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CARTILHA DE TECNOLOGIAS

VITRINE
TECNOLÓGICA DE
AGROECOLOGIA
“Vilson Nilson Redel”

SHOW RURAL 2017


CARTILHA DE TECNOLOGIAS

CULTI VA ND O PA RC ER IAS

Em 2003, a Itaipu Binacional definiu para si uma nova e ampliada


missão. Além da geração de energia, introduziu e enfatizou a
responsabilidade social e ambiental, com o Cultivando Água Boa,
atuando em toda a Bacia Hidrográfica do Paraná 3, região de influência da
hidrelétrica.

VITRINE
O Cultivando Água Boa é inspirado em documentos como a Carta da
Terra, Agenda 21, Metas do Milênio, nas recomendações da Conferência
Nacional do Meio Ambiente e no princípio da Ética do Cuidado.
Sua aplicação se pauta pelo critério da gestão por bacia e por uma

TECNOLÓGICA DE
metodologia eminentemente participativa, envolvendo as comunidades na
identificação dos passivos ambientais, na definição e execução das ações
corretivas necessárias.
A operacionalização é assentada em ampla parceria entre a Itaipu,

AGROECOLOGIA
prefeituras, órgãos públicos e privados, proprietários, entidades sociais,
universidades e escolas, cooperativas, empresas e demais atores sociais.
Representantes dos parceiros de cada bacia formam o Comitê Gestor,
legalmente instituído, para uma nova gestão socioambiental participativa
onde dialogam, constroem, administram e executam as ações.
O Cultivando Água Boa atua na região contemplando segmentos da
sociedade em situação crítica, apoio e incentivo à agricultura familiar, “Vilson Nilson Redel”
agroecologia, diversificação de culturas, aquicultura e pesca, práticas
conservacionistas de água e solo. Vem apoiando os agricultores familiares
e suas organizações com assistência técnica gratuita e realizando
investimentos em suas estruturas por meio de parcerias e dos Programas
Inclusão Social e Produtiva e Desenvolvimento Rural Sustentável.
O reconhecimento nacional e internacional do Cultivando Água Boa
evidencia o resultado do esforço integrado entre Itaipu, parceiros e
comunidades, além de demonstrar concretamente que é possível aliar
desenvolvimento com equilíbrio socioambiental. A Itaipu recebeu o prêmio
Water for Life (melhor prática de gestão das águas), das Nações Unidas,
em 2015, o Prêmio Carta da Terra, entregue em Amsterdã (Holanda), em
2005, e o Benchmarking Ambiental da Década, em 2012.
– Editores Técnicos –
Esta edição da Cartilha de Tecnologias visa difundir práticas para a
produção e consumo sustentáveis, bem como o fortalecimento da parceria Ronaldo Juliano Pavlak
de longos anos na realização da Vitrine Tecnológica de Agroecologia. Claudine Dinali Santos Seixas
Simone Grisa
Marco Antônio Bilo Vieira

ITAIPU BINACIONAL
Foz do Iguaçu, PR
2017
INST IT U IÇÕ E S O RGAN IZ AD O RAS
:: Agência de Desenvolvimento Regional :: Empresa Brasileira de Pesquisa
do Extremo Oeste do Paraná - Adeop Agropecuária – Embrapa
Fundação PTI - Bloco 14/Espaço 03 Parque Estação Biológica – PqEB s/n.
Avenida Presidente Tancredo Neves, nº 6.731 CEP: 70.770-901 - Brasília/DF
CEP: 85.856-970 - Foz do Iguaçu/PR Fone: (61) 3448 4433
Fone: (45) 3576-7084 www.embrapa.br
E-mail: adeop@adeop.org.br
www.adeop.org.br
:: Embrapa Florestas
Estrada da Ribeira, km 111 - Bairro Guaraituba
:: Centro de Apoio e Promoção CEP: 83.411-000 - Caixa Postal: 319
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) da Agroecologia - CAPA Colombo/PR
Rua Rio de Janeiro, nº 1.143 Fone: (41) 3675-5600
CEP: 85.960-000 - Mal. Cândido Rondon/PR E-mail: maria.radomski@embrapa.br
Fone: (45) 3254-2820 www.embrapa.br/florestas
C327 Cartilha de tecnologias: vitrine tecnológica de agroecologia “Vilson E-mail: rondon@capa.org.br
Nilson Redel” / organização: Ronaldo Juliano Pavlak, Claudine tecnicoscapa@gmail.com :: Embrapa Milho e Sorgo
Dinali Santos Seixas, Simone Grisa, Marco Antônio Bilo Vieira. – www.capa.org.br Rodovia MG 424, km 65
Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2017. Caixa Postal 285 ou 151
72p. : il. :: Centro Paranaense de Referência CEP: 35.701-970
em Agroecologia - CPRA Sete Lagoas, MG
Estrada da Graciosa, nº 6.960 Fone: (43) 3371 6280
1. Ecologia agrícola. 2. Adubos e fertilizantes orgânicos. 3.
CEP: 83327-000 - Pinhais/PR E-mail: walter.meirelles@embrapa.br
Pragas – Controle biológico. 4. Olericultura. 5. Plantas medicinais. www.embrapa.br/milho-e-sorgo
Fone: (41) 3544-8100
6. Sustentabilidade. I. Pavlak, Ronaldo Juliano. II. Seixas, Claudine E-mail: agroecologia@cpra.pr.gov.br
Dinali. III. Grisa, Simone. IV. Vieira, Marco Antônio Bilo. I. Título. www.cpra.pr.gov.br :: Embrapa Pantanal
Rua 21 de Setembro, n° 1.880,
:: Cooperativa Agroindustrial Coopavel Bairro Nossa Senhora de Fátima
CDD 22. ed. 630.27755 Show Rural Coopavel CEP:79.320-900 - Caixa postal: 109
Rodovia BR 277, km 577 Corumbá/MS
CEP: 85.818-560 - Cascavel/PR Fone: (67) 3234-5800
Fone: (45) 3225-6885 E-mail: alberto.feiden@embrapa.br
E-mail: showrural@coopavel.com.br aurelio.borsato@embrapa.br
www.coopavel.com.br | www.showrural.com.br www.embrapa.br/pantanal
Foto da capa: Edino Ferreira da Silva
:: Cooperativa de Trabalho e Assistência :: Embrapa Soja
Técnica do Paraná – Biolabore Rodovia Carlos João Strass, s/nº
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Rodovia PR 488, km 63 - Linha Novo Paraíso Acesso Orlando Amaral, Distrito de Warta
CEP: 85.892-000 - Santa Helena/PR CEP: 86.001-970 - Caixa Postal: 231
Fone: (45) 3268-2705 Londrina/PR
E-mail: biolabore@gmail.com Fone: (43) 3371-6000
A presente Cartilha encontra-se disponível em PDF no endereço abaixo: E-mail: claudine.seixas@embrapa.br
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convergem com a opinião institucional da ITAIPU. C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 5
:: Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR :: Itaipu Binacional
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Fone: (43) 3376-2000 CEP: 85.856-970 - Foz do Iguaçu/PR
E-mail: iapar@iapar.br Fone: (45) 3520 6799
www.iapar.br E-mail: pavlak@itaipu.gov.br
www.itaipu.gov.br
:: Polo Regional de Pesquisa www.cultivandoaguaboa.com.br


de Ponta Grossa
Rod. do Café, km 496, Av. Pres. Kennedy, s/nº
AUTORE S DA CART IL H A
CEP: 84.001-970 - Caixa Postal: 129
:: Universidade Estadual
do Oeste do Paraná – Unioeste Adriana Feiden Dirk Claudio Ahrens
Ponta Grossa/PR Engenheira Mecânica, Especialista em Automação Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia
Fone: (42) 3219-9700 Campus Marechal Cândido Rondon
– Centro de Ciências Agrárias – CCA Industrial, Bolsista da UFMS, Corumbá/MS (Produção Vegetal), Ponta Grossa/PR
E-mail: polo_ponta_grossa@iapar.br drica_feiden@yahoo.com.br d-ahrens@hotmail.com
Rua Pernambuco, nº 1.777
:: Polo Regional de Pesquisa CEP: 85.960-000 - Caixa Postal: 91
Marechal Cândido Rondon/PR Alberto Feiden Etiene Leite Junior
de Santa Tereza do Oeste Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia Técnico em Agropecuária Iapar, Polo Regional
Rodovia PRT 163, km 188 - Cruzinhas Fone (45) 3284-7878
E-mail: ccamcr@unioeste.br (Ciência do Solo), Embrapa Pantanal, Corumbá/MS de pesquisa de Santa Tereza do Oeste/PR
CEP: 85.825-000 - Caixa Postal: 2 alberto.feiden@embrapa.br etiene@iapar.br
Santa Tereza do Oeste/PR www.unioeste.br
Fone: (45) 3231-1713 André Sanches de Avila Frederico Olivieri Lisita
E-mail: est_santatereza@iapar.br :: Universidade Federal do Paraná – UFPR Zootecnista, Mestre em Zootecnia, Zootecnista, Mestre em Administração Rural e
Campus Palotina – Colegiado de Agronomia Unioeste, Marechal Cândido Rondon/PR Desenvolvimento, Embrapa Pantanal,
:: Instituto Paranaense de Assistência Rua Pioneiro, nº 2.153, Jardim Dallas sanches989@hotmail.com Corumbá/MS
Técnica e Extensão Rural - Emater CEP: 85.950-000 - Palotina/PR frederico.lisita@embrapa.br
Área de Agroecologia Fone: (44) 3211-8500 Andressa Faccenda
Av. Brasil, nº 2.060 E-mail: julianocordeiro@ufpr.br Zootecnista, Mestre em Zootecnia, UEM, Maringá/PR Flávia Comiran
CEP: 86.870-000 - Ivaiporã/PR www.campuspalotina.ufpr.br andressafaccenda@hotmail.com Engenheira Agrônoma, Mestre em Agronomia,
Fone: (43) 3472-2502 Erechim/RS
E-mail: paulolizarelli@emater.pr.gov.br Antônio Manoel da Silva flaviacomiran@gmail.com
www.emater.pr.gov.br Agricultor Experimentador, Mundo Novo/MS
luisvitorneves@hotmail.com Jadir Aparecido Rosa
Engenheiro Agrícola, Doutor em Engenharia
E QUI PE O R GANI ZA D O RA Aurélio Vinicius Borsato Agrícola, Iapar, Polo Regional de Pesquisa de
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia Ponta Grossa/PR
Adão Rodrigues dos Santos | VTA Luiz Carlos Hartmann | Capa
(Fitotecnia - Produção Vegetal), Embrapa Pantanal, jrosa@iapar.br
Alberto Feiden | Embrapa Marcelo Rohde | Capa
Corumbá/MS
Ana Simone Richter | CPRA Marcia dos Santos Fagundes | Biolabore aurelio.borsato@embrapa.br João de Ribeiro Reis Junior
Anderson Zanatta | Biolabore Márcia Vargas Toledo | Emater Engenheiro Agrônomo, Especialista em
Aurélio Vinícius Borsato | Embrapa Márcio Miranda | CPRA Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira Administração Rural e Agricultura Biológico
Claudine Dinali Santos Seixas | Embrapa Marco Antônio Bilo Vieira | Capa Graduada em História Natural, Doutora em Ciências Dinâmica, Emater, Curitiba/PR
Daiana Raquel Pauletti | Adeop Marcos Rogério A. dos Santos | Biolabore Biológicas (Entomologia), Londrina/PR joaoreis@emater.pr.gov.br
Daniel José de Souza Mol | Biolabore Maria Izabel Radomski | Embrapa bscferreira@gmail.com
Daniela Cristiane Zigiotto | Biolabore Maristela Perera Carvalho Zanão | Iapar José Marcos Gontijo Mandarino
Dari Vargas | Biolabore Maximiliane Alvarse Zambom | Unioeste Cátia Cristina Rommel Farmacêutico Bioquímico, Mestrado em Ciência
Douglas Fernando Kunz | Biolabore Mélany Cunha Born Alves | Biolabore Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitotecnia, Iapar, e Tecnologia de Alimentos, Embrapa Soja,
Edimar Silveira da Silva | Capa Nailton de Lima | CPRA Polo Regional de Pesquisa de Ponta Grossa/PR Londrina/PR
Edleusa Pereira Seidel | Unioeste Nelson Rogério Bueno da Silva | Emater catiarommel@iapar.br josemarcos.gontijo@embrapa.br
Edson Rodrigues dos Santos | Biolabore Nicodino Texeira Chaves | Iapar
Edvan Nilson de Almeida | Biolabore Patrícia Aparecida Favorito | Unioeste Claudine Dinali Santos Seixas Liziane Kadine Antunes de Moraes Pires
Emerson Fey | Unioeste Paulo Henrique Lizarelli | Emater Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia, Engenheira Agrônoma, Mestre em Recursos
Etiene Leite Junior | Iapar Ronaldo Antônio Fochesatto | Emater Embrapa Soja, Londrina/PR Genéticos Vegetais, Itaipu Binacional,
Everaldo Correia do Carmo | Embrapa Ronaldo Hojo | Iapar claudine.seixas@embrapa.br Foz do Iguaçu/PR
Everton Ulkoski | Biolabore Ronaldo Juliano Pavlak | Itaipu Binacional kadine@itaipu.gov.br
Fabiano de Castro Leite | UFPR Sidnei Francisco Müller | Capa Daniel José de Souza Mol
Francine Aparecida Mendonsa | Capa Simone Grisa | Iapar Engenheiro Agrônomo, Biolabore, Guaíra/PR Márcia Vargas Toledo
Ives Clayton G. dos Reis Goulart | Embrapa Thaís Fernanda de S. Monteiro | Capa djsmol2000@yahoo.com.br Engenheira Agrônoma, Doutora em Agronomia
Ivone Janete Gutz de Castro Leite | UFPR Tiago Pieniz | Adeop (Produção Vegetal - Fitossanidade e Controle
Jorge Luiz Knebel | Coopavel Valcir Inácio Wilhelm | CPRA Alternativo), Emater, Mal. Cândido Rondon/PR
Lincoln Villi Gerke | Adeop Valdeilson Ferreira de Almeida | Capa marciatoledo@emater.pr.gov.br
Liziane Kadine Pires | Itaipu Binacional Vanda Pietrowski | Unioeste
Lorivan Webber | Itaipu Binacional Vanice Marli Fülber | Unioeste
Luiz Antonio Odenath Penha | Iapar Vilmar V. Saar | Capa C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 7
Marco Antonio Bilo Vieira
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia Ronaldo Juliano Pavlak
(Desenvolvimento Rural Sustentável), Capa, Engenheiro Agrônomo
Marechal Cândido Rondon/PR Itaipu Binacional, Foz do Iguaçu/PR
nurture260462@yahoo.com.br pavlak@itaipu.gov.br

Marco Antonio Nogueira Sidnei Francisco Müller


Engenheiro Agrônomo, Pós-Doutor em Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia
Agronomia (Microbiologia e Bioquímica do Solo; (Produção Vegetal - Fitossanidade e Controle
Fisiologia de Plantas Cultivadas),
Embrapa Soja, Londrina/PR
Alternativo), Capa, Marechal Cândido Rondon/PR
tecnicoscapa@gmail.com
SUM ÁRIO
marco.nogueira@embrapa.br

Maria Izabel Radomski


Simone Grisa
Engenheira Agrônoma, Mestre em Agronomia
Os princípios da Agroecologia em 2.600 m² | 12
Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitotecnia,
Embrapa Florestas, Colombo/PR
(Produção Vegetal), Iapar, Polo Regional de
pesquisa de Santa Tereza do Oeste/PR
Histórico da vitrine tecnológica de Agroecologia | 13
maria.radomski@embrapa.br simone.grisa@iapar.br
Como transformar uma
Maximiliane Alavarse Zambom Tiago Venturini propriedade convencional em agroecológica? | 14
Zootecnista, Doutora em Zootecnia, Unioeste, Zootecnista, Doutorando em Zootecnia,
Marechal Candido Rondon/PR Unioeste, Marechal Cândido Rondon/PR
mazambom@hotmail.com venturini_tiago@hotmail.com M A N E J O E CO LÓ G I CO D E P R AGA S E D O E NÇA S

Michelle Pires Cubila Perez Valcir Inácio Wilhelm Como controlar pragas e
Graduada em Farmácia Bioquímica, Doutora em Técnico em Agropecuária doenças em sistemas agroecológicos? | 18
Biologia Celular e Molecular, Itaipu Binacional, Centro Paranaense de Referência em
Foz do Iguaçu/PR Agroecologia, Pinhais/PR Controle biológico de pragas | 21
mperez@itaipu.gov.br valcirw@cpra.pr.gov.br
Homeopatia e agroecologia | 25
Nelson Rogério Bueno da Silva Vanda Pietrowski
Técnico em Agropecuária, Emater, Bióloga, Doutora em Ciências Biológicas As caldas e os repelentes naturais | 26
Vera Cruz do Oeste/PR (Entomologia), Unioeste,
nelsonrogerio@emater.pr.gov.br Marechal Cândido Rondon/PR Uso de armadilhas no manejo de insetos e pragas | 27
vandapietrowski@gmail.com
Renato da Silveira Krieck
Técnico em Agropecuária, Emater, Curitiba/PR Vanice Marli Fülber
renatokrieck@emater.pr.gov.br Zootecnista, Mestre em Zootecnia,
Unioeste, Marechal Cândido Rondon/PR
Compostagem e vermicompostagem | 30
Rodrigo Cesar dos Reis Tinini
Zootecnista, Mestre em Zootecnia,
vanizoo@yahoo.com.br
Adubos verdes e consórcios | 32
Unioeste, Marechal Cândido Rondon/PR Walter Fernandes Meirelles
digotinini@hotmail.com Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia
Fixação Biológica de
(Genética e Melhoramento de Plantas), Nitrogênio (FBN) – uso de inoculantes | 34
Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas/MG
walter.meirelles@embrapa.br Agrofloresta | 35
Fruticultura ecológica | 36
Olericultura como alternativa de
renda para agricultura familiar ecológica | 38
Plantas alimentares não convencionais (PANC) | 40
Plantas medicinais | 43
Cultivares de soja para sistemas de base ecológica | 46
Milho QPM (alta qualidade proteica) | 46

8 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 9
Bioconstruções | 47
Meliponicultura –
uma atividade essencialmente agroecológica | 52

S I ST E M A S A LT E R NAT I VO S D E I R R I GAÇÃO
Homenagem a
Irrigação com sistemas adaptados de baixo custo | 54
Aspersor de garrafa PET com conexão de 3/4 de polegada | 57
Irrigação alternativa por gotejamento e microaspersão | 59
Vilson Nilson Redel
Carneiro hidráulico | 60

E
mbora tenha sido o coração o motivo de nosso colega não se encontrar mais
entre nós, era justamente com coração que o Vilson realizava suas ações e
Pastoreio Racional Voisin (PRV) | 62
relações. Bom pai, colega e companheiro, Vilson sempre foi apaixonado e
Manejo nutricional em rebanhos de base agroecológica | 63 defensor da Agroecologia. Ele buscava constantemente conhecimento e qualificação,
Suplementação alimentar proteica de tendo o objetivo de repassar ao agricultor acompanhado, o melhor. Vilson tinha
bovinos de leite em períodos de escassez (seca ou frio) | 67 conhecimento em diversas áreas, mas principalmente as relacionadas a produção
animal com destaque na produção de leite adotando o sistema Pastoreio Racional
Voisin como sistema de manejo, e o cultivo de hortaliças, com a utilização da
homeopatia na maioria de suas recomendações técnicas, auxiliando muitos
agricultores de forma simples, a contornarem problemas diversos na produção
agropecuária.

Vilson Nilson Redel estará sempre presente em nossa memória com seu
sorriso fácil e seu jeito tranquilo. Deixa marcado na linha do tempo da Agroecologia
do Oeste Paranaense sua própria história. Agradecemos a oportunidade de
compartilhar o seu legado.

