Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUD
GH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV
7&/33
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD
8QLYHUVLGDGH3UHVELWHULDQD0DFNHQ]LH
)HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
8QLYHUVLGDGHGH6mR3DXOR
© 2010. Alessandra Gotuzo Seabra e Fernando César Capovilla.
ISBN 978-85-7954-011-0.
Todos os direitos reseervados e protegidos por lei. Proibida a divulgação ou reprodução deste volume ou de
qualquer parte dele, por quaisquer meios, sem a prévia autorização expressa dos editores.
Bibliografia
ISBN 978-85-7954-011-0.
Referências ................................................................................................................................................... 70
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
27HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUD
GH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV
)HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD
6XEVWUDWRWHyULFRHREMHWLYRVGR7&/33 escritas como se fossem desenhos e só consegue reconhe-
cer as palavras com as quais está bastante familiarizada,
sendo incapaz de penetrar na composição grafêmica das
O modelo de desenvolvimento de leitura e escrita palavras ou de ler palavras novas. Tal leitura de natureza
de Frith (1985, 1990) e Morton (1989) identifica três ideográfica é usualmente feita pelo hemisfério direito e se
fases ou estágios distintos na alfabetização, durante os limita ao reconhecimento do aspecto geral de palavras
quais se desenvolvem diferentes rotas ou estratégias de muito familiares.
leitura nas crianças normoléxicas, sendo que a dislexia
do desenvolvimento (A. Capovilla & F. Capovilla, No segundo estágio, o alfabético, desenvolve-se
2007b) resulta de uma dificuldade na passagem do a rota ou estratégia fonológica. Nessa fase, a criança
primeiro ao segundo estágio, ou do segundo para o aprende a fazer decodificação grafofonêmica e passa a
terceiro estágio (Bellugi, Tzeng, Klima, & Folk, 1989; decodificar pseudopalavras e palavras novas (i.e., pala-
A. Capovilla, 2008; A. Capovilla & F. Capovilla, vras cuja forma ortográfica ainda não é familiar para a
2004a; F. Capovilla & A. Capovilla, 2003; Seabra & F. criança). Contudo, a criança só é capaz de fazer isso se
Capovilla, 2010c; Shaywitz, 2006; Shaywitz, Morris, & dominar a habilidade de decodificação grafofonêmica e
Shaywitz, 2008). se as palavras a serem lidas forem regulares grafofo-
nemicamente, de modo que a imagem fonológica resul-
No primeiro estágio, o logográfico, desenvolve-se a tante da decodificação grafofonêmica soe familiar à
rota ou estratégia logográfica. Nessa fase, a criança faz criança, como uma das palavras conhecidas armazena-
reconhecimento visual direto de certas propriedades gerais das em seu léxico auditivo linguístico (i.e., léxico fono-
da palavra escrita com base no contexto, na forma e na lógico). Palavras grafofonemicamente irregulares ten-
cor, mas não atenta à composição precisa das letras que a dem a levar a erros de regularização fonológica e a
compõem, exceto usualmente pela primeira letra. Assim, falhas de compreensão de leitura. Como a criança faz
por exemplo, se forem trocadas as letras D por B, N por M, decodificação grafofonêmica estrita, ao converter a
e D por P na palavra escrita MCDONALD’s, a criança não sequência de grafemas da palavra na sequência de fo-
tenderá a notar a troca, desde que haja arcos dourados nemas correspondentes na pronúncia, nos casos em que
sobre um fundo vermelho. A criança trata as palavras a palavra a ser lida envolver correspondências grafofo-
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
nêmicas irregulares, a sequência de fonemas pronunci- villa, 2006; F. Capovilla, Viggiano, Capovilla, Raphael,
ada pela criança que resultou da decodificação estrita Mauricio, & Bidá, 2004) avalia o estágio de desenvol-
não irá corresponder a qualquer palavra reconhecível vimento da leitura ao longo das etapas logográfica,
em seu léxico fonológico. Consequentemente, nesses alfabética e ortográfica. Baseia-se em versões anterio-
casos de decodificação grafofonêmica estrita de pala- res (F. Capovilla & A. Capovilla, 2001, 2002; F. Capo-
vras grafofonemicamente irregulares, a criança estra- villa, A. Capovilla, Macedo, & Duduchi, 2000b; F.
nhará as palavras que pronuncia e não compreenderá o Capovilla, Macedo, A. Capovilla, & Charin, 1998; F.
que decodifica. Crianças com dislexia fonológica apre- Capovilla, Macedo, & Charin, 2002; Seabra & F. Ca-
sentam grande dificuldade em empreender decodifica- povilla, 2010b) inspiradas no paradigma geral esboçado
ção grafofonêmica competente, o que ocorre em 67% por Khomsi (1997) e aperfeiçoado por Braibant (1997).
dos casos de dislexia do desenvolvimento (Boder, Trata-se de um teste em papel e lápis, com oito itens de
1973; A. Capovilla & F. Capovilla, 2004a; F. Capovilla treino e setenta itens de teste reunidos num caderno de
& A. Capovilla, 2003), e usualmente tentam adivinhar aplicação. Cada item é composto de uma figura e de
o que está escrito, cometendo frequentes paralexias. uma palavra ou pseudopalavra associada à figura. A
No terceiro estágio, o ortográfico, desenvolve-se tarefa do examinando é circundar as palavras corretas
a rota ou estratégia lexical. Nessa fase a criança apren- dos pontos de vista ortográfico e semântico, e riscar as
de a ler lexicalmente, fazendo reconhecimento visual palavras que são incorretas em termos ortográficos (i.e.,
direto da forma ortográfica das palavras, e se torna pseudopalavras) ou semânticos (i.e., palavras associa-
capaz de ler palavras grafofonemicamente irregulares, das a uma figura incompatível com ela). Esse teste de
não mais cometendo erros de regularização grafofonê- papel e lápis conta também com uma versão plenamen-
mica, desde que as palavras a serem lidas sejam co- te validada e normatizada para crianças surdas (F. Ca-
muns e que a criança esteja familiarizada com elas. As povilla, Viggiano, Capovilla, Raphael, Mauricio, &
crianças com dislexia morfêmica têm dificuldade em Bidá, 2004) e uma versão computadorizada para avali-
fazer esse reconhecimento visual direto da forma orto- ação de crianças com distúrbios neuromotores (Mace-
gráfica das palavras, o que ocorre em cerca de 10% dos do, F. Capovilla, Diana, & Covre, 2002), além de di-
casos de dislexia. versas versões para Internet (Macedo & F. Capovilla,
2000b; Macedo, F. Capovilla, Diana, Orsati, & Nikae-
Para Frith (1985, 1990), a dislexia do desenvol- do, 2004; Macedo, F. Capovilla, Nikaedo & cols.,
vimento pode ser compreendida como uma espécie de 2005; Nikaedo, Lukasova, Kuriyama, & Macedo, 2006)
interrupção na progressão de uma a outra fase ao longo que integram a bateria, juntamente com outros testes
do desenvolvimento da leitura. Tal interrupção pode computadorizados (Lukasova & cols., 2005; Macedo,
ocorrer já na passagem do estágio logográfico para o F. Capovilla, Duduchi, D'Antino, & Firmo, 2006; Ma-
alfabético, como no caso da dislexia fonológica; ou cedo, Firmo, Duduchi, & Capovilla, 2007; Macedo,
apenas na passagem do alfabético para o ortográfico, Nikaedo & cols., 2005).
como no caso da dislexia morfêmica. No primeiro caso
a dificuldade constitui um distúrbio do desenvolvimen- O TCLPP é, ao mesmo tempo, um instrumento
to propriamente dito, o qual resulta de um distúrbio de psicométrico e neuropsicológico cognitivo para avalia-
natureza fonológica frequentemente com substrato ção da competência de leitura silenciosa de palavras
constitucional definido; ao passo que, no segundo caso, isoladas, e coadjuvante para o diagnóstico diferencial
a dificuldade constitui mais um atraso no desenvolvi- de distúrbios de aquisição de leitura. Como teste psi-
mento do que propriamente um distúrbio, sendo o cométrico, é acompanhado de tabelas de normatização
prognóstico consideravelmente melhor nesse caso (A. que permitem avaliar o grau de desvio entre o padrão
Capovilla & F. Capovilla, 2004a; A. Capovilla, 2008; de leitura de um dado examinando e o padrão de leitura
A. Capovilla, F. Capovilla, Trevisan, & Rezende, 2006; normal de seu grupo de referência de acordo com o
F. Capovilla & A. Capovilla, 2006b). nível de escolaridade.
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
estágio de desenvolvimento (i.e., logográfico, alfabéti- dopalavra parecer-se com a palavra que designa a figura,
co, ortográfico) em que essa criança se encontra e as essa semelhança pode se basear numa grande proporção
estratégias de leitura (i.e., ideovisual ou logográfica, de elementos gráficos ou fonêmicos em comum com ela.
