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LEITURA ORANTE DA BÍBLIA

ENCONTRO COM A PALAVRA

Compilação, organização e produção digital:


Luiz Edgar de Carvalho

“Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas.


Os livros só mudam as pessoas”.
Mário Quintana

Mens Sana
Publicações eletrônicas para ler e pensar

2009

Bibliografia:
“Tua Palavra é Vida 1” – VV.AA. - Edições CRB/Loyola
Fazer Arder o Coração – Frei Carlos Mesters, Editora do Carmo
Revista de Estudos Bíblicos Nº 32, Vozes
História do Povo de Deus – Roteiros para Reflexão, CEBI/Paulus.

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LEITURA ORANTE DA BÍBLIA
ÍNDICE
Apresentação
I. As várias maneiras de se olhar e ler a Bíblia
II. Os critérios da Leitura Orante da Bíblia
III. Um pouco de história sobre a Leitura Orante da Bíblia
IV. Considerações gerais sobre a Leitura Orante da Bíblia
V. Os quatro degraus da Leitura Orante da Bíblia
VI. Como fazer a Leitura Orante da Bíblia, hoje?
VII. O método a ser usado nas reuniões de Leitura Orante da Bíblia
Roteiros para reflexão
Encontro 1: A opressão no Egito e a libertação pelo poder de Deus
Encontro 2: A organização do povo e a distribuição da terra
Encontro 3: Recuperação da memória e da própria identidade
Encontro 4: Crise e mudança do sistema tribal para a monarquia
Encontro 5: Os profetas criticam os reis em nome da Aliança
Encontro 6: Exílio: desintegração, nova libertação (587-445 a.C.)
Encontro 7: Reorganização do povo com base na lei (Esdras e Neemias)
Encontro 8: Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão cultural
Encontro 9: Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo
Encontro 10: As comunidades: um novo modo de ser Povo de Deus
Encontro 11: Expansão do Evangelho pelo mundo
Encontro 12: Perseguição e resistência no final do século I
VIII. Resumo: a mística que deve animar a Leitura Orante da Bíblia
IX. A visão global da Bíblia: Reler o passado à luz do presente
X. História do Povo de Deus - Linha do tempo

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APRESENTAÇÃO
Estão reunidos aqui alguns temas sobre a Leitura Orante da Bíblia. A Leitura Orante (Lectio
Divina) tem que ser o eixo da nossa espiritualidade. Dirigido a todas as pessoas – leigos, leigas,
religiosos, religiosas, agentes de pastoral –, o assunto é bastante amplo. A Palavra de Deus é como o
arroz e feijão de todos os dias. Não há diferença entre o arroz que se come em nossa casa e na casa do
nosso vizinho. É o alimento de todos para todos os dias. A diferença está somente no tempero!
A grande novidade eclesial acontecida nos últimos anos do milênio recém findo foi o
reencontro das comunidades com a Palavra de Deus. É difícil explicar como foi que tudo aconteceu.
De repente, desde os anos sessenta, cresceu o interesse de todas as pessoas nas comunidades pela
Bíblia, como nunca antes em toda a história da América Latina.
A Bíblia está sendo usada para tudo: orações e preces, cursos e concursos, treinamentos e
retiros, reuniões e encontros, celebrações e vigílias, sermões e discursos, catequese e novenas, teatros e
dramatizações, músicas e benditos, contos e cantos, gincanas e charadas, luta sindical e organização de
greves, construção de capelas e mutirão para construir barracos, crítica ao clero e revisão da própria
vida, reunião política e comício de partido, luta pela terra e defesa do índio, cartas de apoio e
manifestos contra as injustiças, procissão da Padroeira e passeata para exigir os direitos, luta pela
saúde do povo e esforço para voltar aos remédios caseiros, terço de Nossa Senhora e Mês de Maio,
educação em família e educação popular de base, clubes de mães e organizações de bairro, invasão de
terra e romarias, luta de operários e piquete nas portas das fábricas, jejum de protesto e resistência
contra pistoleiros, manifestações em frente à delegacia de polícia e apoio aos presos políticos,
manifestações ecológicas em defesa do meio ambiente e defesa dos Direitos Humanos etc. Realmente,
o povo das nossas Comunidades está usando a Bíblia para tudo, ou quase tudo!
Com esta lista de coisas, algumas até curiosas, que o povo anda fazendo com a Bíblia,
queremos chamar a atenção para uma outra coisa muito importante: o povo das comunidades sabe
misturar a Palavra de Deus em todas as coisas de sua vida. E nela encontra a força para caminhar e não
desanimar na luta!
Esta presença tão forte da Bíblia na vida das comunidades revela que ela é como luz que faz
enxergar melhor a vida, é como força que faz agir melhor e é como autoridade que faz decidir melhor.
Na Leitura Orante da Bíblia, apesar das diferenças próprias de cada comunidade, existe um
método, cujas características básicas são comuns a todos, o qual podemos aprender. Um método é
muito mais do que só umas técnicas e dinâmicas. É uma atitude que se toma frente ao texto da Bíblia e
frente à própria vida. Este método é muito simples: 1. Vamos ler a Bíblia a partir da nossa luta e da
nossa realidade; 2. Esta leitura, antes de tudo, é uma leitura comunitária, uma prática orante, um ato de
fé; 3. Esta leitura deve ser obediente, isto é, respeitando o texto e se colocando à escuta do que Deus
tem a dizer, dispostos a mudar se Ele assim o exigir.
A Leitura Orante não é apenas um exercício de leitura que retoma ou reinterpreta algumas
palavras do passado, mas tem a ver com o próprio processo de crescimento e libertação de um povo e
com a sua caminhada através da história. A Leitura Orante ajuda a realizar a obrigação que temos de
captar e experimentar a novidade de Deus presente na história humana, verbalizá-la e transformá-la em
Boa-Nova para o povo e, por último, encarná-la e expressá-la em novas formas de vida de tal maneira
que, por meio dela, o povo possa perceber, novamente, o seu alcance para a vida e despertar para a sua
missão.
A Leitura Orante da Bíblia é, assim, como a velha árvore do fundo do quintal que nunca
envelhece, pois, todo ano, fornece frutos novos! Nova experiência de Deus, nova leitura do passado,
nova consciência da realidade: são os três pólos, inseparavelmente unidos entre si, que geraram e
continuam gerando a (re)-leitura das palavras sagradas que nos vêm do passado. É isto o que nos
propomos nas páginas seguintes: vivência comunitária, onde se experimenta Deus de maneira nova,
fidelidade ao texto bíblico que representa a tradição e o passado, e atenção aos problemas da realidade.
E é isto o que desejamos.

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I - AS VÁRIAS MANEIRAS DE SE OLHAR E LER A BÍBLIA
O que está na Bíblia não está só na Bíblia. Está também na vida de todos os que procuram viver
na fidelidade à Palavra. Abrindo a Bíblia nós não abrimos um livro estranho, mas sim um livro que
fala de nós mesmos, de nossa vida, da nossa caminhada e da nossa luta. Na Leitura Orante da Bíblia,
vamos olhar para o que é nosso, “escrito para nós” (1Cor 10,11). Vamos descobrir, com a ajuda da
Bíblia, que a Palavra de Deus está na nossa vida, na nossa história, na história de nosso povo.
Olhando de longe, a Bíblia parece uma parede imensa, onde cada tijolo contribui a seu modo
para fazer aparecer o desenho do projeto de Deus. Apesar de enorme, feito de muitos tijolos, de muitos
textos e livros, o desenho tem uma grande unidade. De ponta a ponta, transparecem nele os traços de
um rosto. É o rosto do próprio Deus com os traços humanos de Jesus Cristo. É Jesus que, de maneira
discreta, dá unidade a todas as partes da Bíblia.
Olhando mais de perto, nós percebemos o que de longe não aparece.
Cada tijolo é diferente do outro no tamanho, na forma, no peso, no valor, na época e no
material de fabricação. Cada livro da Bíblia é diferente do outro no gênero literário, na língua, no autor
ou autora, no assunto, na época e lugar em que foi escrito, no objetivo, no destinatário, na mensagem.
Do ponto de vista literário, a Bíblia tem uma variedade imensa. E a gente se admira ao ver como uma
variedade tão grande consegue construir uma unidade tão forte e tão bonita.
Olhando bem de perto, nós percebemos o incrível: cada tijolo, além de contribuir para o grande
desenho do Projeto de Deus, tem o seu próprio desenho: e o desenho pequeno de cada tijolo nem
sempre combina com o grande desenho do Projeto de Deus. Os tijolos falam de outras lutas e outras
histórias; revelam conflitos e situações que não aparecem no grande desenho. Parece uma confusão
muito grande. Maior, porém, é a admiração! Tudo isto mostra que a Palavra de Deus se encarnou
realmente em palavras humanas. Tornou-se igual à nossa palavra em tudo, menos no erro e na mentira.
A ação do Espírito Santo, que faz com que a Bíblia seja Palavra de Deus, não passa pelos distantes fios
de alta tensão, mas sim pela fiação da rede doméstica, embutida na parede dos conflitos, das
contradições e das confusões da vida humana. Por maior que possa parecer a contradição interna das
várias partes da Bíblia, ela não destrói a unidade do Projeto de Deus nem nega a inspiração divina da
Sagrada Escritura. Pelo contrário, revela o seu verdadeiro alcance!
Olhando novamente de longe, revendo tudo, nós descobrimos que não se trata de uma parede
isolada, mas da parede de uma casa. E por incrível que pareça, é a parede da casa em que nós estamos
morando. É de nossa casa! Olhando a Bíblia, estamos olhando para a nossa própria casa, olhando para
o que é nosso.
É deste modo que vamos olhar a Bíblia. Vamos olhar para o que é nosso. Às vezes, de longe,
outras vezes mais de perto, outras bem de perto. Ou seja, o estudo terá três níveis, misturados entre si:
literário (ver de perto o texto), histórico (olhar a situação do povo) e teológico (escutar a mensagem de
Deus). Mas qualquer que seja o olhar ou o nível, ele terá sempre o mesmo objetivo: descobrir que a
palavra da Bíblia já estava pintada na parede da casa em que moramos. Queira Deus que essa
descoberta produza em nós muita satisfação e alegria.

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II. OS CRITÉRIOS DA LEITURA ORANTE DA BÍBLIA
Não basta a razão para descobrir todo o sentido da Bíblia. Segundo o Documento Dei Verbum
do Concílio Vaticano II: “a Sagrada Escritura também deve ser lida e interpretada naquele mesmo
Espírito em que foi escrita” e que “para captar bem o sentido dos textos sagrados, deve-se atender com
não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levada em conta a Tradição viva de
Igreja toda e a analogia da fé” (DV 12). Estes critérios permitem descobrir o sentido pleno da Bíblia,
impedir que o seu sentido seja manipulado e evitar que o texto seja isolado do seu contexto de origem
que o gerou, da tradição que o transmite e da vida atual da Igreja a que deve servir.
Aqui, vamos dar uma atenção maior a uma parte da “Tradição viva de toda a Igreja” e veremos
o que a prática secular da Leitura Orante da Bíblia nos tem a dizer. Além disso, um subsídio – Visão
Global da Bíblia – nos ajudará a perceber a importância “do conteúdo e da unidade de toda a
Escritura”. Nos subsídios apresentados, abordaremos mais de perto os outros critérios recomendados
pelo documento Dei Verbum.
A Leitura Orante da Bíblia é o coração da vida religiosa do cristão.
Existe uma leitura da Bíblia que começa a ser feita pelas nossas Comunidades. Algumas
características dessa leitura:
1. Levar, para dentro da Bíblia, os problemas da nossa vida. Ler a Bíblia a partir da nossa luta e
da nossa realidade;
2. A leitura é feita em Comunidade. É, antes de tudo, uma atividade comunitária, uma prática
orante, um ato de fé;
3. Uma leitura obediente, respeitando o texto e se colocando à escuta do que Deus tem a dizer,
dispostos a mudar se Ele o exigir.
Esta prática tão simples é profundamente fiel à prática da mais antiga Tradição da Igreja. Por
isso mesmo, através dela, o Espírito de Deus chama nossa atenção para alguns elementos importantes e
indispensáveis da leitura cristã da Bíblia, que nós tínhamos esquecido ou negligenciado: partir da
realidade de hoje e criar um ambiente comunitário e orante de fé.
Os três critérios — REALIDADE, COMUNIDADE, TEXTO — são três ângulos específicos,
cada um com características próprias. Ao se fazer a leitura, esses três critérios se articulam entre si em
vista do mesmo objetivo: escutar Deus hoje.
Esses três critérios constituem a mística da leitura da Bíblia que estaremos aprendendo neste
curso. Eles dão unidade ao plano todo, unificam os grupos que dele participam ou vierem a participar e
nos colocam no coração da Tradição da Igreja, marcada pela prática secular da Leitura Orante da
Bíblia.
A Leitura Orante indica a prática de leitura que vamos fazer da Bíblia para alimentar a nossa fé,
a nossa esperança, o nosso amor e o nosso compromisso. A Leitura Orante da Bíblia, sempre foi a
espinha dorsal da Vida
Religiosa Cristã, desde os seus mais remotos inícios, já no tempo do monaquismo. Ela sempre
reaparece quando se procura ler a Bíblia com fidelidade. Reapareceu nestes últimos anos, sem rótulo e
sem nome, principalmente aqui na América Latina, no meio das Comunidades que recomeçaram a ler
a Bíblia. Com a prática da Leitura Orante da Bíblia, aproximamo-nos dessa fonte inesgotável do
passado que, no presente, está gerando e irrigando a vida nova das nossas Comunidades.
Depois de umas breves informações históricas e algumas considerações gerais, vamos analisar
de perto os quatro degraus da Leitura Orante: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação. São os
quatro passos da leitura da Bíblia, tanto individual como comunitária. São, também, e sobretudo,
quatro atitudes permanentes que devemos ter diante da Palavra de Deus. Vamos ver em que consistem
e como, quando articulados entre si, formam o método da Leitura Orante da Bíblia.

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III. UM POUCO DE HISTÓRIA
Na sua origem, a Leitura Orante (Lectio Divina) nada mais era do que a leitura que os cristãos
faziam da Bíblia para alimentar sua fé, esperança e amor e animar assim a sua caminhada. A Leitura
Orante é tão antiga quanto a própria Igreja, que vive da Palavra de Deus e dela depende como a água
da sua fonte (DV 7.10.21). Prolonga, assim, uma tradição das comunidades dos pobres (anawim) do
Antigo Testamento.
A Leitura Orante é a leitura crente da Palavra de Deus, feita a partir da fé em Jesus, que disse:
“O Espírito vos recordará tudo o que eu disse e vos introduzirá na verdade plena” (Jo 14,26;16,13). O
Novo Testamento, por exemplo, é o resultado da leitura que os primeiros cristãos faziam do Antigo
Testamento à luz dos seus problemas e à luz da nova revelação que Deus fez de si através da
ressurreição de Jesus, vivo no meio da comunidade. No decorrer dos séculos, esta leitura crente e
orante da Bíblia alimentou a Igreja, as comunidades, os cristãos. Inicialmente, não era uma leitura
organizada e metódica, mas era a própria Tradição que se transmitia, de geração em geração, através
da prática do povo cristão.
A expressão Lectio Divina (Leitura Orante) vem de Orígenes. Ele diz que, para ler a Bíblia com
proveito, é necessário um esforço de atenção e de assiduidade: “Cada dia de novo, como Rebeca,
temos de voltar à fonte da Escritura!” E o que não se consegue com o próprio esforço, assim diz ele,
deve ser pedido na oração, “pois é absolutamente necessário rezar para poder compreender as coisas
divinas”. Deste modo, assim ele concluiu, chegaremos a experimentar o que esperamos e meditamos.
Nestas reflexões de Orígenes, temos um resumo do que vem a ser a Lectio Divina (Leitura Orante). A
Lectio Divina (Leitura Orante) tornou-se a espinha dorsal da Vida Religiosa, como já dissemos. Em
torno da Palavra de Deus, ouvida, meditada e rezada, surgiu e se organizou o monaquismo do deserto.
As sucessivas reformas e transformações da Vida Religiosa sempre retomavam a Leitura Orante como
a sua marca registrada. As regras monásticas de Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento fazem da leitura
da Bíblia, junto com o trabalho manual e a liturgia, a tríplice base da Vida Religiosa.
A sistematização da Lectio Divina em quatro degraus veio só no século XII. Por volta do ano
1150, Guigo, um monge cartuxo, escreveu um livrinho chamado A Escada dos Monges. Na
introdução, antes de expor a teoria dos quatro degraus, ele se dirige ao “caro irmão Gervásio” e diz:
“Resolvi partilhar com você algumas das minhas reflexões sobre a vida espiritual dos monges. Pois
você conhece esta vida por experiência, enquanto eu só a conheço por estudo teórico. Assim, você
poderá ser juiz e corretor das minhas considerações”. Guigo quer que a teoria da Lectio Divina seja
avaliada e corrigida a partir da experiência e da prática dos irmãos.
Em seguida, ele introduz os quatro degraus: “Certo dia, durante o trabalho manual, quando
estava refletindo sobre a atividade do espírito humano, de repente se apresentou à minha mente a
escada dos quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação. Essa é a escada
dos monges, pela qual eles sobem da terra ao céu. É verdade, a escada tem poucos degraus, mas ela é
de uma altura tão imensa e inacreditável que, enquanto a sua extremidade inferior se apóia na terra, a
parte superior penetra nas nuvens e investiga os segredos do céu”. Depois disto, Guigo mostra como
cada um desses degraus tem a propriedade de produzir algum efeito específico no leitor da Bíblia. Em
seguida, ele resume tudo: “A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com espírito atento. A
meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o
conhecimento da verdade oculta. A oração é o impulso fervoroso do coração para Deus, pedindo que
afaste os males e conceda as coisas boas. A contemplação é uma elevação da mente sobre si mesma
que, suspensa em Deus, saboreia as alegrias da doçura eterna”. Nesta descrição dos quatro degraus,
Guigo sintetiza a tradição que vinha de longe e a transforma em instrumento de leitura para servir de
instrução aos jovens que se iniciavam na vida monástica.
No século XIII, os Mendicantes tentaram criar um novo tipo de Vida Religiosa, mais inserida
no meio dos “Menores” (pobres). Eles fizeram da Lectio Divina a fonte inspiradora do seu movimento
renovador, como transparece claramente na vida e nos escritos dos primeiros franciscanos,
dominicanos, servitas, carmelitas e outros mendicantes. Através da sua vida inserida, souberam colocar
a Lectio Divina a serviço do povo pobre e marginalizado daquela época. Houve, em seguida, um longo

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período em que a Leitura Orante (Lectio Divina) ficou praticamente esquecida. A leitura da Bíblia não
era mais fomentada, nem mesmo nos Conventos e Mosteiros. Foi o infeliz efeito da Contra-Reforma
na vida da Igreja. Insistia-se muito mais na leitura espiritual. O medo do protestantismo fez perder o
contato com a fonte! O Concílio Vaticano II, porém, retomou a antiga tradição e, no seu documento
Dei Verbum, recomenda com grande insistência a Lectio Divina (Leitura Orante) (DV 25). Ela
reapareceu, de maneira nova, sem rótulo e sem nome, no meio das comunidades, onde as pessoas
recomeçaram a leitura da Palavra de Deus, sendo cultivada e estudada, explicitamente, por leigos e
religiosos.