10 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A
Os princípios da Agroecologia Histórico da Vitrine Tecnológica
em 2.600 m² de Agroecologia (VTA)
A Agroecologia é uma ciência. Consiste animais no pasto mais sadios e rentáveis; Em 2003, a Embrapa iniciou essa ativi- área e já estão consolidadas algumas es-
na aplicação de conceitos e princípios eco- a redução da dependência externa de insu- dade com o cultivo de soja no sistema or- truturas que compõem a paisagem e viabili-
lógicos para o desenho e o manejo de agros- mos; o melhor aproveitamento da água da gânico. Dois anos depois, foram cultivadas zam a produção sustentada.
sistemas sustentáveis. Está baseada na chuva e o uso de materiais alternativos em parcelas, com várias espécies tradicionais A “nova área” é reflexo da resistência e
interação dos aspectos ambientais, sociais construções, como o bambu. na região, dentre elas o milho, a soja, o fei- resiliência do grupo e para isso foi denomi-
e econômicos, tendo as propriedades agrí- Na Agroecologia, a melhor tecnologia é jão, o arroz e culturas potenciais. nada de “Vilson Nilson Redel” (in memorian
colas, o funcionamento da Natureza como aquela que está calçada nos pilares da sus- Em 2006, o projeto foi ampliado para 17/09/2014). A alegria, a inocência e o sorri-
modelo, que por isso não utilizam agrotóxi- tentabilidade, com retorno econômico, que os moldes de uma propriedade agrícola fa- so do colega Vilson, mantém a certeza de que
cos e adubos solúveis. promova o equilíbrio ambiental e a justiça miliar diversificada, com casa, pastagens, não existe partida para aqueles que perma-
Ao preservar as diversas espécies de social, com respeito aos conhecimentos lo- grãos, frutíferas e horta, trazendo a visão necerão eternamente em nossos corações.
insetos nativos, a fauna do solo; ao pro- cais e tradicionais. sistêmica da Vitrine. A cada ano mais instituições vêm se
mover a interação planta-animal-ambiente, A Agroecologia também resgata valo- Em 2007, ampliou-se com os cultivos de juntando à proposta e várias iniciativas vêm
também se cria condições para que o solo res: a qualidade de vida e a saúde da famí- inverno no sistema orgânico, fazendo parte se consolidando, de forma a servir como um
produza por muitas gerações. Concomitan- lia, a vida em comunidade e a saúde dos do Encontro Técnico de Inverno. Assim, a exercício de conversão, passando pela redu-
temente, o mercado de grãos, leite, carne, consumidores. Vitrine passou a ser cultivada o ano todo, tal ção de insumos, substituição e finalmente
hortaliças, frutas, plantas medicinais e con- A crise do modelo de agricultura con- qual uma propriedade rural. o redesenho da propriedade, com respeito
dimentos orgânicos vêm conquistando cada vencional, seus altos custos e o surgimento Em 2009, com aumento da área de ao dinamismo do processo como um todo.
vez mais consumidores. de novas pragas e doenças, justificam uma plantio, consolidamos o espaço da Agroe- Hoje a Vitrine conta com 11 entidades em-
Demonstramos na Vitrine Tecnológica proposta agroecológica para a agricultura. cologia e desde então temos apresentado penhadas na sua organização: EMBRAPA,
de Agroecologia de 2.600 m²: a importância anualmente cerca de 20 temas pertinentes IAPAR, CPRA, ITAIPU, COOPAVEL, EMA-
do autoconsumo; a geração de renda; os a discussão de uma agricultura sustentável. TER, BIOLABORE, CAPA, ADEOP, UNIO-
Em 2014, houve a necessidade de realo- ESTE e UFPR, as quais exercitam com essa
car o espaço da VTA dentro do evento no experiência a interinstitucionalidade multi-
SHOW RURAL COOPAVEL. No decorrer de disciplinar e o pluralismo com respeito nas
2014 e durante o evento de 2015, mantive- relações humanas e profissionais, também
mos duas áreas, a área consolidada e uma princípios da Agroecologia.
nova área, em processo de transição. Assim, A VTA mostra que a agricultura pode
iniciou-se um novo processo de transição trilhar caminhos diversos, usando concei-
com plantio de adubos verdes e barreiras. tos científicos avançados, aliados a técnicas
Estamos no terceiro ano de transição da acessíveis aos agricultores.

12 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 13
propriedade é muito dependente de insu-

Como transformar uma propriedade mos “modernos” no início há uma gran-


de queda na produtividade das culturas,
convencional em agroecológica? fortes ataques de pragas e doenças, pois
o sistema está totalmente desequilibrado
Alberto Feiden | Aurélio Vinicius Borsato e o agricultor ainda não tem experiência
com o sistema e por isso está muito sujei-
to a erros. Com o tempo a produtividade
Depois de mais de 10 anos de Vitrine que respeita as bases da ecologia e os ciclos volta a subir, à medida que o sistema vai
Tecnológica de Agroecologia no Show Rural da natureza. Muitas pessoas preferem a pa-
se equilibrando. Em uma propriedade de
Coopavel a pergunta acima se torna cada vez lavra “conversão” em lugar de “transição”,
subsistência, com baixo uso de insumos, Culturas diversificadas com plantas medicinais.
mais comum. Depois de ver os resultados porque o termo reforça a questão da neces-
essa queda de produtividade não costu-
da Vitrine muitos dos agricultores pensam sidade de mudança na cabeça do sujeito do
ma ser muito grande; de custos de produção. Aliás, fazer a
em iniciar um processo de transformação de processo, uma verdadeira conversão, no sen-
sua propriedade mas não sabem muito bem tido das ideias e do jeito de fazer agricultura: conversão com o objetivo de vender
como começar. A resposta não é simples, é preciso deixar de pensar apenas na próxi- 2. Conversão radical de apenas parte da os produtos por um preço maior é uma
pois nas agriculturas de base ecológica não ma cultura para pensar no futuro, no longo propriedade, mantendo o restante no das principais causas de fracasso dos
se têm pacotes prontos para adoção. Em cada prazo; pensar na propriedade como um sis- sistema convencional. Quando a primei- agricultores que iniciam o processo e
propriedade, cabe ao agricultor perceber o tema agrícola (agrossistema) em vez de uma ra parte já está convertida e consolidada, acabam desistindo. A melhor maneira
melhor caminho para a mudança. Esse cami- única cultura; pensar na produtividade ótima passa-se para uma segunda parte e as- de ter sucesso é estar preparado para
nho pode variar muito, pois cada caso é um do sistema de produção em vez de produtivi- sim por diante até ter toda a propriedade vender o produto como convencional e
caso. O agricultor deverá considerar o quanto dade máxima de uma única cultura; deixar convertida. Assim a perda de produti- obter a vantagem na redução dos cus-
usa de insumos “modernos” (venenos, adu- de pensar em altas produtividades a qual- vidade ocorre apenas na parte em con- tos de produção, além do ambiente de
bos químicos sintéticos, maquinários), quais quer custo, para pensar em produtividades versão e só se passa a converter a parte trabalho menos insalubre.
os recursos que dispõe, a acessibilidade e as ótimas com uma boa rentabilidade; pensar seguinte quando o sistema já está recu-
demandas do mercado local, além da dispo- em renda no longo prazo em vez do lucro má- perado na primeira parte. Essas duas for- Passos para fazer a mudança
nibilidade e do acesso a conhecimentos e à ximo agora; observar, compreender e imitar mas de conversão só se justificam quan-
assistência técnica de qualidade. os processos naturais de cada agrossistema Para se ter um melhor entendimento de
do há uma perspectiva concreta e segura
Transição agroecológica é a mudança em vez de generalizar práticas de manejo como fazer a transição lenta e gradual, aqui
de se colocar o produto como certificado
do sistema convencional para um sistema para todos os ambientes. nós a subdividimos em alguns passos na di-
orgânico e uma garantia de sobrepreço, o
reção do aumento da complexidade do siste-
que na maioria das vezes não ocorre;
ma de produção. Esses passos foram defini-
Um sistema de produção de base eco- naturais, adaptando as atividades agrícolas dos apenas de forma didática e não precisam
lógica, certificado ou não, precisa adotar aos ciclos da natureza e com isso diminuin- 3. Conversão lenta e gradual da proprie-
ser seguidos exatamente na ordem em que
uma série de princípios ecológicos, tais do as intervenções para corrigir desequilí- dade, adotando práticas agroecológicas são apresentados aqui, tudo vai depender
como: 1) Manter a vida do solo, por meio brios ecológicos. passo a passo, sem se preocupar com da propriedade e do agricultor, e em muitos
de cobertura permanente (viva ou morta), a certificação orgânica. É muito mais casos pode-se avançar vários passos simul-
minimizando perdas por erosão, mudanças Estratégias de mudanças demorada para conseguir a certificação, taneamente, principalmente quando as con-
bruscas de temperatura e falta de alimento mas permite que o agricultor passe a dições locais (recursos naturais, econômicos
aos organismos que ali vivem; 2) construir Existem basicamente três estratégias dominar as tecnologias e avançar no pro- e conhecimentos) já permitem ao agricultor
a fertilidade do solo pensando no longo para fazer a mudança do sistema conven- cesso de maneira segura, principalmente começar por etapas mais adiantadas.
prazo, usando processos biológicos e fer- cional para o de base ecológica: ao adotar processos agroecológicos mais
tilizantes de média e baixa solubilidade, complexos. Apesar de haver certa demo-
1. Conversão radical e imediata da pro- 1 - Racionalização do uso de insumos
adubando o solo e não a cultura; 3) promo- ra para que o agricultor possa ser cer-
ver a biodiversidade funcional, onde as priedade como um todo, do sistema convencionais
tificado como orgânico, consideramos
espécies utilizadas desempenham funções convencional para o sistema orgânico.
a terceira estratégia mais segura, pois O primeiro passo para quem está acos-
ecológicas como a ciclagem de nutrientes De uma hora para outra se deixa de usar tumado a usar sementes transgênicas, altas
mesmo que o agricultor não consiga
e o equilíbrio dos organismos, o que vai os insumos convencionais para usar só o sobrepreço de seus produtos como doses de adubos e venenos é de reduzir e
permitir a substituição do uso dos insumos os insumos permitidos pela legislação orgânicos, além de não ter redução na adequar a utilização dos mesmos, atendendo
químicos sintéticos; 4) respeitar os ciclos de orgânicos. Em geral, nesse caso, se a produção, em geral ocorre a redução as normas corretas da sua utilização. Embora

14 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 15
5 - Sistemas complexos de produção
Implantar sistemas complexos de pro-
dução, imitando o funcionamento do ecos-
sistema original da região e aumentando
a integração entre explorações é o próxi-
mo passo. Existem diversas experiências
de construção desses tipos de sistemas,
como agrossilvicultura e agrossilvipasto-
reio, agroflorestas regenerativas análogas,
permacultura e sistemas desenvolvidos por
Culturas diversificadas com barreiras. Grãos diversificados. Talhões diversificados e cobertura de palha. populações tradicionais. Esses sistemas têm
complexidade alta, muitas espécies e são
isso ainda não seja transição agroecológica, é passo já é possível conseguir a certificação 4 - Redesenho da paisagem muito parecidos com os ecossistemas na-
um passo importante a ser dado. Isso signifi- orgânica. Por isso grande parte dos agri- turais da região. Porém, a implantação exi-
ca adequar os cultivos e explorações à capa- cultores orgânicos parou por aqui. Porém, Redesenhar a paisagem na proprieda-
ge conhecimento aprofundado da ecologia
cidade de uso do solo, fazer adubação apenas a simples substituição de insumos não ga- de, criando uma paisagem diversificada e
e das condições de solo e clima da região,
com base na análise do solo, usar práticas de rante a sustentabilidade, as causas dos de- subdividida em várias unidades complexas,
como também da capacidade de combina-
manejo integrado de insetos e doenças, fazer sequilíbrios continuam existindo, e a lógica reorganizando as atividades agrícolas e as
ção das diferentes espécies.
o manejo adequado do solo, fazer plantio dire- do sistema de produção continua a mesma instalações no espaço para utilizar melhor
to com boa cobertura de palha, usar os princí- do convencional. A médio prazo, se ficar os recursos da paisagem e reduzir os im-
pactos ambientais é o próximo passo. É
6 - Reordenamento regional
pios de integração lavoura-pecuária-floresta. apenas nesse passo, os desequilíbrios conti-
Esse passo nada mais é do que incorporar nuam e os custos passam a aumentar, invia- fundamental levar em conta a aptidão agrí- Um último passo seria a reorganização
boas práticas da Agronomia e da Zootecnia bilizando o sistema. Por isso é fundamental cola do solo, a legislação ambiental (reser- de toda uma região para sistemas de base
avançar no processo de transição. va legal, áreas de preservação permanente, ecológica, fazendo a transição não apenas
com qualidade e segurança.
como matas ciliares, morros, encostas, ba- na propriedade de forma isolada, mas em
nhados, etc), a direção dos ventos, a exposi- toda a área de uma microbacia, de uma re-
2 - Substituição de insumos 3 - Diversificação e integração
ção ao sol e o regime hídrico de cada talhão gião ou um território, envolvendo desde os
de atividades da propriedade.
Neste passo se começa a fazer a substi- sistemas de produção agrícola, até a distri-
tuição dos insumos como sementes transgê- Aqui se procura criar combinações de Com isso se consegue aproveitar ao buição dos assentamentos urbanos, da in-
nicas, venenos e adubos químicos por insu- culturas e criações para produzir diversida- máximo a capacidade produtiva de cada um fraestrutura e das indústrias. Hoje isso pode
mos naturais e de baixo impacto ambiental. de funcional, isto é, culturas e criações que desses locais, reduzir os riscos ambientais, parecer um sonho, mas já há exemplos de
São preferíveis os recursos locais, que são “combinem” entre si, produzindo serviços que aumentar o equilíbrio ecológico e promover planejamento regional como o programa de
encontrados na propriedade ou na região, ou substituam o uso de insumos. É a combina- as demais funções da propriedade. Alguns manejo de solos em microbacias.
que podem ser feitos pelo agricultor e pelos ção de espécies, animais e vegetais, que têm exemplos: divisão das glebas com árvores
vizinhos. Na substituição dos adubos quími- funções ecológicas diferentes, produzindo ser- (quebra-ventos, cortinas arbóreas, cercas Resumindo
cos pode-se usar: fosfatos de rocha, cinzas viços como ciclagem de nutrientes, controle vivas); cultivos em faixas ou aleias; arboriza-
de madeiras, estercos e compostos orgâni- de pragas e doenças, atração de polinizadores, ção de pastagens e uso de cercas ou moirões O processo de transição não é fácil, nem
cos, adubos verdes e biofertilizantes líquidos. proteção do solo, melhoria do microclima, etc. vivos; arborização das curvas de nível em la- simples e pode avançar e recuar de acordo
Para manejo de insetos e doenças, podem ser São exemplos de práticas que criam integra- vouras e pastagens; recuperação e preserva- com as condições de clima e mercado que
utilizados, além dos biofertilizantes líquidos, ção: rotação e sucessão de culturas; culturas ção das matas ciliares; proteção dos manan- vão mudando ao longo do ano. É muito difí-
caldas alternativas para controle de insetos intercalares e consórcios; adubos verdes e ciais e das nascentes; recuperação das áreas cil que um agricultor sozinho consiga fazer a
e doenças, insumos biológicos para controle culturas de cobertura, culturas complementa- de preservação permanente; recuperação e mudança, o ideal é que participe de um gru-
de insetos e doenças, fitoterapia e homeopa- res; culturas com raízes profundas que trazem manejo da mata da reserva legal; criação de po de agricultores com os quais possa trocar
tia. Ao invés de sementes transgênicas e/ou de volta os nutrientes lixiviados; culturas com refúgios biológicos para inimigos naturais e experiências, tirar dúvidas e somar esforços.
híbridas, passam a ser usadas sementes de diferentes alturas que permitam melhor uti- polinizadores; áreas de reflorestamento para A assistência técnica especializada de qua-
variedades ou crioulas, que podem ser repro- lização da luz solar; integração da produção fins econômicos; corredores biológicos para lidade também é muito importante. Mas o
duzidas pelos próprios agricultores. animal com a produção vegetal; policultivos interligar fragmentos de matas e/ou reservas principal é que o agricultor esteja motivado
Depois de substituídos todos os insu- aquáticos e integração de lavouras-criações-a- e recolocação das explorações e das instala- a fazer mudanças, e mudanças a longo pra-
mos e passado o prazo de carência, nesse quicultura, entre outros. ções em locais mais adequados. zo, com um planejamento para vários anos.

16 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 17
Esse planejamento não pode ser rígido, deve Mais informações:
ser dinâmico, estando aberto a ajustes se as
Cartilha “Como eu começo a mudar para siste-
condições mudarem. Mas deve ser como um
mas agroecológicos?”, disponível em:
farol que mostra qual é a direção a seguir,
<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/on-
mesmo que ás vezes seja preciso fazer vol-
tas para alcançar o objetivo. Nesse processo line/CAR04.pdf>.
de transição, a direção deverá sempre pre- FEIDEN, A.; ALMEIDA, D. L.; VITOI, V.; ASSIS,
valecer em relação a velocidade da mudan- R.L. Processo de conversão de sistemas de
ça. Repensar alguns valores, alterar alguns produção convencionais para sistemas de
costumes/hábitos, tomar as decisões no mo- produção orgânicos. Cadernos de Ciência
mento apropriado e assumir alguns riscos, e Tecnologia (EMBRAPA), Brasília, v. 19, n. 2,
p. 179-204, 2002. Canteiros diversificados com barreira repelente. Consórcio de milho leguminosas.
entre outros, serão os principais desafios
para quem busca a transformação de uma ASSIS, R. L.; ALMEIDA, D. L.; SILVA, V. V.; FEI-
propriedade convencional em agroecológi- Na natureza toda a energia útil que elo passa a ser aliado e assim por diante.
DEN, A. A conversão de sistemas convencio-
ca. A medida que vai se compreendendo os nais para sistemas orgânicos de produção move a vida vem do sol. A vida como co- Estes conhecimentos nos ajudam a criar
processos inerentes aos agrossistemas, tais no Brasil. In: PADOVAN. M. P.; URCHEI, M. A.; nhecemos hoje só é possível porque as estratégias de manejo das populações inde-
desafios tornar-se-ão motivação para que MERCANTE, F. M.; CARDOSO, S. (Org.). Agro- plantas (e algas), através da fotossíntese, sejáveis e favorecer as que nós considera-
ecologia em Mato Grosso do Sul: princípios, conseguem capturar a energia do sol e ar- mos desejáveis.
o agricultor-experimentador continue inte- fundamentos e experiências. 1ed. Campo Gran-
ragindo com a natureza de forma dinâmica mazená-la em compostos de carbono. Por Para que os organismos a partir do se-
de: IDATERRA/EMBRAPA Agropecuária Oeste,
e sustentável, possibilitando qualidade de v. 1, p. 113-120, 2002.
isso os vegetais são chamados de produ- gundo elo da cadeia alimentar (animais)
vida, inclusive para as gerações futuras. tores primários e forma o primeiro elo da possam se multiplicar, são necessários ali-
cadeia alimentar. Toda a vida no planeta mentação, abrigo e condições favoráveis à
depende da energia fixada pelas plantas. procriação. Assim, temos duas estratégias
Organismos que não conseguem fazer a fo- para interferir na multiplicação dos organis-
M A N E J O E C O L Ó G I C O D E P R AG A S E D O E N Ç A S tossíntese obtêm sua energia consumindo mos que temos em nosso agroecossistema:
matéria vegetal, por isso são chamados de promover as condições de alimentação,
herbívoros ou fitófagos e constituem o se- abrigo e condições de procriação dos orga-
Como controlar pragas e doenças gundo elo da cadeia alimentar. Já outras es-
pécies se especializaram em comer os que
nismos desejáveis e inibir essas condições
para os indesejáveis. Estas estratégias estão
em sistemas agroecológicos? comem plantas e são chamados de carnívo-
ros (ou insetívoros ou entomófagos quando
baseadas na diversificação das explorações,
criando barreiras entre as diferentes cultu-
Alberto Feiden | Aurélio Vinicius Borsato comem insetos), e constituem o terceiro elo ras para dificultar o deslocamento das espé-
na cadeia alimentar. cies indesejáveis, destruição de suas fontes
A partir daí há vários outros elos na ca- de alimento alternativas, seus refúgios e
Em geral a primeira pergunta que os lógica é “como convivo com os organismos
deia alimentar em sequência. E é a partir do procurando interferir nos seus processos de
técnicos e agricultores convencionais fazem indesejáveis?” ou no limite “como posso
primeiro elo da cadeia alimentar que nossa reprodução. Por outro lado criamos condi-
em relação aos sistemas de produção agro- manejar esses organismos para que eles
exploração se encontra, que vamos enxer- ções favoráveis aos organismos benéficos,
ecológicos é “que produto vocês usam para não se tornem problemas?”.
gar os outros elos da cadeia como inimigos introduzindo espécies que possam servir
controlar as pragas e doenças?”. Para responder a estas questões é ne-
ou aliados. Se nossa exploração é vegetal de alimento alternativo, criando refúgios e
O problema é que a própria pergunta já cessário muito mais conhecimento que
e portanto no primeiro elo da cadeia ali- estimulando sua reprodução.
está equivocada, pois ela parte do princípio simples receitas de produtos que matam
mentar, os herbívoros (segundo elo) vão ser Na natureza, para cada espécie vegetal
que é necessário usar algum tipo de veneno determinados insetos ou micro-organismos.
nossos inimigos (pragas) e os carnívoros ou animal, existe um grupo de organismos
para fazer o controle dos organismos inde- É preciso conhecer minimamente a cadeia
ou insetívoros (terceiro elo) serão nossos associados que mantém relações positivas
sejados nos sistemas de produção. Uma das alimentar em que nossas explorações estão
aliados (inimigos naturais das pragas), en- ou negativas com esta espécie. Como exem-
primeiras coisas que precisamos quebrar no envolvidas, conhecer a dinâmica da popula-
quanto o quarto elo volta ser inimigo, pois plo de relação positiva tem-se a que ocorre
processo de transição agroecológica é esta ção dos organismos que nos incomodam e
elimina os inimigos naturais das pragas. entre leguminosas e rizóbios, onde a planta
lógica convencional de problema = insumo. principalmente as interações entre os diver-
Mas quando a exploração for em nível de alimenta as bactérias, e estas fixam o nitro-
A pergunta correta na lógica agroeco- sos tipos de organismos.
animais (segundo elo), o terceiro elo passa gênio do ar e o disponibilizam às plantas.
a ser o inimigo (pragas), enquanto o quarto Porém, as interações mais conhecidas são

