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TIAGO

Original em inglês:

JAMES -

The General Epistle of James

Commentary by A. R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Introdução Tiago 3

Tiago 1 Tiago 4

Tiago 2 Tiago 5
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Esta carta é chamada por Eusébio (História Eclesiástica, 2:23, perto


de 330 d.C.) a primeira das Epístolas Católicas; quer dizer, as escritas
para circulação geral, em distinção das epístolas de Paulo, que se
dirigiam a igrejas e pessoas no particular. Nos manuscritos mais antigos
do Novo Testamento, ainda em existência, aquelas se acham antes das
epístolas de Paulo. Das mesmas, só duas são mencionadas por Eusébio
como universalmente reconhecidas (homologóumena), ou seja, a
Primeira de Pedro e a Primeira de João. Todas, entretanto, aparecem em
todo manuscrito existente do Novo Testamento completo.
Não é motivo de estranheza o fato de as epístolas não dirigidas a
igrejas particulares (e em especial uma como a de Tiago, dirigida a
crentes israelitas espalhados) fossem por muito tempo pouco conhecidas.
A primeira menção desta por seu nome, ocorre a princípios do terceiro
século, em Orígenes (Commentary on John 1:19, 4.306), quem nasceu
perto de 185 d.C. e morreu em 254 d.C. Clemente de Roma (First Epistle
to the Corinthians, 10) comp. com Tg_2:21, Tg_2:23; (First Epistle to
the Corinthians, 11) comp. com Tg_2:25; Hb_11:31). O pastor de
Hermas também cita Tg_4:7. Crê-se que Irineu (Against Heresies,
4.16.2) refere-se a Tg_2:23. Clemente de Alexandria comenta esta carta,
segundo Cassiodoro. Efrem Siro (Against the Greeks, 3.51) cita Tg_5:1.
Uma prova especialmente forte de sua autenticidade se acha no fato de
que formava parte da antiga versão siríaca, a que não contém nenhum
dos livros questionáveis (Antilegómena [Eusebius, Ecclesiastical
History, 3.25]), exceto a Epístola aos Hebreus. Nenhum dos pais latinos
a cita antes do quarto século; mas um pouco depois do Concílio de
Niceia, foi admitida como canônica tanto pelas igrejas orientais como
pelas ocidentais, e assim declarada pelos Concílios de Hipona e Cartago
(397 d.C.). Isto é precisamente o que devia esperar-se; um escrito
conhecido só em parte para princípio, com a posterior ampliação de sua
circulação e um conhecimento melhor das provas de seu reconhecimento
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 3
entre as igrejas apostólicas — as que tinham homens dotados do
discernimento de espíritos e capazes, portanto, de distinguir entre
escritos inspirados e espúrios, chegou a ser aceito universalmente. Tidos
um tempo como duvidosos, os livros disputados (Tiago, 2 Pedro, 3 João,
Judas e Apocalipse) enfim foram universal e indubitavelmente aceitos;
de modo que nenhum argumento a favor dos Apócrifos do Antigo
Testamento pode deduzir-se do caso daqueles; quanto a estes, a Igreja
Judaica não tinha dúvida alguma; tinha-os sempre por não inspirados.
A objeção de Lutero a esta carta (“Epístola de palha, e despida de
todo caráter evangélico”) deveu-se à sua ideia errônea de que o capítulo
dois (Tg_2:14-26) opõe-se à doutrina da justificação pela fé, e não por
obras, ensinada por Paulo. Mas os dois apóstolos, contemplando a
justificação de dois pontos de vista distintos, harmonizam perfeitamente,
e complementam mutuamente as definições um do outro. A fé precede
ao amor e às obras do amor; mas sem estas, a fé é morta. Paulo trata a fé
na justificação do pecador diante de Deus; Tiago a trata na justificação
do crente evidentemente diante dos homens. O erro que esta refuta era a
noção judaica de que a possessão e conhecimento da lei de Deus os
justificasse, mesmo quando a desobedecessem (Tg_1:22 com Rm_2:17-
25). Os textos Tg_1:3 e Tg_4:1, 12, claramente aludem a Rm_5:3;
Rm_6:13; Rm_7:23; Rm_14:4. Também o teor de Tg_2:14-26 sobre a
“justificação”, parece aludir ao ensino de Paulo, com o propósito de
corrigir falsas ideias judaicas de uma categoria diferente das que Paulo
corrigia, sem tampouco ser ignoradas as mesmas por ele (Rm_2:17, etc.).
Paulo (Gl_2:9) acerta os nomes “Tiago, Cefas, João,” na ordem em
que estão as respectivas Epístolas. O Tiago que escreveu esta Epístola
(segundo os escritores mais antigos) é chamado (Gl_1:19) “o irmão do
Senhor”. Era filho de Alfeu, ou seja Cleopas (Lc_24:13-18) e Maria,
irmã da mãe de Jesus. Coteje-se Mc_15:40 com Jo_19:25, que parece
identificar a mãe de Tiago o Menor, com a esposa de Cleopas, não com a
virgem Maria, irmã da esposa de Cleopas. Cleopas é o hebraico; Alfeu é
o modo grego de escrever o mesmo nome. Muitos, entretanto, como
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 4
Hegésipo (Eusebius, Ecclesiastical History, 23.1), distingue “o irmão do
Senhor” do filho de Alfeu. Mas o Evangelho Segundo os Hebreus, citado
por Jerônimo, representa a Tiago, o irmão do Senhor, como presente na
Eucaristia, e portanto idêntico com o apóstolo Tiago. Assim o evangelho
apócrifo de Tiago. Nos Atos, o Tiago que foi posto à frente em Jerusalém
depois da morte de Tiago, filho de Zebedeu, não se distingue de Tiago,
filho de Alfeu. Ele não é mencionado como um dos irmãos do Senhor
em At_1:14; mas aparece como um dos “apóstolos” (Gl_1:19). É
chamado “o Menor” (lit., o pequeno, Mc_15:40), para distingui-lo de
Tiago, filho de Zebedeu.
Alford considera Tiago, o irmão do Senhor, autor da epístola, como
o mais velho dos filhos de José e Maria, depois de Jesus (ver Mt_13:55),
e pensa que Tiago filho de Alfeu distingue-se dele pelo apelido de
“Menor.” Seus argumentos contra a identificação do irmão do Senhor,
bispo de Jerusalém, com o apóstolo, Tiago o Menor, são: (1) Os irmãos
do Senhor não criam nEle num tempo posterior à chamada dos
apóstolos, e portanto, nenhum deles podia ser dos apóstolos (mas não se
deduz de Jo_7:3, 5, que nem um deles cresse); (2) A comissão apostólica
foi pregar o evangelho por toda parte, e não de ser bispos em localidades
particulares (mas é improvável que fosse bispo de Jerusalém alguém que
não fosse apóstolo, ao qual até os apóstolos rendessem deferência,
At_15:13, 19; Gl_1:19; Gl_2:9, Gl_2:12. A última ordem do Salvador de
pregar o evangelho por toda parte, não é inconsequente com que cada um
tivesse uma esfera particular de ação, onde fosse bispo missionário,
como se diz que Pedro foi em Antioquia).
Levou o apelido de “o Justo.” Havia necessidade de sabedoria
especial para pregar o evangelho de tal sorte que não desprezasse a lei.
Como bispo da igreja de Jerusalém, escreve às doze tribos, expondo-lhes
o evangelho em seu aspecto de relação com a lei, reverenciada como era
em sumo grau pelos judeus. Como as Epístolas de Paulo são um
comentário sobre as doutrinas que emanam da morte e ressurreição de
Cristo, assim a Epístola de Tiago tem uma íntima relação com os
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 5
ensinamentos do Senhor, em especial com o Sermão da Montanha. Em
ambos, a lei se representa cumprida no amor; a própria linguagem é
palpavelmente similar (Compare-se Tg_1:2 com Mt_5:12; Tg_1:4 com
Mt_5:48; Tg_1:5; Tg_5:15 com Mat_7:7-11; Tg_6:13 com Mt_5:7;
Mt_6:14, 15; Tg_2:10 com Mt_5:19; Tg_4:4 com Mt_6:24; Tg_4:11
com Mt_7:1-2; Tg_5:2 com Mt_6:19). Toda a epístola respira a mesma
justiça evangélica que o Sermão da Montanha inculca como a suprema
realização da lei. O próprio caráter de Tiago “o Justo”, ou seja,
legalmente reto, predispõe-no a esta coincidência (ver Tg_1:20;
Tg_2:10; Tg_3:18 com Mt_5:20). Também ficava bem para a
presidência de uma igreja ainda zelosa da lei (At_21:18-24; Gl_2:12). Se
havia quem ganhasse os judeus para o evangelho, o mais apto era este,
quem representava o molde da justiça do Antigo Testamento, combinada
com a fé evangélica (ver também Tg_2:8 com Mt_5:44, Mt_5:48). A
prática, não a profissão, é a prova da obediência (ver Tg_2:17; Tg_4:17
com Mt_7:2-23). Os pecados da língua, por leves que os olhe o mundo,
são ofensas contra a lei do amor (ver Tg_1:26; Tg_3:2-18 com
Mat_5:22; também “todo juramento”, Tg_5:12 com Mt_5:33-37).
A ausência da bênção apostólica deve-se provavelmente ao fato de
ser dirigida não meramente aos crentes, mas também indiretamente a
judeus incrédulos. Ele encomenda àqueles a humildade, a paciência e a
oração; a estes lhes dirige admoestações horrendas (Tg_5:7-11; Tg_4:9;
Tg_5:1-6).
Tiago morreu como mártir na páscoa. Esta epístola foi escrita
provavelmente muito pouco antes. A destruição de Jerusalém (predita
em Tg_5:1, etc.) sucedeu um ano depois de seu martírio, 69 d.C..
Hegésipo (citado por Eusébio [Ecclesiastical History, 2.23]) narra que
foi posto sobre um pináculo do templo pelos escribas e fariseus, que lhe
rogaram que restringisse o povo que em grandes números estava
abraçando o cristianismo. “Diga-nos,” disseram na presença da multidão
reunida para a festa, “qual é a porta de Jesus?” E Tiago replicou: “Por
que me perguntam referente ao Filho do homem? Está sentado à mão
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 6
direita do poder, e virá de novo sobre as nuvens do céu”. Muitos então
exclamaram: “Hosana ao Filho de Davi!” Mas Tiago foi arrojado de
cabeça pelos fariseus; e orando: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que
fazem”, foi apedrejado e golpeado à morte com um maço de lavadeiro.
Os judeus, como sabemos, exasperaram-se pela libertação de Paulo de
suas mãos, e resolveram portanto vingar-se na pessoa de Tiago. A
publicação de sua epístola aos israelitas dispersos, levada a eles
provavelmente pelos que vieram às festas, fez com que o aborrecessem,
especialmente os das classes altas, porque a carta predizia os ais que logo
cairiam sobre eles assim como à pátria deles. Sua pergunta injuriosa:
“Qual é a porta de Jesus?” (isto é, por qual porta entrará quando voltar?),
provavelmente alude à sua profecia: ou seja, “a vinda do Senhor
aproxima-se … eis aqui o Juiz está diante da porta” (Tg_5:8, 9).
Hb_13:7 provavelmente refere-se ao martírio de Tiago, tanto tempo
bispo dos cristãos judeus de Jerusalém: “Lembrai-vos dos que têm (ou
tinham) o governo (espiritual) sobre vós, que vos falaram a palavra de
Deus, a fé dos quais imitem, considerando qual tenha sido o êxito de sua
conduta.”
Sua inspiração como apóstolo está expressamente assinalada em
At_15:19, At_15:28 : “Eu julgo …; pareceu bem ao Espírito Santo e a
nós …” sua autoridade episcopal distingue-se pela deferência para com
ele da parte de Pedro e Paulo (At_12:17; At_21:18; Gl_1:19; Gl_2:9). O
Senhor tinha aparecido a ele em particular depois da ressurreição
(1Co_15:7). Pedro em sua primeira epístola (universalmente reconhecida
desde o começo como canônica), tacitamente confirma a inspiração da
Epístola de Tiago, pela incorporação em seus próprios escritos
inspirados quando menos de dez passagens de Tiago. O “apóstolo da
circuncisão” (Pedro) e o primeiro bispo de Jerusalém, naturalmente,
teriam muito em comum. Vejam-se Tg_1:1 com 1Pe_1:1; Tg_1:2 com
1Pe_1:6; 1Pe_4:12-13; Tg_1:11 com 1Pe_1:24; Tg_1:18 com 1Pe_1:3;
Tg_2:7 com 1Pe_4:14; Tg_3:13 com 1Pe_2:12; Tg_4:1 com 1Pe_2:11;
Tg_4:6 com 1Pe_5:5-6; Tg_4:7 com 1Pe_5:6, 1Pe_5:9; Tg_4:10 com
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 7
1Pe_5:6; Tg_5:20 com 1Pe_4:6. O fato de estar ditada no grego mais
puro ensina que não se destinava tão somente aos judeus de Jerusalém,
mas também aos helenistas, ou seja, os judeus de fala grega.
O estilo é curto, conciso e sentencioso. Um caráter hebraico
atravessa toda a Epístola, como aparece nos paralelos poéticos
ocasionais (Tg_3:1-12). Veja-se Tg_2:2: “sinagoga”. As imagens são
argumentos analógicos, que combinam a lógica e a poesia. A eloquência
e o elemento de persuasão são características proeminentes.
A similitude a Mateus, o mais hebraico dos evangelhos, não é mais
que o que se devia esperar da parte do bispo que em Jerusalém
escrevesse a israelitas. Em tal evangelho vê-se o superior espírito do
cristianismo colocando a lei judaica em seu devido lugar. A lei se impõe
em seu eterno espírito, não na letra, da qual eram tão zelosos os judeus.
As doutrinas da graça, rasgos distintivos do ensino paulino para os
helenistas e gentios, são menos proeminentes, como sendo já bem
ensinadas pelo apóstolo. Tiago complementa a Paulo, e ensina os
cristãos judeus, que seguiam guardando os ritos legais até a queda de
Jerusalém, o princípio espiritual da lei, ou seja, o amor manifestado na
obediência. Traçar o “homem perfeito”, quem continua na lei evangélica
do amor, é o tema da epístola.
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Tiago 1

Vv. 1-27. Cabeçalho: exortação sobre o ouvir, o falar e a ira.