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IV. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA
Pela Leitura Orante, procuramos atingir o que diz a Bíblia: “A Palavra está muito perto de ti: na
tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prática” (Dt 30,14). Na boca, pela leitura; no coração,
pela meditação e pela oração; na prática, pela contemplação. O objetivo da Leitura Orante é o objetivo
da própria Bíblia: “Comunicar a sabedoria que leva à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tm 3,15);
“instruir, refutar, corrigir, formar na justiça e, assim, qualificar o homem de Deus para toda a boa
obra“ (2Tm 3,16-17); “proporcionar perseverança, consolo e esperança” (Rm 15,4); ajudar-nos a
aprender dos erros dos antepassados (cf. 1Cor 10,6-10).
A Leitura Orante supõe alguns princípios, sempre presentes na leitura cristã da Bíblia:
1. A unidade da Escritura. A Bíblia é uma grande unidade, onde cada livro, cada frase têm o
seu lugar e a sua função para nos revelar o Projeto de Deus. As suas várias partes são como tijolos
numa grande parede: juntos formam o desenho do Projeto de Deus. O princípio da Unidade da
Escritura proíbe isolar os textos, arrancá-los de seu contexto e repeti-los como verdades isoladas e
absolutas. Um tijolo só não faz a parede. Um traço só não faz o desenho. A Bíblia não é um caminhão
de tijolos, mas uma casa onde se pode morar.
2. A atualidade ou encarnação da Palavra. Nós cristãos, quando lemos a Bíblia, não podemos
esquecer a vida, mas devemos carregá-la conosco, dentro de nós. Tendo a vida diante dos olhos,
descobrimos na Bíblia o reflexo daquilo que nós mesmos estamos vivendo. A Bíblia torna-se assim o
espelho do que se passa na vida e no coração de todos. Descobrimos que a Palavra de Deus se encarna
não só naquelas épocas do passado, mas também hoje, para poder estar conosco e ajudar-nos a
enfrentar os problemas e a realizar as esperanças: “Oxalá ouvíssemos hoje a sua voz!” (Sl 95,7).
3. A fé em Jesus Cristo, vivo na Comunidade. Lemos a Bíblia a partir da nossa fé em Jesus
Cristo, vivo no meio de nós. Jesus é a chave principal da leitura que fazemos. A fé em Jesus ajuda a
entender melhor a Bíblia, e a Bíblia ajuda a entender melhor o significado de Jesus para a vida. A
leitura feita em comunidade faz com que Bíblia, Tradição e Vida formem uma unidade viva.
A Leitura Orante teve um início bem simples, com métodos elementares à altura do povo: 1. ler
e reler, cada vez mais, até conhecer bem o que está escrito; 2. repetir de memória, com a boca, o que
foi lido e compreendido e ruminá-lo até que, da boca e da cabeça, passe para o coração e entre no
ritmo da própria vida; 3. responder a Deus na oração e pedir que nos ajude a praticar o que a sua
Palavra nos pede; 4. o resultado é uma nova luz nos olhos que permite saborear a Palavra e enxergar o
mundo de maneira nova. Com essa luz nos olhos, começa-se, novamente, a ler, a repetir, a responder a
Deus, e assim por diante... Um processo que não termina nunca, sempre volta, mas que nunca se repete
tal qual.
Uma última consideração sobre o alcance e o objetivo da Leitura Orante. Uma palavra é, antes
de tudo, um meio de transmitir uma ideia.
As palavras, tanto as nossas como as da Bíblia, dirigem-se, em primeiro lugar, à razão, que
pode captar as ideias. Mas uma palavra não é só veículo de ideias. Tem também outras dimensões. Por
exemplo, ela possui uma força poética (no sentido literal:poesia vem do grego “poiein”, fazer). Não só
diz, mas também faz! Faz o que diz! Ora, no estudo que nós fazemos da Bíblia, geralmente só nos
preocupamos em descobrir a ideia, a mensagem da Palavra de Deus. Veremos que a Leitura Orante
procura atingir e ativar também as outras dimensões. Ela é mais completa. O seu resultado é mais
amplo.

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V. OS QUATRO DEGRAUS DA LEITURA ORANTE DA BÍBLIA
Os quatro degraus da Leitura Orante são: leitura, meditação, oração e contemplação. Nem
sempre é fácil distinguir um do outro. Por exemplo, o que alguns autores afirmam da leitura, outros o
atribuem à meditação, e assim por diante. A causa desta falta de clareza está na própria natureza da
Leitura Orante. Trata-se de um processo dinâmico de leitura, em que as várias etapas nascem uma da
outra. É como a passagem da noite para o dia. Na hora de amanhecer, alguns dizem: “É noite ainda!”
Outros dizem: “O dia já chegou!” Além disso, trata-se de quatro atitudes permanentes. A atitude da
leitura, por exemplo, continua também durante a meditação. As quatro atitudes existem e atuam,
juntas, durante todo o processo da Leitura Orante, embora em intensidade diferente conforme o degrau
em que a pessoa ou a comunidade se encontra. O importante, nesta nossa reflexão, é que apareçam as
características principais de cada uma dessas quatro atitudes que, juntas, integram a Leitura Orante.

1. A leitura: conhecer, respeitar, situar


A leitura é o primeiro passo para se conhecer e amar a Palavra de Deus. Não se ama o que não
se conhece. É também o primeiro passo do processo da apropriação da Palavra: ler, ler, ler! Ler muito
para familiarizar-se com a Bíblia; para que ela se torne nossa palavra, capaz de expressar nossa vida e
nossa história, pois ela “foi escrita para nós que tocamos o fim dos tempos” (1Cor 10,11). Esse
processo de reapropriação da Palavra já está em andamento nas Comunidades.
A leitura é uma atividade bastante elementar: ler, pronunciar bem as palavras, se possível em
voz alta. Este primeiro passo é muito importante e muito exigente. Não pode ser feito de maneira
superficial. Para muitos, a Bíblia é o meio principal de alfabetização e funciona como gramática.
Pela leitura frequentamos a Bíblia como se freqüenta um amigo. Há uma semelhança muito
grande entre a maneira de se conviver com o povo e com a Bíblia. Os dois exigem o máximo de
atenção, respeito, amizade, entrega, silêncio, escuta. Os dois, tanto o povo como a Bíblia, não se
defendem logo, quando são agredidos ou manipulados, mas os dois acabam vencendo o agressor pelo
cansaço. A leitura da Bíblia ajuda a criar em nós os olhos certos para ler a vida do povo e vice-versa.
A leitura, assim como a convivência com o povo, não pode depender do gosto do momento,
mas exige da pessoa uma determinação constante e contínua. A leitura deve ser perseverante e diária.
Exige ascese e disciplina. Não pode ser interesseira, mas deve ser desinteressada, gratuita, em vista do
Reino e do bem do povo. A leitura é ponto de partida, não é ponto de chegada. Faz o leitor pisar no
chão. Prepara o leitor e o texto para o diálogo da meditação. Para que a meditação não seja fruto de
uma fantasia irreal, mas tenha fundamento no texto e na realidade, é necessário que a leitura se faça
com critério e atenção. “Estudo assíduo, feito com espírito atento”, dizia Guigo. Através de um estudo
imparcial, a leitura impede que o texto seja manipulado e reduzido ao tamanho da nossa ideia, e faz
com que ele possa ser parceiro autônomo no nosso diálogo com Deus, pois ela estabelece o sentido que
o texto tem em si, independente de nós. Assim, a leitura cria no leitor uma atitude crítica, criteriosa e
respeitosa diante da Bíblia. É aqui, na leitura, que entra a contribuição da exegese para o bom
andamento da Leitura Orante.
A leitura, entendida como estudo crítico, ajuda o leitor a analisar o texto e a situá-lo em seu
contexto de origem. Esse estudo tem três níveis:
a) Literário: aproximar-se do texto e, através de perguntas bem simples, analisar o seu tecido:
quem? o quê? onde? por quê? quando? como? com que meios? como o texto se situa dentro do
contexto literário do livro de que faz parte?
b) Histórico: através do estudo do texto, atingir o contexto histórico em que surgiu o texto ou
em que se deu o fato narrado pelo texto, e analisar a situação histórica em dimensões como:
econômica, social, política, ideológica, afetiva, antropológica e outras. Trata-se de descobrir os
conflitos que estão na origem do texto ou nele se refletem para, assim, perceber melhor a encarnação
da Palavra de Deus na realidade conflitiva da história humana, tanto deles como nossa.
c) Teológico: descobrir, através da leitura do texto, o que Deus tinha a dizer ao povo naquela
situação histórica; o que Deus significava para aquele povo; como Ele se revelava; como o povo
assumia e celebrava a Palavra do Senhor.

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O estudo científico do texto não é o fim da leitura . É apenas um meio para se chegar ao fim. A
intensidade do uso da exegese na Leitura Orante depende não do exegeta, mas das exigências e
circunstâncias dos leitores. Para um tipo de parede usa-se uma broca mais resistente do que para outro.
Mas o objetivo é o mesmo: furar a parede. Não se usa broca de mármore para furar parede de papelão!
O objetivo da leitura é este: furar a parede da distância entre o ontem do texto e o hoje da nossa vida, a
fim de poder iniciar o diálogo com Deus na meditação. Qual a broca que fura essa parede? De um
lado, é “o estudo assíduo, feito com espírito atento” (Guigo). De outro, é “a própria experiência da
vida” (Cassiano). Paulo VI dizia que se deve “procurar uma certa conaturalidade entre os interesses
atuais (hoje) e o assunto do texto (ontem), para que se possa estar disposto a ouvi-lo (diálogo)”. Com
outras palavras, a broca é esta: aprofundar tanto o texto de ontem quanto a nossa experiência de hoje!
Às vezes, a Leitura Orante não traz resultado e o texto não fala, não por falta de estudo do texto, mas
sim por falta de aprofundamento crítico da nossa própria experiência de vida, hoje, aqui.
A leitura, quando bem-feita, ajuda a superar o fundamentalismo. Quando malfeita, faz só
aumentá-lo. O fundamentalismo é uma grande tentação que se instalou na mente de muita gente. Ele
separa o texto do resto da vida e da história do povo e o absolutiza como a única manifestação da
Palavra de Deus. A vida, a história do povo, a comunidade, já não teriam mais nada a dizer sobre Deus
e a sua Vontade. O fundamentalismo anula a ação da Palavra de Deus na vida. É a ausência total de
consciência crítica. Ele distorce o sentido da Bíblia e alimenta o moralismo, o individualismo e o
espiritualismo na interpretação dela. É uma visão alienada que agrada aos opressores do povo, pois ela
impede que os oprimidos tomem consciência da iniqüidade do sistema montado e mantido pelos
poderosos. Superar o fundamentalismo só é possível à medida que, através da leitura, o leitor consiga
ver o texto dentro do seu contexto de origem e, ao mesmo tempo, perceber nele o reflexo da situação
humana, tão conflitiva, confusa e controvertida, que hoje vivemos.
Qual o momento de se passar da leitura para a meditação? É difícil precisar o momento exato
em que a natureza passa da primavera para o verão. É diferente, a cada ano, em cada país. Mas existem
alguns critérios. O objetivo da leitura é ler e estudar o texto até que ele, sem deixar de ser ele mesmo,
se torne espelho de nós mesmos e nos reflita algo da nossa própria experiência de vida. A leitura deve
familiarizar-nos com o texto a ponto de ele se tornar nossa palavra. Cassiano dizia: “Penetrados dos
mesmos sentimentos em que foi escrito o texto, nos tornamos, por assim dizer, os seus autores”. E aí,
como que de repente, nos damos conta de que, por meio dele, Deus está querendo falar conosco e nos
dizer alguma coisa. Nesse instante, dobramos a cabeça, fazemos silêncio e abrimos o ouvido: “Vou
ouvir o que o Senhor nos tem a dizer!” (Sl 85,9). É nesse momento que a leitura se transforma em
meditação e que se passa para o segundo degrau da Leitura Orante.

2. A meditação: ruminar, dialogar, atualizar


A leitura respondeu à pergunta: “O que diz o texto?” A meditação vai responder à pergunta: “O
que diz o texto para mim, para nós?” A questão central que se coloca daqui para a frente é esta: o que é
que Deus, através desse texto, tem a dizer hoje, aqui, para nós? A meditação indica o esforço que se
faz para atualizar o texto e trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade, tanto pessoal
como social. O texto que foi escrito para nós deve falar para nós. Dentro da dinâmica da Leitura
Orante, a meditação ocupa um lugar central.
Guigo dizia: “A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria
razão, procura o conhecimento da verdade oculta”. Qual é esta verdade oculta? Através da leitura
descobrimos como o texto se situava no contexto daquela época, qual a posição que tomava nos
conflitos, qual a mensagem que tinha para o povo. De lá para cá a situação mudou, o contexto é outro,
os conflitos são diferentes. No entanto, a fé nos diz que esse texto, apesar de ser de outra época e de
outro contexto, tem algo a nos dizer hoje. Nele deve existir um valor permanente que quer produzir no
presente a mesma conversão ou mudança que produziu naquele tempo. Ora, a verdade oculta de que
falava Guigo é este valor permanente, esta mensagem que lá existe para o nosso contexto e que deve
ser descoberta e atualizada pela meditação. Como fazer a meditação?
Uma primeira forma de se realizar a meditação é sugerida pelo próprio Guigo. Ele manda usar
a mente e a razão para poder descobrir a “verdade oculta”. Entra-se em diálogo com o texto, com

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Deus, fazendo perguntas que obrigam a usar a razão e que procuram trazer o texto para dentro do
horizonte da nossa vida. Medita-se refletindo, interrogando: o que há de semelhante e de diferente
entre a situação do texto e a nossa hoje? Quais os conflitos de ontem que existem hoje? Quais dentre
eles são diferentes? O que a mensagem deste texto diz para a nossa situação? Que mudança de
comportamento ele sugere para mim que vivo na América Latina, no Brasil, em São Paulo, no ABC,
em Santo André? E para nós, cristãos, católicos, em que ponto nos condena? O que ele quer fazer
crescer em mim, em nós? etc.Outra maneira de se fazer a meditação é repetir o texto, ruminá-lo,
mastigá-lo até descobrir o que ele tem a nos dizer. É o que Maria fazia quando ruminava as coisas em
seu coração (Lc 2,19.51). É o que recomenda o salmo ao justo: “Meditar dia e noite na lei do Senhor”
(Sl 1,2). É o que Isaías define com tanta precisão: “Sim, Javé, o teu Nome e a lembrança de Ti
resumem todo o desejo da nossa alma” (Is 26,8). Após ter feito a leitura e ter descoberto o seu sentido
para nós é bom procurar resumir tudo numa frase, de preferência do próprio texto bíblico, para ser
levada conosco na memória e ser repetida e mastigada durante o dia, até se misturar com o nosso
próprio ser. Através dessa ruminação, nós nos colocamos sob o julgamento da Palavra de Deus e
deixamos que ela nos penetre, como espada de dois gumes (Hb 4,12), pois água mole em pedra dura
tanto bate até que fura! “Ela vai julgando as disposições e intenções do coração. E não há criatura
oculta à sua presença. Tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas”
(Hb 4,12-13). Nós, muitas vezes, nos escondemos atrás de máscaras e ídolos, ideologias e convenções,
doutrinas repetidas e tradições humanas (cf. Mc 7,8-13). Pela meditação ou ruminação, a Palavra de
Deus vai entrando aos poucos, vai tirando as máscaras, vai revelando e quebrando a alienação em que
vivemos, devolvendo-nos a nós mesmos, para que nos tornemos uma expressão viva da palavra
ouvida, meditada e ruminada.
Cassiano aponta outro aspecto importante da meditação, como conseqüência da ruminação. Ele
diz: “Instruídos por aquilo que nós mesmos sentimos, já não percebemos o texto como algo que só
ouvimos, mas sim como algo que experimentamos e tocamos com nossas mãos; não como uma
história estranha e inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais profundo do nosso coração,
como se fossem sentimentos que formam parte do nosso próprio ser. Repitamo-lo: não é a leitura que
nos faz penetrar no sentido das palavras, mas sim a própria experiência nossa adquirida anteriormente
na vida de cada dia”. Aqui já nem parece haver diferença entre Bíblia e vida, entre a Palavra de Deus e
a nossa palavra. Ora, conforme Cassiano, é nesta quase identificação nossa com a Palavra da Bíblia
que está o segredo da percepção do sentido que a Bíblia tem para nós. Cassiano diz que a percepção do
sentido do texto não vem do estudo, mas da experiência que nós mesmos temos da vida. O estudo
coloca os fios, a experiência adquirida gera a força, a meditação aperta o botão, faz a força correr pelos
fios e acende a lâmpada do texto. Tanto o fio como a força, ambos são necessários para que haja luz. A
vida ilumina o texto, o texto ilumina a vida.
A meditação também aprofunda a dimensão pessoal da Palavra de Deus. Uma palavra tem
valor não só pela ideia que comunica, mas também pela pessoa que a pronuncia e pela maneira como é
pronunciada. Na Bíblia, quem nos dirige a Palavra é Deus, e Ele o faz com muito amor. Uma palavra
de amor desperta forças, libera energias, recria a pessoa. Meditando a Palavra de Deus, o coração
humano se dilata até adquirir a dimensão do próprio Deus, que pronuncia a Palavra. Aqui aparece a
dimensão mística da Leitura Orante. Um lavrador de Pernambuco dizia: “Fui notando que se a gente
vai deixando a Palavra de Deus entrar dentro da gente, a gente vai se divinizando. Assim, ela vai
tomando conta da gente e a gente não consegue mais separar o que é de Deus e o que é da gente. Nem
sabe muito bem o que é Palavra dele e palavra da gente. A Bíblia fez isso em mim!”
Pela leitura se atinge a casca da letra e se tenta atravessá-la para, na meditação, atingir o fruto
do espírito (São Jerônimo). O Espírito age dentro da Escritura (2Tm 3,16). Através da meditação ele se
comunica a nós, nos inspira, cria em nós os sentimentos de Jesus Cristo (Fl 2,5), ajuda-nos a descobrir
o sentido pleno das palavras de Jesus (Jo 16,13), faz experimentar que sem Ele nada podemos fazer (Jo
15,5), ora em nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26) e gera em nós a liberdade (2Cor 3,17). É o mesmo
Espírito que enche a vastidão da terra (Sb 1,7). No passado, ele animava os Juízes e os Profetas. No
presente, ele nos ajuda a descobrir o sentido profético da história do nosso povo, que se organiza e luta

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por uma sociedade mais justa. A meditação nos ajuda a descobrir o sentido espiritual, isto é, o sentido
que o Espírito de Deus quer comunicar hoje à sua Igreja através do texto da Bíblia.
A meditação é uma atividade pessoal e também comunitária. A partilha do que cada um sente,
descobre e assume no contato com a Palavra de Deus é muito mais do que só a soma das palavras de
cada um. A busca em comum faz aparecer o sentido eclesial da Bíblia e fortalece em todos o sentido
comum da fé. Por isso é tão importante que a Bíblia seja lida, meditada, estudada e rezada não só
individualmente, mas também e sobretudo em comum. Pois trata-se do livro de cabeceira da Igreja, da
Comunidade.
Qual o momento de se passar da meditação para a oração? Não é fácil dizer quando,
exatamente, uma pessoa passa da juventude para a idade adulta. Mas existem alguns critérios. A
meditação atualiza o sentido do texto até ficar claro o que Deus está pedindo de nós, que vivemos aqui
na América Latina. Ora, quando fica claro que Deus pede, está chegando o momento de se perguntar:
“E agora, o que vou dizer a Deus? Assumo ou não assumo?” Quando fica claro o que Deus pede, fica
clara também a nossa incapacidade e a nossa falta de recursos. É o momento da súplica: “Senhor,
levanta-te! Socorre-nos” (Sl 44,27). Quando fica claro que Deus nos interpela através do irmão
explorado e necessitado e que Ele ouve o grito dos pobres, está chegando o momento de unir nossa voz
ao grito dos pobres, para que Deus, finalmente, ouça o seu grito e venha libertar o seu povo. Com
outras palavras, a meditação é semente de oração. Basta praticá-la e ela, por si mesma, se transforma
em oração.

3. A oração: suplicar, louvar, recitar


A atitude de oração está presente desde o começo da Leitura Orante. No início da leitura
invoca-se o Espírito Santo. Durante a leitura sempre aparecem pequenos momentos de oração. A
meditação já é quase uma atitude de oração, pois, por si mesma, se transforma em prece. Mas dentro
da dinâmica da Leitura Orante, apesar de tudo ser regado com oração, deve haver um momento
especial, próprio, para a prece. Esse momento é o terceiro degrau, o da oração. Através da leitura
procuramos descobrir: “O que o texto diz?” A meditação aplica a leitura à nossa vida: “O que o texto
diz para mim, para nós?” Até agora, era Deus quem falava. Chegou o momento da oração
propriamente dita: “O que o texto me faz dizer, nos faz dizer a Deus?”
A atitude de oração diante da Palavra de Deus deve ser como aquela de Maria, que disse:
“Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A palavra que Maria ouviu não era uma palavra da
Bíblia, mas sim uma palavra percebida nos fatos da vida, por ocasião da visita do anjo. Maria foi capaz
de percebê-la, porque a ruminação (cf. Lc 2,19.51) tinha purificado o seu olhar e o seu coração. Os
puros de coração percebem a ação de Deus nos fatos (cf. Mt 5,8). Rezando e cantando (cf. Lc 1,46-56),
eles a encarnam na vida. Essa atitude de oração deve ser realista e não ingênua, o que se alcança pela
leitura. Deve nascer da experiência do nosso nada e dos problemas reais da vida, o que se alcança pela
meditação. Deve tornar-se uma atitude permanente de vida, o que se alcança na contemplação.
A oração, provocada pela meditação, inicia por uma atitude de admiração silenciosa e da
adoração ao Senhor. A partir daí brota a nossa resposta à Palavra de Deus. Desde os tempos do Novo
Testamento, os cristãos descobriram que nós não sabemos rezar como convém. É o próprio Espírito
que ora em nós (Rm 8,26). Quem melhor fala a Deus é o próprio Deus. Por isso, a oração dos Salmos
ainda é a melhor oração. O próprio Jesus usou freqüentemente os salmos e orações da Bíblia. Ele é o
grande cantor dos Salmos (Sto. Agostinho). Com Ele e nEle, os cristãos prolongam a Leitura Orante
pela oração pessoal, pela oração litúrgica e pelas preces da Igreja.
Nesta grande comunhão eclesial é importante que a Palavra de Deus suscite em nós, cristãos,
uma intensa vida de oração individual. Dependendo do que se ouviu da parte de Deus na leitura e na
meditação, a resposta pode ser de louvor ou de ação de graças, de súplica ou de perdão, pode ser até de
revolta ou de imprecação, como o foi a resposta de Jó, de Jeremias e de tantos Salmos. Como na
meditação, é importante que esta oração espontânea não seja só individual, mas também tenha sua
expressão comunitária, em forma de partilha.
A oração, provocada pela meditação, também pode ser recitação de preces já existentes. Neste
ponto o Ofício Divino presta uma grande ajuda. Ele espalha a leitura através das horas do dia.