18 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 19
Em casos que as práticas culturais não
M A N E J O E C O L Ó G I C O D E P R AG A S E D O E N Ç A S
forem suficientes para reduzir as popula-
ções desequilibradas a níveis que não cau-
sem dano econômico, podem ser usados
Controle biológico de pragas:
produtos que têm como objetivo fazer um práticas agronômicas e manejo do habitat na
controle pontual da população de organis-
mos, para reduzir as perdas de produção,
conservação dos agentes de controle biológico natural
principalmente no período em que se está Vanda Pietrowski
mudando do sistema convencional para o
agroecológico. No entanto, o objetivo princi-
pal a ser atingido é conseguir um ambiente A adoção de práticas agronômicas e de
Insetos em desequilíbrio.
onde exista equilíbrio entre as populações manejo da propriedade que favoreçam os
para que os controles artificiais se tornem agentes de controle biológico de pragas são
as negativas, como a predação e o parasitis- cada vez menos necessários. Pois, quando de fundamental importância para a redução
mo, mais conhecidos como ataque de pra- o sistema de produção agrícola está em do impacto dos insetos pragas e para uma
gas ou causadores de doenças. equilíbrio, torna-se viável o convivo com os maior eficiência do controle biológico, seja
Em sistemas agroecológicos se procura organismos indesejáveis, os mantendo em ele natural ou aplicado. Podem-se destacar
fortalecer as interações positivas e diminuir níveis populacionais não problemáticos, de como importantes para a conservação e a
as interações negativas através do aumento forma similar ao que ocorre nos sistemas manutenção dos organismos benéficos os
da biodiversidade funcional e do equilíbrio naturais complexos. itens apresentados a seguir.
ambiental, fazendo com que os mecanismos Para os controles pontuais (emergen-
naturais de controle das diferentes popula- ciais) podem ser utilizados produtos de
ções sejam atuantes. fabricação caseira que atuam como repe-
É possível aumentar a diversidade a) Policultivo dos cultivos ou em locais intercalados a
lentes ou como inseticidas e fungicidas de
funcional através do uso de consórcios e A diversificação da produção, além de esses. Plantas como girassol, flor-do-sol
baixo impacto ambiental, como as caldas
rotações de culturas, adubações verdes, à base de pimenta vermelha, pimenta do reduzir as populações dos insetos pra- e mamona são exemplos de espécies
culturas de cobertura, blocos com plantas reino, cebola, cebolinha verde, alho, fumo; gas, possibilita aos agentes de controle importantes, que servem como banco
bioativas (medicinais, condimentares, aro- sal e vinagre, leite cru, cinzas de madeira ou biológico maior disponibilidade de es- de inimigos naturais.
máticas entre outras), barreiras arbóreas, extratos de plantas bioativas (medicinais, pécies de insetos que lhes sirvam como
cercas vivas nos limites das áreas ou faixas condimentares, aromáticas entre outras). presas ou hospedeiras, aumentando c) Áreas de refúgio
divisórias entre os talhões. De maneira ge- Também podem ser utilizados produtos assim sua permanência na área. É im- A manutenção de áreas de refúgio para
ral, para cada espécie que se coloca no sis- homeopáticos, fitoterápicos, agentes bioló- portante que, na diversificação de cul- que os inimigos naturais das pragas
tema, pelo menos duas espécies associadas gicos ou mesmo produtos comerciais regis- tivos, se leve em consideração, além da se protejam em momentos com condi-
são atraídas, aumentando a disponibilidade trados para produção orgânica. diversidade de espécies, a diversificação ções adversas, principalmente em altas
de alimentos para os predadores não espe- de extratos, ou seja, intercalar plantas de temperaturas, tem demonstrado ser im-
cíficos e aumentando a pressão de controle porte maior com plantas de porte baixo, portante para ampliar a ação desses ini-
sobre as diferentes populações. Mais informações: migos naturais sobre os insetos pragas.
criando assim um microclima favorável
Uma outra forma de proteção das cul-
“Métodos alternativos para biocontrole”, dis- aos inimigos naturais. Essas áreas podem ser mantidas asso-
turas é o aumento da resistência das plan-
ponível em: <www.embrapa.br/pantanal/busca- ciadas ao item anterior de disponibili-
tas contra pragas e doenças, o que pode
de-publicacoes/-/publicacao/787274/metodos- b) Épocas de floração dade de floração. Geralmente o plantio
ser conseguido por uma boa nutrição,
-alternativos-para-biocontrole-na-agricultura.> Muitos predadores e parasitoides adul- consorciado, principalmente com feijão
com adubação equilibrada, tanto mineral
como orgânica. As adubações de solo po- tos, quando há ausência de presas ou de porco, é um ótimo exemplo de área
FEIDEN, A., Agroecologia: Introdução e Con-
dem ser complementadas com uma grande hospedeiros, alimentam-se de pólen de refúgio para os insetos benéficos que
ceitos. In: Adriana Maria de Aquino; Renato
quantidade de adubos foliares que também e néctar. Assim, portanto, um manejo ajudam a controlar as pragas das pro-
Linhares de Assis. (Org.). Agroecologia: Princí-
funcionam como bio-protetores, tais como visando a diferentes épocas de flora- priedades.
pios e técnicas para uma agricultura orgânica
urina de vaca fermentada e biofertilizantes ção contribui para a permanência e a
sustentável. 1ed.Brasília: Embrapa Informação
líquidos de diferentes tipos (Supermagro, multiplicação dos inimigos naturais. d) Seletividade de produtos
Tecnológica, 2005, v. 1, p. 49-69.
Vairo, Agrobio, Biogel, etc.). Importante também é a manutenção de Mesmo na agricultura de base ecológi-
flores na propriedade, nas bordaduras ca são utilizados produtos que têm ação

20 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 21
de largo espectro, ou seja, eliminam algumas moscas) e os predadores (besou-
também os inimigos naturais. O uso de ros, percevejos, tesourinhas, vespas, entre
produtos seletivos é de suma importân- outros). Saber reconhecê-los é um passo
cia para a eficiência dos agentes de con- importante para a sua manutenção e conse-
quentemente redução no impacto dos inse-
trole biológico. Embora haja pouca in-
tos pragas nos cultivos.
formação sobre a seletividade de caldas,
Alguns desses agentes de controle bio-
extratos e outros produtos considerados lógico são extremamente pequenos e pas-
naturais ou ecológicos aos inimigos na- sam despercebidos aos agricultores, como
turais, experimentos demonstraram que é o caso das vespinhas controladoras das
algumas caldas e extratos, tais como, pragas na fase de ovo (se desenvolvem den-
Doenças que controlam insetos. A: vírus da lagarta da soja; B: vírus do mandarová da mandioca;
nim, calda sulfocálcica, enxofre elemen- tro desses ovos). Esse é um grupo que apre- C: fungo causador da doença branca em lagartas.
tar e extratos de arruda afetam as vespi- senta várias espécies, são muito eficientes
nhas controladoras de pragas. e comuns no agrossitema, controlando as
pragas antes que causem danos. Contudo,
são extremamente sensíveis aos produtos
Exemplos de agentes de controle utilizados na produção agrícola.
biológico de insetos pragas A seguir serão apresentados alguns
exemplos de inimigos naturais ou agentes
Os insetos pragas são controlados na- de controle biológico que frequentemente
turalmente por uma grande diversidade de são encontrados associados ao sistema
agentes de controle biológico. Destacando- agrícola. Salienta-se que são exemplos, pois
se as doenças (fungos, vírus, bactérias e sua diversidade é muito grande.
nematoides), os parasitoides (vespinhas e
Percevejos predadores de insetos. A: predando mandarová da mandioca; B: predando percevejo marrom;
C: predando vaquinha (brasileirinho).

Parasitoides controladores de pragas. A: Vespinha parasitoide de ovos de percevejos; B: vespinha parasitoide de


ovos de borboletas e mariposas; C: vespinha parasitoide de mosca branca; D: vespa parasitoide de lagartas; E:
larvas de vespinha alimentando-se externamente de lagarta; F: mosca parasitoide controladora de lagartas. Vespas predadoras de lagartas com seus ninhos.

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Homeopatia e agroecologia
Marcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Müller | Vanice Marli Fulber

A Homeopatia é uma ciência que vem ao seu próprio cavalo: “se as leis que proclamo
encontro da Agroecologia, proporcionando a são as da Natureza, elas serão válidas para to-
homeostase do ser vivo. Seu uso tem crescido dos os seres vivos.“ É baseada em quatro prin-
muito nos últimos anos, por apresentar resulta- cípios, sendo eles a lei da semelhança, doses
dos concretos, ser de fácil uso, de baixo custo, mínimas e infinitesimais, experimentação no
Predadores de insetos. A: Mosca predadora de pulgão (adulto e larva);
B: Aranha predando mandarová da mandioca; C: tesourinha, predadora no milho. não gerar resíduos e nem contaminar o ser hu- indivíduo sadio e medicamento único.
mano e o ambiente. No Brasil, a medicina homeopática foi in-
Em 1796 o médico alemão Samuel Chris- troduzida em 1840, e a prática terapêutica regu-
tian Frederick Hahnemann idealizou e criou a lamentada a partir da Lei n° 10.831, através da
Homeopatia. Logo ao iniciar os estudos da Ho- Instrução Normativa n° 46/2011, a qual legali-
meopatia médica, Hahnemann disse ao curar zou seu uso na agricultura orgânica.

A Homeopatia é acima de tudo uma ci- outra forma de contato, permite que todos pos-
ência, portanto, não tem dono. Definida como sam utilizá-la.
libertadora, proporciona maior independência Na produção vegetal, o uso da Homeo-
econômica e técnica do agricultor. Os medi- patia tem demonstrado bons resultados na
Besouros predadores de insetos pragas. camentos homeopáticos são preparados com prevenção e no controle de doenças e pragas
doses ultradiluídas de matérias-primas a partir como percevejos, pulgões, ácaros, moscas
de animais (ou partes deles), vegetais e mi- brancas, cigarrinhas, lagartas, formigas, entre
Considerações gerais nerais. Quando são preparados com o agente outros. Usada ainda para injúrias como trans-
causador do desequilíbrio, são chamados de plantes, podas, granizos, estiagens e geadas.
O ideal, quando se pensa em insetos planejamento da produção também deve ser
nosódios ou bioterápicos. Também potencializa os nutrientes e a vida do
pragas, é que não haja necessidade de ado- feito levando-se em consideração os proble-
O fundamento da Homeopatia é que não há solo, resultando em plantas mais sadias, mais
ção de medidas de controle, mas, sim, que mas fitossanitários e não apenas as ques-
doenças, mas sim, doentes. Para Hahnemann, produtivas e de melhor qualidade.
o ambiente agrícola esteja estabelecido e tões de mercado.
a doença é uma conse­quência do desequilí- A Homeopatia é mais uma ferramenta
manejado de modo que o controle biológico Por fim, o agricultor deve compreender
que a eficiência na adoção do controle bioló- brio do organismo. Assim a escolha do trata- a ser utilizada na Agroecologia, por ir de en-
natural seja eficiente, mantendo a população
dos insetos herbívoros em equilíbrio. Porém, gico está diretamente ligada à qualidade do mento é feita a partir dos sintomas, consideran- contro aos seus princípios. Proporciona o
mesmo nas agriculturas de base ecológica, agente de controle e ao manejo da proprieda- do as causas e o desenvolvimento da doença, a autoequilíbrio da energia vital do ser tratado,
que adotam práticas que favoreçam os inimi- de, fatores esses dependentes das escolhas forma de adoecer, as circunstâncias, bem como resultando em animais e cultivos capazes de
gos naturais, isso é difícil de ocorrer haven- do agricultor. Muitos são os agentes de con- as características do organismo doente. Atuam expressar melhor o seu potencial produtivo e
do a necessidade de fazer intervenções para trole biológico que estão naturalmente dis- na energia vital do ser, estimulando o organis- com maior qualidade.
reduzir a população dos insetos herbívoros. poníveis nas propriedades agrícolas. Saber mo e promovendo a autorregulação.
Embora seja difícil a produção sem manejá-los e conservá-los, aproveitando os Na agropecuária a Homeopatia vem sen-
haver a necessidade de adotar métodos de benefícios que esses trazem na redução de do aplicada na prevenção e no tratamento de
controle, é importante que o agricultor com- insetos herbívoros, é de suma importância doenças, pragas, melhoria na qualidade de
preenda e conheça sua propriedade, faça um quando se busca uma produção sustentável. produtos, aumento de princípios ativos, trata-
histórico dos seus problemas com insetos Algumas práticas simples, como, por exem- mento de sementes, água, solo e equilíbrio dos
pragas e planeje em longo prazo medidas plo, manter áreas de refúgios com flores e o ambientes. Experiências de campo na pecuá-
que visem à redução dos impactos dessas consórcio de espécies são suficientes para ria comprovam a eficiência da Homeopatia no
pragas, não esperando o problema se insta- manter e aumentar esses agentes benéficos controle dos parasitas; tratamento e prevenção
lar para então tomar medidas de controle. O reduzindo assim o impacto de pragas. de mastites, diarreias, problemas reprodutivos,
verrugas, entre outros. Seu uso simples, junto
ao sal mineral, água, no alimento, via oral ou Amostra de medicamento homeopático.

24 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 25
M A N E J O E C O L Ó G I C O D E P R AG A S E D O E N Ç A S Amarrar e mergulhar em um vasilhame tonel, coloque 4 kg de cal virgem e queime
plástico com 1 litro de água morna. Colocar com 2 a 3 litros de água morna, retirada do

As caldas e os repelentes naturais 100g de cal em um balde com capacidade de


10 litros. Em seguida, adicionar 9 litros de
primeiro tonel. Quando a cal começar a quei-
mar, misture o enxofre mexendo sempre com
água aos poucos. Adicionar, aos poucos, o um bastão de madeira.
Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller
sulfato de cobre dissolvido antes, mexendo Após, adicione o restante da água quen-
sempre. te. Ferva a mistura durante uma hora me-
Algumas vezes nos cultivos agroecoló- turais. Existem várias opções, muitas das Mergulhar uma faca de aço limpa por 3 xendo sempre e repondo a água evaporada.
gicos é necessário o uso de produtos para quais são utilizadas há décadas, mas de- minutos na calda. Se a faca ficar marrom, a Após, deixe o fogo apagar e a calda esfriar.
o controle de pragas e doenças para evitar ve-se atentar para a proteção do aplicador, calda está ácida, então adicione mais cal na Retire a calda do tonel e coe com o auxílio de
perdas na produção, porém esses devem assim como qualquer prática na agricultura, mistura. Se não sujar, a calda está pronta um pano. Guarde a calda em vasilhas de vi-
ser confeccionados a partir de insumos na- independente do sistema.
para o uso. dro, madeira ou plástico bem fechados. Após
Usos: controle de doenças de plantas. preparada deve ser feita a medida da concen-
tração em graus Baumé (ºBé), com o auxílio
Calda sulfocálcica de um aerômetro.
Macerados de plantas Extrato de pimenta do reino
O preparo deve ser feito com equipamen- Sua aplicação é feita diluída em água,
Fumo, arruda, cinamomo, urtiga, cipó e Colocar 100g de pimenta do reino moí-
tos de proteção para evitar acidentes. para atingir uma concentração predetermina-
outras plantas têm efeito inseticida. Coletar da em 1 litro de álcool comum e deixar em
Aqueça 25 litros de água limpa em um da. A calda é corrosiva, por isso deve-se lavar
as folhas, picar, misturar com álcool comum repouso por uma semana. Dissolver 25g de
tonel. Retire um balde de água morna e mis- muito bem o pulverizador após a aplicação.
deixar em repouso por 48 horas, coar e diluir sabão neutro em 1 litro de água morna. Para
ture 5 kg de enxofre peneirado. Em outro Uso: controle de doenças de plantas.
em água até, no máximo, 10%. Como atra- aplicação usar 10 ml do extrato da pimenta
tivo da diabrótica (vaquinha ou cascudinho por litro de água e misturar a água de sabão.
verde-amarelo) pode-se espalhar iscas com Uso: controle de lagartas, pulgões, tri-
pes, bicho mineiro e cigarrinhas. M A N E J O E C O L Ó G I C O D E P R AG A S E D O E N Ç A S
cipó tayuyá.

Macerado de alho Leite ou soro de leite


O leite tem efeito positivo sobre o desen-
Uso de armadilhas no manejo
Esmagar 4 dentes de alho em um litro de
água e deixar curtir por 12 dias. Diluir em 10 volvimento das plantas, na redução de doen-
ças e na eliminação de ácaros. Misturar em
de insetos e pragas
litros de água e aplicar sobre a planta.
Uso: controle de pulgões e nematoides água na proporção de 1 litro de leite para 10 Vanda Pietrowski | Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller
litros de água. Já o soro deve ser sem a pre- Beatriz Spalding Correa-Ferreira | Claudine Dinali Santos Seixas
do alho.
sença de sal e pode ser usado desde puro até
Extrato de Nim misturado com água a 50%. Diversas são as armadilhas que podem de estratégias de manejo dos insetos pragas.
Em 20 litros de água colocar 300 g de ser utilizadas no manejo de insetos pragas. São estratégias de fácil utilização, geralmente
folhas picadas e deixar em repouso por 12 Urina de vaca Embora a maioria delas seja utilizada para mo- de baixo custo e que não exigem a presença
horas. Coar e pulverizar no mesmo dia. Coletar a urina de vaca e deixar armaze- nitoramento da população de insetos presen- constante do agricultor. Abaixo segue a des-
Usos: inseticida contra traças, lagartas, nada em local fresco por 7 a 10 dias. Pode ser tes na área, algumas podem ser utilizadas no crição de algumas armadilhas que podem ser
larva minadora, pulgões e gafanhotos. No co- usada em pulverização de 1 a 5%. controle e são importantes na diversificação facilmente adotadas pelos agricultores.
mércio, existe também o óleo de nim, que é Usos: fertilizante natural e repelente de
extraído da semente da planta. pragas.

