Você está na página 1de 65
Colegdo Othares Obliquos Revisiio Técnica Isadora Valencise Gregolin Diagramagio Claudia Silene Pereira de Oliveira Projeto Grifico e Blaboracao de Capa Dez e Dez Multimeios/Galeria Design Impressio e acabamento Grafica Suprema boil Discurso e midia: a cultura do espeticulal[organizado por] Maria do Rosésio Gregolin. — Sio Carlos: Claraluz, 2003, 135 p.— (Colegdo Olhares Obliquos ISBN 85-88638-05-3 1. Gregolin, Maria do Rosito. 1, Linguistica. 2. Andlise do discurso. 3. Midia, 2003 Editora Claraluz Rua Rafael de A. Sampaio Vidal, 1217 CEP 13560-390 - Centro /SioCarlos- SP Fone/Fax: (16) 274 8332 ‘wwnweditoraclaraluz.com.be On ryDEZCH Apresentagao Maria do Rosario Valencise Gregolin A midia e a espetacularizagdo da cultura 1.A politica como espeticulo J.5.Courtine 0s deslizamentos do espetéculo politico —~ ‘Simone Bonnafous ‘Sobre o bom uso da derristio em LM.Le Pen Carlos Félix Piovezani Filho Poltica miaitzadae midi politzada:fromelras mitigadas 49 na pés-modernidade 2. lingua como espeticulo Sitio Possenti Notas sobre a lingua na imprensa Roberto Leiser Baronas A lingua nas malhas do poder 3. A histéria como espeticulo Maria do Rosario Valencise Gregolin Oacontecimento discursivo na midia: metéfora de uma breve histéria do tempo~ 95 Pedro Luis Navarro Barbosa papel da imagem e da meméria na escrita jornalistica da historia do tempo presente M1 ‘Vanice Maria Oliveira Sargentini A teatralidade na geracdo de empregos: midia na campanka eleitoral- 125 DISCURSO EAUDIA-ACULTURA DO ESPETACUO A midia ea espetacularizagio da cultura Nio € possivel fazer uma oposigio abstrata entre 0 espeticulo e a atividade social efetiva: esse desdobramento também édesdobrado...) A realidade surge no espeticulo, e o espeticulo é real. Essa alienagio reefproca éaesséncia ea base da sociedade cexistente. Debord, 1997, p. 15) 11 de setembro de 2001: assistimos, ao vivo, pela televisio, avides se cchocarem contraas Twin Towers e a cena era familiar pos ja tinhamos visto, intimeras vezes, nas telas, em super-produgGes americanas. Entre a cena real e alguma cena de filme, ficamos indecisos: como distingui-las na era das tecnologias de informacio, quando tudo se volatiza em imagens ¢ redes ‘lutuantes que invadem nossa percepciio? O assombro banalizou-se. A cena, incontéveis vezes repetida, cristalizou-se no instantneo de nossas retinas, como parte do espeticulo que, passado o espanto, grudou-se no cotidiano, "Num tempo que jé nos parece longinquo ~ tala velocidade en brevidade ue tempo e espago adquiriram nos diltimos 40 anos - Guy Debord via a ‘sociedade do espetéculo” se instalando definitivamente. Nao seria a cena do atentado as TWT um acontecimento hiperbélico desse fendmeno, familiar para todos nés, do entranhamento do espeticulo na vida social? Em 1967, Debord distinguia duas formas, adversétias e complementares, do poder espetacular: a concentrada (que ele associa a0 totalitarismo soviético) © a difusa(tipica do capitalismo ocidental). Da combinasio desses dois poderes, vinte anos mais tarde, em seus Comentarios sobre a sociedade do espetdculo, Debord enxerga uma terceira forma—a espetacular integrada— caracteristica da hegemonia neo-liberal, do “pensamento tnico”, das diversas formas de lobalizacdo econdmica e