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Infelizmente, a Liturgia das Horas que, nos primeiros séculos, alimentava a oração pessoal do Povo de
Deus ficou restrita aos monges e clérigos. O monge ouvia a Palavra, memorizava-a e a levava consigo
para ruminá-la nos intervalos, durante o trabalho manual. Além disso, uma das primeiras tarefas do
monge, ao entrar no mosteiro, era decorar os salmos para que servissem de porta-voz e apoio no seu
diálogo com Deus.
Hoje em dia, já não podemos repetir o esquema dos antigos monges e das primeiras
comunidades. Os tempos mudaram. Fica, porém, a inspiração, o modelo e o desafio: decorar algum
salmo para as horas de precisão; carregar consigo alguma frase da Bíblia para ruminá-la ao longo do
dia, nos intervalos, durante o trabalho, no ônibus, no roçado; criar um esquema de vida, adaptado ao
nosso modo de viver, que alcance para nós o mesmo objetivo.
Além do que já vimos, a Leitura Orante procura acentuar um outro aspecto muito importante da
oração, a saber, a sua ligação bem concreta com a vida, com a caminhada e a luta do povo. É um
assunto delicado e difícil, que exige uma breve reflexão para situá-lo.
A Palavra de Deus vale não só pela ideia que transmite, mas também pela força que comunica.
Não só diz, mas também faz. Um exemplo concreto é o sacramento: a palavra “Isto é o meu corpo!”
faz o que diz. Na Criação, Deus fala e as coisas começam a existir (Sl 148,5; Gn 1,3). O povo judeu,
muito mais do que nós hoje, tinha sensibilidade para valorizar esses dois aspectos da palavra e mantê-
los unidos. Eles diziam na língua deles: dabar, o que significava, ao mesmo tempo, palavra e coisa: diz
e faz, anuncia e traz, ensina e anima, ilumina e fortalece, luz e força, Palavra e Espírito. Ora, a Leitura
Orante, que tem suas raízes no povo judeu, também valoriza os dois aspectos e os mantém unidos. Pela
leitura, procura descobrir a ideia, a mensagem, que a palavra transmite e ensina. Pela meditação, e
sobretudo pela oração, ela cria o espaço onde a palavra faz o que diz, traz o que anuncia, comunica a
sua força e nos revigora para a caminhada. Os dois aspectos não podem ser separados, pois ambos
existem unidos na unidade de Deus, no seio da Santíssima Trindade. Desde toda a eternidade, o Pai
pronuncia a sua Palavra e coloca nela a força do seu Espírito. A Palavra se fez carne em Jesus, no qual
repousa a plenitude do Espírito Santo.
Infelizmente, na prática pastoral, estes dois aspectos da Palavra estão separados. De um lado, os
movimentos carismáticos; de outro lado, os movimentos de libertação. Os carismáticos têm muita
oração, mas muitas vezes carecem de visão crítica. Às vezes, não fazem a leitura como deve ser feita:
não situam o texto dentro do seu contexto de origem e, por isso mesmo, tendem para uma interpretação
fundamentalista, moralizante e individualista da Bíblia. Por isso, a sua meditação e oração, muitas
vezes, carecem de fundamento real no texto e na realidade. Os movimentos de libertação têm muita
consciência crítica, fazem boa leitura mas, às vezes, carecem de perseverança e de fé, quando se trata
de enfrentar situações humanas que, dentro da análise científica da realidade, em nada contribuem para
a transformação da sociedade. Às vezes, eles têm uma certa dificuldade para enxergar a utilidade de
longas horas gastas em oração sem resultado imediato. A Leitura Orante, quando bem conduzida nos
seus vários passos, talvez possa ser uma ajuda para corrigir as falhas e aproximar o que não deveria
estar separado.
Finalmente, na oração reflete-se ainda o itinerário pessoal de cada um no seu caminhar em
direção a Deus e no seu esforço de esvaziar-se de si para dar lugar a Deus, ao irmão, ao pobre, à
comunidade. É aqui que se situam as noites escuras com suas crises e dificuldades, com seus desertos e
tentações, rezadas, meditadas e enfrentadas à luz da Palavra de Deus (Mt 4,1-11).
Qual o momento de se passar da oração para a contemplação? Aqui não há resposta. A
contemplação é o que sobra nos olhos e no coração, depois que a oração termina. Ela fica para além do
caminho da Leitura Orante, pois é o seu ponto de chegada. Por ser o ponto de chegada é também ponto
de partida de um novo começo de leitura, meditação, oração. A contemplação é como a fruta da
árvore: já estava dentro da semente. Vai crescendo aos poucos, amadurece lentamente.

4. A contemplação: enxergar, saborear, agir


A contemplação é o último degrau da Leitura Orante. É o seu ponto de chegada. Cada vez,
porém, que se chega ao último degrau, este se torna patamar para um novo começo. E assim, através
de um processo sempre renovado de leitura, meditação, oração, contemplação, vamos crescendo na

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compreensão do sentido e da força da Palavra de Deus. Nunca se chegará ao ponto de poder dizer:
“Agora realizei todo o objetivo da Palavra de Deus na minha vida!”, pois sempre haverá pela frente um
olhar mais penetrante, uma leitura mais profunda, uma meditação mais exigente, uma oração mais
engajada, uma contemplação mais transparente. Até todos os véus caírem, até que a realidade toda seja
transformada e chegue à plenitude do Reino. Mas, até lá, ainda resta um longo caminho (1Rs 19,7).
A contemplação reúne em si todo o caminho percorrido da Leitura Orante: até agora, você se
colocou diante de Deus, leu e escutou a Palavra, estudou e descobriu o seu sentido; com ele você se
comprometeu e começou a ruminá-lo para que entrasse na dinâmica da sua própria vida e passasse da
cabeça para o coração; você transformou tudo isto em oração diante de Deus como projeto para a sua
vida; o sal da Palavra desapareceu na sua vida e lhe deu um novo sabor; o pão da Palavra foi
mastigado e lhe deu força para uma nova ação. Agora, no fim, tendo tudo isto na mente e no coração,
você começa a ter um novo olhar para observar e avaliar a vida, os fatos, a história, a caminhada das
comunidades, a situação do povo na América Latina, os pobres. É o olhar de Deus sobre o mundo, que
assim se comunica e se esparrama. Este novo olhar é a contemplação. Novo olhar, nosso sabor, nova
ação! Ela envolve todo o ser humano.
Santo Agostinho dizia que, através da leitura da Bíblia, Deus nos devolve o olhar da
contemplação e nos ajuda a decifrar o mundo e a transformá-lo, para que seja, novamente, uma
revelação de Deus, uma teofania. A contemplação, assim entendida, é o contrário da atitude de quem
se retira do mundo para poder contemplar a Deus. A contemplação como resultante da Leitura Orante
é a atitude de quem mergulha dentro dos fatos para descobrir e saborear neles a presença ativa e
criativa da Palavra de Deus e, além disso, procura comprometer-se com o processo de transformação
que esta Palavra está provocando dentro da história. A contemplação não só medita a mensagem, mas
também a realiza; não só ouve, mas coloca em prática. Não separa os dois aspectos: diz e faz; ensina e
anima, é luz e força.
Para os fundamentalistas, a Palavra de Deus está só e unicamente na Bíblia. O mundo, a vida, a
história, tudo isto é antro de perdição. Só se salva quem aplica a Palavra da Bíblia na sua vida e se
afasta do mundo, da política, da luta do povo, dos problemas do bairro etc. A contemplação corrige
este defeito dos nossos olhos e nos converte. Faz descobrir que não é Deus que está ausente da
realidade. Nós é que não percebemos a sua presença! Nós é que somos cegos (cf. Is 42,19). A Leitura
Orante pinga um colírio, abre os olhos dos cegos e os faz enxergar. Tira o véu e ajuda a descobrir o
desenrolar do Projeto de Deus dentro da história que hoje vivemos; a perceber como Cristo, centro de
tudo, nos faz passar do nosso antigo testamento para o Novo Testamento. Faz descobrir o sentido das
coisas, faz comprometer-se com o Reino. Guigo tem várias descrições da contemplação. Ele diz: “A
leitura busca a doçura da vida bem-aventurada, a meditação a encontra, a oração a pede e a
contemplação a saboreia. A leitura leva comida sólida à boca, a meditação a mastiga e rumina, a
oração prova o seu gosto e a contemplação é a própria doçura que alegra e recria. A leitura atinge a
casca, a meditação penetra no miolo, a oração formula o desejo e a contemplação é o gosto da doçura
já alcançada”. O que mais chama a atenção nos escritos de Guigo é a sua insistência em descrever a
contemplação como uma saborosa curtição da doçura que existe na Palavra de Deus. Na contemplação,
ao que tudo indica, a experiência de Deus suspende tudo, relativiza tudo e, como que por um instante,
antecipa algo da alegria que “Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).
Guigo diz as coisas com palavras do Século XII. Um agricultor disse as mesmas coisas com as
palavras do povo nordestino do século XX: “Quando eu fui começando essa caminhada aqui na Escola
Bíblica, eu fui vendo e sentindo que a Bíblia não é brincadeira. Que ela muito exige da gente. Exige
que a gente viva o que a gente ouve, lê e vai aprendendo. Aí eu achei que não ia agüentar a barra. Eu
pensei em deixar a Escola Bíblica. Agüentei mais um pouco e aí fui notando que se a gente vai
deixando a Palavra de Deus entrar dentro da gente, a gente vai se divinizando. Assim, ela vai tomando
conta da gente e a gente não consegue mais separar o que é de Deus e o que é da gente. Nem sabe
muito bem o que é Palavra dele e palavra da gente. A Bíblia fez isso em mim. Aí eu não consegui
deixar a Escola Bíblica”. Todo o processo da Leitura Orante está nessas palavras. Está descrito de um
jeito a fazer inveja ao próprio Guigo! Saborear a doçura (exigente) do Senhor e curtir a alegria da sua
presença no meio de nós é o que a gente vê acontecer aqui, na vida desse agricultor. Como ele há

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muitos milhares. A contemplação é o que a gente vê acontecer nas Comunidades. Apesar de toda luta,
sofrimento, derrota, enganação, pobreza, fome, doença, o que mais chama a atenção é a alegria do
povo. Alegria, apesar de tudo! É a promessa de Jesus que se realiza: “Ninguém vai conseguir tirar a
alegria de vocês!” (Jo 16,22). Alegria que nasce de uma certeza maior: presença certa dos amigos nas
horas incertas, presença certa de Deus em todas as horas. Alegria que nasce da esperança de, um dia,
vencer na luta e de melhorar este mundo: “Nossa alegria é saber que um dia, todo este se libertará, pois
Jesus Cristo é o Senhor do mundo, nossa esperança realizará!” A contemplação é tudo isto!
A contemplação, como ponto final da escada, é patamar para um novo começo. É como subir
numa torre muito alta. Você alcança o primeiro patamar por uma escada de três lances: leitura,
meditação e oração. Na janela do primeiro patamar, você descansa e contempla a paisagem. Depois
você continua a subida até o segundo patamar por uma outra escada também de três lances: leitura,
meditação e oração. Na janela do segundo patamar, você descansa mais um pouco e contempla, de
novo, a mesma paisagem. Ela ficou mais bonita! Dá vontade de subir mais para observá-la melhor. E
assim você vai subindo, sempre mais, num processo que não termina nunca. Vai lendo sempre a
mesma Bíblia, olhando sempre a mesma paisagem. À medida que sobe, a visão se aprofunda, a
paisagem fica mais ampla, mais real. Você enxerga a sua casa, o seu povoado. Encontra lá no meio a
sua vida, a história de suas andanças. E assim vamos subindo, até que cheguemos a contemplar Deus
face a face (1Cor 13,12) e, em Deus, os irmãos, a realidade, a paisagem, numa visão completa e
definitiva. A contemplação é tudo isto, e muito mais! “Muita luz, nuvem limpa, pé de pau florido, e o
povo alegre, cantando... Eu acho que é um pedacinho da ressurreição, mesmo em sonho. A gente
acordado não dá pra ver esse desafogo da ressurreição porque tem sempre as sombras do sofrimento e
da luta... Vai demorar... Mas um dia eu sei que a ressurreição da felicidade, melhor que o sonho, vai
chegar pro povo... Um dia a ressurreição vai baixar no nosso chão...” Palavras de um pedreiro! Demos
graças a Deus!

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VI. COMO FAZER A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA HOJE?
O método que vamos seguir na Leitura Orante da Bíblia é muito mais do que só uma questão de
técnicas e dinâmicas. O método exprime, articula e transmite uma determinada visão da Bíblia e da
revelação. Não é qualquer método que serve. Um bom método nunca pode perder de vista o objetivo a
que deve servir. O objetivo último da Leitura Orante da Bíblia, é sempre o mesmo: com a ajuda da
Bíblia, descobrir, assumir e celebrar a Palavra de Deus que existe em nossa vida hoje. “Oxalá ouvísseis
hoje a sua voz!” (Sl 95,7).
A prática secular da Leitura Orante mostra que, para se poder atingir este objetivo, são
necessários dois movimentos simultâneos: um de hoje para ontem, e outro de ontem para hoje. O de
hoje para ontem procura investigar o sentido literal, a letra, a história, até atingir o chão comum da
problemática humana. Neste primeiro movimento usam-se os critérios da razão e da ciência. A exegese
presta aqui uma grande ajuda. O movimento de ontem para hoje procura descobrir o sentido espiritual,
o Espírito, a mensagem, a dimensão teologal, isto é, aquilo que Deus nos tem a dizer hoje por meio
daquele texto de ontem. Neste segundo movimento usam-se os critérios da fé. O ambiente de oração
presta aqui uma grande ajuda e favorece a descoberta do sentido espiritual. Letra e Espírito: esses dois
movimentos são como corpo e alma. A interpretação não acontece sem os dois.
Esses dois movimentos estarão bem presentes na Leitura Orante, do começo ao fim. O
movimento de hoje para ontem aí se faz sobretudo através da leitura e da meditação. O movimento de
ontem para hoje se faz sobretudo através da meditação e da oração. A contemplação é o resultado da
união dos dois.
A prática ensina, ainda, que esses dois movimentos só são possíveis quando a leitura parte de
três preocupações básicas: a) levar em conta a realidade humana de hoje com seus problemas e
desafios que questionam a fé e ameaçam a vida; b) ter nos olhos a fé da comunidade que nos faz entrar
em comunhão com o mesmo Deus que, no passado, guiou o seu povo e a ele se revelou em Jesus
Cristo; c) ter um grande respeito pelo texto da Bíblia, evitando qualquer tipo de manipulação ou
redução do seu sentido. Só assim a leitura possibilita e alimenta o nosso diálogo com Deus.
A Leitura Orante leva, pois, em conta essas três preocupações: através da leitura, leva a sério o
texto; através da meditação, parte da realidade e para ela volta; através da oração, mantém viva a fé da
comunidade. A contemplação é o resultado que se obtém quando se é fiel a essas três preocupações.

Como fazer a Leitura Orante hoje?


O mais fácil seria seguir, simplesmente, os quatro degraus recomendados por Guigo: leitura,
meditação, oração e contemplação. Há, porém, algumas diferenças fundamentais entre a Lectio Divina
sugerida por Guigo e a Leitura Orante como proposta para os dias de hoje. Através dos roteiros de
estudo sugeridos, notaremos que eles têm como objetivo orientar a reunião semanal (ou mensal) de um
grupo de pessoas (ou famílias) que convivem, ou não, integradas na mesma comunidade.
Depois, a reunião semanal (ou mensal) tem como finalidade estimular e orientar as pessoas
para que se disponham a uma leitura diária da Bíblia, que as leve a alimentar a sua vida e a vida da sua
comunidade com a luz e a força libertadoras da Palavra de Deus. Por isso, depois que as pessoas do
grupo tiverem assumido a leitura da Bíblia no ritmo diário da sua vida, poderão estar contribuindo para
a formação de outros grupos de Leitura Orante. A reunião proposta pelos roteiros é como os andaimes
ao redor de um prédio em construção. A leitura diária é o próprio prédio. Na hora em que o prédio
estiver pronto, tiram-se os andaimes e fica só o prédio. É importante observar que os andaimes já
utilizados, poderão ser usados na construção de outros prédios.
Saindo do contexto da Lectio Divina recomendada por Guigo, para os mosteiros e a vida do
povo da Idade Média, transportada para dinamizar as reuniões das Comunidades aqui, hoje, a primeira
coisa de que precisa para poder ser verdadeira Leitura Orante é do lema empregado por eles: “Ora et
Labora”. Rezar e Trabalhar. Precisa do clima comunitário de oração e da realidade da vida do povo.
Do contrário, não funciona e acaba morrendo. Estes dois elementos, portanto, devem estar sempre
presentes na prática da Leitura Orante.

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Guigo, na sua sabedoria bem prática, nada mais fez do que sistematizar em quatro degraus o
processo normal de uma leitura proveitosa da Bíblia. Hoje, quem quer ler a Bíblia com proveito, deve
fazer o mesmo. Primeiro, você deve ler o texto, e ler de novo, até entender o que está escrito. É a
leitura. Em seguida, deve assimilar o que leu e trazê-lo para dentro da sua vida e da vida da sua
comunidade. É a meditação. Depois, você deve reagir diante da mensagem que captou durante a leitura
e responder a Deus se aceita ou não. É a oração. Por fim, o resultado da leitura que fica nos seus olhos
o ajudará a apreciar e saborear melhor as coisas de Deus e da vida. É a contemplação. Este é o
caminho óbvio. Não há outro. Por isso, a Leitura Orante (Lectio Divina) continua atual até hoje.
Com outras palavras, os quatro degraus não são técnicas de leitura, mas sim etapas do processo
normal da assimilação da Palavra de Deus na vida, através da leitura meditada e orante. Não são
normas técnicas para orientar a nossa reunião em torno da Bíblia, mas sim atitudes básicas que todos
devemos ter sempre diante da Palavra de Deus. Elas devem estar presentes tanto na leitura individual
como na reunião do grupo, tanto na prática simples das comunidades, como no estudo científico dos
exegetas.

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VII. O MÉTODO A SER USADO NA LEITURA ORANTE DA BÍBLIA.

1. A Dinâmica dos Encontros

1º Momento: Oração Inicial


Quando um grupo se reúne para aprofundar o estudo da Bíblia, ele é a comunidade de fé que se
encontra sob a ação do Espírito Santo. Por isso, uma oração inicial criará o clima orante e celebrativo.

2º Momento: Mutirão da Memória


Relembrar rapidamente o tema estudado no último encontro, levantando os pontos mais
importantes. Isto para que os temas estudados não fiquem isolados, mas estejam ligados e assim
favoreçam uma visão de conjunto.

