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Membros:
Antônio Carlos Witkoski
Domingos Sávio Nunes de Lima
Edleno Silva de Moura
Elizabeth Ferreira Cartaxo
Spartaco Astolfi Filho
Valeria Augusta Cerqueira Medeiros Weigel
História e Educação
na Amazônia
Marcos André Ferreira Estácio
Lucia Regina de Azevedo Nicida
(Organizadores)
História e Educação
na Amazônia
Copyright © 2016 Universidade Federal do Amazonas
Reitora
Márcia Perales Mendes Silva
Revisão técnica
Editora Suely Oliveira Moraes Marquez
Suely Oliveira Moraes Marquez
Editoração - Internas e Capa:
Revisão Português Márcia R. Coimbra
Catia Siqueira Taboada
e Lucíola Limaverde Arte da Capa: Ivo Souza
ISBN 978-85-7401-834-8
CDU 930.85:37(811.3)
Dermeval Saviani1
Os Organizadores
Sumário
Prefácio ........................................................................................................................ 07
Apresentação .............................................................................................................. 11
Relações Étnico
Raciais e Educação
na Amazônia
Introdução
1 - Em virtude de nossos objetivos e do espaço que cabe a um artigo, não entraremos no âmbito
econômico que confere sentido à colonização, mas entendemos sua importância, que provavel-
mente está implícito nos interesses reais, uma vez que “no seu conjunto, e vista no plano mun-
dial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial,
mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a
explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o
verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará
os elementos fundamentais, tanto econômicos como social da formação e evolução históricas
dos trópicos americanos” (PRADO JÚNIOR, 1997, p. 19-20).
2 - “Os primeiros conventos, fundados pelas ordens religiosas, que abriram escolas para me-
ninos, foram denominados colégios; os outros conservam o nome de conventos” (ALMEIDA,
1989, p. 25).
24 | História e Educação na Amazônia
Na catequese,3 por exemplo,
3 - Pela catequese podemos notar a síntese dos três elementos importantes para o objetivo dos
jesuítas: ela transmitia conteúdos exclusivamente religiosos, era transmitida em português e nos
aldeamentos.
4 - “Na década de 1970, iniciou-se a estruturação de diferentes organizações indígenas, com
o objetivo de defesa dos territórios e de luta por outros direitos. O movimento ganhou corpo
e visibilidade nacional com as grandes reuniões, organizadas pela União dos Povos Indígenas
(UNI), juntando um número expressivo de povos indígenas. A partir da UNI, formam-se outras
organizações indígenas de representação mais regional ou étnica. Estruturam-se igualmente as-
sociações e organizações de professores e de agentes de saúde indígenas. Desde então, intensi-
ficam-se em todo o país a realização de ‘Encontros de Professores Indígenas’, ou ‘Encontros de
Educação Indígena’, nos quais eram discutidas questões relativas à escola que os índios queriam
para suas comunidades” (BRASIL, 2005, p. 28).
História e Educação na Amazônia | 25
indígena no Brasil por reivindicação de direitos começa a tomar forma e é
fortalecido por organizações não governamentais que se articulam para fazer
frente às ações integracionistas do estado brasileiro, abrindo espaços sociais
e políticos para que a questão indígena se impusesse no país, exigindo mu-
danças em relação ao assimilacionismo. Decorrente de um panorama de lutas
por direitos humanos e sociais combinado com a efervescência por mudanças
estruturais impulsionadas pelo fim da ditadura militar e o horizonte de um
“novo Brasil”, a Constituição Nacional de 1988 assegurou aos povos indígenas
10
11 - Essa redução, também geradora de precarização, produz dupla função de alguns servidores.
Nota-se o caso das educadoras alimentares que informaram acumular a função de faxineira e do
vigia que abarca a função de bedel.
12 - Nomenclatura pelo qual a prefeitura renomeou o trabalho das merendeiras.
13 - Um piloto da única lancha disponível para as três aldeias e dois pilotos de bajara (tipo de
canoa com cobertura com pequeno motor na popa).
14 - Antiga telha de amianto.
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próprios comunitários nas mesmas condições descritas acima.15
O banheiro dos três prédios, inclusive do prédio da escola polo, é do
tipo fossa séptica, sem lavatório ou papel para higienização.16 Nenhuma es-
cola conta com água encanada e energia elétrica. A merenda, segundo uma
das educadoras alimentares, não é totalmente adequada à realidade alimentar
dos indígenas e em quantidade insuficiente, fato que, segundo um professor
do São José III, provoca constante falta dos alunos e constrangimentos aos
professores e alunos.
27 - Interessante apontar que o problema não é no plano da lei. Elas existem e são razoáveis. O
problema é praticar o estabelecido no campo teórico das leis.
28 - Conhecimento que não pode ser separado da realidade material que o produziu, de modo
que não é a consciência que gera a realidade, mas o contrário.
História e Educação na Amazônia | 35
cando a consciência. Num ato teleológico, ou seja, numa ação movida por
uma atividade direcionada a um fim, o homem produz objetivamente a partir
do trabalho e se humaniza com essa produção. Cabe as gerações seguintes se
apropriarem dessas objetivações para a manutenção e aprimoramento do ho-
mem (DUARTE, 1993). O papel da escola como mediadora das apropriações
e das objetivações historicamente construídas pela humanidade é imprescin-
dível, sobretudo considerando que o conhecimento se torna cada vez mais
elaborado.
É no contexto acima que Saviani (1997, p. 19) ressalta: “[...] a escola
existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o
acesso ao saber elaborado (ciência)”. Consequentemente, “[...] a escola tem
a ver com o problema da ciência” (SAVIANI, 1997, p. 19). Opondo-se fron-
talmente às teorias pedagógicas liberais que em linhas gerais defendem que
todo saber é válido e de que a escola tem que tratar dos assuntos que os alunos
espontaneamente levantam, Saviani (1997, p. 19) conclui, sobre o papel da
escola, que
[...] para atuar eficazmente junto aos alunos deve ter uma
compreensão sintética da prática social significa dizer
que ele deverá ter uma compreensão articulada das múl-
tiplas determinações que caracterizam a sociedade atual
(SAVIANI, 2013, p. 4).