cultural’. E antes dele, nos anos 30 ¢ 40, teéricas ‘como Benjamin, Adorno, Horkheimer, ete janunciavam a “industrializagao da cultura”, que a tudo conferia um ar de semelhanga, levando A indistingo entre 0 “real” eaquilo que era produzido pelos textos colocados em circulag? pela “inddstria cultural” E possfvel pensar essa produgo da cultura do espetéculo como um " DEBORD. G. A sociedade do espendcul. (Seguide de Comentiras sobre a sciedade do espeticui). Rio de Janeiro: Contrapont, 1997 fato de discurso. Essa € a perspectiva adotada pelos trabalhos que se apresentam aqui neste livro e que se colocam no interior da drea de estudos {que se convencionou denominar Andlise do Discurso. Constituida na Franga, no final dos anos 1960, principalmente em torno dos trabalhos de Michel Pécheuxe Michel Foucault, a Andlise do Discurso nasceu com o objetivo de explicar os mecanismos discursivos que embasam a produgio dos sentidos. Entendendo que h uma relagdo fundamental entre olingistico e 0 histérico, «esse campo transdisciplinar produziu intimeras pesquisas que se voltam para ‘a compreensdo de como se di a produgo ea interpretagao dos textos em um oFo]yAp win ap v ‘uo soquerdiu 2p ojuourouo|stude 0 lun « aquapfour » owwo9 sw rede Uod 2°] aUOpY-UeDf Nur Sou apod anb ojduoxo aiuojeax9 wun ‘wo arsisto0 sopoipuu shes sop UH,“ yfequa4 aINEDOU LAN 9p | (© woo tag 9 -W’f 40d epypuos 9 wpiqaouod 9 seispeUof so wo9 oBdeO1u {por = seisiaaidur seisodsas ap orout sod « 094g 0 s2qf-1e)09 sens wo 9s-wazepaiua s ® STV RT OT ETO VOIRTOSTSTS ‘inoyinusaoavaninna wan TORO od “ DISCURSO EMIDIA-ACULTURADO ESPETACULO € esquerdistas (Le Monde, 05/11/1983), dos grevistas preguigosos ¢ indolents dos padres que aderram ao clericalsmo mariona do raroor rancoso do jomalista Botherel do Figaro ou dos funciondros que sempre ésperam seu cheque de final de més, do Duplo Cretino (Kahn. Weure de Verité, 2701/1988) ,do Fabs cunctatorposteriormente mudado para Fabius Giscardor (LE PEN, 1985, p48), etc. Abundam as metéforasecomparasdes sexuais contra Michel Rocard, 0 canpedo da recuada voluntaria (Wari, 1995, p.69), contra os partidos tradicionais que Le Pen acusa de estarem de quatro (Lutz, 1988, .23), conrao UDF e oRPR pintaloscomovehassolteinas ‘lias sql ni erin inten devia Late, 1988, p.25) coma 4 associagto das mulheres norte-africanas no cio (Kahn, Heure de Ver 2101/1988), etc. aa Enconta-se portant, no dlscurs lepenista, oconjunto de proceditnentos «que Mare Angenot denomina “figura da agressio” ou “conjuto dos meios ‘io demonstrativos, nao argumentativos, que visam a desconsiderar 0 adverssio a perturbaro lito, a desencorajar a contovéria a ameagar se ‘efutar" (ANGENOT 1982, p.249 es.) e entre os quais ee alia tanto a injriae a metafora polémica quanto o sarcasino antfrase eo calembut Essa pitica da derrsiocoloca, evidentemente, a dlicada quest da distingdo entre a "farsa" (blague) ea “caricatura” que seriam essencialmente humersias ea nria eo srasmo gu ean, sobre, d nde agressiva. Ndopretendemos trata, aqui, deste tema, cuja simples formulagao indica sa extrema complexdads eremeemeos tur do lve de Evelone Laguerche, intitulado L'njure fleur de pean (1993), cuja discuss se apdia sobre as teses de Freud (1988), Sem pretender oferecer resposts definitivas, essa obra