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(Os tiposide texto « ‘Oqve, afinal, um texto? .. Texto Complementar Redacéo de Salo 2- Modalidades da redacdo Modolidades da redacéo «. ‘eto Complementor Redacéo de Sola 3- Definindo a narrative Nortativa Texto Complementar Redacéo de Sala a 4- Os componentes narratives .. Personagem Tempo. Espace ‘AcGo Terto Complementar Redacdo de Sola $- Foco narrativo.. Autore nerrador: diferencas Texto Complementor Redacéo de Sola 6- Os discursos. narratives Tipos de discursos Texto Complemenior Redecaode Sola Exercicios Propostos 7=Planejando © texto narrative... Lendo um exernplo Texto Complementar Redacéo de Solo : 8- A verossimilhanca narrative ... Inireducéo Texto Gomplemeniar : Redagéo de Sola es 9- A narracéo ¢ 0 uso dos clich8S Clich&s: um perigo para as narrativos Testo Complementor Redagéo de Sola 10 -A construcdo da personagem Texto Complementar Exercicios Propostos, 11 -A construgéo da espacialidade © cenério ¢ 0 resultado narrativo... Texto Complementar . Redagio de Sola i 12 -A construcdo da temporalidade ae ee pe ee SSUSREBSLSESESFESSSSSBSBSD 13 208 dex pecados mortais da narracao Dez pecadios moriais Texto Complementar Redacée de Sole 14 -A dissertacao Disseracdoi que, como é, pora 0 que serve? Teo Complementor Redagéo de Sola 15 =As coracteristices do lingvagem dissertativa ‘As diferencos entreflae escrito Texto Complementar Redagéo de Sala 16 -A diviséo estrutural da dissertacéo: a tese, @ arqumentocde © 0 fecho.... 71 Texto Complementar.. Redactoid@ SA6 sn 17 - Os'fipos de tese: como Iniciar uma dissertagio . ‘Como 6 quese comeca uma dissertac60? Texto Complemeriar 5 | Redacée de Salo nnn % 18 - Os fipos de argumentagéo: os parégratos me sia porigrafo orgumenitiv0 nnn B Tarts Complementar 8 Redagée de Sola 8 19 -Os tipos de fecho: como concluir uma dissertacéo # Ofecho no texio disserative Bs Texto Complementar 5 Redagéo de Sola % 20 - Dez pecodos mortais da redagdo dissertativa I. 7 Texto Gomplementar 8 Redacée de Sola : # a 98 % 9% % wy 8 SSIVERTABSBS 21 -A delimitacéo do tema: riqueza dissertative : Texto Complementar : Redagio de Sola 22 ~Coesto e coaréncia |: mecanismos de coesio Texto Complementor Redacto de Sola... 23 -Coeséo e coeréne Texto Complementor I: articulagéo RedacSords Salat. 101 24 - Coes60 @ coerdncia Ill: a macroestrutura do texto dissertativo wun. 102 Os defeitos de um texto pora vestibular ‘Texto Cortiplomentr «.. Redacéo de Sala 25 “Deducao e inducso.... Texio Complementar.. Redacto de Sala 26 - Dez pecados montais do redacoo Texio Complementar Redagae de Sola E 27 -& redacéo subjetiva ~ 08 temas subjetivos Teo Complementar . Redacao de Sala... a 28 -Redacao reflexiva — os temas filos6ficos ... Texto Complementar .. Redacao de Sala 29 -# carta Texto Complementar Redagéo de Sale 30 -Elaborando um projelo de carla posse & passo Texto Complemeniat Redacio de Sala Goberits ‘Cerlos Drummond de Andrade. “© lutador* em Nove Reunigo. ‘Arosa do povo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. > O que é, afinal, um texto? Cu) Falar & uma coisa... escrever é outra (e constante) pergunta que os alunos fazem aos professores de redacdo ¢ a seguinte: como é jque eu aprendo a eserever? ‘Acresposta é.a mesma, sempre: ~Escrevendo; escrever se aprende escrevendo! Isto quer dizer, em breves palavras: treino, perseveranca e até uma boa dose de teimosia! Ninguém nnasce sabendo escrever bem. E vocé pode aprender a fazer isso invejavelmente, desde que se disponha a trabalhar ideias, ler muito (jornais, livros e revistas), ouvir os outros, falar e, sobretudo, redigir os temas propostos, E religiosamente, 'Na redacao, como em outras reas do conhecimento humano, noventa € nove por cento da producao € trabalho e transpiragao, ¢ o resto ¢ inspiracdo. ‘Bom lembrar, ainda, que nenhum curso do mundo pretende transformar o aluuno em um eseritor de renome, mas sim fazer com que escreva bem para o vestibular, com aprecidveis qualidades do texto, capaz de tomar eonfortével o seu desempenho diante de uma prova. Kescrever & sempre assim: $6 comecar. As vezes vagarosamente, porque é mais que sabido 0 fato de que escrevernos