¢ preservar todas as nuances dessa referéncia identitaria de cardter to dinémico ou mesmo se a protegao dos bens de natureza material do terreiro é Axé Opd Afonjé poderia interferir de forma negativa na Secretaria de Estado de Cultura do lo de Janeiro 6 ua da Quitenda, 86/ 88 andar- Centro - Rio de Janeiro - A (CEP 20091 902 —Tel: 55 21 2216 8500 E-mail cuture@cutura.r.goubr-www.cuturaieovor | peRto og VOCE BEd oe cucruna a ERVIGO PUBLICO ESTADUAL rounont EAB, saat JO /Ae "he. Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura atividade religiosa e nos seus elementos mais significativos, que perpassam 0 culto, os rituais, a devogio, a oralidade os afetos. Nesse ponto do estudo do bem cultural, foi desencadeada uma linha de ago para compreender os ritos praticados no terreiro e, a mesmo tempo, garantir igualdade na forma de ver e pensar a natureza dos bens ali existentes (ou seja, de maneira andloga a outros templos religiosos). A busca por esse olhar transversal e isonémico, no que diz respeito as protegSes ja consagradas a outros bens religiosos, foi de suma importéncia para que pudéssemos avancar na discussio técnica ¢, inclusive, obter uma visdo ainda mais democrdtica e inclusiva na politica de preservacio. Mas foi, de fato, através da construgo coletiva dos estudos de tombamento entre o estado € 08 responsaveis e frequentadores desta Casa de Xang6, que veio, implacdvel. a resposta a essas incertezas. Na primeira visita 4 Casa, nos surpreendemos com uma percepeio da comunidade absolutamente madura dos propésitos e dos efeitos do tombamento, a ponto de, jé naquele ‘momento, terem sido apontados seus principais problemas e potencialidades. Convictos de que essa protegdo reconheceria a importincia dos bens culturais que refletem o significado da sua cultura, poucos contatos entre os membros da Casa e os téenicos dos Departamentos do INEPAC foram suficientes para que aqueles pudessem iniciar um proceso muito especial de reconhecimento e valorago as suas proprias referéncias culturais. ‘A comunidade da Casa de Xang6 elaborou a primeira etapa (identificagio) do inventério colaborativo dos bens méveis ¢ integrados do Terreiro (tais como exemplares de mobilirio do inicio do século XX, esculturas em madeira de fatura popular, lougas, indumentiias, objetos religiosos, entre outros). Por iniciativa propria, delimitaram também a parte da edificagio que deveria ser preservada (barracio e a parte mais antiga da Casa). Também identificaram os espagos externos e bens naturais que mereceriam ser incorporados ao tombamento em razio da sua representatividade religiosa. Houve, assim sendo - e isso € preciso destacar - “wma Secretaria de Estado de Cultura do Rio de laneiro ua da Quitanda, 85/ 88 andar - Centro - Rio de Janeiro - RI CEP 20091 902-Tel.:55 21 2216 8500 E-mail: cultura@cultura.j.gov-br - waw cultura. gov.br ee SERVICO PUBLICO STADUAL| ramet tBloot [3oSfaa4e joa AY | OF de Fede Rua, Ip 8@34%°70 | Governo do Estado do Rio de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura concepedo ampla de patriménio cultural, para além da pedra e do cal”’*, ¢ essa maturidade demonstrada pela comunidade deixou clara a qualidade e profundidade dos estudos em curso, 0 que possibilitou a conviccdo, de nossa parte, de que hd fundamentos para o tombamento provisério, Além disso, inimeras instituigdes religiosas de matriz africana, pesquisadores centros de cultura negra emitiram cartas em fiel ¢ irrestrito apoio a proposta de tombamento, corroborando a relevancia do tombamento para as comunidades tradicionais afrodescendentes. Exa, Senhora Secretéria de Cultura, se acolhido for a presente proposta, tratar-se-4 do primeiro tombamento de um terreiro de candomblé no Rio de Janeiro, um estado de maioria negra, onde ainda hoje atividades culturais de matriz. afticana so descriminadas. Esperamos quem, sendo assim, este gesto sirva, além de instrumento para a preservag3o da meméria do candomblé no Rio de Janeiro, de exemplo para que a sociedade possa observar os nossos bens culturais livre de preconceitos, garantindo sélidos valores as geragSes futuras. Poderiamos tecer ainda outras consideragdes de modo a dar melhores contornos sobre a importincia e¢ a peculiaridade do Terreiro de Candomblé Ilé Axé Opé Afonjé para o patrimdnio cultural fluminense. Porém, deixamos aquelas para o estudo do tombamento definitivo, caso venha a ser da vontade de V. Exa. e do Excelentissimo Senhor Governador 0 tombamento provisério que ora submetemos a apreciagdo dessa instincia superior, nos termos do inciso I, do artigo 5° do Decreto n° 5.808 de 13 de julho de 1982, considerando os textos, as plantas e mapas em anexo. cota [Tk VV. INBTITUTO ESTADUAL DO PATI CULTURAL dhitedd PROTOCOLO N38 9 /2OL6 Diretor Geral dINEPAC oO en: ol ae \ ° partiabe ao artigo “Pa jedra e do cal: par uma concepeo ampla de patrimdnio cultural”, de Cecilia Londres, publicado em “Meméria e Patrimdnio: ensaios contempordneos”, Orgs. Regina Abrei e Mario Chagas, 2003, péus. 56. 