perilexical ou fonológica, lexical) que prevalecem em Os elementos escritos são apresentados em letras maiús-
seu desempenho. Fornece uma visão integrada e apro- culas para permitir manipular o efeito da similaridade
fundada acerca do grau de desenvolvimento e preserva- visual. A tarefa do examinando é circundar os itens cor-
ção dos diferentes mecanismos, rotas e estratégias en- retos e cruzar (i.e., assinalar com um “X”) os itens incor-
volvidos na leitura competente, de modo a lançar luz retos, ou seja, aqueles em que há disparidade semântica
sobre a natureza da dificuldade específica de um de- entre a figura e o elemento escrito, ou em que há dispa-
terminado examinando. ridade ortográfica no elemento escrito, ou ambas as dis-
Para tanto, o teste compara o desempenho sob di- paridades. Solicitando ao examinando que circule os
ferentes tipos de itens psicolinguísticos, como palavras itens corretos, o examinador pode assegurar-se de que o
e pseudopalavras, e em diferentes associações com examinando teve oportunidade de processar todos os
figuras. O processamento cognitivo desse material psi- itens, sem saltar qualquer um deles.
colinguístico requer diferentes competências, como a Há sete tipos de item (i.e., sete tipos de pares
estratégia ideovisual ou logográfica, a estratégia fono- compostos de uma figura e um elemento escrito), todos
lógica ou perilexical (F. Capovilla, A. Capovilla, & distribuídos aleatoriamente ao longo do teste, sendo
Macedo, 2001; F. Capovilla, Macedo, Duduchi, & Só- que há dez itens de teste para cada tipo de par. São eles:
ria, 1999), e a estratégia lexical (A. Capovilla, F. Capo-
villa, & Macedo, 1998; F. Capovilla, Macedo, & Cha-
rin, 2002), as quais se desenvolvem nas etapas logográ- • Tipo 1 (CR: Corretas Regulares): Palavras or-
fica, alfabética e ortográfica, respectivamente (F. Ca- tograficamente corretas, semanticamente corretas
povilla, Varanda, & A. Capovilla, 2006; Seabra & F. e grafofonemicamente regulares, a serem aceitas.
Capovilla, 2010b, 2010c). Comparando o desempenho Itens: Palavra escrita FADA sob a figura de fada;
do examinando sob diferentes tipos de itens psicolin- BATATA sob figura de batata, TOMADA sob
guísticos, o teste identifica o estágio de desenvolvimen- figura de tomada, BUZINA sob figura de buzina,
to de leitura do examinando e o seu grau de proficiên- MAPA sob figura de mapa, MAIÔ sob figura de
cia em cada um dos três tipos de processamento: O maiô, PIJAMA sob figura de pijama, BONÉ sob
ideovisual ou logográfico, o perilexical ou fonológico figura de boné, MENINA sob figura de menina e
por decodificação grafofonêmica, e o lexical ou por PIPA sob figura de pipa;
reconhecimento visual direto assistido por decodifica- • Tipo 2 (CI: Corretas Irregulares): Palavras or-
ção grafofonêmica eventual. tograficamente corretas, semanticamente corretas
e grafofonemicamente irregulares, a serem acei-
tas. Itens: Palavra escrita BRUXA sob figura de
&RQVWLWXLomRGR7&/33 bruxa, TÁXI sob figura de táxi, XADREZ sob
figura de xadrez, CALÇAS sob figura de calças,
O Teste de Competência de Leitura de Palavras e AGASALHO sob figura de agasalho,
Pseudopalavras (TCLPP) é constituído de oito itens de TESOURA sob figura de tesoura, PINCEL sob
treino e 70 itens de teste. Cada item é composto de um figura de pincel, EXÉRCITO sob figura de exér-
par feito de uma figura e um elemento escrito. Esse cito, PRINCESA sob figura de princesa e
elemento escrito pode ser uma palavra ou uma pseudo- EXERCÍCIO sob figura de exercício;
palavra. Pseudopalavras são sequências de caracteres • Tipo 3 (VS: Vizinhas Semânticas): Palavras or-
que compõem um todo pronunciável, mas carente de tograficamente corretas mas semanticamente in-
significado. A palavra pode ser semanticamente apro- corretas, a serem rejeitadas. Itens: Palavra escrita
priada à figura ou não. Do mesmo modo, a pseudopala- CACHORRO sob figura de camundongo, TREM
vra pode assemelhar-se ou não a uma palavra apropria- sob figura de ônibus, TERRA sob figura de árvo-
da à figura. Essa semelhança entre a pseudopalavra e a re, SOFÁ sob figura de cama, COBRA sob figu-
figura pode ser visual ou fonológica. Assim, se a pseu- ra de peixe, RÁDIO sob figura de telefone,
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
AVIÃO sob figura de águia, MAÇÃ sob figura Há também oito itens de treino para ilustrar os
de morango, CHINELO sob figura de sapato e sete tipos de item. São eles:
SORVETE sob figura de bombom;
• Tipo 4 (VV: Vizinhas Visuais): Pseudopalavras • Palavra UVA sob figura de uva. Trata-se de
ortograficamente incorretas, com trocas visuais, exemplo de treino envolvendo item do tipo 1
a serem rejeitadas. Itens: Pseudopalavra escrita (CR: Correta Regular), ou seja, palavra ortogra-
CAEBÇA sob figura de cabeça, GAIO sob figura ficamente correta, semanticamente correta e gra-
de gato, FÊRA sob a figura de pera, CRIANQAS fofonemicamente regular, a ser aceita;
sob figura de crianças, TEIEUISÃO sob figura • Palavras CASA sob figura de casa, e CHAVE
de televisão, CAINELO sob figura de chinelo, sob a figura de chave. Trata-se de dois exemplos
JACAPÉ sob figura de jacaré, PAROUE sob fi- de treino envolvendo itens do tipo 2 (CI: Corre-
gura de parque, ESTERLA sob figura de estrela tas Irregulares), ou seja, palavras ortografica-
e CADEPMO sob figura de caderno; mente corretas, semanticamente corretas e grafo-
• Tipo 5 (VF: Vizinhas Fonológicas): Pseudopa- fonemicamente irregulares, a serem aceitas;
lavras ortograficamente incorretas, com trocas • Palavra LARANJA sob figura de banana. Tra-
fonológicas, a serem rejeitadas. Itens: Pseudopa- ta-se de exemplo de treino envolvendo item do
lavra escrita HAPELHA sob figura de abelha, tipo 3 (VS: Vizinha Semântica), ou seja, palavra
FACA sob figura de vaca, CANCURU sob figu- ortograficamente correta mas semanticamente
ra de um canguru, MÁCHICO sob figura de má- incorreta, a ser rejeitada;
gico, VENTILATOR sob figura de um ventila-
dor, APATAR sob figura de apagar, PIPOTA • Pseudopalavra CADEIPA sob figura de cadei-
sob figura de pipoca, RELÓCHIO sob figura de ra. Trata-se de exemplo de treino envolvendo i-
relógio, OFELHA sob figura de ovelha e tem do tipo 4 (VV: Vizinha Visual), ou seja,
PONECA sob figura de boneca; pseudopalavra ortograficamente incorreta, com
trocas visuais, a ser rejeitada;
• Tipo 6 (PH: Pseudopalavras Homófonas):
Pseudopalavras ortograficamente incorretas, em- • Pseudopalavra JUVEIRO sob figura de chuvei-
bora homófonas a palavras semanticamente cor- ro. Trata-se de um exemplo de treino envolvendo
retas, a serem rejeitadas. Itens: Pseudopalavra item do tipo 5 (VF: Vizinha Fonológica), ou seja,
escrita PÁÇARU sob figura de pássaro, CINAU pseudopalavra ortograficamente incorreta, com
sob figura de sinal, JÊLU sob figura de gelo, trocas fonológicas, a ser rejeitada;.