3º Momento: Estudo do Tema


a) Palavra-chave: Indica o assunto do encontro e revela o seu quadro de referência, apontando
uma realidade tanto da Bíblia como da vida de hoje.
Citação bíblica: Explicita o mesmo assunto em forma de oração. É uma frase curta, em forma
de ditado, para ser guardada de maneira bem visível. A citação bíblica pode ser utilizada na oração
inicial.
b) Realidade de hoje: Nesta primeira parte, trazemos para dentro do encontro a realidade da
vida de hoje, indicada pela palavra-chave e pela citação bíblica. É para escutar e refletir a situação do
povo. Colocamos na mesa o assunto – as angústias, os sofrimentos, os problemas, mas também as
alegrias, as conquistas, as realizações – que deve ser iluminado pela Palavra de Deus.
c) Estudo do texto sugerido: Em cada roteiro são indicados três textos que servem como porta
de entrada para o período da história a ser estudado no encontro. O primeiro dos três textos vem
desenvolvido, e os outros dois são alternativos. O texto escolhido deve ser apresentado e introduzido
pelo coordenador da reunião.
O estudo do texto se faz em três etapas, interligadas:
1) Ver o texto de perto: (Nível literário) É, simplesmente, entrar dentro do texto. É uma
primeira aproximação, onde se procura descobrir: o assunto, os lugares, as pessoas e as suas atuações.
Para conseguir isto, algumas perguntas são apresentadas.
2) Considerar a situação histórica: (Nível histórico) Ver a situação do povo que transparece no
texto e, se possível, tentar definir algumas características da situação econômica, social, política e
religiosa. Verificar quais os conflitos que transparecem no texto e qual deles é o conflito básico.
3) Escutar a mensagem do texto: (Nível teológico) Ver como o texto toma posição naquele
conflito, como ele responde àquela situação do povo, ou seja, qual é a mensagem que traz para o povo
de ontem e de hoje. Esta terceira etapa é a mais importante, é o ponto de chegada. Mas não se chega a
ele sem passar pelas duas primeiras etapas.
Falamos em etapas no sentido de abordagens, de aspectos, não no sentido cronológico. Na
prática, muitas vezes, estas três abordagens se misturam.
Enquanto se fizer este estudo, a realidade atual do povo deve estar sempre presente. Sem
dúvida nenhuma, ela será constantemente evocada na memória dos participantes. Daí é importante
verificar bem as semelhanças e as diferenças entre ontem e hoje. Deste modo, evitam-se concordismos
fáceis e manipulações superficiais da Bíblia.
d) Estudo do período histórico: Terminado o estudo do texto e de sua mensagem, abrimos a
nossa atenção para todo o período da história que deve ser abordado e aprofundado. É como se, depois
de vermos uma fotografia do álbum, olhássemos rapidamente para as outras fotografias do mesmo
período histórico. Esta ampliação será feita pelos presentes, através de uma coleta de dados.
e) Partilha das descobertas feitas: É o momento de amarrar as coisas e de colocar em comum o
que cada um descobriu durante o estudo do texto. O grupo pode escrever o que achar importante. Para
ajudar nesta partilha, são sugeridas algumas perguntas para cada roteiro.

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4º Momento: Preparar o próximo encontro
1. Indicar os textos para o próximo encontro.
2. E como a Palavra de Deus não volta sem antes produzir seu fruto, o grupo deve sempre se
perguntar que mudanças ou que ação a reflexão feita exige do grupo e de cada um dos seus membros
em sua vida.
3. Distribuir as tarefas que cabem a cada um.

5º Momento: Uma oração que expresse o vivido e o aprendido


Tudo deverá terminar numa celebração. A oração é como o cimento que liga entre si os tijolos
das descobertas do grupo e lhes dá consistência. É uma maneira de ajudar a assimilar os elementos que
constituem a fé e de assumi-los com maior convicção. Quando se chega a esta altura do encontro,
convém que se crie um ambiente de oração para que ela possa ecoar e produzir o seu efeito. No roteiro
há sugestão para a oração. O grupo se sinta livre para escolher outra forma de oração.

2. Subsídios e Ajudas para os Grupos


No final de cada roteiro são apresentados subsídios que têm como objetivo ajudar os
participantes a melhor compreender determinados aspectos, situações ou problemas referentes ao tema
estudado e a contribuição deste período na formação da Bíblia. Às vezes, são observações úteis para o
aprofundamento de nossa vida, espiritualidade e missão. Esses pequenos subsídios precisam ser
complementados pela leitura de bons comentários e introduções a cada Livro da Escritura. O melhor
seria o grupo não se contentar com as breves notas que quase todas as edições da Bíblia têm no pé da
página. A leitura de um comentário ou introdução mais especializada seria de grande proveito,
especialmente nos grupos que têm mais condições de leitura.
Como sugestão, seria interessante escolher um responsável no grupo para juntar as ideias
surgidas e as dúvidas que não foram respondidas durante o estudo (personagens, regiões, contexto
histórico, povos etc.). Montar um pequeno vocabulário a partir das descobertas e necessidades do
grupo. Tudo isto serve como motivação para a maior participação de todos.

3. Temário
A distribuição dos temas, como introdução ao método da Leitura Orante da Bíblia, foi feita em
12 roteiros, como um meio pedagógico para se alcançar o objetivo proposto. A história descrita na
Bíblia começa com a criação. O nosso estudo começa com o Êxodo que trata da opressão do povo no
Egito e da libertação realizada pelo poder de Deus. O motivo desta diferença é, primeiro, porque, de
fato, historicamente, a história do povo, enquanto povo, começou com a saída do Egito; e segundo,
porque, deste modo, aparece mais claramente a semelhança entre a história do povo da Bíblia e a
história dos povos da América Latina. Os 12 roteiros para os encontros estão assim distribuídos e se
encontram na seqüência:
a) A Palavra convoca a viver a Aliança com Deus:
1. Êxodo - A opressão no Egito e a libertação pelo poder de Deus
(1650-1250 a.C.)
2. Juízes – A organização do povo e a repartição da terra
(1250-1050 a.C.)
3.Patriarcas – Recuperação da memória e da própria identidade
(1800-1050 a.C.)
4. De Samuel a Davi – Crises e mudanças do sistema tribal para a
monarquia (1050-1000 a.C.)

b) A Palavra convoca o povo a refazer a Aliança:


5. Reis e Profetas – Os Profetas criticam os reis em nome da Aliança
(1000-587 a.C.)
6. Exílio - Cativeiro, desintegração e nova libertação (587-445 a.C.)
7. Esdras – Neemias – Reorganização do povo a partir da Lei

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(445-06 a.C.)
8.Livros Sapienciais – Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão
cultural (1800-06 a.C.)

c) A Palavra se fez carne e convoca para viver a nova Aliança:


9.Jesus – Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo
(06 aC-30 d.C.)
10. Início da Igreja – As comunidades: um novo modo de ser povo de Deus (30-49 d.C.)
11.Paulo – A expansão do Evangelho pelo mundo (49-67 d.C.)
12 Época do Apocalipse – Perseguição e resistência no final do primeiro século (67-100 d.C.)

Mínima Bibliográfica (Para ajudar nos encontros)


Beabá da Bíblia – Ed. Paulinas
História do Povo de Deus – Euclides Martins Balancin – Ed. Paulinas
Como a Bíblia foi Escrita – Pierre Gibert – Ed. Paulinas
O tempo que se chama hoje – W. Gruen – Ed. Paulinas
Um Atlas da Bíblia.

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ENCONTRO 1 – A opressão no Egito e a Libertação pelo poder de Deus
O faraó está mais vivo do que nunca, controla a América e se enriquece, empobrecendo nossos
povos. Os pobres gritam e Deus escuta o seu clamor.
TEMA: Situação de opressão do povo no Egito e libertação.
PERÍODO: Desde 1650 a 1250 a.C. São 400 anos.
ASPECTOS:
1. ÊXODO 2,23–3,15: Descreve como Deus escuta o clamor do povo e responde.
2. ÊXODO 1,8-22: Descreve a opressão do povo no Egito.
3. ÊXODO 14,10-29: Descreve a libertação das mãos do faraó e apassagem do Mar Vermelho.
Palavra-chave: LIBERTAÇÃO
“Porque Ele libertará o pobre que suplica, o desgraçado a quem ninguém ampara” (Salmo
72,12).
1. Partir da realidade de hoje
A opressão do povo no Egito ocorreu e ocorre sempre. A pirâmide social continua existindo. O
faraó está hoje mais vivo do que nunca, controla a América Latina e se enriquece, empobrecendo
nossos povos. Os pobres gritam e Deus escuta seu clamor.
a) Como se manifestam a dor e a opressão em nossa vida pessoal, em nossa comunidade e em
nosso povo hoje?
b) Como Deus se revela, ou que sinais da libertação de Deus percebemos hoje em nossa vida
pessoal, em nossa comunidade e em nosso povo?
c) Em que acontecimentos se manifestam a opressão e a libertação hoje, na América Latina?

2. Estudo do texto escolhido: Êxodo 2,23–3,15


a) Ver de perto o texto:
1. Que coisas nos conta este texto?
2. Quantas e quais partes se podem nele distinguir?
3. Enumere as diferentes maneiras como Deus se revela.
b) Considerar a situação histórica:
3. Qual era a situação econômica, na qual o povo se encontrava?
4. Qual é a vocação de Moisés, como a descobre e como responde a ela?
c) Ouvir a mensagem do texto:
5. Qual é a nossa vocação hoje, como a descobrimos e como respondemos?
6. Trocar ideias sobre o significado do nome de Deus, sobre o alcance desse nome para nossa
vida e para nosso caminhar.

3. Estudo do período histórico

a) Este período compreende os fatos que vão desde a entrada de Jacó no Egito até Josué. Isto é,
desde 1650 até 1250, aproximadamente. Um período de 400 anos.
b) Trata-se de conseguir uma visão global desta grande opressão do povo no Egito, assim como
do processo ou da ação de Deus para a sua liber5ação. Compreende a época que vai desde a entrada no
Egito até a travessia do Jordão.
c) Procurar informações geográficas mais pormenorizadas em algum mapa. Observar o
caminho percorrido pelo povo em marcha para sua libertação.
d) Procurar traçar uma linha cronológica do tempo. Nela posicionar todos os fatos ocorridos
neste período e usar, como fonte, a própria Bíblia.

4. Partilha

Sintetizar o trabalho realizado pelo grupo, quando possível por escrito.


Apoiar-se nas seguintes perguntas:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?

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b) Que descobriu em relação àquele período há história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a iluminar o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?

5. Oração: Salmo 142

A situação de opressão é permanente. O grito do povo oprimido continua subindo até Deus.
Este Salmo 142 apresenta a oração de um pobre oprimido e angustiado. É o grito do pobre que chega
aos ouvidos de Deus. Deus escuta, atende e desce para liberta-lo (para esse momento de oração
convém criar um ambiente de silêncio e meditação que ajude a vibrar com a Palavra de Deus).

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: A organização no deserto e a conquista da terra.


Texto a ser estudado: Êxodo 16,1-36.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Origem da Bíblia (primeiros tijolos desta grande obra):
1. Sua semente é a decisão do próprio Deus. Ele toma a iniciativa de ouvir sempre o clamor do
povo oprimido.
2. Antes de ser escrita, a Bíblia foi narrada. Antes de ser narrada,
ela foi vivida.
3. As origens das histórias da Bíblia encontram-se nos grupos de conversa e nas celebrações do
povo. Nasceu da preocupação de não perder sua memória e de conservar a própria identidade.
4. É muito difícil saber exatamente o tempo em que a Bíblia foi escrita. O mesmo se pode dizer
da época em que sucederam os acontecimentos por ela narrados.
5. As narrativas são populares, repetidas, simplificadas e sem muita precisão. Seu objetivo não
é uma informação precisa, porém a animação da fé, da luta. E do caminho do povo.
b) Estudo de um texto:
1. O texto bíblico é como um coco de casca dura. Só existe uma forma certa para romper a
casca e beber o leite delicioso: o trabalho em grupo.
2. Para conseguir isto devem-se formular perguntas bem claras dirigidas ao texto. Elas devem
despertar a atenção dos participantes. Tais perguntas podem servir como chave de leitura.
3. Perguntas boas são aquelas que ajudam o grupo a prestar atenção aos diversos aspectos do
texto: Quem? Quê? Donde? Por quê? De que maneira? Quando? Com que meios? Etc.

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ENCONTRO 2 – A organização do povo e a distribuição da terra

Na América Latina há muitos homens sem terra e muita terra sem homens.
TEMA: Nova organização fraterna do tempo dos JUÍZES.
PERÍODO: 1250–1050 a.C. Desde Josué até Samuel. Época dos Juízes.
ASPECTOS:
1. ÊXODO 16,1-21: A história do maná ensina a repartir os bens e proíbe acumular.
2. ÊXODO 18,1-27: Jetro, sogro de Moisés, ensina a descentralizar o poder.3. JOSUÉ 24,1-27:
Em Siquém, as tribos se reúnem para organizar sua vida, seu povo e afirmar sua fé em Javé.
Palavra-chave: PARTILHA FRATERNA
“Aos mais numerosos darão parte maior da herança e aos menos numerosos, uma parte menor”
(Nm 33,54).
1. Partir da realidade de hoje
Na América Latina há muitos homens sem terra e muita terra sem homens. A maior parte da
terra está em poucas mãos. A maioria das pessoas necessita de casa e de alimento.
a) Sabemos quem possui terra de sobra em nossa região e quem não tem nada? Poderíamos
pesquisar?
b) Que tipo de lutas o povo faz para conseguir uma casa digna para viver?
c) Como se organizam os camponeses para ter terra suficiente para viver e plantar?
d) Como se faz a partilha dos bens na América Latina?
e) Como nos situamos nós, como comunidades, frente a estes problemas?

2. Estudo do texto escolhido: Êxodo 16,1-21


Partilha fraterna do maná
a) Ver de perto o texto:
1. Qual foi o clamor do povo em sua travessia pelo deserto?
2. Como responde Javé a esse clamor?
3. Que condições estabelece Javé para que a partilha seja fraterna?
b) Considerar a situação histórica:
4. Qual é a situação do grupo que neste momento caminha pelo deserto?
5. Que conflitos internos de autoridade tem o grupo?
6. Como se manifesta a escravidão, e como se manifestam os sinais de serviço?
c) Ouvir a mensagem do texto:
7. Como Deus encoraja e que pedagogia usa para que o povo aprenda a organizar-se?
8. Que soluções o povo encontra para viver a fraternidade a partir de sua experiência?
3.Estudo do período histórico
a) Estudar, no mapa do deserto da Arábia, a travessia, desde o
Egito até a Palestina.
b) Estudar, no mapa da Palestina, a distribuição das tribos.
c) Elaborar uma faixa de tempo e sobre ela posicionar os juízes principais e seus inimigos. Usar
como fonte a própria Bíblia.
A travessia de “40 anos” pelo deserto é o tempo de uma geração 1250- 1225 a.C. Corresponde,
mais exatamente, ao período da “libertação”. Durante este tempo, o povo vive experiências positivas e
negativas que o ajudam a descobrir e formular alguns mandamentos. Estes expressam sua identidade
como povo. Também, neste período, prepara-se e realiza-se a Aliança com Deus, que estimula o povo
a continuar seu caminho.
O período dos juízes é um momento importantíssimo para Israel. Dura 200 anos, de 1225 a
1025 a.C. As tribos vivem a experiência da libertação do Egito, do Êxodo e da travessia pelo deserto.
Elas animam outras tribos a tomar a terra ocupada pelos reis de Canaã. Desta forma, concluem-se
alianças, fazem-se reuniões e assembléias para repartir as terras e organizar o trabalho. É aqui que
Israel se constitui como povo. Um povo sem reis: “Só Javé é nosso Rei?” Um povo que busca as leis
da fraternidade para defender a terra, os direitos dos pobres e a justiça. Entretanto, por estar colocado

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entre o Mar Mediterrâneo e o deserto da Arábia, ou seja, um “corredor” de passagem entre os grandes
impérios do Egito e da Mesopotâmia, sofre pressão externa. Assim, vê-se obrigado a mudar a forma de
organização popular por uma organização monárquica, devido às divisões internas e à corrupção que
abarca também os juízes.
4. Partilha
a) Fazer uma síntese do trabalho do trabalho realizado pelo grupo, quando possível por escrito.
Apoiar-se nas seguintes perguntas:
b) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
c) Que descobriu em relação àquele período há história do povo da Bíblia?
d) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
e) Como este texto ajuda a ver a realidade?
f) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-la
ao povo?
5. Oração:
Salmo 105,37-45.
Rezar e meditar o Pai-Nosso.
É uma concretização, feita por Jesus desse espírito de compartilhar o pão de cada dia e de não
acumulá-lo. Esta é a síntese da aliança: “Eu serei teu Deus e tu serás meu povo”. Somente quando se
partilha o “pão nosso” somos filhos do “Pai nosso”.
O Cântico de Débora (Juízes 5,1-31) nos recorda a luta em defesa da terra e a participação das
mulheres na vida deste povo. Um grupo de mulheres pode lê-lo em coro.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Recuperação da memória e da própria identidade (Patriarcas 1800-1650 a.C.
Texto a ser estudado: Josué 24,1-15.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
Comentários em cima do texto:
Este texto é parte das tradições do tempo do deserto, relembrado na época dos juízes, para
ajudar o povo em sua organização. O “maná” é uma narração popular, em que o povo transmite uma
situação antiga – de acumulação de bens – para superá-la. O sistema do faraó era de acúmulo, mas
agora se procura compartilhar. Está sempre presente a tentação de imitar o faraó. É um texto
educativo. Apresenta uma pedagogia para chegar a uma distribuição fraterna da terra.
Este texto do maná, sendo narração popular que pretende insistir na idéia de partilha e não na
de economia acumulativa, pode também ser considerado como um texto típico da Eucaristia. A alusão
que Jesus faz no capítulo 6 do Evangelho de João pode ajudar a compreender melhor esta ideia.

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ENCONTRO 3 – Recuperação da memória e da própria identidade
Os povos indígenas da América Latina e os negros trazidos da África foram tão oprimidos e
destruídos que perderam a memória.
TEMA: Recuperar a memória e a identidade
PERÍODO: Patriarcas: dos anos 1800 a 1650 a.C.
ASPECTOS:
1. JOSUÉ 24,1-15: Celebra-se uma assembléia popular. Nela a memória dos antepassados leva
o povo a renovar a Aliança.
2. GÊNESIS 12,1-9: Abraão: modelo de fé e fonte de bênção.
3. DEUTERONÔMIO 26,1-11: O Culto como lugar onde se recriae se atualiza a memória.
Palavra-chave: “NOSSOS PAIS NOS CONTARAM”
“Senhor, nosso Deus, ouvimos com nossos próprios ouvidos o que nossos pais nos contaram
sobre as maravilhas que Tu realizaste com eles nos tempos de outrora, Tu mesmo, Senhor, com tuas
mãos”
(Salmo 44,2).
1. Partir da realidade de hoje
Os povos indígenas da América Latina e os negros trazidos da África foram tão oprimidos e
destruídos, que perderam a memória. Quem perde a memória perde a sua identidade e se torna massa
de manobra na mão dos opressores. Mas nem toda a memória do povo pode ser apagada. Algo novo
está acontecendo em nosso tempo.
a) O que nossos pais nos contaram sobre Deus e suas obras?
b) Quais os patriarcas de nossa família, de nossa comunidade, de nosso povo?
c) Quem e o que nos leva a recordar nosso passado?
d) Quais os restos de memória que ficaram dos povos da América Latina de antes da chegada
dos colonizadores?
e) Por que é tão importante lembrar a história dos patriarcas dos nossos povos da América
Latina?
2. Estudo do texto escolhido: Josué 24,1-15
a) Ver de perto o texto:
1. O que o texto conta?
2. Quem conta?
3. Para quem?
4. Onde e em que ocasião?
5.Como o conta?
b) Considerar a situação histórica:
6. Em que situação se encontrava o povo quando Josué reuniu as tribos e lhes lembrou o
passado?
7. Quais os períodos do passado que são lembrados por Josué?
8. O que Josué pretende com o despertar da memória do povo?
9. Qual foi o resultado do discurso de Josué para a caminhada do povo?
c) Ouvir a mensagem do texto:
10 Qual a mensagem, deste texto para recuperar a nossa memória hoje: pessoal, comunitária,
do povo?
3. Estudo do período histórico
a) É o período que vai de Abraão até o fim da história de José no Egito (Gn 12-50). Sugestão
para conhecer melhor o período dos patriarcas:
1. Fazer a linha do tempo e colocar nele cada um dos patriarcas.
Colocar em comum o que cada um sabe de cada patriarca.
2. Usar como fonte os capítulos da Bíblia referentes aos patriarcas.
3. Estudar a história de José e aprender a contá-la.
b) A recordação histórica dos patriarcas da Bíblia exerce uma função educativa muito
importante na vida do povo:

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1. Apresenta Abraão como modelo de fé para todos os crentes.
2. Descreve a missão do povo: ser fonte de bênção para todos os povos (Gênesis 12,3)
3. Apresenta Abraão como exemplo de quem vive o projeto de Deus. Abraão partilha a terra.
Abraão é rico, não porque roubou ou acumulou, mas porque repartiu.
4. Mostra como nem tudo é perfeito: história da expulsão de Agar.
5. Abraão é como o tronco ao qual se ligam todos os galhos e aos quais ele dá vida, unidade e
consistência.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas
perguntas seguintes:
a) O que descobrimos sobre o sentido do texto em si mesmo?
b) O que descobrimos sobre este período da história do povo da Bíblia?
c) Em que o estudo ajudou a entender esse texto da Bíblia: origem, formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) O que descobrimos em relação ao modo de interpretar a Bíblia e de transmiti-la ao povo?
5. Oração: Salmo 105: reza o passado
Ao terminar o Salmo, continuar a oração rezando a memória do povo hoje, usando como refrão
uma frase tirada do Salmo.
6. Preparação para o próximo encontro
Definir o tema: Crise e mudança do sistema tribal para a monarquia.
Tempo de Samuel e Davi (1050-1000 a.C.). Texto a ser estudado: 1Samuel 8,1-22.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Na época dos juízes, durante aqueles 200 anos da formação do povo, as tribos renasceram e
começaram a lembrar o seu passado e a contá-lo , umas às outras. Assim foram lembrando e contando
as histórias dos patriarcas. Na maneira de contar a história dos seus antepassados, expressavam o ideal
que os animava no presente. Por isso, Abraão é modelo de fé, fonte de bênção, exemplo de partilha,
fiel na observância da lei.
b) Um momento muito importante, neste processo de unificação das tradições e de formação da
consciência das várias tribos em torno do ideal comum, foi a Assembléia Popular presidida por Josué,
na cidade de Siquém.
c) Tudo isto mostra como uma grande parte da Bíblia nasce da preocupação do povo de não
perder a memória e a identidade.
d) As tradições a respeito dos patriarcas formam-se nesta época que o povo tem a oportunidade
de recordar seu passado. Entretanto, não foram escritas neste momento. Essa tarefa será executada
mais tarde. Por enquanto são tradições apenas orais.

