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Rogerio Schietti 2
I. INSTRUMENTO DE SALVAGUARDA DA LIBERDADE DO
ACUSADO
II. INSTRUMENTO DE ATUAÇÃO JUSTA DO DIREITO
PENAL, MEDIANTE A LEGÍTIMA APURAÇÃO DA
VERDADE E DA RESPONSABILIDADE DO ACUSADO
III. INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO DA ORDEM
JURÍDICA E DA PAZ PÚBLICA E DE PROTEÇÃO DA
SOCIEDADE
Rogerio Schietti 3
I. População carcerária e condições precárias dos presídios (Estado de Coisas Inconstitucional)
- MC-ADPF nº 347, no ano de 2015
II. Número de mortes violentas e sensação de insegurança - O Brasil teve, em 2017, 59.103
vítimas assassinadas – uma a cada 9 minutos, em média – incluindo todos os homicídios
dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, que, juntos, compõem os
chamados crimes violentos letais e intencionais. A taxa de mortes a cada 100 mil
habitantes subiu e está em 28,5. Em muitos estados os casos de morte em decorrência de
intervenção policial não entram na conta de homicídios – ou seja, é seguro dizer que a
estatística passa dos 60 mil (só no RJ, por exemplo, houve 1.124 casos do tipo no ano
passado). (Monitor da Violência, do Núcleo de Estudos da Violência da USP e Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, disponível em https://g1.globo.com/monitor-da-
violencia/noticia/brasil-registra-quase-60-mil-pessoas-assassinadas-em-2017.ghtml
III. Pouca eficiência do sistema penal (exemplo: Em 5 anos, 96% das investigações de
assassinatos abertas até 2007 no Rio foram arquivadas e autores de crimes ficaram sem
qualquer punição).
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1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 7. PROPORCIONALIDADE
adequação ou idoneidade
2. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
necessidade,subsidiariedade
3. PROTEÇÃO PENAL EFICIENTE ou proibição de excesso
proporcionalidade em
4. EXCEPCIONALIDADE sentido estrito
5. LEGALIDADE E 8. DURAÇÃO RAZOÁVEL DA PRISÃO
JURISDICIONALIDADE 9. BILATERALIDADE DE AUDIÊNCIA
6. PROVISORIEDADE 10. MOTIVAÇÃO
Rogerio Schietti
• “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em
relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (art. 1o da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948)
• É, na dicção do Tribunal Constitucional da Espanha, do “ponto de
arranque, o ‘prius’ lógico e ontológico para a existência e
especificação dos demais direitos”
• Elevação do acusado à condição de protagonista da atividade
processual, promovendo sua “personalização” para que passe a
ser um sujeito processual com voz ativa perante o órgão
julgador participando na produção do seu caso (BIDART)
• A dignidade da pessoa humana também protege a vítima, que
deve ser tratada não apenas como uma colaboradora da justiça,
mas como alguém digna de proteção e atenção, de modo a
minimizar os efeitos do crime e a vitimização secundária.
Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (Art. 6° -
Direito a um processo equitativo - 2. Qualquer pessoa acusada de uma infracção presume-se
inocente enquanto a sua culpabilidade não tiver sido legalmente provada);
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (Art. 48 - Presunção de inocência e direitos de
defesa - 1. Todo o arguido se presume inocente enquanto não tiver sido legalmente provada a sua
culpa);
Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (Art. 7.º - 1. Toda a pessoa tem direito a que a
sua causa seja apreciada. Esse direito compreende: b) O direito de presunção de inocência, até que
a sua culpabilidade seja estabelecida por um tribunal competente);
Declaração Islâmica dos Direitos Humanos (V – Direito a Julgamento Justo - Ninguém será
considerado culpado de ofensa e sujeito à punição, exceto após a prova de sua culpa perante um
tribunal jurídico independente);
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (Art.14 - §2. Toda pessoa acusada de um delito
terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa);
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica ( Art. 8º -
Garantias judiciais - 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto não se comprove legalmente sua culpa).
