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DISCIPLINA: ESTRUTURAS DE CONCRETO I

PROFESSOR: MANOEL XAVIER

TENSÃO DE ADERÊNCIA

Aderência (bond, em inglês) é a propriedade que impede que haja escorregamento


de uma barra em relação ao concreto que a envolve. É, portanto, responsável pela
solidariedade entre o aço e o concreto, fazendo com que esses dois materiais trabalhem
em conjunto.
A transferência de esforços entre aço e concreto e a compatibilidade de deformações
entre eles são fundamentais para a existência do concreto armado. Isto só é possível por
causa da aderência.
Ancoragem é a fixação da barra no concreto, para que ela possa ser interrompida.
Na ancoragem por aderência, deve ser previsto um comprimento suficiente para que o
esforço da barra (de tração ou de compressão) seja transferido para o concreto. Ele é
denominado comprimento de ancoragem.
Além disso, em peças nas quais, por disposições construtivas ou pelo seu
comprimento, necessita-se fazer emendas nas barras, também se deve garantir um
comprimento suficiente para que os esforços sejam transferidos de uma barra para outra,
na região da emenda. Isto também é possível graças à aderência entre o aço e o concreto.

 TIPOS DE ADERÊNCIA

Esquematicamente, a aderência pode ser decomposta em três parcelas: adesão


(figura 1), atrito (figura 2) e aderência mecânica (figura 3). Essas parcelas decorrem de
diferentes fenômenos que intervêm na ligação dos dois materiais.

Figura 1 – Aderência por adesão. Figura 2 – Aderência por atrito.


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Figura 3 – Aderência mecânica.

 TENSÃO DE ADERÊNCIA

Para uma barra de aço imersa em uma peça de concreto, como a indicada na figura
4, a tensão média de aderência é dada por:

Figura 4 – Tensão de aderência.

Onde:
Rs - força atuante na barra;
 - diâmetro da barra;
ℓb - comprimento de ancoragem.

A tensão de aderência depende de diversos fatores, entre os quais:


a) Rugosidade da barra;
b) Posição da barra durante a concretagem;
c) Diâmetro da barra;
d) Resistência do concreto;
e) Retração;
f) Adensamento;
g) Porosidade do concreto, entre outros.
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 RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA

A resistência de aderência de cálculo entre armadura e concreto é dada pela


expressão da norma NBR 6118 (ABNT, 2014, item 9.3.2.1):

Onde:
1 = 1,0 para barras lisas
1,4 para barras entalhadas
2,25 para barras nervuradas
2 = 1,0 para situações de boa aderência
0,7 para situações de má aderência
3 = 1,0 para  < 32,0 mm
(132 - )/100 para  > 32,0 mm
fctd = 0,15.fck2/3, com fck em MPa.

 SITUAÇÕES DE ADERÊNCIA

Na concretagem de uma peça, tanto no lançamento como no adensamento, o


envolvimento da barra pelo concreto é influenciado pela inclinação dessa barra. Sua
inclinação interfere, portanto, nas condições de aderência. A situações possíveis estão
representadas conforme a figura 5 a seguir:

Figura 5 – Situações de boa e má aderência.


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 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM BÁSICO

Define-se comprimento de ancoragem básico ℓb como o comprimento reto necessário


para ancorar a força limite Rs = As.fyd, admitindo, ao longo desse comprimento, resistência
de aderência uniforme e igual a fbd.
O comprimento de ancoragem básico ℓb é obtido igualando-se a força última de
aderência ℓb...fbd com o esforço na barra Rs = As.fyd:

Como obtém-se:

De maneira simplificada, pode-se dizer que, a partir do ponto em que a barra não for
mais necessária, basta assegurar a existência de um comprimento suplementar ℓb que
garanta a transferência das tensões da barra para o concreto.

 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM NECESSÁRIO

Nos casos em que a área efetiva da armadura Αs,ef é maior que a área calculada
As,calc, a tensão nas barras diminui e, portanto, o comprimento de ancoragem pode ser
reduzido na mesma proporção. A presença de gancho na extremidade da barra também
permite a redução do comprimento de ancoragem, que pode ser calculado pela expressão:
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Onde:
1 = 1,0 para ancoragem reta
0,7 para ancoragem com gancho
ℓb,mín é o maior valor entre 0,3.ℓb, 10. e 100,0 mm.

 ANCORAGEM DE BARRAS COMPRIMIDAS

Nas estruturas usuais de concreto armado, pode ser


Figura 6 - Ancoragem de barras
necessário ancorar barras compridas (figura 6), nos comprimidas.
seguintes casos:
a) em vigas - quando há barras longitudinais
compridas (armadura dupla);
b) nos pilares - nas regiões de emendas por
traspasse, no nível dos andares ou da fundação.
As barras exclusivamente compridas ou que tenham
alternância de solicitações (tração e compressão) devem
ser ancoradas em trecho reto, sem gancho. A presença do
gancho gera concentração de tensões, que pode levar ao
fendilhamento do concreto ou à flambagem das barras.
Portanto, os comprimentos de ancoragem de barras comprimidas são calculados
como no caso das tracionadas. Porém, nas comprimidas não se usa gancho e o ℓb,mín é o
maior valor entre 0,6.ℓb, 15. e 200,0 mm.