Extrato de fumo Calda bordalesa Armadilhas luminosas


Misturar 250 g de fumo com 20 litros de Para o preparo de 10 litros, dissolver o Os insetos apresentam a visão similar a informação nas armadilhas, luminosas ou
água. Deixar de molho por 24 horas. sulfato de cobre no dia anterior ou quatro dos humanos, porém visualizam espectros coloridas, para o manejo de algumas espé-
Uso: excelente inseticida tendo ação de horas antes do preparo da calda. Dentro de menores de comprimentos de onda, não cies de insetos pragas.
contato contra pulgões, vaquinhas, cochoni- um pano de algodão colocar 100g de sulfato visíveis ao olho humano, como a luz ultra- As armadilhas luminosas são eficientes
lhas, lagartas e outras pragas. de cobre. violeta. Dessa forma é possível utilizar essa no controle de insetos de hábitos noturnos,

26 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 27
principalmente mariposas. São seletivas aos ser utilizadas apenas em situações de eleva- Armadilhas para moscas-das-frutas Armadilha para captura da broca-do-café
inimigos naturais, que na sua grande maio- da infestação da praga alvo. As fêmeas das moscas-das-frutas ne- Essa é uma armadilha específica para
ria são ativos durante o dia. Geralmente essas armadilhas são en- cessitam, para maturar seus óvulos, da o manejo da broca-do-café. As fêmeas des-
Essas armadilhas podem ser adquiri- contradas nas cores branca, azul e amarela, ingestão de proteína hidrolisada, que são se inseto passam o período da entressafra
das comercialmente pela internet, em lojas sendo que as duas primeiras cores são utili- obtidas de frutas maduras ou exsudados de nos grãos secos que sobraram da colheita
especializadas ou confeccionadas pelo pró- zadas para controle de tripes e as amarelas plantas. Dessa forma, pode-se confeccionar anterior. Tão logo inicie a formação dos no-
prio agricultor. Para isso é necessário basi- no controle de diversas pragas, tais como, armadilhas utilizando suco de frutas, tais vos frutos, as fêmeas abandonam os frutos
camente a instalação de uma lâmpada con- mosca-branca, vaquinha, mosca minadora e como suco de uva 1:4 (uma parte de suco velhos indo depositar seus ovos nos novos
vencional e, abaixo dessa (cerca de 20 cm a pulgões em sua fase com asas. para 4 partes iguais de água) ou suco de pês- frutos, sendo ese período denominado de
30 cm) um recipiente para coleta dos insetos As armadilhas coloridas podem ser ad- sego 1:10 (uma parte de suco para 10 partes trânsito da broca. Nessa fase é que se deve
atraídos, que pode ser bacia ou galão corta- quiridas comercialmente ou confeccionadas iguais de água) ou ainda melaço diluído a utilizar a armadilha para a captura dessas
dos ao meio. pelo próprio agricultor. Para confecção deve- 10% (900 ml de água e 100 ml de melaço). fêmeas e com isso reduzir a população da
O importante é que o diâmetro desse re- se utilizar uma base ou substrato de longa Nesse tipo de armadilha é importante broca já no início da infestação.
cipiente seja suficiente para que as maripo- duração, como por exemplo, garrafas pet, que o inseto possa entrar no recipiente, po- As fêmeas são atraídas por álcool, sen-
sas que venham a bater na lâmpada sejam placas de PVC ou pratos plásticos coloridos. rém não consiga sair. Considerando que gar- do possível, portanto, confeccionar armadi-
coletadas. Deve ser colocado nesse recipien- No caso dos pratos coloridos, esses podem rafas pets são ótimas opções para confecção lhas utilizando como atrativo uma mistura
te, óleo queimado ou água com sabão ou ser adquiridos nas cores da armadilha, des- destas armadilhas, para evitar a saída do in- de 750 ml de metanol com 250 ml de etanol
detergente dissolvidos, para que o inseto, ao de que sejam cores vivas. seto, sugere-se fazer furos para o inseto entrar e 10 g de café torrado e moído. Essa mistura
cair, não consiga sair. Alguns técnicos su- Os demais materiais devem ser pintados no formato de funil, de forma que a abertura deve ser colocada em frascos de vidro com
gerem a utilização de luz ultravioleta nas ar- na cor da armadilha. Sobre esses deve ser do lado de fora da garrafa seja mais larga e a tampa de borracha, tipo frasco de vacina, fa-
madilhas, contudo, essas lâmpadas podem passada uma camada fina de cola adesiva parte que entra estreita, mas com orifício com cilmente adquiridos em farmácias e postos
ocasionar danos à visão e à pele, exigindo de longa duração (cola entomológica), que largura que possibilite o inseto entrar (Figura de saúde. Na tampa de borracha devem ser
proteção no seu manuseio. As lâmpadas pode ser adquirida comercialmente em lojas 1). Com esse tipo de furo, o inseto não conse- feitos alguns furos pequenos para permitir a
convencionais atendem à necessidade des- de produtos agropecuários ou ser produzida gue sair, morrendo dentro da armadilha. evaporação dos compostos atrativos.
sas armadilhas sem risco para o operador. de forma alternativa utilizando uma mistura Deve-se colocar a mistura de suco ou Para confeccionar a armadilha, utilizar
As armadilhas luminosas auxiliam no de breu (resina vegetal) e óleo de mamona, melaço na garrafa, em quantidade que fique garrafas pets retirando metade da lateral do
controle de mariposas como a da traça-do- na proporção de 8:5, ou seja, oito partes de abaixo dos orifícios de entrado do inseto. meio da garrafa, deixando aproximadamente
tomate e de brocas. A lâmpada deve ser li- breu para cinco partes de óleo. Tampar a garrafa e pendurar no pomar. A 10 cm no fundo sem cortar e o gargalo intei-
gada no início da noite. Os recipientes com As armadilhas devem ser distribuídas substância atrativa deve ser trocada com ro. Na parte do fundo prender o frasco com a
água e sabão devem ser trocados pelo me- na área do cultivo, na altura do dossel das frequência, entre 3 a 8 dias, dependendo do mistura atrativa de modo que esse fique na
nos a cada três dias. O óleo queimado deve plantas, sendo que seu número e a distân- tipo de atrativo utilizado, por causa da sua altura da parte aberta. Deixar a parte do gar-
ser trocado sempre que houver uma grande cia entre elas vão depender da taxa de in- fermentação, ou do número de insetos mor- galo voltada para baixo e colocar água com
quantidade de insetos no recipiente. festação da praga. As armadilhas devem ser tos. Proceder a limpeza das garrafas sempre sabão dissolvido, para que a broca morra
substituídas sempre que perderem a capa- que fizer a troca do atrativo. afogada quando cair (Figura 2).
Armadilhas coloridas adesivas cidade de aderência ou a cor, em virtude da
quantidade de insetos presos.
Assim como as armadilhas luminosas,
as armadilhas coloridas adesivas atuam
Armadilhas com utilização
pela atratividade do inseto à cor e a sua per-
manência na armadilha se dá com o uso de
de substâncias atrativas
cola adesiva de longa duração. Contudo, ao Algumas espécies de insetos pragas
contrário das armadilhas luminosas, essas são atraídas por algumas substâncias ou
armadilhas não são seletivas, capturando compostos, o que possibilita sua captura em
também os inimigos naturais, principalmen- armadilhas. Contudo, essas são armadilhas
te vespinhas e predadores menores, além de específicas para um grupo de pragas, não
abelhas, pois têm ação durante o dia e as sendo generalistas. A seguir serão descritos
cores, principalmente o amarelo, também os três tipos mais utilizadas de armadilhas Figura 1 – Esquema da armadilha com garrafa pet e Figura 2 – Esquema da armadilha com garrafa pet e
atraem esses insetos benéficos. Elas devem atrativas em agriculturas de base ecológica. detalhe do orifício de entrada da mosca. detalhe do orifício de entrada da mosca.

28 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 29
Quando houver a necessidade de trocar composição são: gás carbônico, calor, água nor ocorrência de doenças e num solo sem
a água, abrir a tampa e escoar. Pendurar as e a matéria orgânica “compostada”. camadas compactadas e/ou de impedimen-
armadilha nas plantas distribuídas cerca de A compostagem propicia um destino to. Todos esses benefícios podem ser obti-
25 armadilha por hectare, ou seja, aproxima- útil para os resíduos orgânicos, evitando dos pelo uso de um produto que o agricultor
damente uma armadilha a cada 20 m. sua acumulação em aterros e melhorando a pode produzir na sua propriedade.
estrutura dos solos.
Armadilha para captura Esse processo permite dar um destino Bokashi
de percevejo em soja aos resíduos orgânicos agrícolas, indus-
O bokashi é uma mistura de farelos
Uma estratégia que pode auxiliar no ma- triais e domésticos, como restos de comidas
que pode ser feita de maneira aeróbica (até
nejo dos percevejos em soja é o uso de arma- e resíduos do jardim. Esse processo tem
15% de umidade) ou anaeróbica (até 30%
dilhas com urina bovina. Essas armadilhas
Figura 3 – Armadilha para percevejo confeccionada como resultado final um produto – o com-
em garrafa pet. de umidade).
são confeccionadas utilizando garrafas pet posto orgânico – que pode ser aplicado ao
Pode-se utilizar misturas com farelos
de 2 litros com aberturas no terço mediano sejam vistoriadas periodicamente para a re- solo para melhorar suas características, sem
disponíveis na região ou a mistura de farelo
da garrafa (Figura 3). tirada dos insetos já capturados e a reposi- ocasionar riscos ao ambiente.
de arroz (em torno de 50%), farelo de mi-
Essas aberturas podem ser feitas mais ção da solução, que deve estar 2 cm abaixo lho (30%) e farelo de soja ou aveia ou trigo
acima para aumentar o intervalo de reabas- das aberturas da garrafa, evitando a fuga de Vermicompostagem (20%). Também podem ser usados outros
tecimento das armadilhas. novos percevejos atraídos e capturados. As Vermicompostagem é o processo de materiais de origem agrícola, animal ou de
É utilizada uma solução de urina bovina armadilhas devem ser colocadas desde o produção de húmus ou vermicomposto uti- tratamento de lagoas.
+ sal de cozinha, nas proporções de três litros início do cultivo da soja, preferencialmente lizando minhocas. Na preparação do bokashi é necessário
de urina e 500 g de sal, dissolvidos em sete nas bordaduras, penduradas em estacas ou O resíduo orgânico que serve como ali- usar Microrganismos Eficientes – EM. O EM
litros de água. É indicado que as armadilhas no chão, de 50 m em 50 m. mento para minhocas, ao passar por seu é uma comunidade de microrganismos en-
trato digestivo, sofre transformações que contrados naturalmente nos solos equilibra-
favorecem a formação de matéria orgânica dos. Para a Utilização no bokaschi, pode ser
estabilizada, ou seja, de adubo orgânico adquirido em formulações comerciais em
Compostagem e vermicompostagem conhecido como “húmus de minhoca” ou casas agropecuárias do ramo, e ou coletado
“vermicomposto”. pelo próprio agricultor. Para realizar a coleta
Etiene Leite Junior | Nelson R. Bueno da Silva | Ronaldo Juliano Pavlak As espécies mais adaptadas à vermi- baixar o “Caderno dos Microrganismos Efi-
compostagem e mais utilizadas são a Ver- cientes (EM)”, no link disponível no tópico
melhas-da-Califórnia (Eisenia foetida e Ei- mais informações.
Húmus senia andrei) e a Noturna-Africana (Eudrilus Para obter o EM ativado mistura-se 100
O húmus é o componente orgânico, re- eugeniae), por alimentarem-se de resíduos ml de EM, 100 ml de melado ou garapa e
• Melhora as propriedades físicas do solo;
sultante da decomposição microbiana de orgânicos semicrus, terem alta capacidade 800 ml de água. Após misturados, deixar
• Aumenta a retenção de umidade;
resíduos de animais e plantas. Com aspecto de proliferação e crescimento muito rápido. formar gás até o sétimo dia. Utilizar a 1% em
• Age como reservatório fixo de nitrogênio,
macio e acastanhado, essa substância amor- As minhocas digerem os resíduos que água para inocular nos farelos antes do pre-
que é fundamental para manter a fertili-
fa traz grandes benefícios ao solo, entre eles: são excretados sob a forma de húmus ou paro do bokashi.
dade do solo;
• Promove a liberação gradativa de nutrien- • Reduz a compactação de solos argilosos vermicomposto, que é um rico fertilizante, :: Bokashi anaeróbico: utilizar no máxi-
tes, tornando a adubação mais eficaz e e melhora a agregação de solos arenosos. inodoro, contendo micronutrientes (ferro, mo 15 l de água junto com EM ativado
duradoura; zinco, cloro, boro, molibdênio, cobre) e ma- 10% em 100 kg de farelos. Colocar em
cronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio). sacos plásticos ou bombonas bem ve-
Ambos os produtos são condicionado- dadas e deixar fermentar por 15 dias.
res de solo que ajudam a macro e a micro-
Compostagem vida, servindo-lhes de alimento, formando e :: Bokashi aeróbico: utilizar no máximo
ativando a vida do solo deixando-o mais po- 30 l de água junto com EM ativado 10%
A compostagem é o processo biológico Composto é o resultado da degradação bio- em 100 kg de farelos. Cobrir com lonas
roso e agregado, facilitando o enraizamento
de decomposição e de reciclagem da maté- lógica da matéria orgânica, em presença de e remover se a temperatura ultrapassar
das plantas, melhorando a absorção dos
ria orgânica contida em restos de origem oxigênio, sob condições controladas pelo os 45 oC e deixar fermentar por 30 dias.
nutrientes pelas plantas, resultando em me-
animal ou vegetal formando um composto. homem. Os produtos do processo de de-

30 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 31
Importante: melhora a parte física do solo, a ciclagem de Algumas espécies de adubos verdes de verão
:: no final da fermentação o cheiro deve ser nutrientes e promove a multiplicação dos
agridoce, sendo mais forte no bokashi microrganismos benéficos. :: Mucuna anã :: Crotalária spectábilis
anaeróbico; (Mucuna deeringeriana) (Crotalaria spectabilis)
:: a aplicação do bokashi deve ser feita

FOTO: Piraí Sementes


FOTO: Piraí Sementes
Mais informações:
sempre onde tiver bastante material de
cobertura proveniente de adubação ver- • Circular Técnica 29: Vermicompostagem
www.cnpab.embrapa.br/system/files/cit029.pdf
de ou de plantas espontâneas, roçadas
ou trituradas, aplicando de 500 kg a 2 • Folder: Vermicompostagem: Uma alternativa
viável e sustentável
toneladas por hectare e de 10% a 20% na www.cpact.embrapa.br/publicacoes/down-
mistura da ração; load/folder/minhocultura.pdf
:: se utilizar materiais com teor de umidade • Circular Técnica 59: Compostagem de Resí-
mais alto deve-se diminuir a água; duos para Produção de Adubo Orgânico na Pe-
quena Propriedade
:: farelos de origem animal, farinha de osso, www.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2010/
Planta de clima tropical a subtropical, de hábito Planta tropical a subtropical, podendo atingir de
peixe e sangue devem ser utilizados até ct_59.pdf
determinado, pode ser intercalada entre linhas 60-150 cm de altura, com crescimento vegetativo
no máximo 10%. • Caderno dos microrganismos eficientes (EM) de espécies comerciais perenes. Tolera solos po- mais lento. Tolera solos mais pobres em fósforo,
http://estaticog1.globo.com/2014/04/16/cader- bres, mas é mais exigente que a mucuna cinza com semeadura de setembro-dezembro a uma
Vale ressaltar que o bokashi não é um
no-dos-microrganismos-eficientes.pdf e a mucuna preta. Produz de 2-4 t/ha de massa densidade de 15 kg/ha. Manejar a cobertura aos
adubo e sim um condicionador de solo, que seca. Semeadura: densidade de 80 a 100 kg/ha 110-140 dias da emergência. É bastante efetivo
na primavera/verão devendo ser manejada no no controle de nematoides. Para produção de
florescimento (800-100 dias após a emergência) sementes usar 8-10 kg/ha, com ciclo de 180-200
com rolo-faca ou roçadeira. Ciclo de 150 dias pós- dias e produtividade de 0,6-0,8 t/ha de sementes.
florescimento para produção de sementes. É possível produzir sementes em regiões mais
Adubos verdes e consórcios frias, se não ocorrerem geadas precoces.

:: Crotalária juncea
Dirk Claudio Ahrens | Flávia Comiran | Cátia Cristina Rommel (Crotalaria juncea) :: Guandu anão IAPAR 43 - Aratã
(Cajanus cajan)

FOTO: Piraí Sementes

FOTO: Piraí Sementes


O que são adubos verdes? ção do aumento de nitrogênio; controle
de nematoides; aumento e diversificação
São plantas de cultivo de verão ou de da população de microrganismos do solo,
inverno utilizadas para a melhoria da qua- incremento da capacidade de reciclagem
lidade física e química do solo fornecendo e mobilização de nutrientes perdidos ou
nutrientes, principalmente o nitrogênio (N) pouco solúveis em camadas mais profun-
para as plantas, além de servirem para co- das do solo.
bertura do solo.

Quais características desejáveis Planta tropical a subtropical, rica em fibras, de


Quais são as vantagens da dos adubos verdes? rápido crescimento inicial, efeito alelopático, po- Planta tropical a subtropical é uma arbustiva
dendo atingir 2-3m de altura. Controla alguns ne- anual de dias longos. Além de produção de co-
utilização dos adubos verdes? matoides, semeadura de outubro-dezembro com bertura, sua massa é rica em proteínas, e seus
As espécies eleitas para serem utiliza- grãos também podem ser utilizados para alimen-
densidade de 40 kg/ha, sendo manejada como
Trazem grandes benefícios aos solos das como adubos verdes devem ter prefe- cobertura aos 110-140 dias. Pode ser utilizada na tação humana e animal. Necessidade de 50 kg/ha
e sistemas agrícolas em geral: proteção do rencialmente as seguintes características: alimentação animal, a partir de cortes aos 70 dias de sementes para produção de biomassa, sendo
pós-emergência. A produção de massa seca pode manejada para alimentação animal de 20-40 cm
solo contra erosão; elevação da taxa de in- fácil estabelecimento no campo, crescimen-
variar de 7-15 t/ha. Para produção de sementes de altura e para cobertura verde aos 140-180 dias
filtração e aumento da capacidade de reten- to rápido, tolerância ao corte, alta capacida- usar de 20-30 kg/ha, fazendo um corte quando as pós-emergência. Para produção de sementes uti-
ção de água; recuperação da estrutura do de de rebrota, alta produção de massa vege- plantas tiverem uma altura de 80-100 cm (maior liza-se 50 kg/ha, com produção variável entre 1-2
solo; adição de matéria orgânica; aumento tal, fixação biológica do N, fácil obtenção de brotamento e uniformização da florada), com ciclo t/ha. Com florescimento e maturação das semen-
de 210-240 dias, produtividade de sementes 0,7- tes de forma irregular faz-se a colheita com 50%
da capacidade de troca de cátions; promo- sementes e facilidade de manejo. 1,5 t/ha. É possível produzir sementes em regiões das plantas maduras. Não é possível produzir
mais frias, se não ocorrerem geadas precoces. sementes em regiões mais frias.

32 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 33
:: Feijão de porco O que é um consórcio de plantas? Essas bactérias podem ser introduzidas semear logo após a inoculação; se o inocu-
(Canavalia ensiformis) no cultivo pelo uso de inoculante na se- lante for turfoso, umedecer a semente com
Consórcios ou policultivos consistem
no plantio de mais de uma cultura, na mes- mente, que é o produto que carrega essas solução açucarada a 10% para melhorar a
FOTO: Piraí Sementes

ma área, ao mesmo tempo, com espécies bactérias. Essas bactérias formam nódulos aderência (300 ml/50 kg de sementes); apli-
que não competem entre si, organizadas ou nas raízes das plantas, onde captam o ni- car cobalto e molibdênio via foliar.
não em fileiras. Podem ser empregados com trogênio do ar e o transformam numa forma Também há inoculante para milho e
adubos verdes, grãos, hortaliças, frutíferas. assimilável pela planta. trigo, mas nesse caso, a bactéria (Azospi-
A inoculação deve ser feita todo ano to- rillum) auxilia na promoção do crescimento
mando alguns cuidados: realizar a inocula- das plantas por outros mecanismos.
ção à sombra e protegida do calor excessivo;

FOTO: Cnptia Embrapa


Agrofloresta
Originária de regiões tropicais, porte ereto, hábito
determina do podendo atingir de 60-120 cm de
altura. Adapta-se bem em solos de baixa fertili-
dade em fósforo. Planta rústica, mas de semen-
tes grandes (100 sementes = 130-150 gramas). Maria Izabel Radomski
Manejo aos 120-150 dias no início da formação
de vagens, supressor do crescimento da tiririca,
Consórcio de Hortaliças. Numa linguagem simples, a Agroflo- dem ser mais ou menos complexos (diversi-
suscetível à presença de nematoides. O ciclo da
cultura para produção de sementes varia de 180- resta é a integração de árvores, plantas e ficados), tanto no espaço quanto no tempo.
200 dias, produzindo 0,8-1,2 t/ha. Nas regiões Para que serve o consórcio? animais em sistemas conservacionistas, re- Existem sistemas mais simples como os
mais frias produz sementes em solos de menor nováveis e produtivos. A agrofloresta pode sistemas agrossilvipastoris, que integram
fertilidade (encurtamento do ciclo). A finalidade do uso de consórcios é ter
rendas periódicas, maximização do uso do ser considerada mais um meio, do que uma árvores, lavouras de verão, pastagem de
solo e da água, da cobertura do solo e do simples tecnologia acabada. A flexibilida- inverno e gado; e os sistemas silvipastoris
Mais informações: de do sistema agroflorestal é uma de suas que associam árvores, pastagem perene e
uso da mão de obra, bem como proporcio-
CALEGARI, A. Leguminosas para adubação nar condições desfavoráveis à presença de vantagens, ou seja, é possível montar dife- gado. E sistemas mais complexos, como os
verde de verão no Paraná. Circular 80, maio pragas e doenças nos cultivos, pela diversi- rentes arranjos com árvores, lavouras e ani- sistemas agroflorestais multiestrata, que
1995. IAPAR. http://books.google.com.br/books/ dade de espécies. Assim, cultivando-se, por mais de acordo com os objetivos do agricul- visam o arranjo de espécies alimentícias e
about/Leguminosas_para_aduba%C3%A7%-
exemplo, o milho, o feijão, o arroz e o quiabo tor, os recursos disponíveis (terra, capital e arbóreas cultivadas ou regeneradas natu-
C3%A3o_verde_de_ver.html?id=gQxjAAA-
AMAAJ&redir_esc=y há um melhor aproveitamento dos espaços mão de obra), e as demandas do mercado. ralmente de modo a “imitar” os diferentes
em uma propriedade, havendo interação po-
Os sistemas agroflorestais também po- estratos de uma floresta.
BARNI, N. A; FREITAS, J. M. de O.; MATZE- sitiva entre elas.
NAUER, R.; TOMAZZI, D. J.; ZANOTELLI, V.;
ARGENTA, G.; SECHIN, J.; TIMM, P. J.; DIDO-
NE, I. A.; HILEBRAND, G.; BUENO, A. C.; RIBEI- O que vem a ser cultivo em faixas?
RO, S. de S. Plantas recicladoras de nutrientes
É uma evolução do uso dos consórcios,
Por que Agrofloresta?
e de proteção do solo, para uso em sistemas
equilibrados de produção agrícola. Porto Ale- para facilitar a semeadura e colheita mecâ- Os sistemas agroflorestais utilizam o ga escala, e para aumentar a sua sustenta-
gre: Fepagro, 2003. 84 p. (Boletim Fepagro, 12). nica, sendo o cultivo em faixas de espécies máximo da terra. Cada parte da terra é con- bilidade.
diferentes, como o milho e a soja.
siderada aproveitável para as plantas que
são utilizadas. Ênfase é dada para as es-
pécies perenes, lavouras de múltiplos usos
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) que são plantadas uma vez, mas beneficiam
por um longo período de tempo. Além dis-
– uso de inoculantes so, os sistemas agroflorestais são utilizados
para aproveitar as interações benéficas das
Claudine Dinali Santos Seixas | Marco Antonio Nogueira
plantas cultivadas, e para reduzir interações
não favoráveis.
Muitas plantas da família das legumino- bios” (Rhizobium), para receber o nitrogênio
Eles são usados para reduzir os riscos
sas (fruto tipo legume ou vagem) são capazes que precisam.
associados à agricultura de pequena ou lar- SAF com frutíferas.
de se associar a bactérias benéficas “rizó-

