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41 PAGS CLASSE CONTRA ys Equipe 13 de Maio-NEP APRESENTACAO Interpretar a realidade, desvelar os mecanismos de juncionamento da sociedade e estabe- lecer uma estratégia que transforme a situacéo de exploracio é 0 objetivo destes subsidios. A completidade de quest6es e 0 actimulo de problemas, agravados pela acdo dissimulado- ra do aparelhamento ideoldgico do Estado, langam estudartes, trabathadores e a popu- lagdo em geral num redemoinho de fatos mal-interpretados que dificulta uma compre- ensdo equilibrada da histéria. 4 Equipe do Centro 13 de Maio-Niicleo de Educacio Popular quer ajudar a ordenar 0 caos com a elaboraedo de Classe contra classe. Este & um texto dirigido a estudantes de 2° grau e universitdrios, mas seu raio de inte- resse abrange os trabalhadores, os movimentos de organizagéo popular e todos os que se interessam por economia politica, fornecendo um esquema de interpretacdo do jundamen- to real e sempre dissimulado do capitalismo: a divisdo social entre os que vendem a baizo prego a propria forga de trabalho ¢ os que detém os meios de producéo. Sintético, popular e ilustrado, este texto aborda todas as questoes do nosso dia-a-dia e quer atingir néo-iniciados nos meandros da economia. # um instrumento bdsico para entender @ sociedade em que vivemos. Ao fim de cada capitulo, a bibliografia indicada orientard o leitor para um aprofundamen- to e expansdo ulterior das nocdes aqui esbocadas. A Equipe 13 de Maio — NEP elaborou esta publicagdo movida pelo necessidade de di- vulgar elementos de compreensdo da sociedade, para que despertemos da passividade a que somos estimulados (mais um contrasenso da nossa conjuntura) pela ago apassiva- dora da midia, com destaque para a midia eletronica. Queremos imprimir a consciéncia do drama que vivemos. E que dessa consciéncia nasea uma agdo conseqiiente de reelabo- ragdo das relagées sociais e de desmobilizagao dos jé cristatizados esquemas de exploragéo. EQUIPE 13 DE MAIO — NEP ee lI CARACTERISTICAS GERAIS DO CAPITALISMO 1. A livre empresa 2. A anarquia da producéo 3. As leis do capitalismo 3.1. A concentracdo e centralizacéo dos capitais e a proletarizacao crescente dos produtores 3.2. 0 aumento da proporcdo do capital constante e @ tendéncia de a taxa de lucro médio cair 4. As crises ciclicas da economia capitalista 4.1. Caracteristicas das crises 4.2. Causas das crises 4.3. Como a burguesia enfrenta as crises Alem do que jd vimos no capitulo 1, vamos apresentar aqui algumas outra: caracteristicas geraiz da economia capitalista, 1. A LIVRE EMPRESA 24 quando nascia 0 capitalismo na rages (assuciagdes por profissio), cantilismo, que desapareceram, mas Faropa (époce de mercanilimo), que ainda restavain do periodo fe” principaimente contra, as proportas dal, © or outro, 0 Estado (Segui do socialismo, como ainda veremos dor dos principios do mereantilis- A live empresa & de fato garan mo} tia de liberdade. Mas liberdade de Os capitalists: quctiam tolal 1 quem? Liberdade da clasee burgue berdade para fazer o que quises- sa para explorar a forca de teahalho jonque, nessa época, ainda hi- sem com os meios de producdo ¢ da classe proletivia, Guer dizer que yin mula restries @ reguiamenta- mereadorias de sua _propriedade, liberdads do. capitalinta «2 a gies em telagdo a liberdade de in- com o objetivo de obter lucror. ta de liberdade do operitio. A i isa © a Uberdade de comércio, © que implica também a livee cor berdade do tabalheder ai cociede Iso quer dizer que os industriais cortéacia entre os varios capital: de capitalista. € uma Ubewdade fon rio podiam escolher livremente tes, mas também entre os trabalha- mal, juridica, eaquanto créadl usin, ¢ como produzit, ¢ 0s dores, e eate 0 capitalista e 0 tra- crits Id na Constituigao, Mas esta I comercianies nio podiam comprare balhador, individaalmente, berdade fiea anulada na prétics, por Yender livremente, de um pais para Os patrdes de hoje continuam de- cana da sujeisio coosOminy oy © outro, © até dentro do mesmo fendendo a sconoria da luvre om: trabathadores aos. livres empresé wuem dificultava esta livre ini. presa. 95 que hoje néo a defendem ros, como j4 vimes ao trate do Gativa eram, por wm lado, as corpo- mais contra o feudalismo OU 0 mer livre contrat de Labalho 5 2. A ANARQUIA DA PRODUCAO Para os sa6ricos burgueses, 2 berdade do empresa é uma liberda- natural. Como também todo 0 funcionamento da economia capita~ lista cecorre de LEIS NATURAIS, do mesmo tipo da lei da gravidade, oa de qualquer outra lei da fisica, dda quinsica ete. 1 26 deixar todos © ‘cada um dos capiclistas agirem de acordo com seus interesses, € tudo vai dar certo. O conjunto da ativi- ade econémica se harmoaiza, se auto-regula a si mesmo, como se hhouvesse um destino jd tragedo, que ‘80 depends da ventade ou das ages dos homens. Assim como a inliniéade dos astros do. universo, movendo-se 2 incriveis velocidades, convivem harmonicamente, sem cho- ques, 0 mesmo também’ econtece com a economia capitalists, E, ax sim gue falam os tedricas burgueses, Nas comunidades. primitivas, 0 Conjunta da populacio de uma al: deia decidia o gue produrir + 0 quanto produzir. Esta decisio era to- mada antes da produgio, E 0 obje- fivo da produgin era. a savisfacdo das necessidades de todos, Na economia capitalists, 0 tipo & quantidade de mercadories a ser Produridas ¢ inicialmente decisie do Proprictirio dos meios de produsio, quer dizer, € decisdo do capitals. ta, Mas c capitalists nd pergun- ta: “Ousie si0 a produtos de que © povo esti precisando?” Ao coniré- rio, 0 copitalista pergunta: “Quanto ‘You lucrar com estas mercadorias?” ‘Mas, xe a decisfo inicisl & do capi- talisa, a regulaeo da produgi, ps- 2 mais ou para menos, vai ser for to, naturaimonte © depots da. pro- igo, pelo MERCADO, isto & pe- Ja major ou menor procura ds mer cadoria, ‘Assim, para ot teéricos da. bur gvesia, soma dor interesses © Sgoismos dos diversos capitalists vai euler, pelas ditas leis naturais da economia, no ben comum de toda 8 sociedade. Um desses tesrices Adam Smith, exereveu Toda pessoa esté continuamen- te empenhada em encontrar 0 emprezo mais vartajoso para o copital de que dlspoe. & sua Vanuagem pessoal, na realidade, endo « da sociedade, 0 que tem em vista, Mas 0 estudo de sua vaniagem pessoal, neturalmen- te, o melhor, necexsariamente, © leva a preferir 0 emprego ‘mais vantajoso para a socieda- de. Dentre estas vantazens destruta- das por toda 2 sociedade, destaca- “se concorréncia entes os. capita- lissas, que faz baisar os pregor assegura 0 sucesso dos. cficientes, livrendo-se 20 mesmo tempo dos ineficientes, De acorde com estas teorias 60 inicio do capitalismo, 0 Estado a0 deve interferir em nenkum aspecto da economia, Tanto as relagées en te os diversos capitalisras, como 43 FelagSes eatte capitalistas ¢ treba Thadores cevem ser resoividas por les mesmos, sob a influéncia des tais leis natursis. O governo ests tia violando esias Ieis se, gor exem- plo, dotermiuasse 0 salério minimo ow 2 duragao da jornada de trabe- Tho. Ou se quisesse planejar 2 pro- dugio de acordo com ae nocessida des da populagii. Na realidade, esta “espontancide de natural” da economia (capita lista) significa a ANARQUIA DA PRODUCAO que leva as crises cilicas do capi falismo, como yeremes. As t2is leis naturals so de fato historicas, por que apareceram s6 depois do fev. dalismo, © correspondem aos inte esses de uma nova classe, a bu guesia. Quanto & lei da concorrin- ia, seus possiveis beneticios para 4 Sociedade so neutralizadae pela formacio de monopélies também veremos adiante, 3. AS LEIS DO CAPITALISMO AS chamadas leis natwrais 930 passam de imaginagao dos tedrices ‘ do capitalismo, buscando justificé- Jo, Mas a obserracto dos. fatos concretes permitiu que foscem for rmitladas algumas leis, ndo naturais, mas Aisidricas do capitalismo. Va mos nos referir aqui a algumas des~ sas leis mais importantes 3.1. A CONCENTRACAO E CENTRALIZACAO DOS CAPITAIS E A PROLETARIZACAO CRESCENTE DOS PRODUTORES A observes ciedade capital da evelugao da co Exemplo de concentiagio ¢ cen Assim, nos poucos, vio desapare- tualizasSo de capitals: nos Estados cendo os wabalhadores indepeaden- las, sempre Unitos, metade da produgdo indus- tes: pequenos proprietarios rucais e CONCENTRAGAO DE twial @ sealizada cm apenas 130 urbanos, artesios e profissionais | CAPITAIS, grandes grupos empresariais. bercis. Todos vio se tornande ven io &, grande crescimento do cas A concentagig © cenasizagso dedores de sua foiga de trabaiho, pital de algumas empresas. E a 0S cipitais resultou na stual fase em troca de um salitio, isto €, va0 trade tem sido sempre moropolista do cepitalismo indus- se tomando proletérios Fa maio- sanhada da ‘rial, come veremor no préximo cz ria doz proletitioe vai empobrecen CENTRALIZACAO DE pituto. . do cada vez mais. CAPITAIS, Observense, porém, que o outro —Fnfim, a minoria se torna mais minoria © com mai capital, en- ato 8 maioria se toma mais nu gue € a seduggo do ndmero de empresas. Este contralizacao aconte- 2 Ou quando varias empresas se jun merost ¢ mais explorada. Esta é tam em uma s6 (fusio), ow quan- ums contradicio do capitalismo de do umaz engolem outea (abzorgio). PRODUTORES. ‘grandes conseaiiéncias 3.2. 