75, Secretaria de Estado de Cultura do Ro de Janeiro ERTO DE VOCE Rua da Quitsnda, 86/ 8° andar -Centro - Rio de Janeiro - RL (CEP 20081 902 —Tel: 55 21 2226 8500 E-mail cukwre@cultura.}.goubr -www.culturasj.goubr | scerone 1/92/e enradakz] sekin J om 0// 09 % “Através dos tempos vimos 0 Candomblé preservar a natureza com requinte e tradi¢3o secular. Vivemos um momento impar de transformagdes ambientais e comemoramos com justia mais cem anos.” Iya’ Regina Lucia de lymanja PEDIDO DE TOMBAMENTO EU, lya Regina Lucia dos Santos, Zeladora desta Tradicional Casa(de Candomblé, o IIé Asé Opé Afonja situado em Coelho da Rocha, esposa do’ senhor Jorge Leandro dos Santos, mae de Ana Beatriz Fortes dos Santos e Ana Carolina Fortes dos Santos, com os meus setenta e quatro anos de idade - muito consciente do significado desta ago - com o apoio dos “Meus Mais Velhos” e “Mais Novos” desta Casa, manifesto o desejo de Tombamento deste espaco de Vida e Espiritualidade. Nossa histéria comecou com a saudosa ly Ana Eugénia dos Santos em 1892. Nesta Cadeira, sentou-se: a lalorixd Agripina de Souza; a lalorixa Cantolina Garcia Pacheco e, hoje, desde 1990 tenho tido esta Missio com a protegdo de Yemanjé, tenho servido aqui, com os Meus a Deus em primeiro lugar e a Xangé. Esta Casa é de Xango! Por meio desta carta, quero fazer chegar aos Meus Filhos e Filhas de Santos, a minha familia, mas acima de tudo aqueles e Aquelas que dentro deste Municipio ou no Estado so responsaveis de tratar da preservacao da Cultura e de Patrimonio este meu desejo. Um desejo compartilhado com 0 Frei Athaylton Jorge Monteiro Belo, OFM (Frei Tata) - Coordenador da Superintendéncia de Promogao de Politica de Igualdade Racial de So Jo30 de Meriti com alguns Outros Filhos e Filhas de Santos. Tombar! Entendo por Tombar esta Casa, por sua historia, um ASE Centenario que se liga a histéria desta Cidade de S. Joo de Meriti, a0 Estado do Rio de Janeiro e se estende de modo particular até a Bahia. Espero que este desejo encontre eco, chegue a quem de direito nos ajude dentro de um processo Legal a formalizar tudo isto. Em nome da nossa histéria, pela importancia deste ASE, assino esta carta e ja agradego ; b a todos e todas por toda ajuda! ku bi Leelee fe Br acid ni ia Peorrw Pavi neg ise. eosin a NT ~ jpallaoel ica | force ra A Paz que Vem de Deus e dos Orixés! Coelho da Rocha, 29 de Agosto de 2015 ly Regina Lucia dos Santos de Yemanjé Contato: ILE ASE OPO AFONJA ( Coelho da Rocha) Rua Florisbela, 1029 | Coelho da Rocha RJ Tels: 2751-0003 | 3018-1991 bie poner Aca 1 ISERVICO PYBLICO STADUAL, panne 16 foot] Sos] eee. Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Ao DPD / INEPAC ASSUNTO: Sol terreiro de eandomb! ‘a anilise e pronunciamento quanto ao pedido de tombamento do intitulado “Ilé Axé Opé Afonja” Entendendo preliminarmente que 0 pedido ¢ procedente, ou seja, que ha mérito no tombamento provisério do Terreiro de Candomblé Ilé Axé Op6 Afonjé, vimos solicitar os bons préstimos desse Departamento para que possa apresentar pesquisa histérica, caso concorde que ¢ o bem cultural relevante. Atenciosamente, M. ED Diretor Geral do INEPAC residente do Conselho Estadual de Tombamento Rio,_o4 / 04 /AS ‘Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro ua da Quitanda, 86/ 88 andar -Centro Rio de Janeiro - Al —- ‘CEP 20091 902— Tel: 55.21 22168500 | | WO Beeuruee E-mail: cukura@cutura.rigov.br-www.culturarigovbr | pent pe voce SERVIGO PUBLICO ESTADUAL Processo N° E-48/-204/30S / dota Data_at /_O3 /46__ Fis:AG Rubrica Ass. 1D #0343 OFS wa Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patriménio Cultural CVDPD/Inepac n° 001/2016 Rio de Janeiro, 14 de margo de 2016, Ao Diretor-Geral do Inepac Manoel Vieira Gomes Assunto: Pedido de tombamento da casa de Candomblé Ilé Axé Opé Afonja (na lingua ioruba escrevemos Ilé Age Opé Afonja). Em 29 agosto de 2015 0 Inepac recebeu o documento assinado pela Iya Regina Lucia Fortes dos Santos solicitando o tombamento da casa de Candomblé Ilé Axé Op6 Afonja (em iorubé - Ilé Age Opé Afonja). Acolhido 0 pedido sob 0 protocolo n° 1130/15, de 01/09/2015, o documento foi enviado a este departamento para andlise da pertinéncia da solicitagao. Entendendo que a historia das religides afro-brasileiras € de significativa importancia para a formagao histérica do Brasil e, particularmente, do Rio de Janeiro, o Departamento de Pesquisa e Documentagao iniciou o estudo para avaliar 0 teor da solicitagao. Uma referéncia nos chamou a atengao, a ligacéo do é Axé Opé Afonja com a Pedra do Sal, local de um dos mais importantes tombamentos realizados | Sm Institsto Btadual do Paritménio Cultural - INEPAC Rua da Quitanda, 868° andar ~ Centro ~ Rio de Janeiro - RI CEP 20091-902 - Tel: 5521 2216 8500 ~ Ramais 278. 