AUMOSSU sob figura de almoço, OSPITAU • Pseudopalavra JÊNIU sob figura de gênio. Tra-
sob figura de hospital, XAPEL sob figura de ta-se de um exemplo de treino envolvendo item
chapéu, MININU sob figura de menino, TÁCSI do tipo 6 (PH: Pseudopalavra Homófona), ou se-
sob figura de táxi, ÓMI sob figura de homem e ja, pseudopalavra ortograficamente incorreta,
BÓQUISSE sob figura de uma luta de boxe; embora homófona a palavra semanticamente cor-
• Tipo 7 (PE: Pseudopalavras Estranhas): Pseu- reta, a ser rejeitada;
dopalavras ortograficamente incorretas e estra- • Pseudopalavra PAZIDO sob figura de xarope.
nhas, tanto fonologicamente quanto visualmente, Trata-se de um exemplo de treino envolvendo i-
a serem rejeitadas. Itens: Pseudopalavra escrita tem do tipo 7 (PE: Pseudopalavra Estranha), ou
XUNVACO sob figura de sanfona, ASPELO sob seja, pseudopalavra ortograficamente incorreta e
figura de coelho, MITU sob figura de óculos, estranha, tanto fonologicamente quanto visual-
RASSUNO sob figura de uma mão, DILHA sob mente, a ser rejeitada.
figura de pião, MELOCE sob figura de palhaço,
FOTIS sob figura de meia, JAMELO sob figura
A Figura 1 ilustra sete pares compostos de figura
de tigre, SOCATI sob figura de urso e CATUDO
e item escrito, que exemplificam cada um dos sete tipos
sob figura de tênis.
de pares que compõem o TCLPP.
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
Conforme ilustrado pela figura, no teste há dois mente incorreta; e as quatro pseudopalavras: A homó-
tipos de pares corretos a serem aceitos, como a palavra fona JÊNIU, a pseudo-homófona com troca fonológica
grafofonemicamente regular FADA e a grafofonemi- MÁCHICO, a pseudo-homógrafa com troca visual
camente irregular TÁXI. Há também cinco tipos de TEIEUISÃO, e a pseudopalavra estranha MELOCE
pares incorretos a serem rejeitados, como a palavra para permitir controlar o efeito da atenção à tarefa.
RÁDIO que, sob a figura de um telefone, é semantica-
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
fonológicas não podem ser lidas pela estratégia logo- car falta de acesso ao léxico semântico. Ainda mais
gráfica, visto que, apesar delas possuírem uma forma sério, o insucesso na rejeição de pseudopalavras com
visual parecida com a da palavra correta, elas devem trocas visuais (i.e., tipo 4–VV) poderia indicar dificul-
ser rejeitadas. As palavras corretas irregulares podem dade com o processamento fonológico e recurso à es-
ser lidas pelas estratégias logográfica ou lexical, mas tratégia de leitura logográfica. Finalmente, o insucesso
não pela alfabética, pois, neste caso, a aplicação das na rejeição de pseudopalavras estranhas (i.e., tipo 7–
regras de correspondência grafofonêmicas levaria a PE) poderia indicar sérios problemas de leitura, com
erros por regularização, sendo que as palavras tenderi- ausência de processamento lexical, fonológico e, mes-
am a ser rejeitadas. Finalmente, as pseudopalavras ho- mo, logográfico. Alternativamente, essa falha em rejei-
mófonas somente podem ser lidas corretamente pela tar pseudopalavras estranhas também poderia sugerir
estratégia ortográfica, pois, se lidas pela logográfica, problemas com a atenção concentrada. Devido às rela-
elas seriam aceitas, pois possuem forma visual global ções intrínsecas ao TCLPP, ou seja, entre os sete tipos
semelhante à palavra correta, e, se lidas pela alfabética, de pares compostos de figura e escrita, o TCLPP permi-
também seriam aceitas, pois a forma auditiva resultante te uma checagem interna das conclusões e uma consi-
seria semelhante à da palavra correta. derável validação cruzada das evidências fornecidas em
Como descrito por A. Capovilla, Varanda e F. Ca- cada tipo de par ou subteste.
povilla (2006), F. Capovilla e A. Capovilla (2002), e A Tabela 1 sumaria a constituição do TCLPP, com
Seabra e F. Capovilla (2010b), o insucesso na aceitação os oito itens de treino e os 70 itens de teste. Para cada
de palavras corretas grafofonemicamente irregulares um dos 78 itens, o quadro sumaria a escrita e a figura
(i.e., tipo 2–CI) pode indicar dificuldade com o proces- associadas que compõem o par, a classificação do tipo
samento lexical (ou falta dele). Do mesmo modo, o de par figura e escrita (1–CR: Correta Regular, 2–CI:
insucesso na rejeição de pseudopalavras homófonas Correta Irregular, 3–VS: Vizinha Semântica, 4–VV:
(i.e., tipo 6–PH) pode indicar a mesma dificuldade com Vizinha Visual, 5–VF: Vizinha Fonológica, 6–PH:
o processamento lexical (ou falta dele) num nível ainda Pseudopalavra Homófona, 7–PE: Pseudopalavra Estra-
mais acentuado, com uma leitura mais limitada à deco- nha), e a resposta correta esperada (i.e., aceitar item
dificação fonológica. correto, rejeitar item incorreto).
Quando um examinando ouvinte já tem pelo menos
nove anos de idade e já foi bastante exposto a textos, se 0RGRVGHDSOLFDomRGR7&/33
ele deixar de rejeitar pseudopalavras homófonas, isso
indica que ele está lendo pela rota fonológica, isto é,
por decodificação grafofonêmica estrita, sem fazer O TCLPP pode ser aplicado tanto individual-
recurso à rota lexical. Se ele fizesse recurso ao léxico mente quanto coletivamente. Nos dois casos é empre-
ortográfico e encontrasse nesse léxico as palavras orto- gado o Caderno de aplicação, que contém os oito itens
gráfica e semanticamente adequadas às figuras (e.g., de treino, bem como os 70 itens distribuídos em ordem
PÁSSARO, SINAL, GELO, ALMOÇO, HOSPITAL, aleatória.
CHAPÉU, MENINO, TÁXI, HOMEM, BOXE), ele Além disso, o teste também se encontra disponí-
seria capaz de identificar as malformações ortográficas vel para execução em computador com plataforma Win-
das pseudopalavras homófonas e não teria dificuldade dows, para avaliação de crianças surdas ou com os mais
em rejeitar essas pseudopalavras. A falha em rejeitá-las severos e variados tipos de impedimento motor (e.g.,
sugere falta de representação apropriada no léxico or- amputação ou defeitos congênitos) e de distúrbios neu-
tográfico, quer por exposição insuficiente à leitura, romotores (e.g., tetraplegia por lesão cervical, paralisia
quer por dificuldade de leitura. Um pouco mais sério é cerebral ou esclerose lateral amiotrófica) que se encon-
o insucesso na rejeição de pseudopalavras com trocas trem incapacitadas de segurar um lápis ou sequer de
fonológicas (i.e., tipo 5–VF), que poderia indicar a apontar com os dedos para assinalar a alternativa corre-
mesma falta de recurso ao léxico, mas com o agravante ta (Cederbaum, 1996; Velloso & Macedo, 2007). As
de dificuldades adicionais no próprio processamento duas versões computadorizadas permitem dois tipos de
fonológico. Já o insucesso na rejeição de palavras se- seleção, direta por mouse ou tela sensível ao toque, e
manticamente incorretas (i.e., tipo 3–VS) poderia indi- indireta por varredura automática e dispositivos sensí-
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
Tabela 1. Teste de Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras, com os oito itens de treino e os 70 itens de teste.
