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A ristóteles foi o primeiro filósofo (que se conheça) a falar em “filosofia da

ciência” e na dupla condição da “indução e dedução” inerente à lógica. Segundo

Aristóteles, o Homem induz princípios gerais e, depois, deduz afirmações sobre os

fenómenos que observa empiricamente a partir de premissas que incluam esses

princípios gerais ― primeiro induz, e depois deduz.

Por exemplo: quando observa um eclipse lunar, o Homem constata o escurecimento

progressivo da superfície lunar (observação directa e empírica). Em função desta

observação directa, o Homem induz “princípios gerais”: a luz propaga-se em linha

recta; os corpos opacos produzem sombras; dois corpos opacos na proximidade de um

corpo luminoso coloca um dos corpos opacos na sombra do outro; etc. Estes “princípios

gerais” são, também eles, oriundos da observação empírica.

A partir destes princípios gerais, o Homem deduz afirmações sobre o fenómeno,

deduções essas que são indemonstráveis empiricamente.

Aristóteles instituiu dois tipos de “indução”: a “simples enumeração” e a “intuição

directa”.

A “simples enumeração” parte de “premissas” para chegar a uma “conclusão”, e utiliza

a generalização dos princípios aplicáveis.

Por exemplo: determinado comportamento que se observa num grupo sócio-cultural é

comum a vários membros desse grupo; logo, generalizando, induz-se ser verdadeira a

conclusão sobre as características do grupo sócio-cultural à qual pertencem esses

indivíduos.

Y1 = Z; Y2 = Z; Y3 = Z → Y = Z

A “intuição directa” é uma forma de indução baseada na experiência adquirida pelo

observador. Por exemplo, um pescador experimentado induz sobre as condições do mar

antes de sair para a pesca, coisa que um pescador inexperiente não pode fazer.
A partir das generalizações produzidas pelo processo indutivo, encontram-se as

premissas que permitirão a dedução de afirmações acerca das observações empíricas.

Portanto, sob o ponto de vista científico, a generalização é sempre positiva.

A dedução tem uma lógica de “inclusão” e “exclusão” ― embora Aristóteles privilegie o

“princípio do terceiro excluído”.

(Todo) Y = Z

(Nenhum) Y ≠ Z

(Algum) Y1; Y2; = Z

(Algum) Y1; Y2 ≠ Z

Contudo, é a primeira afirmação que Aristóteles privilegia: Y = Z ― porque esta

proposição reproduz a total inclusão lógica de um fenómeno. Corroborando este

princípio, Aristóteles citou o “silogismo em Barbara” como paradigma da demonstração

lógica:

(Todo) Y = Z; A = Y; → A = Z

O silogismo apresenta o “termo maior” Z (que é citado duas vezes nas conclusões), o

“termo médio” Y (que é citado uma vez na premissa e uma vez na conclusão) e o termo

menor A (porque é citado duas vezes nas premissas).

Por exemplo:

todos os corpos vizinhos da Terra são corpos com brilho fixo;

todos os planetas do sistema solar são corpos vizinhos da Terra; logo,

→ todos os planetas do sistema solar são corpos de brilho fixo.

Como vemos, o Sol foi excluído do silogismo, o que não significa que a conclusão e as

premissas não estejam correctas. Assim, através da dedução, o Homem avança do

conhecimento empírico de um facto sobre planetas para a compreensão da causa desse

facto.

Por vezes, um silogismo pode ter uma conclusão correcta a partir de uma premissa

falsa. Por exemplo:


todas as estrelas são corpos com brilho fixo;

todos os planetas do sistema solar são estrelas;logo;

→ todos os planetas do sistema solar são corpos com brilho fixo.

Portanto, é sempre necessário que as premissas sejam verdadeiras, e esta exigência é

uma das quatro “exigências extralógicas” de Aristóteles. As outras três exigências são:

 As premissas devem ser indemonstráveis [empiricamente], isto é, devem

existir alguns princípios que não se podem deduzir de outros princípios

mais básicos [empíricos]. Existem, assim, alguns princípios

indemonstráveis que são necessários para que se evite um infinito retorno

nas explanações. Por isso, nem todo o conhecimento [científico] é passível

de ser demonstrado.

 As premissas devem ser melhor conhecidas que a conclusão, isto é, não

podemos adoptar uma lógica de raciocínio que parta do menos conhecido

para o mais conhecido.

 As premissas devem ser as causas da atribuição feita na conclusão, isto é,

a conclusão é o efeito que resulta das premissas.

Silogismo de facto raciocinado

Todos os deputados com um arquétipo mental totalitário são pessoas

psicologicamente recalcadas;

Todos os deputados do Bloco de Esquerda são deputados com um arquétipo

mental totalitário;

→ Todos os deputados do Bloco de Esquerda são pessoas psicologicamente

recalcadas.

Silogismo de facto

Todos os deputados com um arquétipo mental totalitário são socialistas;

Todos os deputados do Bloco de Esquerda são deputados com um arquétipo

mental totalitário;

→ Todos os deputados do Bloco de Esquerda são socialistas.

As premissas do “silogismo de facto raciocinado” estabelecem a causa do facto de os

deputados do Bloco de Esquerda não serem pessoas psicologicamente equilibradas. Pelo


contrário, as premissas do “silogismo de facto”, não estabelecem as causas da

conclusão do axioma — Aristóteles diria, neste último caso, que a correlação entre o

arquétipo mental totalitário e o socialismo é acidental.

Para distinguir as correlações causais das acidentais, Aristóteles definiu um critério

reconhecendo que numa relação causal, o atributo

1. seja sempre verdade, em qualquer circunstância do sujeito;

2. seja verdade para o sujeito em causa e não para o todo a que ele

pertence;

3. seja “essencial” ao sujeito.

Descansem os deputados do Bloco de Esquerda porque os critérios de relação causal de

Aristóteles deixam muito a desejar, como veremos adiante.

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