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Alberto da Costa | e Silva 4 4 A Manilha ee e o Libambo EA ESCRAVIDAO, DE 1500 41700 A As caravelas na Senegimbia © avistar a primeira caravela, os que viviam 20 sul do que vivia a ser Arguim — ponto tido pelos portugueses como “os confins que divi- dem a Barbaria do pais dos negros” — talvez a tivessem contundido com tuma baleia, qual ocorreria mais tarde aos habitantes do Congo. Ou com um psixe — um peixe enorme — ou “alguma ave que corria assim, andando por aquele mat Gomes conforme escreveu, no peniltimo quartel do século XV, anes da Zurara, na sua Crénica des fetes da Guin? Quem olhasse da praia uma caravela, bem podia té-la, com efeito, por um grande pissaro pousado no oceano, as duas velas latinas a simularem asas De perto, os forasteos nio diferiam muito dos érabes e dos berberes azeriegues do Saara: 0 mesmo cabelo liso ¢ longo, o mesmo nariz comprido, ‘0s mesmos libios estreitos ¢ uma pele ainda mais desbotads. Quase to des- botada quanto a dos albinos. A sua cor mais se assemelhava a dos espiitos, que sio brancos, do que 4 de gente viva. E pareciam também nio ter dedos nos pés, pois a forma das botas © dos sapatos insinuavam neles a falta de artelhos. E como cheiravam mal os que desciam dos escaleres para a praial © branco fedia a defunto — ¢ fede a came podre até hoje. Naquela época, quando s6 raramente se banhavam — ¢ quase nunca nos barcos — © mat odor dos portugueses devia ser acentuado pelas roupas pesadas, que, nos marinheiros e soldados. nio se trocavam desde o inicio da viagem. As condi Bes higinicas nos navios eram mais do que precivias: 0s seus cascos tresan- davam a urina, fez, inhaca, tos mortos ¢ comida estragada, ¢ seus tripulan- tes vinham cheios de palgas e piolhos 150 Ale dene Os negros que viviam nos litorais do extremo sudoeste da atual Mauritinia © nas margens do rio Senegal sabiam de cor as agressdes dos cameleiros do deserto, que thes arrebat favam criangas, rapazes ¢, sobretudo, mulheres. Nao deixaram, porém, de assombrar-se com a sem-razio dos ata- ques que Ihes passara a mover aquela gente vinda do mar. E nfo somente a cles, mas também, ¢ antes, aos mouros do deserto que findava na praia. Os seus ouvidos talver. ja se estivessem acostumando aos rumores de que os cestrangeiros haviam capturado ¢ conduzido para dentro de suas embarca- ses pastores pacificos de cabras ¢ camelos e, durante a noite ou ao despon- tar da madrugada, agredido aldcias ¢ levado embora os escapados & morte “Tem pemnas ripidas as mis noticias, ¢ essa exam terri As terras ao sul de Arguim no cram dominio exclusivo dos negros. Estes ali ladeavam os azenegues, em convivio ora pacifico, ora conflituoso, © que explica ter 0 grande curso d'igua a que os portugueses chamaram inicialmente Nilo — na erenga de que foase um brago ocidental do rio do Egito — tomado depois o nome de Ganaga, Canigua, Saiaga, Sanags ou Senegal, derivado de Zanaga, Asnaga ou Sanhaja, que cram outras denos nagies dos berberes azenegues. De um mar que se tinha por despovoado — ou, em certos pontos da costa, como a fronteira entre 0 mundo dos vives ¢ 0 dos mortos — chega- ‘vam inimigos imprevistos, de cuja violéncia eles proprios deixaram amplo registro. A Crénica de Zurara transforma em feitos de honra e coragem — e até thes empresta bandeira de cruzada — uma série de viagens cujo motor parece ter sido a preia de escravos € nas quais as maiores faganhas eram a caga a gente desprevenida ou fracamente armada. F bem verdade que se considerava, na época, obra piedosa o filhar infigis para escravos, pois na servidio se converteriam a fé verdadcira, ¢ como “perfcitamente honrado” 6 roubo pelas armas. Quem disso tiver ckivida siga 0 conselho de Vitorino Magalhies Godinho? ¢ leia a Crénica do Condestabre ow a Crinica de Dom Pedro de Menezes. E certo que se desejava, de inicio, sequestrar alguns dos habitantes das novas terras, para os ter sobretudo como sinais delas, de valor semelhante, embora maior, a0 das rosas~de-santa-maria que Bojador para o Infante D. Henrique. Supunl abrigassem somente informagdes sobre scus pagos, mas que soubessem tam- I Eanes levou do cabo es cativos no se que ess bém d_terras do Preste Joao, que 0 paulatino encurvamento da Costa da Ammibacotiby me 1ST Guing, a medida que prosseguiam as viagens das caravelas, parecia por tio perto. Chegou-se a crer, als, que © litoral guineense continuava a arredon- dar na diregao do Egito ¢ da Aribia, © que tomava mais curto © caminho para os dominios do Preste, as Indias ¢ Catai. Dos prisioneiros esperavam- -se também, ¢ com maior razo, conselhos sobre 0 acesso As especiarias afficanas e a0 ouro sudanés, que dera fama aos reinos de Gana e Maki e do qual os portugueses, com a conquista de Ceuta em 1415, tinham tido certeza, se é que de certeza precisavam. Ceuta era importante porto do ouro transaariano, mas dela — e foi imensa a decepsio portuguesa — comecaram a afastar-se as cif 130 logo caitt na posse dos cristios. ‘A busca de informantes confundiu-se, desde as primeiras viagens, com a cobiga por eseravos, fossem moslins ou pagios, berberes, canirios ou guinéus. © escravo era 0 bem mais valioso a0 alcance dos navegadores, enquanto nao se descobriam os eaminhos para o metal amarelo, As outras rercadorias que logiavant Fevar para os bases, Gianiese aon de menor preco: gomas, couros de cabra, peles ¢ dleo de leio-marinho. Era pelos fescravos que se esperava no porto algarvio de Lagos —a festa pela chegada das caravelas atingia 6 auge com a repartisio do butim humano — e era pelos escravos que os portugueses desciam nas prains afticanas. Avistada a presa, estivesse sozinha ou em grupo, havia que deitar as unhas nela e no largi-la, custasse o que custasse A historia correu a aldeia ¢ ganhou os mercados. Passara-se proximo a0.delta do Nder — o Senegal dos portugueses. Estava um morador, encurvado, a cortar madeira, quando alguém saltou sobre cle © se prendow com as mios aos seus cabelos. O morador endireitou-se com forga. E 0 serzinho pequeno, magricela e fedorento, que, pela cor ¢ as feigSes angulo- sas, bem podia ser um abantesma, ficou dele dependurado, os pés Tonge do chio, a gritar que podia. Nao the desgrudava os dedos da gaforinha, apesar dos safandes, dos socos ¢ das mordidas. Acudiram aos berros cinco outros daqueles estrangeiros, cobertos de panos que thes apertavam os rando agarraram o Ienhador pelos bragos pescogo, © serzinho pido soltou-the o cabelo, Livre da dor, o homem saeudiu os demais para corpos. os lados ¢ se pds a correr para dentro do mato, Pouco depois. sai, aflto em busca dos fithos, um mocinho ¢ uma garota de oito anos. Nio os cencontrou na cubata onde os deixara. E mal dela recolhera uma atm, vit, com angiistia¢ firia, que passeava pela praia, levando na mio o que parecia 152 Abr de Sih ‘uma langa, um outro igual aos atacantes. Arremeteu contra ele, rasgando- che o rosto. E atracaram-se, Estavam nisso, a rolar no cho, quando um companheiro surgiu de entre as Arvores, para ajudar o lenhador. O inesperado reforgo permitiu que os dois nativos fu antes que os aleancasse um novo grupo de estranhos.* Em lugar se © Ienhador det se ao desespero, pela falta do rapazola ¢ da menina, imaginando que tivessem sido capturados pelos desconhecidos. Os dois ji tinham, de fato, sido recolhidos a caravela de Vicente Dias, que acompanhava, com mais quatro, a de Langarote. O ano era o de 1445. ) episédio foi motivo de galhofa nos mereados, entre aqueles que nada tinham com os desaparecidos, do mesmo modo que fizera rir os por- tugueses, quando os atacantes se recolheram a0 navio.® Passavam de boca em boca historias semelhantes de assaltos a aldeias, de investidas contra pescadores a0 longo do litoral, a comegar por aguela, também de 1445, em que Dinis Fernandes, a quem se deve 0 nome do cabo Verde, caprurou os auatro negros que foram os primeiros tomados em suas propria terras (em vez. de adquiridos aos mouros) a chegar a Portugal.” Nio 6 em razio desses relatos, mas também do espanto que causa ‘vam os navies portugueses, mal um deles se avistava, os que viviam junto & ‘costa, para evitar que 0s estranhos pusessem pé em terra, tomavam as armas ‘ese punham a remar contra ele. Continham para isso 0 medo que Ihes devia causar 0 tamanho das caravelas, de aleura ¢ bojo desmesurado para os seus olhos, ainda que elas nfo devessem exeeder entio os 14m de quilha.* Como consequéncia, os portugueses viram-se repetidas vezes, a0 sul do rio Senegal, obrigados & defensiva ¢ comegaram a contar as suas baixas. Logo de inicio, as de Nuno ‘ristio e seus [9 camaradas, atacados, em 1446, na embocadura de um rio que tem sido posto, desde 0 cronis Joiio de Barros, em diferentes pontos da costa: no estuario Sine-Salum-Jum! Gambia," na do Geba ou Grande" ow cembocadura do atual Nuno ou Nuiiez."? Se 0 ataque se verificot nos dois Banjala,” na fox do jinda mais abaixo no mapa, na primeiros lugares, os responsiveis pelas flechas envenenadas que mataram Nuno Tristo ¢ seus companheiros poderiam ter sido 0s mandingas do niumimansa — como, aids, afirmou Diogo Gomes, 20 narrat suas recorda- ges de navegador a Martin Behaim (ou Martinho da Botmia)." ¢ se har- moniza com 0 que nos disse André Alvares d’Almada sobre a eficicia da pesonha com que esses mandingas untavam suas flechas."" Ou, enti Aranibe sents 153 niiomincas,'® os habilissimos canociros, que falam serere,"® viver nas ilhas do estuitio do Sine-Salum e controkwvam comércio a0 longo da chamada Petite Cate.” Se as mortes, contudo, se deram defronte ao tio Grande (nome ue por muito tempo os portugueses deram 4 ria do Geba) ou a0 Nuno, os anqueiros poem ter sco heafadas om hagas C) que sabemos com quase certeza € que nao vieram do arquipélago existente na boca do Geba e que tomou 0 nome da gente que o habitava, os bijagés."* Primeiro, por duvidar-se de que estes usassem flechas ervadas eapazes de dar pronta morte — utilizavam como pponta e peconha “a espinha de um pescado chamado Bagre”,”” que podia abrir chagas ¢ provocar outros estragos, por no envenenamento fulminante — «, segundo, porque Zurara coloca os agressores em almadias com pouco ims de meia diizia de pessoas, ¢ as dos bijagés exam quase do comprimento das caravelas portuguesas — tal como as viu Alviste Ca’ da Mosto (ou Cadamosto)?” —, podendo em algumas delas eaber trinta pessoas. Grandes barcos, escavados num s6 tronco de érvore, no eram incomuns a0 longo do Adintico. Em Valentim Fernandes, sio eles mencionados no ‘Senegal, entre os felupes"® da Casamansa e entre a gente da Serra Leoa, com capacidade para 60, 80 ¢ até com pessoas.” Duarte Pacheco Pereira os viu entre os iis, na parte oriental do delta do Niger: subiam ¢ desciam 0 rio, Jevando homens, vacas, cabras ¢ cameiros." Essas canoas enormes, com até 25m de comprimento, no se construiam, na maior parte dos c2s0s, para as aguas do mar aberto, mas, sim, para rios ¢ lagoas.