0 AUMENTO DA PROPORCAO DO CAPITAL CONSTANTE E A TENDENCIA DE A TAXA DE LUCRO MEDIO CAIR Ouirs constatacio que fot feta quer dizer, a diminsigSo da pore da tana de Iuro, os capitalists ten- 6 que na economia capitafsta ¢ —centagem do lucro sobre o capital tum: CAPITAL CONSTANTE investido, [por que ito avontecs? ou aumentar a taxa de mais |AUMENTA MAIS DO OUR Esa lei € bastante complera, mas, -valla, to é a exploragdo, pelos © CAPITAL VARIAVEL. simplificando, podemos dizer que? varios métogos que Ja vimos; : se a fonte da mais vais (on- cou diminuir 0 valor, Jo cagi- Quer dizer, 5 capitalitas gastam SONS OE ocn! tal constante, fazendo o Estado in- cada vez mais com méquinas, ins- & 2° om Se Mein em indaiioan, Sortlistes Islagies, matétiasprimas etc.e pro. Pill vatlivel, © nfo do. capital : z mil ate. (Agora, jf pode 20 fomoniimene menos com a Ye ‘oTstane, como vines de initio; (ACE ge Hi Talho azsalariado. A exto fato se —€ se 0 capital variével dimi- Ta a5 pera os capitalitts) Shama tenis de aumeeo coms mui om sun propoaia tents a0 cx tae torent po posicdo organica do capital Pit « (ei antetion); ‘gue ajodam a entender as cries A censtatacao. anterior nos Teva roporcio do Wucro Siege! ay capialiomo e suse conse para uma ontra Tei do capitalismo: (taca de fuero) dimimai sempre Gjencias, como o imperialismo © @ 2 TENDENCIA DE A TAKA ms. Jntervengao do Estado a econo DE LUCRO MEDIO CATR, Para contrabalengar essa queda mia 4. AS CRISES CICLICAS DA ECONOMIA CAPITALISTA 4.1. CARACTERISTICAS DAS CRISES Antes do inicio da indisiria ca pitalista, sé havia crises econdmicas quando’ ocomiam calamidades na. frais, como enchentss, seca, ter remotes, epidemias, ou eutio suc ras. Nestas ocasides, fo havia alt menios © outros "produtos para atender is necessidades. do. conjan to da populacéo. Fram crises de subprodugio. Deniro da economia capitalista, pelo contririo, ocore algo surpre: endente e, & primeita visia, absur- ‘do: ctises econémicas provocadas pela SUPERPRODUCAO. Isto é& quando hi abundancia de produtos a ecoaomia entra em cri se, Marx, jf om 1846, cizia: Coda crise destdi regulermente do sé uma grande massa de produtos id fabricados, mas também «ma grande parte das jorcas produtives id desenvalvi das. Uma epidemia que, nar fpocas anteriores, teria parccide ir absurdo, desaba sobre s0- ciedade: a epidemia da super. producto. De repente, a socie- dade verifica que voltow @ um estado de barbérie. E como se uma fome, ou uma guerra de externinio’ the dvesse contado todos os meios de subsisténcia. A indistria e 0 comércio pare cent destruidos. E por qui que @ sociedade tem eivilizagao demais, meios de subsisténcia demais, indistria demais, co- mercio demas. auge depressao decaquecimente As crises de superprodugio sto cICLIcas jato. repetem-se de tempos em tempos: A tise comeca pelo desaguect mento da economis, isto & por uma certa diminuigso das. ativida es ccondmicas, al€ chegar a de- Pressio, que se caracteriza por uma grande dimimuicdo dessas ativida- es, com queda doe Iacros, de semiprego © sutemprego, akin da queda cos salérios reais, Depois de cesiruir muites forgas. produtivas, além de caasar terriveis. desgracas para a classe trabalhadora, o capi- talignd comeca sua fase de rece peFacio, crescimenio c auge... até © inicio’ de novo ciclo de crise auge recuperagéo essquecimento A crise econémica dita mundial do inicio dos anos 80 6 de fato uma crise da economia capitlisia, como a de 1929 ¢ outras mas, Elas nfo existiam antes, na econo mia feudal, como nao existem na economia socialista. Quer dizer que um fenémeno tipico do capitals mo. F por qui? Porque, como vimos, na econo- mia capitalist, interessa 0 valor de troca, © no 0 valor de uso das mercadorias. A producto aio & feita paca tender 2s necessidedes da populaedo, mas para qu: s bur- gussia obtenlia lucro © acumpule ca pital. Partindo desta constatagao bisica, vamos explicar os. motives Por que acontecem as crises cicl- cas do. capitaliemo, auge crescimente recuperagio dopressio 4,2, CAUSAS DAS CRISES Existem 2 causas principals, re- Jasionadas © complementares entre si: uma, que se baseia aa contradi- do “eapital x trabalho”, © sutra, ‘que se bascia na “anarguia de pro- duggo” da cconcmia capitalist, Lembremos, em primeiro lugar, as contradicio: “CAPITAL x TRABALHO”, Isto &, catre cepitalisias ¢ tcabalbs ores existem joreresses que $20 objetivaments antagonices, incon cilidveis. O que favorece 03 interes sex ceonémicor de uns, & prejudh cial aos interesses econémicos dos outios. O patric luta por mais Iu- ‘ero, eaguanto o operdrio Iuta por mais saléno, Se um ganha, 0 outro perde, Eniio, para aumentar 0 Iu cro (2 acumulacie), © patric procura, por um lado, fazer com que o salério real nfo aumente, 2, se possivel, diminua; ¢, por outto Jado, procura aumentar a produ- cio e ss vendas das mercadorias Come vimos, 2 diminuigio dos sa lrios reais serve para deter « que da de taxe do lucro. Aconiece gue a maloria dos consumidores das mercadorias sio justamente traba- ou, pelo menos, no acompankam © crescimento da oferta de merca- dorias. Assim, 0 consumo nao con segue acompanhar a produgao. Os estoques de mereadorias anmen- ftom, ¢ necessério entio diminuir 2 producfo. Em outras palavras: 0 capitalis- ta tem de manter os luctos consee- vando baixos os selirias, mas, com isso, ele desteéi a capacidade aqui sitiva da qual depeade a realizagio de flucros. Saldiios beixos woman possiveis os altos Tucros, mas 20 mesmo tempo tornam os lucros im- possivels, porque reduzem a pro- fenra das mercadorias. Het af como a separgio (c contradigao) entre 1 proprietéties dos meios de pro- ‘ducao ¢ 0s proprietizios da forga de trabalho acaba Tevando ls cri ses de. superproducio, Em, segundo Iugar, lembremos ‘que ¢ capitalismo nio admite uma economia planificada no seu con- jumto. Quer dizer que impera, 2 ANARQUIA DA PRODUGAO. De acordo com os te6ricos do ca pitalismo, o livre jogo dos interes: ses levatia naturalmente a_uma economis harmonicsa, Na realida de, as coisas sho diferentes. Veja- interesse da. burguesia & sem: pre obter Iucros para acumular ca- pial J4 vimos que pare isso os cepitalisias, além de procurar di- minui os ‘sclirics, procuram tam- bém ampliar a produedo, para au- ‘mentar as vendaz. Esse é 0 interes sc de cada empresa, © € 0 que elas planejam ¢ fazem, nas épocas de crescimento econémico. Mas cede uma por si mesma, isto é ca da empresa no leva em conta a fovtras empresas concorrentes, que também esto procurando couquis- lar uma parcela maior do mexca- do. O resultado desta planificacao econdmica apenas dentro de cada enipresa, is veres, acaba recalean- do em desacertos, Primeiro, For que foram produzidos ¢ colocados A venda mais produios do que 9 mercado consumider precisa ou po- de comprar. Segundo, porque, com © aumento da producdo, comeram 2 faltar algumas matérias-primas, cnergia, enfim, elementos do. capi. tal comtante. Esta cseassce prow ca 0 aumento do prego destes ele smentos, que reforga aquela tendéen- Gia de queda éa taxa de Iucr0, © fax sumentar o prego da mercado fia Final, que passa por isto a ser menos comprada Assim, tanto pelo lado da_con- tradisao capital trabalho, como veedo pelo lado da produgao andr. quies, ne fim, cmos! grandes cso~ ese conseyiiemte dimiwieito da Produgio. A consequéncia € 0 de- Semprego (e subemprego), que, por sua vez, faz rebaizar os sald. Fias, por causa do exceseo de ofer- ta de foxga de trabalho. Ora, desemprego @ salirios tai x05 slgnificam maior estritamenta ilo mercado consomidor, que pro- vosa mais desemprego © mais’ ca \éxios baixos, que estreitam ainda mais o mercado consumider... ¢ assim por diante, igual a uma bo: Ia de neve 4,3, COMO A BURGUESIA ENFRENTA AS CRISES ‘As crises ccopdmicas cfelicas ce- sultam das contradigves caracte- risticas propries do capitalisma. Is- to quer dizer que elas nio sio i tencionalmente provoradas por nin guém. Mas, se a burguesi 30 puovora de propésite a ciise, ela certamente plancja a estratégia p2- blema das crises que a burguesia passou a admitir alguma planifies- io estatal na economia. Planifics do retathads, © no global. Mas, acima de tudo, planificagio da re cessio. Enfrentando 0 absurdo da pobreza na abundancia, © capitis mo traga um plano pera atacar 0 problema. O plane & acabar com 8 abundancia No Brasil, curante a crise inicia- da em 1929, milbdes de sacas de café foram jogadas 20 mur. Na Ex ropa ¢ Estados Unidos, foram fei ‘a5 leis para no permitir exceden (es, © multas miquinas foram de- sativadas. Tudo isto para eleva 0, prego das mercadorias. Assim, 0 ca- pitalismo trata de planejar a cseas 0s salirios para diminuir 0 conse 2). dewvalorizacao da moede, pa ‘mo. Para qui? Para que os empre- ca. tomar 35 exportades nib sirias, com a diminvigio dae ver- atraentes © devoncorajar a4 importa dss, resolvan baixar o prego das ors, meteadorias, combateadoe us 3) corte das. despesas. governae sim a inflagto. E tambem para que mentais, inclusive dos subsicios pa ‘8 emptesatios, com o dinheire co ra alimentos bisices (como foi 0 © Aesaquecimenio © estagnaga —nemizado, fagam novos investimen- caso do tego). e certos seiores da economia, on tas, para reativar a economia ora coneluie, poderiamos per Ae todos eles leva a desvalorizaci’ Por estes © outeos meios, « bur- guntar se existe alguma cute ma. Go capital constante «A recupers- puesia procura, o mais possivel, Ja. ncira de superar as crises. ciclieas «io da taxa de Tucio. Por outro Js: er com que os srabalhadore: pa- Go capitalismo, sem cesta a pro ie, o descimprego € 0 rebaixamen: guert os custos da crise do capita ducdo t ts forgas produtivas, © sem to salariat representam a desvalori- from. sacrfiear o= trabelhacores, 72¢c0 da forga de trabalho, €, por Essa é, alii, a formula do FMI, Marx achava que ne havia ow tanto, também a reeuperacio da ts. que se desdobia em 3 mandamen’ wa saida, deatio da economia et xa de Inet, (os principals: pitasta. Quer dizer que para aca Os governos burgueses também 1) arrocho salavial para contro. bar com 25 crises € precio acts {colam” conscientemente ciminuir lar 3 inflaedo, bar com 0 proprio ea indieacées bibliograficas para este capitulo: 1 — MARX, Kerl. Manifesto Comunisia, S80 Paulo, Editora Alfa Omega (em “Obras escolhides"), 1984. Obs.: a) Esta indicacdo se estende também aos _proximos capitulos deste nosso trabalho; 5) Ieitura do Ill capitulo, intitulado “Literatura Socizlista e Comunista”, pode sar oni ida, sem prejuizo, por se tratar de uma arslise conjuntural. 2 — HUBERMAN, Leo. Historia da riqueza do homem. Rio, Zahar Editores, 1983. Obe.: Esta indicacso se estende também aos capitulos 3 € 6 deste publicacao. MORAES, Vinicius de. Operario em construcgo. Rio, Jos Olympio Editora (om "Antologia postica’ , 1984. IV - CAPITALISMO E ESTADO 1. Estrutura e superestrutura da sociedade 2. Para que serve o Estado 2,1. Origem do Estado 2.2. FuncOes politicas e técnicas do Estado 2.3. Funcao do Estado burgués 3. Como domina 0 Estado burgués 3.1. A teoria da raposa e do ledo 3.2. As leis 3.3. As forcas armadas e a policia 4. A questao da estatizacdo da economia 5. 