mostra bem que afronteira entre intra e palavras esprituosas (ou {jogos de palavras) pode serextremamente ténue © mével e que 0 “eleto injria” ou o “efeito derrs30" dependem amplamente do contexte daintengao ue se pode atribuir ou nio ao autor, da eago dapesso atingida date do pblcoedeseupertenimentoounio ao mundo social eideoldgica do autor ex Certos jogos de palavraseférmulasempregadas por 1M. Le Pn fazem, evidentemete rr grandes ait e so muito proximos daguelespropostos Por programas televsivos satiieos. E 0 que ocorre no programa 7/7 fi 'mencionad, na dendncia da oposcto politica manda pela barbiha enguanto 7 Mas como saber se av brncadeias bre as mulheres, of ‘ituais sobre as mulheres, os funcionéros ou 08 ‘tga, par tomar as mais feqents ma Franca, realmente faem rt as pessoas qu sto set vos ous os ess propo oa es lage com a ‘ainda, de racismo ? me we forms eit om NG ast testamos com um piblico de estudantes, pouc favorives, em sua imensa mio Asides lepenstase x0 penonager ” DISCURSOEMIDIA.ACUETURA DO ESPETACULO 4“ ‘ela’ se mantém pela valise* ou o jogo com o nome proprio de Prillipe de Villers, que 1M. Le Pen evesteridiculamente com o niimero 000, em alusio ‘0s seus indices eleitorais: “O que eu sei sobre espionage, sei-o sobretudo lendo osenhor de Villiers, romancista, noo outro. Aquele do 007, no aquele 140 000". Edifcil, também, conteroriso diante da evocagio aos Estados Unidos ‘que oferecem “o espeticulo deplorivel de um presidente garoto de recados, confuso e hilariante, assediado por Tartufos exibicionistas”? E evidente que, por razdes contextuais, hist6ricas ¢ ideol6gicas, os yg0s de palavras” sobre Durafour-crematério ou sobre Mamma Haine Sinclair, vendedora de sutias da TFI' no podem ser vistos como simples jogos de linguagem. O que nio impede J.M. Le Pen de negar os propésitos, Tancorosos das suas charges ¢ de eivindicar 0 direito a gracejos e a ironias: Eu os desafio a encontrarem uma palavea rancorosa, © que fago & inonizar meus advesisios politicos, o que fago €ressaltar 0 seu ical ‘ou sas insufilgneias, mas eu estou exercendo o meu papel, eno & ‘com finalidadeerudita queen aprendio ditado ‘Castigat ridendo', no respondeu ele a LF. Khan que acabara de ler uma longa lista de f6rmulas agressivas ¢ ofensivas pronunciadas pelo presidente da Frente Nacional (Wheure de vérité, 2101/1988). Ele se defendeu no mesmo tom depois de seu calembur sobre Miche! Durafour, ministro da Administraco Pablica CCreio compreender que_ hi na politica palavrassagradas,cujo uso é roibido, hum nove deito politico, que €o delito dablasi2mia, poiseu, "ealmente, qualifique osenhor Durafour por um jogo depalavrascuja sutleza alguém pode ou no apreciar,Duraforno-crematério® .Como ‘ senlior Durafour queria a morte da Frente Nacional, essa me pareceu ‘uma boa expresso. E que isso tenha provocado esse tipo de reapio ‘mostra em que estado de servo esto os esprit. Agora, quanto a rim, espero que se estabeleca a lista de minkasliberdades. Homem politico francés, o que & que eu tenho, agora 0 direito de dizer?