Considerações finais
Referências
ALMEIDA, José Ricardo Pires de. História da Instrução Pública no Brasil (1500-
1889): história e legislação. Tradução Antonio Chizzotti. São Paulo: Educ; Brasiília:
Inep/MEC, 1989.
BEOZZO, José Oscar. Leis e Regimentos das Missões: política indigenista no Brasil.
São Paulo: Edições Loyola, 1983.
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5. ed. Rev.
Campinas: Autores Associados, 2012. (Coleção Educação Contemporânea).
______. A arte de construir competências. Revista Nova Escola. São Paulo: Abril Cul-
tural, 2000.
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994.
______. Arquivo Pessoal (Imagens das estruturas físicas das escolas da TI Maró).
Santarém: [S. ed.], 2015b.
______. Arquivo Pessoal (Imagens de material fixado nas salas de aula das escolas
da TI Maró). Santarém: [S. ed., s.n.], 2015c.
SANTOS, Silvio Coelho dos. Educação e sociedade tribal. Porto Alegre: Movimento,
1975.
História e Educação na Amazônia | 41
SAVIANI, Dermeval. Educação cocialista, pedagogia histórico-crítica e os desafios
de uma sociedade de classes. In: LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval
(Orgs.). Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas: Autores Asso-
ciados, 2005. p. 223-274.
Introdução
A fase dos intérpretes portugueses: fala branco, fala índio, mas a língua do bran-
co fala pelos indígenas
2 - Nome abreviado do "Directório que se deve observar nas Povoações dos Índios do Pará e Ma-
ranhão em quanto Sua Majestade não mandar o contrário (1757-1798)", publicado em edição
fac-similar por Almeida (1997).
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a língua portuguesa, cujo uso passa a ser obrigatório, recebendo seu ensino o
estímulo da criação de escolas públicas” (ALMEIDA, 1997, p. 173).
Almeida (1997, p. 173) também afirma que
4 - Quanto ao Estatuto do Índio, ainda vigora o anterior à Constituição Federal (Lei nº 6.001, de
19 de dezembro de 1973). O novo estatuto encontra-se em tramitação no Congresso Nacional.
História e Educação na Amazônia | 53
“educação bilíngue” como uma tática para resguardar os interesses civilizató-
rios do Estado. Na realidade, a política governamental visava a “favorecer o
acesso” dos índios ao sistema nacional de ensino, da mesma forma que faziam
os missionários católicos e evangélicos, estes os inventores das técnicas bilín-
gues empregadas pelo SIL com vistas à conversão religiosa.
O grande parceiro dos projetos educacionais da Funai foi o SIL, insti-
tuição que transformou o bilinguismo oficial em uma forma de dominação,
mantendo os mesmos objetivos civilizatórios dos primeiros missionários vol-
tados para a salvação das almas pagãs.
Nessa perspectiva, as línguas indígenas passaram a representar formas
de educar o “índio selvagem” a partir dos conceitos e normas do “branco ci-
vilizado”. Associado à negação e ao silenciamento das culturas indígenas dos
períodos anteriores, o SIL utilizou uma nova estratégia, a saber,
5 - Transcrição dos parágrafos 1º, 3º, 4º e 5º do relatório de 23 de maio de 1980, elaborado pelo
Departamento Geral de Desenvolvimento Comunitário da Funai, assinado por Jaime de Mattos,
Chefe da Divisão de Educação, que descreve os projetos da Funai na área da educação escolar
indígena.
História e Educação na Amazônia | 55
ção de diversas organizações de educadores indígenas.6
Na década de 1980, faz-se a distinção, apontada por Meliá (1979), entre
“educação indígena” e “educação para o índio”, e têm início diferentes expe-
riências escolares indígenas e de formação de educadores, apoiadas por diver-
sas instituições de assessoria.7
As décadas de 1980 e 1990, apesar de a educação escolar indígena se
apresentar ainda com muitas questões a serem discutidas e transformadas, fo-
ram períodos de significativos avanços e conquistas, principalmente marcadas
pela aceleração das discussões e propostas legais de regulamentação de educa-
ção escolar nas comunidades indígenas a partir da promulgação da Constitui-
ção Federal de 1988.
A Constituição Federal assegurou aos indígenas o direito à sua orga-
nização social, costumes, línguas, crenças e tradições, dedicando-lhes um ca-
pítulo no título: “Da Ordem Social”. O § 2º do artigo 210, da Constituição
também consolida o conceito de bilinguismo quando afirma que “o ensino
fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às co-
munidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e proces-
sos próprios de aprendizagem”.
Há também diversas legislações complementares tratando do tema
sobre populações indígenas: Decreto nº 1.775, de 8 de janeiro de 1996, so-
bre processos administrativos de demarcação de terras indígenas; Decreto nº
1.141, de 10 de maio de 1994, sobre ações de proteção ambiental, saúde e apoio
às atividades produtivas para as comunidades indígenas; Decreto nº 564, de 8
de junho de 1992, Estatuto da Fundação Nacional do Índio.
No campo da educação, o Decreto nº 26, de 4 de fevereiro de 1991,
transferiu a responsabilidade da educação escolar indígena da Funai para o
Ministério da Educação (MEC). Em razão dessa mudança, coube ao órgão
ministerial as responsabilidades últimas sobre a educação escolar indígena.
Esse decreto previu que as ações de desenvolvimento das escolas indígenas,
bem como sua regularização, seu incremento e constantes melhorias seriam
feitos pelos Sistemas Estaduais de Educação, e, em casos específicos, pelos mu-
nicípios em colaboração com os respectivos estados.
Considerações finais
Referências
______; AZEVEDO, Marta Maria. Pensando as escolas dos povos indígenas no Brasil:
o movimento dos professores indígenas do Amazonas, Roraima e Acre. In: SILVA,
Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luis Donizete Benzi (Org.). A temática indígena na
escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Global, 2000.
SILVA, Rosa Helena Dias da. Movimentos indígenas no Brasil e a questão educativa:
relações de autonomia, escola e construção de cidadanias. Revista Brasileira de Edu-
cação, São Paulo, n. 13, p. 95-113, jan./abr. 2000.