0 Estado a servico do imperialismo 6. A luta politica dos trabalhadores ’ Sp _ Guvimos com fiegiéncia que uvimos com fregiitncia que 0 Estado existe par defender o bem comum, a liberdade de todos te Que o Estado represents » todos € $B que cot acim das classes socais Enfim, nos cizem que © FSTADO £ NEUTRO. As vezes, 0 Estado nos € apresentado como ut MEDIADOR dos conflitos entre as classes sociais. No entanto, os fates que podomes observar mos’ mostm que nao é bem asim. Vemos continuament: © governo teprimindo os trabalhado- res, aumentando 0 arrocho salatial, msnobrando para manter os pelegos fos nossos sindicatos, decretando & ilegalidade de quase todas as greves. E pgando 2 policia e o exército pera batcr, prender e matar trabalhadores que futam por melhores condigses de vide, Do outro lado, podemos notar o goremo protegendo, por todas as formas, os Interesses dos emprest- Ties, estrangeiros ou nacionais, f2- zendo leis que os beneficiam, onvin- do suas opinider ante: dp) tomar ddecisdes importantes... presidea- ‘eda zepiblica, os ministros'e outras autoridades do Estado estig sempre se encontrando com entidades em- presariais e mesmo com empresdrios particulares. Fazem declaragges, afir- mando que é a inicfativa das empre- 1. ESTRUTURA’E SUPERESTRUTURA DA SOCIEDADE Para entender qual ¢ a natureza do Estado, deniro da sosiedade, pre isamos entender como fupciors +1 sociedade, qual € a sua baw. Mare disis. que t 4 estretura econémica da Sociedade & a base real sobre a gual se erguce wine superestrutirs juridica © polttice, e & quat corresponcem determinadas formas de consciéncia sofia De scordo com ests idéia, a base o alicerce da sociedade so AS ESTRUTURAS ECONOMICAS, em sev duplo inseparéve} aspect) de “forgas pradutivas”e de “celagSe= tociais de producio”. Isto & a fonms como os homens produzem| ¢ distri- buem os bens materiais, e|a forma como os homeas se orzanizam em sociedade para esta produsiio ¢ dis tribuiego As FORGAS PRODUTLVAS dizer respeito is rolages do hament com a natureze: celocandd-a 2 sex servigo, attayés do trabalho, O de- senvolvimeato das forcas produtivas implica 2 descoberta de novos ine trumento; de trabalho, novas teene- logias, avanco da ciéncia, inceptivo para 0 trabalhe, meicr produtivida- de, pleno emprego ete. As RELAGOES SOCIAIS DE PRODUCAO | dizem respeito as relapdex dos ho- mens entre si, em fungi do dominio da natureza, Assim, o¢ omens orgs nizam-se em sosiededes de’ ipo pr- itive, ou escravista, ou feudal, o cepitalista, ou socialista. A passagem de um tipo de sociedade para outro saries que proporciona 0 progtesso do pais ete. Entio, ONDE ESTA A NEUTRALIDADE E A MEDIAGAG? Sabemos que esles falos nfo acon- teoem 36 no Brasil, mas também em outros pafses do mundo capitalists. De forma mais clara nos paises subdesenvolvides ¢ ditaiorlais, ¢ de forma mas disfarcada nos ‘paises € 0 resuliado das conteadigSes inter nas entre as forcas produtivas © as relagies socieis de produggo. Usan- dose 0 método dialético da “ieee-an- wese-sintese™, podemos dizer que quando as forcas produtivas tese) sho impedida: pelae relapses sociais de produsio de continuar avensando. (antiiese), estes acabam sendo subs. ‘ituidos por moves relagoes socials de produgao, que Lberam 0 deson volvimento das forces predutivas (sintese) ‘As estruturss econémices 20 coudicionar 1 PERESTRUTURA POLITICA E yURIDICA, © também a CONSCIENCIA SOCIAL. Quer dizer que 0 poder politico, as kis © 0 modo de pensar de uma sociedade vio acompanhsr, nas gran desenvolvidos © de democracia 1 beral Assim, percebemas que 0 Estado capitalists, com os varios. governcs qve vio se suzedendo, protege os atrbes. em prejuizo dos teabathe- doves Por que isto? Em que se funda menia esta. sitwapdo? Quer dizer, qual & a natureza’ do Estado? E 0 que vamos estudar, a segue. des Linas, as estiuturas econdmicas, Vejamos alguns exemplos ‘Nas sociedades primitivas, os ho- mens tinham meios de produrao pouco desenvolvidos. Por isco 230 hhavia excedento. Eniio também: nao havia possibilidade de algumas pes sous explorarem 0 trabalho de ou tos. Assim no havia divisic das pessoas em classes sociais. Nao exis fia 2 separacio entee proprictarios ¢ trabalhadores. Todos trabalhavem © twdos possufam a terra € 0s ins umenios de trabalho. Por causa desse tipo de estruturs ecanimica, 9 exercicia do poder politica) ¢ as leis (0 juridico) cram [cites por rodos, em assem bléias tribais, ou pelo: zepresenian- tes cleitos por todos. Da mesmo odo, as idéias que todas 2s pessoas finham sobze » mundo, a vide, Deas, s valores morais ete., erau a CRIAGOES COMUNS ‘aque vinham de geragio em geracio, Vemes, assim, como a estruture econdmica condiciona 2. superestra tura, isto 6, a politica, as eis eo Com a descoberta de melhores instrumentos tecnologizs, passou a haver ura EXCEDENTE DE PRODUCAO. Aparecex entio a possibilidade de umias pessoas explorarem as outras, pela apropriacdo de seu excedente de trabalho. Surgem, entio, a CLASSES SOCIAIS: os homens passam, desde entao, & até hoje, a se dividirem entre pro- prietarios, de um Indo, ¢ trabalha- dores do outro. Assim, o excedene de producto cria condicdes para o surgimento da sociedade dividida em classes. F este conjunto de relacdes ccondmicas ctia condigoes para 0 surgimento do ESTADO. (@ organizayao politica da classe dominente) ¢ da IDEOLOGIA (a visto do mundo, valores, “modo de pensar” da classe daminante, & que ela consegus espalhar para o conjunto da socicdade), A primeira scciedade de classes foi a cscravisia, Os proprictérics eram 0s senhores, ¢ os tabalhadores cain os escravos. Pois cram os se- nihores que governavam, faziam as leis © comandavam os exércitos (Esado escravista). Eram também suas idéias @ valores que dominavam 10 conjunto da sociedade (ideologia cescravista) A mesina coisa acontecea na so- ciedade feudal, dividida entre nobres @ servos. E a mesma coisa acontece na sociedade capitalisia, dividida en: tre burgueses © proletiios. ‘Quer dizer, em todas as socieda des dividides em classes, os proprie térios exploram os. trabalhadores. E esta situecdo de proprietitios ex. ploradores ctia condicées para que eles domincm os trabalhadores, ¢ 0 Conjunto da sociedade, no que se tefere & politica © & ideologia, Vers, deste modo, como a es: trutura econdmica é a base que vai condicionar, dentro da sociedade, a superestruttira politica, juridica, ma liar © ideotogica. Nao quer dizer que a estrutnra vai determinar, do forma detalhada ¢ automities, a 38 superestrutura, minaca em riltima instinefa, isto 6, um condicionamento geral cm gran des linhas. Por exemplo: numa so iedade de economia feudal nio é viével um poder politico, juridico ¢ ideclogico da burgucsia Enfim, a estruturs econdmice de uma sociedade vai limitar apenas os espages onde os homens constroem a histétia. Dentro desies espacos, existem iniimeras possibilidades para a liberdade e 2 vontade dos homens. Hi portanto uma AUTONOMIA RELATIVA DAS SUPERESTRUTURAS, como dizia Gramsci, Mars tembém afirmava que: “Os. homens. fazem sua propria historia, mas nzo a fa- n como querem: rio a jazem sob eircunstincias de sua escolha, ¢ sine 0b aguelas com que se defrontam diretamente, legadas ¢ transmaitides elo passado”. Neste capitulo, ao tater do Es tado capitalista, estaremos verdo a ligacio da estrutura scondmica com a superestratura juridico-politica, No proximo capitulo, veremcs a ligasdo da estratura econémica com a ov: petestrutura ideoldgica, A correspondéncia entre a estru tura ccondmica da sociedade © suas superestruturas nao se da sempre de forma imediata. As veves, bd uma defasagem no tempo, que, porém, tende a ser corigida. Foi assim que, na passagem da scciedade feudal para a sociedade capitalisia, a bur guesia, em muitos lugares, jé cra a lasse de maior poder econdmico, ‘embora 0 poder politico continussse nas mios da nobreza. Esta situagio, ‘Ro sntanto, aos poucos foi mudando, com a burguesia tomando 0 poder politico, por meio de revolugées. Vimes que 2 tcoria marxista de- fende que a estrutara economica quem ‘determina a superestritura juridico-politica e a coneciéncia so- cial, Pera Marx, a andlise da socie- dade parte sempre das relactes ma teriais (econémicas) no. seu duplo aspecid de “forcas produtivas” ¢ “relacies socials de producio”, Assim, | sd essas relagdes que de. terminam (em tikima insténcia) os fenémenos politicos, jurfdicos, ideo- logicos e culturais. Por isso, tratase de método materialista. Pelo contré tio, © metodo idcalista, como 0 de Hegel, vé a atividade intelectual ¢ politica, isto &, as idéias como 0 fator dominante da histéria, inclusive das Como yemos, © “idealismo” sio ntificorfiloséficos, que @ ver com 9 us vel gar destas palavras. E neste sentido que deve ser eniendida 0 materials: 2. PARA QUE SERVE O ESTADO De inicio, podertamos dizer que © Bstado € a instituiczo pela qual o PODER éexervido dentro de uma vociedads, Seria enigo um eonjunto de pessoas © insttuigdes que dirigem a sccie- dade. Mas lopo nos. perguntamos: 2.1. ORIGEM DO ESTADO A teoria (visio global) qué vimes ao item anterior, de que 2 cetrutuca econdmica é a base da superestru- ‘ura politics jurfdica nos encaminha pata algumas respostas. Lembremos aye, de acordo com ela, os que de 2 poder econdmico, tens tn sus smaos também o pater pollco, Em ume sociedade sem classes, somo a primitiva, 0 poder € exer. sido por todos, cu direamente em aseemblcis, ou através de represer- tantes eleitos, como cs cansethas © os caciques. Nestas tsbos, o poder, de fato, se origina do conjunio da sociedade, ¢ € exercido em deneficio de toda cla As instancias de poder, ‘onde se tomam as decisées que v0 afelar a todos, nio estio nas mor de uma paresis da sociedade, mas do conjunto dela. Por isso, Sank demas téenices, quando @ questio € politica, Acusamos, as vezes, cer: tas autoridades de incompeténcia ou omissio, quando, pelo contrério, co- tao se cinpenhando 2 fundo, ¢ com ‘muita competéncia, para encaminbsr 05 problemas... de acordo com as convenigncias da classe domtinante, que eles) representam. Na \ntativa de conciliar os inte resses dos diferentes sotores da bur- guesia, alguns destes setores acabam sendo favorecidos © outros prejudi- cados pelo Estado. Exemplos do Brasil p6s64: o burgucsia agréria freqientemente tem sido prejudica- da, enquanto 2 burguesia financeira tem sido favorecida: a3 grandes em- presas so bencficiadas pelo Estado, enquanto as médias c, mais ainda, as pequenss, sio menos favorecidas (apesar dos discursos em contratic), Enquanto os negécios da burgue- sia como um todo vio bem, as con ttadigtes entre seus varios setores nao tm muita importéncia, como foi, por exemplo, na época do chamado “milagre brasileiro”. Mes quando| chega_a crise econémica, ada setor da burguesia quer salvar 6 seu Tpdo. Af comecam as discor- dincias |e se faz mais necessdtio a agio mbdiadora do Estado. Apesar de que! os rachas da burguesia se refleten| também no poder do Es- tado. Hi’, no entanto, um esforco deste para evitar, 0 quanto possivel, ae divisies dentro da burgucsia, ¢ fazer com que sejam os trabalhado- a pagar o preco maior da crise 3. COMO DOMINA 0 ESTADO BURGUES 3.1. A TEORIA DA RAPOSA E DO LEAO —— ComenRMENTO i) como © Estado cumpre sua funcio de dirigir 0 conjunto da sociedade, de acordo com os interesses da classe dominanie? Fundamentalmenie, por dois meios: conyencimento ¢ coersao. 16 dizie Maquiavel, no século XVI, que © prineipe deve ser igual 2 uma raposa muito esperta e, ao mesmo tempo, igual a um ledo muito forte. Ou que deve ser igual a um centan- , figura lendétia grega, que tem cabeca de homem, mas corpo e pe- fas de cavalo. Enfim, 0 principe, isto € a pessoa, a claise social ox a institui¢a0 que tem 0 poder, para se manter nele, tendo em vista a de- fesa de imteresses pessoais ou gru- pais, deve ter um duplo tipo de Preocupacao. 