™ Alani oma rcambolesa roca de valiss hela de nota fiszals no caso chamado de Sehuller-Maréchat. Discurso de Jean-Marie Le Pen pronunciado na festa Blew-Blanc Rouge (BBR 1998), depois do caso Lewinsk,citado por Dupuis (1998, p. 26; 152), em sua Teserealizada sob ‘rentagto de Dominique Desmarchelir, Universidade de Pui V. Trata-se de um dscurso de encerramento feta do Blew-Blone-Rouge (20/10/1985), eitado por Birnbaum (1992, p37), 3 "Nota do Tradutor: hé nessa expresto 0 jogo fonético com © nome do ministo Durafour: four, em trancts, significa foro, dat a expressio Durafornocrematéto. 2 Enevista coletva & unprensa, ansmitda pelo canal FR3, em 3 de steno de 1988, no jomal FT) das 22 horas. } a DISCURSORMIDIA-ACUETURA DOESPETACULO (Calembur ou injiria? Pressionadaaresolver a questao, ajustigahesita, condenando em Nanterre por injiéria contra wm ministro e relaxando em Versailles diante da apelagao de que se trata de wm calembur proferido em pertodo pré-eleitoral, contra um adversdrio politico que nao escondera sua vontade de eliininar um partido oponente, a EN. (Birenbaum 1992, p.143), Prova, se necessério, a impossibilidade freqlente de dissociar Jogo de palavra injdria, caricatura e sarcasmo, “Duraforno-cremat6rio” é {anto uma injéria quanto um calembur*, como “Mamma Haine Sinclair” ou como “F-Odio”, formula correntemente wilizada pelos adversérios da Frente Nacional Todo o perigo e a forga dessas formulas esté no fato de poder divertir até mesmo aqueles que as condenam: por meio do prazer assim Provocado,o autor do jogo de palavras ou da caricatura injuriosa consegue ¢stabelecer uma cumplicidade forgada com o seu auditério,em detrimento da pessoa visada. Com seus jogos de palavrase suas blagues de “efeitoinjurioso”, Jean- Marie Le Pen vence em, pelo menos quatro aspectos. Ele denigreeridiculariza seus adversirios, 0 que & 0 seu objetivo primeiro; ele se esquiva de ter que fundamentar seus ataques em demonstragdes; ele “manipula” seu auditorie ‘ou seus leitores pelo riso ou pela admiracao conseguida pelas suas proezas verbais e suas invengdes; , o que ndo é negligenciével, ele evita os processos 04 0$ atenua, ao se abrigar na brincadeira Se a dertisio lepenista toma pessoas como alvo, sao, contudo, as idéias, politica ¢ os programas de seus adversérios que o lider da extrema-dircita combate em primeiro plano. Também nesse caso a derrisio é uma de suas armas favoritas, © discurso e os escritos de Le Pen sio, desse modo, eivados de caricaturas dos adversérios, de antifrases, de “discursos dirctos"™*, de 2 GE. anise dos calemburs do Canard Enchinérealizalss por Angenot (1982): «0 ‘alembur osupa un lugar central na concept fancesa da palaveaeapintuona Conant Enchainé, qo depois de sesenta anos perpeia wna trig entendia como tpeamente francesa, no decors do tempo finou nos acontecimentos pico elemburs oe patos ‘er catendidos, de acordo com o humor do momenta, como vingatves eu com ensdioos 2 Nota do Traduor: para denunciaro caer fasta da FN os adveros@deoorinane F-liaine («Frente Odio»), a pair da semelhanca foncica cate w FN ¢ «Flame n 2 Sobre o papel fundamental de todos eses procedmentos no discus panto, ver Angenot (1982, p. 281): «A aniase, 20 assoalr um excindale, elimina to ulgeate 4 aprovao ou de desaprovago. O polemista explora ss miimasidealioes de sous adversrios até as ultima conseqiencas.» % Angenot (1982, p.289). retomando Fontanier, define esse procedimento como 0 «iscurso dict Fiecional, por meio do qual pode-s fazer qualgucr am