279 E-uil patrimonio nepaci@inepac r) gov-br- ww inepacs} gov br SERVIGO PUBLI 305/3046, Processo N' 6; pata_Aty 23 JAS Fie Rubrica_ 6d. ip dOIOF! Govern do Enno oR de Sarre Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patrimdnto Cultural pelo Inepac, com énfase na sua importancia para a cultura afro-brasileira na cidade do Rio de Janeiro: “segundo Luis Nicolau Parés, em A Formagéo do.Candombié: histéria e ritual da nagao jeje na Bahia, na viagem a Capital Federal, em 1886, Mae Aninha, Bamboxé e Oba Sania “acharam uma casa com um assentamento de Xang6 Afonja na Pedra do Sal [...]. Ela limpou 0 local @ deixou alguém tomando conta, voltando logo os trés para Salvador’.” Alguns outros autores divergem com relagao a data em que Me Aninha esteve no Rio pela primeira vez. Mas isto é irrelevante. O relevante 0 fato em si. Mae Aninha foi a fundadora da casa de Candomblé Ilé Axé Opé Afonja, na Bahia, e do Ilé Axé Opé Afonja no Rio de Janeiro, isto sem diivida. Em seu pedido ao Inepac a lya Regina Licia Fortes dos Santos reitera que a historia do é Axé Opé Afonja comegou com a “saudosa lya Ana Eugénia dos Santos, em 1892. Nesta cadeira, sentou-se: a lalorixa Agripina de Souza; a lalorixa Cantolina Garcia Pacheco e, hoje, desde 1990 tenho tido esta Missa0 com a protegao de Yemanja, tenho servido aqui com os Meus a Deus em primeiro lugar e a Xangé. Esta casa é de Xango!” Como percebemos na fala da ly Regina, as datas ndo séo de total precis4o, principalmente porque essa area é formada por uma tradigao oral. No entanto, nos relatos nao ha dilvidas, tanto sobre a ligago da Mae Aninha com a Pedra do Sal, quanto sobre a sua “maternidade” em relacao ao Ilé Axé Op6 Afonja. Ed Machado em /lé Axé Op6 Afonjé, Rio de Janeiro: da Pedra do Sal até Coelho da Rocha, afirma que, j4 em 1886, “Mae Aninha familiarizada com os habitos e costumes cariocas nao hesitou em iniciar no Rio de Janeiro sua linha espiritual descendente [...]’. Para o autor este é 0 momento em que Mae Aninha retine seus primeiros filhos para Orixa na Pedra do Sal. Assim, estava (OEE sxx WE ‘Rua da Quitanda, 86 8° andar - Centro = Rio de Janeiro ~ RI CEP 20091- 902 Tel: $521 2216 8500 — Ramais 278 e 279 E-mail patrimonio.inepas@inepa gov-br- won nepoes gob SERVIGO PUBLICO ESTADUAL Processo NE 18/004|305/ 3016 Data__<4y_o3 /AG_Fis:16_ Bubrica_Auf 1B 081407 pane Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretarin de Estado de Cultura Instituto Estadual do PatrimOnio Cultural fundado o primeiro terreio de candomblé do Rio de Janeiro. Uma casa de Xangé. O Ilé Ase Opé Afonja, no natural ioruba, e 116 Axé Opé Afonja, ja em grafia na lingua portuguesa, tem como tradugao literal: Casa da Forca sustentada por Xang6. O Inepac, levando em conta os estudos produzidos e as diversas falas de membros da comunidade do llé Axé Op6 Afonja, considera para efeito de sua documentagao, a data de 1896, como de fundagao do Ilé Axé Opo Afonja, na Pedra do Sal, no Rio de Janeiro. Monique Augras e Jodo Batista dos Santos em Uma casa de Xango no Rio de Janeiro, afirmam que a Mae Aninha, em Salvador, ‘permaneceu junto Casa Branca, até que certs desentendimentos provocaram uma cisao entre as pessoas do Engenho Velho, ocorrendo, a partir dai, a fundagdo de diversos outros terreiros. Aninha fez parte daqueles que se afastaram, indo para a “roca” de Tio Joaquim, no Rio Vermelho. Ficou 4 bastante tempo até que, por um problema particular de familia, Aninha deixou definitivamente a companhia de Tio Joaquim, indo para a casa de parentes, no “Cerriachito”, no Centro de Salvador, e, em seguida, fixando residéncia na Ladeira da Praga.” Ainda segundo Augras e Santos, “Mae Aninha em sua primeira viagem ao Rio de Janeiro ja “botou la6” (ou seja, procedeu a algumas iniciagdes) em casa de uma senhora baiana que morava na Pedra do Sal. Muitas pessoas de santo foram se agrupar em torno de Aninha: Tia Joana Obasse, de Oba; Tia Sanan, de Oxossi; Tia Oxum Toqui, Tia Liberata, Oloy4, de lans&; Tia Josefa Rica, de Oxum; Tia Bombala, de lansa; Tia Bambala, ambas filhas de Oman Oxaguia; e Mae Oya Bomin, lalorixé do ‘Axé da Rua Jodo Caetano, 69.” ia Paulina, Oxum Quere; Tia Amélia € Instituto Estadual do Patrimnio Cultural -INEPAC Rus da Quitand, 868° andar - Centro = Rio de CEP 20091-902 - Tel: 55 21 2216 8500 | E-mail: patrimoniinepac@inepacs.gov.be = www.inepac.s.gov.br | SERVICO PUBLICO ESTADUAL Process N%EAB/CC1 [805 ROT Data_aY /_O3 /46__ Fis: AF Rubrica_AgPe. ID 80349 op Governo do Estado do Ris de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Institute Estadual do Patrimanio Cultural Nao se sabe ao certo porque Mae Aninha resolveu voltar a Bahia. Em 1907, com o falecimento de Tio Joaquim, Mae Aninha assume uma posigao de lideranga e adquire uma area em Sao Gongalo, no Alto do Retiro, nos arredores de Salvador. Organizado o local, “a roga’, ¢ com os assentamentos trazidos da regio central de Salvador, em 1910, foi fundado o Axé Op6 Afonja, na Bahia. Agripina de Souza, (Oba Dely) filha de Xang6, foi a primeira 1a6 iniciada no novo terreiro, Mae