Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CARDOSO Adalberto - Vargas e Bem-Estar Social PDF
CARDOSO Adalberto - Vargas e Bem-Estar Social PDF
Adalberto Cardoso
Professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: acardoso@iesp.uerj.br
Getúlio foi tudo para o nosso povo, foi tudo pro pessoal da
lavoura. [...] Antes de Getúlio não tinha lei, nós éramos bicho. A
Princesa Isabel só assinou, Getúlio foi quem libertou a gente do
jugo da escravatura (Cornélio Cancino, descendente de
escravos, em depoimento ao projeto “Memórias do
Cativeiro”, reproduzido por Rios e Mattos, 2005:56).
INTRODUÇÃO
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 53, no 4, 2010, pp. 775 a 819.
775
776
777
Para estudar esse problema, Lopes elege uma fábrica de porte médio
em São Paulo, na qual apenas 7,5% dos trabalhadores eram paulista-
nos. Outros 28% eram estrangeiros e os 63% restantes eram migrantes
nacionais, 21% dos quais do Nordeste. Em razão da grande concentra-
ção de nordestinos, Lopes reconstrói rapidamente a sociabilidade no
meio rural de origem dos operários, para mostrar que eles de fato pro-
vinham de uma sociedade de tipo tradicional. E sustenta que haveria,
nas classes rurais, em especial nas que vêm do Nordeste, “um valor
cultural de trabalhar por conta própria, ser independente, valer-se da
própria iniciativa e não submeter-se diretamente a ninguém” (p. 36).
Além disso, poucos tinham intenção de permanecer em São Paulo. Seu
778
sonho era juntar algum dinheiro e retornar ao campo, onde tinham dei-
xado suas famílias. Esse padrão se distinguia apenas em parte do caso
dos migrantes do interior de São Paulo, que ficariam no destino “se
desse certo”, mas, caso contrário, voltariam (pp. 38-39).
A partir desse ponto, o trabalho de Lopes poderia ter sido escrito como
dedução pura e simples das teorias da modernização. Depois de mos-
trar que o migrante nordestino acaba se fixando na cidade – porque o
trabalho em fábrica, apesar de tudo, é mais leve do que o eito, e a com-
paração entre a vida atual, vista como difícil, com a vida anterior, vista
como muito mais difícil e insegura, é favorável à cidade –, o autor insis-
te em que “[a] orientação psicológica dos entrevistados de origem ru-
ral é claramente para fora do sistema industrial” (pp. 44-45) e que o de-
sejo de todos é “trabalhar por conta própria”, porque não se depende
de horário, não se depende de chefe. Mas então ele oferece uma evidên-
cia interessante, da qual ele mesmo não tira as devidas consequências,
mas que terá impacto duradouro sobre a sociologia brasileira posteri-
or. Um cearense entrevistado por ele diz que “homem que pica cartão
não tem futuro; pessoa que trabalha por conta própria é que pode me-
lhorar” (p. 46). Lopes vê nessa fala a expressão cabal do desajustamen-
to do trabalhador rural de migração recente à sociedade industrial e
atribui a esse desajustamento a dificuldade (na verdade, impossibili-
dade) de constituição de uma solidariedade de classe tipicamente ope-
rária, isto é, tal como a que se desenvolveu no modelo clássico de capi-
talismo industrial.
779
780
781
O homem que não tem terras, nem escravos, nem capangas, nem fortu-
na, nem prestígio, sente-se aqui, praticamente, fora da lei. Nada o am-
para. Nenhuma instituição, nem nas leis, nem na sociedade, nem na fa-
mília, existe para a sua defesa. Tudo concorre para fazê-lo um desiludi-
do histórico, um descrente secular na sua capacidade pessoal para se
afirmar por si mesmo. [...] O que os quatro séculos de nossa evolução
lhe ensinam é que os direitos individuais, a liberdade, a pessoa, o lar, os
bens dos homens pobres só estão garantidos, seguros e defendidos,
quando têm para ampará-los o braço possante do caudilho local. Essa
íntima convicção de fraqueza, de desamparo, de incapacidade se radi-
ca na sua consciência com a profundeza e a tenacidade do instinto
(1922[1918]:151).