lan, copecainents © adverstio, do pono de vista que se cté que sea a sua psigan mo debate | B DISCURSO EMIDIA-ACUETURADO ESPETACLLO 4 nico no qual “ Joni qu constitu um daogism pico x0 ‘Tek opemsment Jo io ncesanemente sobveroseperverio pants noo » ‘Se aplicsissemos a filosofia de M. Harlem Désir, ba: ay lems depsessom es fia font equ entasen coma ‘hagagem de turstas ou de imigrantes para que n6s (LEPEN, 1985, p. 289) raneses, sandal a contig do Sei-Lankna moss coooni aos ‘Turco as Bees Artes, dos zaienses nica, dos anptinos a0. costumes Sem cles, certamente, ns ainda seramos selvagens. PEN, 1985, p. 242) b) discurso direto.e oximoro: “Coragem,fujamos!"? «© estratégia de confissdio e metifora animalizante: ‘uns, demogrfica para outros.* aeeeaee caine de extrem deta contemporinea (199, p. 11-3, catia Rowen que Monon € Fs (1989, p14) do aes expe: , p18-18 ° Fe cot encorament net do PBR 1998 ado por Dua (199,92 % pjcumo de encewamento, BUR 1998, citado por Dupuis (1989, p26) “ DISCURSO EMIDIA.A CULTURA DO RSPETACULO de um nigra od adnistgh,onzar 0 wo denuti ans Em ods esas 0" €or a ae Redon a fe aeegeenei te cageael ot Desse apelo & conivéncia ¢ ao trabalho interpretativo do leitor ou do Cuvinte fundado sobre o recurso massivo a0 implicit, Alice Krieg oferece luma colegio de exemplos retirados de Minute, de National Hebdo ou de Rivarol, Citemos, entre os mais tipicos, aquele que, no National Hebdo de 19 de fevereiro de 1998, ataca as teses comunistas sobre a inseguranga: A candidata comunista proximaseleiges do conse 2s eleigbes do consetho geral acaba «de destinaro mesmo tipo de panfleto 3s comunidades sobre o tetna da inseguranga ¢ do racism” (sic). O panfletaé cetamente,sasinado em conjunto com 6 MRAP." (p. 26) De ponte de vista dos mecanisos e ds fuges, pode se dizer, témino deste pido panorama das fra sos daderndvein) M Leben ue 08 ts casos que nds anaisamos - deularzagie dos Jolin imerato: jogs de plas brincadsrs mis ou mens injacen come adversriosasenes;e iron a tees © termos de adtesinen io Comum oft de jogarem com oimpico, de iterarem do pee da rane sobre azar ed ria, independentemen da vont dos passe de ineragio, a umplcdad com os alvos do discus polenice Rene omen o discurso de 1M, Le Pen aproxima-se do discurso panfletério, tal como este € desert por Mare Angent © panfleto fica pouco & vontade nas estraégiasordindias do dscurso tntimemético 1. Em primeiro lugar, cle nio € portador de uma ‘convicctio moderada, mas de uma evidénciae aevidenciaé da dem {do tudo os nada; ele no se manifesta por uma estratégia progressive, mas abruptamente, ‘explode’, e sua explosto faz com que cle ie tenha necessidade de prova. (p41) Nota do Tran MRAP & 0 te Rai lowerment cone le Raise et pour PAmiti ene "es Peps (Mvimeno convo rics pla amie ets os ne) ie ra DISCURSO EMADIA.ACULTURA DO ESHETACULO 45 Para efeito de conclusto e para evitar que o discurso de JM. Le Pen apareca como o simples e tnico continuador de uma tradigao panfletéria, “bem francesa”, o que finalmente apenas confirmaria suas proprias pretenses, sublinharemos «8s pontos: Primeiramente, como sempre, a que se rata de estiloe de forma, JM. Le Pen nao detém 0 monopélio de nenhuma das retéricas da derrisio aqui descritas. Alice Krieg observou, com justeza, que Le Canard Enchainé