apenas sobre 0 que sabemos. E vale lembrar mais uma yer; antes da escritura propriamente dita, existe uma fase em que é preciso dispor-se a amealhar conhecimentos; ou seja, ‘vooé vale aquilo que sabe, conhece ou domina como assunto. Escrever exige preciosos estigios anteriores: ver, sentir, ouvir, ler e, finalmente, colocar nutn Papel, por escrito, aquilo que esté no mundo. Em outras palavras, o curso de redacao € coadjuvante para a obtengio de um bom texto: parte do processo € seu (esforgo, abnezacdo, teimosia) ¢ outra parte E dedicago do professor (técnica, acesso ao processos realizadores da redacio, treinos). E um projeto conjunto, faga a sua parte. Saber organizar seu pensamento, questionar sobre os temas, ter (€ dar) opinio sobre os assuntos, {sso 6 tudo o que voce deve esperar de si mesmo(a) e do que aprenderd. E lembre-se de unta coisa nos vestibulares da vida, 0 cartio magnético para abrir a porta das universidades € a sua redagdo. E. fazer um bom texto depende de conhecer a sua lingua, reorganizar seu estilo, fazer-se compreender, Falar 6 uma coisa... eserever & outra. Falar é expressar-se por meio de gestos, pausas, sons baixos, altos, graves, agudos, caras € bocas... Escrever para que tum corretor nos leia © nos avalie ¢ colocar pensamentos concatenados ~ organizados! — num papel, registrar emogdes, posicionar-se sobre a Vida. std, portanto, na hora de comecar. Ee: uma pequena conversa antes de verificarmos cada modalidade de texto. A primeira ba vestibular: um outdoor, um quadro, uma fotografia. Palavra pala Nos préximos capitulos falaremos disso, e 0 primeiro Gigoexasperado), exercicio deste livro incide sobre a utilizagao de texto seme desafas, visual aceitoo combate ba ‘As modalidades dos textos Neste capitulo, vamos nos dedicar a leituras de textos que exemplifiquem as modalidades da redaga ‘uma narragio, uma earta, uma dissertagao escolar, tum trecho de artigo de jornal. Enquanto estiverem Podemos definir um texto para vestibular como uma produgao linguéstica escrita a partir de um contexto determinado e com intengao objetiva, ou seja, em palavras mais simples, um fexto escrito partir de um determinado assunto (tema) e que possa ser entendido por um conjunto de corretores como manifestago do vestibulando sobre os fatos, circunstincias, criaturas, acontecimentos, politica, economia, restritos ao émbito do Brasil ou do mundo. E claro que existe no mundo uma gama enorme de textos nao necessariamente escritos ou destinados 20 sendo lidos, tente observar as caracteristicas espectficas de cada um deles, 0 jogo das palavras, a maneira como © autor as manipula para obter os resultados: fazer rir, contar um fato, negociar uma ideia, opinar sobre acontecimentos. Texto 1 — Narragio Um apélogo -Erauma vez uma aguiha, que disse a um novelo de tina: — Por que est vac’ com esse ar, toda cheia desi, toda enrolad, para fingir que vale alguma cousa neste mundo? —Deixe-me, senhors —Quea deixe? Que a deine, por qué? Porque le digo que esté ‘com um arinsuportivel? Repito que sim, efalaei sempre que me der nacabeca ~ Que eabega, senhora? A senhora nfo € alfinete, é apulha Aguiha nfo tem cabeca, Que The importa o meu ar? Cada qual tem © ‘ar que Deus he deu, Importe-se com a sua vida e deine a dos outros. —Mas voce € orgulhosa ~ Decerto que sou. ~ Mas por qué? = E boat Porque caso. Ento 0s vestidos © enfeites de nossa ama, quer & que os case, seno eu? = Voc8? Esta agora € melhor. Voc & que 0s cose? Voeé igor ‘qoe quem os cose sou eue muito eu? = Vo fura o puno, nada mais; eu € que coso, prendo um pedlago a0 outro, do feigio aos bubsados, — Simm, mas que vale isso Eu 6 que Fur © pano, vou adiano, ‘paxando por voce, que vem ats obedecendo ao queetfago.e mando. —Também os batedores vio adiante do imperador, —Vocé éimperador? — Nio digo isso, Mas a verdade & que voe8 faz um papel subaltero, indo adiante; vai s6 mostrando o camino, vai fazendo © ‘tabatho obscure nfimo, Fe & que prendo,ligo, junto Estavam nist, quando acostureira chegou A casa da baronesa, [Nilo se se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé desi, para nao andar aris dela ‘Chegou acostureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegouda linha, enfiow a finba na agulha, ¢entrou a coser. Uma e ona iam andando orguliosas, pelo pano adiante, que era a melhor das Seda, centre os dedos da costureira,sgeis como os galgos de Diana pars dar ‘isto uma cor postica. & dizinn agulha: Endo, seohora linha anda tema no que dizia hs pouco? Nao repara que esta distinta costureira s6 se importa comigo; eu 6que vou. aqui entre os dedos dela, unidinhaa eles, furando abaixo eacima ‘A ina ndo espondig; is andando, Buraco aberto pela agutha eralogo enchido porela, silencio eativa, como quem sabe o que faz, eno est para ouvir pulavras loucas. Aagulha, vendo que cla no The ava resposta, calow-se umbém, ¢ foi andando, Bera tudo siléncio na saletade costa; nao se aavia mais que plic-plic-plicplie da agua, fo pano, Caindo 0 sol, a costureira dobrou a costua, para 0 dia seguinte. Continuow nda nessa e ao outro, até que no quarto acabors ‘obra, ficou esperando o baile ‘Veioa note da hale, ea baronesa vest se. Acostureira que a ajudou 2 vestir-se, evava a agulha espetada no corpinho, para dat algurm ponto necessario. E enquanto compunha © vestido da bela ‘dama,e puxava de um ado ou utr, aregagava daqui ou dal alisendo, _abotando,acolchetando, inka para mofur da gulba, perguntow Ihe: — Ora, agora, diga-me, quem & que vai no baile, no corpo da baronesa,fazendo parte do vestido eda elegncia? Quem & que Vai «dangar com ministros diplomatas,enquanto voce vol para acaixinha dda costurera, antes de ir para. balaio das mucamas? Vamos, gal Pace que a agulha no disse nada; mas um alfinete, de eabega grande e nfo menor experifncia, mumnurou a pobre agulhs: — Anda, aprende, ola. Cansas-te em abrir caminho para lac la que vai gozar da vida, enquanto a fieas na eaixinha de costura, Faze como eu, que nao ara caminho para ningaém. Onde me espetam, fico. CContei esta historia a um professor de melaneotia, que me disse, banando acabega: —Também eu tenho servide de agutha a muita linha ordindriat Machado de Assis. Contos. Sa0 Paulo: Atica, 1984, vol. 9. Para Gostor de Ler, p59. Ca) Modalidades da redacao Em primeiro lugar, um esclarecimento: tudo 0 que se escreve pode ser chamado de... redagao. Desde bilhetes, cartas, letras de miisica, circulares, offcios, mensagens dos telegramas, artigos de jornais, boletins de ocorréncia, livros, histérias em quadinhos. Mas hé, entre todos estes escritos, tres ‘modalidades redacionais. Apenas tr; nao hé nenhuma outra classificagdo para isso: narrar, descrever c dissertar. E 1d vem voce perguntando sobre cartas no vestibular... Um quarto e inesperado modal? Nio, no, A carta, sossegue, encaixa-se dentro do projeto dissertativo. A narracéo Jnumeriveis so as narragbes do mundo, Primeiramente, hi tuma vriedade prodigiosa de yéncros, cls pics disibuldosentre substinciseferenes, cons se xa a mara fose apropriada para ave © homem the confiasse suas narrayes: a narasio pode ser suportada pela lingua acuta, orl ow escrt, pela msgemy ix ou mm6vel peo geste pela misura orenaa de ods sss substncias; acs presente no mito aetna abla no conto, na novela, na popeia,naistra, natragédi, no drama, com, oa pantomima, ‘no quar no vital, o einem, os espetéculos, as manchetes Jos joroas, na conversa. Ademais, sob essa formas infinitas, a naragdo ests presenle ‘em todos 0 tempos, em todos os lugares, cm todas as sociedades nara omega meso com a hisria da humana; no hs, jamais houve povo algum ser narago; todas as lasses, todos os grupos ‘humanos tveram suas nazragies e, muito frequene narragbes sto saboreadas em comum por homens de culturas diferentes, por veres opostas: internacional, transistérica, ‘wanscultural, a narrago af esté como a vida Roland Borthes. Andlise estutural de norratva, Petropolis Vorss, 1973, Se narrar € contar um fato e, levando em consideracao que, em principio, as narrativas eram feitas foralmente, a narracdo € a forma mais antiga que os homens — e os fuxiqueiros em geral — usaram para se comunicar. Ela pode aparecer sob as formas mais inesperadas, inclusive em gestos, e, na escrita, aparece também em ‘yersos (pegue como primeiro exemplo as epopeias), nia letra de uma maisica, nos