34 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 35
A implantação de pomares domésticos ou cultivados em sistemas solteiros.
comerciais é uma excelente alternativa para a Também dispomos de acerola (Malpi-
manutenção de agricultores familiares e seus ghia punicifolia L.), goiaba (Psidium guajava
filhos no campo, bem como para a comple- L.), ameixa (Prunus domestica L.), pêssego
mentação nutricional das famílias rurais. (Prunus persica), caqui (Diospyros kaki L.f.)
No espaço reservado à fruticultura, na e banana (Musa x paradisiaca L.), cultivados
Vitrine Tecnológica de Agroecologia, é apre- em Sistema Agroflorestal (SAF).
sentado um pomar com algumas das frutí- A Vitrine tem como objetivo demostrar a
feras cultivadas na região Oeste do Paraná, fruticultura como alternativa de incremento
tais como o figo (Ficus carica L.), a amora na alimentação e fonte de renda aos agricul-
Sistema silvipastoril. Quintal Agroflorestal. preta (Rubus sp.), a framboesa (Rubus ide- tores, e as técnicas de manejo e condução das
aus L.) e a banana (Musa x paradisiaca L.), mesmas em sistema orgânico de produção.
Os sistemas agroflorestais oferecem os restal pode, enfim, ser pensado como parte
múltiplos benefícios das árvores: conservar de um sistema maior que é a propriedade, e
o solo, aumentar a fertilidade por meio da que contém muitos outros subsistemas que
fixação de nitrogênio, ou pela retirada de juntos definem um caminho mais sustentá-
minerais de camadas profundas do solo e vel para a vida no meio rural.
sua colocação na superfície através da sera-
pilheira, fornecer sombra para os animais,
produzir madeira, alimentos e combustível. Vantagens da Agrofloresta
A agrofloresta não é um sistema de :: Segurança alimentar para a família e ren-
receitas prontas para a venda, é um siste- da para o produtor;
ma para manejo dos recursos agrícolas, da :: Produção diversificada – redução de risco;
terra, para benefício do proprietário e, em :: Baixa ocorrência de pragas e doenças; Figueira em frutificação. Frutos de framboesa.
longo prazo, para o bem-estar de toda a so- :: Aumento da fertilidade do solo;
ciedade. Embora o sistema seja apropriado :: Alta produtividade por área ocupada;
para toda a terra, ele é especialmente impor- Mais informações:
:: Uso de mão de obra familiar;
tante no caso de propriedades com declivi- :: Baixa necessidade de insumos externos; Informações importantes quanto à implantação, condução e manejo de frutíferas, bem como receitas
dades acentuadas onde a agricultura leva a :: Espaço de convivência. e sugestões de tratamentos alternativos.
rápidas perdas de solo. Um sistema agroflo- • Circular Técnica 64: Cultivo Orgânico de Fruteiras Tropicais – Manejo do Solo e da Cultura:
www.cnpmf.embrapa.br/publicacoes/circulares/circular_64.pdf
• Circular Técnica 35: Figueira (Ficus carica L.) do Plantio ao Processamento Caseiro:
www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/circulares/circular35.pdf

Fruticultura ecológica • Circular Técnica 75: Cultivo da Amora-Preta:


http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/56229/1/cir075.pdf
• Circular Técnica 80: Recomendações para o Controle de Pragas em Hortas Urbanas:
Ronaldo Juliano Pavlak
www.cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/2009/ct/ct_80.pdf
• Série Produtor Rural: Agricultura Orgânica:
A fruticultura é uma atividade de grande dio e/ou a idade do pomar; www.esalq.usp.br/biblioteca/PUBLICACAO/Serie%20Produtor%20Rural%20Especial%20-%20
importância e estratégica nas agriculturas de • Apresenta possibilidade de comércio dos Agricultura%20Organica/Organica.pdf
base ecológica, em razão de uma série de ca- frutos in natura, ou a transformação em
racterísticas, entre elas: sucos, doces, geleias, licores, entre outros,
• Possibilita ao agricultor um grande rendi- o que agrega valor à produção e garante
mento por área; renda ao produtor durante o ano todo;
• Trata-se em sua grande maioria de cultu- • As frutas são importantes fontes de pro-
ras perenes; teínas, sais minerais, vitaminas e fibras,
• Utiliza relativamente pouca mão de obra, indispensáveis para o funcionamento do
que varia de acordo com a espécie, o está- organismo humano.

36 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 37
Olericultura como alternativa de renda CULTURA PLANTAS AMIGAS PLANTAS INIMIGAS

para agricultura familiar ecológica Abóbora Milho, feijão-vagem, acelga, chicória, Batata
amendoim, cenoura
Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller
Alface Cenoura, rabanete, beterraba, rúcula, acelga, Pepino, salsa, morango
feijão, milho, alho, nabo, hortelã, chicória,
A olericultura é a área da horticultura cada. A crescente demanda por produtos de
que engloba a produção de culturas folhosas, melhor qualidade vem afetando a forma de ervilha, cebola, couve-flor, tomate
raízes, frutos diversos e partes comestíveis. produção e comercialização das hortaliças. O Alho Alface, beterraba, cenoura, camomila, Ervilha, feijão, couve-
A atividade, além de colaborar na economia avanço nas agriculturas de bases ecológicas morango, rosa, tomate, salsa flor, aspargo
familiar, pode ser encarada como alternativa tem colaborado na discussão de formas de
Beterraba Alface, alho, nabo, feijão-vagem, salsa, Mostarda, milho, batata
de renda na propriedade, sendo capaz de produção mais sustentáveis, em consonân-
proporcionar boa qualidade de vida e renda cia com o ambiente, economicamente viá- cebola, pepino
bruta alta, porém requer mão de obra qualifi- veis e socialmente justas. Berinjela Feijão, feijão-vagem –

Cebola Beterraba, morango, cenoura, tomate, couve, Ervilha, feijão, couve-


alface, alecrim, pepino, abóbora flor, aspargo
O cultivo de hortaliças pode ser a campo, Outro aspecto a ser considerado é a rota-
Cenoura Ervilha, alface, feijão, rabanete, tomate, Ervilha, feijão
em canteiros, com cultivo mínimo ou plan- ção de culturas, pois cada cultura apresenta
tio direto ou em ambiente protegido, para necessidades diferenciadas de nutrientes, cebola, alho
culturas mais exigentes. O sistema Mandala sistemas radiculares que atuam em distin- Couve Feijão, ervilha, camomila, hortelã, endro, Beterraba
são hortas no formato circular, de forma que tas profundidades, além de quebrar ciclos sálvia, alecrim, tomilho, losna, aipo, acelga,
permita maior integração de seus elementos, de pragas e doenças. Também é necessário espinafre, alface, pepino, rabanete, salsa
para o máximo proveito das funções entre si, conhecer quais culturas seguem bem uma
e para atender as necessidades uns dos ou- a outra. Entre as plantas existem as chama- Morango Feijões, espinafre, tomate, alho, cebola Repolho, alface
tros. Os caminhos devidamente projetados das amigas ou companheiras e as inimigas Pepino Girassol, feijão, milho, ervilha, aipo, salsa, Rabanete, tomate, alface
facilitam o manejo, a irrigação e a colheita, ou antagonistas. As plantas companheiras beterraba
além de permitir maior aproveitamento da quando cultivadas em consórcio ou cultiva-
área comparado com o sistema de canteiros das em rotação promovem benefícios a am- Rabanete Aspargo, tomate, ervilha, agrião, cenoura, Pepino
lineares (sistema convencional). Plantam-se bos os cultivos, seja pela liberação de subs- espinafre, feijão-vagem, chicória, milho,
verduras, legumes, cereais, frutas, adubos tâncias pelas raízes, pelos aromas, produção salsa, couve, alface, batata, feijão
verdes, ervas aromáticas, medicinais e flores. de flores ou pela manutenção de predadores. Repolho Batata, beterraba, alface, aspargo, cebola, Morango
Essa técnica economiza água, trabalha com A seguir um quadro com alguns exemplos
tomate
diversidade de plantas e permite o melhor de plantas amigas e antagonistas (inimigas).
aproveitamento dos adubos orgânicos. Rúcula Chicória, vagem, milho –
É recomendado o maior número possível
de espécies. A escolha dessas tem papel fun- Salsa Tomate, aspargo, pimenta Alface
damental, pois quanto maior a diversidade, Tomate Aspargo, alecrim, alho, cebola, cebolinha, Pimenta, soja,
tanto mais o sistema tenderá para o equilí-
hortelã, salsa, cenoura, calêndula, serralha, beterraba, ervilha,
brio, e dessa forma menores serão os pro-
blemas com pragas e doenças. É importante salsão, sálvia, tomilho, urtiga, aipo, nabo, pepino, batata
incluir espécies floríferas que atraiam insetos chicória, couve, espinafre, alface, milho,
polinizadores e que favoreçam o controle bio- feijão, rabanete
lógico natural, como plantas da família das
Asteraceae (girassol, flor-de-mel, margari- Vagem Milho, abóbora, rúcula, chicória, acelga –
das) e Apiaceae (coentro, anis, funcho). Horta em sistema de Mandala.

38 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 39
Cará ou inhame Gengibre (Zingiber officinalle Roscoe)
Plantas alimentares (Dioscorea cayenensis Lam.)
De origem asiática, o rizoma dessa es-
Planta muito rústica, herbácea trepadei- pécie é utilizado como alimento e na indús-
não convencionais (PANC) ra que produz tubérculos comestíveis. Apre- tria, como matéria-prima para fabricação de
senta variedades com e sem espinho, de bebidas, perfumes e produtos de confeitaria
Márcia Vargas Toledo | Sidnei Francisco Muller casca e polpa branca a escura. Recomenda- como pães, bolos, biscoitos e geleias. Além
se o plantio em leirões com espaçamento de disso, é conhecido popularmente pelo uso
Apesar da grande diversidade de plan- No entanto essas espécies apresen- 1,2 m x 0,6 m. A colheita é realizada quando medicinal. Os rizomas são plantados a 15
tas, a humanidade tem a base alimentar em tam qualidades nutricionais muitas vezes as plantas começam a secar aos sete meses cm de profundidade em sulcos em espaça-
aproximadamente 20 espécies. As plantas superiores às hortaliças convencionais e após o plantio. mento de 1 m x 0,2 m. A colheita se inicia
alimentares não convencionais (PANC) são estão sendo muito valorizadas como um quando a parte aérea começa a secar, cerca
espécies normalmente presentes em deter- resgate cultural de regiões e culturas. O Cará-moela ou cará-do-ar de sete meses após o plantio.
minadas regiões e que fazem parte da culi- setor de gastronomia de pratos finos tem (Dioscorea bulbifera Linn.)
nária alimentar de culturas ou povos tradi- explorado essas espécies pelos seus sabo- Jurubeba (Solanum scuticum M.)
cionais. Como exemplo o maxixe, que faz res peculiares. Originária da África e da Ásia, é uma
trepadeira caducifólia (perde as folhas) que Planta rústica nativa no Brasil que atin-
parte da cultura culinária das regiões Norte e Por não haver cultivos em escala as hor-
produz tubérculos na axila das folhas. Esses ge de 1 m a 4 m de altura com folhas esbran-
Nordeste do Brasil, sendo consumido como taliças tradicionais apenas são encontradas
tubérculos são utilizados como alimento quiçadas e aveludadas. Pode ser consumida
salada, em ensopados e moquecas. em feiras e casas especializadas. Entre as
sendo boa fonte de fósforo. A propagação é in natura quando madura, utilizada na culi-
Normalmente são espécies que em de- plantas alimentares não convencionais te-
feita com os tubérculos aéreos enterrando-os nária e no preparo de bebida alcoólica tôni-
terminados períodos foram amplamente mos o açafrão-da-índia, o almeirão-de-ár-
superficialmente. Pode ser cultivado rasteiro, ca. Também como planta medicinal podem
consumidas ou tidas como alimentos que vore, a araruta, a batata-baroa, o beijinho, a
mas é aconselhável tutorar a planta. A co- ser utilizados raízes, folhas, flores e frutos.
distinguiam diferentes classes sociais. Com beldroega, o cará, o cará-moela, o caruru, o
lheita se inicia entre sete a nove meses após A coleta dos frutos se inicia entre quatro a
o passar do tempo passaram a ter pouca ex- caxi, o chuchu-de-vento, o dente-de-leão, o
o plantio. Os frutos variam de 50 g a 250 g. seis meses após o plantio quando estiverem
pressão e em alguns casos foram negligen- hibisco, o inhame, o gengibre, a jurubeba, o
totalmente desenvolvidos mas ainda imatu-
ciadas. Hoje muitas passam despercebidas mangarito, o maxixe, a ora-pro-nobis, o pei-
Caxi [Lagenaria siceraria ros e verdes.
em meio aos cultivos e até mesmo são con- xinho, o picão, a serralha, a taioba, o taro, a
(Molina) Standl.] A germinação das sementes leva de 30 a
sideradas plantas daninhas. vinagreira, entre outras.
40 dias, sendo as mudas transplantadas em
De origem africana, ramos jovens e fru- espaçamento de 3,0 m x 3,0 metros. As plan-
tos podem ser consumidos cozidos. Quando tas podem produzir por até oito anos.
maduros os frutos tornam-se duros e imper-
Açafrão-da-índia, açafrão-da-terra Almeirão-de-árvore
meáveis podendo ter diversos usos. É uma Maxixe (Cucumis anguria L.)
ou cúrcuma (Curcuma longa L.) (Lactuca canadensis L.) planta herbácea da mesma família das abó-
Originária da Índia com uso medicinal, Encontrada em todo o Brasil, apresenta boras. A colheita se inicia entre 30 a 60 dias Originário da África Tropical é uma
alimentar e condimentar. É uma planta her- folhas lanceoladas, com nervuras roxas ou após o plantio. planta rústica de clima quente, sendo seus
bácea, anual, aromática, com ramificações verde-claras e de sabor meio amargo. A pro- frutos consumidos crus em saladas, cozidos
laterais compridas. A parte utilizada da plan- pagação é feita por sementes com a produção Chuchu-de-vento ou na forma de picles. Suas folhas também
ta é o rizoma (raiz). Reproduz-se por pedaços de mudas para transplantio. Nos canteiros [Cyclanthera pedata (L.) Schrad.] podem ser utilizadas na forma refogada,
do rizoma que apresentam gemas (olhos). onde é realizado o plantio definitivo, poderá lembrando muito o espinafre.
Trepadeira da família Cucurbitaceae, A colheita se inicia 60 a 70 dias após o
Cada rizoma mede até 10 cm de compri- ser utilizado o espaçamento de 0,30 m a 0,40
é originária da América do Sul. As mudas plantio, se prolongando por mais de três me-
mento e, quando cortado mostra a cor ver- m x 0,30 m a 0,40 m. A colheita inicia 60 a
devem ser produzidas em bandejas ou em ses. Utiliza-se a semeadura direta com duas
melho-alaranjada. Da sua raiz seca e moída 70 dias após o plantio, ou quando as folhas
recipientes individuais, e posteriormente sementes por cova em espaçamento 3,0 m
se extrai o pó, utilizado na culinária como atingirem 20 cm a 25 cm de comprimento e
transplantadas para o local definitivo quan- x 1,0 m.
condimento ou corante, e no preparo de me- estiverem tenras, colhendo-se de baixo para
do tiverem quatro a cinco folhas. Utiliza-se o Existem duas variedades, maxixe-caipi-
dicamentos. Para seu cultivo, recomenda-se cima. É feita a catação das folhas, deixando-
espaçamento de 1,0 m x 0,5 a 0,7 m. A co- ra-do-Norte (com espinhos) e maxixe japo-
o preparo de canteiros, com plantio a 4,0 cm se a planta. Para que haja maior recuperação
lheita se inicia 100 dias após o plantio quan- nês (sem espinhos).
de profundidade em espaçamento de 0,20 m da cultura é importante que se deixe pelo me-
do os frutos atingem 10 cm.
x 0,40 m. A propagação é feita pelos rizomas. nos três a quatro folhas por planta.

40 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 41
Ora-pro-nóbis e a sensação de asfixia. Distingue-se de va-
(Pereskia aculeata Mill.) riedades selvagens pela incisão natural das

Originária do continente americano,


folhas até o pecíolo e pela coloração verde do Plantas medicinais
ponto de inserção dos pecíolos nas folhas. O
também é conhecida como “carne dos po- rendimento das folhas pode chegar a 6 mil Liziane Kadine A. de Moraes Pires | Aurélio Vinicius Borsato | Michelle Pires Cubila Perez
bres” por ser rica em vitaminas A, B e C, kg/ha. No caso de utilizar os rizomas, a co-
bem como ferro, cálcio e fósforo. Suas folhas lheita é feita a partir de sete a oito meses e, Quem não se lembra de algum chá que valeram do uso e do conhecimento tradicio-
chegam a apresentar 25% de proteína. Fo- para aumentar a produção de rizomas, deve- lhe foi preparado quando estava com al- nal associado a essas plantas.
lhas e flores podem ser usadas cruas, refo- se reduzir ou evitar a colheita de folhas.
gadas ou secas como farinha. guma gripe, com náuseas, ou se sentindo O caminho percorrido para chegar no
Planta perene, com características de cansado? medicamento é longo, trabalhoso, oneroso
Taro, inhame-chinês, taiá Aquele chá, que com carinho lhe foi e em alguns momentos desestimulantes, já
trepadeira, mas pode crescer sem a presença
[Colocasia esculenta (L.) Schott] dado, carrega os propósitos terapêuticos de que as exigências para a produção de um
de anteparo. Para produção das mudas, deve
ser utilizado material proveniente da região Cultivado em todo o Brasil para uso co- algumas plantas, as popularmente conheci- medicamento fitoterápico são as mesmas
intermediária do caule, localizada entre as mestível, ornamental e medicinal. Trata-se das como Plantas Medicinais. que a de um medicamento convencional.
partes mais tenras e as partes mais lenhosas de uma herbácea tuberosa, acaule, de 40-70 Essas inúmeras plantas, que podem es- No entanto, a busca por medicamentos
da haste. Logo após o corte, as estacas de- cm de altura, sendo provavelmente nativa da tar no nosso quintal, na floresta, na lavoura, com menos efeitos colaterais e a valorização
vem ser enterradas até um terço do seu com- Índia, mas cultivada no Sudeste asiático há no mercado e até na farmácia, já possuem da “natureza” têm sido o norte para àqueles
primento para enraizamento. Para manter a quase 10.000 anos. Pode ser consumido cozi- em grande parte inúmeros estudos, seja que acreditam no “poder” dessas plantas
planta bem conduzida e com maior produ- do, frito e assado, além do elixir que tem uso dos seus principais componentes químicos, que curam.
ção de folhas é recomendada uma poda de medicinal, por causa do seu alto valor nutri-
formas de atuação, até pesquisas de desen- Importante deixar claro que a planta
três em três meses, deixando os ramos com cional. A propagação é feita pelos rizomas.
volvimento de produtos farmacêuticos, aí também é um medicamento, e por isso todo
o comprimento de 1,2 m a 1,5 m. Pode ser
podemos citar como exemplo o Guaco, a cuidado é pouco.
usada em ornamentação, cercas vivas e ali- Vinagreira, hibisco, groselha
Espinheira-santa, a Aroeira, entre outros. Se você está buscando um método al-
mentação animal e humana. (Hibiscus sabdariffa L.)
É sempre importante ressaltar que as ternativo de tratamento para alguma doen-
Peixinho (Stachys germanica L.) Subarbusto ereto, anual, de caule ar- plantas medicinais foram fundamentais em ça, os profissionais de saúde que lhe acom-
roxeado, com 80-140 cm de altura. Planta nosso processo evolutivo como ser humano, panham precisam saber dessa sua escolha,
Também é conhecido como lambarizi- nativa da África, mas cultivada em todo o uma vez que a indústria farmacêutica é mui- até mesmo para orientar se haverá ou não
nho, língua-de-vaca, orelha-de-lebre, orelha- mundo, para fins ornamentais e para pro- to recente, e que os nossos antepassados se algum tipo de interação.
de-cordeiro, peixe-de-pobre, peixe-frito. Seu dução de frutos, cujos cálices carnosos são
cultivo é realizado em canteiros com espaça- utilizados na confecção de sucos, geleias e
mento de 0,25 m x 0,25 m. As colheitas são refrescos. As hastes, folhas jovens e semen-
periódicas das folhas e desmembramento tes, após cozimento são utilizadas na fabri-
dos propágulos das touceiras para renovação Bom, quanto à questão de produção apresentado como mais uma alternativa de
cação de pães e refogados além de frisantes.
do plantio, evitando-se o adensamento exces- de plantas medicinais, acredito que esteja produção no processo de diversificação da
A propagação é feita por sementes e por es-
sivo que chega a causar algum apodrecimen- curioso em saber se é ou não uma ativida- propriedade.
taquia. Outras espécies de Hibiscus também
to de folhas. A colheita se inicia aos 60 dias de interessante economicamente. É preciso É lógico que para iniciar nessa ativida-
são comestíveis, sendo utilizadas as flores e
após o plantio, estendendo-se até seis meses. compreender que as plantas medicinais são de, vários aspectos precisam ser considera-
folhas para produção de saladas e geleias.
um universo de plantas. dos, como: quero ser um produtor orgâni-
Taioba [Xanthosoma Mais informações: Não temos de forma estruturada uma co?; tenho possíveis compradores próximo
sagittifolium (L.) Schott] cadeia produtiva, como temos para a soja, a minha área?; qual o perfil desses consu-
•  www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/vege-
tal/Qualidade/Qualidade%20dos%20Alimen- milho, arroz, feijão, uva, maçã, entre ou- midores? é indústria, é mercado, é consu-
Podem-se utilizar os rizomas, à seme-
tos/manual%20hortali%C3%A7as_WEB_F.pdf tras. midor final?
lhança do taro, mas o que representa uma
•  https://drive.google.com/file /d /0B8kf_ Ainda temos muito para trabalhar so- Essas são apenas algumas questões
particular iguaria são as folhas, sempre refo-
f1JuaAcQ3pRSnFHM05SXzg/view?pli=1 bre esse assunto. Mas, no Estado do Para- que podem desenhar como será a sua ativi-
gadas, pois cruas apresentam o efeito tóxico
• www.agronomiacassilandia.uems.br/ad- ná, já temos experiências interessantes na dade, e qual será o seu produto final.
do ácido oxálico (oxalato de cálcio), que cau-
min/arquivos/Inhame.pdf produção de plantas medicinais e têm se
sa irritação da mucosa na garganta, coceira