®* Destinadas em geral 20 comércio, pociam ser empregadas na guerra, embors, em situagaes de confli- to, se prefetissem almadias menores, por serem mais estiveis e de mais facil manobra2* Compridas, estreitas ¢ de bordas geralmente baixas, essas embat- cag@es, fossem grandes ou pequenas, corriam quase afindadas n'égua, os seus ‘ocupantes de pernas para fora, a banhi-las no rio ou no mar. Quando queriam ‘mprimir-Ihes velocidade, os remeitos punham-se de pé. E velocissimos — 0 supetlativ & de Cadamosto — esses barcos sabiam ser, para espanto dos ‘europeus, que nio compreendiam como se lograva por forga e rapidez de ritmo em remos que no se prendiam com toletes 20 corpo do barco. A dangar sobre as ondas, as almadias no cram alvos ficcis pata as bombardas e os besteiros portugueses. Todavia isso nfo Ihes dava, nas re- fregas, uma vantagem decisiva, Sendo altas as caravelas ¢ relativamente curto @ aleance dos arcos, as embarcagies dos negros, para langar flechas contra 9s conveses portugueses, eram obrigadas a uma aproximagio que as trans- 154 Ab da Cote Sie formava em mira menos dificil. Por scu Tado, ainda que constru las para navegar em Jguas pouco profundas, no podiam as caravelas acercar-se da costa, numa zona como a que se estende ao sul do cabo Verde, em que € longo o espraiamento do fundo do mar, com numerosos baixios e pars grandes dis incias da terra. No seu empenho em reconhecer 0 litoral, os portugueses viam-se obrigados a descer das caravelas para bats que, lerdos, 6s punham 20 alcance das flechas envenenadas dos africanos. Conheso-as de perto. Tive, em Lagos, na Nigéria, um vigia baixinho musculoso, que fizia sua ronda com um pequeno arco ¢ uma aljava de “Zombava dos tuaregues embugados, que guardavam com seus sabres a minha casa, e daqueles que usavam na cintura arma de Fogo. Dizi di arrankio de uma de suas flechas — e cle, quase a gritar-me: “Don! touch i, flecha escapar-se de tito ou catanada. Raramente tinha cura, porém, um 36 astou com um gesto brusco o dedo com que cu quis experimentar, certo dia, o gume da ponta de ferro. Provavelmente a ervava, como de 30 em boa parte da Africa Oci 6 Siophantus bsidus, capaz. de causar a morte depois de dev. a trinta minutos de entrado no sangue.” Ao menor ferimento, i niheito, as vezes antes mesmo de conseguir voltar a0 convés de seu navo. |, numa mistura cujo ingrediente bisico & se ia 0 soldado ou o ma Tal como sucedew a algun dos companheiros de Nuno Tristo. A earavela langara incoras: no mar largo, defronte a for de um tio. Desejoso de explori-lo — matea Gomes Eanes da Zurara’® — ede vetificar se nele havia povoagies, Nuno mandou baixar dois pequenos batéis. Num tembarcaram 12 homens; no outro, dez. Segutam eles, com sett comandante, pela boca do rio, quando foram atacados por 12 almadias, com uns 70 ou 80 guinéus, “todos negros e com arcos nas mios", Desses afcos comegaram a multiplicar-se as setas sobre os batéis, obrigando 4 fuga os portugueses, que 36 muito custo conseguiram aleangar o navio, com quatro deles ji mortos pelo efeito da peconha que havia nas flechas. Estas os perseguitam » comba- tidos", que no puderam guindar os batéis nem levantar os ferros, tendo de Ihes cortar, a uns e outros, as amarras. Dos portugueses que sairam nos botes, s6 dois se salvaram, por nio terem sido atingidos pelas fleas. a bordo da caravela ¢, tamanha era “a multidio de setas de que A moni so iano me 155 Em pouco tempo, o medo das setas ervadas difundiu-se de um barco outro. Ganhou os portugueses 0 receio de entrar nos rios ¢ nas enseadas cstreitas. Naquelas costas recortadas e de denso arvoredo, recebiam — como escreveu um outro cronista®” — mais dano dos negros do que thes fxziam, € passaram a té-los como adversirios mais dificeis e temidos do que os ‘mouros, sobre os quais sempre Ievavam vitéria. Viram-se os portugueses obrigados a buscar, para guarda e repouso, os pontos desabitados do litoral. Todavia, se queriam conseguir escravos de forma continuada e, mais ainda, receber ouro ou conhecer os caminhos que ligavam as praias as minas auriferas, inham de trocar a preia pelo comércio e, para isso, vencendo a cobiga, obedecer 3 risca a instrugio que traziam, desde o inicio das viagens 20 longo da costa da Africa, de tentar estabelecer relagdes de confianca com a gente da terra, Forgoso era abafar 4 ganincia de fazer cativos pela surpresa ¢ armas. Forgoso era coibir a tentagio da rapina, Doravante, a0 chegar a um novo ponto do litoral, a embareagio portuguesa findeava ao largo. E ali ficava tranquila, com os batéis & sua volta, Como os da terra, apés algum tempo, nio sentiam qualquer sinal de hostilidade, punham-se a remar, para vé-la de perto. Da caravela ou dos sntre outros gritos, algum que os africanos en~ tendessem, ou por ser a voz na lingua deles, ou em idioma que nko lhes batts pod chegar fosse dificil, ainda que incompletamente, compreender. Desde 0 comego da expansio atlintica, os portugueses se haviam cempenhado em treinar como intérpretes a mouros ¢ negros, contando entre estes tiltimos no s6 os que haviam caprurado em razias, mas também os que obtiveram, por saque ot resgate, nos navios e portos do Mediterraneo e nos litorais da Mauriténia. Ja em 1447, na expedigio de Valarte (um dina- marqués a scrviso do rei de Portugal, que comandava um navio com tripulantes portugueses),revela-se clara, nos relatos que dela fizeram Zarara® ¢ Joio de Barros" (este a beber naquele, como confessa explicitamente™), a importincia do lingua para desfazer a hostilidade © encaminhar as trocas Adquiridos ou capturados no Marrocos ¢ na Mauritania, esses pri- reiros turgimaos (como se dizia na época) s6 deviam falar o cou virias das formas do berbere ¢, num € noutro eax0, do jalofo, do zcrere, do mandinga ou do fula. Tio logo os portugueses desceram abaixo do Casamansa, mio mais conseguiram que seus linguas se fizessem entendidos. Por aio ter como se comunicar com a gente do pais, Cadamosto, a0 chegar 156 Albee do Sie a0 rio Grande, decidiu no prosseguir viagem. E com o objetivo de con- as tetras que teria pela frente, Pedro de Sintra capturou, pouco além do cabo Mesurado (na atual Libéria), um dos tuts rapazes que se aventuraram, confiantes, a subir 3 caravela, A esse, ji em Portugal apresentaram-no a varios outros, sem que wit 38 compreendesse que dizia. “ cerava de um cidadio de Lisboa, ¢ que também era de terras distantes, foi centendido, conheciam) seguir novo tipo de intérprete pa Finalmente”, escreve Cadamosto.M “de uma mulher negra, ¢s- fo pela sua propria Hinguagem, mas por uma outra que ele ¢ ela ‘Alguma vez, de imprevisto, encontrou-se um tradutor num daquees mogos de bordo, grumetes ou marinheiros em que se volviam escravos afri- anos € que raramente faltaram nos barcos portuguese desde o séeulo XV. Unm deles ja se contava entre os sobreviventes que retornaram a Portugal no navio qu; fora de Nuno Tri taml im marujos moures, malaios ¢ indianos, tornar-se .0.' Com 0 tempo, esses tripulantes negros, ras embarcagdes portuguests, que seriam pintados nos biombos nanfa do fim do Quinhentos, a0 lado de outras figuras exdticas para os japoneses, como eram os brancos narigudos, de grandes queixos acentuados pelas barbichas figuram subindo as enxitcias ¢ no alto dos mastros, abrindo ou recolhendo ls ¢ bombachas de tufo. Nos biombos japoneses, os afticanos elas, descendo pelos cabos, balangando-se nas cordas ¢ até mesmo dependurados de cabega para baixo, a fazer acrobacias.* Em tarefas como fens, dae mais duras e petigneas nos batcos portuguese, os negros jf seriam empregados desde mais de um século; primeiro, no Atlintico e, depois, no Indico. Ao chegar a um pais de seu idioma, prestavam-se a trago de unio entre os que nele viviam ¢ os que vinham no navio. Isso, naturalmente, quando as caravelas oe me pee a Tingua nfo se trazia intérprete treinado. Em geral, cada navio tinha mais de, rene io negro. Depois de cristianizi-los ¢ de fazé-los fuentes em portugués, os seus donos os cedii escravo por viagem. Teadutor que produzisse quatro cativos para seu pro- prievirin era por este alforriado,"” com o que se premiava um trabalho tido por extremamente importante € nilo menos perigoso. Pois o turgimo e alguma |-entendido, e era um homem morto. Como aquele da tripulasio do genovés Antoniotto Usodinare, que vigjava na aos navegadores, em troca de um era quem primeiro se ditig vezes sozinho, A gente da terra, Qualquer gesto falso ou m A menihaco liebe 157 companhia do barco de Cadamosto, Na entrada de um rio entre © Senegal 0 Gambia, 0 lingua preto foi levado por um batel até quase a marinha. Desceu antes de chegar a0 raso ¢, na praia, viu-se cercado por africanos. Pouco falou © menos Ihe responderam, pois Ihe deram pronta morte com. lamas espadas curtas.!® (Ver 0 mapa “A Senegimbia e a Alta Guiné”.) Que a paga pelo servigo do intérprete fosse em escravos podria in- dicar ser essa a mercadoria de maior valor que as earavelas, aps mais de trés décadas de viagens (a contar da passagem do cabo Bojador em 1434), tra- viam da Affica. Era também a mais abundante e de fornecimento mais segu- ro. lo, até que os portugueses foram dar, em 1470, is costas da atual Libéria. onde abundava a malagueta. e. um ano depois. 20 que viria a ser © porto aurifero da Mina. Antes disso, aos navegadores — e sobretudo a um veneziano como Cadamosto, acostumado a variedade © a0 requinte das mercadorias que desembarcavam em sua cidade natal — o que fs africanos thes levavam nas almadias parecia quase nada de tio pobre: um Pequeno niimero de dentes de elefante, um bocadinho de ouro, que mal dava para encher o covo da mio, outro tanto de algilia, uns panos de algodio, brancos ou listrados, saidos de tear estreito, um pouco de cera ¢ um cintaro de pimenta, varios tipos de cestos, E continuo a stciras ¢ urapemas, meia diiria de gamelas de pau, um amarrado de peles, um gato almiscareiro, alguns filhotes de outros felinos, muitos macacos ¢ muitas aves, como os 150 papagaios que Cadamosto levou para a Europa e vendeu sem esforso.” Ninguém se espantou quando os homens do mar, logo nos primeiros encontros, propuseram a troca de um meninote ali parado por contas de vidro, facas de ferro ¢ tecidos de Ia. Foram buscar um outro rapazola que, por ser escravo ¢ nfo ter nascido na terra, Ihes podia ser entregue. E, tiveram a transagio como em tudo semelhante as que se realizavam em. seus mercados. Dessas primeiras operagdes de compra de escravos pelos portugueses, ‘uma ficou registrada, com data de 1445 — um no antes, portanto, da morte de Nuno Tristio. Num sitio que, por sinal, tomou 0 nome de cabo cdo Resgate, Antio Gongalves ¢ Joo Femandes obtiveram dos mouros nove pretos contra variada mercadoria.® 158 A a Cota Sie Que 0 forasteiros, desde o inicio, manifestassem mais interesse pelos cativos do que por outros bens, pareceu nao s6 aos mouros, mas também aos chefes negros, um sinal de que lidavam com gente de tino, ainda que sem traquejo social e bons modos, ¢ com habeis comerciantes, que sabiam 0 valor das coisas, pois a escravo, para 0 jalofo. era a riqueza sobre duas peras e aumentava o poder de quem dele era dono. Mesmo entre os régutos « chefes que podiam dispor de escravos em nrimero suficiente para tender demanda dos navegadores — o Budomel, nome que di Cadamosto a0 bor, bur ou dame do Caior, ofercceu-lhe, por exemplo, cem escravos em troca de cavalos com seus arrcios ¢ algumas outras coisas!" —, havia, entretanto, fdas sobre © destino dos embarcados i forga nos barcos quem tivesse di cenormes, Levavam-nos seguramente para donde tinham vindo. Para além das Aguas que iam deixando de ser o fim do mundo e se fazendo na imitagio de um tio, Mas, na outra margem, em ver de com os cativos acrescentarem & dependéncia familiar ¢ 0 niimero dos que trabalhavam nas suas lavouras aquigi os estrangeiros os devorassem. (© antropéfago é sempre © outro, © vizinho inimigo, o adversirio distante, o estranho que se descobre no descomhecido ou dele chega. Nao Ede espantar-se, por isso, que sobre os europeus que traficavam no Attntico ‘ de que procuravam cativos lamosto, de suas almadias, se tenha estendido, por quatro séculos, a suspeit para Ihes comer a carne — como gritaram para fos guerreiros que o enfrentaram na fox. do Gambia —, para transformé- -los em azeite de cozinha — como ji registrava, no inicio do século XVI, © jesuita Alonso de Sandoval* — ou reduzir os seus ossos a pélvora e fazer ‘com seut sangue tinta vermelha — tal como declararam, pela mesma época, escravos de Cartagena de fndias a Sao Pedro Claver."* As crengas no curo- peu eanibal ¢ no uso que Faria do sangue dos negtos para tingitroupas (ou preparar o vinho tinto) persistiram em muitas partes, até pelo menos o fim do século XIX, pois Gu iam o acampamento do wv Nachaigal as anotou entre os pagios que entu- dle Bagirmi.® Nio 36 entre Segu e Gimbia, nos iiltimos anos do Sete ntos, como testemunhou Mungo Park,!