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ENCONTRO 4 – Crise e mudança do sistema tribal para a monarquia
Os reis das nações dominam, e os que as tiranizam são chamados de benfeitores.
TEMA: Crise surgida por causa da mudança de sistema.
PERÍODO: Fim dos juízes até o começo do reino de Davi (1050-1000 a.C.)
ASPECTOS:
1. 1SAMUEL 8,1-22: A crise se manifesta no descontentamento popular e nas tendências
opostas à monarquia.
2. JUÍZES 8,22-35: Perante as dificuldades do sistema tribal surgem tentativas de implantação
do reinado.
3. 2SAMUEL 7,1-27: O poder absoluto do rei é anunciado pelo profeta e torna-se hereditário.
Palavra-chave: DOMINAR OU SERVIR?
“Os reis das nações dominam, e os que as tiranizam são chamados de benfeitores. Convosco
não deverá ser assim. Pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o menor, aquele que governa
como aquele que serve” (Lucas 22,25-26).
1. Partir da realidade de hoje
Na América Latina, os que detêm o poder não são os que servem o povo. Pelo contrário, na
maioria dos países, eles exercem o poder para defender seus próprios interesses ou os interesses de uns
poucos. Por isso, são a origem de muita injustiça e opressão.
a) Como se faz o exercício do poder em nossa comunidade e em nosso país?
b) Em suas relações com os demais (irmãos, família, comunidade), você reproduz ou questiona
o sistema de dominação?
c) Por que o poder, quase sempre, assume a forma de dominação e quase nunca a forma de
serviço?
d) Conhece alguma iniciativa, nos tempos atuais, em que o poder se exerce como serviço?
e) Conhece, na história da América Latina, experiências em que o poder tenha sido exercido
como serviço? Tais experiências resistiram às forças de dominação?
2. Estudo do texto escolhido: 1Samuel 8,1-22
a) Ver de perto o texto:
1. Que quer o povo? Por quê?
2. Que responde Samuel? Por quê?
3. Como reage Deus? Por quê?
b) Considerar a situação histórica:
4. Qual foi a situação histórica que levou o povo a pedir um rei?
5. Que significa um rei: para o povo, para Samuel, para Deus?
6. Qual era o direito do rei frente ao povo?
7. Qual era o direito do povo frente ao rei?
8. Na decisão final, o povo se adapta a Deus ou vice-versa?
c) Ouvir a mensagem do texto:
9. O texto foi escrito muito tempo depois dos acontecimentos. Qual era a mensagem que queria
transmitir e a quem: ao rei ou ao povo?
10 Este texto pode iluminar o problema, tão grave, que temos hoje no exercício do poder, no
governo, na família, na comunidade, no povo?
3. Estudo do texto escolhido: 1Samuel 8,1-22
a) Compreende a época que vai desde o final dos juízes até o começo do reinado de Davi. São
mais ou menos 50 anos (1050-1000 a.C.).
b) Recordar, no grupo, os fatos ocorridos durante este período. Colocá-los sucessivamente
numa linha de tempo. Usar, como fonte de informação, a própria Bíblia.
c) No final do período dos juízes surgiu uma dupla crise. Internamente, os juízes perderam o
poder que haviam conseguido (1Samuel 8,3-5), devido ao deterioramento da vivência da Aliança
(!Samuel 3,12-17) e ao aumento da desigualdade social no seio dos clãs (Êxodo 21,1-10).
Externamente, os filisteus ameaçavam invadir o território das tribos, e estas não tinham condições
suficientes para defender-se de forma permanente.

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d) Com o correr do tempo, surgem tentativas de introduzir a monarquia e de transformar o juiz
em rei. Primeiro Gedeão (Juízes 8,22-33), depois Abimeleque (Juízes 9,1-17), em seguida Saul
(1Samuel 10-11) e, finalmente, Davi, que consegue consolidar o poder e conferir-lhe a hereditariedade.
e) Na Bíblia, o rei é visto como juiz do povo, ungido por Javé.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas
perguntas:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como o texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração: Salmo 72
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Os profetas criticam os reis, denunciam a injustiça.
Texto a ser estudado: 1Reis 21,1-24
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Na origem da Bíblia existem grupos em conflito. Seus diferentes pensamentos estão
registrados na Bíblia.
b) A Bíblia registra o lento caminhar do povo de Deus. Desde o estado de imperfeição e pecado
até a plenitude em Jesus Cristo.
c) Algumas vezes, o nome de Deus foi usado e manipulado pelos reis para legitimar e encobrir
a opressão.
d) No momento da introdução da monarquia, a Vontade de Deus não se manifesta de uma
forma abstrata, mas de forma concreta, nas decisões históricas do povo.
e) É claro que, para este período da monarquia, as tradições orais anteriores começam a ser
fixadas por escrito.

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ENCONTRO 5 – Os profetas criticam os reis em nome da Aliança
Ele fará justiça aos humildes do povo...
TEMA: Anúncio da fidelidade com Javé e denúncia da injustiça.
PERÍODO: Reino unido (1025-931 a.C). Divisão do reino: Reino do Norte (Israel) – (931-721
a.C). Reino do Sul (Judá) 931-587 a.C.).
ASPECTOS:
1. 1REIS 21,1-24: Os pobres são injustamente despojados de sua terra.
2. JEREMIAS 22,13-19: O profeta denuncia a corrupção e o enriquecimento injusto do rei.
3. ISAÍAS 1,10-28: Denúncia do uso do nome de Deus e do tempo.
Palavra-chave: FAZER JUSTIÇA
“Ele fará justiça aos humildes do povo, salvará os filhos dos pobres” (Salmo 22,4)
1. Partir da realidade de hoje
O povo da América Latina está sendo injustamente despojado de suas terras, e seus direitos são
pisoteados. Uma minoria apoderou-se dos bens de produção e do poder político, marginalizando o
povo. Estão surgindo sinais e gestos proféticos para denunciar esta situação.
a) As reformas, tanto econômicas como sociais e política, são promovidas em nome de que ou
de quem e em favor de quem?
b) Que gestos proféticos estão em curso: - em nosso país? – em nossa região? – na América
Latina?
c) Fazemos regularmente, na nossa comunidade, em nossos grupos, a análise da realidade, para
conhecer a situação não só internacional, nacional, mas também a do lugar onde exercemos nossa
missão? A que compromisso isto nos tem levado?
2. Estudo do texto escolhido: 1 Reis 21,1-24 (A vinha de Nabot)
a) Ver de perto o texto:
1. Enumere as ações injustas que aparecem neste texto.
2. Que palavras e provas são apresentadas para justificar estas ações?
3. Que conseqüências geram estas ações nos diversos personagens que aparecem no texto?
b) Considerar a situação histórica:
4. Em que sentido a monarquia representa um retrocesso em relação ao passado?
5. Quem tinha razão: o rei que tinha o título de filho de Deus e a propriedade de todo o reino,
ou o profeta que nada possuía e era considerado pelo rei como infiel e contrário ao povo?
6. Que conseqüência teve o matrimônio de Acabe com a princesa fenícia Jezabel?
c) Ouvir a mensagem do texto
7. Como este texto ilumina a vivência da Antiga Aliança com Javé no período da monarquia e a
vivência da Nova Aliança hoje?
8. Que características do profetismo poderemos assinalar partindo das ações do profeta Elias?
9. O que é um verdadeiro profeta hoje? Nomear alguns profetas de nossa comunidade, de nosso
país, da América Latina.
3. Estudo do período histórico
a) Israel, na fase dos juízes, devido a problemas externos e internos, e pelo exemplo de outros
povos, pede para ter um rei. Os três primeiros – Saul, Davi e Salomão – foram formando e ampliando
o reino unido. Construíram o palácio e o templo e formaram um exército. Para todos esses gastos
extorquiram pesados tributos e duros serviços do povo, exatamente como o havia predito o profeta
Samuel (1 Samuel 8,10-20).
b) Depois a morte de Salomão, atiçam-se os conflitos, e um cisma divide o reino em dois:
Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá), 931 a.C. A ambição pelo poder corrompe e faz com que
muitos esqueçam a Aliança com Javé, as leis da fraternidade e a justiça. Para fortalecer sua posição, os
reis depositam sua confiança em outros reinos poderosos; esta primeira idolatria do poder desencadeia
outra série de idolatrias, como a da riqueza, dos cultos, etc., levando ao esquecimento de Javé, da sua
Aliança e de seu projeto. Nesta situação, os profetas têm um papel importante.
Aparece, assim, com força, o profetismo que tem, como linha de fundo, a justiça.

29
c) O profetismo, inicialmente, se achava vinculado à corte e ao culto; a partir do profeta Elias,
separa-se e se torna crítico do poder. Isto vai marcar o profetismo bíblico.
d) Segundo a reflexão profética, por causa da idolatria do poder e do dinheiro, tanto no interior
como em suas relações externas, desmoronaram os reinos. Israel caiu ante a invasão da Assíria no ano
721 a.C e Judá, frente à Babilônia, no ano 587 a.C.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se no
questionário seguinte:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como o texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração
Partindo de nossa reflexão, podemos fazer uma celebração de conversão sobre nossa missão
profética. Estes textos podem nos ajudar:
a) Isaías 42,18-25; 58,1-12. Chamado à conversão do coração para fazer justiça.
b) Salmo 58. Deus julga os governantes que oprimem o povo.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Exílio, desintegração e nova libertação (desde a destruição de Jerusalém até a
época de Neemias, 587-445 a.C.
Texto a ser estudado: Isaías 65,17-23.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Houve profetas, como Samuel, Natã, Elias, Eliseu, dos quais se escreveu algo de suas vidas,
mas não foram escritos livros sobre sua mensagem. São conservados os livros de 16 profetas: quatro
maiores e 12 menores. Estes profetas não eram homens solitários, mas associavam-se em grupos, em
movimentos de resistência do povo e assim formavam escolas; seus discípulos, ou secretários,
conservaram suas palavras e delas nasceram os livros. Isto aconteceu, sobretudo, no tempo do exílio.
b) Os PROFETAS são porta-vozes da Palavra de Deus, verdadeiras pontes entre Deus e o seu
povo. Eles conhecem bem o projeto de Deus e a situação do povo.
Deus chamou, separou e impulsionou os PROFETAS para reconstruir sua ALIANÇA, que fora
rompida pela infidelidade e pela injustiça. Os profetas encontram, no passado do povo, os critérios
para criticar o presente e abrir a porta ao futuro.
Três direções assinalaram, principalmente, a atividade dos profetas:
1. Reconstruir a sociedade pela justiça e pela observância da Lei.
2. Reconstruir a comunidade pela solidariedade.
3. Reconstruir a consciência do povo, afetada pela ideologia, através da mística, isto é, pela
certeza de que o Senhor Javé é o único Deus e está com eles.
c) O profetismo teve seu ponto alto no tempo dos reis, quando pregava a justiça. Depois do
exílio, foi perdendo a sua importância, porque a situação histórica de Israel mudou: houve problemas
políticos e econômicos, e Israel sofreu dominação estrangeira.

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ENCONTRO 6 – Exílio: desintegração, nova libertação (587-445 a.C.)
Exílio, desterro, desintegração... nosso povo latino-americano não pode perder a esperança.
TEMA: O exílio: “A esperança nasce da experiência da dor”.
PERÍODO: Desde a destruição de Jerusalém até a época de Neemias (587 a 445 a.C.).
ASPECTOS:
1. ISAÍAS 65,17-23: A esperança do povo surge do fundo da opressão.
2. ISAÍAS 42,1-9: O povo oprimido em cativeiro descobre sua missão.
3. JEREMIAS 52: Imagem da destruição que levou ao cativeiro.
Palavra-chave: ESPERANÇA
“Edifica, Javé, a Jerusalém, congrega os deportados de Israel. Ele consola os corações
esmagados e cura as suas feridas” (Salmo 147,2-3).
1. Partir da realidade de hoje
Nosso povo latino-americano não pode perder a esperança. Entretanto, podemos perguntar se a
situação que estamos vivendo permite-nos manter a esperança (comentar em grupo a situação que
vivemos atualmente).
a) Como se manifesta a situação de exílio, desterro e perseguição de nosso povo hoje?
b) Quais os sinais de resistência que o povo está realizando?
c) Como o povo percebe a Deus nesta situação?
d) De que modo esta percepção de Deus está alimentando a esperança do povo?
e) Por que estas esperanças ainda não se realizam?
2. Estudo do texto escolhido: Isaías 65,17-23
a) Ver de perto o texto:
1. O que nos diz este texto e de que forma o diz?
2. O que é que mais impressiona e o que é mais bonito no texto?
3. De que outros textos bíblicos, semelhantes a este, você se recorda ao ler este trecho?
b) Considerar a situação histórica:
4. Enumerar os diversos aspectos de opressão aos quais o povo se encontra submetido e que
aparecem no texto.
5. Em que situação se encontrava o povo que produziu este texto?
c) Ouvir a mensagem do texto
6. Por que a fé na criação de um céu novo e de uma terra nova anima a luta e a esperança do
povo no exílio e do nosso povo hoje?
3. Estudo do período histórico
a) Algumas datas:
597: Primeira tomada de Jerusalém. Exílio do primeiro grupo na Babilônia.
587: Destruição de Jerusalém. Exílio do segundo grupo em Babilônia.
538: Edito de Ciro. Começa a volta dos exilados a Jerusalém.
520: Governo de Zorobabel. Reconstrução do templo.
445: Chegada de Neemias a Jerusalém.
b) Localizar no mapa, e na linha tempo, as datas e o caminho do exílio e do regresso a
Jerusalém.
c) O Reino de Judá, por causa das contradições internas, é destruído pelo Império Babilônico.
O profeta Jeremias procura manter acesa a esperança do povo.
d) Há dois grupos de exilados em conflito (Jeremias 29).
e) Há ambiguidade na esperança: não se trata só de novo império com Ciro, mas também da
presença de Deus que caminha com seu povo (Isaías 40-45).
f) O Reino de Judá se torna uma pequena parte do grande Império Persa. Aparece a
possibilidade de uma experiência forte de vida comunitária (Isaías 56-66).
g) Procure conhecer os escritos produzidos neste período.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se no
questionário seguinte:

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a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração
Ler juntos, pausadamente, o Salmo 126. Depois de um momento de silêncio refletivo, rezar,
partindo das esperanças que animam o povo de hoje.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Reorganização do povo a partir da lei (Esdras e Neemias).
Texto a ser estudado: Neemias 8,1-18.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) O exílio foi uma época de crises profundas, mas foi também um época de grandes esperanças
e de composição de muitos livros. Em momentos de grande obscuridade, nasce a luz da Palavra.
b) Esta luz da época do exílio surgiu em grande parte por causa da escola de profetas (Isaías II).
Eles viveram a crise da fé, junto com o povo, os pobres. Eram um comunidade de verdadeira
INSERÇÃO. Passando pela crise de fé, reencontram um Deus que é sempre maior do que as diversas
crises.
c) Esta descoberta de Deus foi a luz com a qual puderam reler o passado e assim dar origem ao
maravilhoso livro de ISAÍAS 40-66.
d) Neste livro encontramos os quatro cânticos do Servo, em outras palavras: A MISSÃO DO
POVO SOFREDOR. POVO POBRE, OPRIMIDO, MALTRATADO, COM UMA MISSÃO
UNIVERSAL.
1. Isaías 42,109: Deus chama o povo.
2. Isaías 49,1-6: O povo descobre sua missão.
3. Isaías 50,4-9: O povo assume e executa a missão. Sofre por causa da missão.
4. Isaías 52,13–53,12: O futuro destino da missão: paixão, morte e ressurreição.

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ENCONTRO 7 – Reorganização do povo com base na lei (Esdras e Neemias)
O Senhor os escolheu por amor.
TEMA: A crise interna ameaça a sobrevivência e exige a reorganização do povo.
PERÍODO: Desde Neemias até o começo do Novo Testamento (445-01)
ASPECTOS:
1. NEEMIAS 8,1-18: Reorganizar o povo a partir da observância da Lei.
2. NEEMIAS 5,1-13: Enfrentar os problemas econômicos, sociais e políticos através da prática
da fraternidade e da partilha.
3. RUTE 1,1-22; Opção pelos pobres e resistência do povo: alternativa ante a solução oferecida
pelas elites.
Palavra-chave: POVO ELEITO: PRIVILÉGIO OU MISSÃO?
“O Senhor os escolheu por amor e não por ser um povo mais forte que os outros”
(Deuteronômio 7,7).
1. Partir da realidade de hoje
a) A Lei deve criar uma ordem equilibrada que beneficie a todos. Você alguma vez foi
beneficiado por esta ordem? Como? Quando?
b) Quem formulou as leis atuais em nosso país?
c) Que sucede com o povo quando as leis estão acima do homem?
2. Estudo do texto escolhido: Neemias 8,1-18.
a) Ver de perto o texto:
1. Quem participa da celebração?
2. Quem a preside?
3. Quais as partes da celebração? Quantas e que celebrações contêm?
4. Que se celebra?
5. Que se pretende com a celebração?
6. Que mais lhe chamou a atenção?
b) Considerar a situação histórica:
7. Por que o povo chora ao ouvir as palavras da Lei?
8. Quem preside ao povo na leitura e renovação da Aliança?
9. Quais são as conseqüências desse novo tipo de liderança?
10. Na época de Jesus aparecem as conseqüências da orientação assumida pelos líderes do povo
desde a época da reorganização. Quais foram esses resultados? Pontos positivos e negativos.
c) Ouvir a mensagem do texto
11. Que conclusão tiramos deste trecho para a organização de nossa comunidade?
3. Estudo do período histórico
Algumas datas:
445 a.C.: Neemias inicia sua atividade.
398 a.C.: Esdras promove a reforma. Inicia-se oficialmente o judaísmo.
333 a.C.: Fim do império persa. Domínio dos gregos.
198 a.C.: Os selêucidas de Antioquia dominam a Palestina.
170 a.C.: O rei selêucida Antíoco IV promove a helenização e persegue os judeus.
167 a.C.: Revolta dos Macabeus.
63 a.C.: Invasão dos romanos.
37 a.C.: Começa o reinado de Herodes, o Grande.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se no
questionário seguinte:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?

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e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração: Salmo 44 (de súplica)
Hino dos três jovens: Daniel 3,52-90. Ação de graças. Convém criar um ambiente de silêncio e
de meditação que ajude a orar.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão cultural.
Texto a ser estudado: Eclesiástico 13,1-12.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Como abrir nossos olhos para fazer uma leitura libertadora de textos que trazem um
conteúdo opressor?
b) Nesta época, a Bíblia tem sua redação definitiva. Logo mais será traduzida para o grego, a
língua oficial. Alguns livros foram redigidos diretamente em grego.
c) O templo passa a ser o centro da vida política, econômica e religiosa da nação judaica. O
sumo sacerdote se torna a autoridade suprema do país.
d) Surgem os partidos tradicionais que terão importância na época de Jesus: os fariseus e os
saduceus.
e) Nascem as sinagogas, casas de leitura da Bíblia e de oração.
f) Existem grupos que questionam o sentido da organização implementada por Esdras e
Neemias. Estes grupos se expressam em outros livros da Bíblia, como Rute, Jô, Jonas, Isaías 55-65.