Agripina foi, mais tarde, lalorixa no Ilé Axé Opé Afonjaé do Rio de Janeiro. Em 1925 Mae Aninha retoma ao Rio de Janeiro, deixando 0 ll Axé Op6 Afonjé da Bahia sob os cuidados de Tia Filhinha e outras pessoas de sua confianga Apos perceber que as condigées na Pedra do Sal, naquele momento, nao eram as ideais para a manutencao da casa de Xang6 naquele lugar, Mae Aninha, langando mao da sua grande amizade com Tia Maria Ogalad, transferiu 0 Axé para a casa desta, localizada na rua Sao Luiz Gonzaga, 49, em Sao Cristévao, ainda no Rio de Janeiro. Ali foi consagrada sua primeira filha de santo no Rio de Janeiro. Tia Conceigo, do Orixé Omuld. Ela seria personagem fundamental para a fixagdo do llé Axé Opé Afonjé em Coelho da Rocha, no municipio de Sao Joao de Meriti, anos mais tarde. Em fungao de suas obrigagbes com o Ilé Axé Op Afonja na Bahia, Mae Aninha retorna Aquela cidade, em data n&o precisa, mas por volta de 1927/1928. Roberto Conduru, em Das casas &s rogas: comunidades de candomblé no Rio de Janeiro desde o fim do século XIX, informa que Mae Aninha retornou ao Rio de Janeiro: Instituto Estadual do Paviménio Cultural -INEPAC Russ da Quitanda, 867° andar ~ Centro - Rio de Janeiro ~ RI CEP 20091- 902 -Tel: 58 21 2216 8500 ~ Ramis 278 279 E-mail: patrimonio,inepac@inepacxj go. br- www. inepaes gv. br SERVICO PUBLICO ESTADUAL x Proceso N°E4@/ Ged/3oS/ 2O1S Data /_O3 /AG Fis: 40. Rubrica 2axPh. 1D dod 44 Che ee Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do PatrimOnio Cultural Em 1930, houve uma terceira viagem mais prolongada e mae Aninha ficou no Rio de Janeiro por cinco anos, até 1935. Desta vez, Agripina, acompanhada de seu marido e do seu filho carnal Fernando, sua irma Filhinha de Oxum, que tinha ficado vilva recentemente, foram também para [d, Residiam todos juntos em casa espagosa, na rua Alegre no 923-A, e Id tinham sua clientela. Independentemente das pequenas diferencas existentes nesses relatos interpretag6es, que ainda estéo por serem confrontados, as varias narrativas fazem supor a existéncia de tipos diversos de fechamento, de fim e de continuidade, ou de descontinuidade, préprios as praticas religiosas afros no Rio de Janeiro de entao. Esses relatos indicam modalidades variadas de transmisséo e persisténcia das tradigSes religiosas. Um tipo de preservagao de axé pode ser observado quando os axés constituidos por um individuo foram trasladados, de um local a outro, por pessoas por ele iniciadas, sendo mantidos por seus herdeiros até hoje. (Canduru, 2010) Ha uma duvida aqui com relagéo @ Mae Agripina. Alguns autores afirmam que ela era vilva e nao sua irma Filhinha. No ano de 1932, muda-se a lalorixa para uma casa mais espacosa, na Rua Bardo de Mesquita, 494, e em seguida, para a Rua Araujo Lima, 92, pois a quantidade de pessoas que a cercam cresce sem parar. Em 1935, chamam Mae Aninha de volta a Salvador. Ela consulta Xangé que recomenda que ndo va. Apesar do aviso contrario, a mae de santo viaja para sua cidade natal. Faz um grande “trabalho” e embarca no navio para Salvador. Nao mais voltaré ao Rio, “ao convivio dos amigos, as casas as quais dedicara tanta energia e tanto zelo". Logo no inicio de 1936 adoece permanecendo enferma até falecer em 03 de Janeiro de 1938. “Antes de partir para a derradeira viagem’, segundo Augras e Santos, Mae Aninha chamou as filhas mais chegadas e atribuiu os encargos a cada 'Vocé, Paulina, fica com a Agripina para jogar (os biizios) quando ela precisar, foi para isto que te ensinei’. Chamou Mae Agripina no quarto e, uma: Instituto Estadual do Patimnio Cultural - INEPAC Raa da Quilts, 8678 andar - Centro» Rio de Janeiro - RE CEP 20091-902- Tel: 55 21 2216 8500 - Ramais 278. 279 E-mail: patrimonio,inepae@inepacx go br» www inepaet gov br SERVICO PUBLICO ESTADUAL Processo N°E-10/204 [3083016 H Data_at oS Ac _ Ft: Rubrica_AYf. 1p BO3 140%0 — Governo do Estado do Riv de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patriménio Cultural entregando-Ihe uma ‘tigela branea” (que continha a fora sagrada da casa, axé, cuja guarda constitui privilegio da zeladora do templo), disse-Ihe que tomasse conta” Mesmo enferma Mae Aninha continuou ajudando, mandando seguidas cartas com todas as instrugdes de que Mae Agripina necessitava para desempenhar-se adequadamente de seus deveres. Augras e Santos do categéricos sobre o destino de Mae Agripina: “Quando ela faleceu, viu-se sozinha, cercada por um punhado de amigos fiéis, para tomar conta de uma heranga sagrada, alvo da intriga dos invejosos. Pior ainda; passado o periodo das obrigagdes que seguem ao falecimento de uma mée de santo, nova lalorixa veio presidir aos destinos da roga de Sao Gongalo; logo que tomou posse, dizem os mais velhos que ela mandou de Salvador um bat, para que Mae Agripina nele colocasse tudo o que Mae Aninha deixara. Era uma maneira no muito sutil de manifestar seu desejo de ver encerradas as atividades do Axé no Rio.” Agripina