e Charlie Hebdo servern-se largamente do “sic”, ainda que a imprensa de ‘extrema direita detenha o recorde de freqiéncia desse uso. Do mesmo modo, todos os politicos usam a ironia e todos sabem que 0 didlogo polémico, ‘mesmo nas interagbes cotidianas, 6 eivado de deformagies dos propdsitos alheios. O que caracteriza os enunciados de Le Pen no &, portanto, a cexclusividade desses procedimentos, mas sua freqiéncia e sua violencia, maior do que se permite qualquer outro ator politico. Em segundo lugar, é preciso notar que a mesma postura ideol6gica nao produz, forcosamente, os mesmos efeitos. Se as teses defendidas por Bruno Maigret e seu partido™, so, de fato, muito proximas daquelas da FN -€ até ‘mesmo as superam no que diz respeito A imigracdo e aos imigrantes - ocorre aque seu lider nunca se singularizou pelo excesso da linguagem. Conclui Dupuis, em um estudo comparado dos discursos de Maigret e de Le Pen, efetuado antes dacisd0, momento em que o primero era ainda delegado geral aN: (© discurso de Maigret se constr sobretndo pela ‘stile’ ele insinua ‘vez por outra uma imagem argumentative de modo homogéaco, sem abusar dela esse discurso € 0 oposto da heterogeneidade lepenista, a ‘ual se inscreve, antes de tudo, em uma estralégia de excesso, de riteragio para convencer seu publico. (DUPUIS, 1999, p.32) Uma comparacio dos discursos dos dois lideres, disponiveis, atualmente, em seus sites na Internet, nilo desmente essa constatagio feita fem 1999. Deve-se associar 0 fracasso politico do M.N.R. a essa banalidade FetGrica? Essa questo merece ser investigada Nao podemos, enfim, negligenciar a adequaco do estilo lepenista & ‘dia hoje dominante, isto, a televis2o. Os discursos pantletirios estudados por Mare Angenot so todos de textos escritos; ora, o discurso de J.M.Le O MINK, nacido da cisto da Frente Nacional EEE’ TI 4s DISCURSO EMIDUA-A CULTURADOESPETACUIO Pen anes de tudo, um dscursopronuciado por um home corpuent, de grande presenga fisica, que torna cada uma de suas apresentagées ¥ espetiulo de "grande pablo” jogano,alemadancnte omrrccees on tos, dosed conte, Oexame dequlgverpoprana elevate et Com 1M, LePsn, permite verifearapare conidrivelde memeneg connec cele ri as gargalhadas. O auditério, geralmente: ‘composto por pessoas pry 7 ee freqéncia, com os jomalsis que o enltevistan, no menos oes pen fg ire Equa os ous pli en ape Ppa de vada ihrem um pon do go dae cise Suficiente a Le Pen aparecer em um estidio de televisdio para que este s transforme em um palco teatral. Chegamos, assim, atualmente, a uma sit. io Daradoral, na qual de um led, os textos da ees omente des a talizam taba depoire de polcaros seus dacurowe decote tay perfomance exuberant ote, misrando dena» apes, Para deleite dos telespectadores, habituados a esses espetéculos na orale de programapio levis. Provsoias ou mevesnes iui eae inode setromn onitacenpattenn peoortnones € outs dre poem ser entadas jogs um din com accra Referéncias Bibliogrificas ACHARD, .Jea-Marie Le Pnetlesmédias: exemple delat cae ‘de Paris X-Nanterre, Tese em Histéria, 1995. (mimeo) 7 ANGENOT.M.Lapare paps oe Pay 882 NNOLD, N.: DOUGNAC, Fi TOURNIER. M. Chronique lexical des tm roco de pm d sear undo eo poe oss sme aan =e oe . cca incias ~ que a FIN est em declinio © © senhor