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ENCONTRO 8 – Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão cultural
A invasão esmaga e amordaça a cultura do povo.
TEMA: Estima dos valores do povo.
PERÍODO: Desde antes de Abraão até Jesus, mas, de modo especial, o período posterior ao
desterro.
ASPECTOS:
1. ECLESIÁSTICO 13,1-12: Dignidade do pobre frente ao poderoso.
2. ECLESIÁSTICO 34,18-22: Privar o pobre de um pão é cometer crime. Este texto converteu
Bartolomeu de Lãs Casas de fazendeiro em defensor acérrimo dos índios.
3. SABEDORIA 14,12-31: Ironia e sabedoria popular contra a idolatria. Esta foi inventada
pelos poderosos e é a origem de todos os males.
Palavra-chave: SABEDORIA POPULAR
“Eu te louvo, Pai, porque... revelaste estas coisas... à gente simples” (Mateus 11,25).
1. Partir da realidade de hoje
Os povos latino-americanos possuem suas culturas próprias, cheias de riquezas; porém, durante
séculos suportaram contínua invasão cultural que esmagou seus valores e neles criou forte complexo
de inferioridade e de inutilidade.
a) Que valores pensamos que tem o povo de nossa região?
b) Que valores já perdeu ou estão em vias de extinção?
c) Que atitudes tomamos frente aos defeitos do povo?
d) Que mecanismos foram usados na história e se empregam atualmente para esmagar os
valores do povo?
e) Que experiências conhecemos nas quais se potencializam e se fazem crescer os valores do
povo?
e) Sabemos perceber a presença de Deus no meio da cultura do povo? Dar exemplos concretos?
2. Estudo do texto escolhido: Eclesiástico 13,1-23: Dignidade do pobre frente ao poderoso.
a) Ver de perto o texto:
1. Resumir o que diz o texto.
2. Que comparações usa?
b) Considerar a situação histórica:
3. Trata-se de um tema que pode ser de qualquer época. Tentar descrevê-lo segundo os dados
fornecidos pelo texto.
c) Ouvir a mensagem do texto
4. Quais são, aqui, as características do “rico”?
5. Destacar as palavras que o descrevem.
6. Como se manifesta, neste texto, a sabedoria do “pobre”?
7. Recordar frases (provérbios) e atitudes populares de nossa gente, que manifestem um atitude
igual à de nosso texto bíblico.
8. Que experiências de vida brotam destes provérbios e que mensagem transmitem?
3. Estudo do período histórico
a) Embora a sabedoria popular esteja presente ao longo de todo o período bíblico, centramo-nos
na época do pós-exílio. Durante os impérios persa e grego, a dominação não se realiza tanto através da
força do exército e das deportações, como no tempo dos assírios e babilônios, mas, sobretudo, através
da constante pressão cultural. A reação dos judeus se define valorizando sua própria cultura. Ao
mesmo tempo, como conseqüência do exílio e por não constituir ainda um país independente, Israel
começa a se expandir por todo o mundo conhecido. Com isso começa, de fato, um processo de
abertura a outras culturas.
b) Diante do descaso cultural ambiental, os sapienciais revalorizam a sabedoria popular até ao
ponto de torná-la Palavra de Deus. Apreciam, de maneira especial, a fé popular, seu senso comum, sua
hospitalidade, o trabalho do campo, a família, a amizade, a alegria de uma vida austeramente próspera,
na qual nada falte, mas também nada sobre. Chegam até mesmo a olhar com simpatia alguns defeitos
populares. E, certamente, alertam contra os perigos que os cercam.

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c) Temas que podem ser aprofundados:
1. Conhecimento mais profundo dos costumes e das crenças populares das épocas persa, grega
e romana.
2. A cultura destes impérios e como eles influíram na cultura dos judeus.
3. Poderíamos também investigar as influências culturais da América do Norte na cultura do
povo latino-americano atual.
4. Onde e como se manifesta hoje a sabedoria popular?
5. Que função têm as histórias populares na vida do povo?
6. Como o povo sabe enfrentar o sofrimento?
7. Que tipo de oração e de poesia sustenta o povo em sua resistência contra os opressores?
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas
seguintes perguntas:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração: Salmo 34
Trata-se da experiência do povo pobre que, em meio a problemas e perseguições, sentiu a
bondade de Deus que o impulsiona para a frente e o faz viver uma vida digna.
Pode-se também rezar com Sabedoria 9,1-18.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo.
Texto a ser estudado: Marcos 1,14-45.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Os livros da Sabedoria tratam das “coisas do povo”. Eles são como cimento que une os
períodos bíblicos e lhes dá consistência.
b) Estes ditos sapienciais existem praticamente em toda a Bíblia, e não só nos livros chamados
“sapienciais”.
c) Podemos dividir os textos sapienciais assim:
1. A sabedoria do povo: Provérbios, Eclesiastes, Eclesiástico 1-43 e Sabedoria 1-2. Neles se
procura enfrentar a vida e lutar por ela.
2. As histórias do povo: Tobias, Judite, Éster 1-10, Eclesiástico 44-51, Sabedoria 10-19, Rute,
Juízes 3,12-30 e Gênesis 37,39-48. Nelas se narram, como recordação subversiva, a organização e as
resistências do povo que ajudam na manifestação e na transmissão da fé em Javé.
3. O problema do sofrimento do povo: Lamentações, Ezequiel 14,12- 23 e 18, Jô, Salmos 22 e
73, Sabedoria 3-5 e Isaías 53. Procura-se dar sentido ao sofrimento. É castigo? Provocação de Deus?
Mistério sem explicação? Trata-se de solidariedade na culpa? Qual é a missão do povo que sofre?
4. A oração e a poesia do povo: Salmos e Cântico dos Cânticos. Constituem a resposta do povo
à Palavra de Deus; seus lamentos, louvores e esperanças. São como um resumo de toda a Bíblia.

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ENCONTRO 9 – Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo
“O prazo está vencido. O Reino de Deus chegou.”
TEMA: O prazo está vencido. Chegou o Reino.
PERÍODO: O caminho de Jesus: 6 a.C. até 37 d. C.
ASPECTOS:
1. MARCOS 1,14-45: Vê a situação do povo e instaura o Reino de Deus.
2. MATEUS 5,1-20: Lei da Nova Aliança.
3. LUCAS 4,16-30: Missão libertadora de Jesus.
4. JOÃO 2,1-12: Jesus compartilha a alegria do povo como sinal do Reino.
Palavra-chave: REINO
“O prazo está vencido. O Reino de Deus chegou. Mudem o modo de proceder e creiam na Boa
Nova” (Marcos 1,15).
1. Partir da realidade de hoje
A situação do povo oprimido da América Latina é de anti-reino: imperam a injustiça, a
violência, o desprezo pela vida, a marginalização; as leis favorecem os poderosos. O povo geme,
anseia pelo reino de Deus. Troquemos ideias sobre esta situação de anti-reino:
a) Qual a forma mais dura de opressão à qual o povo está sujeito nesta situação?
b) Nesta situação de pecado, de que maneira o povo expressa sua rejeição?
c) Onde e como Deus ouve o gemido do povo?
d) Qual é a função de nossa comunidade frente à situação de anti-reino?

2. Estudo do texto escolhido: Marcos 1,14-45


Jesus vê a situação do povo e instaura o Reino de Deus.

a) Examinar de perto o texto:


Marcos apresenta muito claramente o objetivo da missão de Jesus.
Vamos descobri-lo juntos:
1). 1,16-20 – A quem chama e para quê?
2). 1,21-22 – Como você percebe a maneira como Jesus forma a consciência crítica do povo
neste texto?
3). 1,23-28 – Numa palavra, como se expressa a missão de Jesus neste trecho?
4). 1,29-34 – Que resultado produz a ação libertadora de Jesus?
5). 1,35 – Que nos diz o texto sobre a relação de Jesus com o Pai?
6). 1,36-39 – Que indicam os verbos, neste contexto, sobre a missão de Jesus?
7). 1,40-45 – Que faz Jesus em favor do marginalizado?

b) Sugestões para o aprofundamento do estudo do texto:


8.Que nos ensina este texto sobre o Reino de Deus?
9. Enumerar os tipos de marginalizados com os quais Jesus mais se relaciona durante a vida
E nossa comunidade? E nós, pessoalmente? Que relação temos com os marginalizados da nossa
cidade?
c) Lembrar que é necessário estudar bem o texto em si, antes de passar a descobrir o sentido do
texto para nós, hoje. É preciso anotar não só as semelhanças, mas também as diferenças com nossa
época.

3. Estudo do período histórico


a) Morte de Herodes, o Grande (4 a.C.)
b) Nascimento de Jesus (6 a.C.)
c) Morte de Augusto; ascensão de Tibério (14 d.C.)
d) Caifás, sumo sacerdote em Jerusalém (18 d.C.)
e) Pôncio Pilatos, governador da Judéia (26 d.C.)
f) Jesus inicia seu ministério (26. d.C.)

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g) Morte e ressurreição de Jesus (30 d.C.)
h) Conversão de Paulo (33 d.C.)
i) Morte de Tibério; ascensão de Calígula (37 d..)

4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por
escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
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b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da
Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,
sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em
relação à forma de transmiti-la ao povo?
5. Oração
O Magnificat, cantado por Maria, a mãe de Jesus, nos relembra tudo o que o Senhor fez por seu
povo. Ao mesmo tempo, Maria anuncia a irrupção do reino em seu filho Jesus (Lucas 1,46-55).
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: As comunidades, um novo modo de ser Povo de Deus.
Texto a ser estudado: Atos 4,1-36.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) A informação essencial sobre a Boa Nova de Jesus e a realização da esperança da salvação
se encontram em todo o Novo Testamento; porém, de maneira privilegiada, nos relatos dos quatro
evangelhos.
b) Os evangelhos são relatos ou testemunhos de uma experiência histórica e de fé das diversas
comunidades a que seus autores estavam ligados. Eles contêm, em sua origem, não só as tradições
dessas comunidades, mas também as intenções concretas que transmitem. Por isso, não são simples
biografias de Jesus.
c) É interessante saber que os evangelhos não foram os primeiros relatos escritos do Novo
Testamento. Antes de ser escrito o primeiro evangelho, já estavam escritas as cartas de Paulo.
d) A situação histórica, social, cultural e política do povo judeu entre os anos 1 a 70 d.C. tem
grande influência sobre os escritos do Novo Testamento, de modo especial sobre os evangelhos. Eles
foram escritos nestas circunstâncias e nesta época. Por isso, ajuda muito conhecer e compreender essa
história.
e) A razão acima nos fornece base para afirmar também que é necessário conhecer as situações
históricas, sociais, culturais e políticas do nosso tempo e do nosso país, para entender o Evangelho e
sua mensagem para nós hoje.

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ENCONTRO 10 – As comunidades: um novo modo de ser povo de Deus
Comunidade, um novo modo de ser Povo de Deus
TEMA: O surgimento de um modo nosso de ser Povo de Deus.
PERÍODO: Da ressurreição de Jesus ao Concílio de Jerusalém (30-49 d.C).
ASPECTOS:
1. ATOS 4,1-36:O mundo evangelizado pelos pobres; a resistência dos fracos ante o poder
estabelecido.
2. ATOS 3,1-26: A vida que surge da morte pelo poder de Jesus.
3. JOÃO 9: Obstáculos ao nascimento do novo Povo de Deus. O judaísmo contra os seguidores
de Jesus.
Palavra-chave: COMUNIDADE
“A multidão de fiéis tinha um só coração e um só espírito” (Atos 4,32).
1. Partir da realidade de hoje
Em todos os países da América Latina estão surgindo diferentes tipos de comunidades cristãs.
São constituídas pelo povo pobre. Lutam pela causa de Jesus e se perguntam como podem dar
testemunho da ressurreição. Conhecem a perseguição e enfrentam a incompreensão de muitos setores.
a) Que sabemos das comunidades cristãs em nosso país e nos outros países da América Latina?
b) Como vivem, celebram e testemunham a sua fé?
c) Quais são os sinais de morte e de vida nestas comunidades?
d) Como as comunidades influem na busca de soluções para as necessidades e os anseios do
povo?
e) Até que ponto estamos inseridos, como pessoas, na participação e na formação de
comunidades?
2.Estudo sobre o texto escolhido: Atos 4,1-36
a) Ver de perto o texto:
1. Quais são os elementos importantes deste texto? Quais são os diversos momentos e os
diversos fatos nele narrados?
2. Quais são os mecanismos de morte, por parte do poder político e religioso, que o texto
aponta?
3. Quais são os elementos importantes contidos no texto?
4. Qual a situação que o texto revela sobre a comunidade nascente?
b) Considerar a situação histórica:
5. Qual era a situação histórica daquele tempo que o texto revela?
6. Qual era a relação entre os judeus (poder social, religioso e político) e este grupo de homens
e mulheres do povo que seguiam o caminho de Jesus e começavam a criar comunidades?
7. Como este texto responde à situação do povo daquela época?
Que ideias e respostas este texto dá ao povo daquele tempo?
c) Ouvir a mensagem do texto:
8. Como o povo e a comunidade resistiram frente à situação daquela época?
9. Que sinais de morte e de vida aparecem no texto?
10. Que diz o texto para as nossas comunidades de hoje?
11. Como o povo resiste à situação?
3. Estudo do período histórico
a) Morte e ressurreição de Jesus (30 d.C.)
b) Conversão de Paulo (33 d.C.)
c) Morte de Tibério; ascensão de Calígula (37 d.C.)
d) Morte de Calígula; Ascensão de Cláudio (41 d.C.)
e) Primeira viagem missionária de Paulo (46-48 d.C.)
f) Concílio de Jerusalém (49 d.C.)
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas
seguintes perguntas:

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a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração
Nesta situação de morte e vida, a comunidade ora (Atos 4,23-31). O grito da comunidade,
nascido da realidade, clama pela vida. Fortalecida pelo Espírito Santo, a comunidade continua
anunciando a Palavra.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: A expansão do Evangelho pelo mundo.
Texto a ser estudado: Atos 15,1-29.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) As comunidades surgiam na medida em que os cristãos se reuniam em suas casas para orar e
partilhar. Cada casa era chamada de Igreja (Romanos 16,5).
b) Ao se reunirem em suas casas, os cristãos enfrentavam a religião oficial dos judeus, porque
não ofereciam mais sacrifícios no templo, centro de poder político e religioso.
c) Então os judeus começaram a perseguir as comunidades. Isto teve como conseqüência a
dispersão dos seguidores de Jesus e a evangelização dos pagãos (João 9).

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ENCONTRO 11 – Expansão do Evangelho pelo mundo
“...O Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra”. (Atos 1,8)
TEMA: Os conflitos provocados pelo evangelho frente ao mundo pagão.
PERÍODO: Desde o Concílio de Jerusalém até a morte de Pedro e Paulo (49-67 d.C.).
ASPECTOS:
1. ATOS 15,1-29: Conflito entre as comunidades que seguem e impõem a Lei de Moisés e as
comunidades surgidas no mundo helenístico.
2. ATOS 8,26-40: O Reino de Deus aberto aos mais marginalizados.
3. ATOS 17,16-34: Dificuldades encontradas pelas primeiras comunidades cristãs na
evangelização dos gentios. Duas visões da realidade das comunidades e do processo evangelizador:
uma, a ação do Espírito na cultura e na sociedade; a outra, o poder religioso da Lei Mosaica.
Palavra-chave: NOVO POVO
“Ninguém coloca vinho novo em odres velhos; o vinho arrebentará os odres e tanto o vinho
quanto os odres serão perdidos. Para vinho novo, odres novos!” (Marcos 2,22).
1. Partir da realidade de hoje
O povo sofrido da América Latina procura unir-se na luta pela vida, através de organizações
populares. Entretanto, existem profundas divisões em vários níveis: racial (negro, branco, índio);
sexual (homem, mulher); político (direita, esquerda); religioso (igrejas, seitas, movimentos) etc. Estas
divisões aumentam em razão de forças externas e países poderosos que dividem povos latino-
americanos entre si.
a) O que é que mais divide o povo e a Igreja?
b) Quais são os objetivos que unem o povo na luta?
c) De que maneira percebemos a presença de Deus nas tentativas de união e organização
popular?
2. Estudo do texto escolhido: Atos 15,1-29
Situação conflitiva da Igreja Primitiva que impele para uma nova tarefa evangelizadora.
a) Ver de perto o texto:
1. Que elementos você acha importantes neste texto?
2. Que explicam Paulo e Barnabé? Qual é a resposta de Pedro, de Tiago, de toda a
comunidade?
b) Considerar a situação histórica:
3. Quais são os principais conflitos que as comunidades primitivas viviam naquele momento?
4. Quais são as causas das diversas atitudes existentes?
5. Como as comunidades enfrentaram este desafio?
c) Ouvir a mensagem do texto:
6. A sua comunidade viveu ou vive situação semelhante?
7. Como este texto ilumina e questiona a nossa ação pastoral de hoje?
3. Estudo do período histórico
Cláudio (49-54) e Nero (54-68) são os imperadores de Roma. Vive-se numa sociedade na qual
a religião e a política se acham intimamente unidas. Muitos povos sofrem e passam fome. O Concílio
de Jerusalém (49) decreta que os convertidos do paganismo estão isentos da Lei. Paulo funda
comunidades na Ásia e na Europa (Antioquia, Chipre, Filipos, Tessalônica, Éfeso, Corinto...). Paulo
lutará, através de suas cartas, para conseguir uma sociedade igualitária composta de cristãos nascidos
do judaísmo e do paganismo. As comunidades paulinas acorrerão para ajudar a comunidade de
Jerusalém que passa fome. Por causa das tensões vividas nesta época no seio do judaísmo, Paulo é
preso e finalmente morto em Roma, no ano 67.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas
seguintes perguntas:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?

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c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?
e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração
Do seio de nossa situação de divisão e de conflitos sentimo-nos interpelados a “entregar nossas
vidas à causa de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos 15,26). Contamos com a presença de Jesus em
nosso caminhar; ele fortalece nossa debilidade e nos enche de esperança. Romanos 8,31-39: ler este
trecho e comentá-lo em comum.
6. Preparação do próximo encontro
Definir o tema: Perseguição e resistência alimentada pela esperança, no final do século I.
Texto a ser estudado: Apocalipse 12,1-17.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Durante este período, depois da morte de Jesus e da destruição de Jerusalém (70 d.C.),
aparecem muitas tensões sociais e conflitos entre judeus e cristãos.
b) Estes conflitos sucedem na Palestina e também nas vizinhanças, na Ásia Menor, para onde
muitos judeus emigraram.
c) Estes conflitos vão tomando contornos mais nítidos à proporção que Paulo funda
comunidades cristãs fora da Palestina; delimitar-se-á, então, uma linha divisória clara entre a Sinagoga
e a Igreja nascente, entre judaísmo e cristianismo.
d) Por esta época começaram a ser escritos os livros do Novo Testamento.
1. Todas as cartas de Paulo.
2. Os evangelhos. O primeiro a aparecer talvez tenha sido o de Marcos, e o último, o de João.
3. Os demais escritos ou livros do Novo Testamento.
e) As Cartas de Paulo nos transmitem não só a doutrina, mas também o testemunho de vida, os
conflitos e os problemas das primeiras comunidades cristãs fora da Palestina. O livro dos Atos dos
Apóstolos, em sua primeira parte, nos apresenta o testemunho de vida das primeiras comunidades
cristãs na Palestina. É a pregação e a atividade missionária do apóstolo Paulo, até sua viagem a Roma!