782
783
784
Vargas, como se vê, tinha exata noção das injunções estruturais a seu
projeto civilizatório. O Brasil era um país rural, com pouco menos de
3% de proprietários de terra – apesar dos 70% de brasileiros que viviam
no campo, um terço dos quais assalariados e dois terços compondo di-
ferentes regimes de colonato, parceria, posse ou pequena propriedade
da terra, a maioria deles disposta a arribar ao menor sinal de que a vida
poderia ser melhor em outro lugar. Fixar as populações rurais, pois,
não seria possível se ao trabalhador rural não fossem estendidas as be-
nesses da civilização que a Revolução construía nas cidades.
785
786
787
788
789
790
co, para quem as regras para obtenção da carteira eram “muito pesa-
das” para os mais pobres20.
Esse último aspecto não foi atentado por Fischer, em quem me baseio
para sustentar a ideia do continuum de acesso a direitos. Ora, o traba-
lhador dos sonhos de Oliveira Vianna, Getúlio Vargas ou Marcondes
Filho21 era o homem arrimo de família, alfabetizado, higienizado, sau-
dável, senhor de uma profissão e titular de direitos sociais cuja origem
seria sua vinculação a uma profissão regulamentada pelo Estado22.
Esse homem, os três ideólogos sabiam muito bem, não existia, e, por
isso, a tarefa da Revolução seria, justamente, forjá-lo. A “cidadania re-
gulada” era um projeto para toda a nação, a ser, porém, estendido aos
nacionais à medida que cada qual se qualificasse, ou se enquadrasse no
ideal de pessoa que o Estado queria promover. Nesse sentido, o Estado
não estava, de seu próprio ponto de vista, criando privilegiados. Estava
acenando aos brasileiros que a segurança socioeconômica era acessível
a qualquer um, desde que ele ou ela se pusesse à altura do que lhe esta-
va sendo demandado e que, afinal, “era para seu próprio bem”. E des-
de que, obviamente, houvesse emprego regulamentado para todos.
791
792
outra coisa senão o modo dessa apropriação em seu processo mais miúdo,
mais cotidiano.
793
Dito isso, a dinâmica social brasileira depois de 1930 foi tal que atuali-
zou os piores temores de Vargas quanto aos riscos do êxodo rural para
seu projeto de elevação moral, econômica e social do homem brasilei-
ro. A extrema vulnerabilidade das condições de vida da maioria da po-
pulação – estivesse ela lotada no mundo agrário, nos bairros rurais ou
nas aldeias e pequenas cidades interioranas, nas periferias das gran-
des cidades ou em seu centro de gravidade –, tornava-a predisposta à
busca de condições mínimas de sobrevivência em outra parte, sempre
que a vida atual se lhe afigurasse insuportável, por qualquer motivo. A
literatura sobre migrações no Brasil nunca se cansou de marcar que ca-
tástrofes naturais, a fome momentânea ou estrutural ou mesmo a desa-
gregação rotineira ou violenta de formas tradicionais de vida não re-
presentaram motivos especiais para a migração das populações ru-
rais26. Quando muito, apressavam ou antecipavam movimentos que
ocorreriam de qualquer modo. A mobilidade geográfica foi, sempre,
característica dessa população vulnerável27, que tentou extrair seu sus-
tento de um ambiente social caracterizado por grande restrição de as-
pirações, projetos e possibilidades reais, malgrado importantes dife-
renças regionais.