insiste, sed pe) oa liabolicum, contra as evidéncias. Ew temo que o senhor tenhs gest de Brame ese sigs os sem, tanto Le Pen es pai, como, soc CE: sobre ess pono, Le Monde y wer Ponto, Le Monde TV de 29/1199 SIL289 © Le Monde TY de 6 © 71 DISCURSOEMIDIA.A CULTURA DOESPETACULO 7 Jopod tain opodorg uum ap as-erexy,Jaavn ‘un otr03 0 anb yeuad 9 ye10u winpuo9 37 {ap 2 ajonu09 ap s1e1908 2ps0q1 (CTE LL61 ‘LIAVONOS) «SY ams9p no Se-PIgop ‘sey Eq anb OP Seu sy puapuo w 9 s09s0x0 s-p2ejv ‘se szmpoud v opeunsap zopod wn, “epla v9 0903 ofta 4opod ap seifojoun sPusapoUl a4foAUasOp [0009 Op apeparnose ‘fos 19 (OTZ' 000g EIAVONOD.0218} "eanFUs O“onHBIOH 6 "modu syeus ab 0 9 vansTodo1qv, 9 apps w wed ‘orpfns ov 2oduutanb zeus fun oxto> euoiouny apepuet “Spepuoyanaens 2 oso 0 opuesey, "std onb ony sap tnt ap zea ‘058 sod ouo}3e}uDsaxdau 9 OpEU2p30 01 lun ap oupisodap owwenbua w9quie seu “saseuyidiosip soode ip sep op 0 9 00109 0 sop se8ay oysenbu> seuade ou seu stp onafns wun znposd anb o ‘oduoa 0 wro9 9 odio> ou wpquie) set fqnssap ap atapdso ‘bain pyzznpoud anb o "eBoqoapr up no. tod aiuowos ov 1s vu Sopejonuoa OBS SonpsAIPUT SO “PHSSoDOU OLY aIuOUILANIIO so anb ofe 2p ij e[ad opsusasdox run seu “ouSeumgns Eun By OBL ‘opout 9ss0q]"eseIue] ap BULIO} Cu ossa9¥ Lun ap apeprriqyssod w seul ‘omnposd ‘un 9 ou onofns ov 2puan sauodns SoSIoAIp steur stas sou viprul e anb 0 ‘ouaye wo sapeptaniatgns ap opSeLi0 ajuanbosuoo wns & 9 eUOpLDIAUE WO) oatuputes oansyndaye}ou zoqes op opSeanisod wssou orsejou STEW! "99 ‘TeI00S pia ep 2 oxeqen 9p sogdems sesioaip steur seu opSeorunuoD v e0UaU ‘oSaudura wiog dun zewruse oy gpd osinouoo wu sessed “estar Bu Jopuaast "suapuo saqtaiajip sfeul Sup SOSS9 SoPUPISSOIAN“Y-MUINSOD ap 19, $9189 ‘nb apeprssaaau ep urund v souiofns soe wproasay0 9 eomugues enuy] Y ‘ougysts01 va opeasour-royy-anyjo :saseuqUToAA soQsTUON AT) (¢s'4" 1007 THOANY )pearaut oUI09 zmpoxdor 2s 9) seLOPSIOU Zn ‘onb vpipaw ¢ “waSensuy| v,, “wIssy *,oansyn jad faapsuodsar ootun 0 9 2[3 “efas nO “ouusoue 2} + sonsinSul| serougroyp, sons s13dns BatsUo9 oF opuenb sey 2p szvdeou su P30} Bp ex %O}o0p1 Sopesapisuos wasos sod ‘sefoupsunatosey29 wo ue Jaahas An so to sapepfonso sonrets _EuYJoAor SOU "eDs9 9580) 95"OKod in apesO_LeTS9kIDIIS CAD Y o'wepy sottafns sou/sop sopepissaaau sessa stidns ap sazede ‘ueus oab ‘eumpuoo ap seumsou opueurusassip apeporoos wu wip aU ‘sauodns SOsIoAIp stu sn2s sou ‘eIpru& “Soqra{ns SoU;sop sapepIssas0U ap oRSeuD 9 ossaooid ox9[dwo win 9p orpauniazut sod ‘opous anno op ove, ous sono an ‘suo1uiaiap Soe aiusueAnalgo WowUEMs opeasaM ope 5 soaps soi apo ps9 sean > OBS200 9p [UO axpBoxal 9 wpRIBgHAP "epEI ‘opeosoUu op sto se o-opuatotuqns soqes op opSounossues up so _ UHL waypaioy soWaureded ap eSuETEQ FU HEYsPO OUR|ONAE ‘ofoalwasop 0 opuinurunp 3310 seU22e 1245 seu oy SoLUOLD > ssutouosd sop rasan sapepinSiqus se opuasjosa‘onb ofp n9 ost 0 ‘0002 9p ofseu 9p Zz wo wfo4 vistnoyt vu Wupquuny opeariqnd a TSHR Oa ARTI V VGN OST ‘oinoyasass oaveninnoy maINTORIRONTG w | eal DISCURSO EMIDIA-ACULTURADO ESPETACULO definidos pelo olhar-leitor-mercado como vélidos. 