42 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 43
FOTO: Alexandre Marchetti
HORÁ- PLANTA MEDICINAL PLANTA MEDICINAL
ÓRGÃO AÇÃO PRINCIPAL
RIO (Putinga/RS) (VTA Cascavel)

Pulmonária /
Fornecer oxigênio aos órgãos Pulmonária / Guaco / Poejo /
3 às 5h Pulmão
através do sangue. Violeta de Jardim Assa-peixe /
Gervão Roxo

Intestino Reter a sobra dos alimentos que


5 às 7h Linhaça / Tansagem Tansagem / Sene
grosso junto com a água forma as fezes.

Hortelã pimenta /
Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia). Funcho (Foeniculum vulgare Mill.) sendo polinizado por Acumular os alimentos para que
7 às 9h Estômago Hortelã / Manjericão Manjericão /
abelhas nativas Jataí (Tetragonisca angustula latreill). sofram a ação do suco gástrico.
Espinheira Santa

O relógio do Corpo Humano Baço e


Relaciona-se com a circulação
Pariparoba /
9 às 11h do sangue e com a produção de Salsinha / Alfazema
com Plantas Medicinais pâncreas
enzimas.
Sete Sangrias

Buscando agregar mais informações os órgãos devem prioritariamente ser reali-


Bombear sangue para todo o Alecrim / Pfáfia /
sobre plantas medicinais na Vitrine, a zado quando ele se encontra em estado de 11 às 13h Coração
organismo.
Alecrim / Pfáfia
Sete Sangrias
exemplo do projeto realizado em Putinga/ máxima atividade o que facilitará na depu-
RS, pela EMATER/ASCAR, foi montado no ração do órgão em questão. Os alimentos passam para a
Intestino circulação linfática e sanguínea, Mil em Rama / Mil em Rama /
centro da mandala um Relógio do Corpo A metodologia do relógio além do 13 às 15h
delgado sendo a seguir distribuído a todas Funcho Funcho
Humano, que consiste num canteiro em conhecimento sobre plantas medicinais as células do corpo.
formato de relógio, onde cada hora repre- busca promover o autoconhecimento em
senta um órgão do corpo humano. saúde, mostrar que a responsabilidade da 15 às 17h Bexiga Receber e acumular a urina. Cavalinha / Malva Cavalinha / Malva

Para a escolha das plantas são consi- saúde de cada indivíduo depende exclusi-
vamente dele mesmo. Eliminar as impurezas existentes Carqueja / Carqueja / Hibiscus /
derados os conhecimentos relacionados a 17 às 19h Rins
no sangue formando a urina. Quebrapedra Embaúba
plantas medicinais aromáticas e condimen- E para isso é preciso saber onde estão
tares da Medicina Tradicional Chinesa, os órgãos, como eles funcionam, além de Corresponde ao aparelho
Arnica /
Medicina Ocidental e também o Relógio permitir uma reflexão sobre hábitos alimen- 19 às 21h Circulação circulatório, artérias e veias que Arnica / Alcanfor
Centelha Asiática
carregam sangue para todo o corpo.
Cósmico. tares, físicos e comportamentais.
O corpo é um microcosmo que repro- Estes três sistemas estão interli-
duz as leis da natureza, onde a energia Mais informações: gados e são fundamentais para
manter o ser humano saudável. Os
circula pelos meridianos principais, assim alimentos são necessários para
Sálvia /
www.anvisa.gov.br/legis/index.htm Sistemas Orégano Miúdo /
a energia vital circula pelo corpo humano produzir energia para trabalhar e
www.ibama.gov.br/legis Digestivo, Orégano Graúdo /
21 às 23h para os órgãos funcionarem. O san- Sálvia / Tomilho
seguindo um ritmo que inicia no pulmão www.agricultura.gov.br Respitatório Manjerona /
gue leva a todos os órgãos e partes
das 3 às 5 h da manhã. e Excretor Carqueja Doce
www.biodiversidade.rs.gov.br/arquivos / do corpo o alimento e o oxigênio,
Na tabela da página seguinte são apre- porém nesse processo tudo que é
1159290630estudo_caso_HORTO_MEDICI- desnecessário deve ser eliminado
sentados os horários, os órgãos ou função NAL_RELOGIO_DO_CORPO_HUMANO.pdf do corpo pelo sistema excretor.
e as plantas utilizadas em Putinga e as
plantas que estão na mandala da VTA. De 23 às 1h
Vesícula Acumular, armazenar e concentrar Bardana / Bardana /
biliar a bile. Dente-de-leão Dente-de-leão
acordo com esse relógio, o tratamento para
Alcachofra / Cardo / Alcachofra /
Produzir a bile. Eliminar
1 às 3h Fígado Mariano Falso Boldo / Losna /
substâncias nocivas.
Infalivina / Figatil

44 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 45
Cultivares de soja para Bioconstruções
sistemas de base ecológica Valcir Inácio Wilhelm

Claudine Dinali Santos Seixas | José Marcos Gontijo Mandarino

O que são que não se resume a preservação de recur-


Nos sistemas de base ecológica pode de para esse cultivo, observando o ciclo da sos e ambientes naturais, tampouco só a
São construções que utilizam como produção agrícola de base ecológica.
ser usada qualquer cultivar de soja, desde cultivar, a cor do hilo e a reação a doenças.
que não seja transgênica. Na escolha da Cultivares de ciclo precoce são indicadas base os materiais naturais e trazem na sua
cultivar deve-se levar em conta o objetivo para facilitar o manejo da ferrugem asiática essência a ideia da sustentabilidade, ao uti- Vantagens e benefícios
da produção e as condições da proprieda- e dos percevejos. lizar de modo racional os recursos naturais.
Algumas técnicas, conceitos e materiais uti- • utiliza materiais disponíveis no local/
lizados são os tijolos de adobe, taipa leve, propriedade, reduzindo custos com
A cor do hilo é importante no caso de de soja, mas há cultivares comerciais com re- taipa de pilão, cob, super adobe, fardo de transporte;
produção voltada para alimentação humana, sistência a algumas doenças e essas devem palha, tijolos de solocimento, cisterna de • materiais são de menor custo, pois, ge-
nesse caso deve-se preferir cultivares que ser preferidas. A Embrapa Soja desenvolveu ferrocimento para captação de água da chu- ralmente não passaram por processo
possuam hilo claro (amarelo ou marrom-cla- cultivares especiais para alimentação huma- va, aquecimento de água e iluminação com industrial;
ro). Não se tem notícia de materiais crioulos na. Elas possuem o hilo claro e o sabor suave. energia solar, telhado vivo, banheiro seco, • reduzido impacto ou agressão ao am-
bambu, pedra, madeira e rebocos naturais. biente na obtenção dos materiais;
As tecnologias são simples podendo ser • menor variação da temperatura interna
desenvolvidas para a aplicação popular tanto dos ambientes, melhorando o conforto

Milho QPM no meio rural quanto urbano, mas totalmente


viáveis para a arquitetura convencional.
térmico;
• não exige mão de obra profissional ou

(alta qualidade proteica) A proposta das construções ecológicas


vai ao encontro da preocupação ambiental
especializada para construção.

Claudine Dinali Santos Seixas | Walter Fernandes Meirelles

Esse milho especial tem qualidade pro- sem alterar a cor, a textura e o sabor, além de
teica superior, porque os teores de lisina e aumentar o valor nutricional de bolos, pães, Algumas tecnologias
triptofano, aminoácidos essenciais, são em biscoitos, mingaus e massas, diminuindo o de bioconstrução
media 50% superiores ao milho comum, glúten na massa. Excelente opção para for-

FOTO: www.portaldeideias.com.br
podendo chegar a ser 85% superiores. Ou- necimento a programas sociais. Cisterna de Ferrocimento
tra grande vantagem é que sendo variedade Ambas as variedades podem ser utiliza-
permite a produção e reutilização da semen- das na alimentação humana, mas também
te pelo agricultor. devem ser fornecidos a animais monogás-
A Embrapa disponibiliza duas varieda- tricos – peixes, suínos, aves e equídeos
des, a BR 473 que tem o grão amarelo e a (cavalos, asnos, burros). O resultado será o
BR 451 que tem o grão branco. A cor branca aumento de ganho de peso dos animais em
da BR 451 possibilita o emprego direto do relação ao milho comum.
seu fubá em misturas com a farinha de trigo,
Cisterna de Ferrocimento.

O que é
Desenho esquemático de captação, condução e Estrutura com a função de armazenar
armazenamento de água. água e neste caso construída com a técnica

46 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 47
de ferrocimento. Invoca o uso sustentável da Consiste em instalar, na tubulação que • sua obtenção ou produção não polui o

FOTO: www.alternativasambientais.com.br
água e consiste em estabelecer o máximo conduz a água captada no telhado e ca- ambiente;
de elementos da captação, armazenamento lhas, isto é, no percurso e antes dela entrar • redução significativa no consumo de
e reciclagem em uma propriedade. na cisterna ou reservatório, um dispositi- energia elétrica.
vo que desvia esta “primeira água”, reser-
Vantagens e benefícios vando-a para utilização na irrigação de Como utilizar
• economia de água potável ou tratada (até plantas, lavação de calçadas, máquinas e Vamos exemplificar aqui somente al-
50%), que tem custo e é muitas vezes equipamentos. guns usos de forma direta.
desperdiçada e usada sem critério nos Este reservatório geralmente constitui-se
a. Desidratador ou secador solar: para desidra-
sanitários, na lavação de calçadas e veí- de tubos de PVC de 100 mm ou 150 mm,
tação de vegetais (medicinais, condimenta-
culos, etc.; Construção 1º dia (Vitrine de Agroecologia dependendo do tamanho (metros quadra-
res, frutas, cereais, farinha, amido, etc.)
• considerada uma das melhores e mais
– Parque Tecnológico Coopavel). dos) do telhado.
Dimensionamento: A capacidade do re-

www.sempresustentavel.com.br
eficazes alternativas quando o assunto é 2º Dia – Sobre a armação começa a aplica- servatório da “lavação do telhado” ou do
economizar água; ção da argamassa que deve ter o traço 2:1 desvio, em geral, é dimensionada seguin-
• podem ser adaptadas as condições de (areia/cimento) para a parede, e 3:1 (areia/ do a regra: para cada m² de telhado, 1 li-
cada propriedade ou família; cimento) para o piso e a tampa. Uma pessoa tro de capacidade. Outra regra que pode
• atitude ecologicamente responsável em deve ficar por dentro aparando com uma ser utilizada é: para telhados até 75 m²
tempos de crise hídrica. placa a colocação da argamassa, que é apli- são necessários 8 metros de tubo 100
cada de baixo para cima e em faixas. mm; para telhados de 75 m² a 100 m² são
Como utilizar
necessários 12 m de tubo 100 mm.
FOTO: www.alternativasambientais.com.br

• Em uma chuva de 100 mm numa casa


DICA 2:Para a construção de uma cisterna é
com 100 m² de telhado, dá para captar e Desidratador solar.
importante que a argamassa da parede
armazenar 10 mil litros de água (10 m³).
seja feita toda no mesmo dia, portanto,
• Para construir uma cisterna os materiais

cursodeagriculturanatural.blogspot.com
faça um mutirão para realizar esse servi-
necessários são: malha de ferro de 10 cm
ço. Antes de fazer a sua, o ideal é partici-
x 10 cm x 4,2 mm, tela de viveiro malha
par de alguma oficina prática, para apren-
1/2” (pinteiro), sombrite 65%, arame re-
der todas as dicas.
cozido, cimento, areia, brita 1, registro
de PVC 50 mm, joelho de PVC 50 mm, Mais informações:
tubo de PVC 50 mm, tubo de PVC 100 http://docplayer.com.br/6777920-Construcao-
Construção 2º dia.
mm e as calhas e conexões para o telha- de-cisterna-em-ferro-cimento-para-captacao-
do, bambus e tábuas para escoramento e da-agua-da-chuva-cetap.html
3º Dia – Estando a massa seca, inicia-se o http://assesoar.org.br/dados/Caderno%20Cis-
andaime.
enchimento da cisterna com água, pois, ela terna.pdf
• A quantidade desses materiais depende Desenho esquemático de um desidratador solar.
vai calcificar nos pontos mais frágeis, tor-
do tamanho da cisterna, isto é, do volu-
nando-a impermeável. Aproveitamento da Energia Solar
me de água que desejamos armazenar. Vantagens e benefícios:
DICA 1: Desvio da primeira água de chuva • fácil confecção utilizando sobras de ma-
O que é
Passo a passo da construção da cisterna (antes de entrar na cisterna). As primei- teriais;
ras águas da chuva fazem a “lavação do É a utilização da irradiação ou da luz do
1º Dia – Fazer um contra piso, com argamas- • permite armazenamento de alimentos
telhado” e, portanto, estão carregadas de sol para aquecer, desidratar, esterilizar, mo-
sa traço 3:3:1 (areia/brita/cimento), com 4 para consumo fora de época;
impurezas (poeira, excrementos de pássa- vimentar...
cm de espessura. Depois amarrar a tela de • utiliza energia limpa sem custo.
ros, folhas, galhos) que comprometem a
viveiro na malha de ferro que será a parede, Vantagens e benefícios: Mais informações:
qualidade da água captada. Mesmo que
no tamanho (diâmetro) que for a cisterna.
o consumo da água seja somente para • fonte alternativa renovável, inesgotável e www.solefrutas.esalq.usp.br/docs/desidrata-
Montar o cilindro (gaiola) da cisterna em cao.pdf
outras finalidades, que não o consumo sem custo;
cima da malha do piso. www.iapar.br/arquivos/File/zip_pdf/secador-
humano, a pré-filtragem é uma medida • está disponível nos locais mais remotos
solar_iapar.pdf
muito importante. ou de difícil acesso;

48 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 49
b. Para aquecimento de água: esquentar Uso Sustentável do Bambu normalmente não temos muita prática em
água para as mais diversas finalidades ne- – Estufa Ecológica utilizar, alguns detalhes são importantes.
cessita de alguma fonte de energia, sendo Então, converse com o técnico do Instituto
as mais comuns a elétrica e o fogo. A ob- O que é EMATER para organizar uma oficina em sua
tenção de ambas gera enormes impactos É a utilização do bambu em constru- região, que o Centro de Referência em Agro-
sobre o ambiente. ções ou soluções rurais, obtido da colheita e ecologia-CPRA terá prazer em realizá-la.
Apresentamos aqui o painel aquecedor so- do manejo racional do bambuzal. O cultivo
lar de água confeccionado com materiais orgânico é sensivelmente facilitado quando
recicláveis. feito em ambiente protegido, onde é possível
controlar a umidade e a temperatura.
Vantagens e benefícios: Outra imagem interna de estufa com estrutura
Vantagens e benefícios: em bambu, modelo CPRA.
• evita o descarte no ambiente de 120 em-
• o bambu é um recurso natural renovável
balagens PET (2 litros) e 100 embalagens • o cultivo em estufas diminui ocorrência
e de baixo custo;
longa vida (1 litro); de doenças e o desequilíbrio da popula-
• planta rústica de rápido crescimento,
• energia solar é limpa e gratuita; com espécies adaptadas às diferentes ção de insetos;
• tecnologia social de adoção livre. condições climáticas do Brasil; • permite a produção de espécies que ne-
• emite brotações anuais e proporciona cessitam melhor controle de umidade Corte errado formando “copo”.
colheitas anuais; relativa e temperatura ambiente;
• custo de material sete a oito vezes me- • protege a plantação de intempéries climá-
nor que as estufas convencionais; ticas (geadas, granizo, excesso de calor).