* mas também no Bunioro, seis décadas depois, como aprendeu John Hanning Speke, tinha-se © inglés por antupélago-" As pei dos afcans sobre 0 cpg a2 eco daria fs portugueses no impediam as vendas. Afinal, 0 escravo ndo era mais a em extra vivo de verdade, Ao prefer arr apsionado ase batido A manibeee tenis 159 escolhera a morte simbélica ¢ a desonra, Recolho das lembrangas de um inglés na Libéria esta quase historicta, que bem ilustra o que quero dizer. Um guerreiro mandinga, do alto de seu cavalo, grita para 0 adversirio a pé “Pare, ¢ seré um escravo! Ou corra, ¢ ser um cadaver!" Ele o punha, na realidade, diante de uma eleiyav entze dois tipos de more. ‘Ao nao ter sido abatido durante ou apés a guetta, a razia, a condena- 0 penal ou a disputa politica, 0 escravizado perdera tudo o que cabe 20 hhomem e © envolve. Morrera simbélica e socialmente, ao ser poupado. E talvez de modo ainda mais completo do que se rasgado pela Ianga ou dego- Indo, pois, além de ndo mais pertencer a um grupo social, deixara de ter antepassados ¢ descendentes, cortando-se, 2 im, a sua dimensio de eterni- dade. Como, apés seu falecimento, nfo tinha quem o lembrasse e por ele fizesse os sactificios devidos, a sua propria alma — isto se acreditava em boa parte da Africa — pronto se extinguitia Porque havia perdido a condigio humana, ainda que fosse valorizado como riqueza exatamente porque continuava 2 comportar-se ea trabalhar como smulher ou homem, nio havia escripulo em vendé-lo. A compra e venda de escravos no era entio uma atividade invulgar ao sul do rio Senegal. Os reis jalofos ja foreciam escravos ao Magrebe, antes da chegada dos portugueses Pelo menos é 0 que se depreende de Cadamosto, quando diz, de um daqueles soberanos, que nio so utilizava eseravos para trabalhar as terras dele, mas também os trocava por cavalos e outras mercadorias com os azenegues, shores das rotas caravaneiras do Saara.”” Da langa surge o cativo, mas & 0 comércio — repito — que faz 0 escravo. Ateis do soldado com seu lago, corte sempre, esbaforido, © mereador. Isto, quando num rei nio se confi dem os dois. Como viria a suceder, ¢ talver ji sucedesse, entre os jalofos. Os jalofos viviam ao sul do rio Senegal. Formavam um império que se estendia, a0 longo da costa, até a fox do Gimbia ¢ era constituido pelo teino do Jalofo propriamente dito ¢ por provincias ou reinos vassalos, que tinham sido independentes ¢ voltariam a sé-lo: Ualo, Caior, Baol e Sine. No diltimo, a populagio era predominantemente serere. Na metade do século XV, quando receberam os primeiros visitantes portugueses, o braque ou tei 160 Alda Ct Sie de Uslo, 0 damel de Caior, 0 bur ou bor de Sine ¢ 0 tebe" de Baol estavam subordinados a um rei dos reis, o burke de Jalofo, ou grio-jalofo, cuja capital se situava a uns 300km do litoral. Talves. jé entdo fosse frouxa a vassalagem m ao burbs, Pagavam-the tributos, prestavam-lhe que os demais reis presta fhomenagem, mas agian poli [As estruturas socias jalofas ¢ seretes cr [No topo, ficavam as familias reais. Logo abaixo, as linhagens aristocrats Em seguida, os homens livres, que formavam © eampesinato. Depoiss ots melhor, a0 lado, as eastas profissionais. E, no chio, a eseravaria. $6 dentre 1 de principes podiam ser escolhiddos os rei Se-se — com muita liberdade, mente — supde Itamente hierarquizadas.* yumas pouquissimas famil eae rae real, mais numerosa, compreendia vrios tipos de chefs ¢ os chamados “grandes homens livres", para distingui-los do homem live co- mum, que geralmente trabalhava o campo. E, como entre numerosos outros povos (os mandinga, or rwcaores* os snus ox dagons os fla os tunregues, os bambaras:* os songais, 0s moss ¢ os bobs.” por exemple), boa parte das atividades profissionais confinava-se ¢ se herdava dentro de familias endogimicas, num sistema semelhante a0 de castas. (Os fereitos (cujas mulheres so, em muitas partes, ceramistas), 08 joatheiros, os curtidores, os afaiates, os carpintetos, os pescadores, os te- ‘elles, os miisicos, os gros (historiadores e jograis) — a lista das ocupasSes castadas varia de grupo para grupo, mas os poetas ¢ os ferreitos Srgram em ade, indispensive! todas — permaneciam como fora da sociedade, indispensi desprevados. Os jalofos Ihes chamavam nbenhos ou niens. Nao podiam casar pred fem ter relagdes sexuais fora de seu grupo. Aqui, era-thes proibido comer za companhia de um homem Kir ow até entrar'na sua casa. Ali fo podiams 4 i, moravam em bairros ot beber a agua do mesmo pogo que os demais. Acolé, m wiles separados. Tale tvessem de ser mando apartados por cause do ‘od r que detinham: um poder sobrenatural, que se Fazia evidente ao trans- param o solo lteritco em instrumentos de ferro, a fazerem objetos ‘com as drvores que abrigavam os espiritos, ao mudarem as formas do mundo «até das pessoas, uma vez que, entre varios povos, eram os ferreitos os que circuncidavam os meninos, ¢ suas mulheres oleiras as que cortavam o clitoris das meninas. Consideravam-se os scus oficios petigosos — perigosos de- tmais para o homem comum, que deles devia manter-seafistado, Por esta razZo, o tipo de trabalho que fazia um nebo estava vedado a quem nio pertencesse casta apropriada. Mas talve 0 isolamento socal fosse também Armonia cothamis me 161 a maneira encontrada pelas arstocracias gue ali : sreiras para neutralizar a fo Politica que tinham em poténcia os que, aos olhos dos demais, a © fogo, a madeira ow a pal fora da sociedade, reel dominavam lavra. Em vez de um ferreito-rei, tinham um ferreito fo em sua casta. Além disso, impediam que a espe- que as labutas agricola. * André Alvares Almada," Francisco Lemos Coelho, Valentim Femandes™ ¢ os demais portugucses tomaram os castados por judcus, por- que 0s viam segregados. tinham fora da sociedade, de tal modo os jalofos, sereres e mandingas os gue os homens de casta no podiam pegar em. ata, Ser mortos nas guerras, netn, tampouto, esctavizados. De certa forma, Poetas, miisicos ¢ artesios conspurcavam © mundo, Por isso, os jalofos no enterravam os grits — pritica que persistiu até quase os nossos dias A fix do oco nas érvores, nelas os depend lis do im do Ic » nelas os dependuravam, conforme nos diz, 18 do fim do século XVI André Alvares d’Almada, e repete, com anos depois, Francisco de Lemos Coelho, acrescentando que as drvores que serviam de sepulero aos bardos se chamavam cabaceitas. Ainda que mantidos & parte pelo resto da comunidade, que os tinha por diferentes e, na maioria rnem sempre), como inferiores, muitos artest n esos enriqueciam, e alguns menestréis, depositirios da histéria do reino ¢ das familias reai pk exercer paptis politicos de relevo, como o de porta-vor. do soberano © seu ante, até mesmo nas relagdes com outros estados ___ Entre os escravos, distinguiam-se os nascidos na casa do senhor dos recém-capturados ou adquiridos. E tanto o eseravizado, @escravo de nascimento, ot jan janda, tied, que, me passava, a dos casos (mas diferengaramse do escravo de mi, dlesde seu ingresso na comunidade, tinha destino proprio. Nio se 2 no ser raramente, de escravo comum para o servigo do palicio, rem se fazia tampouco 0 percurso as avessas, Ao escravizado comum faltava qualquer amparo. Podia ser vendido como simples mercadoria. E: maltratado. E morto. A medida, entretanto, que se passavam os anos, geralmente melhorava o tratamento que recebia, see ae ae ‘modo imperit, fia do senhor. Sua '0 nto chegava, porém, a ser semelhante 4 do jam juundu, que 1: odin ser vendido, a nfo ser em easo de delto grave. Um ¢ outro dias 2 trabalhavam na casa do amo, no sew campound (0 espago cereado com 0 162 Abe de Coa Siu conjunto de habitagdes do chefe da familia, suas mulheres, filhos, noras nnetos ¢ demais dependentes) ou em vilarejos agricolas, sob 0 comando de tum feitor. Seria em aldeotas como essas que serviriam os eseravos que segundo Cadamosto, semeavam ¢ colhiam para o burka, assim como aqueles doados A mutheres do rei. a fim de que pudessem elas su proveito que retiravam de suas glebas."° Mesmo nessas viletas, a vida podia ser dura, se for verdade, como anota Valentim Femandes, que, de cada sete dias, 0 escravo comum labutava seis para 0 senor, tendo de manter- se com apenas 0 trabalho de um.** Ja 0 tiado eta treinado nas tarefas de manejo do estado ou nas artes das armas. Os reis nele se apoiavam para neutralizar a forga da aristocracia das linhagens. Era, por isso, um eseravo que se vestia de senhor: gozava das vantagens da proximidade e até do exercicio do poder — e muitas vezes nos séeulos XV e XVI, tedos cs deles no filam. F possivel dele abusava, O que nio se sabe & centre of jalafos,"* pois os croni se no provivel, que jt houvesse. Pois ano nos a presenga, no Mali, do sold>ts-escravo e do escravo administrador, desde 0 Trezentos. Desde 0 regreaso de mansa Mu bagagem essa pritica, comum nos estados mugulmanos. Como o Tacrur comegot a islamizar-se no século XI, nto é de afastar-se le trazido na de sua perogrinagio a Meca. Te também adotado. Se assim tiver sido, seria dificil que 0 império jalofo, a0 estabelecer-se, no século XII, XII" ou XIV," no imitasse os dois vizinhos. Sobretudo se cle, como jf se disse, se tiver fortalecido as expensas de Tacrur.** ‘© burba, o brague, © damel, © bur € o tenbe diziam-se moslins. Boa parte da aristocracia, também, Mas a massa de homens livres permanecia fel as crengas antigas, sacrificando aos antepassados ¢ cumprindo os ritos propiciat6rios das chuvas eda ferilidade.® Havia até quem se opusesse de frente ao islamismo, como os sacerdotes tradicionais, os grits e, mais tarde, os tedos, OQ manter-se > poder exigia, por isso, desses Feis maometanos que partici cerimbnias pagis © procurassem equilibrar-se correligio rios ¢ as de scus siiditos animistas. Pois, a0 que tudo indica, a realeza jalofa nfo tinha origem nem se fundava no Islame, Era mais antiga, anterior 4 conversio. Como tantos outros chefes africanos, tinham-se eles ritual com que ascendiam ao poder nada guardava de muculmano: um banho solene, durante Ualo, 0 brayue devia apanhar um peixe vivo com a mio dit por seres sagrados, responsiveis pela felicidade da grei. E Arminia co inds 163 Essas priticas deviam desgostar os homens pios. Como os ulemas ¢ marabus, alguns deles arabes ou berberes, que viviam ¢ pregavam nas cortes €-n0s vilatcjos. Varios eram somente elérigos, votados ao estudo, a0 ensino, 4 cura dos docntes ¢ a oragio. Seria esse 0 ideal dos diaangué;”" uma elite islimica de 20s manding: iakha, em Macina, aparentada aos soningués on saracolés que se expandi pela Senegimbia, fundando comunidades 20 longo das rotas de comércio.”* Os diacangués opunham-se 4 guerra (c até ‘mesmo a guerra santa) ¢ tinham eseravos que Thes faziam todos os trabalhos, a fim de que se pudessem dedicar 4s priticas piedosas, is atividades intelec- tuais ¢ As andangas missionsrias.”” Muitos, porém, desses homens de f — provavelmente a maioria — mercadejavam. islamismo expandiu-se pelo Sacl e pela savana gragas, em boa parte, a0 comércio, Atravessou o Saara com as caravanas, Instalou-se onde quer que mercadores mouros, soninqués ou mandingas erguessem o menor dos entrepostos. O Alcorio vinha junto com as barras de sal, os fardos de teci- dos. as fiiras de contas, as cordas de cauris, os objetos de cobre, os estos de tamaras ¢ as armas. Ia-se, depois, paulatinamente insinuando na virinhanga, gragas a0 prestigio de que gozavam as pequenas comunidades de forasteiros que, nas urbes ¢ aldcias, erguiam suas casas e depésitos em baittos a eles reservados, ou a0 longo dos caminhos e onde estes se eruzavam, ‘eos pontos em que embicavam as almadias ¢ as canoas, ¢ onde houvesse o que comprar ou fosse possivel vender. Amparavam-se uns aos outros, os que viajavam constantemente ¢ os que moravam junto aos mercados, Compartilhavam a condigio de comer- ciantes exilados, pertenci ; n em geral a uma s6 gente, exprimiam-se na mes- ‘ma lingua ¢, sobretudo, seguiam uma religiao que os singularizava no meio ‘em que tinham passado a viver. A gente local, devota de divindades ligadas um pedago de tetra, a uma fonte, a uma gruta ou a uma Arvore, via-os, com surpresa, quer fossem marabus, simples comerciantes ou juntassem na mes- ‘ma pessoa 0 mercador e 0 clérigo, carregar em suas andangas o seu deus dentro deles, © passava a consideri-los como detentores de algum poder especial, cujas rezas fortes se complementavam com 0 dom de fazer talismas eficazes. Como os grigris, uns saquinhos de couro, contendo um papel com 164 Aber dete Sis os guns, pendurdos a0 peseoso o costurados & roupa, protegiam contra a fetigaria © as armas inimigas. Ou como mas tabuinhas, nas quais escreviam palavras divinas e depois lavavam, para dar de beber essa Agua a quem desejava tuna graga. Mas, além de oferecer ease tipo de amuleto, eles ainda rezavam pata chover — ei islimica consagea sum trecho do Alc esse tipo de prece —, n 0 futuro — 0 que & regulado pela doutin — e administravam mezinhas aos enfermos. mandingas estabeleceram varias redes de pre (Os mereadores soningui intermediagio comercial que se estendia do Atlintico ao Lago Chade, das praias e das florestas is estepes ressequidas do Snel, subindo e ee Senegal, 0 Niger, o Gimbia e o Volta, ¢ passando, por seus afluentes, de tuma bacia 3 outra. Conforme a geografia ¢ a0 longo da histria, omaram distintos nomes, mas costumam aparecer nos livros como wangaras ou dias homes genéricos que se davan aos mereadores mugulmanos de lingua mandé (na aoe via Altca Ocidental, unger: na oeste, dul) (Ver © mapa "O Noroeste da Affica”,) No sentide estrito, uingara era aquele soningué que; j no século XII, era identificado como itinerante ¢ ligado a0 império de Gana, e que, depo ca de atuagio desde o alto Niger até a Haugalindia e as florestas acis. Pouco a pouco, ‘muitos foram abandonando 0 soningué ¢ adotando um dialeto mandinga, ‘dla, que acabou a cles se aplicando e assumindo o significado de mereador, © principal centro mercantil dos diulas era Jené, assim como se tinha Dia como a meteSpole comercial dos diacangués. No Niger Médio, esses comer- ciantes pertenciam a un outro grupo éinico e eram conhecicos como maras. ob 0 Mali e sob Songai, expand st ‘Chamavam-se fans entre os mossis ¢ dagombas,’* ¢ se expressavam no idio- ima de seus hospedeiros, © more.”