Este último tema discute-se também em Tg_3:13-4:17.
1. Tiago — um apóstolo da circuncisão, com Pedro e João; Tiago
em Jerusalém, Palestina e Síria; Pedro em Babilônia e Oriente: João em
Éfeso e Ásia Menor. Pedro escreve aos judeus espalhados do Ponto.
Galácia e Capadócia; Tiago, aos israelitas das doze tribos espalhadas.
servo de Deus — não que não fosse apóstolo; pois Paulo, um
apóstolo, também se chama assim; mas escrevendo aos israelitas em
geral inclusive, embora indiretamente, aos incrédulos, humildemente
omite o título de “apóstolo”; Paulo também o faz quando escreve aos
hebreus; deste modo Judas, apóstolo, em sua Epístola Geral.
e do Senhor Jesus Cristo — termo não mencionado mais, salvo
em Tg_2:1: nem tampouco em seus discursos (At_15:14-15; At_21:20-
21), por temor de que sua menção frequente do nome de Jesus parecesse
motivada pela vaidade, por ser “o irmão do Senhor” [Bengel]. Sendo
prático seu ensino, antes que doutrinário, requeria a menção menos
frequente de Cristo.
que se encontram na Dispersão — lit., “que estão na dispersão”.
A dispersão dos israelitas e sua comunicação com Jerusalém como
centro da religião, foram os meios divinamente ordenados para a
propagação do cristianismo. Os peregrinos da lei se tornaram em
caravanas do evangelho (Wordsforth).
saudações — palavra não achada em outra carta cristã senão aqui e
na epístola do sínodo de Jerusalém dirigida às igrejas gentílicas;
coincidência casual que indica a genuinidade. No grego original
(chairein) para “saudações”, há uma relação com a “alegria”, à qual os
exorta em meio das misérias existentes motivadas pela pobreza e a
conseguinte opressão.
2. Meus irmãos — frase muito repetida por Tiago, que denota a
comunidade nacional e a da fé.
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motivo de toda alegria — causa da maior alegria [Grocio]. Nada
senão alegria [Piscator]. Considerem que todas “as diversas tentações”
são cada uma assunto de alegria [Bengel].
cairdes (RC) — de improviso, de modo a ser rodeados por elas
(assim o grego original).
tentações — não no sentido limitado de instigação ao pecado, mas
sim de provas e aflições de qualquer espécie que provam e purificam o
caráter cristão. Veja-se “tentar”, isto é, provar, Gn_22:1. Alguns
daqueles aos quais escreve Tiago estavam “doentes,” ou de outra forma
“afligidos” (Tg_5:13). Toda prova possível ao filho de Deus é uma obra
mestra na estratégia do Capitão de nossa salvação para o seu bem.
3. a provação — o exame ou comprovação da vossa fé, quer dizer,
por “diversas tentações.” Veja-se Rm_5:3 : “A tribulação” opera
paciência, a paciência opera experiência (no original: dokime, afim de
dokimión: “provação” aqui; ali é “experiência”; aqui provação, que
produz experiência).
perseverança — O original expressa mais: fortaleza perseverante e
continuação (Lc_8:15).
4. Que esta perseverança tenha uma obra perfeita (v. 3), isto é, que
tenha seu pleno efeito, demonstrando o grau mais perfeito de fortaleza,
ou seja “a alegria de levar a cruz” [Menochius], e resistindo até o fim
(Mt_10:22) [Calvino].
sejais perfeitos — bem desenvolvidos em todos os atributos do
caráter cristão. Para isto se requer a alegria” [Bengel], como parte da
“obra perfeita” da prova. A obra de Deus num homem é o homem. Se os
ensinos de Deus pela paciência tiveram uma perfeita obra em ti, tu és
perfeito [Alford].
íntegros — o que tem completas todas as suas partes, sem carecer
de parte integral; 1Ts_5:23 : “o vosso espírito, alma e corpo sejam
conservados íntegros”; pois “perfeito” significa “sem mancha em suas
partes.
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5. Se, porém — O grego tem “mas”, que é importante. “Mas
(porquanto esta perfeita integridade sem carecer de nada é difícil de
adquirir) se alguém …”
necessita — como o vocábulo está repetido segundo o uso de Tiago
do v. 4, “sem carecer de nada”, traduza-se: “Se algum de vós necessita
de sabedoria”, quer dizer, sabedoria pela qual possais ter “por motivo de
toda alegria o passardes por várias provações”, e permitir que “a
perseverança tenha sua obra perfeita”. Esta “sabedoria” se demonstra
detalhadamente em seus efeitos (1Ts_3:17). A suprema sabedoria, que
governa a perseverança assim na pobreza como na riqueza, descreve-se
nos vv. 9, 10.
peça-a — (ver Tg_4:2.)
liberalmente — Com generosidade. Traduzido “com liberalidade”
em Rm_12:8. Deus dá sem acrescentar coisa alguma que tire da
liberalidade da dádiva [Alford]. Deus requer a mesma simplicidade da
parte de Seus filhos (Mt_6:22 : “seu olho … simples”).
e nada lhes impropera — uma ilustração de como Deus dá com
simplicidade. Dá ao humilde suplicante, sem lhe reprovar Seus pecados
passados e ingratidão, nem Seu futuro abuso da bondade de Deus. Os
judeus rezam: “Que não eu tenha necessidade de dádivas dos homens,
cujos dons são poucos, mas suas censuras muitas; mas dá-me da Tua
mão, ampla e cheia”. Veja-se a petição de Salomão por “sabedoria,” e o
dom de Deus acima do que pediu, embora Deus previsse que seu futuro
abuso da bondade divina ia merecer coisa muito dura. Tiago tem pela
frente o Sermão da Montanha (Veja-se minha Introdução). Deus ouve a
oração sincera, e concede, ou a coisa pedida, ou algo melhor; assim
como o bom médico leva em conta o bem do doente melhor negando-lhe
a coisa nociva que pede, que lhe concedendo algo momentaneamente
agradável mas prejudicial.
6. Peça-a, porém, com fé — isto é, na persuasão de que Deus pode
dar e dará. Tiago começa e termina com “fé”. Pela metade da epístola,
tira os impedimentos da fé, e ensina o verdadeiro caráter dela [Bengel].
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em nada duvidando — titubeando entre a confiança e a
incredulidade. Compare o caso dos israelitas, que pareciam crer em parte
no poder de Deus, mas que se inclinavam mais para a incredulidade
“limitando-o”. Por outro lado, comp. At_10:20; Rm_4:20 (“não duvidou,
por incredulidade”); 1Tm_2:8.
semelhante à onda da mar — Is_57:20; Ef_4:14. “Levados ao
redor por todo vento de doutrina”.
agitada pelo vento — ou “levada” por força exterior.
impelida — por força interior, por sua própria instabilidade
[Bengel]. Quer lançado sobre a ribeira da fé e a esperança; quer enrolado
ao abismo da incredulidade; uma vez, elevado ao topo do orgulho
mundano, outra, arrojado à areia da desespero e aflição [Wiesinger].
7. pois (AV) — paralelo com “porque” do v. 6.
Não suponha — A fé real é mais que mera opinião ou conjetura.
esse homem — o instável, que se engana a si mesmo.
alguma coisa — quer dizer, das que pede; muitas coisas recebe de
Deus: o alimento, o teto, etc., mas estes são dons gerais da providência;
das coisas repartidas especialmente em resposta à oração, delas o
inconstante não receberá coisa alguma, e menos a sabedoria.
8. de ânimo dobre — lit., de dupla alma, uma dirigida para Deus, a
outra para outra coisa. O grego favorece a tradução de Alford: “O
(aquele que duvida, v. 6) é um homem de duplo ânimo, inconstante …”
ou melhor, a de Beza. As palavras do v. 8 estão em aposto com “esse
homem” do v. 7; assim que o verbo “é”, que não está no original, não faz
falta supri-lo: “Tal homem … homem de duplo ânimo, inconstante em
todos os seus caminhos”. Não é hipócrita o que se quer dizer, mas sim
homem inconstante, como demonstra o contexto. É o oposto do olho
bom de Mt_6:22.
9, 10. Traduza-se: “Mas glorie-se o irmão …” quer dizer, o melhor
remédio contra o mal do ânimo dobre é aquela simplicidade cristã de
espírito que permite que o “irmão” de humilde condição exterior “se
alegre” (respondendo ao v. 2) “na sua dignidade,” de ser tido como filho
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 12
e herdeiro de Deus, sendo suas própria aflições o penhor de sua glória e
coroa vindouras (v. 12); e que o rico possa “alegrar-se em sua
humilhação”, sendo despojado de seus bens por amor de Cristo
[Menochius]; ou em ser humilhado em espírito mediante as provas
providenciais, o que é motivo verdadeiro de regozijo [Gomarus]. A
intenção da Epístola é reduzir todas as coisas a uma base uniforme
(Tg_2:1; Tg_5:13). O “de condição humilde” com preferência ao “rico”
é chamado “o irmão” (Bengel).
10. Assim que se for “rico” meramente em bens mundanos, “ele
passará”; assim que seu caráter predominante for o de um “irmão,” ele
“permanece para sempre” (1Jo_2:17). Esta interpretação responde a
todas as objeções de Alford a que se tome “o rico” aqui como “irmão”
em qualquer sentido. Para evitar tornar irmão ao rico, ele traduz: “Mas o
rico se gloria em sua humildade”, quer dizer, no que resulta ser sua
“humilhação” (sua riqueza, Fp_3:19), assim como se diz ao pobre que se
alegre no que é na realidade sua exaltação (sua condição humilde).
11. Tomado de Is_40:6-8.
ardente calor — antes, “com o vento caloroso” do leste ou do sul,
aquele que queima a vegetação (Lc_12:55). O “ardente calor” do sol não
está em sua saída, mas antes, ao meio-dia; enquanto que o ardoroso
vento kadim sopra com frequência ao amanhecer (Jn_4:8). [Middleton,
The Doctrine of the Greek Article]. Mt_20:12 emprega o substantivo
para calor. Is_40:7 : “A erva se seca … porque o vento … soprou”
parece corresponder ao vento ardente aqui.
a formosura do seu aspecto — a aparência exterior.
em seus caminhos — indica o grau embaraçoso dos planos do rico
[Bengel]. Compare-se “seus caminhos”, quer dizer, seu curso de vida,
sua conduta (v. 8).
12. Bem-aventurado — Comp. o Sermão da Montanha (Mt_5:4,
10-11.
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suporta ... a provação — Não o “cair em diversas tentações” (v. 2)
é o motivo da bem-aventurança, mas sim o suportar a prova “até o fim”.
Veja-se Jó_5:17.
depois de ter sido aprovado — lit., “uma vez aprovado”, quando
tiver passado pela prova (v. 3), tendo sua “fé” ganho finalmente a vitória.
a coroa — não aludindo à coroa ou grinalda dada aos ganhadores
nos jogos; porque esta, uma alusão natural para Paulo ao escrever aos
gentios, entre os quais tais jogos existiam, seria imprópria para Tiago,
quem se dirige a cristãos judeus, que olhavam os costumes gentílicos
com repugnância.
da vida — “da vida”; a “vida” constitui a coroa, a única vida
verdadeira, a suprema, a vida eterna. A coroa sugere um reino (Sl_21:3).
o Senhor — omitido dos melhores manuscritos e versões. O
coração do crente supre a omissão, sem necessidade de que se mencione
o nome. O “fiel é o que prometeu” (Hb_10:23).
aos que o amam — Em 2Tm_4:8, “a coroa de justiça ... a todos
quantos amam a sua vinda”. O amor produz a paciente resistência;
ninguém evidencia melhor seu amor que os que sofrem por ele.
13. ao ser tentado — provado pela solicitação ao mal. Até aqui
tratava-se da “tentação” no sentido de prova, a prova por meio das
aflições. Que ninguém pense que Deus lhe imponha uma necessidade
inevitável de pecar. Deus não vos envia provas a fim de vos tornar
piores, mas sim melhores (vv. 16, 17). Portanto, não vos deixeis afundar
sob a pressão do mal (1Co_10:13).
por Deus — por intermédios que dEle procedam. O grego não diz
“tentado por Deus”, mas sim “tentado de Deus”, o que denota agência
indireta.
não pode ser tentado pelo mal — ou, “de males,” ou o mal: nem
tentam a Deus nenhuns de nossos pecados a seduzir-nos a coisas piores,
nem Ele mesmo prova a ninguém de sua vontade” (lit., de si mesmo:
comp. a antítese de Tg_1:18: “Segundo o seu querer, ele nos gerou” a
santidade, quão longe está de tentar-nos por Sua própria vontade)
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[Bengel]. Em Gn_22:1 [RC] diz-se que “tentou Deus a Abraão”, mas ali
a tentação significa prova, e não sedução. Alford traduz segundo o
sentido comum do grego: “Deus não está versado no mal”. Mas assim
nos dá um sentido menos provável, e o de nossa versão, provavelmente,
é o verdadeiro; pois o grego eclesiástico com frequência usa palavras
com sentido novo, segundo as novas verdades que deve ensinar.
14. Todo homem, quando é tentado, é-o pela atração (aqui, como no
v. 13, a preposição apo expressa procedência, antes que a agência da
tentação) de suas próprias concupiscências. A causa do pecado está em
nós mesmos. Nem mesmo as sugestões de Satanás nos põem em perigo,
senão quando as fazemos nossas. Cada um tem suas próprias
concupiscências peculiares (assim o grego), que surgem de seu próprio
temperamento e hábitos. Origina-se a concupiscência no pecado inato no
homem, herdado de Adão.
o atrai — o primeiro passo na tentação: desviado da verdade e da
virtude.
seduz — lit., “tomado com uma isca”, como o peixe. O segundo
passo: o homem se permite (como expressa a voz media do grego) ser
induzido ao mal [Bengel]. A “concupiscência” está aqui personificada,
como a meretriz que seduz o homem.
15. A união culpada se efetua quando a vontade abraça a tentadora.
“A concupiscência”, a meretriz, então “dá à luz o pecado o” ou seja,
aquele pecado ao qual a tentação inclina. Logo o pecado especificado
(assim denota o grego), “uma vez consumado, gera a morte”, da qual
estava o tempo todo grávida [Alford]. Esta “morte” está em marcado