ALESSANDRA SCHUELER
Universidade Federal Fluminense (UFF)
1 - Texto de João de Palma Muniz (1913, p. 22), chefe do serviço de colonização do estado do
Pará, vinculado à Secretaria de Obras Públicas, Terras e Viação. Muniz (1873-1927) acompa-
nhou os trabalhos no Núcleo Indígena Santo Antônio do Maracanã (Colônia Santo Antônio
do Prata, a partir de 1902), desde os seus primórdios. Nascido em Vigia, Pará, era engenheiro e
escritor de livros históricos e geográficos.
2 - Segundo Ernesto Cruz (1958, p. 87), a estrada de Bragança tinha 30 quilômetros e suas terras
História e Educação na Amazônia | 61
iniciativa encontrou eco positivo entre autoridades públicas, jornalistas, polí-
ticos e intelectuais que a visitaram ao longo da década de 1910. Os versos do
escritor paraense Paulino de Brito, entoados por mais de 40 meninos índios
por ocasião de uma grande celebração ocorrida em 1900, no núcleo, enalte-
cem a presença da cruz e do que ela representa para estes sertões: a entrada
da luz nas matas virgens dos sertões paraenses. A luz se faz pela presença da
fé cristã, da instrução e do trabalho. Os sertões, percebidos como um mundo
de desordem e barbárie (ALMEIDA, 2003, p. 80), tomados de florestas e ha-
bitados por “selvagens”, deverão ser domados pela ação conjunta do Estado e
da Igreja. Em seguida ao ato de fé, os frades se lançaram à tarefa temporal de
introduzir os elementos da vida civilizada no núcleo: “Em poucos dias abriu-
se vasta clareira na mata, construções novas surgiram e a escola contava com
27 meninos índios, entregues pelos pais, para receber os ensinamentos da fé e
das letras” (MUNIZ, 1913, p. 19).
O caráter empreendedor dos missionários pode induzir à ideia de que
somente coube aos índios aceitar as intervenções realizadas pelos frades, a
partir do contrato efetuado com o governo do estado do Pará. No entanto, as
fontes são claras quanto ao importante papel desempenhado pelos índios no
processo de escolha da região para a criação do núcleo missionário e na via-
bilidade para a sua instalação. Os frades vieram do Maranhão com o objetivo
de instalar uma missão no Pará. Traziam consigo uma experiência de atuação
missionária junto à colônia de São José da Província do Alto Alegre, fundada
em 1895 no Maranhão, onde funcionavam dois internatos para meninos e
meninas indígenas. No Pará, o governador Paes de Carvalho, mostrando-se
disposto a promover a educação dos “silvícolas”, autorizou a ação dos frades.
Para além do consentimento, os índios incitaram a instalação do núcleo
indígena no território que ocupavam junto às margens dos rios Maracanã e
Prata, ao convidarem frei Carlos de São Martinho para visitar os seus “aldea-
mentos” (MUNIZ, 1913, p. 7). O pedido, dirigido ao missionário, foi encami-
nhado por índios Tembé ao procurador-geral do Estado. A receptividade dos
índios e a comunicação rápida com a capital, pela estrada de ferro de Bragan-
ça, determinaram a escolha do local. Essa não foi a única iniciativa dos nativos
que facilitou a missão dos Capuchinhos Lombardos da Missão do Norte do
Brasil no Pará. Os índios da família Miranha teriam recebido os missioná-
rios “[...] com demonstrações especiais de alegria e contentamento, cedendo
eram consideradas as melhores do Pará para a agricultura, tendo abrigado no período republi-
cano 11 núcleos coloniais, povoados por famílias europeias, americanas e brasileiras. Em 1905,
foi construído ramal ferroviário que ligava a Colônia do Prata à estrada de ferro de Bragança.
62 | História e Educação na Amazônia
o seu chefe João Thomaz Miranha a sua própria casa, construída levemente,
segundo o habito dos indios”. Na casa indígena, denominada de “maloca” pela
imprensa paraense, frei Carlos pôde, de imediato, iniciar seu trabalho, nela
instalando a administração, o almoxarifado, a residência dos frades, a escola,
as oficinas de trabalho e a capela (MUNIZ, 1913, p. 19). “Ao redor achavam-se
espalhadas as malocas dos índios”, relata o jornal A Província do Pará (1900).
Sem a amizade dos adultos e dos velhos, os reformadores sabiam ser imprati-
cável a sua empreitada.
O envio dos meninos para a escola e, posteriormente, para o internato
não pode ser interpretado como aceitação passiva de um modelo de educação
diverso do de sua gente. O significativo número de meninas e meninos que
passaram a frequentar as escolas e os internatos sugere que as famílias deseja-
vam a educação de seus filhos segundo os preceitos pedagógicos e religiosos
defendidos pelos frades e autorizados pelo Estado. Afinal de contas, reunir
27 crianças em poucos dias para frequentar a escola não era acontecimento
comum nas áreas rurais. O internato feminino, instalado em janeiro de 1905,
com 20 índias e cinco órfãs, atingiu em setembro do mesmo ano o número
máximo de vagas: 60 internas. A concessão das filhas para a educação sepa-
rada das famílias é descrita no relato histórico do bispo do Maranhão, Fran-
cisco de Paula Silva (1922), como a empresa “mais difficil, pois é sabido que o
indio dá facilmente seu filho, mas sua filha, não”. A despeito do preconceito
encerrado na afirmação, pois desconsidera que as famílias pudessem ter ou-
tros propósitos e meios para a educação de suas filhas, não se deve desprezar
a informação de que as meninas costumavam ser mais protegidas do contato
com outros modelos de educação. Não podemos deixar de chamar a atenção
para a visão disseminada na época de que os índios davam seus filhos, como se
fossem pequenos animais, negando aos pais a capacidade subjetiva de deposi-
tarem no processo educacional expectativas e significados próprios.