794
795
796
797
gislação social e trabalhista não atingia 40% dos ocupados nas cida-
des34. Entre 1940 e 1950, a PEA urbana seria acrescida de 1,8 milhão de
pessoas, enquanto aos contribuintes para a previdência somaram-se
menos de 1,2 milhão de trabalhadores. Entretanto, o Ministério do Tra-
balho emitiu 2,7 milhões de carteiras de trabalho no mesmo período. Ou
seja, foram emitidas 150% mais carteiras do que o crescimento da PEA,
e 230% mais do que beneficiários da previdência social. Isso parece in-
dicação bastante forte de que os trabalhadores acreditavam na possibili-
dade de sua incorporação pelo mercado formal em consolidação, já
que se habilitaram para isso (isto é, tiraram sua carteira de trabalho)
em proporção muito superior à própria oferta de postos de trabalho
(aqui mensurada pela PEA urbana). Mais do que isso, a titulação foi
muito superior à capacidade de regulação pelo sistema previdenciá-
rio, isto é, à capacidade de incorporação dos novos citadinos pelo mun-
do dos direitos sociais e do trabalho, e isso num ambiente de enormes
restrições burocráticas à titulação. Ao que parece, a crença na promessa
dos direitos deve figurar entre as explicações para a habilitação sem-
pre muito superior à disponibilidade desses mesmos direitos por parte
dos trabalhadores que migravam do campo para a cidade.
798
Gráfico 1
Evolução da PEA Urbana, do Número de Carteiras de Trabalho Expedidas pelo
Ministério do Trabalho e do Número de Contribuintes para a Previdência Social:
Brasil, 1940-1976
Fontes: Anuário Estatístico do Brasil (IBGE, vários anos); e IPEADATA para estimativas daPEA urbana
e dos contribuintes para a previdência social. Os dados foram cotejados com os de IBGE (2003) e po-
dem apresentar pequenas diferenças, que não influem no movimento geral.
799
A PROMESSA E A DESIGUALDADE
800
801
802
803
PALAVRA FINAL
Mesmo que, para boa parte dos brasileiros, o mundo dos direitos cons-
truído ao longo da Era Vargas tenha permanecido uma promessa – pois
804
até pelo menos o final da década de 1960 nunca menos de 50% dos tra-
balhadores urbanos tinham vínculos empregatícios extrínsecos à le-
gislação trabalhista –, o que importa para a discussão em tela é a ideia
de que aquele mundo passou a fazer parte inarredável do horizonte de
expectativas das populações que viviam do trabalho como a insígnia
mesma da “boa vida”, medida contra um parâmetro de grande e multi-
dimensional vulnerabilidade e insegurança socioeconômica: a vida no
campo. Para boa parte das massas rurais e urbanas, cuja vida cotidiana
e cujos processos de diferenciação eram espontâneos, miúdos, instá-
veis, em grande medida invisíveis ao Estado ou ao capital, o mundo
dos direitos sociais e do trabalho, ou a “cidadania regulada”, ofereceu
um referencial poderoso para a construção de suas identidades indivi-
duais e coletivas. Agora, o horizonte das aspirações já não estava de-
marcado pela penúria de todos, e sim pelo sonho da autopromoção
pessoal pela via do trabalho protegido pelo Estado.
805
806
807
NOTAS
808
fluência fecunda da luta de classes. Em nossa história, tais conflitos são raríssimos
[...]. Duram tempo brevíssimo. Desdobram-se em áreas restritíssimas”, não sendo,
portanto, promotores da solidariedade, trazendo, ao contrário, efeitos negativos “à
evolução política e social da nacionalidade” (pp. 157-158).
8. Numa amostra de que isso talvez fosse mesmo possível, em 1943 o Japão invadiu a
Malásia, para onde as sementes da seringueira amazônica haviam sido pirateadas no
final do século XIX, o que liquidara o monopólio brasileiro na produção do látex. A
invasão japonesa provocou súbita carência da matéria prima, e os seringais da Ama-
zônia, praticamente desativados desde inícios do século XX, voltaram à ativa pelas
mãos dos “soldados da borracha”, migrantes, nordestinos em sua maioria, que aten-
deram ao chamado do Estado para a produção de borracha nas florestas do Acre e do
Amazonas, como parte do esforço de guerra do Brasil. Ver Silva (1982).
9. Em 1939, portanto dois anos antes desse discurso, duas culturas, café e algodão, ti-
nham respondido por nada menos que 60% do valor global das exportações do país
(IBGE, 1941:90). Além de medida importante da fragilidade do comércio exterior,
essa cifra revela a enorme dependência da nação em relação a um punhado de gran-
des produtores de café e algodão, bem como a dificuldade de Vargas confrontar dire-
tamente seus interesses. Vale lembrar que, em seu discurso de posse na chefia do go-
verno provisório, em 3 de novembro de 1930, ele enumeraria entre as tarefas do go-
verno revolucionário “promover, sem violência, a extinção progressiva do latifún-
dio e, assim, proteger a organização da pequena propriedade” e estimular o traba-
lhador a “construir com as próprias mãos, em terra própria, o edifício de sua prospe-
ridade” (1938, vol. 1:73). Em 1941, essa tarefa era ainda uma promessa e assim perma-
neceria pelas décadas seguintes.