Como utilizar:
A estufa construída e em produção na
Vitrine Tecnológica de Agroecologia do
Show Rural Coopavel é só um exemplo das
possibilidades de utilização do bambu em
Painel demonstrativo na Vitrine de Agroecologia. bioconstruções.
O uso sustentável do bambu implica em:
• escolher as espécies e bitolas mais ade- Evitar apoiar direto no chão.
FOTO: Takashi Hara

quadas;
• colher somente colmos maduros, com
Imagem interna de estufa com estrutura quatro a seis anos;
em bambu, modelo CPRA. • utilizar ferramentas adequadas e não
“deixar copo” no colmo cortado;
• realizar a colheita de maio a agosto (me-
ses sem a letra “R”) e na fase minguante
da lua;
• Prolongar a durabilidade do bambu não
Painel sobre telhado. colocando em contato direto com o solo,
e/ou
Mais informações: • fazer tratamento das peças, preferen- Oficina de construção da Estufa Ecológica.
www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/ cialmente com métodos naturais, fogo
cors/Kit_res_17_aquecedor_solar.pdf ou água. Mais informações:
http://novoportal.celesc.com.br/portal/ima- www.cpra.pr.gov.br/arquivos/File/Cartilha-
ges/arquivos/manuais/manual-aquecedor-so- Imagem externa de estufa com estrutura em bambu, A construção de uma estufa de bambu CPRAEstufaEcológica.pdf
lar.pdf modelo CPRA. não é difícil, mas, por ser um material que

50 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 51
FOTO: www.embrapa.pr

FOTO: Cristiano Menezes


Meliponicultura – uma atividade
essencialmente agroecológica
Valcir Inácio Wilhelm

Meliponicultura é a criação, em caixas haja a fecundação cruzada, o que resulta na


racionais e com técnicas específicas de ma- formação de frutos de melhor qualidade e em
nejo, de abelhas nativas sem ferrão (ASF) ou maior quantidade de sementes.
com ferrão atrofiado. Também chamadas de A essa ação dá-se o nome de poliniza- Abelha nativa visitando flor de algodoeiro. Abelha visitando flor.
abelhas indígenas ou meliponídeas. ção, um serviço ambiental da maior impor-
A função das abelhas no ambiente não tância para a manutenção da diversidade da Aspectos legais elaborar e propor a regulamentação da pro-
é produzir mel, nem pólen e nem própolis e fauna e flora nativas, além de influenciar di- da melipolicultura dução, do beneficiamento e da comercializa-
cera. Esses produtos são necessários como retamente na qualidade e na quantidade da ção de mel das abelhas sem ferrão e demais
Por serem parte da fauna silvestre brasi-
alimento energético e proteico, e para sobre- produção de plantas cultivadas. produtos oriundos da meliponicultura.
leira, a utilização, a criação e o transporte
vivência das colmeias, são transformados do A proposta apresentada pelo grupo,
de abelhas nativas sem ferrão está subme-
néctar, grãos de pólen e resinas coletadas do Regulamento Técnico da Identidade e
tida às regras da Resolução do Conselho
por elas de partes das plantas, mas, princi- Qualidade do Mel de Abelhas sem Ferrão
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, nº
palmente das flores. para o Estado do Paraná, tramita no âm-
346 de 16/08/2004.
Ao realizarem essa coleta, as abelhas bito da Agência de Defesa Agropecuária –
Entretanto, os estados da Federação po-
transportam ou transferem grãos de pólen, ADAPAR, órgão a quem compete essa regu-
dem estabelecer leis que disciplinem esses
da estrutura reprodutiva masculina de uma lamentação.
aspectos da criação, do manejo e da comer-
flor (antera) para a estrutura reprodutiva fe- Enquanto a proposta não estiver aprova-
cialização de colônias de abelhas nativas,
minina (estigma) da mesma flor ou de outras da, a venda em feiras, mercados ou qualquer
desde que não confrontem ou se sobrepo-
flores da mesma espécie, permitindo que Meliponário associado ACRIAPA (Antonina/PR). outro comércio público, não é permitida.
nham às regras da citada Resolução.
Com relação à comercialização de pro-
dutos, como o mel, por exemplo, destinados Mais informações:
Por que criar meliponídeos – vantagens e benefícios: à alimentação ou ao consumo humano, ain- http://www.cpra.pr.gov.br/modules/conteudo/
da não existe regulamentação no Estado do conteudo.php?conteudo=112
• cerca de 80% das plantas com flores tura estão destruindo o ambiente natu- Paraná. Nesse sentido, a Resolução nº 003, www.ispn.org.br/arquivos/mel008_31.pdf
dependem de animais para serem poli- ral para sua sobrevivência; de 05/01/2016, da Secretaria da Agricultura Contate seu sindicato rural - solicite um curso
nizadas, sendo as abelhas os poliniza- • pode ser desenvolvida próximo a cen- e Abastecimento do Paraná, designou um do SENAR-PR sobre Meliponicultura.
dores mais eficientes; tros urbanos, escolas e residências; Grupo de Trabalho Interinstitucional, para
• 1/3 das espécies vegetais que alimenta a • manejo das colmeias pode ser executado
espécie humana é polinizada por abelhas; por crianças e pessoas da terceira idade;

FOTO: www.gazetadopovo.com.br

FOTO: www.abelhasdobrasil.com.br
• frutos e sementes estão na base da ca- • o mel é um alimento saudável que pode
deia alimentar, o que justifica os esfor- substituir o açúcar, melhorando a ali-
ços e o cuidado na manutenção e no res- mentação e a saúde da família;
gate das populações de polinizadores; • é mais uma alternativa de atividade
• a atividade meliponicultura não requer e renda para propriedades familiares
grande investimento inicial; agroecológicas;
• criar estas abelhas é uma importante • quem mais lucra com a criação de abe-
forma de preservar as espécies, pois o lhas nativas é o ambiente, pelo aumento
uso intensivo do solo, o desmatamento de polinizadores resultando em maior
e a utilização de agrotóxicos na agricul- biodiversidade vegetal e animal. Frascos com mel de várias espécies ASF. Melgueira pronta para colheita.

52 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 53
S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO
de sais pode levar a salinização do solo e
comprometer o desenvolvimento da cultura
Irrigação com sistemas existente na área caso ela não possua tole-
rância à salinização.
adaptados de baixo custo Um aspecto muito importante na qua-
lidade da água, diz respeito à contami-
João de Ribeiro Reis Junior | Renato da Silveira Krieck nação por agentes biológicos, por isso, é
fundamental efetuar análises para termos
1. Água no solo em solos mais argilosos essa velocidade a garantia de que estamos utilizando água
A velocidade de infiltração de água no tende a ser menor que em solos arenosos. de boa qualidade, principalmente, porque
solo é um fator muito importante quando Ao ligar o sistema de irrigação a velocidade dentre as atividades agrícolas, utilizamos Sistema de microaspersão por espaguete.
trabalhamos com irrigação, porque ela de- de infiltração da água no solo tende a dimi- na olericultura e diversas espécies são con-
terminará o tempo que o sistema de irriga- nuir com o aumento do tempo de irrigação sumidas in natura. b) Como montar o sistema
ção ficará ligado com o objetivo de fornecer chegando a um valor quase que constante. • Cortar a mangueira espaguete em peda-
a quantidade de água suficiente para o de- Essa velocidade varia de acordo com a por- Métodos de Irrigação ços de 5 a 7 cm;
senvolvimento das plantas. A velocidade centagem de umidade no solo, a porosidade • Esquentar uma ponta na vela acesa e sol-
de infiltração está relacionada diretamente e a existência de camada menos permeável Existem diversos métodos de irrigação dar com o alicate;
com a textura e estrutura do solo, sendo que no perfil do solo. que podem ser utilizados pelos agricultores, • A 1 cm abaixo da solda, efetuar um corte
como irrigação por sulco, aspersão conven- na mangueira utilizando estilete ou gi-
cional, canhão, pivô central, microasperção lete. Esse corte deve ser realizado até a
É fundamental a determinação da umi- deterioração da estrutura do solo, a perda e gotejamento. Cada sistema apresenta metade do diâmetro da mangueira;
dade do solo, visto que é baseado nela que de nutrientes, etc. vantagens e desvantagens, bem como, va- • Na outra extremidade efetuar um peque-
determinaremos se precisa ou não utilizar O sucesso da irrigação está na escolha ria muito o seu valor. Visando oferecer aos no corte em bisel na mangueira, para que
o sistema de irrigação e para isso existem e dimensionamento correto do sistema, e agricultores sistemas de irrigação simples e introduzi-la na mangueira preta, não im-
vários métodos diretos e indiretos com boa da operação e manutenção do sistema. Para de baixo custo, apresentaremos a seguir os pedir a passagem da água;
precisão técnica e que exigem alguns equi- isso, precisamos analisar os fatores de solo, modelos de microaspersão por espaguete e • Depois que os microaspersores estive-
pamentos. clima, planta e água. Avaliar as inter-rela- de garrafa pet. rem prontos, esticar a mangueira preta
Para efeito desse trabalho iremos abor- ções entre a irrigação e outros fatores cultu- no sol para eliminar as deformações e
dar um método mais prático e fácil de ava- rais como variedade, densidade de plantio, Sistema de microaspersão poder realizar com auxílio do vazador
liarmos a umidade existente no solo, trata- fertilizantes, plantas daninhas, colheita, por espaguete ou furador de sapateiro no 03, os furos a
se de cavarmos um buraco no solo sobre os etc. A quantidade de água exigida por uma Esse modelo de microaspersão pode ser cada 1,5 m e colocar um microaspersor.
canteiros e pegarmos uma porção do solo cultura varia de acordo com o tipo de cul- utilizado em praticamente todos os tipos de Atentar que todos os cortes devem ficar
na profundidade em que precisamos moni- tura, seu estádio de desenvolvimento, tipo cultivos e culturas. É um sistema que fun- na mesma direção, para que a água a
torar a umidade e espremermos na mão, se de solo em que se encontra e as condições ciona em baixa pressão, sendo que para ser aspergido faça uma sobreposição
escorrer um filete de água entre os dedos climáticas da região. áreas maiores há necessidade de utilizar sobre cada um;
com facilidade, o solo encontra-se enchar- uma motobomba visando melhorar a distri-
cado, se não escorrer água, o solo está 2. Qualidade da água para irrigação buição de água na área. Cada linha com os microaspersores
seco. Porém, se com uma pressão neste devem ser instaladas a cada 3 m, uma da
solo escorrer um filete de água indica que o A qualidade da água utilizada para ir- outra, a uma altura que varie de 1,5 a 3,0
a) Materiais necessários:
solo se encontra com umidade ideal. rigação de modo geral é determinada em m. É importante que na área exista quebra
• Mangueira preta de ½” ou ¾”;
Ao se pensar em um projeto de irriga- relação a cinco parâmetros: Concentração vento para reduzir o efeito de deriva, melho-
• Mangueira espaguete
ção devemos ter em mente que existem de sais, teor de sódio, concentração de rando a eficiência do sistema. Na instalação
(mangueira de enrolar cadeira);
diferentes tipos de irrigação, que não exis- elementos tóxicos, concentração de bicar- do sistema é necessário colocar um filtro no
• Furador ou vazador de sapateiro no 03;
te sistema ideal e que todos apresentam bonatos e aspectos sanitários. Todas as ponto de captação de água, mas em caso de
• Alicate;
vantagens e desvantagens, que precisamos águas utilizadas para irrigação possui uma entupimento do emissor (microaspersor),
• Vela e fósforo;
pensar em aumentar a produção, economi- maior ou menor concentração de sais, a retira-o e troca por outro.
• Estilete ou gilete.
zar trabalho e água, reduzir os efeitos da utilização de água com alta concentração

54 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 55
S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO
Sistema de microaspersão garrafa pet e na mangueira preta. O furo
com garrafa pet na mangueira preta deve ser realizado a

O sistema de microaspersão com gar-


cada 4 m; Aspersor de garrafa PET
• Esquentar a tampa furada para poder
rafa pet necessita de pressão superior ao
sistema de microaspersão por espaguete
introduzir o conector de mangueira em com conexão de 3/4 de polegada
uma das pontas. A outra ponta introduzir
para o seu perfeito funcionamento. Esse na mangueira preta; Alberto Feiden | Antônio Manoel da Silva | Daniel José de Souza Mol | Adriana Feiden
sistema nos permite está eliminando do • Rosquear a garrafa pet na tampa fixada
ambiente num processo de reciclagem e no conector e na mangueira, em seguida O sistema apresentado é uma adaptação objetivo a produção de hortaliças e frutas em
aproveitamento das garrafas pet. Nesse sis- amarrá-la com arame ou barbante numa do sistema demonstrado pela Emater Paraná sistema agroecológico, sendo que a proprie-
tema qualquer tipo de garrafa pet pode ser estaca colocada a seu lado para evitar na Vitrine Tecnológica de Agroecologia do dade do Sr. Toninho é uma das unidades
utilizado. As garrafas pequenas apresen- que ela caia e quebre o conector. Show Rural Coopavel 2014, entre os dias 03 de experimentação participativa onde são
tam uma área de molhação menor do que e 07 de fevereiro de 2014. O sistema utilizava avaliadas as tecnologias propostas como
as garrafas maiores. As garrafas pet’s com Cada linha de microaspersão com gar- conexões de irrigação por gotejamento para solução de problemas levantados pelos agri-
plástico mole resistem menos no ambiente, rafa pet deve ser instalada a cada 4 m. A acoplar garrafas de refrigerante de Polite- cultores da Associação . A associação conta
necessitando a troca com maior frequência. reftalato de etileno (PET) perfuradas como com apoio técnico da Prefeitura Municipal
existência de quebra vento melhora a efici-
ência do sistema. Na instalação do sistema aspersores encaixadas em mangueiras de e da Cooperativa BIOLABORE, através do
é necessário colocar um filtro no ponto de polietileno pretas. Programa Cultivando Água Boa patrocina-
captação de água, mas em caso de entupi- O agricultor Antônio Manoel da Silva do pela Itaipu Binacional. A cooperativa por
(Toninho), proprietário do Sítio São José, sua vez tem o apoio da Embrapa Pantanal
mento do emissor (garrafa pet), retire-a lave
na Comunidade Asa Branca, no município através do projeto “Ações para otimização
ou troque por outra.
de Mundo Novo/MS, membro da ASPROM da apropriação do conhecimento e fortale-
– Associação de Produtores Orgânicos de cimento de Redes de Agroecologia no Mato
Mundo Novo, criada em 2009 e que tem por Grosso do Sul e regiões vizinhas”.
Conclusão
Esses sistemas podem ser instalados em
áreas maiores, precisando colocar um conjun-
Sistema de microaspersão com garrafa pet. Observando o sistema apresentando no ela não amasse e diminua sua resistência.
to motobomba de maior potência, respeitando
Show Rural Coopavel de 2014, o Sr. Toninho Em seguida coloque a tarraxa de fazer ros-
a) Materiais necessários: os limites de funcionamento dos sistemas.
reparou que o diâmetro do bocal das garrafas cas no suporte, com a abertura maior volta-
• Garrafas pet; Esses dois modelos de sistemas de mi-
PET era o mesmo das conexões para man- da para a guia (Figura 1c), de modo que a
• Agulha ou alfinete de cabeça; croaspersão, demonstram que é possível
gueira de polipropileno preta com diâmetro guia do suporte possa ser utilizada para que
• Conector de mangueira para qualquer agricultor instalar e poder irrigar
de ¾”, porém a rosca era diferente. Utilizan- a rosca não fique torta, conforme Figura 1d.
microaspersão; suas áreas com baixo custo de investimento,
do uma tarraxa reversível para canos plásti-
• Mangueira preta de ¾”; aproveitando alguns materiais que seriam

FOTOS: Adriana Feiden


cos de ¾”, conseguiu fazer a rosca no bocal
• Furadeira com broca no 09; encaminhados para reciclagem ou ficariam
da garrafa e conecta-la no T da mangueira
• Estaca para suporte da garrafa pet jogados poluindo o ambiente.
preta, conseguindo simplificar o sistema de
e arame ou barbante. Outra vantagem é que apesar dos siste-
irrigação. Os materiais necessários para a
mas apresentarem vazões variáveis, por se
instalação do sistema são: garrafa PET, tar-
b) Como montar o sistema tratarem de tecnologias adaptadas, permite ao
raxa reversível de ¾”, estilete, alfinete, fita
• Com o uso de uma agulha ou alfinete de agricultor com o passar do tempo, gerenciar
veda rosca, emenda tipo T para mangueira
cabeça efetuar entre 6 a 8 furos no entor- os sistemas e realizarem um bom manejo e
¾”, abraçadeira ¾” e mangueira preta.
no de cada gomo do fundo da garrafa pet; utilização da água de irrigação evitando des-
Para fazer a rosca deve-se retirar o anel
• Com a furadeira com a broca no 09, re- perdício e problemas como o escorrimento
da garrafa que serve de lacre para a tampa,
alizar um furo no centro da tampa da superficial e erosão na área.
usando um estilete, conforme Figura 1a.
Ainda com o estilete, remova com cuidado o Figura 1 - Corte do anel de plástico (a); corte do
ressalto da garrafa (b); vista superior da tarraxa no
ressalto de plástico que fica abaixo do anel suporte (c) e posição do suporte para o início da rosca
(Figura 1b). Evite apertar a garrafa para que na garrafa PET (d).

56 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 57
Para facilitar a fabricação da nova rosca perfeito, se não há folgas e se não é preciso
S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO
e evitar danos no bocal e na tarraxa, corte forçar para rosquear (Figura 3b). Não force
com o estilete as rebarbas grossas que fo- o rosqueamento, porque o bocal do PET é Irrigação alternativa
rem surgindo (Figura 2c). Quando a guia mais duro que o polietileno da emenda, po-
não permitir mais avanço, inverta a tarraxa dendo causar danos e sua inutilização. por gotejamento e microaspersão
no suporte (Figura 2a) para ter espaço para Verifique também se a rosca não ficou
Jadir Aparecido Rosa
finalizar a nova rosca. Com muito cuidado muito torta. Se isto acontecer, o ajuste gar-
para não deixar a garrafa torta, termine de rafa-conexão poderá apresentar vazamentos,
fazer a rosca, encaixando o suporte na garra- sendo mais viável descartar a garrafa e fazer Irrigação por gotejamento
fa, conforme Figura 2b. Se houver rebarbas, rosca em uma nova. com pontas de cotonetes
corte com o estilete (Figura 2c). Verifique se Com um alfinete (Figura 3c) ou agulha,
a rosca ficou bem feita (Figura 2d). Cotonete é o nome comercial de um
faça furos no fundo da garrafa, de acordo
Em seguida passe fita Veda Rosca no produto de uma empresa de higiene pesso-
com a necessidade da área a ser irrigada. O
bocal (Figura 3a) e rosqueie a garrafa na al, constando de uma haste flexível de plás-
trabalho pode ser realizado com mais faci-
emenda tipo T para verificar se o encaixe é tico com algodões em suas pontas. A haste,
lidade, utilizando alfinetes de marcação de por ser de diâmetro interno muito pequeno,
mapas ou aquecendo a ponta do alfinete ou pode ser usada como emissor para peque-
FOTOS: Adriana Feiden

agulha, na chama de uma vela. Furos cen- na vazão, desde que sujeita à pressão que
trais atingem uma altura maior e uma dis- não desloque o algodão das pontas. Cotonetes usados para gotejamento.
tância menor. Furos laterais lançam água a O custo de uma haste é baixo (2 a 3
uma altura menor, porém com uma distância centavos/haste), sendo que, cortada ao O furo no qual será inserida a haste
maior, mas podem ser facilmente interrom- meio, de cada haste podem ser confeccio- pode ser feito com qualquer tipo de furador,
pidos por obstáculo. nados dois gotejadores. Para facilitar a in- desde que em um diâmetro pouco menor
serção no tubo que servirá para conduzir a que o diâmetro da haste. A distância entre
Mais informações: água, o corte deve ser feito em ângulo de os gotejadores irá depender da cultura a ser
mais ou menos 45graus. irrigada.
http://inta.gob.ar/documentos/fabricacion-
casera-de-herramientas-e-implementos-pa-
ra-la-huerta/at_multi_download/file/Fabrica-
Figura 2 - Inversão da tarraxa no suporte (a); posição
cion%20casera%20de%20Herramientas.pdf,
do suporte na garrafa para término da rosca (b); corte Os gotejadores deverão ser espaça- sitivos (microaspersores) que operam em
das rebarbas com estilete (c) e rosca finalizada (d). págs 62-64.
dos de modo a formar uma linha contí- pressões superiores às do gotejamento e
www.cultivandoaguaboa.com.br/sites/de- nua de molhamento. Em caso de plantas com vazões maiores.
fault/files/iniciativa/Cartilha%20Vitrine%20 com maior espaçamento, o ideal é colocar A água é conduzida no campo por tu-
FOTOS: Adriana Feiden

Tecnologica%20de%20Agroecologia%20
dois gotejadores ao lado da mesma. Esse bos de polietileno, e neles são inseridos
2015.pdf, págs 30-33.
espaçamento também dependerá do tipo os microaspersores de duas maneiras:
SILVA, Antônio Manoel da; MOL, Daniel José de solo, uma vez que em solos argilosos a
de Souza; DE LAI, Thiago BORSATO, Aurélio
água tende a se infiltrar tanto verticalmente
Vinícius; FEIDEN, Alberto; FEIDEN, Adriana.
Adaptação em sistema de irrigação alterna-
quanto lateralmente.
tivo com garrafas PET, 11ª Feira de Sementes Em solos mais arenosos, a tendência
Nativas e Crioulas e de Produtos Agroecológi- é a água se infiltrar mais rapidamente no
cos e 4º Seminário sobre Uso e Conservação sentido vertical; nesse caso, o espaçamento
do Cerrado do Sul do Mato Grosso do Sul, Jut entre gotejadores deve ser menor.
- MSi, 10 a 12 de julho de 2015, Anais em CD-
-Rom (oficinas), 14p.
Figura 3 - Aplicação de fita veda rosca no bocal (a);
garrafa rosqueada na emenda tipo “T” (b); perfuração Irrigação por microaspersão
do funda o garrafa com o alfinete (c); garrafa com
fundo perfurado (d). Na microaspersão, a água é aplicada
em pequenos círculos por meio de dispo- Microaspersão com cotonete e percevejo.