É preciso entender que os mecanismos de aldeamento, com suas fun-
ções catequéticas, pedagógicas e políticas, não constituíam novidade para es-
ses índios. No Segundo Reinado, a região já abrigara o aldeamento do Mara-
canã, com escola orientada pelos capuchinhos. Nossa hipótese é a de que as
famílias que ali viviam já conheciam e reivindicaram o trabalho missionário
dessa ordem. O Almanak Paraense informa que, em 1882, havia uma escola
elementar no aldeamento do rio Maracanã, cujos índios empregavam-se nas
plantações.3 A escola fora criada em 1873, na administração do Barão de San-
tarém. Não é possível afirmar que esse aldeamento tenha existido no mesmo
4 - Diretório que se deve observar nas povoações de índios do Pará e Maranhão, enquanto Sua
Majestade não mandar o contrário, 1758 (Decreto nº 426, de 24 de junho de 1845 – Regulamen-
to da catequese e civilização dos índios).
66 | História e Educação na Amazônia
misturados e civilizados.5 Essa variedade de procedimentos persistiu durante
o século XIX, posto que o Império acentuou o caráter assimilacionista da po-
lítica indigenista, num contexto marcado pelo recrudescimento das tensões e
conflitos pelas terras aldeadas e devolutas, questão crucial nos anos oitocentos
(CUNHA, 1998).
No Império, a colonização do interior perpassou os planos de civiliza-
ção dos índios e foi retomada com o decreto de 1845 (Regulamento nº 426,
de 24 de julho de 1845, do Ministério do Império, também conhecido pelo
termo Regimento das Missões), o qual reeditou a Diretoria dos Índios, indi-
cando a criação de aldeamentos sob as ordens de um administrador nomeado.
O Regulamento Geral manteve o sistema de aldeamento, entendendo-o como
caminho para a assimilação dos grupos indígenas à civilização imposta pelas
classes dirigentes do Estado. A lei proibiu o antigo sistema de “repartição” do
trabalho indígena que, na prática, conduzia às formas variadas de exploração
da mão de obra e garantiu direito às terras ocupadas pelas aldeias, desde que
produtivas, ou seja, lavradas e cultivadas pelos nativos. Recriou a figura do
diretor das aldeias e reintroduziu a ação dos missionários, religiosos de várias
ordens, responsáveis pela educação e pela catequese. Para tanto, o regulamen-
to determinou a criação de escolas de primeiras letras nos aldeamentos exis-
tentes em todas as províncias do Império, nas quais se deveria ensinar a ler, a
escrever e a contar aos meninos e adultos, recomendando ainda dispensa do
uso de violência nos processos de instrução. Aliada à instrução elementar, a lei
propunha ainda a formação para o trabalho agrícola e para variados ofícios de
artes mecânicas, estimulando também o treinamento militar e o alistamento
dos nativos nas companhias de comércio e navegação (SILVA, 2002, p. 10).
O Império iniciou uma política de importação de capuchinhos italia-
nos, distribuídos pelos governos segundo seus próprios projetos de conquista
pacífica desses grupos (CUNHA, 1998). A relativa autonomia política e eco-
nômica das missões jesuítas dá lugar a aldeamentos dependentes das subven-
ções públicas, regulamentados pela legislação imperial e provincial e subme-
tidos ao poder local. Em meados da década de 1880, o diretor geral de índios
do Pará, Coronel José Evangelista de Farias Maciel, apresentou uma estatística
da população dos aldeamentos, a qual arrolou 4.260 índios aldeados, em 1883,
entre os quais uma grande maioria permanecia à sombra da “luz da instrução”,
6 - Maracajú (1884, p. 60); Almanak Paraense (1883, p. 222); Baena (1885, p. 27-28; 32).
7 - O Decreto nº 7, de 20 de novembro de 1889, extinguiu as antigas assembléias provinciais e
fixou provisoriamente as atribuições dos governos estaduais.
68 | História e Educação na Amazônia
Tembé, no Pará.8
11 - A respeito das escolas primárias dos aldeamentos capuchinhos do século XIX, ver o artigo
de Marta Amoroso (2001). Segunda a autora, a Ordem Menor, subvencionada pelo governo,
manteve missionários na maioria dos aldeamentos indígenas criados no Segundo Reinado.
72 | História e Educação na Amazônia
O isolamento das crianças traria ainda a vantagem de manter os índios
na colônia, enfrentando-se o obstáculo do deslocamento constante de índios
observado nos aldeamentos da região.
Por fim, a política de internação teve por objetivo, na visão dos gover-
nantes e dos missionários, sanar os problemas decorridos do contato diário
entre os alunos e seus parentes, evitando-se o risco de contaminação com os
“vícios” do seu meio.
Essa era a leitura que se fazia não só para os filhos dos índios, mas fre-
quentemente empregada para justificar o recolhimento de crianças que vaga-
vam pelas ruas de Belém, “[...] os pequenos vagabundos que pululam nesta
cidade”, segundo referência do governador Augusto Montenegro (1903, p.
54). Os internatos da colônia receberam os pequenos “selvagens” de ambos
os meios. Se, no primeiro ano de funcionamento da colônia, somente índios
habitaram o internato, dois anos depois 24 meninos não índios conviviam
com 33 indiozinhos. O contrato de 1898 previa que o Instituto do Prata deve-
ria “[...] receber e educar menores transviados, de 8 a 12 anos”, e nas revisões
posteriores da legislação essa determinação foi reforçada (MUNIZ, 1913, p.
8). Todos, índios e não índios, estudavam cinco horas por dia e trabalhavam
em diversos misteres leves, segundo a inspeção realizada por Palma Muniz em
1901 (1913, p. 48). Nesse ano, viviam no instituto cinco meninos remetidos
pela polícia, revelando que a maioria dos não índios vinha da própria região, e
não das ruas de Belém. Moravam todos em barracas cobertas de cavaco, pois
a construção do edifício para o instituto masculino demorara a sair do papel.
Outro aspecto digno de nota é a organização das escolas primárias, fe-
minina e masculina, divididas em três graus: elementar, médio e superior. A
frequência aos níveis médio e superior era mais intensa entre as alunas e os
Fonte: Governo do Pará. Álbum do estado do Pará (1901-1909). Paris, 1908. Obra de propaganda das ações do governo do estado
do Pará, em três línguas e com grande número de fotografias, principalmente das instituições educacionais.