10. Calculado a partir de IBGE (1941:120), com dados para a receita per capita, deflacio-
nada pelo valor da libra esterlina em mil réis (apresentado na mesma publicação, p.
64, tabela 2).
11. Como mostraram Tavares de Almeida (1978) e Gomes (1979).
12. Eram 273 mil operários em São Paulo, segundo Dean (1971:127), numa população
economicamente ativa estimada em 55% dos 1,3 milhão de habitantes.
13. Os números são aproximados, porque os dados publicados dos censos incluíram ina-
tivos e atividades mal definidas numa mesma categoria. Ver IBGE (2003) para os da-
dos de população.
14. É sabido que boa parte da obra legislativa de Vargas estivera antes nas reivindicações
do movimento operário anterior a 1930, como demonstrou pioneiramente Moraes
Filho (1952), pondo por terra o mito da dádiva ou outorga dos direitos trabalhistas
por Vargas. Isso levou Gomes (1988) a sugerir que a fala operária teria sido apropria-
da por Vargas e transformada em mecanismo de controle sobre os próprios operári-
os. Mais adiante veremos que, conquanto relevante, a discussão sobre o mito da dá-
diva é lateral ao argumento central deste artigo.
15. Alguns trabalhos de referência obrigatória são Simão (1966), Dean (1971), Werneck
Vianna (1999), Tavares de Almeida (1978), Santos (1979), Erickson (1979), Gomes
(1979 e 1988), French (2004) e Fischer (2008). A divergência de conteúdo, quando
ocorre, refere-se, em geral, aos institutos que este ou aquele autor inclui (ou deixa de
lado) na configuração legal de proteção social varguista.
809
16. O conceito, pois, difere da noção de subcidadania, que recobre o que Souza (2000) de-
nomina ralé permanentemente excluída por nosso processo de “modernização seleti-
va”. O argumento aqui defendido é oposto pelo vértice a essa ideia simplificadora.
17. Mostrar isso em detalhes para o caso dos pobres do Rio de Janeiro é uma das grandes
contribuições de Brodwyn Fischer (2008) à compreensão da construção da sociedade
do trabalho no Brasil, ainda que sua pesquisa tenha foco exclusivo nesse estado. A
frágil faticidade do direito do trabalho é sistematicamente investigada também por
French (2004), embora, como veremos mais adiante, eu considere incompleta sua
compreensão daquela faticidade.
18. As populações do século XIX e inícios do XX tinham razões de sobra para desconfiar
das tentativas de ingerência do Estado em suas vidas cotidianas. Revoltas como as da
Cumbuca, contra a lei do sorteio militar obrigatório, de 1874, ou a da Vacina, no Rio
de Janeiro, em 1904, tiveram como motivo principal a percepção de que o Estado es-
tava indo longe demais em sua tentativa de ordenar a vida dos mais pobres. Essa
ideia explica a resistência, também, ao recenseamento e à cobrança de impostos nas
comunidades rurais, e às políticas de saneamento sanitário nas cidades. Para o recen-
seamento e os impostos, ver Queiroz (1965:216). Analiso as medidas sanitárias em
Cardoso (2010).
19. Em Rios e Mattos (2005) encontramos vários depoimentos de descendentes de ex-es-
cravos que tampouco tinham registro formal de nascimento. A carência era comum
também em comunidades quilombolas (Gomes, 2006) e em comunidades de migran-
tes nordestinos nas cidades do sudeste (Perlman, 1977; Durham, 1973).