* Como quer que se denominassem, esses comerciantes mugulmanos recebiam, nas praias do deserto, os bens trazidos pelas cifilas. Repartiam onde houvesse compradores, nas centre si as mercadorias ¢ as Jevavam pa canoas, no dorso de camelos, suas proprias costas ott nas dos seus escravos, cm canoas, i mo Lembo de burrs ¢ bois ou a cabeca de una fica de caregadores. Eas jam distribuindo pelos entrepostos, a0 longo dos caminhos. Os encarregados esses depositos escolhiam, entio, a boa hora de coloci-las no mercado. E de comprar os produtos locais, que iam fazer © percurso inverso, até os ccaravangarais 4 beira do Sara, Os entrepostos funcionavam também como hospedarias, casas de cimbio ¢ centro de producto artesanal © agricola Ammitacoliomlo 165 Néles, os comerciantes mais ricos mantinham escravos a cultivar a terra © ‘manufatutavam téxteis, roupas bordadas, artigos de couro ¢ de metal. No Giice Valentin Femandes relata-se que 0 sal em bartas do deserto «ta descarregado dos camelos em Tombuctu e passava para almadias, que subian o tiv até Jené. Ali, era trocado por ouro ¢ Ievado & cabega de escravos pata a regio das minas. Quebrado em pedagos, que se faziam menores de intermediério em intermediirio, o sal era distribuido pela savana e chegava 4 floresta.”” Em Valentim Fernandes, nio ha dévida de que, a partir de Jené, todas as transagies cram controladas pelos udngaras. Talvez. aos seus informantes tenha escapado que j4 cm Tombuctu 0 comércio mudava de imiios ¢ passava dos frabes ¢ berberes para os mandés. Eram estes que adqui- riam 0 ouro em Bambuk, Buré, Lobi ¢ no pais act. E da atual Gui abasteciam o cola nas matas do sul ionacri ¢ da Serra Leoa. E © sorgo ¢ 0 milhete com que némades camelciros. Ea pect sume de Bilma, [os tecidos marroquinos. Eo cobre de Takedda © do Magrebe. E os bastdes de ferro, as contas, as peles ¢ os couros. Compravam em grosso e distribuiam a varejo. Mascateando de aldeia em aldeia ¢ percortendo, incansiveis, as feiras dos arredores, compravam em pequenino ¢ juntayam as quantidades € os voli ames para a venda a distincia. "E se fiavam uns dos outros”, como esté no compilador quinhentista, “sem conhecimentos nem escrituras, ¢ sem testemunhas.” Formavam uma rede tio forte ¢ resistente, que, se 0 devedor morresse — e continuo a louvar-me em Valentim Femandes —, 0 seu filho oti herdeiro nao deixaria de pagar a divida Estamos diante de um complexo sistema de trocas assentado no cré- dito © na confianga, Que dava solidez, nest cio transaariano, Mas este tiltimo no passat margem do deserto, a0 comér- in perspectiva de quem ha- bitava ao sul do deserto, de uma parcela de algo muito maior ¢ muito ma antigo. Hi sinais de que, antes que surgisse, com 0 camelo, o tifico entre as dduas praias do Snara, ja se levava sal ¢ peixe seco da costa atlintica para o Niger, ja se trocavam produtos agricolas entre a sa ana ¢ a floresta, ja se intercambiavam, na linha do Sael, bois por milhete. A arqueologia encon- trou vestigios claros de que, desde o século II] a.C., em Jené-Jeno, is mar- gens do Niger, se mandava buscar ferro de longe se exportavam, nfo 36 para o deserto proximo, mas também rio abaixo ¢ tio acima, peixe seco, leo de peixe, artoz, sorgo ¢ milhos mitidos, além de manufaturas de barro, couro, palha, madeira, algodio, ouro ¢ cobre.”* 166 Abo di (ate Sie Os caravaneiros azenegues ¢ abes beneficiaram-se dessa ampla rede de trocas a distincia, que encontraram ao atravessar o Sara. E-contribuiram, sem diivida, para expandi-la, a0 alterar os habitos de consumo das clites, {que se tomnaram cada vez mais dependentes, até mesmo para exercer 0 jogo do poder, de bene conepicuos como as lis, os cetins e as sedas, as contas de vidro italianas, os cautis ¢ as conchas raras, os objetos de cobre ¢ os arreios claborados, ¢ de instrumentos de guerra como as espadas, os capacetes de metal, as cotas de malha ¢ os cavalos. Para obi poderosos, compensava esse espago que incessantemente se amp! produtos com boa demanda na Africa do Norte. Pontos que, sendo de compra, eram também de venda, Veja-se © caso dos escravos. Nio tenho deivida de que, j& antes de estabelecer-se o trifico entre as duas mangens do no baixo Senegal scriam remetidos para o delta interior do Niger. E viee- los ¢ servir aos clientes 108 wingaras ir cada vex mais longe © multiplicar, 0s pontos de compra dos ara, eseravos capturados versa, Dois, quatr comunidade sabia guranga para onde houvesse quem os adquiris 0, uma diizia de cada vez. Os prisioneiros que a ter condigdes de absorver ou de transportar em se- sacrificados aos deuses ‘ou prontamente abatidos. A demanda tinha o seu tamanho, ¢ esse tamanho, num sistema de escravatura doméstica, era reduzido. As caravanas transaarianas mudaram inteisamente a situagio. Transportavam em cada vviager’ snuitas centenas de escravos. Seus pontos de partida tornaram-se escoauouros seguros para os cativos que se produzissem em qualquer parte, até mesmo ali, na vizinhanga. E. que se obtinha por eles pagava o trabalho de conduziclos até a beira do deserto. Valia a pena até mesmo correr 0 custo € 0 risco de armazeni-los nos entrepostos 4 margem dos caminhos e de com cles na canga empreender longas viagens, durante as quais, uma ¢ outta ver se rebelavam € matavam os condutores Ao mesmo tempo que desenvolviam maneiras menos inseguras de transportar escravos, os traficantes foram aprimorando os métodos de co- alizagio dos demais produtos. Tomaram-se, se é que ja no cram, mereadores habilissimos. Que conheciam as preferéncias dos clientes. Que dificilmente se enganavam quanto a qualidade e a0 valor dos bens com que trabalhavam. Que escolhiam quando era melhor estocar do que vender Que desenvolveram técnicas para lidar com cada tipo de produto ¢ até ‘mesmo pata transportar a enormes distincias mercancias pereciveis, como a Arete ce lads 167 nor-de-cola, que, jf no século XII, chegava perfeta 20 Magrebe, ou como a malagueta, que, desde 0 Trezentos, saia do sul da Libéria c, apés passar por varias mios, terminava em Portugal ¢ na Espana.” Pelos tcrritrios jalofos passavam a cola e © ouro, a malagueta eo oro, a8 plum: 12 € 6 ouro, as peles ¢ © eure, © almiscar ¢ © Ouro, Oa cacraves 0 ouro. Na borda do Sael, acrescentavam-se a goma-laca eo Ambar-cinzento esses ¢ outros produtos, que, depois, atravessavam o deserto, sobretudo na diregio do Marrocos, mas também na de Ifriquia © de Barca. Os portugie- ses, a0 conquistar Ceuta em 1415, apoderaram-se de uma das pontas do percurso ¢ procuraram puxi lo para si. Nao o lograram de todo, porque as cafilas, que no queriam ¢ passaram a evitar aquele porto. iF com quem identificavam como inimigo, Ceuta era uma importantissima cidade comercial © manufaturcita Ali, mercadejavam-se agticar — nos seus arredores estendiam-se os ca- haviais —, 0 trigo, de que o Marrocos era grande produtor, a cevada, 0 anil, 0 cobre, 0 vidro, 0 coral, os tecidos dei © ouro e tudo o mais que os ianos traziam do leste do Mediterraneo € do Oriente, ¢ os negros, do além-Saara, Os seus comerciantes mandavam prepostos atravessar © deserto ¢ tratar diretamente com os fregueses do Sael. E a cles se somavam, numerosos, instalados na cidade, os estrangeiros: saracolés, mandingas, tucolores, cantris,” songais e soda, os perfumes, 0 escravo, abes © 08 it hhaugés, a adquirir cavalos, armas e produtos de luxo, ¢ egipcios, iraquianos, genoveses, venezianos, pisanos,florentinos,catalaes ¢ marselheses, querendo trocar suas meteadorias por ouro, Pelo ouro que era abundante, como também o cobre. Nao faltava tampouco, embora muito mais escassa, a prata Na casa da moeda que ali havia, © que teve fama, cunhavam-se dobras de ouro © uns dinheiros de cobre, que tomaram o nome da cidade, ccitis. Os italianos, catalies e franeeses reagiram ao intento portugués de ‘monopolizar © comércio do ouro. Se os portugueses, apés vencer Ceuta, ppassaram a ocupar varios outros portos do Marrocos, os seus competidores europeus (alguns deles, como os de Génova ¢ Florenga, favorecides pelos ‘mugulmanos) deslocaram os seus navios para outros ancoradouros ¢ 0s seus negécios para outras pragas, como Fez, Marraquexe, Safim, Massa, Tiinis, 168 Abe de (te Sie Hunain, Ori Barca." Depois, mandaram agentes entrar deserto adentro, num em 1447, ‘© genovés Antonio Malfante foi ter a0 Tuate. E diz-se que Benedetto Dei visitou Tombucts em 1469, Portugal, que comegava a descer a costa africana, procurou, entio, comtar o fio de um dos percursos — 0 que saindo de Uadam (ou Uadém), rho Adar mauritano, ia ter a0 uédi Dara e as cidades marroguinas do Atlin- tico frequentadas pelos italianos. Esse itineritio, dos mais antigos que csforgo para entender como se processava 0 tifico transaariano. atravessavam 0 Mauritinia. Os cle seguia para Tombuctu. De volta, vinham 0 ouro ¢ os escravos, que a, se reavivara, gragas A mina de sal de Idjil, na 1ecadores de Uadam levavam o sal para Tichit, de onde cram mandados para 0 norte. No inicio, todo 0 comércio 20 longo dos litorais mauritanos se fazia do proprio navio. Dele desciam os portugueses. em batéis, até as praias Mas que se recolhia desse deserto que terminava no mar, com uma gente que era poua, dispersa e pobre, quase nada somav: Nijo se cumpriam as esperansas despertadas em 1442, quando Antio Gongalves obtivera dos azenegues, em troca de dois mogos que Ievara um ano antes cm eativeito, ez negros de diferentes origens, um escudo de couro, varios ovos de avestruz ¢ tum pouco de pé de ouro, além da noticia de que havia naquelas partes mereadores que tratavam com 0 metal amarelo.” A noticia era verdadeira. Sé que 0 ouro passava a boa distancia do Titoral e para ele as eéfilas no se desviariam, em busca de tum possivel negé- cio com uns barcos que nfo se sabia quando chegavam nem quando part Era, assim, pouco que os portugueses obtinham nas praias: com muita sorte, de vez em quando, um punhado de ouro ¢ um, dois, trés, cinco ou 12 nogros. Todas as tentativas de chamar 0 comércio até a costa fracassavam — como deixa claro 0 relato que de um desses intentos fer Zarara no capitulo LXXXIX de sua Crénia que disse 0 escudeiro Joio Goncalves, conhecedor do idioma drabe, apis 0 teriam sido alvissareias as palavra sete meses entre os azenegues.™ Trouxe de sua estada no deserto muitas informagies (até sire» exietancia de reine dar Mali) 6, enter elas, & pneevel aque constasse a de que caravanas com milhares de camelos no iriam mudar de rumo, a fim de it traficar com alguns poucos batkis. Nem sequer parte de tuma delas, pois © proveito a ser obtido com as trocas ni justificariao risco Ammibees tents 169 de abandonar a protecio que a cafila dava a seus membros contra os rigores do deserto ¢ os que nele pirateavam. Nio adiantava acender fogueiras na praia para avisar a gente da terra de que chegara um barco ¢ se abria o escambo. Forga era criat-se um local conde aio se interrompesse o comércio ¢ cujos depésitos fossem sistemati- ‘camente reabastecidos pelas caravelas pelas naus. Um local que representasse ‘uma alternativa — uma altemativa mais proxima ¢ menos petigosa para quem partia do Sael — as pragas do sul do Matrocos. Foi escolhida para esse entreposto uma das ilhotas, Arguim, de wm arquipélago & entrada de um golfo, pouco depois do cabo inco. Na ifhota havia Agua doce em abun- dincia e nela se estabeleceu a primeira feitoria portuguesa, na mesma linha de Uadam, que ficava, para o interior, a seis dias de viagem na corcova de um camelo.