Considerações finais
Referências
AMOROSO, Marta. Mudanças de hábito: catequese e educação para índios nos aldea-
mentos capuchinhos. In: SILVA, Aracy Lopes da; FERREIRA, Mariana Kawall Leal
(Orgs.). Antropologia, História e Educação: a questão indígena na escola. São Paulo:
Fapesp/Global/Mari, 2001.
CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). Política indigenista no século XIX. In: CUNHA,
Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia
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doutor... passou a administração da provincia do Pará ao 3º vice-presidente, o
excellentissimo senhor doutor Guilherme Francisco Cruz em 31 de dezembro de
1873. Pará: Typ. do Diario do Gram-Pará, 1873. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/
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LUCIANO, Gersem (Baniwa). O Índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os
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pectiva Assembléa no dia 7 de janeiro de 1884. Pará: Diario de Noticias, 1884. Dis-
ponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/555/index.html>. Acesso em: 16 abr. 2010.
RIZZINI, Irma. O cidadão polido e o selvagem bruto: a educação dos meninos des-
validos na Amazônia imperial. Tese (Doutorado em História)--FRJ/IFCS/PPGHIS,
Rio de Janeiro, 2004.
ARTEMIS TORRES
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Caminhos metodológicos
8 - Conceito desenvolvido por Adolfo Sanchez Vásquez (2007). Para Vásquez (2007, p. 267),
"[o] homem não vive em um constante estado criador. Ele só cria por necessidade; isto é, para
adaptar-se a novas situações, ou satisfazer novas necessidades. Repete, portanto, enquanto não
se vê obrigado a criar. Porém, criar é para ele a primeira e mais vital necessidade humana [...]".
Por isso, a práxis é essencialmente criadora, ainda que ela transite entre a repetição e a criação.
História e Educação na Amazônia | 97
“não passível de sofrer qualquer tipo de ruptura”. Terceiro, a existência de um
grupo de intelectuais orgânicos importante, de forte influência jesuítica, que
deu origem e orientou os passos da OPAN. E o quarto, o caráter eminente-
mente “educador/libertador” dos primeiros indigenistas.
9 - O terceiro setor marca um antes e um depois no papel e na identidade das ONGs de forma
geral. Longe de questionar a estrutura-superestrutura social, o terceiro setor passa a representar
um “voluntarismo” civil para suprir lacunas do Estado ou do setor privado, em prol de uma
suposta “humanização” do capitalismo, sem por isso questioná-lo.
98 | História e Educação na Amazônia
sendo dessa forma vítima de certo “isolamento de paisagem”. Criou-se um
cenário que fortalece a desagregação ou, dito de outra forma, a despolitização.
Grande parte da reflexão e da prática, do aprendizado em si, foi ficando atre-
lada às micropolíticas do coorporativismo.
10 - Termo que ressignificamos. Apesar de existir a palavra localismo como sinônimo de bairris-
mo, regionalismo etc., aqui o adotamos de forma pejorativa, como a exacerbação da práxis local
em detrimento de uma reflexão política maior.
100 | História e Educação na Amazônia
blema ao tipo de profissional, como se ser especialista em alguma área concre-
ta nos encurtasse inevitavelmente o “olhar” – ao invés de levar a discussão ao
campo do projeto filosófico-político da OPAN, escondendo da visão a questão
principal. Já Freire (1983, p. 21) alertava sobre a especialização “despolitizada”
do indivíduo, que se dá “[...] se este olha e percebe a realidade enclausurada
em departamentos estanques. Se não a vê e não a capta como uma totalidade,
cujas partes se encontram em permanente interação”.
Essa lógica de projetos11 parece conduzir a uma cilada: a fragmentação.
Quando a elaboração e o desenvolvimento dos projetos se fazem vinculados
apenas a uma parte da realidade, as partes/projetos terminam por tomar conta
do universo de atuação, constituindo-se como pequenos horizontes isolados e
esgotados em si mesmos. Dessa forma, o projeto institucional termina sendo
um somatório de partes, sem alinhavo nem organicidade coletiva e coerente.
A relação dialética entre as partes (projetos) e o todo (projeto institucional)
fica, dessa forma, comprometida, pois este último acaba submetido às partes,
tornando-se terreno fértil para a despolitização, se não se traçam estratégias
institucionais de como elaborar e implementar intervenções preservando a
autonomia e a autodeterminação política e pedagógica institucional e indíge-
na. Também o cenário da lógica de projetos deixa claro o tipo de trabalhador/a
que precisa: um operário (empregado) executor nos parâmetros mecanicistas,
que não carece “pensar”, mas “fazer acontecer”.
Algumas conclusões
Referências
KONDER, Leandro. O que é dialética? São Paulo: Brasiliense, 2010 [Coleção Primei-
ros Passos].
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. São Paulo: Clacso, Expressão Popu-
lar, 2007.
Introdução
4 - De acordo com Luciano (2006, p. 58), “[m]ovimento indígena não é o mesmo que organiza-
ção indígena, embora esta última seja parte importante dele”, pois o primeiro significa, “segundo
as lideranças indígenas”, o conjunto de estratégias e ações que as comunidades e as organizações
indígenas desenvolvem em defesa de seus direitos e interesses coletivos; já o segundo é a for-
ma pela qual uma comunidade ou povo indígena organiza seus trabalhos, sua luta e sua vida
coletiva, existindo duas modalidades: a tradicional (organização original dos índios) e a não
tradicional ou formal (organização de caráter jurídico, formal, de modelo não indígena, com es-
tatuto social, assembleias gerais, diretoria eleita, conta bancária e que deve ao Estado satisfação
e prestação de contas de seus atos e recursos utilizados).
108 | História e Educação na Amazônia
indígena no Amazonas, pois “[...] estimulou a criação de uma série de associa-
ções locais” (WRIGHT, 2005, p. 292) no Alto Rio Negro e abriu espaço para a
atuação efetiva das lideranças indígenas que buscavam representar seus povos
na luta pelos direitos dos índios.
As ações da Foirn estão centradas nas demarcações de terras, piscicultu-
ra e manejo agroflorestal sustentável para os povos indígenas da região, saúde,
cultura, artesanato, cidadania e apoio às iniciativas na área da educação em
busca de alternativas para a melhoria da educação escolar indígena e o acesso
diferenciado de indígenas na universidade.