20. Boletim do SOS citado por Fischer (2008:129).
21. Alexandre Marcondes Filho, Ministro do Trabalho nos últimos anos do Estado Novo,
foi um dos grandes responsáveis pela consolidação do mito da dádiva dos direitos
por Vargas, com sua fala radiofônica semanal de dez minutos, na Hora do Brasil. As
mais de duzentas palestras proferidas entre 1942 e 1945 foram analisadas por Gomes
(1988:229-256).
22. Ver ainda Weinstein (1996) e Dávilla (2003).
23. Como já se disse (ver nota 14), o mito da outorga (ou da dádiva) dos direitos traba-
lhistas foi desconstruído pela primeira vez por Moraes Filho (1952). Martins Rodri-
gues (1974) é expoente da corrente que sustenta a ideia de que os trabalhadores não
teriam conquistado, na luta sindical e política, o que Vargas instituiu em lei, sobretu-
do tendo em vista sua sistematicidade e amplitude. Weffort (1978) está entre os mui-
tos que não concordam com essa ideia. Gomes (1988), seguindo Moraes Filho, sugere
que a fala operária foi expropriada por Vargas, que emergiu como autor dadivoso de
demandas históricas do movimento operário. Mais recentemente, Ferreira (1997) e
equipe vêm tentando resgatar a ideia de que Vargas de fato inovou na concessão dos
direitos sociais. French (2004) pretende ter colocado uma pá de cal na controvérsia.
Embora relevante, a discussão sobre a dádiva é lateral ao argumento central deste
artigo.
24. Ver, sobre isso, Supiot (1994).
25. Ver Rosenvallon (1981), Titmuss (1963) e Castel (1998).
26. Ver, de perspectivas bastante diferentes, mas com o mesmo resultado, Durham
(1973), Perlman (1977), Sales (1977), Coutinho (1980), Alvim (1997), Linhares e Teixe-
ira (1998) e Fontes (2008). Uma resenha, ainda que limitada, é Hasenbalg (1991). Para
810
811
812
(1978:247), que, contudo, oferece cifras discordantes com as do IBGE (fico com o va-
lor oficial). A mesma autora (que polemiza com Francisco de Oliveira (1981[1972])
acerca do efeito do salário mínimo sobre as remunerações industriais, sustentando
que houve ganhos para os trabalhadores de menor remuneração, enquanto Oliveira
sustenta a ideia de que o mínimo puxou para baixo os maiores salários) adverte que
os salários médios na indústria, captados pelo IAPI, estavam superestimados. Logo,
eram ainda mais baixos do que as figuras aqui transcritas. Werneck Vianna (1999)
toma partido de Francisco de Oliveira.
51. A penúria do trabalhador industrial no Distrito Federal no período foi captada, den-
tre outros, por Fischer (2008).
52. Cf. dados de inflação em http://www.ipeadata.org.br.
53. Conforme argumentaram Werneck Vianna (1999) e Skidmore (2003).
54. Cálculo do salário médio efetuado segundo a mesma metodologia exposta na nota .
No Anuário Estatístico do Brasil de 1950, do IBGE, o salário médio pago em julho de
1949 teria sido de Cr$926, calculado com base em informação dos contribuintes do
Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários – IAPI (cf. p. 328). Essa fon-
te, porém, superestima o valor real pago a operários de produção, por incluir tam-
bém pessoal administrativo. IBGE (1987) permite separar os operários dos demais
ocupados.
55. Ver Gomes (1988).
56. Para a reposição total da inflação, o salário médio no Distrito Federal deveria ser de
Cr$ 1.150,00.
57. Segundo dados do censo demográfico, tabulados para este trabalho.
58. Idem. No serviço público, 65% dos ocupados ganhavam até um salário, 69% no co-
mércio.
59. Dados em Souza (1971:123).
60. Ver IBGE (1987:75). Trata-se da renda do trabalho, tal como declarada pelas pessoas
nos censos demográficos. Subestima, portanto, a distribuição real da riqueza, que é
certamente mais concentrada do que isso. Um experimento comparando a renda de-
clarada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) com aquela medi-
da pela Pesquisa de Padrão de Vida (PPV) constatou que a renda do trabalho declara-
da subestima a renda efetivamente recebida em perto de 40%. Ver Barros et alii.
(2007).