* Quando Cadamosto passou por Arguim, em 1445, 0 encreposto, arrendado a um grupo de burgueses, jf operava havia algum tempo, ¢ se construia, para protegé-lo, uma fortaleza, © litoral deffonte nao era estranho aos azenegues que comerciavam com o sal, E nao tardou para que ocorresse 0 desejado, Certos mercadotes de Uadam passaram a trazer a Arguim algum ouro, e escravos, e peles de antilope, almiscar, goma-laca, marfim ¢ ovos de avestruz, alémn de gatos-de- -algilia, cabras, vacas ¢ camelos. © que os portugueses davam em troca eram roupas (albomozes, alquicés, alambéis) ¢ tecidos de I, seda e linho, de alto ¢ baixo prego (panos da Irlanda, panos franceses, sedas de Granada, mantas do Alentejo), atteios e selins, bacias de latio © cobre, objetos de prata, coral, pecras de cornalina, agafrao, gengibr, cravo ¢ pimenta. Mas a principal mercadoria era 0 trigo, de procura certa entre os némades. Sem esse cereal, a dieta deles reducit-se-ia a leite e came de camelo e a alguma cevada." ‘Ao acompanhar em Cadamosto,” Valentim Fernandes © Duarte Pacheco Pereita™ a composigio do comércio, vemos que sua estrutura pou co se altera, desde o segundo tergo do século XV até o inicio do Qi hentos. Do que nao sabemos — e eles sobre isto ficam perto do siléncio — € qual o seu volume. Deve ter sido sempre menos do que sonhavam os portugueses. Por algumas poueas décadas, Arguimn representost una forte espetati= sa de desviar-se para o Atlintico parte do trifico transaariano. O comércio ue ali comegou a dar-se foi o bastante para incentivar, durante o reinado de D, Joio I, uma outta iniciativa: a instalagio de um entreposto em Uadam, 170 Aled CaS no proprio ponto de saida das caravanas. © novo estabelecimento teve curta duragio. © feitor ¢ seus dois auxiliares nio aguentaram o clima do deserto ¢ enfrents tha hostilidade da parte dos azenegues, que tiveram de voltar para Portugal, com grande trabalho, risco © despesa.”” Nio valia a pena o softimento, pois os que buscavam tratar com eles em ‘Undam cram os mesmos, acrescenta um cronista, que iam tera Arguim.! A gente de Uadam podia convir mercadejar em Arguim, enviando para ali algum ouro (niio mais de 26kg a cada 12 meses”) ¢ um bom nimero de cescravos (entre 800 e mil por ano, segundo Cadamosto”), mas no estava dlsposta a abandonar as pragas marroquinas € os mercados de Tinis, Ori ¢ Barca e, muito menos, entregar 20s portugueses 0 monopélio de um comércio de que eram mestres. Mais alguns anos ea feitoria perder toda a importine’ Principalmente porque os portugueses deixaram de necessitar da intermediagio dos berberes, 20 estabelecer um bom trato com os res jalofos, ‘0 primeiro dos quais deve ter sido 0 de C Mal soube que se encontrava ancorado defronte de suas costas um daqueles grandes barcos portugueses, 0 dame (0 budomel do Enealhor, dos curopeus) saist até a praia, acompanhado por uns 15 cavaleiros ¢ 150 solda- dos a pé.”" Nio era a primeira nem a segunda vez que lidava com aguele tipo de forasteiros. E deles tivera noticias, muito antes de que os visse, por alguns szenegues, que Ihe contatarn come vinhans pel na tes. sas ¢ 0 que traficavam em Arguim e em algumas enseadas a0 norte do rio Nder. Esperava que cles trouxessem, dessa vez, mereadorias de seu desejo ede seu agrado — as morcadorias a ue se acostumara no comércio com 0 deserto: os tecidos, os cobres ¢ outras manufaturas do Marrocos ¢ do Egito, ‘as contas de vidro de Veneza, os cavalos e os arreios da Barbat cauris, o Ambar. Queria alquicés ¢ bedéns, trajes marroquinos que os seus tusavam com gosto, ¢ outras lis do Magrebe. Eas espadas com empunhadura sarracena, E 0 vasilhame de latio e cobre com as formas ¢ os desenhos habi- tusis. Para atender a coon demands, construida por eéculor de trifico transaariano, os portugueses tinham forgosamente de, primeiro, comerciar com os marroquinos, de comprar dos muculmanos os mesmos artigos com que estes obtinham dos jalofos, sereres, mandingas ¢ tucolores © ore, a A moni ceionks 171 nozrde-cola € os escravos.> Nio podiam aspirar a que as gentes a0 sul do rio Senegal accitassem de saida os linhos de Flandres, as mantas do Alentejo cou a cutelaria germinica. novos produtos iriam entrar na pauta do ‘comércio, mas lentamente e, por algum tempo, apenas como complemento dda oferta de bens que respondiam a uma oferta e a uma procura tradicionas. Esperava mais, o damel, Esperava que os portugueses, do mesmo modo ‘que 0s caravaneitos do Saara e os mereadores cujas almadias frequentavam a8 costas ¢ percorriam os rios, reconhecessem como dever rotineiro a entrega, dos presentes de agradecimento pela permissio para vender e comprar, a pga em espécie do que eram raxas de estada ¢ transit, E mais ainda, pois recebera o recado de que na caravels, além de outras mereadorias, vinham alguns cavalos da Ibéria, iguais ou semelhantes aos do Magrebe. Tinha ne- cessidade deles, Pois, nas savanas planas ¢ secas do pais jalofo, uma boa cavalaria podia decidir as batalhas, sobretudo naquela época, quando as tropas de muitos dos seus adversirios ¢ a maior parte das suas lutavam a pé, pela falta de montadas de qualidade.” Sobretudo de cavalos altos, istintos dos locais, petisos de cernetha tio baixa que pareciam péneis. Tinham os corctis de guerra de ser trazidos de longe, do Magrebe e das pastagens do deserto, E 0s seus plantéis necessitavam de constante renovasio, pois dificilmente esses coretis importados procriavam a0 sul do rio, Nio 36 os frabes e sanhajas evitavam vender éguas aos jalofos,”” como os potros mortiam facilmente. os cavalos adultos tinham em geral vida curta,"* pois os vitimayam varias enfermidades, entre as qu x transmitica pela mosca tsé-tsé. Era tio grande o empenho em aumentar 0 niimero de equinos de dqualidade, que Valentim Femandes ¢ Duarte Pacheco Pereira escrevendo na primeira década do século XVI, ou scjp, cinquenta anos mais tarde, stima- ‘vam que o rei (presumo que o burbs ou grio-jalofo) podia pr em campo oito sil!” ow des mil cavaleitos."" E uma centiria ¢ meia depois, Francisco de Lemos Coelho escreveria que qualquer dos cinco reisjalofos possuia em seus cexércitos mais de quatro mil avalos." Nesses niimeros podiam, contudo, star incluidos pOncis locais e os resultados de eruzamentos bem-sucedidos centre ac FEmeas desces cavalinhos baixos ¢ os cquinos importados. is a mais mortifera era a Nem 0 damal nem os seus siditos iriam perder aquela oportunidade de adquirir novas montadas. Até porque a posse de cavalos dava prestigio ¢ renome. Ji haveria entio, como cinco décadas adiante, quem nio se recusas- 172 _ Abn de Co Sie se a comprar nem mesmo um cavalo enfermo, pois, se morresse, cortavam~ “The o tabo ¢ o penduravam, vaidosamente, em suas casas, como prova de gue tinham sido donos do animal. © simples indicio de que tivera wm ‘cavalo realgava socialmente uma pessoa, niio s6 porque se considerava a ‘avalaria como a arma nobre, mas também porque 0» jalfos eram admiréveis avaleiros, Domavam os animais como ninguém. Se um deles dizia 4 sua ‘montaria que se deitasse, cla deitava-se. E se pedia que se levantasse,levan tava-se. Se o dono se punha a correr, 0 cavalo o seguia, qual um cio. E se aquele, num encontro armado, morria, o animal nfo saia de seu lado, Pelo menos € 0 que nos conta André Alyares d’Almada, no fim do Quinhen- tos.! E devia ser verdade, diante das acrobacias que fizeram em Lisboa, em avalos que ndo cram os deles, os acompanhantes de Bemot, durante a festa de batizado desse principe jalofo, em 1489." Quase duzentos anos mais tarde cabriola Dapper e, logo em seguida, por Je damel fez negicio com 0 capi seielhantes se um registeadar entre os jalofos por Olfert Barbot."** 10 da caravela, que se chamava Alvise Cal da Mosto, Este no nos diz. quantos cavalos trazia e yendew a0 rei de Caior, Fala em “alguns”, Seriam entre seis © oito, pois conta que o dame Ihe ofereceu cem escravos cm troca dos cavalos arreados e de algun ‘mais, mencionando adiante que © prego de um equine com sela, eabegio € freio oscilava entre nove ¢ 14 escravos, conforme a qualidade ¢ a beleza do animal, Acrescenta que vendeu fiado, que entregou as montadas ¢ as demais eadorias em confianga, inde depois até a capital. a convite do rei, receber 6 pagamento." Atuou, sem que disso soubesse, como um ings ox dia. nfo se decepcionow, Nio se decepcionou, mas tampouco saiu de todo con- tente dessa transagio € de quase todas as outras que fer no pais jalofo. Esperava ouro pelas suas mercadarias. Do rei, reecbeu excravos. Ese, nas feiras, conseguit algum ouro, foi pouco, um quase nada Pelo menos, asim deixou dito,!™ antes de partir para o rio Gimbia, com grandes esperangas Estas se frustraram, Quando subiam o rio, foram atacados por uma otilha de 17 canoas. Ou porque a gente da terra quis impedir que nela entesssrm os antropéfagos vindos do mar, ou porque algum de seus reis — talvez.o do Estado banhum de Jagra — tem 19s seus interesses mercantis 20 longo do Gimbia.' A recepsio hostil for- 1 ques estranhos afetassem ‘sou Cadamosto a tum retomo antecipado a Portugal, evando, de sua estada entre os jalofos, um pouguinho de ouro ¢ os seus escravos. Comercialmente, A manibaestbanbs me 173 a viagem nio deixara de ser um éxito, pois os escravos, com certeza, vende- ram a bom prego. E também encontraram compradores os papagaios, os couros de boi e as peles de outros animais, a goma, a cera, o marfim ¢ as plumas. Mas ficou no coracio do navegador, naquele ano europeu de 1445, tum travo de malogro. Era a ota o que useava. Pois era com 0 outro que se identficava, na Europa, a riqueza. Nas décadas e no século seguintes, seria quase sempre a mesma hist6~ ria. Os portugueses a pedir ouro; os jalofos e sereres a oferecerem escravos Nio o faziam por malicia, mas porque nio dispunham de ouro, a nto ser «em pequena quantidade, apartados que estavam das fontes do metal amarelo. Entre eles e as minas de Bambu (no alto rio Senegal ¢ no tio Falemé) ou de Buré (no alto Niger)!" mais que a distincia geogréfica ¢ o obsticulo das ceataratas de Fela estas impediriam, isto sim, que os navios portugueses om até-a regito aurifera ou stias proximidades!"! —, estendiam-se 0 rein do Tacrur € as provincias ¢ vassalagens do império do Mali, um Mali cujo centro de poder se deslocava cada vez mais para orste, pela pressio militar de Songai e pela atragio do ouro do Gabu € do sal do Atlantico.!"* E-as dificuldades que tinham os portugueses de chegar as zonas minciras s6 tendiam a aumentar, com a expansio, a partir do Futa Jalom, dos fulas de Dulo Demba.!!® E bem yerdade que o ouro muitas vezes atravessava ou tangenciava © Jalofo, a caminho de Usdam, Mas vinha nas sacolas dos mercadores man- dlingas e azenegues, ou cosidos as suas roupas, € esses nfo tinham por que ceder espaco 20s novos competidores de além-mar. Nem eles nem os dit gentesjalofos, sereres ou tacolores(iinteressados em intermediar o comércio entre os recém-vindos ¢ o interior) estavam dispostos a facilitar-thes os caminhos até Tombuctu¢ Jer onde — nisto acreditavam os portugueses se reunia 6 ouro sudanés antes de ertvar 0 Saara EE possivel, © até provavel, que wingaras tenham levado noticias tranguilizadoras aos mandingas que viviam no baixo Gambia ¢ aos seus parceiros banhuns"™* sobre aqueles que vinham nos grandes barcos com asas, Por isso, talvez, um ano depois, quando Cadamosto retornou a0 ri, ‘0s negros, em vex de hos tem suas almadias. Um deles subiu: num dos barcos e se entendeu com um surgi’ yat as caravelas, acompanhrat Levou, depois, os navios rio acima, até a terra do potentado local, 0 batimansa. Quem sabe se ji nio tinha instrugées para isso? Creio UT4 Ae a Cet Sie que sim, A menos que ele desejasse 0 encontro, no se chegava a um grande da terra como o batimanse (talvez 0 rei de Badibu'!) sem cumprir tum complicado ritual. Uma faixa a0 norte do rio. nbia ¢ todo 0 sul até rio Grande fazia parte do império mandinga do Mali!"