contraste com a “coroa da vida” (v. 12), o alvo da “paciência” e
perseverança, quando tiver sua obra perfeita. Aquele que pretende
pelejar contra Satanás com as armas de Satanás, não deve maravilhar-se
se ver-se sobrepujado. Destrua o pecado na semente da concupiscência.
16. Não vos enganeis — atribuindo a Deus a tentação ao mal;
antes, ao contrário (segue demonstrando que) “toda boa dádiva”, todo o
bem provém de Deus.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 15
17. dádiva … dom — Vocábulos distintos: (1) o ato de dar, ou o
dom na iniciação: (2) a coisa dada, o dom aperfeiçoado, consumado.
Como a dádiva está comparada com o “pecado” em sua iniciação (v. 15),
assim o “dom perfeito” se contrasta com “o pecado … consumado”, que
gera morte (2Pe_1:3).
do alto — (ver Tg_3:15).
Pai das luzes — O Criador das luzes do céu (ver Jó_38:28 [Alford];
Gn_4:20-21; Hb_12:9). Isto concorda com a referência às mudanças na
luz dos corpos celestiais, referidos no final do versículo. Também, o Pai
das luzes espirituais no reino de graça e de glória. Estas se tipificavam
pelas luzes sobrenaturais na couraça do sumo sacerdote, o Urim.
Porquanto “Deus é luz, e nele não há trevas nenhumas” (1Jo_1:5), Ele
não pode, de modo nenhum, ser o autor do pecado (v. 13), o qual é trevas
(Jo_3:19).
variação ou sombra de mudança — (Ml_3:6). Nenhumas das
variações que sofrem as “luzes” físicas, nem das que podem sofrer as
espirituais, aplicam-se a Deus. “Sombra de variação”, como a sombra
lançada por um astro sobre outro, ao sair de sua revolução, por exemplo,
quando a lua é eclipsada pela sombra da terra, e o sol pelo corpo da lua.
Bengel chega aqui a um ponto culminante: “não há variação nem sombra
(sugestão) de alteração”: denotando o primeiro uma mudança de
compreensão; o segundo, da vontade.
18. (Jo_1:13). A regeneração do crente é o exemplo supremo que
prova que nada senão o bem procede de Deus.
segundo o seu querer — Por Sua própria boa vontade (o que
demonstra que a natureza essencial de Deus é fazer o bem, não o mal),
não induzido por nenhuma causa exterior.
ele nos gerou — espiritualmente; um fato uma vez por todas
consumado (1Pe_1:3, 1Pe_1:23). Em contraste com a concepção da
concupiscência e o nascimento do pecado, causador da morte (v. 15). A
vida segue naturalmente em contato com a luz (v. 17).
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 16
palavra de verdade — o evangelho. O meio objetivo, como a fé é
o meio apropriado da regeneração, pelo Espírito Santo como o agente
eficiente.
primícias — Com relação à ressurreição, Cristo é as primícias
(1Co_15:20, 23); os crentes, com relação à regeneração, são, como
diríamos, as primícias (figura da consagração do primogênito de homem,
gado, e frutos a Deus, familiar aos leitores judeus) isto é, eles são as
primeiras das criaturas regeneradas de Deus, e o penhor da regeneração
final da criação. Veja-se Rm_8:19, Rm_8:23, onde também o Espírito, o
agente divino da regeneração do crente, é chamado “primícias”, isto é, o
penhor de que a regeneração começada na alma, se estenderá também,
finalmente, ao corpo e às partes inferiores da criação. De todas as
criaturas visíveis de Deus os crentes formam a parte mais nobre, e como
as primícias legais, santificam às demais; esta é a razão por que são
duramente provados agora.
19. pois — porquanto vossos males são de vós mesmos, mas vosso
bem, de Deus. Entretanto, os manuscritos e versões mais antigos leem
assim (histe por hoste): “Sabeis (assim diz em Ef_5:5; Hb_12:17), meus
amados irmãos; mas (por conseguinte) seja todo homem pronto para
ouvir”, isto é, dócil na recepção da palavra da verdade” (vv. 18, 21). O
método correto para ouvir trata-se nos vv. 21-27 e no cap. dois.
tardio para falar — (Pv_10:19; Pv_17:27-28; Ec_5:2.) Uma boa
maneira de escapar do tipo de tentação que surge de nós mesmos (v. 13).
Tardio para falar com autoridade como mestre ou professor de outros
(Tg_3:1); uma falta judaica muito comum; tardio também para falar
coisas tão levianas a respeito de Deus, como no v. 13. Foram-nos dadas
duas orelhas, observam os rabinos, mas uma só língua; aquelas estão
abertas e expostas, enquanto que a língua está entre paredes e atrás dos
dentes.
tardio para se irar — (Ec_3:13-14; Ec_4:5.) Tardio para se
acalorar no debate: outra falta dos judeus (Rm_2:8), propensão para falar
muito. Tittmann crê que não quer dizer tanto a “ira”, como um
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 17
sentimento de indignação e de mau humor sob as calamidades que tocam
a toda a vida humana: isto concorda com as “diversas tentações” do v. 2.
A rapidez para zangar-se impede de ouvir a palavra de Deus; assim
ocorreu com Naamã, 2Rs_5:11; Lc_4:8.
20. O zelo irado do homem no debate, como se estivesse excitado
pela honra da justiça de Deus, está longe de operar o que é na verdade a
justiça aos olhos de Deus. A verdadeira “justiça se semeia na paz” não
na ira (Lc_3:18). Segundo a melhor e mais antiga leitura, o verbo
significa “praticar”; o Textus Receptus tem o que significa “produzir”.
21. despojando-vos — “pondo à parte”, uma vez para sempre (diz
o grego), como roupa suja. Comp. a roupa suja de Josué, Zc_3:3, Zc_3:5;
Ap_7:14. “A imundície” se limpa ouvindo a palavra de Deus (Jo_15:3).
acúmulo de maldade — o excesso (quer dizer, o espírito
imoderado indicado pela “ira” vv. 19, 20), que surge da malícia (nossa
natural disposição má de uns para com os outros). 1 Ped_2:1 tem as
muito próprias palavras no grego. Assim se traduz “malícia” em
Ef_4:31; Cl_3:8. O “excesso indigno” [Bengel] não é bastante forte. O
excesso supérfluo na fala é também reprovada como “vindo do mal”
(vocábulo no grego afim de perversidade aqui) no Sermão da Montanha
(Mt_5:37), com aquele que a Epístola de Tiago tem tanto em comum.
com mansidão — um para com o outro [Alford], o contrário da
“ira”, (v. 20), e que corresponde aos “recém-nascidos” de 1Pe_2:2. A
mansidão, penso, inclui também um espírito como de menino, dócil,
humilde, tanto como não litigioso (Sl_25:9; Sl_45:4; Is_66:2; Mt_5:5;
Mt_11:28-30; Mt_18:3-4; em contraste, Rm_2:8). Sobre “recebei”
aplicado à terra que recebe semente, veja-se Mc_4:20. Em contraste,
At_17:11; 1Ts_1:6 com 2Ts_2:10.
palavra em vós implantada — A palavra evangélica, cujo atributo
próprio é o de ser enxertada pelo Espírito Santo, de modo que seja
vivamente incorporada no crente, como o broto frutífero é enxertado na
oliveira brava natural. A lei veio ao homem somente de fora, e lhe
advertiu seu dever. O Evangelho é ingerido interiormente, e assim
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 18
cumpre o propósito ulterior da lei (Dt_6:6; Dt_11:18; Sl_119:11). Alford
traduz: “A palavra implantada”, referindo-se à parábola do semeador
(Mt_13:1-23).
é poderosa para salvar — um incentivo forte para corrigir nossa
lentidão em ouvir a palavra: aquela palavra que ouvimos tão
descuidadamente pode (instrumentalmente) nos salvar. [Calvino].
a vossa alma — Vosso verdadeiro “eu”, a personalidade, pois o
“corpo” está sujeito à doença e à morte; mas salva a alma já, o corpo
como a alma o será enfim (Sl_5:15, Sl_5:20).
22. A qualificação do preceito: “sede prontos para ouvir:” “sede
fazedores … não somente ouvintes”: não meramente “fazei” a palavra,
mas sim “sede praticantes” sistemática e continuamente, como se tal
coisa fosse o seu negócio comum. Tiago aqui se refere ao Sermão da
Montanha (Mt_7:21-29).
enganando-vos — pela falácia lógica (o grego o expressa) de que o
mero ouvir seja tudo o que é necessário.
23. Porque — o auto-engano lógico (v. 22) ilustrado.
é ouvinte … não praticante — O grego: “ouvinte da palavra, e não
praticante”, como no v. 22. O verdadeiro discípulo — dizem os rabinos
— aprende a fim de fazer, e não meramente a fim de saber ou de ensinar.
o seu rosto natural — “o rosto de seu nascimento:” a cara com que
nasceu. Como o homem pode contemplar seu rosto natural no espelho,
assim o ouvinte pode perceber sua imagem moral na palavra de Deus. O
fiel retrato da alma do homem na Escritura é a prova mais forte da
verdade da mesma. Nela, também, vemos refletida a glória de Deus, tão
bem como vemos nossa humildade natural.
24. a si mesmo se contempla — Assim que tenha contemplado sua
imagem quando partiu por seu caminho (v 11). “A si mesmo se
contempla” corresponde a ouvir a palavra; “e se retira”, a desatendê-la
depois de ouvir; deixando vagar a mente para outra parte e perdendo
interesse na coisa ouvida: logo segue o esquecimento [Alford].
(Ez_33:21). O “a si mesmo se contempla” aqui e no v. 23 denota que,
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 19
por passageiro que fosse, algum conhecimento de si mesmo, mesmo
quando momentâneo, foi repartido ao ouvir a palavra (1Co_14:24).
e … e — A repetição expressa precipitação unida à leviandade
[Bengel]
logo se esquece de como era a sua aparência — no espelho. O
esquecimento não é desculpa (v. 25; 2Pe_1:9).
25. aquele que considera, atentamente — Verbo composto: lit.,
encurvou-se para olhar de perto; mais forte que o “a si mesmo se
contempla” do v. 24. Uma curiosidade feliz, embora é eficaz em
produzir fruto [Bengel].
lei perfeita, lei da liberdade — a regra evangélica de vida, perfeita
e aperfeiçoadora (como se vê no Sermão da Montanha, Mt_5:48), que
também nos faz caminhar verdadeiramente na liberdade (Sl_119:32,
Versão do Livro de Oração Anglicano). Os cristãos têm que pôr como
meta uma norma de santidade superior a qual se entendia geralmente sob
a lei. O princípio do amor substitui a letra da lei, de modo que pelo
Espírito são livres do jugo do pecado, e livres para obedecer pelo instinto
espontâneo (Tg_2:8, Tg_2:10, Tg_2:12; Jo_8:31-36; Jo_15:14-15; comp.
1Co_7:22; Gl_5:1, Gl_5:13; 1Pe_2:16). A lei é deste modo não anulada,
mas cumprida.
nela persevera — em contraste com o “se retira” do v. 24: continua
tanto olhando no espelho da palavra de Deus, como praticando seus
preceitos.
bem-aventurado no que realizar — melhor, “um praticante da
obra.” Na mesma execução da obra há bem-aventurança (Sl_19:11).
26, 27 —um exemplo de fazer a obra.
religioso … religião — o grego expressa o serviço ou exercício
exterior da religião, sendo “a piedade” sua alma íntima. “Se alguém crê
ser religioso; isto é, observador dos ofícios da religião, que saiba que
estes consistem não tanto nas observâncias externas como em atos de
misericórdia e na humilde piedade (Mq_6:7-8), tais como visitação dos
órfãos, etc., e guardar-se sem mancha do mundo” (Mt_23:23). Tiago
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 20
não quer dizer que estes ofícios sejam os grandes fatores essenciais, ou o
todo da religião; mas sim, enquanto o culto legal era meramente
cerimonial, os mesmos serviços do evangelho consistem em atos de
misericórdia e santidade, e que têm a luz por sua vestimenta, sendo seu
próprio manto a justiça [Trench]. O vocábulo se acha só aqui e em
At_26:5 : “Vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião.”
Cl_2:18, “o culto aos anjos”.
deixando de refrear a língua — A discrição no falar é melhor que
a eloquência do falar (Comp. Tg_3:2, 3). Comp. Sl_39:1. Deus só pode
nos capacitar para fazê-lo. Tiago, tratando da lei, naturalmente observa
este pecado. Porque há pessoas que estão livres dos pecados mais
grosseiros, e até demonstram evidências externas de santidade, mas que
com frequência se enaltecem a si mesmas, infamando a outros sob
pretexto de zelo, enquanto que seu motivo real é sua inclinação a falar
mal. [Calvino].
coração — este e a língua acionam e reagem um sobre a outra.
27. A religião pura e sem mácula — “A pureza” é aquele amor
que não tenha em si mistura alheia alguma, como a ilusão e a hipocrisia.
Guardar-se sem contaminação é o meio de conservar pura a religião
[Tittmann]. “Pura” expressa o lado positivo do culto religioso; o “sem
mácula” o lado negativo; o mesmo que visitar os órfãos e as viúvas é o
ativo, o guardar-se sem mancha do mundo, é o lado passivo do dever
religioso. Tal é a forma mais nobre que tomam nossos exercícios
religiosos, em lugar dos ofícios cerimoniais da lei.
para com o nosso Deus e Pai — lit., “diante dAquele que é (nosso)
Deus e Pai”. Deus está assim denominado para indicar que se queremos
ser como nosso Pai, não é por meio de jejuns, etc., porque Ele nada disto
faz, mas sim sendo “misericordiosos, como nosso Pai é misericordioso”
[Crisóstomo].
visitar — em simpatia e com ofícios benignos para aliviar suas
aflições.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 21
os órfãos — cujo “Pai” é Deus (Sl_68:5); peculiarmente
impotentes.
e a si mesmo guardar-se — a conjunção “e” não está no grego: tão
íntima é a relação entre as obras ativas de misericórdia e a abstenção
pessoal da mundanalidade em espírito, palavra, e feito, que não faz falta
a conjunção entre visitar e guardar-se. “Guardar-se”: com zelosa
vigilância, orando ao mesmo tempo, confiando em Deus o único
poderoso para nos guardar (Jo_17:15; Jd_1:24).
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 22
Tiago 2