1.) Convencer © conjunto da so- ciedade de que SEU PODER E LEGITIMO, isto 6, eonseguir um certo consenso, umna certa accitacdo de que o poder € exercido para o bem comum. No minimo, de que © poder atual é um mal menor do que algum outro que pudesse vir 2 substitutlo. 24) Possuir MBIOS DE DIssUASaO Para que o poder no seja contesta- do, isto €, convencer a nao contestar © poder, por ameaca de retaliecio, ©, no caso de vir a ser, utilizar meios coercitivos para reprimir os contes- fadores pela forga, Entio, 0 Fstado, como instituiggo politica da classe dominante, precisa, primeiramente, agic de forma intelt. gene para que as classes subordina- das acsitem, em boa paz, a HEGEMONIA desta classe dominant. Uma forma geralmente eficaz de se conseguir esta legitimidade ¢ dar + impresséio de que um certo gover- no da classe domninante foi escolhido por todas as classes, através de slaigser politicas. Também a cooptt. gio de cerios setores das classes su. bordinedas € importante para esta a legitimagic. As vezes, cooptam-se classes sociais inteiras, pela conces- slo de “migalhes do banquete”. Outra forma de convencimento é @ que se faz através da dominario ideoldgica. Difundem se, pela csco- la, meios de comunicaczo, religibes ot, idéias que interessam a conti nuidade da classe dominante e do seu Estado, Estas questcs idcolégi- 3.2. AS LEIS cas sero estudadas no préximo ca Pitulo. Fsté claro que o Estado burgués usa as duas formas de domin Prefore goralmenie se manter pela legitimidade ¢ convencimento. Quan- do, porém, isto nao é mais possivel, usa todo seu arsenal repressive pars assegurer sua continuidade. E 0 que acontece com os Estados burgueses TSA aGE Meine SRoMMS | leas bo eue comcast, 42 NAO esceeunm: vot democriticos que, ao pereeber que os jteresses da burguesia podem ser atingidos, ento nfo hesitam: tiram a méscara e impoem a dita: 4ura militer, Gerelmenie, 9 Estado burgués splica, simuliancamente, em sua re- celta de dominagdo, uma pitada de convencimento sorridente ¢ uma pi- fada de ameacas e coersio ofotive. Falames em arsenal repressive. Mas, em que consiste ele? Em primeiro lugar, das LEIS. As Itis sio feitas pelo Parlamento, © também, em alguns paises como 0 Brasil, por decretoseis do goyerno. E sua aplicaczo € julgada pelo poder judicigrio. Afirmase que as leis séo feitas or representanies de todos, em be neficio de todos, © para sertm cum- pridas igualmente por todos. Entre. tanto, como instrumento do Estado burgués, a lei vai regular 0 conjunto da sociedade, DE ACORDO com os INTERESSES DA BURGUESIA. E evidente que o carter classista de Joi nio pode ser proclamado for- malmente. Mas a observacio da realidede social, de hoje cu do pas- sado, nos mostra que a alirmacio da origem, funcao e aplicacio ‘da Jel, como algo comunt, serve apenas pata encobrir a dominaedo de clas- se ¢ fexer de Jei um mit inguestionavel. De fato, nao sto os trabalhadores que elaboram os leis na sociedade burguesa. Quanto a seus objetivos, 48 afirmacées genéricas de igualdade sho negadas nas determiaagées con cretes das leis. E em relaguo a sua eplicagio, sebemos que o jtlgamento dos acusados de burguesia é tem diferente do julgamento dos acusa- dos do proletariado. As cadeias e os esquadrées da morte existem de fato s6 para os pobres. Enfim, a realidade nos mostra que, som igual dade econémica, 2 t50. decantada “igualdade juridics” 66 existe no pagel. Para evitar que os trabalhadores se liberiem da exploracio econémica © dominio politico da burguesia, além da Icgislacdio mais geral, a que nos referimos scima, no Brasil, a burguesia elaborow ‘também uma LEGISLAGAO TRABALHISTA specifics. Isto foi feito, de forma organica, no primeira governo de Getto Vargas. Assim, a0 lado de algumas peque- ‘ass concessses, cercouse 2 clasce trabelhadora com inimeras leis, que procaram impedir, de todos os mo dos, a sua constientizacio, organiza- 0 ¢ mobilizarao. Jé vimos que o Estado, nas fates inicicis do cepi talismo, nfo podia intervir nas rela s5es entre psteSev @ trabalhadores. Tais relagées cram mgidas apenas pelas duas paries, através do livre contrato de trabalho. Depois, 0 Es- tado burguts, deixando de Iado os “eagradoz principio:” da libecdad= burguesa, resolven se meter direts menie entre pauGes © wabalhado- res... para proteger 0s patroes, CIT, esieuiura sindical atrelada, leis, 3.3. AS FORCAS ARMADAS E A POLICIA Para que as leis tenham eficdcia, © Estado precisa ter mois para oni. ‘gic seu cumprimento ¢ punir os in- fratores. E af que aparece o outro elemento do arsenal repressivo a que nos referim: AS ORCAS ARMADAS E POLICIAIS. As forges armadas (exército, nina e aeronautica) tem dois obje- tivos: assegurar a defese do pais contra possiveis ataques vindos de cnagéee cstrangciras © garantir 4 of- dem interna. Uma breve consulta & historia do Brasil nos mostra que foram poucas as ves em que as forcas armadas guemrearam contra ‘outras nagéies. Pelo contratio, sf0 inémera: 2 intervengSea des forcas atmadas para garantir a “ordem © @ seguranga intema™. Ora, garentir 0 qué contra quem? Os fatos histé- Hicos nos meetran que oe ata de farantir @ continuidade da explora (io ¢ dominacto burguesa, contra os interesses econdmicas ¢ politicos dos trabalhadores. Este ¢ © sentido do novo conceit ampliads de "segs: ranga nacional”, screzcido da deters contra a “infiltragdo comuaista” que isla da Uniao Sovietca, Cuba etc. ‘As foreas armadas seryiram, du- rants séculos, para reprimir os esc vos rebeldes, atacar_o: quilombes , depois, reprimir revoltas popula res comp a de Canudas. Também junto com a policia, agiram muitas vvez#s contra 0 movimento operdto, Por fim, em 1964, deram um golpe do Evtado e assumiram diretamente © poder. Para defeuder us interesses dds burguesia, as forcas armadas r= sobre politica salarial «= emprego, FGTS ete,, sao manifestagtes da enc surrada Jegclativa com que of tea balhedores tm sido preseateados pelos vatios gorernos Durgueses do Brasil ‘As conseatigneias prétioss da apli casio da lei som sido, entre outraa, 48 intorvongsee diretab ou indirecas nos sindicstos (Gos tabalhadores, claro), a decretacao da ilegalidade de quase todes as greves et. primiram, através dos métodos mais Dratsis, come a tortura © ¢ astar- sinato, todos os que luravam pelos imeresies da classe trabalhadora. Devese notar que as bases das forcas anmadss e da policia, como os soldados © sargentes, so origins. ive da clase trobalhadare. Através do respeito & HIBRARQUIA ¢ 2 DISCIPLINA, cles so condicionados simplesment 2 cumprir ardens, sem nada questio- nner. Gragar a isco, a burguetia pods reprimir wabalhadores, usando ow twos trabalhadores. Vimnos, assim, em grandes finhas, 08 instrumentos politicos, juridicos © militares que © Estedo burgués ‘usa para gerantir a explorasio (¢ ev peresploracdo) dos capitalistas sobre 6 trabaihadores, 4. A QUESTAO DA ESTATIZACAO DA ECONOMIA Diante da afirmacio de que o Estado joterfere para prejudicar os ‘trabalhadores,.-alguas burgueses ce adiantum yara dizer que o Eotado tem também prejudicads as empre sérlos particilzres, intrometendo-ce na livee empresa ¢ se tomendo ele ‘mesmo um graad= empresirio (esta- tizapdo da economia). E de se notar, porem, gue estas intromiavSee do stad capitaliga na economia ‘comesaram 2 se exercer depois a crise tconémica do capitalismo de 1929, © fiveram jastamente como objetivo tentar avitar es crises ov. pelo mencs, diminuic seus efeitos, em beneficio do conjurto dos capi- ‘alist. Segundo slguns burueses, como. fs representados pelo jornal *O Fs 3 tado de S. Paulo”, « intromissio do Estado na economia brasileira fol ‘ao grande que tomou o Brasil um pais socializante ou semi-socialista, © nao mais capitalista, E verdade que 0 Estado brasileiro interfere na economia, regulamer- tando 0 funcionamento da livre em Presa, ¢ também investindo muito na economia. Esia interferéncia, no en- tanto, ndo tem nada de socialista (o que suporia um Estado dos tra. balhadores). Pelo contrétio, tatase do Estado burgeés que cumpre sua fungio de defender os interesses co- muns do conjunto da burguesia Para isto, sle procura, por um lado, regulamentar as _atividades ceonomicas pata harmonizé-las e tentar evitar maiores problemas no funcionamento da cconomia capita. lista. E por outro lado, 0 Estado 5. O ESTADO A SERVICO DO IMPERIALISMO Nos paises subdesenvolvidos © de- Pendentes, como € @ caso do Bras © Estado iio serve 36 aos interesses de burguesiz local, como também, e Principalmente, aos interesses do ¢a- pital monopolista, isto é, do. impe- rialiamo econdmieo, Nestes paises. 0 Estado se torna © grande colaborador do. capital 44 monopolista © 0 principal promoter ga deyendéncia tconémica. Ele as segura a explorecio da mais-valia, produzida pelos trabalhadores, tanto £0 capital nacional, como, mais zin- da, a capital internacional, defen cendo-os da Tuta da classe trabo Thadore, F sabido que a dependéncia cco investe em setores bisicos da econo- mia, setores que necessitam de gran- de capital © que sao de retorno de morado, como ‘usinas sideringicas, bidrelétricas, wansportes, petroqui, mica etc. Estas empresas. estatais sjudam 0 conjunto da economia bus guese_a funcionar, forneccndo-Thes matérios-primas, energia, transporte ee,, ¢ ajudando a evitar a queda da taxa de Iucro da burgussia. nomica leva @ dependéncia politica, além de levar também & dependéncia cultural © ideolégica. Assim, 0 Es tado brasileiro pés-64, 20 impor de vez 0 “modelo de desenvolvimento associado”, atrela também decidida- mente a politica brasileira, interna e externa, & politica dos paises impe Halistas © golpe de 1964, do ponto de vista politico, teve justemente estes objetivos: 1) restaurar a. correspondéncia enire poder econdmico e poder po Iitico, em parte: separados. nos iit mos anos de democracia populist 2.9 afastar 0 perigo de que che fesse 20 poder ou a esquerda, ou ‘gTupos nacionalistas adeptos de uma Politica extema independente; 3.) reintegrar plenamente 0 Bra. sil no. sistema capitalists mundial, com base na douirina geopolitica da “Civilizagio Ocidental”, e de acorio com a estratégia ¢ a hegemonia dos Estados Unidos. Depeis da segunda guerra mun isl, os Estedos Unidos tém sido, entre as poténcias imperialistas, 4 cae cultural avasseladora, os Est dos Unidos tém tido uma politice altamente intervencionista, finan- ciando © envolvendo-se ditctamente om golpes de Estado, invasoes etc. Assim foi, por exemplo, no Brasil de 1964, na Bolivia, no Chile, entinua sendo hoje na Nicardewa. em Bl Salvador, Granada etc. 6, A LUTA POLITICA DOS TRABALHADORES As Tatas ccondmicas dos trabalha- dores logo mostraram que era nece: sitio se orgenizar também politica. mente, As agdes do Estado contra es sindicalos, as greves