Seus projetos educacionais se voltam para a valorização das línguas e
culturas tradicionais, com o aprendizado “[...] primeiramente nas línguas nati-
vas e num segundo momento em português”, sendo que tais projetos incluem
“[...] ainda a formação em atividades econômicas e sustentáveis que contri-
buam para o desenvolvimento da própria região” (FEDERAÇÃO..., 2004).
Em abril de 1989, foi criada, por líderes indígenas, a Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), representando, à
época, 23 povos do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima, para ser
instrumento de luta e representação dos povos indígenas da Amazônia Le-
gal pelos seus direitos a terra, saúde, educação, economia e interculturalida-
de. Atualmente, existem 75 organizações indígenas membros, representantes
de 160 povos de toda a Amazônia Legal, vinculadas à Coiab.5 Ela tem como
missão “[...] fiscalizar, defender e promover os direitos dos povos indígenas”
(COIAB, 2015, p. 1), com o objetivo de
6 - Este Fundo vigorou de 1998 a 2006, e foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvol-
vimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
110 | História e Educação na Amazônia
duais e Municipais de Educação Escolar Indígena, para o
controle social da aplicação dos recursos públicos desti-
nados à Educação Escolar Indígena. A COIAB deve fazer
gestão junto ao MEC para que estas instâncias sejam cria-
das e funcionem adequada e efetivamente, e que sejam
definidas realmente as responsabilidades entre estados e
município em relação a gestão da Educação Escolar Indí-
gena Diferenciada.
[...]
Reivindicar, em relação ao ensino superior indígena, a
criação de um Fundo Único no MEC, para garantir o
acesso, a permanência, o sucesso e o retorno social dos
estudantes para as comunidades indígenas.
Criar uma política de publicação de material didático
próprio para a educação escolar indígena.
Efetivar a proposta da Comissão Nacional de Educação
do MEC de elaborar um cronograma de Conferências de
Educação Escolar Indígena e de Seminários regionais e
locais para avaliar a política de educação indígena no país
[...].
Articular a inclusão de representantes indígenas nos
Conselhos Estaduais de Educação (CEE’s).
Reivindicar a criação de um Programa de Formação pro-
fissional em nível médio e ensino superior para Agentes
Indígenas de Saúde (AIS) e outras categorias, de acordo
com a necessidade de cada povo indígena.
Reivindicar a criação de um Programa de Magistério
Inter-cultural, e de Licenciatura, para professores indí-
genas, e de outros cursos, de acordo com as reais neces-
sidades do movimento indígena. Esse Programa deve ser
uma política de Estado e não de Governo.
Reivindicar a participação efetiva dos representantes das
organizações indígenas na definição de vagas e cotas para
estudantes indígenas nas universidades, a fim de garantir
atendimento às demandas dos povos indígenas (COIAB,
2014a, p. 7-8).
pois estes,
Considerações finais
Referências
______. III Fórum Permanente dos povos indígenas da Amazônia: Carta de Porto
Velho, desenvolvimento sim, mas a qualquer custo não! Disponível em: <http://www.
coiab.com.br/site/pagina/areas-tematicas/iii-forum-permanente-dos-povos-indige-
nas-da-amazonia---carta-de-porto-velho---desenvolvimento-sim,-mas-a-qualquer-
custo-nao!/>. Acesso em: 24 dez. 2014c.
______. Nós, indígenas do Rio Negro: histórico do movimento indígena. São Gabriel
da Cachoeira-AM: Foirn, 2004. DVD (36 min), PAL-M, son. cor.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os
povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: MEC/ Secad, Laced/ Museu Nacional, 2006
(Coleção Educação para Todos, v. 12).
Introdução
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo fazer algumas conside-
rações do ponto de vista epistemológico e, portanto, teórico-metodológicas,
sobre a pesquisa em educação e principalmente sobre a pesquisa que se volta,
sobretudo, para a história das instituições escolares.
Já de início é preciso destacar que assistimos a um crescimento signifi-
História e Educação na Amazônia | 121
cativo do estudo da escola e seu passado. A materialidade da escola, bem como
a memória dos sujeitos escolares, são analisadas sob diferentes perspectivas.
A compreensão e consequentemente o reconhecimento do caráter científico
desses estudos implica o domínio de fundamentos teórico-metodológicos que
possibilitem explicitar o que é a pesquisa científica em história da educação e
quais os requisitos para a sua produção.
De início, faz-se algumas considerações sobre pesquisa, história e edu-
cação, cujos pressupostos são tomados como base para em seguida refletir-se
sobre os desafios teórico-metodológicos que circunscrevem a pesquisa da his-
tória das instituições escolares. Em um terceiro momento, a partir das consi-
derações anteriores, retoma-se a discussão sobre como e por que pesquisar a
história dessas instituições.
Essa orientação pode ser definida como o princípio do caráter concreto do conhecimento históri-
co-educacional (SAVIANI, 2010, p. 3, grifos do autor).
2 - “Fazer história é uma prática”, a partir de um lugar social, que termina com a produção de
um discurso. Esse discurso, a própria escrita, será responsável por distorções, alterações, pois
jamais dará conta de atingir e descobrir não só o que quer o historiador, mas aquilo que sua
pesquisa lhe revelou (CERTEAU, 1982 apud LOPES; FARIA FILHO; VEIGA, 2000, p. 16).
História e Educação na Amazônia | 125
História das instituições escolares: desafios teórico-metodológicos
Isso implica dizer que não basta ter boa vontade para sair
fazendo história das instituições escolares. É preciso su-
perar a ingenuidade teórica e metodológica e potenciali-
zar ao pesquisador um conhecimento amplo das ciências
da sociedade e de um fundamento sobre a natureza, as
dificuldades e multiplicidade de visões do que seja o his-
tórico (NORONHA, 2007, p. 168).
3 - Nesse sentido, convém citar o que afirma Bloch (2001, p. 81): “É bom a meu ver, é indispen-
sável que o historiador possua ao menos um verniz de todas as principais técnicas de seu ofício”.