Cada item é composto de um par de escrita e figura associadas, e é classificado em sete tipos (i.e., 1–CR, 2–CI, 3–VS, 4–VV,
5–VF, 6–PH e 7–PE), sendo que os tipos corretos (i.e., CR e CI) devem ser aceitos e os incorretos (i.e., VS, VV, VF, PH e PE)
devem ser rejeitados. Para cada um dos 78 itens (i.e., pares figura e escrita) encontram-se listadas a escrita e a figura associa-
das que compõem o par, a classificação do tipo de par figura e escrita (1–CR: Correta Regular, 2–CI: Correta Irregular, 3–VS:
Vizinha Semântica, 4–VV: Vizinha Visual, 5–VF: Vizinha Fonológica, 6–PH: Pseudopalavra Homófona, 7–PE: Pseudopala-
vra Estranha), e a resposta correta esperada (i.e., aceitar para item correto, rejeitar para item incorreto).
S Escrita Figura Tipo R S Escrita Figura Tipo R
A UVA uva 1–CR Aceitar 32 MAPA mapa 1–CR Aceitar
B LARANJA banana 3–VS Rejeitar 33 AUMOSSU almoço 6–PH Rejeitar
C JÊNIU gênio 6–PH Rejeitar 34 DILHA pião 7–PE Rejeitar
D CADEIPA cadeira 4–VV Rejeitar 35 TEIEUISAO televisão 4–VV Rejeitar
E JUVEIRO chuveiro 5–VF Rejeitar 36 APATAR apagar 5–VF Rejeitar
F CASA casa 2–CI Aceitar 37 PINCEL pincel 2–CI Aceitar
G CHAVE chave 2–CI Aceitar 38 MELOCE palhaço 7–PE Rejeitar
H PAZIDO xarope 7–PE Rejeitar 39 MAIÔ maiô 1–CR Aceitar
1 FADA fada 1–CR Aceitar 40 CAINELO chinelo 4–VV Rejeitar
2 CACHORRO camundongo 3–VS Rejeitar 41 RÁDIO telefone 3–VS Rejeitar
3 XUNVACO sanfona 7–PE Rejeitar 42 PIJAMA pijama 1–CR Aceitar
4 BRUXA bruxa 2–CI Aceitar 43 FOTIS meia 7–PE Rejeitar
5 CAEBÇA cabeça 4–VV Rejeitar 44 EXÉRCITO exército 2–CI Aceitar
6 HAPELHA abelha 5–VF Rejeitar 45 OSPITAU hospital 6–PH Rejeitar
7 TÁXI táxi 2–CI Aceitar 46 XAPEL chapéu 6–PH Rejeitar
8 PÁÇARU pássaro 6–PH Rejeitar 47 PIPOTA pipoca 5–VF Rejeitar
9 ASPELO coelho 7–PE Rejeitar 48 AVIÃO águia 3–VS Rejeitar
10 BATATA batata 1–CR Aceitar 49 JACAPÉ jacaré 4–VV Rejeitar
11 GAIO gato 4–VV Rejeitar 50 MININU menino 6–PH Rejeitar
12 TREM ônibus 3–VS Rejeitar 51 BONÉ boné 1–CR Aceitar
13 XADREZ xadrez 2–CI Aceitar 52 JAMELO tigre 7–PE Rejeitar
14 FACA vaca 5–VF Rejeitar 53 RELÓCHIO relógio 5–VF Rejeitar
15 FÊRA pera 4–VV Rejeitar 54 PRINCESA princesa 2–CI Aceitar
16 TOMADA tomada 1–CR Aceitar 55 MAÇÃ morango 3–VS Rejeitar
17 CINAU sinal 6–PH Rejeitar 56 PAPOUE parque 4–VV Rejeitar
18 MITU óculos 7–PE Rejeitar 57 SOCATI urso 7–PE Rejeitar
19 CALÇA calça 2–CI Aceitar 58 MENINA menina 1–CR Aceitar
20 CANCURU canguru 5–VF Rejeitar 59 TÁCSI táxi 6–PH Rejeitar
21 TERRA árvore 3–VS Rejeitar 60 CHINELO sapato 3–VS Rejeitar
22 CRIANQAS crianças 4–VV Rejeitar 61 EXERCÍCIO exercício 2–CI Aceitar
23 JÊLU gelo 6–PH Rejeitar 62 OFELHA ovelha 5–VF Rejeitar
24 RASSUNO mão 7–PE Rejeitar 63 ESTERLA estrela 4–VV Rejeitar
25 BUZINA buzina 1–CR Aceitar 64 ÓMI homem 6–PH Rejeitar
26 SOFÁ cama 3–VS Rejeitar 65 PONÉCA boneca 5–VF Rejeitar
27 AGASALHO agasalho 2–CI Aceitar 66 SORVETE bombom 3–VS Rejeitar
28 MÁCHICO mágico 5–VF Rejeitar 67 BÓQUISSE boxe 6–PH Rejeitar
29 COBRA peixe 3–VS Rejeitar 68 PIPA pipa 1–CR Aceitar
30 TESOURA tesoura 2–CI Aceitar 69 CATUDO tênis 7–PE Rejeitar
31 VENTILATOR ventilador 5–VF Rejeitar 70 CADEPMO caderno 4–VV Rejeitar
veis ao movimento. Nos dois casos, imediatamente lha, e o escore 1 para acerto ou 0 para erro. Além disso,
após o término da sessão, a versão computadorizada ao final da coluna, aparece o escore total obtido pelo
oferece automaticamente uma tabela de dados do exa- examinando (i.e., a frequência de acertos) e o tempo
minando, sendo que, para cada um dos itens, ele forne- total despendido em responder ao teste.
ce a alternativa escolhida, o tempo despendido na esco-
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
Para as duas versões no modo de seleção indire- Capovilla, 1997; F. Capovilla, A. Capovilla, Macedo, &
to, o computador faz varredura automática entre as Duduchi, 2000a; Macedo, F. Capovilla, Charin, & Du-
alternativas de escolha (i.e., aceitar versus rejeitar) duchi, 1998).
sendo que, para escolher entre essas alternativas, tudo Além dessas versões para computadores locais,
que o examinando surdo, paralisado ou amputado tem as duas versões também vêm sendo disponibilizadas na
de fazer é emitir um movimento como o piscar, quando Internet (F. Capovilla, A. Capovilla, & Macedo, 2007;
a alternativa desejada estiver disponível para escolha, F. Capovilla, Macedo, Penna, & Capovilla, 2006; Ma-
movimento esse que é captado por detetor infraverme- cedo, F. Capovilla, Diana, & Covre, 2002), num siste-
lho. O parâmetro temporal de varredura (F. Capovilla, ma capaz de promover a teleavaliação do escolar de
Thiers, & Macedo, 2002; F. Capovilla, Thiers, Macedo, todos os estados da federação, com vistas a auxiliar a
& Duduchi, 1998; F. Capovilla, Thiers, Macedo, Ra- subsidiar políticas públicas de educação do surdo brasi-
phael, & Duduchi, 1998; F. Capovilla, Thiers, & A. leiro em nível nacional.
Capovilla, 2003) e o tipo de acionador (Charin & F.
Capovilla, 2000; Macedo & F. Capovilla, 2000a) são Como é muito provável que os desempenhos va-
adaptados precisamente às características neuromotoras riem como função do modo de aplicação, é recomendá-
(F. Capovilla, Macedo, Duduchi, A. Capovilla, & Thi- vel que sejam geradas normas específicas para cada
ers, 1998) do examinando (F. Capovilla, Macedo, A. uma dessas versões, sob cada um dos diferentes modos
Capovilla, Thiers, Raphael, & Duduchi, 1998). de aplicação, em termos de aplicação individual ou
coletiva. As possibilidades de aplicação do TCLPP são:
Essas versões computadorizadas também são im-
plementadas com seleção direta por toque sobre tela
sensível, sendo que elas coletam e tabulam dados auto- 1) Aplicação com Caderno de aplicação; ou
maticamente, produzindo um relatório de resultados
2) Aplicação computadorizada local com tela
após a aplicação (Macedo, F. Capovilla, & Sazonov,
sensível ao toque; ou
2000), incluindo o acerto total e em cada um dos sete
subtestes, o tipo e a frequência de erro, e o tempo de 3) Aplicação computadorizada local com varre-
resposta por subteste. Tais versões computadorizadas dura automática com diferentes intervalos tem-
foram elaboradas a partir de tecnologia acumulada na porais de varredura e diferentes tipos de aciona-
última década (F. Capovilla, A. Capovilla, & Macedo, mento; ou
2001; F. Capovilla, Gonçalves, & Macedo, 1998; F. 4) Aplicação computadorizada remota via Inter-
Capovilla, Macedo, A. Capovilla, Thiers, & Duduchi, net para teleavaliação de examinandos surdos em
1997; Gonçalves, Macedo, Sennyey, & F. Capovilla, todo o território nacional.