® © rei dos reis ou mandimansa tinha ali prepostos, os fains, que governavam as provineias em seu nome, € era 0 soberano de virios reis vassalos, os mansas, como os de Brago (ou Brast), Songoli, Cantori, Niumi e Uli (ou Wuli), sob os quais se ainhavam diversos régulos ou chefes menor se no poder, mantendo em rel my formal ¢ ritual do que de fato, Um desses senhores, 0 manse do Gabu, Caabu, Cabo, Cabul, Guabu, Kabu ou Kaabu (0 caabu-mansa-ba), tomou-se 0 centro de uum sistema subimperial"” que se estendeu, no fim do século XVI, por bboa parte da Senegimbia, da Guiné-Bissaui ¢ da Guiné-Conacri. Embora se ‘considerassem vassalos do mandimansa, a quem prestavam homenagem ¢ por . Com 0 tempo, ts ¢ otros fortaleceram= io 20 mandimansa uma subordin: quem eram ungidos, sucessives mansas do Gabe acabaram por transformar 0 aque era um farim, ou provincia do Mali, na cabega de uma familia de esta- Jham ampla autonomia ¢ possivelmente 6 The pags- vam tributo formal e the forncciam ajuda militar, quando solicitada, dos." cujos reis mani possivel que a iniciativa de permitir a Cadamosto subir 0 rio tenha partido do batimensa, que seria um vassalo do Gabu ¢, consequentemente, do Mali, Nio leio no veneziano que ele tenha sido recebido pelo batimanss, Diz-nos apenas que foi tratado com amizade, tendo adquirido do rei alguns escravos ¢ algum ouro, bem menos do que esperava, Durante duis lias, « gente da terra comerciou com as caravelas, Trouxe panos de algodio, “mui- to bem-feitos” em tear estreito (brancos, listrados de azul e branco ou de branco, azul ¢ encarnado), ¢ gatos-de-algilia, ¢ macacos, ¢ frutas, ¢ um que outro anelzinho de ouro, E levou, em tro ‘ninharias”, coisas que, na Europa, valiam entre der ¢ cinquenta moedas de cobre.!”” Ali, porém, eram havia que agradar os forasteiros, para que voltassem, abrindo, assim, uma nova via de comércio. Cadamosto est soas que falavam outros idiomas que 1 novida ves. E phos queria das ranma fizessem com pes- ficassem com suas almadias a subir ¢ a descer constantemente 0 tiv. que eeeae pessone Mercadejavam nas eanoas, parando onde sentissem que havia oportunidade de trocar pelos produtos daqui os dali e os de acolé. Podiam vir de muito Amanita Uhaohy 175 longe, pois a Gambia fazia parte de um extenso sistema de redes mercantis que se estendia do Sael a Serra Leoa e a Libéria, do Atlintico a Gad e 20 lago Chade, e, a0 longo da costa, do Senegal até, pelo menos, 0 cabo Palmas.'" As margens do rio funcionavam como cais de embarque, desembarque ¢ reembarque de toda a sorte de bens — sal. ouro. ferro. cobre, lat2o,tecidos, contas de video, cauris, marfim, Ambar, cabasas, estei cestaria, tamboretes, pildes, eerimica, sandilia ‘manteiga de carieé, mel, pei noz-de-cola, malagucta, c moluscos secos, timaras, sorgo, arroz, milhetes, tpco mio, aves, bois amos e também exravoe, Es uns comderio em que alguns produtos chegavam em pequena quantidade, mas de pequenas quantidades compunha-se também, em geral, boa parte da carga das caravelas. Nama delas, Diogo Gomes percorreu 400km do Gimbia, até proximo 4s cataratas de Barracunda, onde se intcrrompia a navegasio. Naquele mesmo ano de 1446, A viagem nio deve ter sido ficil. Das margens, a gente da terra acompanhava o trajeto dos trés barcos muito altos com que entrou no rio ¢, depois, © daquele que prosseguia, sozinho, © percurso até Cantori (Cantor, Kantora ou Kuntaur), Os moradores dos mercados que pontuavam as barrancas do tio esperavam que neles parasse, para um comércio do qual jé tinham noticia, E estes aqucles viam, perplexos, em certas manhis ou fins de tarde, tum grupelho reunir-s beira do convés de um ds barcos, fazer sinais estranhos ¢ lancar as aguas um companheiro morto, Pois 0 Gimbia, dominado pela {ebre amarela e pela malitia do tipo mais Feroz, a Plasmodion falciparem, era um tio doentio, Como se anotou em Valentim Femandes."# E letal, sobretudo para os estrangeiros. Como aprendera, na primeira viagem, Cadamosto e, ainda mais na segunda, quando foi obrigado a sair do rio, porque muitos dos seus “comegaram a adoccer de febte quente, aguda ¢ continua”. Estava a meio a viagem de Diogo Gomes e, num s6 barco dos que o acompanhavam, jé tinham falecido nove homens; noutro, cinco." Passados poucos quilémetros da foz do Gambia, um chefe local, tam- bam vassalo do Mali, possivelmente, parte do sistema de reisclientes do mansa do Gab, trocou com Diogo Gomes uma quantidade razoivel de fouro por tecidos ¢ manilhas de cobre.!** FE cedew-the um guia (a quem o portugués dé o nome de Bucket, mas prova We se chamava Bocar ow Bacar," ow ainda Abubacar). Esse guia nio s6 ajudou Diogo Gomes a tratar com outros governantes mandingas ca deles obter licenga para que ” 0s barcos pudessem atravessar scus territorios © neles fazer comércio, mas 176 Aled at Sina antoré. Ali, Diogo Gomes foi cercado por muita gente. Vinda dos mais variados lugares. Do Niger, de Tombuctu, de Cuquia ou Gad e do Futa Jalom.* Gente acostumada a frequentar aquele grande mercado. E gente que fora atraida pela novidade da caravela ¢ pela persper ia de— quem sabc? —um novo tipo de trocas. Pois pelasalmadias jf deviam ter chegado os rumores de que uns novos wingers, de pele desco- orida como a dos mortos, estavam comerciando pelo rio ¢ para aise dirigiam. ‘Ao descer de volta 0 rio, Diogo Gomes foi tratando com mansas ¢ arin, E. também, provavelmente, com alguns chefes menores. Falow cara a cara com 0 balimansa, que veio vé-lo, acompanhado, como convinha a um rei, de grande tropa armada, e, apés receber 0 tributo de praxe, presenteou- <0 com trés escravos, ditas mulheres ¢ um homem. Esteve com o mansa de Niue com o rei de Alewet us an de ses pels de leopardo, Ihe mandou quatro negros com sua carga de dentes de elefantes."” isthe ao fesree wou igs Matin Beha ou Matsho , Diogo Gomes nio Ihe disse © que comerciou em Cantor’. Se 0 weas, Ou porque a informa- também conduziu a caravela até da Botmi disse, o alemio no tomou nota dessas suas p: lo cra desnecessiria ou porggie era imprucdente. Gomes adquirita de tudo o seu is que 0 Jos ¢ ouro, com certeza. pouco. Tecidos de algodio, eset: ‘ouro em pd, em barras, argolas ¢ joias, alvez tenha obtido alguma noticia clo, desde as distintas de como se processava © comércio do metal am iminas até os virios portos caravaneiros do Sac Para Vitorino Magalhies Godinho, a ida de Diogo Gomes a Cantor representa verdadciramente uma viragem na histéria do ouro sudanés" Na histéria da importagio do ouro sudanés pela Europa, com certeza, Mas io na histéria do comércio do ouro no Sudo Ocidental. Para os uéngoras, diulas © diacangués, para os tvis ¢ altos dignitérios de Tactur, Mali, Songai, Galam, Futa Jalom, Bigu ¢ Bono, a chegada dos portugueses ao alto Gambia tina o valor equivalente & abertura de uma nova rota caravancira, Nao mais do que isso, duas ou tr8s caravelas correspondendo a uma pequena cifila Havia que explorar, claro, esse novo caminho ¢ tirar © maior proveite pos- sivel da presenga dos novos competidores. Para obter-se mais em troca do cour, das peles, der marfim do es Por volta de 1460, 0 comércio entre 0s afticanos do rio Gambia e os portugueses tomara-se corriqueito."® JA se ensaiava até mesmo um trifico ilfcito, com barcos a oferecerem aos negros armas proibidas. Navios de SO Amita tnd 177 2 60 tonéis percorriam o rio, mercadejando."™ E chegaram a descer, no inicio do século XVI, 23 a 28kg de ouro por ano.!"" Mas, tanto em Cantord quanto, a jusante, noutra grande feira africana, a de Sutucd, e em Jalaneé, Dobangé, Janansura (ou Jamnam Sura) ¢ Uli, 0s portugueses punham a Imo to somente na ponta dos fios de um novel, ; uma vez que 0 controle do comércio, continente adentro, d . permanecia ciosamente guardado pelos ‘igcis¢ espertissimos mercadores soningués, mandingas, beafadas e banhuns. Nio mais se adquiriam panos listrados, gatos-de-algilia, monos, fru- we si eles ES Suro com “ninharias", como o fizera — € disso se vangloriara — Cadamosto, Agora cra necessério pagar com cobre, tecidos de it linho,roupas, capéus, coms de Venera Cceoce mas Ne = do século XVI, nio 36 as exigéncias se foram fazendo maiores, como, em alguns casos, as relagdes de troca evoluitam em favor de quem trazia 20 mercado 0 ouro € 0 escravo, Escrevendo em 1594, André Alvares d’Almada ‘momionava, entre os artigos que os portugueses tinham de trazer para 0 comércio na Senegimbia, ewalo, bret Ie tingidas de a de algodio indiano, contas de Veneva ¢ da {ndia, estas de tipos especiais (as chamadas “fémeas”, “do tamanho ¢ feigio dos bagos de roma”, as denon “cano-d pa de forma cilindries, © uma outra, redonda, lo tamanho de uma aveli ou mesmo maior), moedas de prata (que eram derretidas para fazer joias), vinhos, coral, ea ae ease papel (para uso dos bixirins ou ulemis mugulmanos) e cobre em manilhas, caldeirdes © bacias de barbear.! Era toda uma lista de bens que os Porcugueacs no compravant barato ou, se nao Ihes saia caro, tinham o valor mulkiplicado pelo custo ¢ o perigo do transporte, Se traziam de sua terra 0s. «avalos, os vinhos ¢ alguns panos (como as mantas do Alentejo), tinham de a or saris mas Malis, certs conchas grandes e vermlhas nas anarias, cobre alemio em Antuérpia ou Bruges, vidros na Itilia, espadasn: Alemanha, algodSes no golfo de Cambs ho ns Pac Banat mane 5 tecidos de li no Marrocos, contas em Veneza ¢ na {ndia, Em Valentim Femandes e Duarte Pacheco Pereira, temos isto claro: j no se obtém por um bom cavalo o mesmo niimero de escravos que dantes: de nove 2 14! ou de des a 12, : 4 baixaram pata seis ou sete." Ei Possivel que o mesmo tenha ocorrido com outros produtos cm relagio a0 ‘ouro, pois ouvimos repetirse nos testemunhos portugueses que 0 resgat aqui, ali e acolé, ta pon a se perdera ou jf nfo era o mesmo. Isto porque os mercado- 178 Aero dose res negros, muitos dos quais tinkam longa experiéncia em lidar com as caravanas do desert, ¢ quase todos dominavam as priticas da recolha e da distribuigio em grosso ¢ a retalho de bens, bem como as rotas, os segredos fas artimanhas do comércio inter-regional, pronto aprenderam a tratar com os portugueses. E também com os outros europeus que comes ddesimanchar © que se pretendia um monopolio, Fizeram-se mais exigentes. Regateavam sem cansaco, para conseguir deles mais do que pretendiam dar. Jogavam com a competisio de europeus com europeus, de europe frabes ¢ azencgues e de atabes ¢ azenegues entre si. Examinavam, media, pesavam cada mercadoria, Eram “muito entendidos” — vai-nos dizendo com E continus: “André Alvares d’ Almada — “assim nos pesos como no mais *“Trazem balangas mui suis, marchetadas de prata, ¢ cordies de retnis, Trazem ‘uns eseitrios pequenos de couro cx, sem fechos, ¢ nas gavetas trazem os PROS aque sto de ltio da feigio de dados; ¢ @ maven & como uma mag de espa ‘Travem esse uro em canos de penas grossis cle aves,ccmosson de gatos escondido tudo em atilhos metidos pelos vestidos. Tex deta mani, pore nos, ¢ sio roubados muitas vezes, sem embargo de passam por muitos reinos, ; trazerem as cifilas capities ¢ gente de guarda; ¢ ha cifila que traz mais de mil frecheiros.”" “boat preciso nfo iludir-se. Quando um negociante afticano dava almiscar por bizios ou por contas de vidro, nfo estava sendo enganado; obtinha © produto que queria; rracava algo para ele de menor valor pelo que conside- fava de maior prego. Na permuta de ouro por cobre, atuava como o chinés 0 indiano, que ao ouro preferinm @ prata. No que 0 ouiro tivesse pouco valor para os habitantes da larga faixa ao sul do Saara. Tinha muito, mas, na maioria dos lugares, menos do que © cobre ¢ suas ligas, como 0 latio. Ao trocar por ouro manilhas de cobre, Alvares dAlmada perguntou aos man- ddingas 0 que iam fazer com cla. lam levilas para longe — responderam —, eeu os, dos infitis), ‘nde as venderiam com lucto, pois aqueles, que as usavam como ornamento para o pais dos cafres (isto & dos nto mugulmanos, dos p ros bragos e nas pernas, as tinham em maior estima do que 0 euro, a eu dos. [am gastar muitos dias, ¢ até meses, n0 caminho © passar por terrae inseguras.!"” Mas levariam as manilhas para conde a velagio entre 0 cobre ¢ 0 ouro fosse Aquele om: ‘sla maior parte da Africa Ocidenta cioso, por sua escasse.¢ cariter magico. Usava-se nos Fitos religiosos © nos avorivel possivel 6 cobre era extremamente pre= A mania Wank 179 adomos dos reis e potentados. Para numerosos povos, era (juntamente com suas ligas) um poderoso amuleto, destinado a assegurar a boa sate, a favo- recer a fertilidade e a conjurar perigos."