58 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 59
diretamente no tubo ou conectados com
microtubos, o que permite manejar a área Nº Descrição da peça Qtde.

irrigada de acordo com a localização das 6 Tê em PVC roscável 1” 02


plantas.
7 Válvula de retenção vertical 1” 01
O microaspersor caseiro é constituído
de um pedaço de 1 cm a 2 cm de tubo de Pedaço de tubo de PVC 1” com 1 m, fechado em umas das
8 pontas com CAP, ou tubo de PVC soldável 32 mm + adaptador 01
polietileno de 1”, que é cortado de modo 32mm x 1”.
a manter apenas um orifício para inser- 9 Bucha de redução PVC 1” x ¾” + Bucha de redução PVC ¾” x ½” 01
ção do emissor (haste de cotonete) e um
10 Registro ½” 01
pedaço para inserção do espalhador de
11 Adaptador para mangueira ½” 01
jato, que, nesse caso, é um percevejo de Na microaspersão a pressão e a vazão são maiores
que as do gotejamento. 12 Registro 1” 01
escritório.
13 Adaptador para mangueira 1” 01

S I S T E M A S A LT E R N AT I VO S D E I R R I G AÇ ÃO

Carneiro hidráulico
Jadir Aparecido Rosa

O carneiro hidráulico, também chama- durante 24  h por dia recalcando água sem
do bomba de aríete hidráulico, balão de ar, emissão de poluentes ou gases.
burrinho, etc., é um aparelho muito simples Como desvantagens, citam-se que a
e de grande utilidade para o abastecimento eficiência é determinada pelas condições
de água nas propriedades agrícolas, poden- locais, há necessidade de queda d’água e
do ser definido como uma máquina de ele- utilização de água limpa, além de recalcar
vação de água com energia própria. somente uma pequena fração da vazão dis-
O carneiro hidráulico apresenta como ponível na alimentação.
vantagens, a não necessidade de fontes Considerando a escassez de recursos
externas de energia, tais como os combus- financeiros em uma propriedade, é possí-
tíveis derivados de petróleo ou energia elé- vel fabricar carneiros hidráulicos de ma-
trica, a manutenção e a operação simples, neira não industrial, utilizando-se material
não exigindo mão de obra qualificada, o hidráulico facilmente encontrado em lojas
custo de aquisição e/ou montagem relati- de materiais de construção.
vamente baixos e a possibilidade de uso

Nº Descrição da peça Qtde.

1 Válvula de poço 1” (metal ou plástico) 01


2 Parafuso 5/16” com três porcas e uma arruela 01
3 Mola com mesmo diâmetro do parafuso ou maior 01

4 Niple PVC roscável 1” 05

5 Joelho 90° roscável 1” 01

60 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 61
• Arborização e consórcio nas pastagens (animais de maior exigência nutricional,
com espécies de múltiplos propósitos, como vacas em lactação) e repasse (ani-
Pastoreio Racional Voisin (PRV) como: acréscimo de matéria orgânica e mais com menor exigência nutricional,
fornecimento de nutrientes, ação que- como vacas secas, prenhas e novilhas
Daniel José de Souza Mol bra-vento, sombreamento adequado do intermediárias).
pasto, alimentação dos animais, dentre OBS.: Os animais devem ser conduzidos
A capacidade de um sistema agroecoló- dutores que tiverem baixo custo de produção, outros. para os piquetes com tranquilidade e cuida-
gico de se manter ao longo do tempo, depen- com produtividade ótima. A máxima eficiên- • Manejo dos animais em grupo de dife- do. Da mesma forma deve-se dar atenção
de das práticas e processos utilizados, onde cia será alcançada apenas pelos bons produ- rentes exigências nutricionais: Desnate nos momentos de ordenha e arraçoamento.
o acréscimo da biodiversidade e da bioce- tores de forragem, que a fornecem direto aos
nose estão entre os principais itens a serem animais, respeitando seu bem estar.
observados como estratégia de manutenção
desse sistema ao longo do tempo.
Na atividade leiteira, o princípio exposto Manejo nutricional em rebanhos
é de igual importância. Quanto maior o nú-
mero de espécies vegetais, macro e micro- de base agroecológica
-organismos, maior a capacidade do sistema
André S. de Avila | Andressa Faccenda | Maximiliane A. Zambom | Rodrigo Cesar do R. Tinini | Tiago Venturini
leite de se sustentar, tanto na manutenção e
produção dos animais, quanto na manuten-
ção da fertilidade e condições ambientais. A alimentação animal é um dos princi- produção de leite. Os nutrientes digestíveis
Se a situação da cadeia produtiva do pais pontos a serem considerados em um totais são os nutrientes que são aproveita-
leite e da carne for analisada, chegar-se-á a Propriedade da família Hedel, em Marechal C. sistema de produção. Uma dieta adequada é dos e fornecerão energia para o animal.
conclusão que apenas sobreviverão os pro- Rondon, PR, manejada segundo as leis do PRV. aquela que contém quantidades de proteínas Na produção agroecológica, um fato
(PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) ca- importante a considerar é a qualidade e a
pazes de atender as exigências dos animais. origem dos alimentos que serão ofertados
A proteína é um nutriente que faz parte aos animais, visto que nesse sistema a uti-
Partindo desse principio, o método de ma- deve ser o menor possível, antes que os ani-
dos músculos e órgãos sendo muito impor- lização de alguns alimentos e substâncias
nejo conhecido como Pastoreio Racional Voi- mais comam a rebrota nova.
tante para o crescimento dos animais e a é proibida.
sin (PRV), é o que oferece melhores condições 3. Lei do rendimento máximo – referente à
para alcançar eficiência econômica, social e necessidade dos animais para que atinjam o
ambiental, em propriedades de produção de seu melhor em produção e desenvolvimento.
leite e carne. O PRV foi proposto pelo cientis- 4. Lei do rendimento regular – permitir que Para um manejo correto alimentar, de- concentrada com aproximadamente 18% de
ta francês André Voisin, na década de 1940, o animal encontre todos os dias um piquete vemos separar os animais em classes, e PB. Para os bezerros novos o fornecimento
e consiste no pastoreio direto com a rotação novo, com forragem necessária às suas exi- adequar a alimentação conforme a exigên- de silagem preferencialmente só deve ser fei-
de pastagens, respeitando o tempo de repou- gências diárias, promovendo assim o rendi- cia de cada classe animal. to a partir do quarto mês de idade.
so da forragem, através da subdivisão da área mento regular.
em piquetes, permitindo o direcionamento do Além do que foi exposto, para a boa con- Bezerras
gado para os piquetes onde a forragem estiver dução do projeto PRV deve-se atentar para:
em seu máximo potencial forrageiro. • Não utilização de produtos químicos Após o nascimento as bezerras deverão
O Pastoreio Racional Voisin é orientado como carrapaticidas, vermífugos, etc., receber o colostro diretamente da mãe. Em
por quatro leis: dando preferência para fitoterápicos e sistema agroecológico é aconselhável que o
1. Lei do repouso – período suficiente para homeopáticos, que estimulam o surgi- animal seja amamentado por sua mãe até
armazenar reservas nas raízes e permitir a mento e a manutenção de organismos 90 dias de idade, período então que pode
labareda de crescimento, período de maior como besouro rola-bosta, minhocas den- ser desmamado.
crescimento das pastagens. tre outros. Antes mesmo do desmame é interessan-
2. Lei da ocupação – refere ao tempo de • Utilização de água de qualidade e em te que as bezerras tenham acesso a pasta-
permanência dos animais no piquete, que abundância em todos os piquetes. gem de boa qualidade, feno e suplementação Bezerra se alimentando ao pé da vaca.

62 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 63
Novilhas tamente na produção, na perda de peso, nos Fornecimento de volumosos sível, é permitido a compra de concentrados
problemas reprodutivos e na imunidade bai- comerciais ou ingredientes que não venham
A dieta nessa fase deve conter em torno xa, em contrapartida o excesso de energia O gado leiteiro deve ser manejado em de sistema de base ecológica, desde que es-
de 14% de PB e 65% de NDT. Na época de vai ocasionar maior custo da alimentação, pastagens de excelente qualidade e em ses não ultrapassem 15% da dieta total.
abundância de pastagens, o uso de paste- animais obesos e consequentemente doen- quantidade suficiente para permitir o máxi-
jo rotativo ajuda a controlar a qualidade do mo consumo do animal. Para isso, o manejo
ças metabólicas. Fornecimento de minerais
pasto ofertado aos animais. A composição O início da lactação (até 70 dias) é o dos pastos em sistema de pastejo rotativo é
do concentrado a ser fornecido vai depen- período de maior produção leiteira (curva o mais recomendado. O fornecimento de minerais é importan-
der da qualidade, da disponibilidade e do vermelha) e portanto de maior exigência do Uma das observações importantes a te para todas as categorias de animais. Para
tipo do volumoso utilizado. Quanto mais animal em nutrientes. O animal só recupera serem feitas, é com relação a idade da plan- animais mantidos em pastejo, a suplemen-
pobre em PB e NDT for a pastagem, maior a ingestão de matéria seca (IMS) (curva azul ta, visto que plantas muito velhas possuem tação mineral deve estar disponível à vonta-
é a concentração de PB e NDT que deve ter escura) na segunda fase da lactação. Isso valor nutricional inferior, o que acarretará de, preferencialmente em cocho coberto no
no concentrado. tem como consequência o balanço energé- em menor desempenho animal. Durante o piquete. Para animais alimentados no cocho
tico negativo (BEN) – a ingestão é inferior período de menor crescimento dessas pas- é mais seguro e garantido incluir a mistura
Vacas em lactação à exigência. tagens, há a necessidade de alimentar es- mineral no concentrado ou na dieta comple-
Há uma mudança natural no peso cor- ses animais com outros volumosos como: ta que é ofertada ao animal.
Em um sistema de alimentação para va- capim-elefante verde picado, cana picada,
cas em lactação é necessário que os animais poral para manter a produção leiteira (curva
amarela) que devemos nos atentar para que silagem ou feno. Fornecimento de água
tenham acesso a pastagens de qualidade e Se necessário, suplementar com grãos
com grande disponibilidade de alimento A não seja exagerada. Isso reflete a condição O fornecimento de água limpa e de boa
corporal do animal ao longo da lactação (nú- orgânicos e não transgênicos. O ideal é que
quantidade de concentrado a ser fornecida a suplementação mantenha uma relação qualidade é fundamental para todas as ca-
para uma vaca em lactação depende da pro- meros inferiores na figura): próximo ao par- tegorias de animais. Ela deve estar à dispo-
to o escore de condição corporal (ECC) é de volumoso:concentrado não inferior a 70:30
dução de leite deste animal. Vacas em início (%V: %C), ou seja, pelo menos 70% da die- sição dos animais à vontade, próxima dos
de lactação devem consumir mais concen- 3.5 a 3.75. No início da lactação, por causa cochos e nos locais de pastejo.
da baixa ingestão e da alta necessidade de ta tem que ser de volumoso, pastagem de
trado, de modo que atinjam o pico de produ- preferência (em relação à MS total ingerida).
ção de leite e expressem todo o seu poten- nutrientes para produção de leite, cai para
cial produtivo. Por sua vez, vacas em final 2.25 a 2.5. Após o pico de produção e a reto-
de lactação não respondem produtivamente mada do consumo, o ECC volta a recuperar-
à oferta de concentrado, de modo que essa se para chegar a 3.5–3.75.
pratica encarece os custos com alimentação
sem gerar retorno econômico. Vacas secas
Um aspecto importante no fornecimen-
O período seco tem duração de 60 dias
to do concentrado é o conhecimento do
e termina com a nova parição. Uma boa ali-
valor nutricional dos alimentos fornecidos,
mentação nesse período com pastagens de
pois a deficiência de energia influencia dire-
boa qualidade é fundamental para que haja Bebedor de água móvel.
transferência de nutrientes da vaca para o
FONTE: Kazama, 2016

Bezerra se alimentando ao pé da vaca.


bezerro em desenvolvimento.
Nas duas semanas que antecedem o
parto, deve-se iniciar o fornecimento de
pequenas quantidades do concentrado for-
Fornecimento de concentrados
mulado para as vacas em lactação, para Para a suplementação com concentrado
adaptar essas vacas secas à dieta que rece- pode-se utilizar uma mistura simples à base
berão após o parto. As quantidades a serem de milho moído, subprodutos da agroindús-
fornecidas variam entre 2,5 kg a 5 kg de tria, farelo de soja ou de algodão, calcário
concentrado por dia, dependendo da quali- e sal mineral, sendo que preferencialmente
dade do volumoso fornecido e do potencial esses ingredientes devem vir de sistemas
produtivo dos animais. de base ecológica. Caso isso não seja pos- Bebedor de água móvel - detalhe.
Curva de Lactação de vacas leiteiras.

64 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 65
Alimentos alternativos da-se fornecer até 10 kg por vaca por dia. As

Normalmente, as dietas são basicamen-


raízes são colhidas podendo ser retiradas em
pequenas quantidades para o fornecimento Suplementação alimentar proteica de
te, compostas por silagens, feno, milho, soja
e trigo, porém alguns alimentos alternativos
imediato aos animais. Outra opção é a colhei-
ta total, nesse caso as raízes ficam secando bovinos de leite em períodos de escassez
(seca ou frio)
podem ser usados e suprir as necessidades e ao sol de 30 minutos a 3 horas e em seguida
exigências de cada classe animal. podem ser armazenadas em local com tempe-
A mandioca pode ser utilizada para ratura entre 13° C a 16° C e com boa ventila-
alimentar o gado, sendo que dela pode-se Frederico Olivieri Lisita | Alberto Feiden
ção de ar. A parte aérea pode ser pastejada,
aproveitar as raízes, as ramas e as folhas. No desidratada parcialmente ou ensilada.
entanto, a utilização dessa planta requer cui- Quando fresca, a parte aérea da beterra- No Brasil, a maioria dos bovinos leiteiros gens sendo que poucos recebem algum tipo
dados, pois existem dois tipos de mandioca: a ba contém uma substância chamada de áci- são criados em sistemas semi-extensivos e de suplementação, durante todo o ano ou em
mansa e a brava. A mansa pode ser fornecida do oxálico, que pode ser tóxica aos animais. têm como principal fonte alimentar as pasta- períodos específicos.
in natura sem problemas, enquanto que a bra- Para evitar intoxicações pode-se adicionar
va possui uma substância tóxica chamada de 100 g a 120 g de calcário para cada 100 kg
ácido cianídrico. de folhas frescas. A quantidade máxima a ser Em geral, nas épocas de frio, com ou dutividade, tem seu ponto de maturação na
Para eliminar essa substância deve-se fornecida é de 13 kg por vaca por dia. A raiz sem geadas no Sul do país ou nos períodos estação mais seca e fria do ano.
picá-la e deixá-la espalhada ao ar livre por 24- da beterraba é um alimento rico em amido e de estiagem prolongada no Brasil central e Entretanto, a cana possui baixo teor de
72 horas, e no caso do terço superior da rama, por isso é uma fonte interessante de energia no Nordeste, as pastagens não são suficien- proteína (no máximo 4%), o que não é sufi-
essa pode ser armazenada por 30 dias na para o animal. Recomenda-se fornecer pica- tes para atender as demandas proteicas e ciente para atender as exigências proteicas
forma de silagem. Tomados esses cuidados, do até 30 kg por vaca por dia. Maiores quan- energéticas dos rebanhos, principalmente dos rebanhos.
as raízes podem ser usadas como fontes de tidades podem ocasionar problemas como das vacas em lactação. Na produção convencional de leite uma
energia, substituindo até mesmo o milho, as acidose ruminal. Por isso, para os agricultores com me- alternativa de baixo custo utilizada por mui-
folhas como fonte de proteína e a rama como Polpa cítrica (bagaço de laranja ou de li- nos recursos ocorre uma forte sazonalidade tos produtores é a adição de ureia pecuária
fibra podem ser ofertadas no lugar do pasto. mão) é resultante do processo de extração do na produção de leite nestes períodos, perda à cana-de-açúcar visando aumentar o teor
suco (laranja, limão), posteriormente o mate- de peso e de fertilidade dos animais e em al- de nitrogênio não proteico na dieta, com
rial é aquecido a 100 oC – 116 oC para ser pe- guns casos pode chegar à morte de animais. objetivo de produção de proteína no rúmen.
letizado e ser utilizado como fonte energética Portanto, há necessidade de suplementar a Porém, em sistemas orgânicos de produção
em substituição ao milho além de ser um pro- dieta dos animais neste período, para evitar não é permitido o uso da ureia, sendo neces-
duto com elevada quantidade de carboidratos a redução do potencial de produtividade des- sário utilizar fontes alternativas de alimenta-
solúveis que são rapidamente degradados no tes animais. ção proteica.
rúmen dos animais. A cana-de-açúcar apresenta-se como Desde 2005, a Embrapa Pantanal vem
Esse texto é uma síntese da cartilha: Pro- uma alternativa de baixo custo e fácil ma- realizando estudos visando obter alternativas
dução de leite agroecológico – manejos e prá- nejo para suprir as demandas energéticas locais seguras e ecológicas para a suplemen-
ticas sustentáveis para a produção de leite, do gado nas épocas de escassez, pois, além tação animal em períodos de seca, usando
Silagem do terço superior da rama de mandioca. e da apostila Sustentabilidade agropecuária de possuir alto teor de açúcar e elevada pro- espécies locais de fácil cultivo para produção
em sistemas agroecológicos e orgânicos de de feno no período chuvoso e sua conserva-
A abóbora pode ser usada para alimen- produção. ção para utilização no período da seca.
tação das vacas leiteiras e em razão do seu
Embora o feno apresente maiores per-
sabor adocicado e por sua suculência é muito Mais informações:
das de nutrientes em relação à silagem, para
apreciada pelos animais. Deve ser distribuída ZAMBOM, M. A. ; GOMES, L. C. ; BRITO, M.
agricultores pouco capitalizados ele apre-
no cocho picada e de preferência junto com M. ; TININI, R. C. R. Produção de Leite Agro-
ecológico – Manejos e práticas sustentáveis senta maior versatilidade, pois exige menos
outros alimentos mais grosseiros, como sila- para a produção de leite. Marechal Candido infraestrutura, bastando um triturador e uma
gens, feno e capim-elefante picado. A abóbora Rondon - PR 2014.
lona para fazer a secagem, além de permitir
é altamente digestível, rica em água e energia. SEIDEL, E. P.; MELLO, C. T.; ZAMBOM, M. A.
que seja feito também em pequenas quanti-
A rama da batata-doce pode ser forneci- Sustentabilidade agropecuária em sistemas
agroecológicos e orgânicos de produção. dades, podendo ser aproveitados materiais
da sem restrições aos bovinos. A raiz da bata- Marechal Candido Rondon–PR. 2016, 230 p.
Cana-de-açúcar. que de outra forma seriam perdidos (como
ta-doce também pode ser utilizada, recomen-

66 C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A C A RT I L H A D E AG R O E CO L O G I A 67
Mais informações:

LISITA, F. O.; TOMICH, T. R.; CAMPOLIN, A. I.; FEIDEN, A.; CONCEIÇÃO, C. A. da; NASCIMENTO,
V. R. do; TRINDADE, L. L., Recursos forrageiros regionais conservados como feno para a alimen-
tação de bovinos na região de Corumbá, MS. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/
bitstream/CPAP-2010/57325/1/CT87.pdf .

TOMICH, T. R.; LISITA, F. O.; MESSIAS, E. A. C., Forrageiras conservadas como feno: opção para
alimentação dos rebanhos durante a seca. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bits-
tream/CPAP/56622/1/FOL53.pdf

TOMICH, T. R.; NASCIMENTO, J. C. do; TOMICH, R. G. P.; LISITA, F. O.; DOMINGOS BRANCO, O.;
FEIDEN, A.; MORAIS, M. G. Feno da parte aérea da mandioca para a produção de ruminantes em sis-
Leucena. Moringa manejada. temas orgânicos. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAP-2010/57326/1/
CT88.pdf

por exemplo, a parte aérea da mandioca co-


lhida semanalmente).
Várias das alternativas estudadas apre-
sentaram altos teores de proteína bruta, en-
tre elas se destacando a moringa (Moringa
oleífera), leucena (Leucaena leucocephala),
feijão guandu (Cajanus cajan), amora (Morus
sp), a parte aérea da mandioca (Manihot es-
culenta), entre outras, conforme dados mos-
trados na Tabela 1.
Leucena, cana e moringa.
Assim é possível de elevar o teor de pro-
teína na dieta dos rebanhos leiteiros em pro- Para tanto basta misturar entre 10 a 30%
dução orgânica, utilizando o feno de forragei- (conforme Tabela 1) de feno das espécies
ras proteicas, produzidas durante à estação com alto teor de proteína à cana ou outra fon-
quente e chuvosa e conservadas como feno, te energética com baixo teor de proteína, para
em substituição à ureia. garantir uma nutrição equilibrada.

Tabela 1: Valor nutricional (em % de matéria seca) do feno de


forrageiras proteicas (média de análises na Embrapa Pantanal)
Forrageira PB (%)* FDN (%)** FDA (%)*** Lignina (%)

Moringa (folhas) 24,16 26,59 12,99 3,32

Leucena (talos e folhas) 19,24 58,23 28,93 9,26

Guandu (talos e folhas) 21,31 71,40 57,33 11,95

Mandioca (parte aérea integral) 13,51 53,86 38,72 13,37

Amora (talos e folhas) 17,25 34,01 25,92 8,75


* PB: Proteína Bruta; **FDN: Fibra em Detergente Neutro; ***FDA: Fibra em Detergente Ácido

Mais informações:
ROSENES, J. L.; LISITA, F. O.; FEIDEN, A.; TRINDADE, L. L.; CAMPOLIN, A. I. Conservação e uso
de forragens adaptadas no Assentamento Tamarineiro II Sul, Corumbá, MS. Disponível em: www.
embrapa.br/pantanal/busca-de-publicacoes/-/publicacao/812921/conservacao-e-uso-de-forragens-a-
daptadas-no-assentamento-tamarineiro-ii-sul-corumba-ms.

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REALIZAÇÃO

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