2000; Macedo, Gonçalves, F. Capovilla, & Sennyey,
2002) para avaliar examinandos surdos e ouvintes com
paralisia cerebral (F. Capovilla, Macedo, Duduchi, A. Na presente série de estudos, a tabela de dados
Capovilla, & Gonçalves 1998; F. Capovilla & Nunes, normativos do TCLPP foi gerada a partir de aplicação
2003; Thiers, F. Capovilla, Charin, Duduchi, & Macedo, coletiva por meio do Caderno de aplicação do TCLPP.
2000), esclerose lateral amiotrófica (F. Capovilla, Dudu- Uma nova série de estudos de normatização e validação
chi, Macedo, A. Capovilla, & Sazonov, 2000; Lima, está usando os demais modos de aplicação, e será pu-
Macedo, F. Capovilla, & Sazonov, 2000) e afasia (F. blicada em breve.
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
(VWXGRVSUpYLRVFRPR7&/33
)HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD
A validade do TCLPP em mapear o processamento medida pelo TCLPP. Tal achado corrobora a bibliogra-
cognitivo de leitura em crianças vem sendo estabelecida fia que atribui uma parte substancial dos distúrbios de
em uma série de estudos recentemente publicados (e.g., A. aprendizagem a problemas de integração sensório-
Capovilla & Dias, 2007; F. Capovilla & A. Capovilla, motora (Ayres, 1974, 1995). Por exemplo, Ayres
2001, 2004; F. Capovilla, A. Capovilla, Macedo, & Du- (1978) relatou a presença de rebaixamento do nistagmo
duchi, 2000b; F. Capovilla, Macedo, A. Capovilla, & pós-rotatório em 50% das crianças com dificuldade de
Charin, 1998; F. Capovilla, Varanda & A. Capovilla, aprendizagem e a presença de exacerbação desse mes-
2006; Montiel, 2008; Primi, Muniz & Capovilla, 2008; mo nistagmo pós-rotatório em outros 13% dos casos.
Seabra & F. Capovilla, 2010b; Seabra & cols., 2009). Só em 37% dos casos de distúrbios de aprendizagem é
Um primeiro exemplo de validação é o estudo de que o nistagmo pós-rotatório se encontrava dentro dos
F. Capovilla e A. Capovilla (2002), que demonstrou limites da normalidade. Do mesmo modo, em sua revi-
que crianças que pontuam na faixa igual ou inferior a são bibliográfica, Ottenbacher (1980) identificou uma
um desvio-padrão abaixo da média no TCLPP apresen- clara relação entre a disfunção do sistema vestibular e
tam maior dificuldade em discriminar fonemas, menor os problemas de aprendizagem escolar, mostrando que
velocidade de processamento fonológico e menor capa- as crianças com distúrbio de processamento vestibular,
cidade de memória de trabalho fonológica, sendo que a com exacerbação do nistagmo pós-rotatório, apresen-
dificuldade de percepção da fala tende a aumentar em tam significativamente mais distúrbios de linguagem,
proporção direta da velocidade com que a fala é apre- além de escores significativamente rebaixados em tes-
sentada (sobrecarregando, assim, a velocidade de dis- tes de integração visomotora e de fluência de leitura (A.
criminação fonêmica) ou da lentidão com que ela é Capovilla, Miyamoto, & F. Capovilla, 2003).
apresentada (sobrecarregando, assim, a memória de Um terceiro exemplo de validação é encontrado
trabalho fonológica). nos estudos de A. Capovilla, Suiter, e F. Capovilla
Um segundo exemplo de validação é encontrado (2002) e A. Capovilla, F. Capovilla, e Suiter (2004),
no estudo de A. Capovilla, Miyamoto, e F. Capovilla que demonstraram que crianças que pontuam na faixa
(2002) que demonstrou que crianças com nistagmo igual ou inferior a um desvio-padrão abaixo da média
pós-rotatório significativamente rebaixado ou significa- no TCLPP apresentam desempenho significativamente
tivamente exacerbado, tal como avaliado pelo Teste de rebaixado em uma série de testes como:
Nistagmo Pós-Rotatório do Sensory Integration and
Praxis Test (Ayres, 1998), tendem a apresentar compe- • O teste brasileiro normatizado e validado inti-
tência de leitura significativamente rebaixada, tal como tulado Prova de Consciência Fonológica por Fi-
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
guras (PCFF: A. Capovilla & F. Capovilla, em versão traduzida para o Alemão. É também de grande
preparação; F. Capovilla, Marcilio, & A. Capo- importância para validar todo o modelo teórico em que o
villa, 2004a), baseada na Prova de Consciência teste se fundamenta (F. Capovilla & A. Capovilla, 1999,
Fonológica por Produção Oral (PCFO: A. Capo- 2001, 2002, 2003; Seabra & F. Capovilla, 2010b,
villa & F. Capovilla, 1997, 1998a, 1998b; A. Ca- 2010c). Além disso, o achado é também de grande im-
povilla, F. Capovilla, & Silveira, 1998; e Seabra portância para a Psicologia Cognitiva da Leitura, pois
& F. Capovilla, 2010c), tanto no escore total corrobora a hipótese de que a maior transparência do
quanto em cada um de seus nove subtestes; Alemão incentiva a leitura pela rota fonológica, resul-
• A versão brasileira normatizada e validada do tando em maior precisão na rejeição de pseudopalavras
Teste de Vocabulário por Imagens Peabody com trocas visuais (4–VV) mas em menor precisão na
(TVIP: F. Capovilla & A. Capovilla, 1997, 1998; rejeição de pseudopalavras homófonas (6–PH), e que a
F. Capovilla, A. Capovilla, Nunes & cols., 1997; relativamente menor transparência do Português incenti-
F. Capovilla, Nunes, Araújo & cols., 1997; F. va a leitura pela rota lexical, resultando em maior preci-
Capovilla, Nunes, Nogueira & cols., 1997; F. são na aceitação de palavras corretas irregulares (2–CI)
Capovilla, L. Nunes, D. Nunes & cols., 1997); e mas em menor precisão na rejeição de pseudopalavras
com trocas visuais (4–VV).
• A versão brasileira do International Dyslexia
Test (A. Capovilla & F. Capovilla, 2004c; A. Um sexto exemplo de dados de precisão e vali-
Capovilla, F. Capovilla, Smythe, & Everatt, dade é encontrado no estudo longitudinal de A. Capo-
2001), nos subtestes de Ditado, Memória Fono- villa, Gutschow, e F. Capovilla (2002a), que demons-
lógica, e Desenho de Memória. trou que os escores que as crianças obtêm no TCLPP
durante a pré-escola predizem de modo confiável seus
escores um ano depois, quando elas já cursam a 1ª sé-
Um quarto exemplo de validação é encontrado no rie, no próprio teste e em uma prova de escrita, o que
estudo de A. Capovilla, Machalous, e F. Capovilla sugere que os resultados do teste são estáveis e confiá-
(2002a, 2003b), que demonstrou que o TCLPP é sensível veis (F. Capovilla, 2005).