 GANCHOS DAS ARMADURAS DE TRAÇÃO

Os ganchos das extremidades das barras da armadura longitudinal de tração podem


ser de três tipos conforme o item 9.4.2.3 da norma NBR 6118 (ABNT, 2014):
a) semicirculares, com ponta reta de comprimento não inferior a 2. (Figura 7a);
b) em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento não inferior a 4. (Figura
7b);
c) em ângulo reto, com ponta reta de comprimento não inferior a 8. (Figura 7c).
Para barras lisas, os ganchos devem ser semicirculares. Vale ressaltar que, segundo
as recomendações da norma NBR 6118 (ABNT, 2014), as barras lisas deverão ser sempre
ancoradas com ganchos.
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Figura 7 – Tipos de gancho para armaduras longitudinais.

 GANCHOS DOS ESTRIBOS

A norma NBR 6118 (ABNT, 2014), no seu item 9.4.6, estabelece que a ancoragem
dos estribos deve necessariamente ser garantida por meio de ganchos ou barras
longitudinais soldadas. Os ganchos dos estribos podem ser:
a) semicirculares ou em ângulo de 45° (interno), com ponta reta de comprimento igual
a 5., porém não inferior a 5,0 cm (Figura 8a e 8b);
b) em ângulo reto, com ponta reta de comprimento maior ou igual a 10., porém não
inferior a 7,0 cm (este tipo de gancho não deve ser utilizado para barras e fios lisos)
(Figura 8c).

Figura 8 – Tipos de gancho para armaduras transversais.

(a) (b) (c)


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 EMENDA DE BARRAS

As barras de aço (vergalhões) apresentam usualmente o comprimento de 12,0 m.


Em elementos estruturais de comprimento superior a 12,0 m, como vigas e pilares por
exemplo, torna-se necessário fazer a emenda das barras de aço. A norma NBR 6118
(ABNT, 2014) apresenta a emenda das barras no item 9.5, segundo um dos seguintes tipos:
a) por traspasse (ou transpasse);
b) por luvas com preenchimento metálico, rosqueadas ou prensadas;
c) por solda;
d) por outros dispositivos devidamente justificados.
No caso das emendas b) e c) o concreto não participa da transmissão de esforços,
podendo as emendas serem dispostas em qualquer posição. No caso a) é necessário que
o concreto participe na transmissão dos esforços.
Para o nosso estudo serão mostradas apenas as características das emendas por
transpasse, que são bem mais comuns na prática das estruturas de concreto.

- Emenda por Transpasse de Armadura Tracionada

Figura 9 - Aspecto
No caso de emenda por transpasse de barras tracionadas, a da fissuração na
emenda de duas
emenda é feita pela simples justaposição longitudinal das barras num barras.

comprimento de emenda bem definido, como mostrado nas figuras 9 e


10. A norma NBR 6118 (ABNT, 2014) no seu item 9.5.2 estabelece que
a emenda por transpasse só é permitida para barras de diâmetro até
32,0 mm. Tirantes e pendurais também não admitem a emenda por
transpasse.
A transferência da força de uma barra para outra numa emenda
por transpasse ocorre por meio de bielas inclinadas de compressão,
como indicadas na figura 10. Ao mesmo tempo surgem também
tensões transversais de tração, que requerem uma armadura
transversal na região da emenda.

Figura 10 – Transmissão da força Rs por bielas comprimidas inclinadas de


concreto e tração transversal.
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As barras a serem emendadas devem ficar próximas entre si, numa distância não
superior a 4. (Figura 11).

Figura 11 – Espaçamento máximo entre duas barras emendadas por traspasse.

- Comprimento de Transpasse de Barras Isoladas Tracionadas

Quando a distância livre entre barras emendadas estiver compreendida entre zero
e 4., o comprimento do trecho de transpasse para barras tracionadas deve ser:

Onde:
ℓb,nec é o comprimento de ancoragem necessário;
ℓ0t,mín é o maior valor entre 0,3.0t.ℓb, 15. e 200,0 mm;
0t coeficiente função da porcentagem de barras emendadas na mesma seção.

- Comprimento de Transpasse de Barras Isoladas Comprimidas

Nas emendas de barras de aço à compressão existe o efeito favorável da ponta da


barra e, por este motivo, o comprimento da emenda não é majorado como no caso de
emendas de barras tracionadas.
Quando as barras estiverem comprimidas, como ocorre normalmente com as barras
longitudinais dos pilares, adota-se a seguinte expressão para cálculo do comprimento de
transpasse:

Onde:
ℓ0c,mín é o maior valor entre 0,6.ℓb, 15. e 200,0 mm.

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