'Nesse sentido, ousariamos dizer que o saber metalingt instrumentalizado na nossa sociedade pelas graméticas e pelos dicionérios, ‘ransformado em mercadoria pela midia, tal qual outros bens culturais, como ‘a miisica, a literatura, as artes plisticas, ete. se constitui em mais uma das tecnologias de governamentabilidade dos corpos, ou seja, em mais um instrumento que visa domesticar o sujeito necessério para a existéncia e a ‘manutengiio da sociedade capitalista. Do mesmo modo que a iia desenvolve campanhas de vacinagdo de idosos para diminuir os custos financeiros dos rgios estatais e privados com internagio, tratamento, etc, cria também ccampanhas para “restabelecer” a sade lingifstica dos brasileiro, visto que (0s “problemas” de comunicagao também geram prejuizos. Assim, pela l6gica wad Sopfoaqu0an soqwowsoiuose so - joyuedso ovu 9 sgngmuod O19} “oquo[o3 op 2 yeaqeD - exmno oprs wyuar opeagojoo om © BOquld ‘oMO|ISEAq OSE. ON, sauenoned sagSea1piuats arznpoud ered sodnud sopeuruurop 9p sassaraiut © niAsOs ONL op BULIO] wU sootIOISTY soIUsLHTDoTUODE 0 seuorouny s9z0y ap ossaooud ass “ONTUL Bf-PUIOY no v]-yzIFENKOW Bred 2 sual Sep astPUPENY "7661 9 OpBIOUIAOD "LIA Rp OWUSLIIGODSSD op ompuaiua> A 0 a1gos S0WAA0R Sop 9 wouIOTeD vID13| vp sOsinasip so uromuaurmpiny 2s nb v aigosasoq eared epue wi Sou ‘oper ou OF 2s srznpoxdox 2oared soayoadso sug © opuapuate‘oeSeindiuou se, oda ‘essap spre ve}ounuop ered wx ‘ayuopuodaput a wusAPOU ogSeu 2p OLPAPL 6 rentasns ved tio “ontotqoosop op (om ‘oPSypen) enIwroa 2 Ors as-uesewne “seoqo s99se199 99 SEP OLD 109 98 anb ootFoq0=p! ‘uous op mon ing seaojoa septa Had no wns wad oped ‘auteayjoqus 55734 sents worse wand esau "MISSY “PANO uwapio wssapsonxa Soe sOpeynouTA SoPURS Sop oBSNpORd wU SOpEUOIT OFS siod ‘expyus ep osanasip op eanimnstos apeprouasozeiay vp vista Wie, ‘perpouow ‘uorsty essop vrougata e ezzia}sem anb apeprumur 9 viouersip ap wamstuH ‘euro e ‘sesseta so ema *9 np O1UIDOFDEA 9859 0g “ELONSTY OWIOD OPIAI fo onauneyexpout od vipa v 9p 010 OSH ¥as-vUOS “o|NaPIadsa ap LUHIO} qos 0: ‘ogSeotunitiog 2p Sorow sop o¥npoig “waxtA o onb sajanbep ourrxoad stew ‘ogesouduut “Bjaugoaruose ap onfaj2 0 wiaqueses ax anb “woFewE ‘9 woeyuoU wun ap ommpoxd ‘opm 2p sarue “9 Seqndquew ap sexdaness op (oBauduua ojod ened 2s anb ‘gpepotoos un wa wt ‘9s ab ‘ojmeqnen oqtotoqusueuused “Joxpqeoeuy vrougzoysue wss9p ofotl Zod ‘-soambre sonno eed ayuou ep 9 burwiny ojuou v wsed sonmbse sop axow 3s anb ossagoxd uin 9 ¥I9 “oUYANW0D Ojo o}USU Sp euunuow onred wo ‘epefore aruaturrajduioo piso ove watsinosip euOUaUt “eIsTA ap oMtiod oss0u 9d] TypRU vp Soambye sou seat ‘sony op wSaqeo bu steu eAIuOdUS ‘98 opu anb “feloos euOUaUT vp C}uoMEDO}Sop tun yy estaRA wp OqUUIETINS ‘o sode ‘onb rouge av (6661) UorTeaucl #BOHO OBSM]o1I09 BUEYRAUAS 14 $5661 "VXON) “oBSnpoxd eulosd ns» wuss 9p 2p Y ‘oouorsix3 ene ap opSipuos eudod ' owioo sew “Soiuapuodopur u2un 50 sfonb sop sau ooo seuade wo (C)senixaapad sou op wu ‘nba toa oF "BION wanasse owOD “wIpIUI Epo ‘0 Sieur 9 ou OWuaUIDaIUODE Op oFSNpOAd 9p ‘eougja0xe tod sy Q “oaU}9aIUOIE Op etULAH v Gos "essELH ap oBdeDTUNIHOD ap soujaede sop 41 ‘OU “epynsisuos opuas aruosasd oduiny op ‘eloist aistsse apepotdos v ‘opout assaqy “oot omneIse wan 239709 Oe ‘uipquies oto ‘oonsy[eus0F owuousToa Nose wo ayuasard 0 eULIO|sUE aqUaIUOS oyu mips Y jeurof oquatutomu0s® a FID VERTOT ES VERT ORTTG ‘Ginoyiaasa Oa wanLano vMa]NTOsuNDSTG oT

Você também pode gostar