à escolaridade e capaz de discriminar entre séries sucessi- Um sétimo exemplo de validação é encontrado no
vas da 1a à 3a série e que, nessa mesma faixa de escolari- estudo de A. Capovilla, Gutschow, e F. Capovilla (2002b)
dade, o desempenho no TCLPP está correlacionado de que demonstrou que a competência de leitura na 1a série,
maneira positiva e significativa com o desempenho no avaliada pelo TCLPP, está relacionada de forma significa-
Teste de Vocabulário por Figuras USP (TVF-Usp: F. tiva com as habilidades de aritmética, memória fonológi-
Capovilla & A. Capovilla, em preparação; F. Capovilla ca, consciência fonêmica, vocabulário e sequenciamento
& Prudencio, 2006; F. Capovilla, Viggiano, A. Capo- avaliadas na pré-escola (A. Capovilla & F. Capovilla,
villa, Mauricio, & Vilalba, 2002). 2004b). De modo geral, esse estudo demonstrou que o
Um quinto exemplo de validação é encontrado desempenho em leitura se correlaciona de forma positiva
no estudo de A. Capovilla, Machalous, e F. Capovilla e significativa com as habilidades de processamento fono-
(2002b, 2003a), que, traduzindo para o Alemão o lógico, mas não com as habilidades de processamento
TCLPP e comparando os desempenhos de crianças visual e motor, como a cópia de figuras e a qualidade da
brasileiras e alemãs nos vários subtestes, demonstrou a escrita, corroborando, assim, o modelo do déficit fonoló-
existência de dupla dissociação entre os escores de gico para a explicação dos distúrbios de leitura (Grégoire
reconhecimento visual direto e de decodificação grafo- & Piérart, 1997).
fonêmica do TCLPP, que foram uma clara função do Um oitavo exemplo de validação é encontrado
grau de transparência da ortografia (i.e., Alemão mais em A. Capovilla, Joly, e cols. (2004), que demonstrou
transparente e Português menos transparente), isto é, do correlação positiva significativa entre os desempenhos
grau de regularidade grafofonêmica entre as duas orto- no TCLPP e na Prova de Escrita sob Ditado (F. Capo-
grafias (i.e., alta no Alemão e média no Português, cf. villa & A. Capovilla, 1996; Seabra & F. Capovilla,
Frith, Wimmer, & Landerl, 1998; Goswami, Gombert, 2010c). O mesmo estudo demonstrou que os grupos de
& Barrera, 1998; Seymour, Aro, Erskine, 2003). Tal bons e maus leitores, divididos a partir do escore total
achado é de grande importância para validar o TCLPP no TCLPP, foram discriminados pelo desempenho na
em sua versão original em Português bem como em sua
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
estratégia fonológica, mas não nas demais, sugerindo po que foi indicada pelas professoras, quanto maior a
que esta é a estratégia que mais se desenvolve no início porcentagem de tempo dedicado ao ensino baseado em
da alfabetização. fonemas, tanto maiores os escores nos dois testes de
Um nono exemplo de validação do uso do competência de leitura (i.e., TCLPP e TCLS); e que,
TCLPP é encontrado nos estudos de A. Capovilla e F. reciprocamente, na faixa de 0% a 40% de tempo indi-
Capovilla (2002) e de Seabra e F. Capovilla, (2010b). cada pelas professoras, quanto maior a porcentagem de
Os dois estudos usaram o TCLPP para avaliar a compe- tempo dedicado ao ensino baseado em textos, tanto
tência de leitura, em termos de reconhecimento e deco- menores os escores nos dois testes de competência de
dificação de palavras isoladas, juntamente com o Teste leitura. Em suma, analisando a competência de leitura
de Compreensão de Leitura de Sentenças (TCLS: F. de palavras e de textos por parte das crianças ao fim do
Capovilla, A. Capovilla, & Macedo, 2005; F. Capovil- ano letivo de alfabetização como função do tipo de
la, Macedo, A. Capovilla, & Charin, 1998; F. Capovil- atividade em que as professoras investem o tempo du-
la, Macedo, & Charin, 2002; F. Capovilla, Viggiano, A. rante o ano letivo, os estudos demonstraram que o de-
Capovilla, Raphael, Bidá, Neves, & Mauricio, 2005) senvolvimento das crianças ao final do ano é direta-
para avaliar a compreensão de texto. Este último teste mente proporcional ao tempo dedicado à aprendizagem
avalia o processamento semântico no nível da sentença baseada em fonemas, e inversamente proporcional ao
e requer, portanto, habilidades sintáticas consideráveis tempo dedicado à aprendizagem baseada em textos. Ou
para o processamento da estrutura superficial de sen- seja, considerando a distribuição de tempo dedicada ao
tenças convolutas e a extração bem sucedida de seu ensino de leitura no início do ano letivo de alfabetiza-
significado. Os dois estudos avaliaram, ao final do ano ção, quanto maior o tempo dedicado ao ensino por fo-
letivo, a competência de leitura, em termos de reconhe- nemas e quanto menor o tempo dedicado ao ensino por
cimento e decodificação de palavras isoladas e a com- textos, tanto maiores os escores nos testes de leitura de
preensão de leitura de texto. Enquanto o primeiro estu- palavras (TCLPP) e de sentenças (TCLS) ao final do
do avaliou a competência de leitura de palavras e de ano letivo.
textos por parte de 166 estudantes de 1a série de duas Um décimo estudo de validação é encontrado em
escolas de Ensino Fundamental, sendo três classes de F. Capovilla, Varanda, e Capovilla (2006). Esse estudo
cada escola; o segundo estudo avaliou as mesmas fun- objetivou derivar tabelas de dados normativos para o
ções em 345 alfabetizandos provenientes de 14 classes TCLPP e seus sete subtestes, bem como correlacionar
de 1ª série de escolas municipais de Ensino Fundamen- os desempenhos no TCLPP, em termos de escore total
tal do interior do estado de São Paulo. O objetivo dos e em cada subteste, com Teste de Compreensão de
dois estudos foi o de comparar a eficácia relativa dos Leitura de Sentenças (TCLS), Teste de Vocabulário por
métodos fônico e global no ensino de leitura e escrita Figuras USP (TVF-Usp) e Prova de Consciência Fono-
pelas professoras em sala de aula. Para tanto, os estu- lógica por Produção Oral (PCFO: Seabra & F. Capovil-
dos compararam as habilidades de reconhecimento e la, 2010c). Participaram 725 estudantes de 1ª a 3ª séries
decodificação de palavras isoladas e de compreensão do Ensino Fundamental. O escore total e o escore em
de texto como função do método de ensino (i.e., fônico cada subteste do TCLPP aumentou de forma significa-
versus global ou ideovisual) adotado por suas professo- tiva ao longo das três séries escolares. Houve também
ras. De modo a caracterizar os métodos de ensino em- correlações positivas significativas entre escores no
pregados pelas professoras, ao mesmo tempo em que as TCLPP e nos demais testes, evidenciando a validade do
crianças respondiam aos dois testes, as professoras teste para essa faixa de escolaridade. Nesse estudo, os
responderam a um questionário com perguntas sobre, subtestes, ordenados por tamanho de crescimento da
dentre outras coisas, a porcentagem de tempo dedicado pontuação ao longo das séries, com suas respectivas
ao ensino de leitura com base em fonemas e a porcen- normas foram os seguintes:
tagem de tempo dedicado ao ensino de leitura com base
em textos. Os escores das crianças nos dois testes fo-
ram analisados como função da porcentagem de tempo 1) A aceitação de palavras corretas irregulares
dedicado pelas suas professoras para o ensino de leitura (CI) apresentou o maior crescimento ao longo das
a partir de fonemas ou de textos. Os resultados dos séries escolares, F (2, 722) = 167,68, p < 0,000, r
estudos mostraram que, na faixa de 0% a 30% de tem- = 0,56, r² = 0,31. Análises de comparação de pa-
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
res de Fisher LSD e Bonferroni revelaram cresci- CI (F (1, 723) = 305,13, p < 0,000, r = 0,54, r² = 0,30);
mento de 1ª a 2ª séries, e de 2ª a 3ª séries. 6) CR (F (1, 723) = 304,30, p < 0,000, r = 0,54, r² =
2) A aceitação de palavras corretas regulares 0,30); 7) PH (F (1, 723) = 150,48, p < 0,000, r = 0,42 r²
(CR) apresentou o segundo maior crescimento = 0,17). Tais dados revelam a importância do processo
nas séries, F (2, 722) = 127,80, p < 0,000, r = de decodificação, avaliado pelo subteste VV, para a pon-
0,39, r² = 0,15. Análises de comparação de pares tuação no TCLPP entre 1ª a 3ª séries.
de Fisher LSD e Bonferroni revelaram cresci- Um décimo primeiro exemplo de validação do
mento de 1ª a 2ª séries, e de 2ª a 3ª séries. uso do TCLPP é encontrado no estudo de A. Capovilla,
3) A rejeição de pseudopalavras com trocas visu- F. Capovilla, e Soares (2004), que validou um teste
ais (VV) apresentou o terceiro crescimento nas completamente original, a Prova de Consciência Sintá-
séries, F (2, 722) = 81,51, p < 0,000, r = 0,43, r² tica (PCS: F. Capovilla & A. Capovilla, 2006c). Essa
= 0,18. Análises de comparação de pares de Fi- prova é baseada em provas como as de Demont (1997),
sher LSD e Bonferroni revelaram crescimento de Nation e Snowling (2000), e Rego e Buarque (1997).