Vv. 1-26. O pecado e a acepção de pessoas. A fé morta e sem obras


não salva a ninguém.
Tiago ilustra “a perfeita lei da liberdade” (Tg_1:25) com um caso
de pecado contra ela, e termina com outra referência a tal lei (Tg_1:12,
13).
1. irmãos — A igualdade de todos os cristãos como “irmãos” forma
a base da admoestação.
não tenhais a fé em … Jesus Cristo — isto é, a fé cristã. Tiago
fundamenta a prática cristã na fé cristã.
Senhor da glória — “o Senhor da glória:” assim em 1Co_2:8.
Como todos os crentes, tanto ricos como pobres, recebem sua glória de
sua união com Aquele, “o Senhor da glória”, não das vantagens externas
de fortuna mundana, o pecado mencionado é marcadamente
inconsequente com a Sua fé. Bengel, sem fazer elipse do Senhor, explica
“glória” como em aposto com “Cristo,” quem é a glória (Lc_2:32); a
verdadeira glória (Shekiná do templo) (Rm_9:4). Nossa versão é mais
singela. A glória de Cristo, repousando sobre o humilde crente, deveria
fazer com que este seja tido em tão alta estima pelos “irmãos”, como seu
irmão mais rico; e mais ainda, se o crente humilde tiver mais do espírito
de Cristo que o irmão rico.
em acepção de pessoas — na prática da preferência parcial de
pessoas de várias maneiras e em várias ocasiões.
2. sinagoga — lit., “sinagoga”; este, o último caso do uso honroso e
o único de uso cristão do vocábulo usado no Novo Testamento, ocorre na
Epístola de Tiago, o apóstolo que manteve até o último momento
possíveis os vínculos entre a sinagoga judaica e a igreja cristã. Logo
depois, a contínua resistência à verdade da parte dos judeus induziu os
cristãos a lhes deixar o uso exclusivo do termo (Ap_3:9). A “sinagoga”
denota meramente uma assembleia ou congregação não necessariamente
unida por vínculo comum algum. “Igreja” é um povo ligado por vínculos
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 23
e leis mútuos, mesmo quando talvez os membros não estejam reunidos.
[Trench e Vitringa]. Em parte pelas tendências hebraicas de Tiago, e em
parte porque as igrejas cristãs retinham a maioria das formas judaicas,
este termo “sinagoga” emprega-se aqui em vez do vocábulo cristão
“igreja” (ekklésia, derivado do radical chamar fora, ou convocar,
expressa a união de seus membros em vínculos espirituais,
independentes de localidade, e chamados fora a uma separação do
mundo); uma coincidência sem premeditação e um indício da verdade. A
pessoa, na sinagoga judaica, tomava assento conforme a sua posição, os
do mesmo ofício se sentavam juntos. A introdução deste costume nos
lugares de culto cristão é aqui reprovado pelo apóstolo. As igrejas ou
templos cristãos eram edificados como as sinagogas, com a mesa santa
no extremo oriental daquelas, como estava a arca nestas; a carteira e o
púlpito eram os principais artigos mobiliários em ambas. Isto ensina o
erro de comparar a igreja com o templo, e o ministério com o sacerdócio;
o templo é representado por todo o corpo de adoradores; o local da igreja
era construído segundo o modelo da sinagoga, não do templo. Veja-se
Vitringa (Synagogue and Temple).
Se … entrar — “Se, porventura, entra …” [Alford].
vestido esplêndido … vestido sujo (TB) — Como o grego tem o
mesmo vocábulo em ambos os versículos, se poderia traduzir cada vez
da mesma maneira, “vestimenta esplêndida.”
3. tratardes com deferência — sem saber talvez quem é, se com
efeito fosse pagão. Era o ofício dos diáconos indicar assentos aos
membros da congregação. [Clement of Rome, Apostolical Constitutions,
2.57, 58].
lhe disserdes — o “lhe” está omitido nos melhores manuscritos.
Assim o “tu” deve ser mais enfático.
aqui — perto de quem fala.
ali — afastado de onde estão os bons assentos.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 24
abaixo do estrado dos meus pés — não literalmente assim, mas no
solo perto de meu estrado. O homem pobre ou devia permanecer de pé,
ou se ele se sentava, sentar-se numa posição degradante.
4. não fizestes distinção ...? — Lit., não tendes feito distinções, ou
deferência (preferindo um a outro)? Assim em Jd_1:22.
entre vós mesmos — em vossas mentes, isto é, segundo vossa
inclinação carnal [Grocio]
vos tornastes juízes — As palavras gregas por “juízes” e “julgais”
(com parcialidade) são afins em som e sentido. Deveria dar-se uma
tradução similar a ambas; quer dizer, para juízes diga-se “distinguidores
de (ou seja, segundo seus) pensamentos ímpios”; ou, não julgais com
parcialidade entre homens, fazendo assim juízes malévolos (Mc_7:21)?
Os “pensamentos ímpios” estão nos próprios juízes como em Lc_18:6 :
“juiz de injustiça”, traduzido, “juiz injusto”. Alford e Wahl traduzem:
“Não duvidareis” (com relação a sua fé, que é inconsequente com as
distinções que fazem entre ricos e pobres)? Porque o grego (diakrinein)
sempre significa duvidar no Novo Testamento. Assim em Tg_1:6 que
alguns traduzem vacilar, ou flutuar. Mt_21:21; At_10:20; Rm_4:20,
“tampouco … duvidou.” O mesmo jogo de palavras afins há no grego
em Rm_14:10, 23 : julga … faz diferença (ou dúvida). A mesma culpa
de ser juiz da lei, quando se deveria ser quem a obedeça, acha-se em
Tg_4:11.
5. Ouvi — O apóstolo chama juízo aos que se constituem a si
mesmos “juízes” (Tg_2:4).
os que para o mundo são pobres — Os melhores manuscritos
dizem: “os pobres com relação ao mundo”. Em contraste com “os ricos
neste presente século” (1Tm_6:17). Nem todos os pobres, é óbvio; mas
os pobres, como classe, proporcionaram maior número de crentes que os
ricos, como classe. O rico, se for crente, renuncia às riquezas, como sua
porção; o pobre, se for incrédulo, descuida aquilo que é a vantagem
especial da pobreza (Mt_5:3; 1Co_1:26-27, 1Co_1:28).
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 25
ricos em fé — suas riquezas consistem na fé. Lc_12:21 : “ricos
para com Deus”. 1Tm_6:18 : “Ricos em boas obras” (Ap_2:9; 2Co_8:9).
A pobreza de Cristo é a fonte de riquezas do crente.
reino que ele prometeu — (Lc_12:32; 1Co_2:9; 2Tm_4:8.)
6. O juízo dos pobres pelo mundo contrastado com seu juízo por
Deus.
vós — Cristãos, dos quais se teriam que esperar melhores atos: não
surpreende que os do mundo façam tais coisas.
afrontado — lit., “desonrado”. Desonrar aos pobres é desonrar aos
que Deus honra, invertendo assim a ordem de Deus [Calvino].
os ricos — como classe.
que vos oprimem — lit., abusam de seu poder contra vós.
arrastam — com violência [Alford].
para tribunais — instituindo perseguições pela religião, tanto
como processos legais opressivos, contra vós.
7. “Não são eles os que blasfemam..?” como em Tg_2:6 [Alford].
Deve ser que aqui se alude principalmente aos ricos pagãos; porque
outros não blasfemariam abertamente o nome de Cristo. Só
indiretamente poderia significar cristãos ricos, os quais, por sua
inconsequência, fizessem blasfemar o Seu nome; assim Ez_36:21-22;
Rm_2:24. Além disso, havia muito poucos judeu-cristãos ricos então em
Jerusalém (Rm_15:26). Os que desonram o nome de Deus pelo pecado
voluntário e habitual, “tomam o nome do Senhor em vão” (Pv_30:9, com
Êx_20:7).
o bom nome — que é “bom diante dos santos de Jeová” (Sl_52:9;
Sl_54:6); que rogam que “santificado seja” (Mt_6:9), e que é
“chamado”, invocado sobre vós (Gn_48:16; Is_4:1; At_15:17), de modo
que em Seu batismo “em (para dentro de: assim o grego, Mat_28:19) o
nome” de Cristo viestes a ser o povo de Cristo (1Co_3:23).
8. O grego pode-se traduzir: “Entretanto, sim cumpri …”, como
Alford seguindo Estius explica: “Contudo, não digo que aborreçais os
ricos (por sua opressão), nem que os expulseis de vossas assembleias; se
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 26
optarem por observar a lei real ... bem feito; mas fazer acepção de
pessoas é quebrantar a lei”. Creio que a tradução é: “Se na verdade (ou,
se pois, por um lado) cumprem a lei real … bem fazem; mas se (por
outro lado) fazem acepção de pessoas, praticam pecado”. Os judeu-
cristãos se jactavam da lei, e confiavam nela (At_15:1; At_21:18-24;
Rm_2:17; Gl_2:12). A isto alude o “na verdade.” “(Estão repousados na
lei); se na verdade (pois) a cumprem, bem fazem; mas se …”
régia — a lei que é rainha de todas as leis, sendo o todo e a
essência dos dez mandamentos. O grande Rei, Deus, é amor; Sua lei é a
lei real do amor, e tal lei, como Ele mesmo, reina suprema. Ele “não faz
acepção de pessoas”; fazer acepção de pessoas, pois, significa contrariar
a Deus e a Sua real lei, a qual é, ao mesmo tempo” lei de amor e lei da
liberdade (Tg_2:12). A lei é o “todo”, a Escritura particular citada
(Lv_19:18) é uma parte do todo. Quebrantar uma parte é quebrantá-la
toda (Tg_2:10).
fazeis bem — sendo “bem-aventurados” em seu fazer (Tg_1:25),
não ouvidores esquecidos da lei.
9. A acepção de pessoas viola o mandamento de amar a todos
igualmente, como “a si mesmo”.
cometeis pecado — lit., “operais pecado” (Mt_7:23, o texto
referido aqui provavelmente, como em Tg_1:22). Suas obras são pecado,
seja qual for a jactância da lei que façam por palavras (nota Tg_2:8).
como transgressores — não somente deste ou daquele mandamento
particular mas sim totalmente absolutamente.
10. tropeça — tropeçar, não tão forte quanto “cair”, Rm_11:11;
“num ponto”, como aqui a acepção de pessoas; “culpado de todos”. A lei
é como um vestido sem costura, que fica esmigalhado se é rasgado em
qualquer parte; ou como uma harmonia que fica rota se há uma só nota
discordante [Tirino]; ou uma cadeia de ouro cuja perfeição piora com a
ruptura de um só elo [Gataker]. Assim que vós quebrantais a lei, mesmo
quando não o todo da lei, porque cometeis ofensa contra o amor, o qual é
o cumprimento da lei. Se qualquer parte do homem for leprosa, todo o
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 27
homem é julgado leproso. Deus requer a perfeita obediência, não a
parcial. Não temos que escolher as partes da lei que queiramos guardar,
segundo nosso capricho, para descuidar as outras.
11. Ele é Aquele que deu toda a lei; portanto, os que violam a Sua
vontade num ponto, violam-na em todos [Bengel]. A lei e o Autor da lei
têm unidade completa.
Não adulterarás … Não matarás — Escolhe-os porquanto são os
casos mais evidentes de violação do dever para com o próximo.
12. Recapitulando os raciocínios anteriores.
Falai — voltando sobre o dito em Tg_1:19, 26; discussão mais
completa dá-se no capítulo 3.
julgados pela lei da liberdade — (Tg_1:25), isto é, a lei
evangélica do amor, que não é uma lei de externo constrangimento, mas
sim de íntima e livre inclinação instintiva. A lei da liberdade, pela
misericórdia de Deus, livra-nos da maldição da lei, para que daí em
diante sejamos livres para amar e obedecer espontaneamente. Se não
quisermos, ao mesmo tempo praticar a lei do amor ao próximo, tal lei de
graça nos condena ainda mais gravemente que a antiga lei, que nada
falava senão da ira para aquele que ofendia no mais mínimo particular
(Tg_2:13). Comp. Mt_18:32-35; Jo_12:48; Ap_6:16: “ira do
(misericordioso) Cordeiro”.
13. O oposto de “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles
alcançarão misericórdia” (Mt_5:7). “O juízo (que virá sobre todos nós)
será sem misericórdia para aquele que nunca usou de misericórdia”. Será
para cada um o que cada um tenha sido [Bengel]. “Misericórdia” aqui
corresponde a “amor” em Tg_2:8.
A misericórdia triunfa sobre o juízo — Longe de temer o juízo,
no caso dos que a seguem, a misericórdia com efeito se gloria contra ele,
sabendo que não os pode condenar. Não que a misericórdia deles seja a
base de sua absolvição, mas sim a misericórdia de Deus em Cristo para
com eles, que produz da parte deles a misericórdia para com seus
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 28
semelhantes, faz com que eles triunfem sobre o juízo, aquele que de
outro modo todos eles em si mereceriam.
14. O apóstolo aqui passando do caso particular da “misericórdia”
ou “amor” violado pela “acepção de pessoas”, não obstante a profissão
de fé no Senhor Jesus (Tg_2:1), combate a tendência dos judeus
(transplantada no cristianismo deles) de substituir um conhecimento
inerte e inoperante da letra da lei, por uma mudança de coração para a
santidade prática, como se se obtivesse com isso a justificação (Rm_2:3,
Rm_2:13, Rm_2:23). Parece improvável exceto que ele tivesse visto as
Epístolas de Paulo, porquanto usa as mesmas frases e exemplos (comp.
Tg_2:21, 23, 25, com Rm_4:3; Hb_11:17, Hb_11:31; e Tg_2:14, 24,
com Rm_3:28; Gl_2:16). Se Tiago resolveu isso individualmente ou não,
o Espírito Santo por meio dele combate, não a Paulo, mas sim àqueles
que abusavam da doutrina de Paulo. O ensino de ambos é inspirada, e
portanto deve ser recebida sem luta de palavras; é que cada um tinha
uma classe diferente de pessoas com quem tratar: Paulo com os