™ Acreditava-se, por exemplo, que prevenia o reumatismo ¢ imunizava contra as mordidas de insetos ¢ de co- bias. Por isso, valia muito. Muito mais do que © ouro. Mas na regitio do Gimnbia no eta cxatamente assim, A gente da terra tinha © ouro em alto apreso, ainda mais do que os proprios curopeus, como anotou Cadamosto. Pois © ouro, ali, também abrigava uma intensa forga sobrenatural. Competia ‘com o cobre, sendo usado como enfeite ¢ amuleto, Apesar disso, permuta~ no por cobre ¢ latio, embora quase peso a peso. O que talvez se devesse no 36 & necessidade de contar, para fins priticos, com metais duros de que cram carentes,” mas também ao fato de serem 0 cobre ¢ 0 lato matérias ‘migicas mais raras ¢ essenciais em certos ritos religiosos. Era, por exemplo, em bacias de latio ou cobre, ¢ s6 nelas, que se recolhia, em muitos lugares, 0 sangue dos sacrificios 0 ouro vi tincia e os riscos. Al a para onde desse mais Iucro, didos também a dis- m de Zamfara c de Kangoma (no norte da Nigéria), de Lobi (no Volta Negro) ou do pais act chegaria até 0 Gambia, mas pouco; 0 seu destino seria 6 de atravessar o Stara. O de Bambuk e de Buré cstava mais proximo daguele rio do que dos portos caravaneiros do deserto, mas, como esses tinham a tradiglo do comércio, provavelmente se dividivia entre virios escoadouros. Ji 0 das minas de Geba e de Corubal, caso ainda continuassem a ser exploradas."" saia ali do lado e nfo tinha por que fazer maior percurso, & nfo ser que no Gambia nfo conseguisse bom prego. Quanto aos escravos, continuaram a ser empurrados, em stia maioria, para o Saara. Nio que os portugueses nfo os adquirissem na Senegimbia © 60s enviassem aos trabalhos domésticos, a drenagem dos pintanos € a ou tras labutas na peninsula Thérica, © as Tides agricolas nas ihas de Cabo Verde ¢ da Madeira. Embarcavam quantos thes caissem nas maos € cou- bessem nos navios, mas os consideravam como do ouro. Enguanto isso, 1 n subproduto da busea cedia a demanda das cifilas transaarianas cestender-se do Atlintico a0 Nilo — e era mais alentada de sal e de eavalos. Sugere Robin Law que a venda de cavalos pelos portugueses, no fim do século XV c nos comesos do XVI, afastou do negocio, na Senegimbia, os traficantes transaarianos. Os mouros teriam sido deslocados do mercado por por cativos — a sua ofe 180 Aldea Su falta de condigdes para competir com os baixos pregos dos animais que desciam das caravelas. Teriam tido, assim, os portugueses um papel fundamental no ‘extrzordinirio incremento que tomou a cavalaria na regito, no periodo que de 14503 princi dea do culo XVII Teno mins divides E verdade que Cadamosto afirma, em determinado momento, que os av0s, 6 al trocavam com os negros um cavalo por dez, 12 ow 1S esc ppiginas depois, que se vrdia um cavalo arteado por entre nove e 14 esravos, do que se pode deduzir ter sido por esse prego que fechou negécio com 0 danel Saior.!* © que Icio, porém, cm outros textos portugueses do inicio do século XVI, sio repetidas frases de desalento pela queda na relasio entre cescravos ¢ cavalo, A impressio que me beira-mar (¢ talvez também no Sael mais ocidental) se tenha devido a um aumento repentino da oferta, resultante da presenga portuguesa. A um aumento, repito, ¢ nao a uma substiigao da ofera. Eat possivel que esse declnio os precos tena resultado de uma reagio dos caravanetos & entrada no mercado dos navegadores. Ou da asticia dos jalofos © mandingas que rapidamente ‘compreenderam que aos portugueses resultaria dificil evar os cavalos de toma- ade que a baixa nos pregos -viagem € que prefeririam coloci-los mais barato do que ter 0 prejuizo do — ‘Como quer que tenha sido, retito isto dos textos: se cait 0 valor dos animais, foi porque os africanos souberam barganhar a redusio do niimero de eseravos que davam por cavalo. O declinio no valor relative dos equinos parece colidir com as reite- radas afirmagies de que os afticanos da Senegimbia descjavam tanto os avalos, que compravam qualquer un, ainla que docnte.!# Se a demanda fosse assim tio forte, o valor dos cavalos no diminuiria. Mas diminuiu. O ae me leva a supor que talvez 86 se adquirisse um animal enfermo — e, CS por qi quase certamente, pelo mais baixo prego — para ficar com o seu rabo, Um abo de cavalo preso a um cabo de cobs lira esculpida, usado como espanta-moscas, dava lustre a quem portava. Sé os grandes fo. Ei S05, comprat-se-ia, portanto, © rabo (¢ nio podiam té-lo. Em alguns casos, comp Pp , cavalo que vinha com cle) — 0 rabo que era um bem conspicuo, cuja posse rata ou m: se exibia ¢ admirava, ¢ dai 0 seu alto valor. S6 encontro essa explicagio para © faro de granules cavalciros, que conheciam a fiando as suas montadas, quererem ficar, numa transag0 comercial, com animais docntes. Accitemos, porém, 0 enredo de que a baixa no valor dos equinos iia ou involuntiria dos tenha resultado, na Senegimbia, da agio volun Amaia eo tnmde 1ST portugueses para assegurar o dominio do mercado. Ainda assim, encontro dificuldade em admitir uma retirada dos mouros. O comércio de cavalos por escravos envolvia dois artigos de alta demanda ¢ dava Iucro nas das pontas: ganhava-se com o cavalo © ganhava-se com o escravo, Nio seri tus ou quatro escravos a menos em cada transagio que iriam reduzie subs- tancialmente ou desfazer um trifico antigo, no qual cram amplas as margens de beneficio. Creio que os cavalos trazidos nas caravelas no substituiram os que vinham nas efilas do Magrebe, do Egito, das estepes do sul do deserto c, também, de regides do Sacl ¢ das savanas subsaarianas onde boas pastagens -a auséncia da tsé-tsé permitiram que se procriassem equideos de qualidade. De outro modo, como explicar o extraordinério aumento de cavalos nos exércitos jalofos? Se os 500" ou 700" escravos exportados em média, por ano, entre 1450 ¢ 1500, da Guiné para a Europa, ¢ mais os 200 ou 300 postos nas ithas de Cabo Verde ¢ na Costa da Mina tivessem sido todos adquitidos com cavalos na Senegimbia, 4 r2730 de nove por um, teriamos centre 78 © 110 equinos anuais. Considerando-se a alta mortalidade dos animais © sua inexpressiva reprodugio, ¢ dificil entender como, no inicio do Quinhentos, 0 burh podia pér em campo entre oito mil ¢ dez mil cava- leitos, ¢ aquele a quem Duarte Pacheco Pereira chama tei dos mandingas, 0 dobro disso,'"” se tivessem de contar apenas com os animais que traziam as caravelas — poucos, aliss, em cada uma dela. © proprio Robin Law deixa, ass, claro, que © comércio transatlin- tico de cavalos 56 foi importante Scnegiunl sudanesa continuou a ser abastecido de eq * Todo resto da savant inos pelas céfilas transaarianas. evar para o norte da Africa a maior parte da escravaria e do ouro, Este, ‘mais do que por cobre, se trocava por sal. Eo sal que se consuwmia na savana na floresta, embora fosse produzido, na costa, pela evaporagio da 4gua do mar, ¢ retirado das Aguas de fontes salinas e da queima de folhas © raizes de algumas érvores, provinha sobretudo das minas do deserto, Pela lixiviagio dos solos salinos, em Aulil ¢ Bilma. Pelo corte do sal encontrado em estado sélido, em Idjl, Taoudeni, Tagaza ¢ Manga, Tathava-se 0 sal s6lido em grandes blocos retangulares! or que salam de Taoudeni tinham cerca de um metro de comprimento por 40cm de largura ¢ txts de espessura. Pouco dele se perdia ao sol © a chuva ¢ era mais ficil de transportar do que 0 ‘granulado, que viajava comprimido em cestos cabertos de esteira. © sal era, 182 Allen de Cote Sse por assim dizer, a mola das trocas transaarianas. Sem ele no se obtinha ‘ouro nem em Bambu nem em Buré. E os portugueses no se apossaram de suas fontes nem de seu comércio, ‘Tampouco chegaram as minas ou aos aluvides de ouro, Sobre de onde vinha © metal amarelo, sempre se fez. segredo, Os proprios mansas souberam, no apoget de seu império, que o controle militar das regibes das ‘minas podia significar a redugio ou o estancamento da oferta. Por isso ¢ no interesse do afluxo de ouro para o mundo mugulmano, evitara fazer contra os pagios de Bambuk e Buré a guerra santa, nfo os incluindo no Dar al- Harb, mas numa outa categoria, accita por alguns juristas, © Dar as-Subl (a casa da paz) ou Dar al-Abd (a casa da alianga), na qual se inclutam certos converter, desde que povos que podiam temporariamente continuar sem se : ‘ ‘pagassem um bom tributo."® As trocas de sal por ouro cram feitas por meio clos uingaras c, se a alguns deles se permitia 0 acesso as Areas produtoras, Ihes eram revelados os mistérios ¢ o ritual que envolviam a sua cata dngaras procuravam naturalmente manter os competidores ignorantes de como obtinham © ouro € proteger © seu monopélio até mesmo com a ressurrcigio de antigas balclas como a do “comércio silencioso” ou “escambo mudo”!" ¢ 0 recurso a historias fantasiosas em que os mineiros figuravam ‘com cabega de eachorro ou cram dados & antropofagia. Os portugueses, a0 frequentar as costas do Senegal ¢ da Gambia, fizeram com que essas deixassem de ser areas periféricas ou lindeiras dos impérios do Grio-Jalofo ¢ do Mali. Ao colocar nas mios dos reis, régulos « chefes locais cavalos e bens de prestigio, com os quais se atraiam novas fidelidades e se fortaleciam as antigas (aumentando, assim, 0 mimero de homens que podiam eles pér nos campos de batalha), os portugueses contribuiram (até mesmo a0 atuar como aliados militares) para alterar a correlagio de forgas politicas na Senegimbia. © comércio transatlantico apressou o deslocamento do centro de poder cdo Mali para o oeste, fortaleceu ‘© Gaba e estimulou 0 desmembramento do império do Grio-Jalofo, com a ampliasio da independéncia ¢ da autoridade do braque de Ualo, do damel do Caior, do bur do Sine ¢ do tenke do Baol. O que as caravelas portuguesas nio fizetam foi desarrumar 0 trifico transaariano. Até mesmo porque os scus tripulantes dependiam dos wingaras ou diulas para se abastecer de ouro, de coutos, de panos, de goma, de cera, de marfim e de escravos. Amita cetionlo =~ 183 Notas EE assim est em Viagem de Lisoe ila de Sio Tomé, escrita por um piloto Portugués em meados do século XVI (trad, do italiano por Sebastito Fran- cisco de Mendo Trigoso, Lisboa: Potugili, scp. 23), As edigdes anteriores cm portugués tiveram por titulo Navgut de ides dia de Sto Tomé trad direta do titulo da narrativa que figura em Giovanni Battista Ramusio, Nanigacion « Vig, ed a0 cuidados de Mariea Milnes, v. I, Torino: Giulio Einaudi, 1978, p. 563-88 (a primeira edigho & de 1550) Cap. XXXE map. 185 do vf da ed. sob o titulo Crinica do desabrimento ¢ ‘onguista da Guiné, org. por José de Braganca, Porto: Livearia Civilizagao, 1937, Pata muitos, como Costa Pimpio ¢ Duarte Leite, 0 verdadciro nome dda obra seria Crince dos fitoe de preficio A sua selegi iné(. Alvaro Jilio da Costa Pimp, no Ae texton dob de Zar, Lisboa: Livaria Cle, 1942, p11}. Em ed posteriots como ade AJ Dias Dini (Lisbon: Apeeia Geral das Calniss, 1949), Cri dos ft de Cand “Diividas problemas acerea de algumas teses da histéria da expansio", em Enaios, v. 2, Sob Histva de Portugal, Lisbos: Si da Costa, 1968, p. 75. ‘Zarara, ob. ct, cap. IX, p. 72 do v. I da ed. de 1937, A histria vem em Zura, ob. cts cap, LX, p. 73-6 do v. 2d ed. de 1937: «com pequenas diferengas de pomenor, cm Joo de Barros, dst Primera Décala, Live I cap. XIII, p, 51-2 da ed, revista prefaciada por Amba Baio, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1932. Joo de Barros, loc. cit ob. cit, cap. XXXI, p. 186 do v. 1 da ed. de 1937; ¢ Barros, ob. ct, Primeira Década, Livro 1, cap. IX, p. 35-6 da ed. de Baio. Joo da Gama Pimentel Baata, “A caravel: breve estudo geal", em Estudos de serps nasa, Lisbon: Impeensa Nacional/Casa da Moeda, 1989, v I, p. 23-4 Avelino Teixis dda Mota, “A descoberta da Guiné”, em Mar, aln-mar:etudes « ensios de Histria ¢ Gaegrafia, Lisboa: Junta de Investigasies do Ulteamar, 1972, p. 99-140, Duarte Leite, Aueat de “Crna dos feos da Guin, Lisboa: Bertrand, 1941, p. 164-8; Damio Peres, Hissri des dacobrimons portgues, Porto: Portucalense, 184 Aber da Coe Sih 1943, p. 92-101; Vitorine Magalhies Godinho (preficio ¢ notas), Dasunmtor sobre a exponsis portugues, Lisboa: Editorial Gleba, 1956, v.2, p. 240-5, 249-50, 254 ¢ 262-3. Essa era também a hipotese preferida por Las de Albuquerque, Jodo de Barros, ob. cit, Livro I, cap. XIV, p. 95 da ed. de Baio: Armando Puzane Conesto, "Subsidios para a hiswéria do descobrimento da Guiné do Cabo Verde”, Bolin da Agencia Geral das Cains, Lisboa, v. 4, n. 7 (outubro 1931), p. 3-39; José de Braganga, nota 2 4 p. 208 do ¥. 