1ª a 2ª séries, e de 2ª a 3ª séries. Essa Prova de Consciência Sintática é composta de
quatro subtestes:
4) A rejeição de pseudopalavras estranhas (PE)
apresentou o quarto crescimento nas séries, F (2,
722) = 35,65, p < 0,000, r = 0,30, r² = 0,09. Aná- (1) Julgamento gramatical: A criança deve julgar
lises de comparação de pares de Fisher LSD e a gramaticalidade de vinte frases, dez gramaticais e dez
Bonferroni revelaram crescimento de 1ª a 2ª e 3ª agramaticais (com anomalias morfêmicas ou inversões
séries. de ordem);
5) A rejeição de palavras com troca semântica (2) Correção gramatical: A criança deve retificar
(VS) apresentou o quinto crescimento nas séries, dez frases gramaticalmente incorretas (cinco com ano-
F (2, 722) = 29,60, p < 0,000, r = 0,28, r² = 0,08. malias morfêmicas e cinco com inversões de ordem);
Análises de comparação de pares de Fisher LSD (3) Correção gramatical de frases agramaticais e
e Bonferroni revelaram crescimento de 1ª a 2ª sé- assemânticas: A criança deve corrigir apenas o erro
ries, e de 2ª a 3ª séries. gramatical, conservando o erro semântico; e
6) A rejeição de pseudopalavras com trocas de (4) Categorização de palavras: A criança deve
fonemas (VF) apresentou o sexto crescimento classificar as palavras em substantivo, adjetivo, ou ver-
nas séries, F (2, 722) = 15,34, p < 0,000, r = bo. O escore total corresponde à soma dos acertos, até o
0,20, r² = 0,04. Análises de comparação de pares máximo de 55 pontos.
de Fisher LSD e Bonferroni revelaram cresci-
mento de 1ª a 3ª séries, e de 2ª a 3ª séries.
7) A rejeição de pseudopalavras homófonas (PH) A validação foi feita por comparação com os se-
apresentou o sétimo crescimento nas séries, F (2, guintes testes: Subteste de escrita sob ditado do Inter-
722) = 10,37, p < 0,000, r = 0,17, r² = 0,03. Aná- national Dyslexia Test (IDT: A. Capovilla, Smythe, F.
lises de comparação de pares de Fisher LSD e Capovilla, & Everatt, 2001), o Teste de Vocabulário
Bonferroni revelaram crescimento de 1ª a 3ª sé- por Figuras USP (TVF-Usp: F. Capovilla & Prudencio,
ries, e de 2ª a 3ª séries. 2006; F. Capovilla, Viggiano, A. Capovilla, Raphael,
Bidá, & Maurício, 2004), Prova de Consciência Fono-
lógica por Escolha de Figuras (PCFF: F. Capovilla,
Nesse estudo, os subtestes mais correlacionados Marcilio, & A. Capovilla, 2004a), e Teste de Compe-
com a pontuação geral no TCLPP, para N = 725, foram tência de Leitura de Palavras (TCLPP: F. Capovilla,
os seguintes, em ordem decrescente: 1) VV (F (1, 723) = Marcilio, & A. Capovilla, 2004b). Nesse estudo origi-
1067,52, p < 0,000, r = 0,77, r² = 0,60); 2) PE (F (1, nal de validação, a Prova de Consciência Sintática foi
723) = 636,13, p < 0,000, r = 0,68 r² = 0,47); 3) VS (F aplicada individualmente a 204 crianças de 1a a 4a série
(1, 723) = 606,58, p < 0,000, r = 0,68, r² = 0,46); 4) VF do Ensino Fundamental, e seus resultados foram com-
(F (1, 723) = 555,69, p < 0,000, r = 0,66 r² = 0,44); 5) parados aos de escrita sob ditado do IDT, consciência
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
fonológica na PCFF, vocabulário receptivo auditivo no seja, só no terceiro estágio, o ortográfico, é que a crian-
TVF-Usp, e competência de leitura de palavras no ça pode reconhecer que, ainda que sejam homófonas e
TCLPP. Os resultados mostraram crescimento sistemá- condizentes com as figuras às quais se encontram asso-
tico e significativo no escore da PCS entre a 1a e a 4a ciadas, as pseudopalavras não pertencem ao léxico. É
série do Ensino Fundamental, mesmo após o controle nesse ponto que as crianças passam a ser capazes de se
do covariante inteligência. Mostraram também correla- dar conta, com frequência, de que “não é assim que se
ção positiva significativa entre os escores na PCS e em escreve” uma determinada palavra.
todos os demais quatro testes (i.e., vocabulário recepti- Um décimo terceiro estudo, desta feita conduzido
vo auditivo no TVF-Usp, escrita sob ditado no IDT, com surdos, é o de F. Capovilla e A. Capovilla (2006a),
competência de leitura de palavras no TCLPP, e cons- derivado do estudo maior descrito em F. Capovilla,
ciência fonológica por escolha de figuras na PCFF). Ou Viggiano, Capovilla, Raphael, Mauricio, e Bidá (2004).
seja, na faixa de escolaridade entre a 1a e a 4a série do Nesse estudo o TCLPP foi aplicado a 805 crianças,
Ensino Fundamental, a competência de leitura de pala- jovens e adultos surdos, de 6 a 45 anos de idade, estu-
vras, tal como avaliada pelo TCLP, também se encontra dantes da 1a série do Ensino Fundamental até a 1a série
positivamente correlacionada com a consciência sintá- do Ensino Médio, provenientes de seis escolas, sendo
tica, tal como avaliada pela PCS. quatro escolas municipais de educação especial (i.e.,
Um décimo segundo exemplo de validação do Emee) de São Paulo e duas filantrópicas do interior do
TCLPP é encontrado no estudo de F. Capovilla, Marci- estado de São Paulo. Dos 805 surdos avaliados no
lio, e A. Capovilla (2004b). Avaliando 116 crianças TCLPP, 700 estudavam em escolas especiais para sur-
ouvintes de 1a a 3a séries do Ensino Fundamental, esse dos, 80 em classes regulares de escolas regulares, e 25
estudo demonstrou um aumento sistemático e significa- em classes especiais. A Anova dos dados dos 805 esco-
tivo, entre as séries escolares sucessivas de 1a a 2a a 3a lares surdos no TCLPP revelou um aumento sistemático
série do Ensino Fundamental, tanto do escore geral no na competência de leitura da 1a série do Ensino Funda-
TCLPP quanto dos escores nos subtestes específicos de mental até a 1a do Ensino Médio (i.e., de 36,2 pontos a
CR, CI, PH e VF. Esse estudo também contribuiu para 40,9 a 45,8 a 49,9 a 53,9 a 54,3 a 56,2 a 59,5 e a 61,4
a validação de construto do TCLPP. Comparando as pontos). A pontuação cresceu sem alcançar o teto de 70
distribuições de erros entre os subtestes, o estudo de- pontos, o que sugere que o teste pode ser aplicado para
monstrou que a presença de irregularidades grafofonê- além da 1a série do Ensino Médio, até provavelmente a
micas dificulta o processamento de leitura (i.e., fre- conclusão do Ensino Superior. Tais dados permitiram
quência de erros em CI foi maior que em CR), e que a normatizar o TCLPP por série escolar e validá-lo por
melhora no processamento dessas palavras grafofone- comparação com os resultados nos outros dez testes,
micamente irregulares se dá de maneira abrupta na também normatizados para a mesma população. Em
passagem da 2a à 3a série, exatamente quando se conso- termos de validade por critério de correlação com outros
lida a rota lexical com a formação do léxico ortográfi- testes, os resultados revelaram que a competência de
co, ao passo que a melhora no processamento de pala- leitura de palavras no TCLPP esteve mais correlaciona-
vras grafofonemicamente regulares se dá de modo con- da com a competência de leitura de sentenças e com a
tínuo entre as séries. Isso é compatível com a noção de habilidade de nomear figuras (quer por escolha, quer
um desenvolvimento contínuo do automatismo da de- por escrita), do que com a habilidade de nomear sinais
codificação grafofonêmica típica do estágio alfabético. (quer por escolha, quer por escrita), e com esta do que
Comparando as distribuições de erros entre os subtestes com o vocabulário receptivo de sinais. Ou seja, a com-
VF e PH, o estudo também demonstrou que é mais fácil petência de leitura de itens isolados (i.e., palavras e
identificar trocas fonológicas (VF) do que reconhecer pseudopalavras) esteve mais correlacionada com as
malformações ortográficas (PH). Ou seja, a frequência competências de leitura e de escrita de nomes de figuras
de erros em PH foi maior que em VF. Isso é compatível do que com as de nomes de sinais, e com estas do que
com a noção de que o domínio do segundo estágio, o com a compreensão de sinais de Libras. O estudo tam-
alfabético, já basta para poder identificar eficientemen- bém identificou diferenças entre leitores surdos e ouvin-
te as trocas fonológicas (i.e., VF), ao passo que só o tes quanto ao padrão de acerto nos subtestes, revelando
domínio do terceiro estágio, o ortográfico, é que permi- peculiaridades do processamento ideovisual, perilexical
te identificar malformações ortográficas (i.e., PH). Ou e semântico dos estudantes surdos.