“justificadores se si mesmos”; Tiago, com os adeptos antinomianos de
uma mera fé nocional. Paulo insiste tão fortemente quanto Tiago na
necessidade de obras como evidência da fé, especialmente em suas
epístolas posteriores, quando muitos já abusavam da doutrina da fé
(Tt_2:14; Tt_3:8). “Crer e agir são parentes consanguíneos”
[Rutherford].
qual é o proveito — lit., “o que é o proveito?” Que proveito há?
se alguém disser — Tiago não diz: “Se alguém tiver fé”; mas sim,
“se alguém disser que tem fé”; querendo dizer a mera profissão de fé, tal
como se fazia usualmente no batismo. Simão o Mago assim “creu, e foi
batizado” e contudo não teve “nem parte nem sorte neste assunto”,
porque seu coração — como suas palavras e suas obras demonstravam
— não era reto diante de Deus. Alford erroneamente nega que “diz” seja
enfático. A ilustração do v. 16 prova que o é: “E qualquer dentre vós lhes
disser (aos nus) ... aquecei-vos … sem, contudo, lhes dar o necessário”.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 29
A profissão da simpatia inoperante corresponde à profissão inoperante da
fé.
Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? — a fé dele: tal fé
pretendida; o vão nome de uma fé ostentosa é contrastada com a
verdadeira fé frutífera. Assim o que os iludidos chamam “sabedoria”,
não é a verdadeira sabedoria (Tg_3:15). O pronome (em salvá-lo) no
grego é enfático; o homem determinado, que professa a fé sem as obras
que evidenciam a vitalidade da mesma.
15. Se — o grego: “Mas se …”; continuando o argumento contra
quem dissesse que tem fé, etc., sem sinal de frutos.
um irmão — o grego: “um irmão”, algum irmão na fé, de socorrer
ao qual temos a especial obrigação, independentemente do dever geral de
socorrer a todos nossos semelhantes.
estiverem nus (RC) — o grego implica “achados despidos”, ao
averiguar o caso.
16. O costume de receber passivamente as impressões sentimentais
das misérias alheias, sem levá-las à prática habitual, só torna duro o
coração.
qualquer dentre vós — Tiago aplica o caso a seus ouvintes
individualmente.
Ide em paz — como se todas suas necessidades ficassem satisfeitas
tão somente lhes dirigindo palavras. As mesmas palavras na boca de
Cristo, cuja fé eles diziam que tinham, eram acompanhadas de eficientes
obras de amor.
aquecei-vos — com abrigo, em vez de seguir estando despidos (v.
15; Jó_31:20).
fartai-vos — sede alimentados, em vez de seguir famintos
(Mt_15:37).
qual é o proveito disso? — terminando com a mesma pergunta
com que começou (v. 14). Justa retribuição: as expressões carinhosas
que não foram acompanhadas com atos correspondentes, como não são
de proveito para os necessitados, tampouco são de proveito para o
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 30
próprio mestre. Assim a fé que consiste em meras profissões é
inaceitável a Deus, o objeto da fé, e sem proveito para quem a professa.
17. a fé … por si só — Assim traduz Alford: “morta em si”. Diz
Bengel: “Se as obras que a fé viva produzir, não têm existência, é prova
de que a própria fé (lit., com relação a si mesma) não tem existência; isto
é, que aquilo de que alguém se jacta como de fé, é morto”. A “fé — diz
— é morta em si mesma”, porque quando tem obras, está viva, e vê-se
que está viva, não com relação a suas obras, mas com relação a si
mesma.
18. Continua o argumento de Tg_2:14, 16. Talvez alguém diga que
tem fé, embora não tenha obras. Suponham que alguém dissesse ao
irmão despido: “aquece-te”, sem lhe dar o abrigo necessário. “Mas
alguém (que sustenta a correta opinião de que a fé deve ter obras que a
acompanhem) dirá (em oposição ao que diz o mestre aludido) …”
mostra-me essa tua fé sem as obras — se puderes; mas não podes
ensinar ou evidenciar tua alegada fé, (v. 14) sem obra. “Mostrar” aqui
não significa “provar”, mas sim exibir. A fé é invisível, salvo a Deus.
Para ensinar a fé ao homem, obras de alguma ou outra forma se
necessita; somos justificados judicialmente por Deus (Rm_8:33);
meritoriamente, por Cristo (Is_53:11); mediadoramente, pela fé
(Rm_5:1); evidentemente, pelas obras. A questão aqui não é com relação
à base da justificação do crente, mas sim a respeito da demonstração de
sua fé: assim no caso de Abraão. Em Gn_22:1, diz-se que Deus provou a
Abraão; isto é, pôs à prova da demonstração a realidade de sua fé, não
para a satisfação de Deus, que já a conhecia bem, senão para demonstrá-
la diante dos homens. O oferecimento de Isaque citado aqui (v. 21), não
formou parte alguma da base de sua justificação, visto que foi justificado
com antecedência quando creu simplesmente na promessa dos herdeiros
espirituais, ou seja, dos crentes, numerosos como as estrelas. Foi
justificado então; tal justificação foi demonstrada ou manifestada com o
oferecimento de Isaque quarenta anos depois. Tal obra de fé demonstrou
sua justificação, mas não contribuiu à mesma. A árvore demonstra sua
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 31
vida por seus frutos; mas vivia já antes de aparecer seus frutos e até suas
folhas.
19. tu — enfático. Tu, iludido, aparenta ter fé sem obras.
que Deus é um — Sua existência se subentende nesta unidade. É
este o artigo fundamental do credo dos judeus assim como dos cristãos, e
é o ponto da fé de que se jactavam os primeiros especialmente, visto que
os distinguia dos gentios, ponto apresentado, portanto, por Tiago aqui.
Fazes bem — até aqui. Mas a menos que tua fé faça mais que
assentir a esta verdade, “os demônios (cuja cabeça é Satanás) creem” até
aqui em comum contigo, “e (longe de ser salvos por semelhante fé)
tremem” (assim o grego; Mt_8:29; Lc_4:34; 2Pe_2:4; Jd_1:6;
Ap_20:10). A fé deles não faz senão aumentar sua tortura com o
pensamento de ter que encontrar-se com Aquele que os consignou à sua
justa condenação; de modo que a tua (Hb_10:26-27) não é a fé do amor,
mas sim a do temor, a que tem tortura (1Jo_4:18).
20. Queres, pois, ficar certo ...? —O “homem insensato” não quer
conhecer a vontade de Deus, visto que não quer praticá-la. O apóstolo
suplica a tal homem que deixe sua perversa indisposição de saber o que é
evidente a todos os que desejam sabê-lo.
insensato — que se engana a si mesmo com uma esperança
ilusória, que descansa numa fé irreal.
sem as obras — O grego expressa separada das obras [Alford],
que deveriam emanar dela, se fosse real.
é inoperante — Alguns dos melhores manuscritos dizem: “É fútil”,
ineficiente para obter o que tu esperas, ou seja, para te salvar.
21. foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado —
evidentemente, e perante os homens (veja-se nota, v. 18). No v. 23,
Tiago, como Paulo, reconhece a verdade da Escritura, de que foi a fé de
Abraão o que foi contado por justiça em sua justificação diante de Deus.
quando ofereceu — trouxe-o como oferta ao altar; não se diz que
com efeito o sacrificasse.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 32
22. Vês — Nas duas proposições que seguem, fique a ênfase na fé
na primeira, e nas obras na segunda [Bengel].
a fé operava juntamente com as suas obras — pois foi pela fé
que ofereceu a seu filho. Lit., “operava (ao mesmo tempo) com suas
obras”.
pelas obras, a fé foi aperfeiçoada (RC) — não foi vivificada, mas
sim aperfeiçoada, obteve seu desenvolvimento plenamente consumado,
e se demonstrou ser real. Assim “minha força é aperfeiçoada na
fraqueza”, isto é, exerce-se melhor, demonstra quão grande é [Cameron]:
assim 1Jo_4:17; Hb_2:10; Hb_5:9. O germe, com efeito, tem em si a
árvore plenamente crescida; mas sua perfeição não se alcança antes da
maturidade completa. Assim em Tg_1:4: “A perseverança deve ter ação
completa,” isto é, tenha seu pleno efeito, demonstrando o grau mais
perfeito de perseverança, “para que sejam perfeitos”, completamente
desenvolvidos na exibição do caráter cristão. Alford explica: “Recebeu
sua realização, foi completamente exemplificada e cumprida”. Assim
Paulo em Fp_2:12 : “Desenvolvei a vossa salvação”: a salvação que já
era vossa com vossa livre justificação pela fé. Fazia falta ainda
desenvolvê-la até a plena perfeição na vida deles.
23. e se cumpriu a Escritura — Gn_15:6, citado por Paulo como
realizada na justificação de Abraão pela fé; citado por Tiago como
realizada subsequentemente na obra de Abraão de oferecer a Isaque, a
qual obra — diz — o justificou. É claro, pois, que Tiago quer dizer por
obras o mesmo que Paulo quer dizer por fé, com a única diferença de
que aquele fala da fé em seu desenvolvimento manifestado, enquanto
que Paulo fala da fé no germe. A oferta de Isaque feita por Abraão não
foi um mero ato de obediência, mas sim um ato de fé. Isaque era o
sujeito das promessas de Deus, de que nele seria chamada a semente de
Abraão. O mesmo Deus agora ordena a Abraão que mate o sujeito de sua
própria promessa, quando ainda não havia semente na qual se pudessem
realizar tais predições. Daí que a declaração de Tiago a respeito de que
Abraão foi justificado por tal obra, equivale a dizer, com Paulo que foi
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 33
justificado pela própria fé; porque foi com efeito a fé expressa em ação,
como em outros casos a fé salvadora se expressa em palavras. Assim
Paulo declara que o meio da salvação é a fé expressa. A “Escritura” não
seria cumprida, como diz Tiago que foi, mas sim contradita, por
qualquer interpretação que faz com que as obras de um homem o
justifiquem diante de Deus; porque essa escritura não faz menção de
obras algumas, mas sim diz que a crença de Abraão foi contada como
justiça. Deus, na primeira instância, “justifica o ímpio” pela fé;
subsequentemente o crente é justificado diante do mundo como justo
pela fé manifestada em palavras e em obras (comp. Mt_25:35-37,
Mt_25:40, “os justos”). As melhores autoridades dizem: “Mas Abraão
creu …”
Foi chamado amigo de Deus — Não foi assim chamado em vida,
embora o era do tempo de sua justificação; mas foi assim chamado
quando foi reconhecido como tal por todos sobre a base de suas obras de
fé. “Ele foi o amigo (num sentido ativo), o que amava a Deus, com
referência a suas obras; e (em sentido passivo) foi amado por Deus com
referência a sua justificação por obras. Os dois sentidos são unidos em
Jo_15:14-15” [Bengel].
24. justificado … não por fé somente — isto é, “por fé sem (além
de, separado de) obras”, seus devidos frutos (v. nota 20). A fé para
justificar deve, desde o começo, incluir em germe a obediência para ser
desenvolvida subsequentemente, embora a fé somente é a base da
justificação. O broto deve ser enxertado no tronco para que viva; deve
produzir fruto para provar que vive.
25. É claro pela natureza do ato de Raabe que este não se cita para
provar a justificação por obras como tais. Ela creu certamente o que seus
demais concidadãos duvidavam, e isto perante toda improbabilidade de
que os poucos não guerreiros iam derrotar aos numerosos bem armados.
Nesta crença escondeu os espiões com o risco de sua vida. Portanto,
Hb_11:31 menciona isto como um exemplo de fé, antes que de
obediência. “Pela fé Raabe, a meretriz, não pereceu juntamente com os
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 34
incrédulos” Se se tivesse desejado um exemplo da obediência, nem
Paulo nem Tiago teriam citado uma mulher de reconhecido mau caráter,
em preferência aos muitos patriarcas morais e justos. Mas, como
exemplo da livre graça na justificação do homem por uma fé operante,
em contraste com uma fé verbal, nenhum outro poderia ser mais próprio
que o de uma “meretriz” redimida. Como Abraão é um exemplo de um
homem ilustre e o pai dos judeus, assim se cita a Raabe como uma
mulher, e como uma mulher abandonada, e como uma gentia, o que
ensina que a fé justificadora foi manifestada em pessoas de toda classe.
A natureza das obras alegadas é tal, para provar que Tiago as usa só
como evidências de fé, em contraste com uma mera profissão verbal: não
obras de caridade nem de piedade, mas sim obras cujo valor consistia
somente em ser provas da fé; eram a fé expressa com efeito, sinônimas
da própria fé.
os emissários — os espiões.
os fez partir — precipitadamente e com temor [Alford].
por outro caminho — não pela porta por onde entraram, mas pela
janela que havia sobre a muralha, e dali fugiram aos montes.
26. A fé é coisa espiritual; as obras são materiais. Poder-se-ia
pensar, pois, que a fé corresponde ao espírito, e as obras ao corpo. Mas o
apóstolo põe isto em sentido contrário. Ele não quer dizer, pois, que a fé
em todos os casos corresponda ao corpo; mas sim a forma da fé, que não
tem realidade operante, corresponde ao corpo sem o espírito animador.
Não se segue que a fé viva receba sua vida das obras, assim como o
corpo deriva sua vida do espírito animador.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Tiago 3