Soares de Souza, Oba Deiy, filha de Xang6 Aganjli, nascida a 28 de marco de 1890, em Santo Amaro da Purificagao, Bahia, nada fazia antes de consultar © Orixa. Nos anos seguintes, houve diversas tentativas, como a narrada acima, mais ou menos veladas, de acabar com o terreiro, mas a vontade de Xangé nao deixou que isso acontecesse. Com todos esses problemas, nao foi mais possivel arcar com o aluguel da casa da Rua Aratijo Lima. Mae Agripina mudou-se para a Rua Senador Alencar, 22 e, mais tarde, para a Rua Bela de Sao Joao, 183, ambas em Sao Cristévao. Ed Machado enfatiza a luta de Mae Agripina para manter as suas obrigagdes com Xangé: “Mae Agripina era perseverante, nunca desistia das suas responsabilidades, nem mesmo diante das dificuldades [...)’. Instituto Estadual do Patrim@nio Cultural ~ INEPAC un da Quitanda, 868° andar ~ Centro» Rio de Janeiro - RI CEP 20091- 902 -"Tel: 55 21 2216 8500 — Ramais 278 279 E-mail: patrimonia nepac@inepucsj gv-br- www nepaes gov.be SERVICO PUBLICO ESTADUAL ‘i Processo NEAB/ac4] 305 (2016 Data_ t+ /_OS pienso’ Governo do Estado do Rio de Janeiro ‘Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patriménio Cultural No ano de 1943, ao aproximar-se a época das festas de Xang6 (final de junho), "Mae Agripina foi perguntar-Ihe o que deveria ser feito, e recebeu, espantada, a noticia de que o Orixé nao queria mais obrigagdes na cidade, porque ja tinha “toga” no Rio”. O ano em curso seria o ultimo em que isso ocorreria Em 1944, Mae Agripina cuidava do Oxala da falecida “Sinha” Maria Ogalad, que o deixara como heranga para Mae Aninha, em um simples barracdo coberto de sapé, na Rua Cecilia, em Coelho da Rocha, municipio de S40 Joo de Meriti, na Baixada Fluminense. Nesse local que havia sido nomeado “Pavilhao Oba’, por Mae Aninha, e cuja responsavel era Tia Conceigao de Omuli, Mae Agripina recebeu do orixa (Xang6) a resposta de que o mesmo pretendia permanecer em Coelho da Rocha. ‘Segundo Ed Machado Xang6 mandou dizer que nao mais voltaria para a cidade, pois ele ja tinha uma “roga”. Conta um Oga da casa: “Ninguém sabia desta roga. Foi Omuld que, pegando uma estaca, saiu porta fora, com todos acompanhando. Ele parou em um terreno proéximo ao Pavilhéo Oba e fincando aestaca, disse ser ali, a ‘roca Descobriu-se que 0 terreno era propriedade de Filhinha de Oxum, ima de Mae Agripina. Logo se construiu um barraco onde Xangé foi colocado e, até hoje, I4 se encontra, & Rua Florisbela, 1029, em Coelho da Rocha, municipio de Sao Joao de Meriti, RU. Em 1947 teve inicio a construgao do atual barracdo e dos quartos dos santos, com muito esforgo de Me Agripina e com a ajuda de pessoas amigas, ficando tudo pronto em 1950. Instituto Estadual do Patrimonio Cultura ~ INEPAC Rua da Quitanda, 86/8 andar - Centro ~ Rio de Janeiro - RU CEP 20001- 902 - Tel: 55 21 2216 8500 — Ramais 278 279 f inepac@ nepac.s gov - ww inepae .gov.be SERVICO PUBLICO ESTADUAL processo NE=tB/oo1| 30S Sade data_At /_©3 (4G Fis: BB Rubrica_feR. BOS 14070 pe Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patriménio Cultural ‘Segundo Ed Machado, ha quatro geragdes desde a fundagao do Ilé Axé Opé Afonja, no Estado do Rio de Janeiro: de 1886 a 1935, “Mae Aninha de Sangé, Oba Biyi; de 1935 a 1966, Mae Agripina de Sang6, Oba Déyi; de 1967 a 1989, Mae Cantu de Sang6, Aira Télé; de 1989 até o momento em que produzimos este documento, Mae Regina Liicia de Yeméja”. Cabe aqui um pequeno parénteses sobre o Ilé Axé Opé Afonja fundado por Mae Aninha, em Salvador, em 1910. Em 12 de setembro de 1998, 0 jomalista Fernando Coelho abriu um processo no Instituto do Patriménio Hist6rico e Artistico Nacional — Iphan, solicitando o tombamento do ll Axé ‘Opé Afonja da Bahia. Realizado em 28 de julho de 2000, segundo o Iphan: © tombamento [...] garantiu a continuago do terreiro no local, impede que as construgdes sejam demolidas, atribui valor simbélico e inclui o terreiro no rol do que & considerado patriménio e que deve ser preservado para as proximas geragdes. Além disso, possibilita a realizagao de intervencdes para garantir sua integridade utiizando recursos publicos. No caso dos terreiros, a preservacao ullrapassa a materialidade — de suma importancia —, pois permite que rituais e celebracées sejam realizados e perpetuados. O Il Axé Opé Afonja fluminense jé teve sua historia registrada no mapeamento dos terreiros de Candomblé do Estado do Rio de Janeiro, inventario realizado pelo Iphan, catalogando 32 terreiros, que gerou a publicago Terreiros de Candomblé do Rio de Janeiro, de Marcia Ferreira Netto, de 2009. Nessa publicagao Mae Regina de lemanja, neta de Mae Aninha, lalorixa da Casa desde 1989, narra a saga dessa Casa de Xango. Como comprovamos em todos os textos consultados e no depoimento dos atuais integrantes do llé Axé Opé Afonja, esta casa é centendria, um marco na religiao afrodescendente, por sua continuidade e significado para os Instat Estadual do Patino Cultural ~INEPAC Rua a Quitande 86" andar Cent = Rode Jnr - RI CEP 20091- 902 - Tel: 55 21 2216 8500 — Ramais 2786 279 E-mail: patrimonio.inepae@inepses gov. si goubr SERVICO PUBLICO ESTADUAL Processo N°E19 Cot/805 ; Sate (23 p46 __ Fis: 34 Rubrica Ae BoS49 OFS Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patrimdnio Cultural filhos e as filhas de Xango, e por sua ligagao direta com a Bahia, onde esta a origem da casa. Como ressalta o Frei Tat4, Athaylton Jorge Monteiro Belo, da Ordem dos Frades Menores ~ Provincia da Imaculada Conceigéio do Brasil, residente na paréquia e fraternidade franciscana de Sao Jodo Batista, em Sao Joao de Meriti, @ grande incentivador da integragéo das religises na Baixada Fluminense, “nestes tempos dificeis de intolerancia religiosa, tombar uma casa tradicional como esta, é dizer do valor da Cultura com maiiisculo, valoriza a tradigao de Negros e Negras em uma de suas express6es mais caras, os Orixas, seu culto, seus espagos ressignificados no Brasil, pertencimentos”. Diante do exposto, encaminho para sua apreciagao o pedido de tombamento da casa de Candomblé Ilé Axé Opé Afonjé, localizada na rua Florisbela, 1029, distrito de Coelho da Rocha, municipio de So Joao do Merit, Estado do Rio de Janeiro, A solicitagao foi feita em agosto de 2015 pela Iya Regina Licia Fortes dos Santos, da casa de Candomblé Il Axé Opé Afonja do Rio de Janeiro. Em julho de 2000 a casa de candomblé Ilé Axé Opé Afonjé de Salvador, também fundada por Mae Aninha, foi tombada pelo Iphan como reconhecimento pela sua importancia para a manutengdo da tradigao do candomblé e da cultura afro-brasileira. Conhecida como uma das casas principais, chamadas de casas matrizes, ou seja, que dao origem as familias, do candomblé no Brasil, o tombamento da Casa de Salvador reforga 0 pedido da Casa do Rio de Janeiro da a magnitude da preservagao da histéria e do papel do Inepac para a salvaguarda do patriménio cultural fluminense. aio Cultural ~ INEPAC Cena = Rio de ane 216 8500 ~ Rams ‘Bincpas..g0v be = ww Instituto Estadual do Run da Quitanda, 86 CEP 20091- 902- Tel Email: patrimonio inep eee SERVICO PUBLICO ESTADUAL Proceso N°E: Efeyoo 206 poate, Data_44_/_@3 sae Fis: dS Rubrica Log eras Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do Patriménio Cultural Acompanham esta Cl 0 Pedido de Tombamento escrito pela lya Regina Liicia Fortes dos Santos, da casa de Candomblé Ilé Axé Opé Afonja, o Testemunho de Frei Tata, reiterando 0 pedido de tombamento, e 0 Oficio SEMDHIR n° 0122/2015, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Igualdade Racial, da Prefeitura de Sao Jodo de Meriti, também reiterando o pedido de tombamento. Os documentos aqui referidos esto em anexo. Atenciosamente. CSfe Lod Linhai Instituto Estadual do Patriménio Cultural ~ INEPAC Rua da Quitanda, 86/8 anda - Centro = Rio de Janci - RI CEP 20091- 902 Tel: $5 21 2216 8500 — Ramais 2786 279 en pena cp cp} gover - srw ap bt : Migu Diretor do Departamento de Pesq ee (ors SERVICO PUBLICO ESTADUAL Processo N°E- 18 C64|SeF /3016_ ! Data_a¥_/_O3 /AG _ Fis: 2B Rubrica_WFt. BOst4t oro _ = sematacrs - ESTADO DO RIO DE JANEIRO. : PREFEITURA MUNICIPAL DE SAO JOAO DE MERITI ‘SECRETARIA MUNICIPAL DE DIREITOS HUMANOS E IGUALDADE RACIAL GABINETE DO SECRETARIO “A Secretaria Municipal de Direitos Humans e jgualdade Racial tem a MissGo de promovere proteger os direitos individuals © coletivos da pess0e humana, através de articulogbes com as demaissecretaras e intersetorials, garantindo a transversaiidade do ‘gualdade racial na implantagao de paliticas piblicas, programas e arBes.” Sdo Joo de Meriti, 02 de setembro de 2015. OFICIO SEMDHIR N°0122/2015 Da: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e igualdade Racial Para: Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro - A/C da Sra. Eva Doris ‘Assunto: Tombamento do llé Asé Op6 Afonjé de Coetho da Rocha — S. Joo de Meriti Por meio deste, dou fé da importancia desta aco, ou seja, do pedido de Tombamento Histérico, Material e Imaterial desta Casa de Candomblé, centendria em nosso Municipio. O Wé Asé Op6 Afonjé é dirigido pela lalorixa - ly Regina Liicia de Yemanjé e, por seu calendario de festas religiosas, pela presenca de muitos intelectuais filhos ¢ filhas desta Casa, e em especial pela forte presenca cultural (a exemplo do Balé Afro Contemporaneo (BAC)) 0 que faz dessa casa uma referéncia na Cidade, esta Secretaria, na pessoa do Frei Athaylton J. M. Belo, OFM (Frei Tata) Coordenador de Promocéo de Politica de Igualdade Racial na Superintendéncia (SUPPIR - Meriti) estara acompanhando este processo em conjunto com a Comissio Constituida do Candomblé e a Iya Regina Liicia, visto que 0 mesmo é de extrema relevancia para todos nés. Pedimos assim para esta Secretaria Estadual de Cultura, se possivel, total apoio a esta iniciativa. Agradecemos desde ja sua colaborago ¢ na certeza de estreitarmos, ainda mais as relagdes institucionais, renovamos os