etc. ensina ram & classe trebalhadora que nio hastava a Iuta econémica, pois o Estado s¢ colocava invariavelmente 0 lado dos patrdes. Ou melhor, que © Estado £ 0 Estado dos patries. Ors, tal constatacio exigla que a uta dos trabathadores fosse nio <6 elas reivindicactes imediatas, como também PELO FIM DO ESTADO CAPITALISTA. J4 no século passado a luta pol tice dos trabalhadores se manifesta. va de vérias formas. Os anarguistas queriam acabar com 0 Estado burgués, porém, fun damentalmente, a partir de ‘lutas econdmicas, na aeao diseta contra 0s patries. Eles acreditavam que a grands acma para a derrubada do poder politico da burgucsia era a greve geral. Derrubado o Estado burzuts, imedistamente se instalaria uma sociedade sem classes c, por tanto, sem Estado, Os sovialistas, pelo contrésio, achavam que para Jutar contra © poder politico da burguesia era ne Cessirio que 0 proletariado se orga- nizasse também politicamente. As idéias de Marx vieram reforgar este ponto de vista. A Primeira Interna Gional, que cle dirigin por varios anos, incentivava tanto as Tutas ¢co- némicas como as lutas politicas dos trabathadores. Marz, porém, nio chegou a clabo- rar uma teorie sobre o partido poli- tico da classe trabalhadora. No en- tanto. entre o século pasado e o stual, estes partidos foram surgindo os vétios paises da Europa e tam- bem nos Estados Unidos. com diver- sos memes. Eram basicamente de Indicagées bibliograticas para este capitulo: 1 — MARX, Karl. Prefacio da Contribuicéo critica da dois tipos: partidos de massa, aber tos, com grande ntimero de filiados, © regidos por ampla democracia in: terna; € partidos de quadros, que se restringiam 2 miliantes altamente Preparados, as vezes profissionats, ¢ ‘que se tegiam pelo CENTRALISMO DEMOCRATICO. Centralismo democritico € um método pelo qual na fase de dic cussio de uma proposta, deve haver a mais ampla DEMOCRACIA para a defesa das mais diferentes teses: mas feita a votacio, a posigao majoritiria deve ser assumida © de fendida por todos, de forma tinica © centralizada, Os virios partidos da classe tra balhadora atuavam dentro ¢a legali dade, ¢ até mesmo dentro da politica institucional e parlamentar, quando condigoes para isto; ¢ atuavam na clandestinidade, quando o Estado burgués 05 reprimia. Em condigdes de clandestinidede, os partidos de quadres inham, evidentemente, me- thores condigces de sobrevivéncia © atuacio, Para os partidos socialistas, tra- tase de orgenizar a classe trabalha- dora para derubar o Estado burgués @ substitu-lo por um Estado pro- Tetério como FASE TRANSITORIA S20 Paulo, Editora Martins Fontes, 1972. LENIN, Viadimi S20 Paulo, Hucitec, 1983. |. O estado 2 2 revolueao. ara ce chegar a uma sevicdade sem classes ¢ sem Estado. Alguns dos partidos nascidos da classe trabalhadora acabaram por fazer uma revisto desta linha (dai serem chamados de revisionisias), ¢ adotaram uma politica de evoluggo, © no de revolueao. Isto é, se. pro. Puseram a conseguir melhoriat para a classe trabalhadora, dentro da propria sociedade capitalista, adian do 0 surgimenio do socialismo para algum futuro disiante. E 0 caso, em geral, doe partidos “socialistas”, “soclais-democratas” ¢ “trabalhistas”™ a Europa atual A uta tanto cccndmica como po- litica da classe trabalhadora teve, desde 0 inicio, uma perspectiva in ternacionalista. O apclo: “Trabalha dotes do mundo inteiro, univos!” é de Marx em 1848. Depois da Revo lugso Russa de 1917 passow a haver ua divisdo entre os que continua- sam enfatizando 0 cardter internacio. nal desta Tuta (principalmente os “trotskistes”) © 08 que, como Stalin, defendiam a teotia do “socialismo em um $5 pais”. Nos paises dependentes, « luta dos partidos da classe trebalhadora tem adguitido também um cardter de Tutaantiimperialista, fato ficil de entendermos, depois Uo que estuda mos no capitulo anterior. economia politica, V - CAPITALIS MO E IDEOLOGIA 1. Esconder, justificar, universalizar e fragmentar 2. 3. Os principios liberais 4. Os instrumentos da dominacao ideolégica A ideologia a servico do imperialismo 5. A luta ideolégica dos trabalhadores Dissemes. 20 capftulo anterior, que a estrutura econdmica da so ciedade condiciona a superestrutura jutidicopotitica e também sua cons- eidncia social, seu modo de pensar. Nes sociedades primitivas, assim como nio hé Estado, também nzo hé ideologia, porque ainda nfo exisiem classes sociais. Mas, nas £0 ciedades divididas em classes, vai set a ideotogia da classe explorado- 1. ESCONDER, JUSTIF! ra que vai predominar na conscign- cia. social. Ao explorar os trabalhadores, os proprietétios criem também condi- goes para dominé-los, no campo da politica ¢ da ideologia. Assim, na sociedade burguesa, as idéias a0 ser condicionadas pelas relagdes. de producio ¢ de propricdade burguc- 3s, Mas, afinal, o que € a ideologia? ICAR, UNIVERSALIZAR E FRAGMENTAR Assim como acontece com o Es- tado, a ideologia também mio se mostra como ela realmente &, Pelo contrério, 2s idGiac caracteristicas de uma sociedade de classes costu- ‘mam se apresentar como NEUTRAS. Quer dizer que elas nio estariam favorecendo nenhuma classe social em particular, mes estariam acima das classes. Mais ainda: as idéias que constituem a visio de mundo de uma sociedade seriam realida- des que nfo tém nada a ver com a divisdo da sociedade em classes sociais. Até mesmo a existincia de clas ses soviais é, muilas vezcs, negada pela burguesia, Como classe con- servadora, que luta pela permanén- 46 cia de scu poder © privilégios, a burguesia procura difundir que so- mes todos cidadios, com iguais di- teitos © devercs. Jogando uma cor tina de fumaga em frente da real divisio da sociedade em classes, @ burguesis tenta evitar que o¢ ox plorados tomem consciéncia desta Tealidade. Pois, sem consciéncia da exploracao © dominagio, os tra- balhsdores nio tém condigies de se organizar para contestar a hegemo- nia burguesa. Enfim, a burguesia entende que “quem sabe mais, luta melhor!” Assim, a ideologie dominante precisa ESCONDER, como a sociedade, de fato, se orga- niza © funciona.’ Precisa ‘esconder Para que serve a ideologia? De inicio, a gente deve observar que, em qualquer sociedede, existe tum conjunto de idsias pelas quais as pessoas cntendem o mundo em que vivem. Mes por que esta vi- sao de mundo é de um jeito, nio de outro? A quem interesca expli cet 0 mundo por certas idéias? Es tes interesses aparecem claramente, ‘ow so mascarados? as verdadeiras causas da pobreza ¢ das injusticas. E precisa esconder também a jungio classista da pro- pria ideologia: isto & precisa “es- conder que esta escondendo”. Mas além de tentar mascarar a lidads social ¢ a si mesma, a ideologia dominante procura JUSTIFICAR ‘© mundo em que vivemos. Para a classe dominante € preziso que t0- dos, ou pelo menos a maiortia, acei tem a sociedade do jeito que ela 6, sem nenhuma visio critica. As sociedades marcadas pelo do minio da burguesia seriam essen- cialmente boas e justas, Mais ain- da: seriam as tinicas formas pos- siveis de os homens se organiza rem para poder viver neste mundo. Também, antes do capitalismo, as ideologies do excravismo © do feudalismo sempre tentaram jus car a ordem social Na época do cccraviemo, dizia-se qu cra a propria natureza e tam- bem 0 destino que fazia com que alguns nascessem para ser livres © outros para scr escravos. Entéo, como em um organismo, cada ér- 0 deve exetcer 2 sus prépria fun- so, sem rebeldias, assin também, na socicdade, cada qual deve se coaformar com aquilo que a natu- a € 0 destino The determinaram ‘O bom para © eccravo & set es. eravo, © o bom para o senhor € ser senhor”, é que diziam. Nas sociedades feudais, os no- bres, ¢ principalmente o clero, di- fundiram, entre os servos, idgias se- methantes. Mas, em ver de justifi- carem as diferencas 66 pela nature za c~pelo destino, diziam que 0 mundo era assim pela yontade de Deus, Entdo, 05 servos deveriam se conformar com os males desta vi da c cspotar a felicidade depois da morte, no cu. Na sociedade atual, a burguesia, além de usar o3 argumenios. ante: lores, também afirma que somos livres ¢ iguais. Por isso, todos po- dem vencer na vide. Basta traba- Thar, cstudar, ser esperto © ter um pouco de sorte, F importante notar que a classe dominante procura esconder e justi- ficar a realidade nao <6 diante des explorados, como. também diante de si mesma. Deste modo, ela bus a trangiilizar sua conseincia fren- te a tantas desgracas sociais que existem nas sociedades divididas em classes, ‘Vemos, por tudo iss0, que a ideo- logia 6 tm instrumento das classes dominantes para assegurar a conte nuldade de seu dominio, pelo con- trole do modo de pensér do con- junto da sociedade. E, portanto, um instrumento usado em proveito de um grupo particular dentro da so- ciedade, Mas 0 segredo da ideologia esti em que, sendo um conjunto de ideias de acordo com os interesses de uma dlasse PARTICULAR, ela se apresenta como 0 modo de pensar. UNICO E UNIVERSAL. Marx dizia que “as idéies domi- nantes de uma época sempre foram as idfias da classe dominante”. As. sim, sem perccbermos, existem ‘mui- tas idéias que temos enfiadas na cabeca, como se fossem nossas, mas que, na realidade, sio formas de pensar que foram’ sendo introduzi- das pelas classes dominantes, atra vés dos mecanismot que elas con- trolam. A ideologia burguesa tenta com veneer todd a sociedade de que o finico modo de orgonizar a produ- $0, de vier ¢ de pensar € € sem pre joi este, que € set. E tenta fa 2er passar 0s seus interesses como se fescem 03 interesses de sods Para conseguir este objetivo, a ideologia burguesa coopera para gue os trabalhadores tenham uma VISAO FRAGMENTADA do mundo, isto €, no tenham wma visio ce TOTALIDADE. Esta visio fragmentada, que @ exploragio © a dominacio da burguesia, se di em vérios niveis Vejames alguns exemplos. Em afvel de processo produtivo, interessa & burguesia que os traba. thadores tenham uma visio irag. mentada deste processo, no que sio ajudados pela divisio do trabalho dentro das empresas © mesmo. on- fe as empresas. Uma visdo de to telidade sobre © processo de produ- $40 das mercadorias accharia por desmescarar, diante dos trabalhado- res, 0 mecanismo de exploracao pelo qual 0s capitalistas extraem a mais-valia. O trabalhador percete ia assim que o selétio no paga toda sua fora de trabalho, mas apenas uma parte. Perceberia que € seu trabalho que produz, ¢ no 0 capital. Além de tomar dispensével ¢ trabalho intelectual da burguesia de coordenar 0 provesso. produtiv. ‘Uma visio néo-fragmentada do proceso de producao ¢ circulacso das mercadorias jogaria por terra o gue se chema de FETICHISMO DA MERCADORIA, pois o valor desta seria entendido Pelo seu fundamento: a forca de trabalho que a cria. Astim, 9 mer