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ENCONTRO 12 – Perseguição e resistência no final do século I
“Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem
grito, nem dor. (...) Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,4.5).
TEMA: Esperança de um povo que sofre.
PERÍODO: 67-100 d.C.
ASPECTOS:
1. APOCALIPSE 12,1-17: Deus presente na história, oculto nos acontecimentos.
2. APOCALIPSE 21,1-8: Deus realiza a esperança com as pessoas.
3. TIAGO 5,1-6: Juízo de Deus sobre os ricos.
Palavra-chave: TRIUNFO SEGURO
“Estive morto e de novo sou aquele que vive pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 1,18).
1. Partir da realidade de hoje
O povo que sofre vai descobrindo a presença do juízo de Deus nos acontecimentos de sua
história.
a) Que tipos de perseguição o imperialismo moderno usa contra o povo nos dias de hoje?
b) Como o povo resista a ameaças?
c) Que é que mantém viva a esperança de nosso povo, de nossa comunidade, e a nossa?
d) Conhece alguém que, na perseguição e na morte, alcançou a vitória?
2. Estudo do texto escolhido: Apocalipse 12,1-17: Descreve como Deus toma partido em favor
da vida ameaçada.
O Apocalipse é o livro da esperança de um povo que sofre, no final do primeiro século.
a) Ver de perto o texto:
1. Este livro foi escrito em tempo de perseguição, quando não se podia falar clara e
abertamente. Por isso, ele contém tantos símbolos. Convém, pois, ler o texto atentamente e procurar
captar os símbolos que nele aparecem.
2. Quem é simbolizado pela mulher grávida que grita quando sente as dores do parto?
3. Quais são as situações que o texto nos descreve, e o que significam?
b) Considerar a situação histórica:
4. Qual é a situação do povo que aparece no texto?
5. Como o texto mostra que as perseguições são sinais de vitória?
6. Que descrições de Jesus aparecem ao longo do Apocalipse, neste trecho concreto, e com que
características?
c) Ouvir a mensagem do texto:
7. Que diz o texto ao povo daquela época?
8. Que diz este texto a nosso povo de hoje, quando vivemos também momentos de violência e
de perseguição?
9. A fé em Jesus Cristo e a doação da própria vida são mais fortes que as perseguições e as
ameaças que nos cercam?
10. Que significam, à luz deste texto, as palavras de Mons. Romero: “Se me matarem, eu
ressuscitarei no coração de meu povo”?
3. Estudo do período histórico
O povo das comunidades sofre as consequências da época de Nero e vive as perseguições de
Domiciano, imperador que exige ser adorado como um deus. Neste período foram escritos os
evangelhos.
4. Partilha
Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por
escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas:
a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?
b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da Bíblia?
c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem, sua formação?
d) Como este texto ajuda a ver a realidade?

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e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-
la ao povo?
5. Oração: Apocalipse 5,9-14
Unidos em profunda esperança, elevemos uma oração ao Cordeiro que foi imolado, mas que
“está em pé”.
6. Preparação do próximo encontro
Ao final destes encontros, sugere-se convidar todos os participantes para uma reunião de
avaliação do caminho percorrido.
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO
a) Os apocalipses estiveram na moda durante os dois últimos séculos do antigo Testamento e os
dois primeiros do Novo Testamento. Entre os apocalipses bíblicos, o principal texto do Antigo
Testamento é o livro de Daniel. Foi escrito para levantar o ânimo dos crentes em Javé, durante a
perseguição de Antíoco Epifânio.
b) A apocalíptica judaica é uma síntese nova entre profecia e sabedoria.
c) No “Apocalipse de Jesus Cristo”, Jesus ressuscitado, centro de tudo, Senhor da História e do
Universo, é apresentado numa seqüência de quadros fortes e coloridos, porém sempre intimamente
carinhoso para com o povos das comunidades. Os crentes vêem nele sua vitória garantida e recebem
assim a força necessária para sustentar a perseguição. No final, Jesus triunfará, de maneira definitiva,
sobre todos os seus inimigos: o império opressor, os falsos profetas, Satanás e a própria morte. E os
vencedores triunfarão para sempre com Ele.

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VIII. RESUMO: a mística que deve animar a Leitura Orante da Bíblia
1) Ao iniciar a Leitura Orante da Bíblia, você não vai estudar; não vai ler a Bíblia para
aumentar o seu conhecimento nem para preparar algum trabalho apostólico; não vai ler para ter
experiências extraordinárias. Mas vai ler a Palavra de Deus para escutar o que Deus tem a lhe dizer,
para conhecer a sua vontade e, assim, poder viver melhor o Evangelho de Jesus Cristo. Em você deve
estar a pobreza; deve estar também a disposição que o velho Eli recomendou a Samuel: “Fala, Senhor,
que teu servo escuta!” (1Sm 3,10).
2) Poder escutar a Deus não depende de você nem do esforço que fará, mas só e unicamente de
Deus, da sua decisão gratuita e soberana de entrar em contato com você e de fazer com que você possa
ouvir a sua voz. Para isto é necessário que você se prepare, pedindo que Ele mande o seu Espírito. Pois
sem a ajuda do Espírito de Deus não é possível descobrir o sentido que a Palavra de Deus tem para nós
hoje (cf. Jo 14,26; 16,13; Lc 11,13).
3) É importante criar um ambiente adequado que favoreça o recolhimento e a “escuta” atenta
da Palavra de Deus. Para isto você deve colocar-se na presença de Deus e permanecer atento a ela
durante todo o tempo da Leitura Orante. E lembre-se: uma boa e digna posição do corpo favorece o
recolhimento da mente.
4) Abrindo a Bíblia, você deve estar bem consciente de que está abrindo um livro que não é
seu, mas da comunidade. Fazendo a sua Leitura Orante, você está entrando no grande rio da tradição
da Igreja que atravessa os séculos. A Leitura Orante é o barquinho que nos carrega pelas curvas deste
rio até o mar. O clarão luminoso que nos vem do mar já clareou a “noite escura” de muita gente.
Mesmo fazendo sozinho a sua leitura orante da Bíblia, você não está só, mas estará unido aos irmãos e
às irmãs que, antes de você, procuraram “meditar dia e noite na lei do Senhor” (Sl 1,2).
5) Uma leitura atenta e proveitosa da Bíblia tem três passos. Ou seja, do
começo ao fim, ela deve estar marcada por três atitudes:
1º Passo ou atitude: antes de tudo você deve ter sempre a preocupação de investigar: “O que o
texto diz em si?” Isto exige que faça silêncio. Dentro de você tudo deve silenciar, para que nada o
impeça de escutar o que o texto tem a dizer, e para que não aconteça que você leve o texto a dizer só
aquilo que você gosta de escutar.
2º Passo ou atitude: você também deve ter sempre a preocupação de se perguntar: “O que o
texto diz para mim, para nós?” Neste segundo passo, você entra em diálogo com o texto, para que o
sentido se atualize e penetre a sua vida. Como Maria, rumine o que escutou (Lc 2,19.51), para que,
assim, a Palavra de Deus habite abundantemente na sua boca e no seu coração.
3º Passo ou atitude: além disso, você deve estar sempre preocupado em descobrir: “O que o
texto me faz dizer a Deus?” É a hora da prece, o momento de vigiar em orações. Até agora, Deus falou
para você; chegou a hora de você responder a Ele.
6) O resultado, o 4º passo, o ponto de chegada da Leitura Orante é a contemplação.
Contemplação é:
a) ter nos olhos algo da “sabedoria que leva à salvação” (2Tm 3,15);
b) é começar a ver o mundo e a vida com os olhos dos pobres, com os olhos de Deus;
c) é você assumir sua própria pobreza e eliminar do seu modo de pensar aquilo que vem dos
poderosos;
d) é tomar consciência de que muita coisa, da qual você pensava que fosse fidelidade a Deus e
ao Evangelho, na realidade nada mais era do que fidelidade a você mesmo e aos seus próprios
interesses e idéias;
e) é saborear, desde já, algo do amor de Deus que supera todas as coisas;
f) é mostrar pela sua vida que o amor de Deus se revela no amor ao próximo;
g) é dizer sempre: “faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Assim, tudo o que deve
ser feito, será feito de acordo com a Palavra do Senhor.
7) Para que a sua Leitura Orante não fique entregue só às conclusões dos seus próprios
sentimentos, pensamentos ou caprichos, mas tenha firmeza maior e seja realmente fiel, é importante
você levar em conta três exigências fundamentais:

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1ª exigência: confrontar o resultado da sua leitura com a comunidade a que você pertence, com
a fé da Igreja viva. Do contrário, poderia acontecer que o seu esforço não o leve a canto nenhum (Gl
2,2).
2ª exigência: confrontar aquilo que você lê na Bíblia com a realidade que hoje vivemos.
Quando a Leitura Orante não alcança o seu objetivo na nossa vida, a causa nem sempre é falta de
oração, falta de atenção à fé da Igreja, ou falta de estudo crítico do texto. Muitas vezes, é simplesmente
falta de atenção à realidade nua e crua que hoje vivemos, aqui na América Latina. Quem vive na
superficialidade, sem aprofundar sua vida, não pode atingir a fonte de onde nasceram os Salmos, dizia
Cassiano.
3ª exigência: confrontar as conclusões da sua leitura com os resultados da exegese bíblica que
investiga o sentido da Letra. A Leitura Orante – é verdade – não pode ficar parada na letra; ela deve
procurar o sentido do Espírito (2Cor 3,6). Mas querer estabelecer o sentido do Espírito sem
fundamentá-lo na letra é o mesmo que construir um castelo no ar (Santo Agostinho). É cair no engano
do fundamentalismo. Hoje em dia, em que tantas idéias se propagam, é muito importante ter bom
senso. O bom senso se alimenta do estudo crítico da letra.
8) O apóstolo Paulo dá vários conselhos de como ler a Bíblia. Ele mesmo foi um bom
intérprete. Eis algumas das normas e atitudes recomendadas e observadas por ele. Quando você for ler
a Bíblia:
a) considere-se destinatário do que está escrito, pois tudo foi escrito para a nossa instrução
(1Cor 10,11; Rm 15,4); a Bíblia é o nosso livro;
b) procure ter nos olhos a fé em Jesus Cristo, pois é só pela fé em Jesus que o véu cai e que a
Escritura revela o seu sentido e nos comunica a sabedoria que leva à salvação (2Cor 3,16; 2Tm 3,15);
c) lembre-se: Paulo falava de “Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2,2), “escândalo para uns e
loucura para outros”, foi este Jesus que lhe abriu os olhos para perceber como, no meio dos pobres da
periferia de Corinto, a loucura e o escândalo da cruz estavam confundindo os sábios, os fortes e os que
pensavam ser alguma coisa neste mundo (1Cor 1,21-31);
d) misture o eu e o nós; nunca só o eu, e nunca só o nós! O apóstolo também misturava, pois
recebeu sua missão da comunidade de Antioquia e falava a partir dela (At 10,1-13);
e) tenha presente os problemas da sua vida pessoal, da sua família, das comunidades, da Igreja,
do povo a que você pertence e serve; foi assim que Paulo relia e explicava a Bíblia: a partir dos
problemas das comunidades por ele fundadas (1Cor 10,1-13).
9) Ao ler a Bíblia tenha bem presente que o texto da Bíblia não é só uma janela por onde você
olha para saber o que aconteceu com os outros no passado; é também um espelho, um “símbolo” (Hb
11,19), onde você olha para saber o que está acontecendo hoje com você (1Cor 10,6-10). A Leitura
Orante diária é como a chuva mansa que, aos poucos, vai amolecendo e fecundando o terreno (Is
55,10-11). Entrando em diálogo com Deus e meditando a sua lei, você cresce como a árvore plantada à
beira dos córregos (Sl 1,3).Você não vê o crescimento, mas perceberá o resultado no encontro
renovado consigo, com Deus e com os outros. Diz o canto: “É como a chuva que lava, é como o fogo
que arrasa, Tua Palavra é assim, não passa por mim, sem deixar um sinal”.
10) Um último ponto a ser levado em conta. Quando você faz Leitura Orante, o objetivo último
não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida. Não é conhecer o conteúdo do Livro Sagrado,
mas, sim, ajudado pela Palavra escrita, descobrir a Palavra viva que Deus fala hoje em sua vida, na
nossa vida, na vida do povo, na realidade do mundo em que vivemos (Sl 95,7); é crescer na fé e, como
o profeta Elias, experimentar, cada vez mais, que “vivo é o Senhor, em cuja presença estou!” (1Rs
17,1; 18,15).
“O Senhor Javé abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde, não recuei. Ofereci o meu dorso aos
que me batiam. O Senhor Javé virá em meu socorro. Eis por que não me sinto humilhado. Perto de
mim está aquele que defende minha causa” (Is 50,4-8).
Jesus apresentou-se no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês!” Em seguida, abriu-lhes a
mente para que entendessem a Escritura (Lc 24,36.45). E disse ainda: “O Espírito Santo que o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse. Ele vos conduzirá à
verdade plena (Jo 14,26; 16,13).

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“Quando terminaram a oração, estremeceu o lugar em que estavam reunidos. Todos, então,
ficaram cheios do Espírito Santo e, com coragem, anunciavam a Palavra de Deus” (At 4,31).

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IX. A VISÃO GLOBAL DA BÍBLIA
Reler o passado à luz do presente
I. O significado de uma boa visão global da Bíblia: O Concílio Vaticano II pede que se dê
atenção não só ao conteúdo, mas também à unidade de toda a Escritura (DV 12). Ou seja, não basta
conhecer as coisas que estão na Bíblia; é preciso saber situá-las dentro de uma visão global que as
interprete e explique. Uma visão global funciona como chave de leitura. É uma luz que nos clareia a
história do povo de Deus. Ajuda a reler os textos antigos com olhos novos e a formar-nos, assim, uma
idéia nova e atualizada do Projeto de Deus, da Vontade de Deus.
A visão global que se tem da Bíblia muda (e deve mudar) de acordo com os desafios e
problemas que o povo enfrenta em cada época da sua história. Não se trata, porém, de uma coisa
arbitrária que alguém inventa para propagar idéias novas sem consistência. Uma boa visão global deve
estar fundamentada nos fatos da história, narrados pela Bíblia. Ela nasce do estudo da letra, do texto,
dos mesmos textos de sempre. Mas não só! Nasce também do Espírito, de uma experiência de Deus,
do mesmo Deus de sempre, que, no passado, conduziu o povo, inspirou os textos e, até agora, continua
vivo e presente no meio do povo. Com essa experiência de Deus nos olhos, o povo lê ou relê a Bíblia
para encontrar nela a luz e a força que o ajudem a superar os desafios e problemas da caminhada.
A própria Bíblia se preocupa em oferecer aos seus leitores a possibilidade de uma boa e bem
atualizada visão global da história, de acordo com as exigências da situação em que eles se encontram.
Por exemplo, vários salmos oferecem um resumo do passado, mas cada um o faz com um objetivo
diferente: salmo 105(104), como motivo de louvor; salmo 106(105), como motivo de revisão; salmo
107(106), como motivo de reanimação etc. Nas várias épocas da sua história, o povo hebreu chegou a
elaborar uma síntese ou visão global da história que respondesse aos problemas da época: javista,
eloísta, deuteronomista, sacerdotal e outras. Em toda parte da Bíblia, aparecem pequenos resumos do
passado na boca dos grandes personagens: Josué (Js 24,2-13); Moisés (Dt 1-11; 32,1-43); Aquior, o
amonita (Jt 5,5-21); Estêvão (At 7,2-53); Paulo (At 13,15-25) etc. Com essas e outras sínteses, a Bíblia
convida o leitor a não se fixar numa mesma idéia do passado, ajuda-o a reler o passado com olhos
renovados e a se formar, assim, uma nova visão global.
Na própria Bíblia, reencontramos o mesmo esquema básico de leitura já encontrado na Leitura
Orante e na prática das Comunidades. Leitura que parte:
1) da realidade que se vive hoje;
2) da fé da comunidade a que se pertence;
3) de um respeito profundo pelo texto que se lê. Leitura que tem o mesmo objetivo: com a
ajuda da Bíblia, descobrir a Palavra de Deus que está na vida.

II. A importância de se ter uma boa visão global da Bíblia.


a) É um meio didático eficaz para se conhecer e memorizar o passado; ajuda o povo a não
perder a memória nem a própria identidade.
b) Ajuda a perceber que a unidade da Bíblia vem do rosto de Deus, isto é, vem da percepção da
Vontade de Deus para nós hoje, do seu Projeto. Os detalhes desta Vontade Divina estão espalhados por
todas as páginas da Bíblia.
c) Ajuda a perceber que a Bíblia foi escrita não só para ensinar o passado, mas também e
sobretudo para apresentá-lo como espelho e símbolo do presente; deste modo, a visão global ajuda o
povo a perceber melhor o sentido da sua caminhada.
d) Ajuda a situar as várias partes da Bíblia dentro do conjunto maior; deste modo, ajuda a
relativizar as possíveis contradições entre os vários livros.
e) Ajuda a perceber que a Bíblia tem finalidade didática e que, por isso mesmo, tem as suas
limitações. Nem sempre ela dá atenção suficiente aos detalhes dos fatos e dos conflitos que ele
descreve.
f) Ajuda a situar o texto dentro do seu contexto mais amplo: literário, histórico e teológico.
Amplia, assim, o sentido e impede que este seja manipulado por uma atitude fundamentalista.

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g) Ajuda e favorece o objetivo da leitura da Bíblia: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7).
Uma boa visão global da Bíblia é, ao mesmo tempo, semente e fruto de uma nova experiência do Deus
Libertador.

III. Um esquema da história que pode ajudar a formar uma visão global da Bíblia.
Apresentamos aqui um esquema didático para ajudar as pessoas a formarem uma boa visão global da
Bíblia. O esquema serve como exemplo. Resumimos a história em quatro grandes unidades, cada uma
com quatro subdivisões. Ao todo são dezesseis etapas. Outros adotam outra divisão. O importante é
que o esquema tenha fundamento na história e ajude o leitor a ver na história um espelho do que
acontece hoje.

Primeira unidade: A origem do Povo de Deus e a sua organização.


Desde Abraão e Sara até Davi (1800-1000).
— 1ª Etapa: 1600-1200 – Desde a entrada no Egito até a conquista da terra. Êxodo: libertação
da opressão, aliança, tempo do deserto.
— 2ª Etapa: 1200-1050 – Desde a entrada na terra até Samuel, o último Juiz. Juízes:
organização das tribos, distribuição da terra.
— 3ª Etapa: 1800-1050 – Desde Abraão e Sara até a época dos Juízes. Patriarcas: lembrar e
reler os modelos de vida do povo.
— 4ª Etapa: 1050-1000 – Desde Samuel até o fim do reinado de Davi, em Hebron. Crise do
sistema tribal, mudança para a monarquia.

Comentário:
a) Alcance. A experiência que as tribos revoltosas do Egito e da Palestina tiveram da presença
libertadora de Deus na sua luta contra o poder opressor do faraó e dos reis de Canaã fez nascer o Povo
de Deus. Essa experiência inicial tornou-se nele a fonte permanente e inesgotável da sua identidade.
Este período inicial será objeto de interpretações e releituras ao longo de toda a história, tanto do
Antigo como do Novo Testamento, pois nele estão todos os elementos básicos da missão e da
organização do povo de Deus. A memória perigosa desse período inicial acordará nos profetas e
servirá a eles como norma e critério na sua luta contra os abusos dos reis. Não se distanciar desta
origem permanente do povo de Deus e mantê-la bem viva na memória é o objetivo da Leitura Orante
da Bíblia.
b) Perguntas para hoje: Qual a experiência inicial que deu origem à nossa Comunidade, ao
nosso povo? Como descobrimos Deus aí dentro? Como esta experiência é fonte permanente de onde
brota (ou deveria brotar) a nossa identidade e nossa consciência como povo de Deus?

Segunda unidade: Reis e Profetas: conflito entre poder e carisma.


Desde Davi até a véspera do exílio (1000-609).
— 5ª Etapa: 1000-885 – Desde Davi, como rei de Judá e Israel, até o golpe de Omri. Davi e
Salomão: volta da opressão, divisão do reino.
— 6ª Etapa: 885-722 – Desde Omri, rei de Israel, até a destruição de Samaria. Elias enfrenta o
sistema do rei: evolução do profetismo.
— 7ª Etapa: 740-640 – Desde a vocação de Isaías até a posse do rei Josias. A reforma fracassa
por causa da corrupção dos reis.
— 8ª Etapa: 640-609 – Desde a posse de Josias até a sua morte trágica. A reforma
deuteronomista: leitura profética da história.

Comentário:
a) Alcance. A monarquia veio como fruto das circunstâncias econômicas, sociais, políticas e
religiosas. Ambivalente em si, ela possuía aspectos positivos e negativos. Representava, ao mesmo
tempo, um avanço e um retrocesso. Prevaleceu o retrocesso, venceu o negativo. O positivo ficou só na
lembrança, como fonte de esperança: no futuro, o Rei ideal, o Messias, deve vir para realizar o Reino

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de Deus. A experiência histórica da monarquia foi desastrosa para o povo. Ela fez voltar a escravidão e
a opressão, piores do que no Egito. Os (verdadeiros) profetas reagem e, em nome da Aliança e do
passado do povo, fazem oposição. Eles relêem a origem do povo para clarear e criticar o presente. São
quatro séculos de conflito entre a tradição do Êxodo, da Aliança, do carisma, da liberdade, e a tentativa
do poder de institucionalizar a tradição e de canalizá-la em seu favor. É o conflito entre poder e
carisma.
b) Perguntas para hoje: Até onde vai e como se manifesta hoje a luta entre o poder e o carisma,
tanto na sociedade civil como na igreja? Como se manifesta hoje o profetismo? Quais as diferenças e
as semelhanças entre ontem e hoje?

Terceira unidade: destruição, cativeiro, revisão, reconstrução.