Vv. 1-18. O perigo da ambição de ensinar, e da língua irrefreada.


A verdadeira sabedoria ensinada por meio da branda humildade.
1. não vos torneis … — Lit., “não vos convertais em muitos
mestres”, aceitando o ofício muito logo, ou de vossa própria
responsabilidade.
muitos — O ofício é nobre, mas poucos são aptos para ele. Poucos
governam a língua (v. 2), e só os que sabem governar são aptos para o
ofício; portanto, “mestres” não deve haver muitos.
mestres — quer dizer, “instrutores”. Os judeus eram muito
propensos a esta presunção. A ideia de que a fé (assim chamada) sem
obras (Tg_2:14-26) era tudo que se requeria, induziu “muitos” a figurar
como “mestres”, como ocorreu em todas as idades da Igreja. No
princípio se permitia a todos que ensinassem por turno. Até seus dons
inspirados não impediam a possibilidade, do abuso, como Tiago aqui o
insinua: quanto mais é assim, quando os instrutores presunçosos não têm
tal dom milagroso.
sabendo — como todos poderiam saber.
havemos de receber maior juízo — O apóstolo em humilde
espírito conciliador se inclui a si mesmo: se nós que ensinamos
abusamos do ofício, receberemos maior condenação que os simples
ouvintes (Lc_12:42-46). Calvino traduz “mestres,” como nossa versão;
isto é, os que se constituem censores e reprovadores dos demais.
Compare-se Tg_4:12: “que julga a outro,” que concorda com tal parecer.
2. todos — o grego implica “todos sem exceção:” até os apóstolos.
não tropeça — lit., não tropeça: é sem ofensa, sem deslize em
palavra; no que alguém se vê duramente provado, se se encarrega de ser
“instrutor”.
3. Ora, se pomos — Os melhores manuscritos: “Mas se pusermos
…” Agora pois, quando os cavalos (posição enfática) lhes pomos (como
costume) o freio na boca, para que nos obedeçam, dirigimos também
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 36
todo o corpo. Isto é para ilustrar como o homem dirige todo o corpo com
a pequena língua. “O mesmo se aplica à pena, que é substituta da língua
entre os ausentes” [Bengel].
4. Não só os animais, mas também os navios.
para onde queira — lit., “por onde quer que o impulso do piloto”.
A isto corresponde o sentimento que move a língua.
5. se gaba de grandes coisas — Há grande importância no que os
descuidados têm como coisa “pequena” [Bengel]. Comp. “um mundo”,
“toda a carreira da existência humana (ciclo da vida)”, “inferno” (v. 6),
que ilustram como as grandes palavras da pequena língua produzem
grande desgraça.
uma fagulha — Os melhores manuscritos dizem: “Quão pequeno
fogo acende um grande bosque!” Grocio traduz, como a AV: “material
de queima,” montão de lenha, em lugar de “bosque”.
6. Traduza-se: “A língua, esse mundo de iniquidade, é um fogo.”
Como o pequeno mundo de um homem é imagem do mundo maior, o
universo, assim a língua é imagem daquele [Bengel].
assim a língua (AV) — “Assim” omitido nos melhores
manuscritos.
entre os membros de nosso corpo — A língua é o membro que
contamina (como o fogo suja com a fumaça).
toda a carreira da existência humana — o círculo, ou ciclo da
criação.
põe em chamas … posta ela mesma em chamas — acende, e é
acesa, habitual e continuamente. Enquanto que se inflama ou acende a
outros, passa além de seu próprio domínio e é consumido na chama ele
mesmo.
pelo inferno — isto é, do diabo, grego, “geena”, achada só aqui e
em Mt_5:22 Tiago tem muito em comum com o Sermão da Montanha
(Pv_16:27).
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 37
7. toda espécie de feras — de aptidão e poder característico;
quadrúpedes de toda sorte, com distinção das outras três classes da
criação: “aves, serpentes (gr., répteis), e seres do mar”.
se doma e tem sido domada — Seguem sendo domadas, e faz
muito que se vem fazendo.
pelo gênero humano — o poder característico do homem, quem
doma os animais inferiores. “O dativo grego talvez denote que a natureza
das feras se submeteu em mansa sujeição à natureza do homem.” Assim
será no mundo milenial; mas agora mesmo, pela benigna firmeza, o
homem pode domar o animal inferior, e até elevar sua natureza.
8. nenhum dos homens — Lit., nem um dos homens: um homem
não pode governar a seus semelhantes, nem mesmo a sua própria língua.
Daí aparece a verdade do v. 2.
mal incontido — mal ingovernável. O grego expressa que é ao
mesmo tempo inquieta e incapaz de refrear-se. Não; mesmo quando a
natureza a rodeou da dupla barreira dos lábios e os dentes, irrompe, e
arruína os homens. [Estius].
mortal (RC) — mortífero.
9. Senhor — Os manuscritos mais antigos têm “Senhor.”
“Bendizemos ao Senhor e Pai”. O raro da aplicação de “Senhor” ao Pai
sem dúvida motivou a mudança para “Deus” nos textos modernos
(Tg_1:27). Mas como em Is_9:6 o Messias é chamado “Pai”, assim aqui
se chama o Deus Pai pelo título de seu Filho, “Senhor” demonstrando a
unidade da divindade. “Pai” sugere o amor paternal; “Senhor”, seu
domínio. *
à semelhança de Deus — Embora em grande parte o homem
perdeu sua semelhança com Deus, contudo bastante dela fica ainda para
ensinar o que era, e o que deve ser no homem regenerado e restaurado.
Devemos tratar com reverência isto que fica em nós e em outros, como
*
“O raro da aplicação” a uma pessoa da Trindade do título distintivo da outra, leva-nos a pensar que a
leitura do Textus Receptus é a correta. Kurios (Senhor) aplicado ao Pai usualmente vai sem o artigo
no grego (como aqui e em Tg_4:10, etc.) – Nota do tradutor.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 38
penhor do que o homem há de ser. “Absalão tinha caído do favor de seu
pai, mas o povo ainda o reconhecia como filho do rei” [Bengel] O
homem assemelha-se em sua natureza humana ao Filho do homem, “a
própria imagem de sua pessoa” (Hb_1:3): comp. Gn_1:26; 1Jo_4:20 :
“imagem” e “semelhança” são distintos: “imagem”, segundo os
alexandrinos, era algo em que os homens foram criados, comum a todos,
e que continua no homem depois da queda, enquanto que “semelhança”
era algo para o que o homem foi criado, para que se esforçasse para
alcançá-lo; aquele vocábulo assinala o físico e intelectual do homem;
este, sua preeminência moral.
10. A língua, diz Esopo, é ao mesmo tempo a melhor e a pior das
coisas. Assim na fábula, o homem sopra do mesmo alento quente e frio.
“A vida e a morte estão no poder da língua” (Sl_62:4).
irmãos — Uma chamada à consciência da irmandade em Cristo.
não é conveniente que — exortação aprazível, que deixa que se
entenda que tal conduta merece a mais severa reprovação.
11. fonte — como figura do coração: como a “abertura” da fonte é
figura da boca do homem. O simbolismo é muito próprio para o cenário
da Epístola, a Palestina, onde há mananciais salgados e doces. Embora as
fontes “doces” às vezes se achem perto, entretanto, “água doce e
amarga,” não flui da mesma “abertura.” A graça pode fazer com que a
boca que uma vez verteu o amargo, emita o doce daí em diante: como a
madeira (típica da cruz de Cristo) mudou em doce a amarga água de
Mara.
12. Transição da boca ao coração.
pode a figueira ...? — Sugerindo que é uma impossibilidade: como
no v. 10 acaba de dizer que “não é conveniente que estas coisas sejam
assim.” Tiago não faz a pergunta, como em Mt_7:16-17 : “Acaso se
recolhem uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” Seu argumento é:
Nenhuma árvore pode produzir fruto inconsequente com sua natureza: a
oliveira, por exemplo, não pode produzir bagos; de modo que se um
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 39
homem fala com amargura, e depois fala palavras boas, estas somente
parecerão boas, e na hipocrisia não podem ser reais.
Tampouco fonte de água — Os manuscritos mais antigos dizem:
“Nem pode um (manancial) salgado dar água doce”. Assim que a boca
que emite maldições, não pode na realidade emitir também bênçãos.
13. Quem ...? — (Comp. Sl_34:12-13). Todos desejam parecer
“sábios;” poucos o são.
Mostre — “por meio de obras,” e não meramente pela asseveração,
aludindo a Tg_2:18.
em mansidão de sabedoria — com a mansidão que é inseparável
da verdadeira sabedoria.
mediante condigno proceder — por uma “boa conduta” geral,
manifestada em particular em “obras”. A “sabedoria” e o
“conhecimento’” sem estar “demonstrados”, são tão mortos como o seria
a fé sem obras [Alford].
14. Se, pelo contrário, tendes — como tendes (implícito no
indicativo grego).
amarga (RC) — Ef_4:31 : “amargura.”
inveja (RC) — antes, “emulação”, ou lit., zelo. A emulação
benigna, generosa, não é de condenar; a que é amarga, é-o [Bengel].
contenção — antes, a “rivalidade.”
em vosso coração — de onde emanam suas palavras e obras, como
de uma fonte.
nem vos glorieis — gloriar-vos de vossa sabedoria é virtualmente
mentir contra a verdade (do evangelho), enquanto vossas vidas dão o
desmentido a vossa jactância. Tg_3:15; Tg_1:18: “A palavra de
verdade”. Rm_2:17, 23, que fala assim dos litigiosos judeu-cristãos.
15. Esta não é a sabedoria — na qual “vos gloriais” como sendo
“sábios” (Tg_3:13-14).
que desce lá do alto — “do Pai das luzes” (a verdadeira iluminação
e sabedoria, Tg_1:17), pelo Espírito da verdade” (Jo_15:26).
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 40
terrena — o oposto a celestial, distinta de terrestre, 1Co_15:37.
Terreno é o que está na terra; terrestre é de terra, ou semelhante a terra.
animal — a sabedoria do homem “natural” (o mesmo no grego),
não nascido de Deus, “que não tem o Espírito” (Jd_1:19).
demoníaca — em sua origem (do “inferno,” Tg_3:6, não é Deus, o
Doador da verdadeira sabedoria, Tg_1:5), e também em seu caráter, que
concorda com sua origem. Terrena, animal (sensual), e demoníaca, que
correspondem aos três inimigos espirituais do homem: o mundo, a carne,
e o diabo.
16. inveja — o vocábulo grego usualmente significa “zelo”;
“emulação”, em Rm_13:13. “O invejoso está em sua própria luz. Pensa
que sua vela não pode iluminar na presença do sol de outro. Ele aponta
diretamente ao homem, obliquamente a Deus, quem faz com que os
homens difiram”.
sentimento faccioso — rivalidade [Alford].
confusão — Lit., anarquia tumultuosa: tanto na sociedade
(“comoções,” Lc_21:9, “tumultos,” 2Co_6:5), como na mente
individual: em contraste com a “aprazível” compostura da verdadeira
“sabedoria” (Tg_3:17). Tiago não honra tais efeitos da sabedoria terrena
com o nome de “frutos”, como no caso seguinte do v. 18; comp.
Gl_5:19-22 : “Obras da carne … frutos do Espírito.”
17. é, primeiramente, pura — lit., casta, santificada; pura e livre
de tudo o que é “terreno, animal e diabólico” (v. 15). Fica primeiro antes
de “pacífica”, porque há uma paz profana do mundo que não distingue
entre o limpo e o imundo. Comp. “pura e sem mácula”, Tg_1:27;
Tg_4:4, 8 : “limpai o coração”; 1Pe_1:22 : “purificado as almas” (o
mesmo vocábulo grego). Os ministros não devem pregar sem antes ter
uma mudança purificadora do coração, sobre a “Paz”, quando não há
paz. Sete (o número perfeito) características peculiares da verdadeira
sabedoria são enumeradas. A pureza ou santidade fica primeiro, porque
correspondem a Deus e a nós mesmos; as seis que seguem correspondem
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 41
a nossos semelhantes. Nosso primeiro cuidado deve ser o ter em nós a
santidade: depois, o estar em paz com os homens.
indulgente — compreensível, indulgente para com o próximo com
relação a seus deveres para conosco.
tratável — facilmente persuadida, amigável, sem severidade para
com as faltas do próximo.
plena de misericórdia — referente às misérias alheias.
e de bons frutos — em contraste, “toda obra perversa” (v. 16).
imparcial — volta à admoestação contra a parcial “acepção de
pessoas” (Tg_2:1, 4, 9). Alford traduz aqui como em Tg_1:6: “titubear”;
“sem titubear”, ou vacilar, “sem duvidar”. Mas isso seria inserir um
epíteto que se refere a si mesmo entre outros epíteto que se refiram a sua
própria conduta para com outros. “Imparcial” é a melhor tradução.
sem fingimento — sem hipocrisia. Não como Alford explica
Tg_1:22, 26: “sem vos enganar a vós mesmos”, com o nome de religião
mas sem a realidade dela. Porque deve referir-se, como os outros seis
epítetos, a nossas relações com outros; nossos atos pacíficos e de
misericórdia para com outros devem ser “sem dissimulação”.
18. “O fruto aprazível de justiça”. Diz “justiça”, porque ela é em si
a verdadeira sabedoria. Como no caso da sabedoria terrena, depois da
descrição característica, restam seus resultados; do mesmo modo aqui,
referente ao caso da sabedoria celestial. Ali os resultados eram pretéritos;
aqui, futuros.
se semeia o fruto — Comp. Sl_97:11; Is_61:3 : “árvores de
justiça”. Antecipadamente, isto é, a semente, cujo “fruto” (ou seja, “a
justiça”) será por fim segado, agora se semeia em paz. A “justiça” agora
em germe, quando se desenvolver plenamente como “fruto”, será em si a
eterna recompensa dos justos. Como “o semear em paz” (Comp.
“semeado em desonra”, 1Co_15:43) produz o “fruto de justiça”, assim
do modo inverso “a obra” e “efeito da justiça” é “paz”.
para os que promovem a paz — para seu benefício. Eles, e só
eles, são os “bem-aventurados.” “Os pacificadores”, não meramente os
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 42
que reconciliam a outros, mas sim os que fazem a paz. “Cultivam a paz”.
[Estius]. Os verdadeiramente sábios para com Deus, enquanto que são
pacíficos e tolerantes para com o seu próximo, contudo fazem sua
primeira preocupação a de semear a justiça, não dissimulando os pecados
dos homens, mas sim repreendendo-os com tal moderação aprazível,
quanto os médicos dos pecadores, antes que seus verdugos [Calvino].
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 43
Tiago 4