61. Como longamente explorado em Santos (2006).
62. A má-fé de parte da elite dirigente sob Vargas, incluindo o próprio, foi sustentada
por French (2004) e Levine (1998).
63. Como o fazem Levine (1998), French (2004), Fischer (2008) e, em menor medida, We-
instein (1996).
64. Como afirmou Werneck Vianna (1999), o Estado Novo, para os trabalhadores, come-
çou depois do fracassado levante da Aliança Nacional Libertadora em 1935.
65. A esse propósito, ver Paoli (1988), Weinstein (1996), Negro (2004) e Santana (2001).
66. Apenas nos anos 1980 aqueles símbolos foram eficazmente circunscritos por um re-
novado movimento operário como herança a ser superada. Lula, como líder sindical,
dizia que “a CLT é o AI-5 do trabalhador”, referindo-se ao controle dos sindicatos e
da negociação coletiva pelo Estado, não à legislação de proteção do trabalhador indi-
813
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
814
DÁVILLA, Jerry. (2003), Diploma of Whiteness. Race and Social Policy in Brazil, 1917-1945.
Durham/London, Duke University Press.
DEAN, Warren. (1971), A Industrialização de São Paulo: 1880-1945. São Paulo, Difel.
DURHAM, Eunice R. (1973), A Caminho da Cidade. A Vida Rural e a Migração para São Paulo.
2 ed. São Paulo, Perspectiva.
FERREIRA, Jorge. (1997), Trabalhadores do Brasil. O Imaginário Popular. Rio de Janeiro, Edi-
tora FGV.
FONTES, Paulo. (2008), Um Nordeste em São Paulo. Trabalhadores Migrantes em São Miguel
Paulista (1945-1966). Rio de Janeiro, Editora FGV.
FRENCH, John D. (2001), Afogados em Leis: a CLT e a Cultura Política dos Trabalhadores Bra-
sileiros. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo.
. (2004), Drowning in Laws. Labor Law and Brazilian Political Culture. Chapel
Hill/London, University of North Carolina Press.
GOMES, Flávio dos S. (2006), A Hidra e os Pântanos. Mocambos e Quilombos no Brasil Escra-
vista (Séculos XVII a XIX). São Paulo, Editora Unesp.
HUTCHINSON, Bertrand (org.). (1960), Mobilidade e Trabalho. Rio de Janeiro, Centro Bra-
sileiro de Pesquisas Educacionais.
815
. (1987), Estatísticas Históricas do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE. (Séries Estatísticas Re-
trospectivas, vol. 3; Séries Econômicas, Demográficas e Sociais, 1550-1985).
. (2003), Estatísticas do Século XX. Rio de Janeiro, IBGE.
. (vários anos), Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE.
LEVINE, Robert M. (1998), Father of the Poor? Vargas and his Era. Cambridge, Cambridge
University Press.
LINHARES, Maria Yedda L. e Teixeira, Francisco Carlos S. (1998), Terra Prometida. Uma
história da Questão Agrária no Brasil. Rio de Janeiro, Campus.
LOPES, José Sergio L. (1976), O Vapor do Diabo. O Trabalho dos Operários do Açúcar. Rio de
Janeiro, Paz e Terra.
LOPES, Juarez B. (1967), Crise do Brasil Arcaico. São Paulo, Difusão Europeia do Livro.
. (1971[1964]), Sociedade Industrial no Brasil. 2 ed. São Paulo, Difusão Europeia do Li-
vro.
LOWENSTEIN, Karl. (1942), Brazil Under Vargas. New York, The MacMillan Company.
MARAM, Sheldom L. (1977), “The Immigrant and the Brazilian Labor Movement,
1890-1920”, in A. Davril e W. Dean. Essays Concerning the Socioeconomic History of Bra-
zil and Portuguese India. Gainesville, University of Florida Press, pp. 178-210.
MARTINELLO, Pedro. (2004), A Batalha da Borracha na Segunda Guerra Mundial. Rio Bran-
co, EDUFAC.
MARTINS RODRIGUES, Leôncio. (1966), Conflito industrial e sindicalismo no Brasil. São
Paulo: Difusão Européia do Livro.