Rogerio Schietti
A
incompreensão
popular
Rogerio Schietti
[...] 5. A jurisprudência desta Corte, em reiterados pronunciamentos,
tem afirmado que, por mais graves e reprováveis que sejam as
condutas supostamente perpetradas, isso não justifica, por si só, a
decretação da prisão cautelar. De igual modo, o Supremo Tribunal
Federal tem orientação segura de que, em princípio, não se pode
legitimar a decretação da prisão preventiva unicamente com o
argumento da credibilidade das instituições públicas, “nem a
repercussão nacional de certo episódio, nem o sentimento de
indignação da sociedade” (HC 101537, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, DJe de 14-11-2011). 6. Não se nega que a
sociedade tem justificadas e sobradas razões para se indignar com
notícias de cometimento de crimes como os aqui indicados e de esperar
uma adequada resposta do Estado, no sentido de identificar e punir os
responsáveis. Todavia, a sociedade saberá também compreender que a
credibilidade das instituições, especialmente do Poder Judiciário,
somente se fortalecerá na exata medida em que for capaz de manter o
regime de estrito cumprimento da lei, seja na apuração e no julgamento
desses graves delitos, seja na preservação dos princípios
constitucionais da presunção de inocência, do direito a ampla defesa e
do devido processo legal, no âmbito dos quais se insere também o da
vedação de prisões provisórias fora dos estritos casos autorizados pelo
legislador” (HC 127186/PR, Relator Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda
Turma, DJe-151 03-08-2015);
Rogerio Schietti
“Em certos momentos a violência integra-se ao cotidiano da nossa
sociedade. E isso de modo a negar a tese do homem cordial que
habitaria a individualidade dos brasileiros. Nesses momentos, a
imprensa lincha, em tribunal de exceção erigido sobre a premissa
de que todos são culpados até prova em contrário, exatamente o
inverso do que a Constituição assevera. É bom que estejamos bem
atentos, nesta Corte, em especial nos momentos de desvario, nos
quais as massas despontam na busca, atônita, de uma ética –
qualquer ética – o que irremediavelmente nos conduz ao "olho por
olho, dente por dente" . Isso nos incumbe impedir, no exercício da
prudência do direito, para que prevaleça contra qualquer outra,
momentânea, incendiária, ocasional, a força normativa da
Constituição. Sobretudo nos momentos de exaltação. Para isso
fomos feitos, para tanto aqui estamos. (Ministro Eros Grau, em voto
proferido no julgamento do Habeas Corpus 84.078/MG, DJe-035 p.
26-02-2010).”
Rogerio Schietti
“[...] 2. Ao converter o flagrante em prisão preventiva, o Magistrado
de primeiro grau adotou fundamentos genéricos, v. g., ao afirmar
que o delito "vem destruindo a sociedade brasileira, provocando
pânico e temeridade social, fomentando a prática de outros crimes"
e que "a ordem pública é ofendida quando a conduta do agente
provoca algum impacto na sociedade, lesando valores
significativamente importantes", e que, por isso, "devem prevalecer
os princípios da defesa social, da segurança e da segura instrução
penal". 3. Muito embora não seja equivocada a argumentação
judicial em apontar a gravidade do crime de tráfico de drogas e a
generalizada sensação de insegurança que produz, não pode o
magistrado exonerar-se do dever de indicar circunstâncias
específicas do caso examinado, que amparem o prognóstico de
que o investigado ou réu voltará a delinquir ou que irá perturbar
a instrução ou mesmo furtar-se à aplicação da lei penal, sendo
insuficiente, assim, invocar a modalidade criminosa atribuída
àquele, sob pena de se institucionalizar a prisão preventiva
obrigatória, automática, decorrente da prática de todo crime de
mesma natureza e, por conseguinte, ferir a presunção de não
culpabilidade e a excepcionalidade da prisão cautelar. [...] (HC
381.578/SP, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, SEXTA TURMA,
julgado em 14/02/2017, DJe 23/02/2017)
Rogerio Schietti
•Art. 5º, LXVI (CF): ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.
Muito embora, por óbvio, a escolha da medida cautelar adequada ao caso concreto
constitua uma discricionariedade judicial, atenta ao disposto no inciso I do art. 282 do
CPP (adequação da medida à gravidade do crime, às circunstâncias do fato e às
condições pessoais do indiciado ou acusado), a presunção de inocência – que atrai a
ideia da excepcionalidade de qualquer medida cautelar – implica reconhecer que as
medidas cautelares de cariz coercitivo devem respeitar “il criterio del minore sacrificio
necessario, secondo cui la restrizione della libertà personale deve essere contenuta
entro i limiti indispensabili a soddisfare le esigenze cautelari nel caso concreto”
(TONINI, Paolo. Lineamenti di diritto processuale penale. Milão: Giuffrè, 2016, p. 233).
Saliente-se, a esse respeito, que a análise da eficácia da medida não deve ter em
mira o meio mais eficaz, porém o meio suficientemente eficaz, visto que “a medida
mais gravosa assegura com maior intensidade que a medida mais benigna a
consecução do fim perseguido, de sorte que o juízo de necessidade simplesmente
deixaria de existir, sendo substituído pelo critério da maior eficácia” (FELDENS,
Luciano. A constituição penal. A dupla face da proporcionalidade no controle de
normas penais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 164). Excerto de decisão
proferida em 27/2/2018), no HABEAS CORPUS Nº 437.538 – SP (Rel. Min Rogerio
Schietti)
P.S. ESSAS HIPÓTESES DE CABIMENTO NÃO SÃO SUFICIENTES, POR SI SÓS, PARA AUTORIZAR A
PRISÃO, EXIGINDO-SE DO JUIZ A AVALIAÇÃO SOBRE A EFETIVA NECESSIDADE DA MEDIDA EXTREMA.
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“Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade...” (art. 93, IX, da
Constituição Federal)
Rogerio Schietti
Faz mais ruído uma árvore que cai do que um
bosque que floresce.
Papa Francisco