cadoria, especialmente a mercado- tia dinbetro, perderia sua aparén- cia de coisa independente, com vi da propria © que subsiete os ho- tens 4 sua dominacdo, em vez de ser por eles submetida Em outro nivel, € importante para a dominacdao capitalista que os trabslhadores no percebem as moitas relagdes que existem entre a erganizacio ecorbmica da socieda de, 0 poder politico, 0 mundo ideo Wgico © cultural etc. Quer direr gue a dominscdo burguess recida pela fragmentaedo que o tra- balhador faz, por exemplo, entre 0 que acontece na fabrics, 0 que acontece na politica c os programas de televisdo, Assim eles evitam que © povo pense © analise sobre 0 que realmente acontece na sociedade. Evitase que os exploredos possam dar sua opinido, com conhecimento da situacdo, sobre as decisses que 8 poderosas tomam, ¢ que afetam toda a soctedade. Um ostto nivel em que 2 visao de totalidade € mais dificil ainda para 0 trabalhador 6 0 sével histé- rico, Interessa 2 burguesia que 0 ‘abalhador ndo saiba que antes do capitalismo houve outtas sociede: des, pois podcria assim perceber que capitalismo ngo € eterno: nasceu_um dia, portento também pode morrer ¢ ser substituido por um outro tipo de sociedade, Inte- ressa 2 burguesia que o trabalh- dor no perceba como os fatos pas: sados esto influenciando 0 pre- sente. Para ela, & preciso, 0 mais possivel, que o trabalhador no te- nha consciGncia histérica, mas ache que as coisas sempre foram ¢ sem- pre sero do jeito que se apresen. tam hoje. Alids, a propria burguc- sia se convence, na pritica, de que “havia histéria, mas, agora, nao hé 2. OS INSTRUMENTOS DA DOMINACAO IDEOLOGICA Por quais meios a burguesia im- pie sua ideologia? Ela imp6e sua ideologia pelo CONTROL de varios instromentes que sio de sua propriedade, ou que ela finan- cia, on que sio do Estado burgués, ov, pelo menos, que por pessoas ficis a ela. Entre os vérios INSTRUMENTOS ane a classe bu nipular a consciéncia soc “nos: a escola, do matemal & Univer: sidade; — 08 meios de comunicagéo de massa, como a televisio, 0 ridio, fos jornaic, a5 revistas, 0 cinema eles toda a propaganda comercial, jineentivando 0 consumismo, © @ propagarda cstatal, como a que di- vulga as proezas das Forcas Arma. das, as grandes obras do governo ate. — as religiges conservadoras, que levam as pessoas a pensar 96 10 além, softendo no aquém: 08 esportes, quando sio usados politicamente para distrair 0 povo de seus problemas: cs ‘0s prowrbios populares, como quem nasccu pra tostio, nunca chega a duzentos réis”; — 4 loteria etc Através destes © de outros meios, 2 classe burguesa luta ideologica: mente por seus interesses. Assim, difunde também pare os tabalha- dores que as greves sao obra de baderneiros; que foram cles que provoraram a crite econémicas que 08 brasileiros tém indole pacifica; e coisas do género. 48 Os instrumentos que citames di: fundem também, geralmentc em do- ses homeopiticas ¢ de forma dift- sa, 03 valores fundamentais da burgucsie, chamados também de principios liberais: individualismo. competicao, liberdade, propriedade, igualdade © democracia, 3. OS PRINCIPIOS LIBERAIS © INDIVIDUALISMO € © principio liberal fundamental, que vei iniluenciar todos os outros. Assim, 0 homem é, por natureza, individuo (0 que nfo se divie) portanto, naturalmente egoista. Ele a6 ze xeleciona com outros eres, humanos por conveniéncia, através de uma especie de “contrat so. cist”. E légico, portanto, que cada tum se preocupe, acima de tudo, em conseguie vantagens pata si mesmo, Por isso pontame saidas_indivi- dualisias para o problema de cada trabalhador, iludindoo com 4 pos sibilidade da ascensio social, de gankar na loteria, ow entao incen tivando.o a ce tomer um “paca ‘s1c0” dos pats A COMPETICAQ, decors imediataments do. indivi dualisme. Para vencer na vide € preciso. competir (0 que implica Gerrotar os ounres e fazélos de de graus). E vencer na vida significa, aicima de tudo, conseguir uma situa econdmica yantajoca, Mas, além da competicgo econdmica direta, bi também a competigdo entre 9 ho- mem ¢ a mulher (machismo e ferni- nismo); a competisgo. racial. que acompanhs o preccmeeito contre 0: negros ete; a competigio com 0 hhomem do campo, chamado de cal pita, ‘A LIBERDADE que @ burguesia difunde ¢, em pri meiro lugar, a liberdade de empre- sa, a liberdade de dispor do seu capital particular, de acorlo com seus interesses, aplicando-o a0 ri- mo que julga mais lucrativo, © ex plorando a fora de trabalho do proletirio, que se vende “‘livremen- fe". Essa becdade de empresa é jade fordemeatal, pera a iburguesi, sem a qual todas a3 ov- tras liberdades séo Impossiveis. Por ‘isso, 2 burguesia diz que onde nao existe a liberdade de empresa, co- Selmer pale caller’ tone sooate ae) WS iberads 8 cor O'seu mundo de Mundo Livre, © outra principio ¢ o de PROPRIEDADE ‘Mas, como nota Marx, néo se trata dia propriedade em geval, mas. da propriedade burgusss, jete 6, da propriedade do capital. Na ratide de, esa propriedage sé pole exit tir para 3 minora dos burguese, com a condi¢do de que a maioria, aie So es trabalhadores, no t ham propriedads nenhutsa, 0 na0 ser bun forga. de trabalho, Repare Se como, nas groves, o Estalo vem fem defeta da propriedade da bur sues, ¢ 2 coloca contra a propre 4, A IDEOLOGIA A SERVICO DO IMPERIALISMO A. ideologia burguesa, com as ccoracteristicas que vimes. esti pre- gente cm todo: os paises capitalie, fae do mundo. No catanto, nus pafscs depoa denies, ela cumpre também a fun- cio de servir, néo 6 3 barguesia Toeal, como também ao capital in perialista. Assim 2 dependSacia econdmica se prolonga ni s6 na dade do trabalhador, que é oun forga de cabalho. A IGUALDADE que 9 burguesia defeade € a igual dade jurfiies. Todos sto iguais peramt: 2 lei. J4 vimos, no capitulo anterior, como a igualdade jurid ca, sem a igualdade econémica, pursmente formal. Censia no papel, mas no existe na pritica, Aliée, no dizwdia, o que se diz € outra ccisa: que exisiem os de cima e cs debaixo. E que é melhor se confor- mar, tespeitando © obedezendo acs de cima, como os patries, os che fos, ap utoridades ote ‘A DEMOCRACIA 6 a representativa, ¢ se recume, na maioria das vezes, om poder exco- Ther entre ws varios candidatos da burguesia, para representar © povo nas instineias do govero ¢ parle dependéncia politica, coma tam. bem na dependéncia Weoligica © cultural, Ausvés do controle dos instrw mentos que vimios, especialmente 49 dos meios de comunieario de mas- seo da propageada comercial, o imperialismo impoe a populacao dos pafses dependentes uma menta- Tidade dependente. Lropée seus va Tores, seu modo de vida, seu. con- sumiismo. Cria atificialmente pos- tos miusicais, modas etc. @ ponto de provocar no povo, especialmente ovens, verdadeird desprezo pelos manifestacées da cultura na- cional. No Brasil, depois da segunda guerra mundial, © acompantiando © aumento da dependéncia econd- mica ¢ polities, passa a predeminar a influéncia ideclégica ¢ cultural dos Fsiados Unidos. Esta anfluén- cia aumenta muito mais depois do golpe militar de 1964, expalhando “se por todas as partes do. pais. 5. A LUTA IDEOLOGICA DOS TRABALHADORES Embora “as idéias dominantes de uma époce” sejem as idéias da classe dominante, sempre howve, por parte de grupos de tabalha dores, MOVIMENTOS DE RESISTENCIA, no campo da ideologia © da cul 50 (ura. Moviinentos de resisténcia que so deram primeiro de forma espon- tinea, © depois recpaldados em vi ses tobricas mais elaboradas, co- mo de Ma ‘outros. Con 2 compel 3 trabathadorcs valorizavam a solida sledade ¢ 0 companheirismo, E for- malavam também de outro modo 9s principios de igualdade, liberda- de © democracia. ‘Tanto no pasado como no pre- sente, os movimentos de resists cia ideoiSgica © cultural dos traba- ‘hadotes foram sempre feitos com instruments modestos. O teatro, 2 misica, dangas, jomais, cinema ¢ algumas experiéncias em escolas Zz tém servido, a duras penas, como oy instrumentos com que os explora. Use IS, dos resistem 2 dominacdo ideolégi- ca da burguesia. ‘A tomads do poder pelos traba- Jhadores supSe um actmulo de for gas que ngo € s6 politico, como também ideolégico e cultural. Um passo importante nest sentido ¢ dado quando os trabalhadores vio pereebendo que.a Iuta de cada um néo € individual. mas que se trata de uma LUTA DE CLASSES. Lata que envolve 0 proletariado, que € explorado, no sew conjunio, Por outra classe, a burguesia. Neste processo, 0 proletariade deixa de scr simplesmente uma CLASSE EM SI, © passa a ser também uma CLASSE PARA SI. Isto 6 0s trabalhadores nfo for: a ee mam wma classe 96 porgue tim uma situayo © inteiesses iguais (classe em si), como também por- que ma consciducia desta situa. ‘oe interesses, inclusive 0 de con- seguir a hegemonia dentro da. so- ciedade (classe. para si). 0 trabalhador é um REVOLTADO quando 0 Estado proleté tig € wansitrio, também & transi teria ideologia socialista, que de- saparcce, enquanto ideologia. domi- nnante, 20 se atingir uma sociedade pis socialita, Para a divulgscio dos novos var lores da sociedade socials usam- -se inmeros instrumentos: a escola, os meios de comunicacso de massa, propaganda, a arte, 0 esporte et= Mas a conscigacia socialise, além de se formar com noves valores, nnecessits também superar a frag. menlorio que herdou da antiga 20 ciedade burgucsa, buscando uma VISAO DE TOTALIDADE. Visio de twtalidade no proceeio econdmico de produsio ¢ distribu cio, supcrands 0 fetichimo das mercadorias (especialmente do naciro), © outras alienacSes. Visio de totalidade pelo entendimento da articulaczo entre o presente © 0 pe edo; entte a economia, a politica © a idvologia; entre © nacional ¢ 0 internacional; entre 9 manual ¢ 0 inteleetual; entre 0 campo ¢ a d- dade ete. A onganizacie socislista da eo. ciedade cre um grende espayo para as MANIFESTACOES | CUL-TURAIS. ‘Todos passam a ter actseo & cultu- ra universal, gue deixa de ser pie vilégio de ums minoria, como ro 5. O PROJETO DE UMA SOCIEDADE POS-SOCIALISTA Dissemos que 0 sosialicmo € uma sociedade transitéria, De fato, tra- tase de uma fase intermediaria eatre © cepitalismo ¢ uma sociedads sem lasses © sem Estado. © socialismo 5.1. A PALAVRA “COMUNISMO” Em prineiso lugar, @ burpuosia emprestou 2 exte termo significadas absolutament> alheios a ele, com 0 claro objetive dc tomitlo assustador. Ulizcwso, wssim, como instruments dle Inia ideol6gica centea os trabe= Ihadores, « fim de néo perder seus privilegios de classe exploradora. Usou verdadsiro tervorismo deol’ ico, divulgando a grosesira imagem do comunicts “comedor de crianci= thas”. Amedrontou a8. pessoas, fi zeadoas crer que, no comunisme, © comum seria a miséria, a opressio © a falta do literdade. Ou, credo, a desordem, o desrespeito, « barbério, enfin, o