História e Educação na Amazônia | 129
ainda outras constatações fundamentais do ponto de vista teórico-metodoló-
gico para o estudo da história da educação. Conforme as palavras da própria
autora,
Mas o mesmo autor afirma: “Nada mais legítimo, nada mais saudável
do que centrar o estudo de uma sociedade em um desses aspectos particulares
[...]”.
Uma segunda consideração importante diz respeito às ausências ligadas
à falta de respostas que correspondem à falta de perguntas. Na pesquisa his-
tórica, para chegar a respostas plausíveis, é preciso levantar questionamentos
plausíveis – ou, em termos de metodologia científica, é preciso apresentar o
problema de maneira que possa ser respondido cientificamente.
E uma terceira consideração quanto à pesquisa que versa sobre a his-
tória de instituições escolares, que se coloca como necessária para poder dar
conta das duas anteriores, é a necessidade de se ter clareza da perspectiva teó-
rico-metodológica da relação entre sujeito e objeto e do alcance e dos limites
que esse domínio teórico possibilita na construção do conhecimento histórico.
Considerações finais
4 - Nosella e Buffa (2008, p. 29-30) sugerem um roteiro guia com os seguintes elementos: cria-
ção e implantação da escola, evolução da escola, vida na escola e trajetórias de ex-alunos.
História e Educação na Amazônia | 135
Primeira República, já advertia sobre o perigo de se agir de forma mecânica ao
tratar da história da educação, sobretudo no que diz respeito à relação entre
educação e sociedade. Um de seus desejos era que seu trabalho pudesse auxi-
liar e quem sabe influenciar a parte metodológica de futuras pesquisas nesse
campo.
O desejo expresso por Nagle (1976), demonstra que a preocupação com
os aportes teórico-metodológicos não é um tema novo, mas recorrente, embo-
ra às vezes menos considerado na pesquisa educacional e particularmente na
pesquisa histórica que tem a educação como objeto principal.
O intuito deste trabalho foi de participar do diálogo acerca dos pressu-
postos teórico-metodológicos da pesquisa sobre a história das instituições es-
colares, apresentando algumas considerações a partir da literatura disponível
de autores que versam sobre o tema.
Em síntese, a partir das análises realizadas neste estudo, é possível dizer
que:
Referências
ANDRADE, Mariza Guerra de. A educação exilada: o Colégio do Caraça. Belo Hori-
zonte: Autêntica, 2000.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
KUENZER, Acacia Zeneida; MORAES, Maria Célia Marcondes de. Temas e tramas na
pós-graduação em educação. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 93,
set./dez. 2005.
LOPES, Eliane Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cyntia Grei-
ve (Orgs.). 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes,
2008.
NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU; Rio de
Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1974 (1976 – reimpressão).
______; BUFFA, Esther. Instituições escolares: por que e como pesquisar. In: SAN-
TOS, Ademir Valdir dos; VECHIA, Ariclê (Orgs.). Cultura escolar e história das
práticas pedagógicas. Curitiba: UTP, 2008.
SANFELICE, José Luís. História das Instituições Escolares. In: NASCIMENTO, Maria
Isabel Moura et al. (Orgs.). Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução
histórica. Campinas: Autores Associados/HISTEDBR; Sorocaba: Uniso; Ponta Grossa:
UEPG, 2007 (Coleção Memória da Educação).
SANTOS, Ademir Valdir dos; VECHIA, Ariclê (Orgs.). Cultura escolar e História
das práticas pedagógicas. Curitiba: UTP, 2008.
______. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3. ed. Campinas: Autores Asso-
ciados, 2010.
VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Filosofia da práxis. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
Introdução
1 - O termo exposto advém da prática, da época, de abandonar os filhos indesejados na roda dos
expostos da Santa Casa de Misericórdia, que se encarregava de criá-los com a ajuda financeira
do Estado e de filantropos (CABRAL, 1984).
História e Educação na Amazônia | 139
texto sócio-histórico de sua gênese e desenvolvimento. Categorias de análise
como: espaço, tempo, currículo e educação pública estruturaram o roteiro e
estabeleceram os procedimentos investigativos, que contaram com a leitura e
análise de fontes documentais da Biblioteca Pública Benedito Leite, a saber:
coleções de leis da província do Maranhão, regulamentos do Asilo Santa Tere-
za, jornais da época, bem como a bibliografia pertinente ao tema.
O Asilo Santa Tereza foi idealizado para ser uma versão feminina da
Casa de Educandos Artífices. Visava amparar e proteger meninas órfãs desva-
lidas e as expostas da Santa Casa de Misericórdia de São Luís, recolhendo-as
e educando-as conforme disposto no regulamento. A criação desse tipo de
2 - Escola masculina do período imperial existente em algumas províncias, que ensinava ofícios
como sapateiro, alfaiate, carpinteiro, entre outros, aos filhos dos pobres livres (SANTOS; SILVA;
MADEIRA, 2008).
História e Educação na Amazônia | 141
instituição seguia um modelo estrangeiro e fazia parte da política do Império
brasileiro voltado para assistência de crianças pobres e órfãs, adultos pobres,
doentes e loucos. Nesse conjunto, os asilos, as Santas Casas de Misericórdia e
as escolas de ofício serviam como idealizadores de um país que se pretendia
moderno (SANTOS; SILVA; MADEIRA, 2008).
No Maranhão, essa política imperial encontrou correspondência entre
os fazendeiros, onde se sobressaíam os senhores de engenho, os quais se or-
ganizavam em torno da Liga Maranhense.3 Esse partido defendia para a pro-
víncia um amplo programa de melhoramento material e moral, bem como
comprometia-se com a promoção de uma política de salvação e de paz, uma
metamorfose social. Para Cabral (1984), esse grupo estava interessado mesmo
era em uma reforma econômica que promovesse o aperfeiçoamento e a mo-
dernização do sistema produtivo escravista e se ajustasse às suas aspirações, o
soerguimento da economia mercantil.