romances, novelas, contos & cerdnicas e até nas histérias em quadrinhos. Ao desenhar uma cagada nas paredes de sua caverna, nosso ancestral deixou ali um registro, um depoimento para o futuro, Obviamente, niio sabia disso, ‘mas talvez pressentisse que o seu gesto funcionaria como uma espécie de depoimento para a posteridade. Como se pudesse nos dizer: “Estive aqui e 0 que voce vé é parte das hist6rias que um dia vivi. Além disso, é preciso que se diga que toda a narrativa € fieglo: ao retitar os fatos do cotidiano, ao passé-los para um papel ou computador, o homem recria 0 mundo vivido, acrescenta, elimina cauteloso certos fatos, lumina alguns mais escuros ¢ menores, sublima ou castiga algumas personagens. Toda narrativa € reinvengao da realidade, toda a narrativa ressalta particularidades que interessam ao narrador: umas brincalhonas, outras irdnicas, outras tio sérias ou metaforicas. Recordando Clarice Lispector, “narrar é lembrar-se do que nunca existiu”. Ou, pelo contririo, existiu demais dentro de 16s. Veja, nos textos a seguir, exemplos de variadas formas narrativas: ay Texto 1 Eros ¢ Psiqué Conia enda que dora Uma Pines encanta Aven deg ‘Un Infante, que vria De além do muro da estrada. Ele sinha que, entado, Vencera mal eobem, Antes que, jélibertado, Detxasse 0 caminho errade oro que A Princesa vem. ‘APrincesa Adormecida, Se espera, donmindo espera, ‘Sonhia emt more a sua vida, Eomacthea fronteesquecida, Verde, uma grinalda dehera Longe o Infante, esforeado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminlo fadado, Ele dela ignorado, Ela paraeleéninguém. ‘Mas cada um cumpre o Destino Bla doemindo encantad, le buscando-a sem tino elo processo divino ‘Que faz existir aestrada, , se bem que seja obseuro ‘Tudo pela estrada fora, E falso, cle vem seguro, E vencendo estradae muro, ‘Chega onde em sono ela mora, E, nda tonto do que houvers, ‘Acaboga,em maresia, Ergue mio, eencontrahera, Eve que ele mesmo era ‘A Princesa que dormia, Femando Pessoa, Presenca, n*41-42, Coimbra, maia de 1924. (Publicado pala primeiro vez,) a> sexta? ‘A ontra noite ‘Nui entendera bem por que Deus, em sua infinite bondadew Gra, expulsow Ado Eva do Parafso depois que eles comeram da Acvore da Sabedoria, UEC) Também nunca entendera o que dissera aquele deus #0 cexpuls-lox: Tu, Adio, ganhards a tua vida com 0 suor do seu rosto: ctu, Eva, pairs entre dors. Parecia esquisito para umn Deus tio amoroso, ‘Uma noite, no entanto, insurgira-se a serpente entre os seus mniolos e soprara-the que Deus no tinha gostado nada de saber que ‘Adio e Eva se instrufram ¢ que, logo, poderiam diseutir com ele sobre, sobre, sobre... gueras, pobrese ricos, oportunidades soci ‘Riu-te da idela, E dormiu pensando que era feliz, que estava {ioe tinha coberts, roupas, comida e agasalho, familia © emprego. [Nilo entenden por que, na manha seguinte, por mais que se a0 oficial de justica que pagar os aluguéis~ olha aqui os fol despejads esua mudanga colocada nacalgada, debaixo recibos! ‘de uma brut chova, tampouco entendeu por que, o chegar tarde ao trabalho, © patrio vociferou, espumando de raivs,e mandou-a solenet colo da rua. Maria Estela de Morais & professors de Lingua e Literatura Fonguess QS Texto 3 Poesia Matematica As fothas tantas do livia matemstico tum Quociente apaixonou-se tum dia ‘doidamente por uma Tnedgnita, Othow-a com seu ll eviu-a do pice & base ‘uma figura faspars ‘olhos romboides, boca trapezoide, corpo retangular, seis esfeoides. Fez de sua uma vida paralelaa dela até que se encontraramn no infin ‘Quem és tu? indugou ele em insia radical “Sou a soma do quadtado dos eatetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa,” Ede falerem descobriram que eram (oque em aritmética comesponde almas irmis) primos entre si assim seamaram ‘0 qundrado da velocidad da luz ‘qua sexta potencingao tragando ‘Sabor do momento cedapaixto reas, curva, efrculs elias sinoidais ‘nos jardins Ga quanta dimensao. Excandalizaram os ortodoxos das formulas evctidiana te pro (1) Infante: crionga, menino; ho dos reis de Portugal eu de Esponho, sem dlisite& sucessa0.90 toro,

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