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
Analisando a distribuição de acertos nos subtestes empregaram duas habilidades funcionalmente indepen-
por 628 surdos de 1a a 8a série e comparando-a à distri- dentes: Uma para aceitar palavras corretas (sendo que,
buição de acertos de mil leitores ouvintes de 1a a 3a série, quanto melhor a aceitação de CR, tanto melhor a acei-
foi encontrado que o padrão de escores dos surdos (i.e., tação de CI), e outra para rejeitar, tanto pseudopalavras
[VS = 8,4] > [PE = 8,0] > [PH = 7,4] > [VF = 6,5] > (sendo que, quanto melhor a rejeição de um tipo de
[VV = 6,0]) difere de modo marcante do padrão dos pseudopalavras como VF, tanto melhor a rejeição dos
ouvintes (i.e., [PE = 9,2] > [VS = 8,8] > [VV = 7,9] > outros tipos de pseudopalavras como PH, PE e VV, e
[VF = 6,9] > [PH = 5,9]). As discrepâncias entre os pa- vice-versa), quanto palavras semanticamente incorretas
drões são reveladoras: (sendo que, quanto melhor a rejeição de VS, tanto me-
lhor a rejeição dos quatro tipos de pseudopalavra VF,
PH, PE e VV).
(1) Leitores ouvintes detectaram corretamente
VV mais que PH e VF (i.e., deixando-se enganar Esse estudo permitiu acompanhar o desenvolvi-
mais pela semelhança fonológica), já leitores mento da competência de leitura de itens isolados por
surdos detectaram corretamente mais PH e VF escolares surdos desde o início do Ensino Fundamental
que VV (i.e., deixando-se enganar mais pela se- até o Ensino Médio, em termos de estratégias logográ-
melhança visual); fica, perilexical e lexical; processamento ideovisual e
digital; e estágios logográfico, alfabético e ortográfico.
(2) Leitores ouvintes detectaram corretamente Isso possibilitará propiciar as condições mais eficazes
mais VF que PH (i.e., deixando-se enganar mais ao desenvolvimento da alfabetização e da escolarização
pela homofonia que pela semi-homofonia), já lei- competentes. Juntamente com estudos paralelos usando
tores surdos detectaram corretamente mais PH o TCLPP (F. Capovilla, A. Capovilla, Macedo, Bidá,
que VF; Neves, Giacomet & cols., 2005; F. Capovilla, A. Capo-
(3) Leitores ouvintes detectaram corretamente villa, Viggiano, Bidá, & Mauricio, 2004; F. Capovilla,
mais PE do que VS (i.e., deixando-se enganar A. Capovilla, Viggiano, Mauricio, & Bidá, 2005), ou-
mais por palavras ortográfica e fonologicamente tros testes de leitura e escrita em surdos (F. Capovilla,
familiares ainda que semanticamente inadequa- A. Capovilla, Mazza, Ameni, & Neves, 2006; F. Capo-
das às figuras do que por pseudopalavras orto- villa & Mazza, 2008; F. Capovilla, Mazza, Ameni,
gráfica e fonologicamente estranhas), já leitores Neves, & Capovilla, 2006; F. Capovilla, Viggiano,
surdos detectaram corretamente mais VS que PE Bidá & cols., 2005; F. Capovilla, Viggiano, Capovilla,
(i.e., privilegiando mais o processamento semân- Raphael & cols., 2005; F. Capovilla, Viggiano, Raphael
tico-ortográfico do que o ortográfico-fonológico, & cols., 2005), análises subsequentes de estudantes
com melhor detecção de inadequação semântica com diferentes graus de perda auditiva (i.e., profunda,
de palavras conhecidas do que de pseudopala- severa, moderada, leve) ocorrida em diferentes pontos
vras, uma vez que, do ponto de vista deles, essas da aquisição da linguagem (i.e., perda congênita, peri-
pseudopalavras poderiam ser simplesmente pala- lingual, pós-lingual) e com diferentes oportunidades de
vras que eles desconhecem). desenvolver habilidades de sinalização (F. Capovilla,
A. Capovilla, Viggiano, & Bidá, 2004; F. Capovilla,
Duduchi & cols., 2003; F. Capovilla, Raphael, & Mau-
Foi descoberto ainda, que, embora em termos ab- ricio, 2009) e leitura labial (F. Capovilla, de Martino &
solutos a ordem de pontuação dos leitores surdos tenha cols., 2009; F. Capovilla, Sousa-Sousa, Maki, Ameni,
sido VS > PE > PH > VF > VV, quando sua pontuação & Neves, 2008) permitirão avaliar precisamente o efei-
em cada subteste é comparada à dos ouvintes, a ordem to dessas variáveis na determinação da estratégia de
de pontuação dos leitores surdos foi a seguinte: Superi- leitura, apontando, assim, quais podem ser os procedi-
oridade em PH (em que pontuaram pouco mais que os mentos de alfabetização mais adequados a crianças
ouvintes de 3a série) do que em VF e VS (em que pon- com características particulares.
tuaram como os ouvintes entre a 1a e a 2a séries), e Em conjunto com os outros dez testes da bateria,
nestas do que em VV e PE (em que pontuaram como os o TCLPP constitui um instrumento de inestimável valor
ouvintes de 1a série). Analisando as correlações entre para a educação brasileira, permitindo ultrapassar o
os subtestes no TCLPP, foi descoberto que os surdos estágio primário de discussão de ideologias e aborda-
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD )HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
gens de ensino, em que se anatematiza e proscreve um começou e em que o TCLPP, implementado na Inter-
ou outro método, rumo a uma abordagem matricial, em net, passa a ser usado como ferramenta de teleavaliação
que se busca prescrever os procedimentos mais ade- de competências de leitura e comparação do desenvol-
quados para educandos com diferentes características vimento de ouvintes e surdos em escolas comuns e
individuais. Com isso, inaugura-se um novo tempo de especiais (e.g., F. Capovilla, A. Capovilla, & Macedo,
pesquisa científica e respeito às características indivi- 2007; F. Capovilla, Macedo, Penna, & Capovilla,
duais do educando surdo brasileiro, um tempo que já 2006).
7HVWHGH&RPSHWrQFLDGH/HLWXUDGH3DODYUDVH3VHXGRSDODYUDV7&/33
(VWXGRJOREDOSDUDDQiOLVHGHSUHFLVmR
YDOLGDGHHQRUPDWL]DomRGR7&/33
$OHVVDQGUD*RWX]R6HDEUD)HUQDQGR&pVDU&DSRYLOOD
(OL]HX&RXWLQKRGH0DFHGR1DWiOLD0DUWLQV'LDV%UXQD7RQLHWWL7UHYLVDQ