Vv. 1-17. Contra as guerras e suas origens: as concupiscências do


mundo; os juízos malévolos; intenções presunçosas com relação ao
futuro.
1. De onde ...? — A causa das contendas se busca com frequência
em circunstâncias externas, enquanto que as concupiscências íntimas são
a origem verdadeira.
guerras, etc. — em contraste com “a paz” da sabedoria celestial.
“Contendas” aqui são “pleitos” (o grego), o ativo desenvolvimento das
“guerras”. As melhores autoridades inserem “de onde” antes de
“pleitos,” ou brigas. Os tumultos assinalavam a época anterior à queda
de Jerusalém, quando Tiago escreveu. Alude a estes indiretamente. Os
“membros” são o primeiro sítio da guerra; dali passa o conflito entre
homem e homem, entre nação e nação.
De onde, senão dos ...? — “não vêm...?” Uma chamada a
consciência deles.
prazeres — lit., prazeres, isto é, a paixão que incita o desejo (Nota
Tg_4:2) dos prazeres; delas procuram satisfação à custa de seu próximo,
e por conseguinte, as lutas.
que militam na vossa carne — “como um exército de soldados
acampados dentro” [Alford] da alma; guerra tumultuosa contra os
interesses de seus semelhantes, para favorecer os próprios. Mas enquanto
elas guerreiam assim contra outros (sem ele saber) guerreiam contra a
própria alma do homem, e contra o Espírito; portanto, as
concupiscências devem ser “mortificadas” pelos cristãos.
2. Cobiçais — Uma palavra diferente do grego em Tg_4:1,
“desejais”; lit., pondes a mente e coração sobre algum objeto.
nada tendes — A cobiça não assegura a possessão em si mesma.
Portanto, “matais” para alcançar a possessão. Não provável no caso de
cristãos professos daquele então, num sentido literal, mas sim “matar” e
“invejar” (gr., “desejar ter”) deveriam traduzir-se devastar e oprimir pela
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 44
inveja [Drusio]. Comp. Zc_11:5. “Matam”: pela inveja, o zelo e o desejo
de afastar-se de seu caminho, e assim são “homicidas” aos olhos de
Deus. [Estius]. Se o significado fosse homicídio literalmente [Alford],
não creio que teria caído tão logo na série; nem que teriam chegado os
cristãos então, nem mesmo agora, à aberta criminalidade. Na aplicação
do texto pelo Espírito a todas as idades, inclui-se a matança literal, que
resulta do desejo de possuir; assim Davi e Acabe. Há uma gradação:
“desejais”, a cobiça individual de um objeto; “matais e ardeis em
inveja”, o sentimento e a ação de indivíduos contra indivíduos;
“combateis” e “guerreais”, a ação dos muitos contra os muitos.
Nada tendes, porque não pedis — “O que desejais”, não está no
original. Deus promete aos que oram, não aos que pelejam. A petição
dos injuriosos, homicidas e litigiosos, não é reconhecida por Deus como
oração. Se orassem, não haveria “guerras e lutas”. Eis aqui, pois, a
resposta à pergunta (v. 1): “De onde procedem guerras e contendas ...?”
3. Antecipa o apóstolo que alguns objetarão, dizendo: “Mas
pedimos” (v. 2), e ele replica: Não é bastante que peçais boas coisas, mas
devem pedir com bom espírito e boas intenções. “Pedis mal para
consumi-lo (o objeto de seu pedido) em deleites”; não para que tenhais o
que necessitais para o serviço de Deus. Contraste-se Tg_1:5 com
Mt_6:31-32. Se orásseis bem, seriam supridas todas as vossas
necessidades; então cessariam vossas cobiças, que motivam “guerras e
contendas”. Até as orações dos crentes são melhor respondidas muitas
vezes, quando os seus desejos resultam defraudados.
4. Os manuscritos mais antigos omitem “Adúlteros e” [RC] e dizem
só “adúltera”. Deus é o marido legítimo; os homens do mundo são tidos
coletivamente como uma adúltera, e individualmente como adúlteras.
do mundo — assim que os homens do mundo e seus motivos e atos
sejam alheios a Deus; por exemplo, seus deleites egoístas (v. 3), “vossas
guerras e contendas” ambiciosas (v. 1).
inimizade — não meramente “inimizados”; um estado de inimizade
em si. Comp. 1Jo_2:15.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 45
Aquele, pois, que quiser ser amigo — O grego é enfático:
“Aquele que resolve ser amigo do mundo”. Obtenha seu propósito ou
não, se seu desejo for o de ser amigo do mundo, constitui-se, chega a ser
(assim o grego), ipso facto, “inimigo de Deus”. Contraste-se: “Abraão, o
amigo de Deus.”
5. em vão — O gr., “inutilmente”; nenhuma palavra das Escrituras
pode ser em vão. A citação aqui, como em Ef_5:14, não parece ser tanto
uma passagem particular como um associado sob a inspiração por Tiago,
do teor geral de tais textos do Antigo e do Novo Testamentos como
Nm_14:29; Pv_21:10; Gl_5:17.
o Espírito, que ele fez habitar em nós — Outros manuscritos
dizem: “Que Deus fez habitar em nós”, quer dizer, no Pentecostes. Se
assim se traduzir, “cobiça para ciúmes do Espírito (Santo) que Deus
colocou em nós?” quer dizer, como vós em vossas “guerras e contendas”
mundanos. Por certo que não; estais caminhando segundo a carne, não
no Espírito, enquanto cobiçais para inveja uns contra outros. A amizade
com o mundo tende a gerar a inveja; o Espírito dá frutos diferentes.
Alford atribui o epíteto “para inveja” no sentido injustificável de ciúme,
ao Espírito Santo; “O Espírito Santo deseja zelosamente nos ter por
Seus”. Em nossa versão o sentido é: “o espírito (natural) que tem sua
morada em nós tem ciúmes para (a, ou para com) inveja”. Cobiçais, e
porquanto não tendes o que cobiçais (vv. 1, 2), invejais o vosso vizinho
que o tem, e assim o espírito de inveja vos impele rumo à “peleja”. Tiago
aqui se refere a Tg_3:14, 16.
6. Antes — mas, ao contrário.
ele — Deus.
dá maior graça — graça sempre crescente; tanto mais quanto vos
aparteis da “inveja” [Bengel].
diz — O mesmo Deus, que faz com que seu Espírito habite nos
crentes (v. 5), pelo mesmo Espírito também fala nas Escrituras. A
citação aqui provavelmente é Pv_3:34; pois é provável que a referência
geral do v. 5 seja Pv_21:10. No hebraico é: “escarnece dos
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 46
escarnecedores”, quer dizer, dos que pensam que “a Escritura fala em
vão”.
resiste — lit., fica em ordem de batalha contra Ele, assim como
eles, do mesmo modo que Faraó, que se levantaram contra Deus. Deus
volta a pagar ao pecador “na mesma moeda”. “A soberba” é a mãe da
inveja” (v. 5); é peculiarmente satânica, pois por causa dela Satã caiu.
aos soberbos — O grego em derivação significa que alguém
aparenta ser superior a seus semelhantes, e assim se levanta contra Deus.
aos humildes — que não são invejosos nem cobiçosos nem
ambiciosos quanto ao mundano. Contraste o v. 4.
7. Sujeitai-vos, portanto, a Deus — para que sejais dos humildes”
(v. 6, com o v. 10, e 1Pe_5:6).
resisti ao diabo — Sob sua bandeira, o orgulho e a inveja estão
alistados; resisti as tentações que vêm por seu intermédio. A fé, orações
humildes e a sabedoria celestial, são as armas da resistência. A
linguagem é guerreira. “Sujeitai-vos”, como o bom soldado que se põe
em completa sujeição a seu capitão. “Resisti”, estai firmes, sem temor.
fugirá — Porque é a promessa de Deus, não a certeza que homem
dê a homem [Alford]. Fugirá derrotado, como fugiu de Cristo.
8. Chegai-vos a Deus — Comp. Dt_30:20; por meio da oração (vv.
2, 3), “resistindo a Satanás”, quem quer impedir nosso acesso a Deus.
ele se chegará — propício.
Purificai as mãos — os instrumentos externos de ação. Só os
limpos de mãos podem subir ao monte do Senhor (justificados por meio
de Cristo, o único que foi puro, e como tal “ascendeu” para lá).
limpai o coração — de vosso adultério espiritual (v. 4, vossa
mundanalidade); vosso coração: a fonte interior de toda impureza.
vós que sois de ânimo dobre — divididos entre Deus e o mundo; o
de ânimo dobre tem o mal no coração: o pecador o tem deste modo nas
mãos.
9. Afligi-vos — lit., suportai a miséria, isto é, chorai os tristes
resultados de vossos pecados. Arrependei-vos com profunda tristeza em
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 47
lugar de vossa risada atual. Um pranto abençoado. Contraste-se
Is_22:12-13; Lc_6:25. Tiago não acrescenta aqui, como em Tg_5:1:
“uivai”, onde prediz o destino dos impenitentes com a próxima
destruição de Jerusalém.
em pranto — lit., em descaída de semblante baixai a vista.
10. na presença do Senhor — como continuamente na presença do
único que é digno de ser enaltecido; reconhecendo Sua presença em
todos os teus caminhos, o verdadeiro impulso à humildade. A árvore
para poder crescer para cima, deve lançar as raízes bem para baixo;
assim o homem, para ser exaltado, deve ter a mente profundamente
arraigada na humildade. Em 1Pe_5:6 : “Humilhai-vos, portanto, sob a
poderosa mão de Deus”, quer dizer, em vossos procedimentos
providenciais; um pensamento distinto do que temos aqui.
para que ele, em tempo oportuno, vos exalte — em parte, neste
mundo; plenamente no vindouro.
11. Tendo mencionado os pecados da língua (Tg_3:5-12) aqui
ensina que o falar mal procede do mesmo espírito de soberba em
prejuízo do próximo que causou os “pleitos” condenados neste capítulo
(v. 1.
Irmãos — que demonstra a inconsequência em irmãos de falar
depreciativamente uns dos outros.
fala mal da lei — porque a lei, ao ordenar, “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo” (Tg_2:8), virtualmente condena a murmuração e o
julgamento [Estius]. Aqueles que arrogantemente condenam os atos e
palavras de outros de que não gostam, tratando assim de alcançar a boa
fama de sua própria santidade, põem sua própria lentidão em lugar da lei,
e se adotam o direito a censurar superior à lei de Deus, condenando o
que a lei permite [Calvino]. Tal homem atua como se a lei não pudesse
realizar sua própria função de julgar, e pretende tomá-la ele mesmo
[Bengel]. Esta é a última menção da lei no Novo Testamento. Alford
corretamente opina que a “lei” é a antiga lei moral aplicada em sua
compreensiva plenitude espiritual por Cristo: “a lei da liberdade”.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 48
se julgas a lei — Ao deixar de lado a irmandade cristã, chamados
todos igualmente a ser praticantes da lei, em submissão a ela, tal homem
toma para si o ofício de juiz.
12. Um só é Legislador e Juiz — Segundo os melhores textos: “A
gente é legislador e juiz”. Traduza-se “Há um só que é (ao mesmo
tempo) Legislador e Juiz, (quer dizer) aquele que pode salvar e destruir”.
Vale dizer que Deus só é Legislador e Juiz, porque só Ele pode executar
Suas sentenças; nossa incapacidade a este respeito demonstra nossa
presunção ao tratar de agir como juízes, como se fôssemos deuses.
quem és — A ordem no grego é enfática: “Tu, quem és ...?” Que
arrogância temerária, a de julgar a vossos irmãos, arrancando a Deus o
ofício que Lhe pertence assim sobre ti como sobre eles!
o próximo — Os melhores manuscritos “a teu próximo”.
13. Atendei, agora — para chamar a atenção vamos, pois.
vós que dizeis — em jactância com relação ao amanhã.
Hoje e amanhã — Gr., “hoje ou amanhã”, como se tivessem a livre
escolha do dia como uma segurança.
para a cidade tal — a cidade que está na mente de quem fala: esta
cidade.
lá passaremos um ano — Lit., “faremos o ano ali”. A linguagem
expressa que terminado o ano, formularão os planos para os anos por vir
[Bengel].
negociaremos … teremos lucros — Vossos planos para o futuro
são mundanos.
14. Vós não sabeis — quanto ao amanhã: de que natureza é vossa
vida: quão instável é.
Sois, apenas, como neblina — Os manuscritos mais antigos dizem:
“Porque vós sois um vapor”. Bengel, com outros, traduz: “Porque ele (o
amanhã) será um vapor” (Tg_4:13-15). O anterior expressa: “Vós
mesmos sois transitórios”: de modo que tudo o que é vosso, vossa
própria vida, participa da mesma natureza efêmera. Nenhuma autoridade
antiga apoia o Textus Receptus.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 49
que aparece por instante e logo se dissipa — “Depois se
desvanece assim como veio”; lit., logo (como apareceu) assim se
desvanece [Alford].
15. Lit., “Em vez de dizerdes: Se o Senhor quiser …” (dizeis, v. 13)
“hoje e amanhã …”
viveremos — Os melhores manuscritos rezam: “Se o Senhor
quiser, viveremos, e também faremos …” Os jactanciosos falavam como
se a vida, a ação, e a sorte particular da ação estivessem em seu poder,
ao passo que as três coisas dependem inteiramente da vontade de Deus.
16. Agora, entretanto — pois bem; como está a coisa.
vos jactais — “vos gloriam com arrogante presunção”, quer dizer,
na vã confiança de que o futuro para vós seja seguro (v. 13).
17. O princípio ilustrado pelo exemplo particular que se acaba de
discutir aqui se postula: o saber sem o fazer é imputado ao homem como
grave pecado presunçoso. O apóstolo volta sobre o princípio situado no
princípio, de que nada prejudica à alma mais que as impressões
desperdiçadas. Os sentimentos se dissipam e desvanecem, se não se
encarnarem na prática. Porquanto não agiremos, a menos que sintamos
emoção, se não levarmos à realidade nossos sentimentos, logo
deixaremos de senti-los.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 50
Tiago 5