votos elevada estima e consideracio. Atenciosamente, a ha Paulo Sérgio Henriques de Aguiar Secretario de Direitos Humanos e Igualdade Racial SECRETARIA DE ESTADO E CULTURA ‘Av. Presdent Lincoln, 91, Efi Antares, 2 andar, sla 207, Var dos Teles, BROZOCOLO wa G=P25555-201/ Tel: 27530204 Recebido em Lod O VIS — tater cee at ——— PPRCrOCO.OIS SERVIGO PUBLICO ESTADUAL Proceso NEA CC /305 ote, Pata__tt _23 /46__ Fis Fa Rubrica Aufl. 2034% o%2 see Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria der Estado de Cultura Chefia de Gabinete Ao Instituto Estadual do Patriménio Cultural — INEPAC, para conhecimento ¢ providéneias acerca da solicitagdo de tombamento do Ilé Asé Opé Afonjé de Coelho da Rocha. Rio de Janeiro, 40) de setembro de 2015. Anal Moura jefe de GabinettSEC ID: 43532861 INSTITUTO ES) P CULTU PROTOC oj ued 38/3085 ortrede[S sek@] om40/03 /205 Aw ua da Quitanda, 86/ 88 andar - Centro - Rio de Janeiro - RI ‘CEP 20091 005 — Tel. $5 21 2216 8500 E-mail eutura@cultura.gov.be- www cultura gov.be Secretaria de Estado de Culturs do Rio de Janeiro | oH -. So Jodo de Meriti, 09 de setembro de 2015 Testemunho de frei Tata Eu, Frei Athaylton Jorge Monteiro Belo, da Ordem dos Frades Menores — Provincia da Imaculada Concei¢do do Brasil com sede em S. Paulo e, residente na pardéquia e fraternidade franciscana de Sao Jodo Batista em S80 Jodo de Meriti — Baixada Fluminense; bem como, membro da Comisséo de Combate a Intolerancia Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) e por fim, Coordenador de Promo¢ao de Politica de Igualdade Racial neste Municipio (SUPPIR-Meriti), afirmo a minha alegria e compromisso de fazer parte deste processo de Tombamento desta Tradicional Casa de Candomblé situado em Coelho da Rocha, nesta Cidade: O ILE ASE OPO AFONJA, Neste verdadeiro testemunho, enumero trés razdes fundantes que ao meu ver justificam esta aco junto ao INEPAC-— Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. 1) O Culto - “Liturgia” - 0 Zelo e a disciplina anual do mesmo nesta Casa em especial para a sua referéncia Maior na Figura do Orixd Xango. Esta a primeira razdo e, para tal, me sirvo para ilustrar 0 que aponto, 0 livro de Dayse Marcello - “Eu Verso Buakamukua’ - Editora All Print, S. Paulo - 2013, quando ela descreve: Xango, “... O quarto Rei Lendério de Oyo (Nigéria — Africa). Xango é 0 Orixa do poder, Ele é a representagdo maxima do poder de Olorun (Ser supremo, Grande “Deus” ~ Senhor do Orun / Aiye, 0 Universo ainda desconhecido por nés.” (1) 2) ACadeira - oua Forca do Carisma de quem sentou no passado e de quem senta-se na mesma no presente, a Cadeira Central se permitam-me assim dizer. Preservar a Meméria Imaterial de Maes como: “Me Aninha, Mae Agripina, Mae Cantu, Mae Regina Lucia de Yemanjé (2) - esta atual lyalorixa da Casa, com o seu jeito proprio de ser, convicta da sua Misséo, seu amor aos Mais Velhos e Mais Novos, sua preocupacao com 0 Social coma Cultura. 3) Origem da Casa no Rio de Janeiro - Pedra do Sal- seu entorno, Pequena Africa. Neste terceiro e ultimo argumento, baseio-me no livro de Ed Machado em primeiro lugar, Editora Metandia — Rio de Janeiro, 2013 Aqui eu destaco a importancia do Tombamento daquilo que nao 6 o tradicional, ou, prédios publicos como: Estagdes de Trens, Museus e etc... Ou Tombamento de lgrejas, “lindas: Barocas, Gdticas, Classicas, Neo Classicas e etc...” — lembro 0 entao falecido professor Joel Rufino, (Nota de INSTITUTO ESTADAAL 00 PATRAMOHMO CULTURAL proTocaro n*4438/304S entrada] sek] omd0 10% agls ABe ee ee ey ee Pracesso N°*E/O/ Co 1/305/ SO1G Datei) OS s4e_fis: 822 Rubrica AYA. 2OSAS OF0 falecimento: Jornal O Dia, pag. 4 do dia 05 de Set. 2015) quando ele fala da importancia do Tombamento da Pedra do Sal nos anos de 1980. Joel Rufino nos remete aos Candomblés que ali tiveram suas origens: “Na Pedra do Sal se faziam despachos e oferendas (a Obaluaié, Xangé, Ogun, Ex, lansa e outros Orixés, se despejavam trabalhos. Era, e & local consagrado. A sua volta, convergindo nela, ficavam diversas “rocas” — hoje desaparecidas, reduzidas ou transferidas para o Suburbio e o Grande Rio.” (3) Aqui, este Tombamento reacende esta Meméria. Liga a Pedra do Sal a Coelho da Rocha. Liga a Cidade (Rio) e, Cidade hoje neste espaco que passa por grandes transformacées urbanisticas, mas acima de tudo, que revela o passado tais: O Cais do Valongo, Cemitérios dos Pretos Novos... Tudo, se liga de alguma forma a Coelho da Rocha, se liga ao Asé Opé Afonjé de Coelho da Rocha ~ confere-se o livro citado acima de Ed Machado — nesta agao de Tombamento, valoriza-se estas Memérias, repito. Por fim, nestes tempos dificeis de Intolerancia Religiosa, Tombar uma Casa Tradicional com esta, dizer do valor da Cultura com maitisculo, valoriza a Tradigao de Negros e Negras em uma de suas expresses mais caras, os Orixds, seu Culto, seus espacos reesignificados no Brasil, pertencimentos. Por tudo isto posto, pego as autoridades envolvidas, aos