. (1970), Industrialização e Atitudes Operárias: Estudo de um Grupo de Trabalhadores.
São Paulo, Brasiliense.
. (1974), Trabalhadores, Sindicatos e Industrialização. São Paulo, Brasiliense.
MERRICK, Thomas W. (1986), “A População Brasileira a partir de 1945”, in E. Bacha e H.
S. Klein (orgs.), A Transição Incompleta: Brasil desde 1945. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
vol. 1, pp. 31-72.
MONTALI, Lilia T. (s. d.), Salário Mínimo e Condição de Vida. São Paulo, DIEESE. Disponí-
vel em http://www.dieese.org.br/cedoc/007171.pdf. Acessado em junho de 2009.
MORAES FILHO, Evaristo de. (1952), O Sindicato Único no Brasil. Rio de Janeiro, A Noite.
MOURA, Margarida M. (1978), Os Herdeiros da Terra. São Paulo, Hucitec.
NEGRO, Antonio. L. (2004), Linhas de Montagem: o Industrialismo Nacional-Desenvolvi-
mentista e a Sindicalização dos Trabalhadores. São Paulo, Boitempo/FAPESP.
OLIVEIRA, Francisco de. (1981[1972]), A Economia Brasileira: Crítica à Razão Dualista. 4
ed. Petrópolis, Vozes; São Paulo, CEBRAP.
OLIVEIRA VIANNA, Francisco J. (1922[1918]), Populações Meridionais do Brasil: História –
Organização – Psicologia. 2 ed. São Paulo, Monteiro Lobato.
. (1923), Evolução do Povo Brasileiro. São Paulo, Monteiro Lobato.
. (1939), O Idealismo da Constituição. 2 ed. aumentada. São Paulo, Companhia Edito-
ra Nacional. (Coleção Brasiliana).
816
PAOLI, Maria C. (1988), Labour, Law and the State in Brazil, 1930-1950. Tese de doutora-
do em História, Birkbeck College, University of London.
QUEIROZ, Maria Isaura P. (1965), O Messianismo – no Brasil e no Mundo. São Paulo, Domi-
nus.
RIOS, Ana L. e MATTOS, Hebe M. (2005), Memórias do Cativeiro. Família, Trabalho e Cidada-
nia no Pós-Abolição. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.
SANTANA, Marco A. (2001), Homens Partidos. Comunistas e Sindicatos no Brasil. São Pau-
lo, Boitempo.
. (2006), Horizonte do Desejo. Instabilidade, Fracasso Coletivo e Inércia Social. Rio de Ja-
neiro, Editora FGV.
SILVA, Adalberto F. (1982), Ocupação Recente das Terras do Acre: Transferência de Capitais e
Disputa pela terra. Belo Horizonte, UFMG.
SIMÃO, Azis. (1966), Sindicato e Estado. Suas Relações na Formação do Proletariado de São Pa-
ulo. São Paulo, Dominus.
SKIDMORE, Thomas. (2003), Brasil: de Getúlio a Castelo. 13 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
SUPIOT, Alain. (1994), Critique du Droit du Travail. Paris: Presses Universitaires de Fran-
ce.
THOMPSON, Edward P. (1987), A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, vol. 1-2.
TITMUSS, Richard M. (1963), Essays on the Welfare State. Londres, George Allen & Unwin.
817
818
ABSTRACT
A Brazilian Utopia: Getúlio Vargas and Welfare State Building in a
Structurally Unequal Society
This article joins the persistent (and still current) effort to decipher the riddle of
Brazil’s equally persistent inequality. Resuming the interpretation of modern
Brazil proposed by Juarez Brandão Lopes in the 1960s, the article proposes to
revisit the “Vargas Era” and its historical meaning and scope, in light of the
reproduction of inequalities over time. The author contends that “regulated
citizenship” generated the expectation of social protection among Brazilian
workers, feeding the promise of citizens’ integration, which was not fulfilled,
while performing the task of finally (but not definitively) incorporating
workers as artifices in the Brazilian state-building process.
RÉSUMÉ
Une Utopie Brésilienne: Vargas et la Construction de l’État Providence
dans une Société Structurellement Inégale
819