Vv. 1-20. Vêm ais sobre os ricos ímpios. Os crentes devem ter
paciência até a vinda do Senhor. Várias exortações.
1. Atendei, agora — Uma frase que chama à solene atenção.
ricos — que descuidastes o verdadeiro gozo das riquezas, que
consiste em fazer o bem. Tiago dirige-se aos ricos judeus incrédulos nem
tanto em benefício deles, como dos santos, para que estes levem com
paciência a violência daqueles (v. 7), sabendo que Deus logo os vingará
dos seus opressores [Bengel].
desventuras, que vos sobrevirão — que vos sobrevirão, repentina
e rapidamente; quer dizer, na vinda do Senhor (v. 7); primordialmente
com a destruição de Jerusalém; finalmente em Seu retorno visível para
julgar o mundo.
2. corruptas — a ponto de ser destruídas pela maldição de Deus
sobre sua opressão, por meio da qual acumularam suas riquezas (v. 4).
Calvino pensa que o sentido é: “Vossas riquezas perecem sem ser de
proveito nem para outros nem para vós mesmos, por exemplo, vossas
roupas estão comidas de traça em vossos roupeiros.
comidas — Comp. Mt_6:19-20.
3. gastos de ferrugens — “embolorados totalmente” [Alford].
há de ser por testemunho contra vós — no dia do juízo; quer
dizer, vossas riquezas não foram de proveito para ninguém, e ficando
sem utilizar, estragaram-se pela ferrugem.
há de devorar … as vossas carnes — a ferrugem que uma vez
consumiu vossas riquezas, então vos roerá a consciência, juntamente
com o castigo que atormentará vossos corpos para sempre.
como fogo — não com o lento processo da ferrugem, mas com a
rapidez do fogo consumidor.
nos últimos dias — vos acumulastes não tesouros, como vos
supúnheis (comp. Lc_12:19), mas a ira para os últimos dias, quer dizer,
para o juízo vindouro do Senhor. Alford traduz mais literalmente:
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 51
“Nestes últimos dias (antes do juízo vindouro) acumulastes tesouro”
(mundano), sem proveito, em vez de vos arrepender e buscar a salvação
(ver nota, v. 5).
4. Eis que — chama a atenção sobre o juízo iminente, que não é
ameaça vã.
o salário … por vós foi retido — A AV diz corretamente: “salário
… retido de vós”. Não como Alford: “clama de (parte de) vós”. A
retenção do salário era, da parte dos ricos, virtualmente um ato de
“fraude”, porque os pobres assalariados não eram pagos pontualmente. A
frase não é, pois, “retido (não pago) por vós”, mas sim “de vós”:
expressando que a fraude era virtual, antes, que óbvia. Tiago refere-se a
Dt_24:14-15 : “No seu dia, lhe darás o seu salário, antes do pôr-do-sol
… para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado”. Muitos
pecados reclamam vingança ao céu, dos quais os homens tacitamente
não tomam nota, como a impureza e a injustiça [Bengel]. Diz-se que os
pecados peculiarmente ofensivos a Deus clamam a Deus. Os ricos
deviam ter dado liberalmente aos pobres; o não tê-lo feito foi pecado.
Maior pecado ainda era o não pagar suas dúvidas. Seu pecado mais grave
era o de não pagar aos pobres, cujo salário era o seu tudo.
os clamores, etc. — um clamor duplo; clamor do salário no
abstrato, e clamor dos jornaleiros contratados.
Senhor dos exércitos — “Senhor de Sabaoth”, só encontrado aqui
no Novo Testamento. Em Rm_9:29 aparece como uma citação. Combina
com o teor judaico da Epístola. Adverte aos ricos, que pensam que os
pobres não têm protetor, que o Senhor de todos os exércitos do céu e da
terra é guardião e vingador deles. É idêntico com o “a vinda do Senhor”
Jesus (v. 7).
5. Traduza-se: “vivestes com luxúria … com desenfreio …” O
primeiro expressa a afeminação luxuriosa; o segundo, a lascívia e a
prodigalidade. Seu luxo estava na conta dos pobres defraudados (v. 4).
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 52
sobre a terra — a mesma terra que foi o cenário de vossos deleites,
será o cenário do juízo que vos sobrevirá: em vez dos deleite terrestres
tereis castigos.
engordado o vosso coração — isto é, satisfeito o corpo como
animais, até o cúmulo do desejo do coração; vós viveis para comer; não
comeis para viver.
em dia de matança — As autoridades mais antigas omitem
“como”. São como os animais que devoram o máximo possível no
próprio dia de sua iminente carneada, inconscientes de sua proximidade.
A frase corresponde aos últimos “dias” do v. 3, e favorece a tradução do
Alford ali, com a preposição “em” e não “para”.
6. tendes condenado e matado o justo — O aoristo grego
expressa: “Estais acostumados a condenar o justo.” Vossa condenação de
Cristo, “o Justo”, é predominante na mente de Tiago. Mas todo o sangue
inocente derramado e por ser derramado se inclui, e o Espírito Santo
compreende ao próprio Tiago, chamado “o Justo”, morto num tumulto.
Veja-se minha Introdução. Isto dá uma aplicação apropriada em especial
à expressão deste versículo, a mesma que a “do justo” do v. 16. A justiça
ou retidão de Cristo e dos Seus é o que provocou os grandes homens
ímpios do mundo.
sem que ele vos faça resistência — Da mesma paciência do Justo
abusam os ímpios, sendo um incentivo à ousadia na violenta
perseguição, se podem fazer o que lhes agrade com impunidade. Deus
sim “resiste aos soberbos” (Tg_4:6); mas Jesus como homem, é “como a
ovelha (que) muda diante de seus tosquiadores … não abriu sua boca”:
deste modo os seus são mansos sob a perseguição. O dia virá quando
Deus resistirá a (lit., ficará em pé de guerra contra) os Seus inimigos e
deles.
7. Sede, pois ... pacientes — porquanto o juízo está perto (vv. 1, 3);
bem podeis ter “paciência”, seguindo o exemplo do Justo que não resiste
(v. 6).
irmãos — em contraste com os “ricos” opressores de vv. 1-6.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 53
até à vinda do Senhor — quando a prova de sua paciência cessará.
o lavrador aguarda — quer dizer, suporta com paciência as
fadigas e as demoras na esperança da ceifa final. Sua “preciosidade”
(comp. Sl_126:6, “preciosa semente”) mas que recompensará por todo o
passado. Veja-se a mesma imagem, Gl_6:3, Gl_6:9.
até que receba — “até que ela (a ceifa) receba …” [Alford].
Mesmo quando se retém a Versão Inglesa (de “ele receba …”), não deve
entender-se que a recepção da chuva temporã e serôdia seja o objeto de
sua esperança, mas sim a ceifa, para a qual aquelas chuvas eram um
preliminar necessário. A temporã caía no tempo da semeadura,
novembro a dezembro; a se4ôdia, em março ou abril, para amadurecer o
grão para a colheita. A chuva serôdia que deve preceder a vindoura ceifa
espiritual, será provavelmente outra efusão pentecostal do Espírito Santo
8. a vinda do Senhor está próxima — O pretérito perfeito grego
expressa tempo presente e um estado fixo: “aproximou-se” (1Pe_4:7).
Temos que viver num estado de expectativa contínua da vinda do
Senhor, como de um evento sempre próximo. Nada pode melhor
“confirmar o coração” no meio dos desgostos atuais que a verdadeira
expectativa de Sua breve volta.
9. não vos queixeis — “Não murmureis”; o grego lit., “não
gemais”; um murmúrio meio reprimido de impaciência e de duro juízo,
não feito forte nem livremente. Tendo-os exortado à paciência em
suportar os males da parte dos ímpios, agora os exorta a ter um espírito
longânimo para com as ofensas dos irmãos. Cristãos que suportam com
paciência aquelas, às vezes são impacientem para com estas, que são
muito menos onerosas.
para não serdes julgados — Os melhores manuscritos dizem
“julgados”. Tiago refere-se a Mt_7:1 : “Não julgueis, para que não sejais
julgados”. Murmurar uns de outros equivale virtualmente a “julgar”, e
assim se expõe a ser julgado.
o juiz está às portas — com referência a Mt_24:33. O grego é
idêntico em ambos os textos, e deve traduzir-se aqui como ali “leva”, no
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 54
plural. A frase quer dizer “se aproximou” (Gn_4:7, texto que nas
interpretações mais antigas — o Targum de Jônatas e o de Jerusalém —
se explica: “teu pecado está reservado para o juízo do mundo
vindouro”). Comp. “as portas eternas” (Sl_24:7, de onde Ele sairá). A
vinda do Senhor para destruir a Jerusalém é a referência primária; e logo,
Sua segunda vinda visivelmente para juízo.
10. modelo no sofrimento — isto é, mau trato.
os profetas — porque eram em grau particular perseguidos, e
portanto particularmente “benditos”, bem-aventurados.
11. felizes os que perseveraram firmes — (Mt_5:10). Melhor: “os
que têm paciência”, como Jó. As autoridades mais antigas dizem: “os
que suportaram”, o que quadra melhor que nossa versão: “Os que em
dias passados, como Jó e os profetas, suportaram provas”. São “bem-
aventurados” os tais, não os que viveram em deleites e foram dissolutos
na terra (v. 5).
paciência — antes, “perseverança”, que corresponde com o verbo
“suportaram”: distinto do vocábulo grego para “paciência” no v. 10. A
mesma palavra deve traduzir-se “perseverança” em Tg_1:3. Aqui volta o
apóstolo ao tema com que começou a Epístola.
Jó — este texto demonstra que a história dele é real, que não se
trata de uma pessoa imaginária; de outro modo seu caso de maneira
nenhuma poderia ser citado como um exemplo. Embora ele demonstrou
muita impaciência, contudo sempre voltou para isto: que se
encomendava completamente a Deus, e no final mostrou um espírito de
submissão permanente.
e vistes — (com os olhos de vossa mente). Alford traduz da antiga
leitura genuína: “Também vedes o fim …” Tal leitura, entretanto, pode
ser traduzida de conformidade com nossa versão.
que fim o Senhor lhe deu — quer dizer, o fim que Deus lhe deu.
Embora Jó tivesse muito a “suportar”, lembremos também a feliz
“terminação” que teve. Aprendei, pois, por mais duras que sejam as
vossas provas, a “perseverar até o fim”.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 55
porque o Senhor — Alford e outros traduzem: “Porquanto o
Senhor …”
cheio de terna misericórdia e compassivo — quanto ao
sentimento e à ação, respectivamente. Sua piedade ou comiseração vê-se
no fato de que não impõe ao que suporta com paciência mais provas que
as que pode suportar; Sua misericórdia, em que Ele (Cristo) dá o feliz
“fim” às provas (Bengel).
12. Acima de tudo, porém — porquanto o jurar é absolutamente
alheio ao humilde “suportar” cristã que se acabava de recomendar.
não jureis — pela impaciência, a que as provas podem vos tentar
(vv. 10, 11). Em contraste com isto está o uso devido da língua (v. 13).
Tiago aqui se refere a Mt_5:34, etc.
seja o vosso sim sim, e o vosso não não — não useis dos
juramentos na conversação diária; mas sim deixai que a simples
afirmação ou negação seja suficiente para estabelecer a vossa palavra.
juízo — lit., juízo, quer dizer “do Juiz” que “está diante às portas”
(v. 9).
13. sofrendo — referindo-se à “aflição” do v. 10.
Faça oração — em vez de “jurar” em temerária impaciência.
alegre — prazeroso de ânimo.
Cante louvores — salmos de louvor. Paulo e Silas cantaram
salmos até na aflição.
14. Chame os presbíteros — Não a algum dos anciãos, como o
interpretam os católicos romanos, para justificar seu costume da extrema
unção. As orações dos anciãos sobre o doente seriam o mesmo que se
toda a igreja, que eles representam, orasse [Bengel].
ungindo-o com óleo — o uso que Cristo encomendou a seus
apóstolos foi continuado depois com a imposição das mãos, como objeto
da suprema faculdade de medicina da igreja, como deste modo achamos
em 1Co_6:2, a suprema faculdade judicial da igreja. Agora que o dom
milagroso da cura foi retirado em maior parte, usar o simbolismo onde
falta a realidade seria uma superstição sem sentido. Comp., outros usos
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 56
apostólicos devidamente descontinuados, 1Co_11:4-15; 1Co_16:20.
“Que usem o azeite aqueles que por suas orações possam obter a
recuperação para os doentes; os que não o podem fazer, que se
abstenham de usar o sinal vazio” [Whitaker]. A extrema unção romanista
se administra aos despejados, para curar a alma; enquanto que a unção
de Tiago era para curar o corpo. O Cardeal Caetano (Commentary)
admite que o apóstolo não pode referir-se à extrema unção. O azeite no
Oriente, e em especial entre os judeus (Vejam-se os Talmudes Jerusalém
e Babilônico), usava-se muito como agente curativo. É também sinal da
graça divina. Portanto, é um sinal próprio na operação de curas
milagrosas.
em nome do Senhor — pelo qual unicamente o milagre foi feito:
os homens não eram senão meros instrumentos.
15. a oração — Não diz que o azeite seria o que salvará; o azeite
não é mais que o símbolo.
salvará — é claro que não “salvará” a alma, como diz Roma, mas
sim curará “o enfermo”: como o prova a frase: “o Senhor o levantará”.
Comp. Mt_9:21-22.
se houver cometido pecados — pois não o estão todos os doentes
por causa de algum pecado específico. Aqui se supõe o caso de alguém
que está castigado com a doença por ter cometido pecados; quer dizer,
sob as consequências de pecados cometidos.
ser-lhe-ão perdoados — antes, “ser-lhe-á perdoado” (os
manuscritos mais antigos) o tê-los cometido. A relação entre o pecado e
a doença está implícita em Is_33:24; Mt_9:2-5; Jo_5:14. A absolvição
dos doentes, retida pela Igreja Anglicana, refere-se aos pecados que o
doente confessa (v. 16), dos quais se arrepende, e por causa dos quais se
deu escândalo objetivo à igreja e à causa da religião; não se refere aos
pecados em sua relação a Deus, o único Juiz.
16. As autoridades mais antigas dizem: “Confessai, pois …” Não só
no caso particular de doenças, mas também universalmente, confessai-
vos.
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 57
culpas (RC) — vossas quedas e ofensas, em relação de uns aos
outros. A palavra não é a mesma que pecados. Mt_5:23-24; Lc_17:4,
ilustram este preceito.
uns aos outros — não ao sacerdote, como insiste Roma. A Igreja
Anglicana a recomenda em certos casos. Roma impõe a confissão em
todos os casos. A confissão é de desejar no caso (1) de um mal feito a
um vizinho; (2) quando sob uma consciência perturbada pedimos
conselho a um piedoso ministro ou amigo de como podemos obter o
perdão de Deus e forças para não pecar mais, ou quando desejamos as
orações intercessoras a nosso favor (“Orai uns pelos outros”): “A
confissão pode fazer-se a qualquer que saiba orar” [Bengel]. (3) a
confissão aberta perante a igreja e o mundo, em sinal de arrependimento.
Não à confissão auricular.
para serdes curados — dos males físicos. Também, para que, se
vossa doença for castigo de pecado, perdoado mediante a oração
intercessora, possais ser curados da mesma. Além disso, para “serdes
curados” espiritualmente.
por sua eficácia — oração intensa e fervente, “sem flutuar”
(Tg_1:6) [Beza]. Fortalecida pelo Espírito, como daqueles que operaram
milagres [Hammond]. Isto quadra bem com a posição das palavras
gregas e com o sentido. A oração do justo é sempre ouvida, geralmente;
mas sua petição particular pela saúde de outro tinha então a
probabilidade de ser concedida, se fosse alguém que tivesse o carisma
especial do Espírito. Alford traduz: “Pode muito em sua operação”. O
próprio “justo” é alguém que se esforça para evitar as “faltas” e
demonstra sua fé por suas obras (Tg_2:24).
17. Elias … sujeito aos mesmos sentimentos (RC) — Portanto,
não se pode dizer que fosse tão superior a nós como para não poder
figurar como exemplo aplicável a meros mortais como nós.
orando, pediu (RC) — Hebraísmo que significa “orou
intensamente”. Comp. Lc_22:15 : “Com desejo desejei”, isto é, “desejei
ardentemente”. Alford não tem razão ao dizer que a oração de Elias de
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 58
que não chovesse, “nem se sugere na história do Antigo Testamento”.
Em 1Rs_17:1, diz-se expressamente: “Vive Jeová Deus de Israel,
perante cuja face estou, nem orvalho nem chuva haverá nestes anos,
segundo a minha palavra”. Sua profecia do fato foi dada segundo divina
intimação, em resposta à oração. Zeloso pela honra de Deus
(1Rs_19:10), e estando de um parecer com Deus com relação à
apostasia, orou para que a idolatria nacional fosse castigada com um
juízo nacional, a seca; e com a profissão de arrependimento da parte de
Israel, rogou que fosse tirado o castigo, como se declara em 1Rs_18:39-
42; comp. Lc_4:25.
três anos — Comp. 1Rs_18:1 : “no terceiro ano”, quer dizer, da ida
de Elias a Sarepta; a profecia (v. 1) foi feita provavelmente cinco ou seis
meses previamente.
18. E orou, de novo, e … — em consequência. Note-a relação
entre a oração e sua realização.
seus frutos — seu fruto habitual e próprio, até agora retido por
causa do pecado. Três anos e meio é o tempo também em que profetizam
as duas testemunhas que “têm poder de fechar e abrir o céu para que não
chova”.
19. A bênção de restaurar um pecador errante por consentimento
mútuo e oração intercessora, que se acaba de recomendar.
se desviar — mais. lit., “foi desviado”.
da verdade — da doutrina e preceitos evangélicos.
alguém — Cada um deve procurar a salvação de cada um.
[Bengel].
20. sabei — (o convertido) para seu consolo, e para animar a outros
para que façam outro tanto.
salvará — Tempo futuro. A salvação de um assim convertido se
manifestará para além.
cobrirá multidão de pecados — não os seus próprios, mas sim os
do convertido. Tal é o sentido do verbo grego em voz medeia. Em
Pv_10:12 faz referência à caridade que “cobre” as faltas de outros diante
Tiago (Jamieson-Fausset-Brown) 59
dos homens; aqui faz-se referência a um que, efetuando a conversão de
outro, faz com que os pecados de este sejam cobertos perante Deus, quer
dizer, pela expiação de Cristo. Efetua isto fazendo com que o convertido
seja partícipe da aliança cristã para a remissão de todos os pecados.
Embora este cobrir de pecados estava incluído no anterior “salvará uma
alma”, Tiago o expressa para assinalar com detalhes a grandeza da
bênção repartida ao penitente mediante a instrumentalidade de quem o
converte, e para assim incitar a outros a que façam a mesma boa obra.

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