2 da sua ed. da obra dle Zutata; A. Fontoura da Costa, "Descobrimentos portugueses no Addintica na costa ocidental africana do Bojador a0 Cabo de Catarina”, Publiages do Congreso do Mundo Portugués, Lisboa, 1940, v. 3, p. 234-86, Também Joio de Barros, loc. cits Manuel Faria de Sousa, dsie Portguesa, trad, e Isabel Ferreira do Amaral Peecira de Matos ¢ Maria Vit6ria Garcia Sa 10s Ferreira, introd. de M. Lopes d’Almeida, Porto: Livtatia Civilizagio, 1945; ¢ © Visconde de Santarém, na sua ed. de Zarara, Chroma do Decobr- mono ¢ Conguisia da Guiné, Pars: JP. Aillaud, 1841 De Prima Inventione Caine, incluido no Cédice Valentin Fernandes, leivura paleogeifiea, notas¢ indice de José Percita da Costa, Lisboa: Academia Por- acsa da Histria, 1997, p. 277-309. André Alvares d’Almada, Tratado breve dos Rios de Guiné ¢ Cabo-Verde desde 0 ris da Ganagé até os Besos de Sant’Anna ee. ee, ed. org. por Diogo Kapke, Porto: Tipografia Comercial Portuense, 1841, p. 27-8. Ou Nyon Sere, Serer ou Siri Como quer George E. Brooks, Landlords and Sirangers: Ezlegy, Sve, and Trade in Western Africa, 1000-1630, Boulder: Westview Press, 1993, p. 126. Bissagss, Bidieg, Bidongs, Bin, Bog, Bic ons Bigs. Almada, ob. cit, p. 54. Viagens de Luis de Cadamosto ¢ de Pedro de Sintra, com notas de Damifo Peres, Licboat Academia Portuguesa da Hietéria, 1948, p. 172; ¢ “Le Navigazione di Alvise da Ca’ da Mosto ¢ Pietro de Sintra", em Ramusio, Navision ¢ Vig Edigio de Marica Milanesi, Torino: Giulio Einaudi, 1978, v. 1, p. S34. Falupes, Felip, Foup, Fp, Fp, Hulyf; Karon ou Uf A merit rs thanks e185 Citi, ob. cit. p. 71, 91e 110 (0 texto é de 1507). Esneralde De Situ Orbis, com introd. ¢ notas de Damizo Peres, 3. ed, Lisbon: ‘Academia Portuguesa da Histéria, 1988, p. 186 (a obra foi possivelmente redigida de 1505 a 1508, conforme Jaime Cortes Drimentos portagueses na hist ‘Influéncia dos desco- ia oa civilicag , Hire de Portage, ov por Damito Peres, Porto: Portucalense Editora, ¥. 4, p. 228). Robert S. Smith, “The Canoe in West African History", The Joumal of Afrian History, v. XI (1970), n. 4, p. $18, Robert S. Smith, Warfare and Diplomacy in Pre-Colonial West Africa, 2, ed, Lon dees: James Currey, 1989, p. SI Vigges, ob. city p. $5 do texto italiano da ed, de Damio Peres; ¢ p. S18 de Ramusio, Navgeson! « Vig Smith, Warfare and Diplnayy ob. cite ps 74 Cries, ob, ap. LXXXVI, p, 206-8 da ed. de 1937. Barros, ob. cit, Livro I, cap. XIV, p. 5 ap. XCI da ed. de Baifo, Crna, ob. Asa, ob. ci /, p. 252-60 da ed. de 1937. Livro 1, cap. XV, p. 58-60 da ed. de Baito. ‘Asia, ob. cit, Livro Ul, cap. I p. G4 da ed. de Baio: "E posto q tudo 0 a mayor parte do que € qui escreémos sj trada da excriprura de Gomeseaanc (..)” “Vino, ob ct, pe A723, Ibidem, p. 168. Devo a José Ramos Tinhorio (Os ngrs om Porgal an peng sto, Lisbo Camino, 1988, p. 100) o haver sublinhado no texto de Zasrara (ob € cap typ. 209 da ed. de 1937) aexistincia, na tipalsgio de uma carvela poraguesn, dese gqings, “que fora filado com os princiros que flharam em aquca tera \Vejam-se os biombos do Namban Bunkakan (Museu de Cultura Namban), de Osaca, dos quais um par, atrbuido a Kano Mitsunobu (1565-1608), se reproduz nas p. 186 e 187 de Jaane Th Siping of Daimyo Culture, 185-1868, catilogo org, por Yoshiaki Shimazu, Washington: National Gallery of Ar, 1988; os atribuidos a Kano Domi cos da autoria de Kano Naizen, no Musca Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, reproduzidos em Biamfss Nandan, de Maria Helena Mendes Pinto, Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 1986, 186 Ate de Cote Se Isto & 6 que nos diz Cadamosto (Vagos, ob. cit, p. 148-9), mas sua afiema- ‘0 jf foi posta em divida por A.C. de CM. Saunders, Histria social dos serves ¢ liberi meres em Portugal (1441-1955) Casa da Moeds, 1994, p. 38, que indiea m cartas de alforria da época ainda existentes qualquer mengio a esse motivo para a aquisigho da liberdade. Lisboa: Imprensa Nacional/ ter encontrado nas poucas Viagens, ob cit, p. 148-9, Ibidem, p. 140. ‘Zawvara, ob. cit, cap. XXXV, p. 206 da ed. de 1937. Vaages, ob. cit, p. 125. Ibidem, p. 154. De Instanranda Aetbiopum Salutes EL mundo de ls esclaind negra en Ameria (Fac~ ile da primeira edigio, Seviha, 1627), ed. de Angel Valticrra, Bogo Biblioteca de la Presidencia de la Repiiblica/Empresa Nacional de Publicaciones, 1956, p. 107. John Thomto: Cambridge Allan GB, Fisher © Humphrey J. 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Klein, “Servitude among the Wolof”, ob. cit, p. 341 188 Aber dane Sve tale ¢ Barry, ob. cit, p. 461-2, © Nehemia Levtzion, “The Western Maghrib and the Sudan”, em Te Cantride Hisory of Afra, org, J.D. Fage e Roland Oliver, v. 3, org. Roland Oliver, Cambridge: Cambridge University Press, 1977, p. 484. J.D, Page, “Upper and Lower Guinea”, em The Cambridge History of Africa, v. 3, ob. cit, p. 484. Citi, ob. cits p. 9. ® Surce-Canale ¢ Barry, ob. cit, p. 467. 7 Jacancas,jagancazes, Junk? ox Jasanes ® Lamin Sannch, The Jebinke, Londres: International Africa Institute, 1979, p. 1331, lism in West Al 1, p60, nota 5 The Isa ep. 63-4. Lamin Sanneh, “The Origins of Ch Journal of African History, v. XVI (1976), 7 Juss ful, % Daghonba ow Npwana 2% Nehemia Levtzion, Andon Ghana and Mali, 2. ed, Nova York: Afficana Publishing Company, 1980, p. 164-70; Paul E. Lovejoy. “The Intemal Trade of West Aftiea before 1800", em History of Wot Afric, ¥. I, 3, ed ob. cits p. 665 € 67 7 Cie, ob. cits p. 35-6. 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Niane, Londres: Heinemann/ University of California Press/Unesco, 1984, p. 304 Armani ce itands 189 Kani os Kanour, Levezion, “The Western Maghrib and the Sudan”, ob. ct, p. 450; ¢ Vitorino Magalhies Godinho, Os deabriments ¢ a aonomia mundial v. 1, 2. ed, revista, Lisboa: Editorial Presenga, [981, p. 75-6 ¢ 140-1 Zaara, ob. cit, cap. XVI, p. LUT do. I da ed it Ob. cits wp. 227-30, Ibidem, cap. XXIX ¢ LXXVIL, p. 178 do v. Ise p. 164-9 do v. II da ed, cit Vinge, ob. cit, 102. Cie, p. 102 ¢ 102-4 Esmee, ob. cits p. 103-4 Chl, ob. cite ps 23-4, Famers, ob. cit, p. 89. Ibidem, p. 92 Jorto de Barros, ob city Livro IL cap. 12 , p. 117-8 da ed. de Bato Magalhaes Godinho, Os dacbriments ¢a nomi mundial, v. I, ob. cit, p. 150. Vigoss ob. cit. 104 Ibidem, p. 124-33, Levtzion, “The Westen Maghrib and Sudan’, ob. cit, p. 453; Jean Boulégue, “L’Mfique", em Michel Balard, Jean Boulégue, Jean-Pierre Duteil e Robert Muchembled, Les Civilsatons du monde vers 1492, Paris: Hachette, 1997, p. 134.6 142. Viagns, ob p. 121 Curtin, Hronomic Charge in Prcloial Afric, ob. cite pe UI Viagns, ob. cit p. 121-2 © 141-2; Cite, ob, cit, p. 58; Leto Africana, La escrisone del’Afric, em Ramusio. Nevgacioni ¢ Viaggi ob. cits v. I, ps 379. Sobre as doengas que atacavam os cavalos no Sudio Ocidental, Robin Law, The Horse in West African History, Oxford: International African Insticute/ Oxford University Press, 1980, p. 76-82; ¢ James LA. Webby Jr, “The Horse and Slave Trade between the Westem Sahara and Senegambia", Th jnral of African History, v. 34 (1993), n, 2, p. 221-2 ¢ 228-9. 190 — Aber da Cota Side Cia, ob. cit, p. 58. Fsmeala, ob. cit, p. 47 Druas dries seizes, ob. city p- 10. Cilie, ob. cits p. 66. rata bree, ob. cits ps Barros, ob. cit, Livro Ill, cap. VII, p. 97 da ed. de Baito, Barbot on Guinen: The Writings of Jean Barbot on West Afric, 1678-1712, org, por PH. Hair, Adam Jones ¢ Robin Law, Londres: The H 1992, v1 p. 90. Viagns, ob. cits p. 124, 125, 141-2. Ibidem, p. 141 Ikluyt Society, Como prope George E. Brooks, ob. cit, p. 128-9. Sobre as minas de Bambuk « Buré, Alberto ca Costa ¢ Silva, A asada lenge a Africa ants dos portuguss, 2. ed. re%., Rio de Janceo: Nova Frontera, 1996, p 266-7, 301-2, 312-3, Cid, $7; Pacheco Pereira, ob, cit, p. 98. A respite, Nehemia Levtzon, Anion Ghana and Mab, oy cit p. 84-102 Alvares d'Almada, ob, cit, p. 33 Bainuk, Barkin, Bebur, Bonnun, Baryorg, Buxyun ou Berns Como props JM. Gray, A Histor of Gambia, 1940, p. 6 € 8, © confirmaia Jean Boulégue, La Sndgbi du iw du XV" se au db du XVII sie, Pav Ronéo, 1968. Para George E. Brooks (ob. cit, p. 130), seria o chef do reino banhum de Jaga. Sobre 0 império do Mali, ver Alberto da Costa ¢ Siva, ob. cic, p. 303-18, 515-6 ¢ 610-11 Levezion, Andent hone and Mali, ob cit, p. 95; Walter Rodney, “The Guinea Goast", em The Cambridge History f Africa, v. 4, org. por Richard Gray, Gamba: Canbidge Univesity Pres, 1975, ps 281. Carlos Lopes, Katha eps, rite pdr na Gxind-Bisan, Cinbia¢ Catone précis trad. de Maria Augusta Jidice © Lurdes Jdice, Lisboa: Comissio ‘Nacional para as Comemoragdes dos Descobrimentos Portugues, 1998, p. 80. Amanita esti = 191 Viger, ob. city ps 162-4. Ver George Brooks, ob. cits p. 49-96. Cie, ob. cits p75. Viagens, ob. cit, p. 161 € 165. Conforme nattou Diogo Gomes a Martin Behaim, De prima inventions guine, ob, cit, p. 291 Ibidem, p. 289 Como sugesin Antinio Carta a Teixeira da Mota, Mar, lan-mar, nota 131 De Prima Inventone Guier, ob. cit, p. 291; ¢ Valentim Femandes (Cie, ob. cit, p. 75), meio século depois, o confirmaria De Prin lnentone Gunes, ob. cit, p. 292. (Os descbrimentor¢ economia nadia, ob. cit, p. 152. Teixcita da Mota, Mar, slén-mar, ob. cit, p. 175. Magalla Godinho, Or deusbrimentos ¢ a enomiz mundial, ob. city p. 161 Curtin, Hronomic Charge, ob. cit. p. BI Tratado bw, ob, cit, p. 16 6 28 30. Viagens, ob. cit. p. 142, Pacheco Percia, ob, cit, p. 103. Ibidem, p. 103, 104, 1115 ¢ Cidiz, ob. cit, p. 79. Tratad brew, ob. cit, p. 30. Ibidem, p. 31 Ver Eugenia W. Herbert, “Aspects of the Use of Copper in Precolonial West Africa”, The Journal of Afrian History, v. XIV (1973), n. 2, ps 179-945 € Red Gal of Africa: Copper in Precslonial History and Culture, Madison: The University of Wisconsin Press, 1984, Vagos, ob cit, p. 163. ‘Como propdean A. Teiscira da Mota © PIRH, Hait, Eat of Mon: Afro-Enroan Relans on the Gold Coin be 1550s and 1560s, Madison: African Studies Program/University of Wisconsin, 1988, p. 27 192 > Albre de Gat She MA. Teixeira da Mota (Guiné Pornguass, Lisboa: Agencia Geral do Ultramar, 1954, v. I, p. 180-4) supds que estivessem abandonadas desde a metade do século XV, porque delas nio deram noticia os portugueses, quando li chega- 82 Te Hose in Wes Afican History, ob. cits p. 49, 52-3 "8 Viggen, ob. cits p. 104, “ide, ob. cit, p. 66 "5 The Alamtic Slave Trade: A Census, Madison: The University of Wisconsin Press, 1969, p. 18, 4 Hisory of Saar, Londres, 1950, v. 2, p. 283. 1 Fameralie, ob. cit, p. 107. "4 The Horse in Wea Afran History, ob. cit, p. SL © Cuatin, Economic Change, ob. cit, p. 224, : : + Myth and "© Acompanho Paulo Femando de Moraes Fras, “Silene Tene: Myth eet em History in Africa, Waltham: African Studies ps Historical Evidence” Association, Bradeis University, ». 1 (19 1 Como se aventous no Cid, ob. cit, p. 36; Moraes Farias, ob. cit Levtzion, Ancins: Chana and Mal, ob. cit pL A (sta do Ouro CT cine «Jené eram cidades-itmas! Ou, quando menos, bcs. Des deo século XII, tinham os seus destinos vinculados, Complementavam- “st: 2 primeira, porto do comércio transaariano; a segunda, centro produtor € armuzenador de produtos agropecuirios ¢ entreposto de trocas com a savana, 0 cerrado ¢ a florest ‘0, Tombuctu reccbia © sal, ¢ em Jen€ comerciava-se 0 ouro, conforme se registrou com nitidez nos manuscritos de Valentim Femandes2? Em Tombuctu, parte dos comerciantes cram berberes, érabes e judeus, vindos da Africa do Norte, do Oriente Médio ¢ do Szara. Em Jené, predominavam os soningués ¢ juts mandés, Nox mereados de Tonibuciu via-se gente de todas a origens — tucolores tratando com tuaregues, iraquianos lidando com mulatos, ceipcios mostrando tecidos a malingués. Nos de Jené, quase s6 se viam rostos negros, os diulas ou wingers conteolando inteiramente as trocas Jené tomara-se, desde © dectinio de Gana, a metrépole do ouro do Sudo, Para ali os mercadores mands dirigiam parte do que iam buscar, rio acima, em Buré ou, passando por terra para a bacia do Senegal, em Bambuk, enderesando o resto a outros entrepostos e portos caravaneiros, como Uadam ¢ Ualata, Do ouro de Zamfara e Kangoma, sé uma pequena parcela iria ter, apés cruvar a savana ¢ subir o Niger, a Jeng; o grosse sairia das cidades haugis e de Bornu diretamente para Agadés ou Bilma. Mas, do que se extraia em Lobi ¢ mas florestas acis, a quase totalidade era levada para Jené, um pouquinho apenas sendo encaminhado para o Gambia, Desde talvez.o século XIV ¢, com quase certeza, a primeira metade do Quatrocentos, os dius se foram instalando ao longo dos caminhos que ‘a. De modo muito esquema

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