cacs. Espilhow ainda que © comunisma coletivizaria também 8 bens de consumo, e até mesmo 0s objetas de use pessoal; @ que as criangao teriem arvancadas da fam lis pelo “Estado” comunista, E, aime 62 € eatio apenas um meio pare se chegar a esta nova sociedade, atra- vés de um proceiso gradual, 4 que ‘go seris possivel pasrar diretamente do capitalismo até ela. capitaliamo, Per outro lede, a cul- tura nacional © popular & valoriza- da © inceativada. Pelo contrério, altura imperialists, imposta a0 po- ‘yo pelos antigos dominadores dos tmeios de comunicagio, teré de desapatecer. De modo semeihante 20 campo da politics, a sociedade socialisa deve comportar amplo PLURALISMO [DEOLOGICO E CULTURAL, dentro dos limites da_organizecio socialista da sociedade. Assim, ex Sluingo-se a visio burguesa (pelos ‘mesmos motives vistos no item an- {erior), todos, inclusive as minoriae, terao 2 mais ample liberdade dc manifester cuss idgias e praticar suas {ilusofias, cigncles, religises, artes etc, Marx chamava,a esta sociedade péssocislista de “eomunisme”. Mas © to corrente desta palavra teouxe alguns problem: de deturpasge do seu significado. da, que as mulheres também seriam coletivizades sexualmente, hayeudo assim uma “comunidade de malhe- Sobre este ltimo ponto, Marx ironiza que Para 0 burgubs, sua mulher ne- da mais € que um instrumento de produsao. Ouvindo dizer que 0s instrumentos de prods 380 sero explorados em co- ‘rare, conclu naueralmente que Doorrerd © mesmo com az mux ‘heres. Nao imagina que se tre- ta precisamente de arrancar a mulher de seu papel ateal de simples instrument de pro- dugao. Reparemos aqui como funciona mecanizmo ideolégico do universali zar 03 interesses particulares. Para a burguesia, o fim de scus privilé- eles ewoncmices sigmifica miséria ara todos; 0 fim da liberdede bur guesz para explorar 0 tatalhador significa opressio; 0 fim da ongani- agi capitalists da sociedade signi fica @ desordem, 0 caos; 0 fim da cultura burguesa significa basbicie ete. Enfim, © comunismo ronda co- ‘mo um fantasma em torno dos prt vilégioe da. burguosia, © osta usa o fentasma para assusta’ & todos. Mas, além do uso ideolégico que a burguetia faz do temo “somunis- ‘3, ld outs difculdades que ainda vém do ux corrente deste terme. Pos ha alguns partidos e aloumas nagdes que sio chamados de “come nista:", mao quo tim uma prétca Incoaseqiente, do ponto de vista da lasse irabalhadora. Ainda sobre os chamatos “paises comunistas” deve se notar que a cus: lifcegio de “comunists” & impré- pria, jf que ainda nio existem paises que fenham 5 caracteritizas do co- smunisme, comg yeremos. O. que existe sg0 paises socialists, que pro- jelam cheger 30 comunismo. No entanto, nfo interssa tento & pala, mas 0 comeddo dese Projeto pdssocialista, que € © que Procursremos indicar em grandes Tinhas, neste eapitalo. Note-se ainds que vamos compe rar as semelhangas e diferengas des te projcio, baseado em prandes Ti has nas idéias de Marx, no 05 com a. sosjedade aecidista, como também com as sociedades Yat, também chamadas de nismo primitive. T1 ATENG@AO PARA 0 ULTIMO COMERCIAL; VEM AI’ 0 HOMEM TOTAL 6 5.2. AS RELACOES ECONOMICAS NO POS-SOCIALISMO 5.2.1. As forcas produtivas no pés-socialismo Dissemos que no socialismo hi vm desenvolvimento acclerado, jd que, com 0 fim das contradigocs do ca. pitelismo, hé uma liberago destas forcas. A acumulaggo das forcas pro- dutivas liberadas fari com que se shegue, na nova sociedade, = UM IMENSO. DESENVOIVIMENTO DAS FORCAS PRODUTIVAS Ore, este desenvolvimento abre 2 possibilidede para que os homens definitivamente SUPEREM O REINO DA NECESSIDADE © entom no reino da tiberdade, Por rein da nevessidade enten- dese a situacao humana de ter como primeira © maior preocupagao. con. seguir 3 meios para a propria sub- sisténcia material. Assim, a maioria dos homens vive a maior parte de seu tempo em atividades ‘de tipo econbmico, iutando contra a escass sez, para atender 3 necessidade bé- sica de reprodugio de sua vida ma terial. Neste aspecto, 0 homem. se encontra numa situacio de grande Jimitacio, determinada pela sua ant malidade. Esta fase pertence ainda 20 que Marx chama de “préhist6ria da hue manidade”. Assim, o homem apenas se diferencia dos outros animais pela Jorma como atende as suas neces sidades, isto &, pelo trabulho, ative dade manual ¢ intelectual projetade, que 6 0 homem faz. 0 imenio desenvolvimento dé forcas produtivas, nesta sociedade POssocialista, vei possibilitar 208 homens ENTRAR NO REINO DA LIBERDADE. Pols a acurmulardo social das rique- 725 © a alta tecnologia alcangada colocsrio © problema do atendimen- to das necessidades materiais como questao resolvida. Marx diz que, enquanto “na so- ciedade Durguesa o trabalho vivo & sempre tm meio de aumentar o tra- balho acumulado, na socicdade co- munista, o trabalho acumulado é sempre um meio de ampliar © me- “Ihorar cada vez mais a existéacia dos trabalhadores”, A atividade cconémica, enguanto necessiria A sobrevivéncia, passard 4 ser uma preocupacio secundétia, 4 qual os homens dedicarao pouca Parte de seu tempo, pois a abundén- vis esiara assegurada, Diferentomenic das sociedades de somunismo primitive, em que se Socializava a escastez, agora podese plenamente socializar a abundancia, © tabalho deixaré definitivamen. fe de ser uma cbrigacdo penosa, Para se tomar plenamente uma eriacio realizadora. Além disso, os homens terdo condigSes © disporgo de bastante tempo para se dedicar a outras atividades humanas: a ciém gia, a arte, © convivio social © com @ natureza, o esporte, o lazer e ov- tras atividedes culturais. 5.2.2. As relacées sociais de producao no pés-socialismo 0 imenso desenvolvimento das forcas produtives vai criar condigées para superar a ctepa da transicao socialista no campo das relacdes 50- ciais de produco, com a extingio das classes sociais © surgimento de novas formas de rerumerecdo, Nesta nova fase pds socialists, wae rias caracteris indicammos sobre as rclacoes socials de. produ $80 do socialismo permanccem e se 64 aperfeigoam, mas outras qualitativamente De inicio, vamos notar que, nesia nova sociedad, NAO HA MAIS CLASSES SOCTAIS. No socialismo, ainda existem classes, jd que @ antiga burguesia luta por todas 0s modos para recaperar sous Privilégios e, por isso, a classe pro mudam letaria necessita Iutar pera impedir esta volta. Na sociedade “comunista” NAO HA MAIS LUTA DE CLASSES, i que uo existem mais classes. antiga burguesia, com o passer de algumas geracdes, desaparece em quanto classe social. Os descenden tes dos antigus burgueses sfo agora ttabalhadores, como toda 2 popu- lacio, O proletariado também deixa de exists como classe social. Aca- dame as rachaduras dentro da so- ciedade. Fsta teencontra sua unidade escencfal. fim das classes sociais € faci Titado nao sé pelo novo desenvelvi- mento das fotcas produtivas, que garante a abundancia para todos, Conforme vimos, como também. pelo aprofundamento des relagées socials de producdo socialistas, pela acao do Estado socialista © pela formasio de uma nove consciéncia cocial. No que diz respeito a0 aprofun- damento das relazdes sociais de pro- dustio, devem-se ressaltar os pontos abaixo. 2) Completase a recuperagio da unidede interna de sociedade, com a plene socializacao dos ,meios de producio e do trabalho, j4 camecada no socialismo. A sociedade tornasc, assim, plenamente uma “livre asso- ciacao de todos os produtores”. &) Permanccem ¢ aperfeicoamse também a planificayao econdmica global e a auto-administracio. ©) Permencee a propriedade par- ticular dos bens de consumo. 6) A produgSo total continua re yertendo para os trakalhadores, isto & pata todos, seja em forma de beneficios, investimentos © reservas coletives, conforme vimos, seja em forme de remuncraio individual No que diz respeito ao dltimo ponto, vamos notar outra importante diferenca entre as duas sociedades. Porque na sociedade pés-socialiste prevalece @ seguinte repra: DE CADA UM SEGUNDO SUA CAPACIDADE, E A CADA UM SEGUNDO A SUA NECESSIDADE. Reparamos que » primeire parte da regra, sobre 2 contribuicao gue cada qual d4 & sociedade (“de cada um segundo sua capacidade”) € igual nestes dois tipos de organiza- di . Vale entao para 2 socie dade pissocialista tudo o que se disse a este respeito quando trate mos da sociedade socicliste. A diferenga, porém, situase na segunde parte da regra, pois, en- quanto no socialismo retribuise a cada ur segundo o seu trabalho, no péssocialismo retribuise a cade um segundo a sua necessidade. Assim, © critério de remuneracio no seri mais 2 qualidade da forga de tra- balho, mesmo com os limites das faixas de remuneragio, conforme vi jsmo. O critério agora passa a ser a necestidade. ‘Assim, por exemplo, o trabalha- dor nao seré remunerado pela sua profiseio ou qualificago, mas pelo nimero de criangas ou de idosos que ele tem sob sua responsabilidade ‘A aplicegio deste eritério ¢ facili tada, evidentemente, por um lado, por aquele desenvolvimento das for. a0 prodativas que torna a produsio. uma questo resolvida; e, por outro lado, pressupde um elevado nivel de conscitneia coletiva, que exelui o parasitisme, a acomodagio etc. ‘Acs que classificam de ut6pico 0 projeto socioecondmico desta socie- dade pés-socialista, € bom lembrar que, durante centenas de milhares de ancs, os homens das antigas so- ciedades primitives (como também ainda hoje, muitas tribos da Ama- wonia, Aftica, Asia...) organiza. ramsse sem a divisio da sociedade om classes, ¢ aplicando a regra “de cada um segundo sua capacidade e 2 cada um segundo a sua neces- sidade”. 