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A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES


DE CONSUMO

RECIFE-PE, 05 DE JUNHO DE 2017

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A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

1. INTRODUÇÃO

Não se pode falar de relação de consumo hoje no Brasil sem tocar em


relação de consumo. Do mesmo modo que não se pode falar em relação de
consumo sem trazer para a conversa o código de defesa do consumidor e suas
inovações.

Não estamos falando apenas das situações onde há um contrato


explicitando a extensão da responsabilidade de cada um dos contratantes
envolvidos, estamos falando de tutelar de forma absolutamente nova, de
colocar um mínimo de ordem e bom senso na selva que são as relações de
consumo.

Antes do código, dificilmente se conseguiria responsabilizar um


vendedor por danos pré-existentes em um produto. Ele diria que a culpa era do
fornecedor, estaria livre. Por sua vez ao ser acionado o fornecedor culparia o
fabricante, diria ser apenas um mero intermediário. Mais uma vez lá ia o
consumidor atrás de alguém responsável pela falha no produto adquirido.

O fornecedor, como diziam os mais antigos, “para se livrar da bomba


chiando“, alegaria não ser culpado de nada, que a relação ali existente não
tinha nada a ver com consumo. Ele era fabricante e a relação dele era com o
fornecedor, quando muito, com o vendedor. O consumidor ficava à ver navios!

O CDC mudou isso, hoje o consumidor sofre, mas já sabe quem são os
culpados, os responsáveis pelo produto que está levando.

Antes de adentrar no assunto “responsabilidade” em si, parece


interessante conceituar consumidor e fornecedor.

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2. MAS AFINAL, O QUE É CONSUMIDOR?

O código de defesa do consumidor traz em seu artigo 2° o seguinte


conceito:

“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.”

A partir da definição legal, Paulo Nader tenta simplificar mais ainda o


que já é simples, e ensina que para se caracterizar consumidor, é necessário
que o produto não seja adquirido para venda posterior. O consumidor é o
destino final, o fim da linha, o último a tirar dinheiro do bolso para adquirir
aquele produto.

Ainda segundo Nader, se o produto é comprado para ser passado


adiante, para ser colocado em uma linha de produção, não caracteriza
consumo. Se esta é a intenção, teremos contratos comerciais/empresariais,
que nada tem com consumo.

O parágrafo único do mesmo artigo equipara à consumidor a


coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

O legislador ainda equiparou à consumidor, no artigo 17 todas as vítimas


do evento. Exemplo: um avião de passageiros ao cair, destroça uma cada de
um cidadão que nada tem a ver com a viagem, a empresa, ou os passageiros.
Normalmente ele teria que procurar seus direitos com base em outros
estatutos, neste caso, com base no CC. Mas com esse benefício do legislador,
ele poderá acionar os responsáveis com o mesmo direito de todos os outros
consumidores.

3. E FORNECEDOR, O QUE VEM A SER?

Igual fez no artigo 2º, o legislador conceituou fornecedor no 3º. Vejamos:

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“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,”

A partir daqui, podemos ver que o legislador não quis poupar ninguém,
todos os envolvidos naquela relação, desde a produção à negociação, estão
presos à obrigação de ressarcir o consumidor em caso de dano ou prejuízo.

4. AGRA QUE TEMOS UMA RELAÇAO FORMADA, VAMOS AO


OBJETO?

Produtos são iguais formigas: tem de todas as cores, formas e tamanhos


imagináveis e inimagináveis. Aquele cafezinho que se toma na cantina é
produto (não estou falando no sentido de produzido, mas no que é objeto da
relação de consumo), aquela passagem que se compra pra ir à outra cidade
também.

O conceito dado pelo legislador se encontra no §1º do artigo 3º, e é o


seguinte:

“Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.”

O legislado diz ainda no §3º que

“Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
"relações de caráter trabalhista.”

5. AGORA SIM, VAMOS À RESPONSABILIDADE!

O código civil estabelece no artigo 186 que independente se o dano resultar


de ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, se vier a violar
direito, causando dano de qualquer espécie, comete ato ilícito.

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Em uma sequência lógica, o CC traz no 927 que se o dano for causado por ato
ilícito, quem o causou é obrigado a reparar o prejuízo, que segundo o 944, será
medido pela extensão do dano.

O Código de defesa do consumidor foi mais além, e colocou a reparação


dos danos sofridos como de ”direitos básicos”, conforme se verifica na redação
do artigo 6º, VI.

Isso nos diz que aquele que de qualquer modo (entenda que a exceção)
tem de assumir a responsabilidade pelo dano causado, pela reparação. À isso,
Roberto Senise chama resumidamente de “o dever jurídico de recomposição
do dano”, ou seja, a nossa querida responsabilidade civil.

Vale ressaltar que tal responsabilidade é objetiva, existe independente


de culpa (mais uma vez, há exceção), basta que seja de alguma responsável
prejuízos e se demonstre o nexo causal.

Não importa se o dano foi uma dor de barriga causado por aquele café,
aquele salgado, ou um aparelho celular que chegou com defeito de fábrica, os
responsáveis, desde o comerciante até o fabricante respondem solidariamente.

Contribuiu para essa proteção toda, dita por muitos como exagerada, o
fator hipossuficiência do consumidor. Não a hipossuficiência financeira, mas a
técnica. É o fornecedor que conhece tudo daquele produto que produz, logo, é
quem melhor pode prever um dano e tentar evita-lo, não o fazendo, responde
solidariamente com todos os envolvidos.

Na tentativa de proteger o consumidor, e garantir que o fornecedor não


iria escapar com seu patrimônio pelos ralos da lei, o legislador autoriza a
desconsideração da personalidade jurídica para garantir efetividade às
decisões proferidas.

Ainda segundo Senise, “ A objetivação moderna da responsabilidade


tornou possível uma proteção individual real e mais efetiva, além de
representar um avanço considerável para a tutela coletiva e difusa por danos
transindividuais.”

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6. PASSANDO A REGUA!

Como vimos, todo aquele que for o destinatário de um produto ou serviço,


seja pessoa física ou jurídica, e de qualquer forma vier a ser lesado tem o
direito de receber da parte de quem o lesou, de quem causou o dano, a total
reparação dos prejuízos, sejam eles de qualquer natureza, patrimoniais,
morais, e segundo Tartuce, a responsabilidade de reparar engloba também o
dano estéticos causados pelo fornecimento de produtos

A raposa disse ao príncipe que ele era responsável pelo que cativava.
Eu acrescento: - pelo que produzes e vendes também!

7. BIBLIOGRAFIA

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A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Lisboa, Roberto Senise; Responsabilidade civil nas relações de consumo /


Roberto Senise Lisboa. – 3. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012.

Nader, Paulo; Curso de direito civil, volume 7: responsabilidade civil. / Paulo


Nader. – 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.

Pereira, Caio Mário da Silva; Instituições de direito civil – Vol. III / Atual. Caitlin
Mulholland. – 21. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.

Tartuce, Flávio; Direito civil, v. 2: direito das obrigações e responsabilidade civil


/ Flávio Tartuce; 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.

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