Desde a véspera do exílio até o limiar do Novo Testamento (609-001).
— 9ª Etapa: 609-587 – Desde a morte de Josias até a destruição de Jerusalém. Luta trágica de
Jeremias: a decadência leva à destruição.
— 10ª Etapa: 598- 445 – Desde a primeira deportação até a chegada de Neemias. Cativeiro,
revisão, nova libertação, volta, abertura.
— 11ª Etapa: 445-167 – Desde Neemias e Esdras até a revolta dos Macabeus. Reconstrução do
povo em torno da lei do templo.
— 12ª Etapa: 167-001 – Desde os Macabeus até o limiar do Novo Testamento. Ameaça
helenista, revolta popular, fracasso da revolução.

Comentário:
a) Alcance: A monarquia fracassou e jogou o povo na maior crise da sua história. Perderam
todos os apoios tradicionais da sua fé e tiveram de fazer uma revisão radical de tudo. Vivem agora uma
situação nova. Já não são uma nação independente, mas formam um grupo religioso, sem
independência política, sem importância, perdido num imenso império multiracial assírio-babilônico-
persa-grego-romano.. Internamente, estão irremediavelmente divididos. Duas tendências opostas entre
si se afirmam e, por vezes, tentam conviver. São duas maneiras diferentes de se reler o passado. De um
lado, encaram a eleição divina como um serviço e chegam a uma abertura quase universal: ser “Luz
dos Povos”, amostra do que Deus quer para todos. De outro lado, a eleição é vista como um privilégio,
e chegou-se a um fechamento quase total: nacionalização de Deus e da fé. Estas duas tendências
marcam o conflito que levou ao levante dos Macabeus e são também a causa do seu fracasso. Vão
marcar o conflito entre Jesus e os fariseus.
b) Perguntas para hoje: Como nos aproveitamos dos fracassos para fazer revisão? Quais as
tendências que marcam a nossa luta contra a opressão: fechamento ou abertura? Qual a amostra do
futuro que está aparecendo nas coisas que realizamos? Existe alguma ambivalência nesta amostra?
Qual?

Quarta unidade: Novo Testamento: releitura da história à luz da ressurreição.


Desde a vinda de Jesus até o fim do século I (001-100).
— 13ª Etapa: 001-033 – Desde o nascimento de Jesus até o dia de Pentecostes. Jesus refaz a
história e realiza a esperança do povo.
— 14ª Etapa: 033-049 – Desde Pentecostes até o Concílio de Jerusalém. As Comunidades: um
novo modo de ser Povo de Deus.
— 15ª Etapa: 049-070 – Desde o Concílio até a destruição de Jerusalém. Expansão da Boa
Nova da ressurreição pelo mundo.
— 16ª Etapa: 070-100 – Desde a destruição de Jerusalém até o fim do século I. Tensões,
ameaças, perseguições, esperança: apocalipse.

Comentário:
a) Alcance. Como os profetas antigos, Jesus toma posição dentro do contexto sócio-político de
seu tempo e retoma a experiência inicial do povo de Deus. Em Jesus, Deus se faz presente e o povo

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experimenta, novamente, a sua presença libertadora. Jesus, o Filho de Deus, refaz a história e realiza a
esperança do povo. Ele ficou do lado dos marginalizados, revelando assim as preferências do Pai.
“Sim, Pai, assim foi do teu agrado!” Jesus revela o rosto do Pai e o faz brilhar sobre a situação do povo
e sobre o relacionamento entre as pessoas. Não viveu mais que trinta e três anos! Não pregou mais que
três! Incomodou os poderosos e foi eliminado. Mas Deus o ressuscitou e assim desaprovou os que o
condenaram. Pela ressurreição, Deus aprovou a pessoa e a pregação de Jesus. Seguindo pelo caminho
trilhado por Jesus, caminha-se para a vida e se é capaz de enfrentar e vencer a morte! Esta foi a Boa
Notícia que os cristãos anunciaram pelo mundo afora. Em torno dela nasceram as Comunidades, que
eram a nova forma de ser povo de Deus. O Novo Testamento é o resultado da Leitura Orante que os
primeiros cristãos fizeram da Bíblia (Antigo Testamento), à luz da sua fé em Jesus Cristo.
b) Perguntas para hoje: De que maneira nossas comunidades, nossas famílias, são revelação da
Boa Nova de Jesus? De que maneira elas realizam a esperança do povo? Como fazemos para ler os
fatos e descobrir neles a presença libertadora de Deus? Como fazemos para viver e revelar a presença
viva de Jesus no meio de nós? Como realizamos – pessoalmente e comunitariamente – a afirmação de
Paulo: “Vivo, mas não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”?

Este é o esquema da história da Bíblia: quatro grandes unidades, ao todo 16 etapas. Cada etapa
reflete situações humanas que acontecem até hoje. Este é o desafio que a visão global da Bíblia nos
coloca: fazer hoje o mesmo que eles fizeram naquele tempo, isto é, reler a nossa história, tanto pessoal
como coletiva, e, com ajuda da Bíblia, descobrir nela a presença libertadora de Deus, empurrando-nos
para a vida plena em Jesus Cristo! E não só descobrir a presença libertadora de Deus em Cristo, mas
também assumi-la e celebrá-la.
O caminho da oração
Jesus foi um homem de muita oração. Os primeiros cristãos conservaram uma imagem de Jesus
orante. De fato, a respiração de Jesus era fazer a vontade do Pai (cf. Jo 5,19). Sua oração era constante:
“Eu, a cada momento, faço o que o Pai me mostra para fazer!” (Jo 5,19.30). Em muitas circunstâncias
e sobretudo nos momentos decisivos, ou difíceis, Jesus entra em oração. Ele mistura sua vida com os
Salmos, que, como todo judeu piedoso, conhecia de memória. (cf Mc 14,34 e Sl 42,5.6; Mc 15,34 e Sl
22,2; Lc 2,46-50; 3,21, 4,1-2; 10,21; Mt 26,38; Mc 7,34; 10,16; Jo 17,1- 26).
“A escola de Jesus era, antes de tudo, a vida em casa, na família, na comunidade. Foi lá que
aprendeu a conviver, a rezar e a trabalhar. O povo rezava muito naquele tempo. Todos os dias, de
manhã, à tarde e à noite. Até hoje se conservam aquelas orações. Desde criança, eles aprendiam os
Salmos de memória. A mãe ou a avó os ensinavam (cf. 2Tm 1,5; 3,15)”.

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X. HISTÓRIA DO POVO DE DEUS – LINHA DO TEMPO
ANOS 1800 a 1200 a.C.
Império: Babilônia; Hicsos; Egito; Hititas.
Época: Origem de Israel
Personagens não-bíblicos: Ramsés II (1290-1224)
Personagens bíblicos: Abrão – Sara, Ló, Isaque – Rebeca, Jacó –
Raquel, Moisés, Arão, Mirian.
Realidades, problemas e situação do povo:
Cananeus. Vivem em planícies. Dependentes do Egito. Carros de guerra. Exploram
agricultores, tributos, trabalhos forçados.
Pastores. Vivem em estepes. Seminômades livres. Descendentes de Patriarcas. Longe das
cidades. Sem impostos. Crêem no Deus de seus pais, que lhes promete terra e família.
Agricultores sublevados. Vivem em montes. São “hapirus” – pessoas que escaparam do
sistema de exploração cananeu. Possuem ferramentas de ferro. Usam cisternas.
Escravos fugitivos. Vivem em estepes e montes. Vêm do Egito. Unem- se a pastores e
agricultores. Trazem a fé no Deus libertador. Influem decisivamente sobre os pastores e “hapirus”.
Escritos da época: Tradições orais. (Salmo 104).
Escritos sobre a época: [Cartas de Tel-el-Amarna]. Ex 1-18. Nm 9-14;
20-25; Eclo 45. [Estela de Mernefta].

ANOS 1200 a 1000 a.C.


Império: Povos do mar
Época: Ocupação da terra. Tribalismo igualitário. Juízes.
Personagens não-bíblicos: Reis cananeus.
Personagens bíblicos: Josué; Débora – Baraque; Gideão; Jefté; Sansão.
Realidades, problemas e situação do povo:
Vivem em planícies. Cidades-estado independentes. Reis monopolizadores. Leis que os
defendem. Exército permanente. Deuses justificadores da exploração: Baal, Aserá.
Pastores e agricultores. Vivem em montes. Organizados por clãs. Poder descentralizado. Sem
reis. Autonomia produtiva. Sem impostos. Propriedade coletiva. Leis comunitárias. Deus libertador:
Javé.
Vão descendo às planícies. Crescente organização por tribos. Distribuição comunitária de
terras. Ocasionais guerras de defesa. Assembleia de Siquém = aceitação de Javé por todos.
Escritos da época: Primeiros fragmentos escritos. Cântico de Débora:
Jz 5; Mandamentos: Ex 20,1-21; Código da Aliança: Ex 20,22–23,9; Salmo
19,2-7; Salmo 29; Salmo 68; Salmo 82; Salmo 136.
Escritos sobre a época: Js 1-12; 23-24; Dt 31-34; Eclo 46; Ex 19-24;
32-34; Nm 31-36; Js 13-19; Jz 1-18.

ANOS 1000 a 931 a.C.


Império:Fenícios
Época: Monarquia unida.
Personagens não-bíblicos:Filisteus.
Personagens bíblicos: Samuel; Saul; Davi; Salomão.
Realidades, problemas e situação do povo:
Acumulação de poder e de terras. Tributos. Trabalhos forçados. Resistência dos agricultores.
Guerras de conquista. Unificação territorial. Cultos estrangeiros.
Escritos da época:Javista (J); História da sucessão dinástica (2 Sm 9-20; 1Rs 1-2); Primeiros
Provérbios; Salmos 2, 15, 24, 51, 110, 121–134.
Escritos sobre a época: Jz 19-21; 1-2Sm; 1Rs 1-11; 1Cr 11-21; 2Cr 1-9; Eclo 47.

ANOS 931 a 722 a.C.

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Época: Monarquia unida. Israel e Judá.
Personagens não-bíblicos: Homero. Fundação de Roma (753).
Personagens bíblicos: Em Israel:
Aias – Jeroboão I;
Elias – Acabe;
Eliseu – Jeú;
Amós – Jeroboão II;
Em Judá: Roboão;
Isaías – Acaz.
Realidades, problemas e situação do povo:
Israel – Capital: Samaria. Crescem acumulação e idolatria. Decomposição moral e religiosa;
Elias enfrenta o sistema do rei; Destruição e Exílio em Nínive (722);
Judá – Capital: Jerusalém. Injustiças. Duros impostos. Ameaça assíria. Alianças políticas.
Sincretismo religioso. Esperança messiânica. Influência dos profetas
Escritos da época:
Israel: Eloísta(E); Amós; Oséias; Salmo 58?.
Judá: 1 Isaías; Miquéias; Salmo 64.
Escritos sobre a época:
Israel: 1Rs 12-22; 2Rs 1-15; 17; Eclo 48.
Judá: 1Rs 12; 15; 2Rs 11-16; 2Cr 10-28; Is 1-12; 28-39.

ANOS 722 a 587 a.C.


Império:Assíria
Época: Monarquia de Judá.
Personagens não-bíblicos: Sargom II (705); Assurbanipal (681); Luta entre Assíria, Egito e
Babilônia.
Personagens bíblicos: Ezequias; Sofonias – Manassés; Hulda – Josias; Jeremias – Joaquim;
Zedequias;
Realidades, problemas e situação do povo:
Corrupção: Vassalos da Assíria. Tentativas de reforma. “Guerra suja”. Impunidade.
Estancamento. Confusão. Endividamento sem saída. Reforma: reforma deuteronomista (620). Pressão
do “povo da terra”. Eliminação de santuários. Centralização do culto. Reforma do clero. Renovação da
Aliança. Leitura profética da história.
Desintegração: Decadência. Corrupção. Desintegração de instituições. Volta ao modelos de
Manasses. Politicagem. Ideologia justificadora da opressão. Destruição de Nínive (612). 1ª deportação
para a Babilônia (598).
Escritos da época:
1º núcleo do Deuteronômio; Sofonias; União de Javistas e Eloístas; Provérbios 10- 22; 25-29;
Salmos 46, 48. Deuteronômio 5-26; 28? Salmos 31, 80, 81. Jeremias. Naum. Habacuc.
Escritos sobre a época:
2Rs 18-21; 2Cr 29-33; 2Rs 22-23; 2Cr 34-35; Eclo 49; 2Rs 24-25; 2Cr 36; Jr 1-45.

ANOS 587 a 538 a.C.


Império: Babilônia
Época: 587 - Em Judá. Exílio na Babilônia.
Personagens não-bíblicos: Nabucodonosor (605-562); Buda.
Personagens bíblicos: Jeremias; Gedalias; Cantores; Ageu – Zacarias; Sacerdotes; Ezequiel; 2
Isaías.
Realidades, problemas e situação do povo:
Em Judá: Destruição de Jerusalém (587). 2ª deportação: governantes, sacerdotes e
comerciantes. Distribuição de terras aos que ficam. Agricultores tribalizados. Revisão. Não ao templo.
Novo Davi.

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Na Babilônia: Trabalhos forçados. Vivem em subúrbios. Crise de identidade. Centram a vida
no sábado, assembleias, circuncisão. Explicação teológica do desastre. Dor purificadora. Nova
Aliança.
Escritos da época:
Em Judá: Deuteronomista(D); Js – Jz; Sm – Rs; Jr; Lm; Obadias;
Releitura de profetas.
Na Babilônia: Sacerdotal(P); Lv 8-10; 17-26; Ezequiel; 2 Isaías; Salmos 42, 43, 69, 70, 137.
Escritos sobre a época:
Em Judá: Lm; Obadias; Salmos 79, 89, 39-52.
Na Babilônia: 2Rs 24; Is 40-55; Ez 1-24; 33-39.

ANOS 538 a 333 a.C.


Império: Pérsia
Época: 538 - Retorno. 445 - Reorganização.
Personagens não-bíblicos: Ciro (558-528); Zoroastro; Artaxerxes (423); Platão (347).
Personagens bíblicos: Sesbazar; Josué; Sorobabel; Neemias; Esdras; Escribas.
Realidades, problemas e situação do povo:
538: Retorno. Diáspora – universalismo. Esperança. Novo começo.
Realização de profecias. Boa Nova de Deus libertador e criador.
Inauguração do templo (515). Novas desigualdades sociais.
445: Reorganização. Legalismo. Disciplina. Nacionalismo. Desânimo.
Separatismo. Rejeição de mulheres estrangeiras e samaritanos. Templo e centralismo. Mística e
culto da lei nas sinagogas. Cisma samaritano (430).
Escritos da época:
538: Levítico 1-7; 11-16?; Ageu; 1Zacarias; 3Isaías; Joel; Salmos 4, 10, 22, 23, 50, 77, 78, 83,
105-107, 126.
445: Rute – Jonas; Jô – Provérbios 1-9; Cantares; União de Javistas, Eloístas, Deuteronomistas
e Tradição Sacerdotal (Pentateuco); Salmos 19,8ss, 85, 96-98, 113, 116, 118, 119.
Escritos sobre a época:
538: Ageu; Zacarias 1-8; Isaías 55-66; Levítico 1-7.
445: Rute; Esdras – Neemias; Ezequiel 40-48.

ANOS 333 a 63 a.C.


Império: Helenismo
Época: 333 – Egito; 198 – Síria; 167 – Judá.
Personagens não-bíblicos: Alexandre Magno (336-323); Aristóteles (322); Antíoco IV (163).
Personagens bíblicos: 333 – Escribas e cantores; 198 – Matatias; 167 – Judas Macabeu;
Jônatas; Simão, João Hircano.
Realidades, problemas e situação do povo:
333: Riqueza para a classe alta. Proletarização dos agricultores. Invasão e assimilação cultural.
Encerrados na lei e no culto. Silêncio; Ruptura. Tranquilidade.
198: Invasão cultural provocativa. Resistência. Perseguição. Levante armado (167).
Apocalipses populares. Lei do puro e impuro. Tradução LXX.
167: Independência. Conquistas. – Saduceus helenizantes. – Fariseus
anti-helenizantes. – Essênios no deserto. – Zelotes, Reino pelas armas.
Conflitos entre eles. Repressão contra os fariseus.
Escritos da época:
333: 2Zacarias; Malaquias; Crônicas; Neemias – Esdras; Ester; Eclesiastes; Salmos 73; 139.
198: Judite – Tobias; Eclesiástico; Salmos 44, 74, 86, 91.
167: Daniel; 2Macabeus; 1Macabeus; Salmos 1, 150.
Escritos sobre a época:
333: Isaías 24-27; 34-35; Zacarias 9-14; Joel 3-4.

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198: 2Macabeus; 1Macabeus 1-12.
167: 1Macabeus 13-16; Eclesiástico 50; [Flávio Josefo].

ANOS 63 a.C. a 135 d.C.


Império: Roma
Época: 63 – Herodianos; 4 a.C. a 30 d.C – Jesus histórico; 49 – Primeiras comunidades cristãs;
62 a 90 – Expansão; 90 a 135 – Perseguição.
Personagens não-bíblicos: Pompeu (48 a.C.); Júlio César (44 a.C.); Antônio (31 a.C.); Augusto
(14 d.C.); Tibério (37 d.C.); Pilatos 26-36 d.C.); Calígula (41 d.C.); Cláudio (54 d.C.); Nero (54-68
d.C.); Vespasiano (79 d.C.); Tito (81 d.C.); Domiciano (96 d.C.); Trajano (117 d.C.); Adriano (138
d.C.).
Personagens bíblicos: Herodes, o Grande (37-4 a.C.); 4 a.C. a 30 d.C. – Anás, Herodes Antipas,
João Batista. Maria, Pedro, João, Estevão (34), Tiago Maior (44).Tiago (62), Pedro (64?), Paulo (67)
Barnabé, João, Marcos, Timóteo, Tito, Lucas.
Realidades, problemas e situação do povo:
63 a.C.: Ocupação para resolver conflitos. Grandes diferenças sociais. Fariseus predominam.
Legalismo. Espera do Messias. Construção do templo.
4.a.C. a 30 d.C.: Latifúndios. Exploração. Tributos crescentes. Marginalização. Exportação de
alimentos: fome. Confusão. Insurreições. Esperança.
49 a 62: Experiência de Cristo ressuscitado. Primeiras comunidades em Jerusalém. Conversões
entre judeus da diáspora. Conflitos com judeus. Conversão de Paulo (37). 1ª missão de Paulo: 45-49.
Concílio de Jerusalém (49). 2ª missão de Paulo (49-52). 3ª missão de Paulo (53-58). Comunidades de
Paulo. Conflitos no judaísmo. Nasce novo modo de ser Povo de Deus.
62: Começo da perseguição romana. Martírios de Tiago, Pedro, Paulo. Guerra Judeus – Roma
(66-70). Cristãos abandonam Jerusalém. Expandem-se em subúrbios de cidades.
70: Destruição de Jerusalém por Tito. Expulsão dos cristãos das sinagogas. Marginalização e
crise das comunidades. Latifúndios se expandem.
90 a 135: Domiciano se auto-proclama deus. Conflitos com o império.
Perseguição. Expansão na Ásia. Esperança apocalíptica. [Cânone judeu da Bíblia: Jâmnia (90-
95)]. Sublevações judias e dura repressão romana. Martírios de Simeão, bispo de Jerusalém (107) e de
Inácio de Antioquia (110). Roma declara ilegal o cristianismo (112). 2ª Guerra Judeus – Roma (132-
135).
Escritos da época:
63 a.C.:Sabedoria.
4 a.C. a 30 d.C.: Vida e pregação de Jesus.
30 a 62: Tradições orais. Experiências pascais. Coleções das palavras e gestos de Jesus(Q).
1Tessalonicenses. Filipenses. Gálatas. Filêmon. 1-2Coríntios. Romanos.
62 a 90: Evangelho de Marcos. Evangelho de Mateus. 2Tessalonicenses. Colossenses. Efésios.
Evangelho de Lucas – Atos dos Apóstolos. Tiago. 1Pedro.
90 a 135: Hebreus. Apocalipse. Evangelho de João. Judas. 1-2-3 João. 1-2 Timóteo. Tito.
2Pedro.
Escritos sobre a época:
63 a.C.: [Documentos de Qumran].
4 a.C. a 30 d.C.: Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João.
30 a 90 d.C.: Marcos 16; Mateus 28; Lucas 24; João 20-21; Atos 1-15; Gálatas 1-2;
1Tessalonicenses 1-3; Atos 16-28; Filipenses 3-4; 1-2 Coríntios; Apocalipse 4-11. [Flávio Josefo].
90 a 135 d.C.: Apocalipse 1-3; [Didaquê; Carta de Clemente de Alexandria]; [Cartas de Inácio
de Antioquia, de Policarpo, de Barnabé].

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