5.3. AS RELACOES POLITICAS NO POS-SOCIALISMO © desenvolvimento das forgas pro- dutivas eas relacies socials de producio caracteristicas da. organi- vasio social pés-socialista encami- ham para o FIM DO ESTabo © para novas formas de conseiéneia social, Como vimos, o fim ds burguesis, como classe social, di condigdes fembém ao proletariado de se dis solver como classe social, tornando desnecessiria qualquer dominagio de classe. Assim, na sociedade pos -socialista, nzo existe classe domi- fnante nem classe dominada, simples- mente porque no. existem mais lasses socizis. Isto é, nenbum grupo faz prevalecer seus interesses parti cvlares © sua vontade sobre 0 con junto da soviedsde, simplesmente porque tais grupos nao existe mais, sendo a sociedsde um corpo horse: ence, ra, como vimos no capitulo {V, 0 Estado ¢ uma “instituicio politica SEM, EXPLORADOS... juridica, administeativa e militar que tem por objetivo dirigir 0 conjanta da sociedade, de acordo com os i teresses da parcela economticamente dominante”. E evidente, entao, que a ditadura do protetariedo, isto &, 0 transitério Estedo socialista, deixard de cxistir. desaparecendo por com- plato qualquer Estado. Este aconiccimente mio se dard, por certo, de um dia para o outro, ‘mas sera 0 resultado de um processo, relativamente longo, em que o Esta do socislisea vai oe enfraquecendo eada vez mais, até desaperecer. Po- dose dizer que hi uma autodestrul- [80 do Esiado socialista, a fim de se chegar a uma sociedade pissocia lista, sem Estado, © fim do Fotedo significa entio que © governo, as Ieis © tods sini histraydo piblica perdem seu eariter de classe. As leis serio normas que se aproximario do contenso, tendo em vista o bem comum. Tornase desaccessitia lambém a fungio da policia ¢ das forcas arma ax, enquanto uso da cocteio para garaatia politica da classe dorsinan= te. Mesmo as funcées no direte mente politicas da policie 99 tornarao dosnecessirias, j& que, peles caracte- cas da sociedade’ péssccialista, os cases de criminalidade serdo 12" 10s, © poderdo ser vigiades e trata. dos pelo préprio povo, através de suas organizagdes de. base, trabe- Iho ete, Desapatecem assim a policia, a3 forgas armadss ¢ as milicies popula res. Devese ressalvar, no entanto, gue o fim de todas as organizagies armadas provavelmente 26 poderd se efetivar qusndo o capitalismo ti vver sido superado em todos os p: ses do mundo; de modo conirério, as sociedades socialistas e pée-soc listas estariam se arviseando a niéo fer como se defender de possiveis agressics armadas Jas nas0es ainda capitalisas, fim do Estado nio significa, de forma nenhuma, a desotdem, decox ganizayio, badsma cu cios que a logis capitalista poderia fazer super. Significa apenas que a orga- nizaydo da sociedade mio atende mais a inleresees de classe, mas a todo 0 pore. to TODO 0 POVO AUTOGOVERNA, scja pela participacéo direta nos of ganismos populares, seja através de Seu representantes democratica mente eecolhideo, com mandates i= Peraiivos ¢ revogavels a qualquer ‘tempo. De forma semelhents, als, 3 que jf acontecia nas sociedades primitivas, que também nio tinker Estado, forma neahuma, o pluralisaee. & ho. mogentidade exclui apenas ssdas a: foimes de exploracio 2 dominaeao de algene individsos ou grupos se bre outros, mas no a diversidade, que € enriquecedors, ‘A mesma homogeneidade ¢ plura- lismo vigorariam nas relagses ente fs varios powos do mundo. Supsra- dor todas a5 forsias de impetialismo © dependéncia entts o2 povos ¢ dei- xando de se encarar dores, as nagdes deixsriam de en! como hoje. O respeito ¢ incentive 3s ceracteristiess cultura de cada povo se conjugariam com © interedmbio = 1 solidariedade. ‘Marx resume assim todo este pro- cess de destruio das classes s0- ciais ¢ do Estado, © surgimento das rovas formas de orgenizagao cosiel. Uma vez desaparecidos os a ‘agonismos de classes no curso 9 desenvolvimento ¢ sendo concentrada toda a producto propriamente jalando nas mas dos individuos aszociados, 0 po der pdblico perderd seu cardter politic. 0 poder politica é poder organizado de uma classe pare e opressio de oulra. Se 0 proietariado, am sus lutz contra 4 burguesia, se constcué forgo- sumente em classe; 20 se con- verte por wna revoluedo ent classe deminante e. como classe dominarte, desir Si violentamen- te as antigas relasdes de produ= 0, destrol jurtamsrte com essas relagdes de producto, os condicaes dos antagonismos en tre as classes em geral e, com isco, sue peépria domtiuopd como classe, En: lugar do antiga sociedide burguesa, com suas clases ¢ antazorismos de classes, surge uma associagio onde © livre desenvolvimento de cada um € 4 condieio do tine desenvol vimenty' de todos 5.4. A CONSCIENCIA SOCIAL NO POS-SOCIALISMO Dissomos airds que as novas rela Ges econdmicas da sociedade pésso- cialista encaminham nio x5 pare ¢ fim do Estado, coms tamibéan pars ovat formas de concciéncia social © que se considerou, no item an- terior, sobre as conseqiéncias. pol tices do fim das clases tocinie, vale também para o HIM DA WWEOLOGIA DOMINANTE. A sccicdade, seno homogtnea, into é sem clases, € claro que 180 4si nem classe dominante, nem ideo logia dominance. Deste modo ocome também 0 66 FIM DA LUTA IDEOLOGICA Assim como nenhuma parcela de sociedade precisa dominar outros pela coersao, também nio precisa dominar pelo convencimento (no é preciso haver mais nem fedes nem raposés).. Os velhos valores burgueses do individvalisme, competigdo etc. vo acs poucos morrendo na sociedade socialista, ¢ sendo substituidos pelos vyelores da solidariedade, companket rismo, participacZo, intemacionalis- mo, liberdade e igualdade em todos os niveis etc Estes, novos Valores, que a idecle- 6. AS EXPERIENCIAS SOCIALISTAS Como dissemos no inicio deste capitulo, faremos algumas breves observagies sobre aS experitncias socialistas. Em primeizo lugar, deve-se rotar que quelquer spreciagio sobre as experiencias socialistas seré feita ou 2 partir de uma VISAO gie socialists Tete para passar 20 conjunto da sociedade, no pés-socia- Jismo, se consolidam. Transformam- -se em velores comuns, assumidos pelo conjunto da sociedade. Acaba assim a prépria ideologia socialista. ‘Aliés, acaba toda ideclogia, en- quanto esforgo de dominazao das conscifncias, que terio assim uma visdo de mundo comum, isto é, des comprometida com interesses gru- pais. Nao é mais preciso “esconder, justificar, universalizar ¢ fregmentar como vimnos no capitulo V. Como nas sociedades primitives, e ainda que corresponde aos INTERESSES DA BURGUESIA, ou a partir de uma visio que cor- responde aos INTERESSES DOS RABALHADORES Ora, a malor parte das INFORMAGOES ‘AS CONSCIENCIAS PODEM SER TRANSPARENTES, ga busca de verdade pode ser um esforco comum. Havert também condigées ainda mais lavordveis do que no socialismo para superar a fragmentacio da consciBncia e, por tanto, uma msior aproximas uma visio de total pluralismo das i de mundo, das religi6es eic., terdo livre curso, desde que no conflitem com uma sosiedade em que sc cx lui a exploracdo ea dominacav do homem pelo homem. aK? que temos a respeito das experiéncias socialistas nos vém através dos meios de comunicagio sob o controle ca pitalista. Estes mefos de comunics ¢#o, quando nao fazem um sistema tivo boicote de informagbes a respet to dos paises socialistas, selecionan as notities para ressaltar aspecios negatives (veréadeiros ox falses) Entende-se: 2 burguesia defende com tumhas ¢ dentes os seus interesses, contra os interesses dos. trabalha- cores. No cntanto, € inegével que a ir plantacao do socialismo enfrenta virios tipes de problemas e nem tudo so vitérias para a classe tca- balhadora. A andlise ¢ debate dos problemas © deficiéncias Jas experiéncias so- cialistas, feitos a partir de uma visio que corresponde aos interesses dos trabalhadores, & de grande impor tancia. Para que nzo se cata no tipo de critica que interessa 3 burguesia. Mas também para que nie nos ilu damos com uma visdo ingnua € iitealista, Acima de tudo, interessa a classe trabalhadora conhecer e dis- cutir estas experigncies em curso, para cvitar seus erros € sproveitar seus acertos, nas futuras revolugbes socialistas (embora, & claro, toda re- yolusdo socialista soja uma experitn- cia nova, com intimeros aspectos particulares) ‘AS experiéncias coneretas de im- plantacdo do. socialismo realizades em varios paises tm enfrentado vi Hos tipos de DIFICULDADES. ‘Yamos enumerar algumas. 1) Dificuldades externas, por sa do boicote exendmico, isolamento politico c até agressio ‘militar que es Estados. capitelistes costumam impor as noves nagdes socialistas, Estas circunstancias costumai favo- recer a centralizacto do poder em pouces maos, pars fazer frente a ‘cotas dificuldades, com prejuizes pe- ra uma patticipacao politica mais ampla dos trabalhadores 2) Dificuldades internas, nfo 6 pela resisténcia da burguesia dor rotads, como também pela resistén cia dos valores burgueses na cons cincia dos trabalhadores, até mes. mo nos que tém grande 1esponsa- bilidade na transformagao socialiste da sociedade. Ouira dificuldade € = situagio econdmica prejudicada, © as yezes devastada, pela guerra civil que, geralmente, a burguesia impde aos trabalhadores, antes de perder o poder. Neste confronto, freqlente- mente mortem importantes lideran- a8 dos trabalhadores, 0 que vai também dificultar a construgio do socialismo. E de se noter também que as revolugies sociafistas feitas até hoje, 20 contririo do que previa Marx, nao se deram em paises capi- talistas industrielizados, mas em pat ses de economia predominantemente agricola, com um proletariado urba: no revente ¢ reduzido, Varias AVALIACOES das oxperigncias socialistas em curso coincidem em apontar vitérias no campo econtmico @ deficiéncias, em graus diferentes, no que se refere 3 real hegemonia politics ds traba Thadotes. As principais DEFICIENCIAS freqitentemente apontadas nas expe- rigncias socialistas, embora em graus diversos de pals para pais, se sefe rem mais aos aspectos dz HEGEMONIA E PARTICIPACAO POLITICA E IDEOLOGICA DOS TRABALHADORES. Segundo cslas exiticas, os webalhar dores ainda tém pouca participagio nas decisées politicas, seja em nivel de empresa (auséneia de aute-admi- Indicacées bibliograficas para este capitulo: 1 — MARX, Karl. Manifesto Comunista. S40 Paulo, Editora Alfa Omega (em “Obras escolhides”), 1984 2 — LENIN, Vladimir 1. O estado e a revolugio. Sao Paulo, Hucitec, 1983. 3 — HUBERMAN, Leo. Historia da riqueza do homem. fio, Zahar Editores, 1983. 4 — FERNANDES, Florestan. © que 6 revolugo. Sao Paulo, Brasiliense, 1981. 08 nistragao). soja em nivel dos orgs: nismos do Estedo. A respeito do Estado se faz uma outra critica, notandose em alguns paises socia listas, 0 FORTALECIMENTO DO ESTADO, com & intensificagdo dos _aspectos correitivos ¢ propegendisticos, em vez de sou enfraquecimento, a cami- ho de seu desaparecimento. Mas, sem diivida, tem hevido VITORIAS NO CAMPO ECONOMICO, com um répido desenvolvimento das forcas produtivas, especialmente no setor industrial. Contudo, ainda 20 campo das relacdes socivecondmicas, @ maior vitoria tem sido 0 FIM DA MISERIA em que viviam ltas porcentagens da populacio, isto é, 0 fim da fome, desemprego, prostituicao, menores abandonados, doencas endémicas, moradias subumanas, banditismo ete. Ac lado disso, as atuais experigneias sovialistas tém significedo, para_a maioria da populagao, uma répida elevacio do padriio de vida, no que se refere & SATISFACAO DAS NECESSIDADES BASICAS: entagdo, satide, educacio, ves. tuario, moradia, transporte © lazer. Por parte dos que se colocam do ponto de vista dos trabalhadores, existem diversas avaliagées sobre ca. da uma das eaperiéncias socialistes. Mas € de grande importincia, para os trabalhadores, 0 conhecimento 8 anilise de cada uma das experién- ies desia sociedade nove que vai sendo construfde: a SOCIEDADE SOCIALISTA.

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