técnicos do INEPAC e, mesmos aos Filhos e Filhas de Santos de Mae, a ly Regina de Yemanjé que considerem este momento histérico. Este Tombamento deveria ser celebrado. Este Tombamento deveria provocar reflexées, verdadeiros seminarios aqui no Rio de Janeiro e em Salvador, como referéncia historica desta Casa que esté em Coelho da Rocha. As autoridades Municipais, a Subsecretaria de Cultura, fazerem deste momento um reafirmar da Cultura do Municipio. £ em S80 Jodo de Meriti, uns dos sonhos do Movimento Negro local e, de algumas Casas de Candomblés, é legitimar, algo que ja acontece de forma espontanea, dar visibilidade a um CIRCUITO ETICO RELIGIOSO — (Turismo Etico Religioso Regional) em festas sagradas, em encontros promovidos por Maes ¢ Pais de Santos desta Cidade. Cabe dizer que hoje, a Cidade de So Jodo de Meriti realiza um festival literdrio internacional de cultura afro (FLIDAM), impactando na Lei 10.639/03 que poderia ser um ponto de convergéncia de tudo o que apontando neste texto. Com grande alegria, com um corago Macro-Ecuménico — um Olhar Holistico! Pela paz e(pela verdade! Ass.: D5, | Upela, Fret AtHaylton joree Belo, OFM (Frei Tata) 2 SERVICO PUBLICO ESTADUAL Process rt Ee: ASS Governo do Estado do Rio de Janciro Secretaria de Estado de Cultura Ao DBMI/INEPAC ASSUNTO: Solicita andlise e pronunciamento quanto ao pedido de tombamento do terreiro de candomblé intitulado “I Axé Op6 Afonja” Considerando as cartas de solicitagao de tombamento e outras de reforgo ao pedido, bem como a pesquisa histérica realizada pelo competente DPD/INEPAC — que aponta a relevancia histérica ¢ cultural do terreiro — ¢ o parecer elaborado pelo DPI, vimos solicitar a contribuigao deste Departamento ao estudo em curso, principalmente de modo a informar sobre 0 processo de inventério colaborativo desenvolvide com os membros do terreiro. from oe Diretor Geral da INEPAC Presidente do Conselho Estadual de Tombamento Rio, ef /o¢ /45 Secretaria de Estado de Cultura do Ro de Janeiro Rua da Quitands, 86/ 82 andar - Centro - Rio de Janeiro - Rl seas CEP 20091 902 ~Tel: 55 21 2216 8500 iy orcs E-mail: cultura@cultura,}.gov.br -waweulturssigovbr | pemto De voce ‘SERVICO PUBLICO ESTADUAL Processo E- 4Ofom/aae/sote, Data 44.02 AG fis. Rubra 8. aos tor— Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do PatrimOnio Cultural A Diregao Geral do INEPAC, Vimos, por meio deste, afirmar o interesse do Departamento de Bens Méveis Integrados (DBMI) no pedido de tombamento do Terreiro de Candomblé 11é Axé Opd Afonja, na lingua Iorubé escrevemos Jlé Ase Opé Afonjd, Rua Florisbela, ntimero 1029 — Coelho da Rocha, So Joao de Meriti,e reiterar a pertinéncia do mesmo. Numa perspectiva museolégica, 0 Terreiro apresenta em seus cémodos exemplares de mobilidtio do inicio do século XX e contemporineos, esculturas em madeira de fatura popular, lougas, indumentérias, entre outros. No entanto, tendo em vista a singularidade da circunstancia, o olhar sobre os bens méveis deve ser diverso. Em visita técnica ao referido Terreiro, pudemos conhecer ‘um pouco da historia, manifestagao da religiosidade do Candomblé e de suas praticas sociais e entendemos que os objetos tém papel primordial, uma vez que é mantida uma relagiio de afetividade e devogio, onde esses objetos simbolizam a £8, materializando as relagdes com o sagrado. Dessa forma, o tombamento ter como fungao nao somente a preservagao do acervo, mas também da identidade, costume, vivéncia e meméria dessa comunidade. ‘Tendo esse entendimento como base, ser imprescindivel a parceria com a comunidade Tle Axé Op6 Afonja para desenvolver possiveis agdes para a preservagiio dos bens miéveis ¢ integrados da Casa, como 0 acautelamento € documentagio de seu acervo de natureza constante, uma vez que se da a partir da manutengao da manifestagao cultural do candomblé. Insttuo Estadual do Patrimonio Cultural — INEPAC Rua da Quitanda 868° andar - Centro - Rio de Janeiro - RI ‘CEP 20091- 902 Tel. $5 21 2216 8500 — Ramais 278 0279 Patrimonio incpae @inepac..gov.br- wwnsinepaesi-zovlbe ‘SERVIGO PUBLICO ESTADUAL ProvessoB -B/2o4/305/acte | Data d4.o5.AG fae | Rubrica MA dos Ieee | Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Cultura Instituto Estadual do PatrimBnio Cultural Anexado ao presente documento encontra-se a listagem dos bens méveis indicados pela comunidade do Terreiro é Axé Opd Afonjé como relevantes para a preservagio de sua meméria. A sistematizagiio das informagdes no modelo “Ficha de laudo” esta sendo coordenada pelo Departamento de Bens Mveis e Integrados (DBMI) do INEPAC. Cordialmente, once Conttio~ ot AE rcitter — Marcella Coelho hie Museéloga DBMI/ Inepac Run da Quitanda, 86/ 8° andar ~ Centra - Rio de Janeiro - RI (CEP 2001. 902 — Tel, $521 2216 8500 — Ramais 278 ¢ 279 patrimonio.inepae@inepae1-go.br - ww: inepaer.gov-br Instituto Fstadual do Patrimdnio Cultural ~ [NEPAC |

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