O projeto político-econômico de cunho modernizador da Liga Mara-
nhense visava à difusão dos valores ligados aos interesses fundamentais desses
partidários4 e deveria dar-se por meio dos diversos canais ideológicos, como
jornais,5 associações e escolas, favorecendo, assim, a consolidação da hegemo-
nia desses fazendeiros. Para estes,
3 - Agremiação partidária que resultou da reorganização política realizada pelos dissidentes dos
Partidos Cabanos e Bentivis em 1846 (RIBEIRO, 1990).
4 - Adotando uma política de conciliação com os outros partidos (Estrela e Saquarema), a Liga
Maranhense conseguia a vitória de seus candidatos e consequentemente a aprovação na Assem-
bleia Provincial dos seus projetos, o que naquele momento significou a ampliação e consolida-
ção do seu poder (CABRAL, 1984).
5 - Suas ideias eram divulgadas pela elite intelectual (João Francisco Lisboa, os Teixeira Mendes,
os Franco de Sá, os Costa Ferreira, os Ribeiro, os Vilhena e os Carvalho) por meio dos jornais O
Progresso e A Imprensa (CABRAL, 1984).
6 - A Casa de Educandos Artífices era uma escola masculina que ensinava ofícios como sapatei-
ro, alfaiate, carpinteiro, entre outros. Apesar de ter sido idealizado para atender os filhos da ca-
mada livre pobre da província, estava circunscrito à capital, São Luís. O ensino técnico, por sua
vez, foi oferecido pela Escola Agrícola do Cutim, criada em 1859; mesmo pretendendo formar
aprendizes agrícolas, acabou por formar feitores para as fazendas. E, por não alcançar os fins
para os quais fora idealizada, fechou suas portas seis anos depois (CABRAL, 1984).
142 | História e Educação na Amazônia
Os critérios para uma menina se tornar uma asilada eram: ter entre 7
e 12 anos, ser exposta da Santa Casa de Misericórdia, órfã de pai e mãe ou
somente de pai. A admissão na instituição era feita por meio do presidente da
província e do juiz de órfãos, que analisavam as petições e julgavam-nas como
lhes parecia justo. O número inicial de asiladas, de acordo com o regulamento
de 1855, era de 40, compreendendo a capital e todas as comarcas da província,
mas poderia ser aumentado caso o asilo tivesse uma renda que fosse suficiente
para fazer frente às despesas (REGULAMENTO..., 1954, cap. III).
Como forma de custear parte das despesas do asilo, o regulamento pre-
via a admissão de meninas na condição de pensionistas, desde que os pais,
tutores ou benfeitores se comprometessem por meio de um termo a pagar
pela educação, manutenção e curativos a quantia de 12$000 (doze mil) réis
em prestações trimestrais adiantadas. A partir de março de 1860, esse valor foi
reajustado para 16$000 (dezesseis mil) réis mensais. Caso não fosse respeitado
o termo de compromisso, a pensionista era despedida e entregue ao represen-
tante legal ou a outro responsável qualquer.
Como medida para evitar o abandono das meninas e a consequente
superlotação do estabelecimento, o que inviabilizaria o seu funcionamento, o
regulamento previa que nenhuma asilada seria conservada na casa depois de
completar 17 anos. Posteriormente, o artigo III da Lei Provincial nº 787, de
11 de julho de 1866, previa que nenhuma menina fosse admitida no asilo sem
que o responsável assinasse um termo se comprometendo a recebê-la quando
completasse 20 anos. O Asilo Santa Tereza também não admitia o depósito
de mulheres casadas ou de meninas por casar ou qualquer outro fim que não
fosse o designado no regulamento.
O relatório de 1869, emitido pelo diretor ao presidente da província
sobre a instituição, apresentou as seguintes informações: de 1854 a 1869 entra-
ram no asilo 127 menores desvalidas como pensionistas da província. Destas,
seis faleceram; dez casaram-se; 35 foram entregues aos seus pais, tutores ou
parentes e 76 permaneceram na Casa. como pensionistas particulares havia 23
menores, das quais 17 foram entregues aos pais e seis continuaram internas.
Segundo esse documento, “[...] o Asilo até então havia devolvido à sociedade
62 moças entre solteiras e casadas devidamente educadas” (ABRANTES, 2004,
p. 161).
O espaço físico de vivência e aprendizagem das educandas foi primeira-
mente uma casa de morada alugada, situada no Largo dos Remédios no Cen-
tro de São Luís, de propriedade da viúva do desembargador Barradas. Poste-
riormente o asilo foi transferido para um prédio do governo na Rua Formosa,
também no Centro de São Luís (CONDURÚ, 1968). Viviam em sistema de
internato, reguladas por normas específicas que visavam imprimir um ritmo e
História e Educação na Amazônia | 143
uma disciplina, de maneira a moldar seus comportamentos. Cotidianamente,
aquela instituição estabelecia uma rotina marcada por estudos e orações; o
tempo deveria ser controlado de modo que todas as atividades do dia fossem
executadas, e as asiladas cumprissem o horário de recolhimento aos seus apo-
sentos.
De acordo com o regulamento da instituição, a entrada de pessoas es-
tranhas na casa era alvo de controle por parte da regente e só deveria concreti-
zar-se com a devida licença por escrito do diretor. As asiladas, por sua vez, ao
ingressarem ali, só poderiam deixá-la em situações previamente determina-
das, como: casos urgentes devidamente justificados; após casar; por ultrapas-
sar a idade mínima de permanência; e ainda por indisciplina – e, na maioria
dessas situações, somente com o despacho do presidente da província. Assim,
uma vez dentro do asilo, as meninas tinham seu espaço de sociabilidade sig-
nificativamente reduzido. Todavia, o dia da santa de invocação da capela da
instituição (Santa Tereza) era de festividade, e o local era preparado para re-
ceber os familiares das internas e os filantropos, com missa cantada e leilão de
objetos confeccionados pelas meninas.
Infere-se, portanto, que em muitas situações algumas asiladas se viam
obrigadas a deixar para trás hábitos familiares e absorver outros, sob pena de
serem advertidas, repreendidas ou punidas quando desrespeitassem a norma
de comportamento. Possivelmente a vigilância contribuiu para generalizar a
disciplina a que as asiladas estavam submetidas dentro da casa, tendo em vista
que sabiam que eram objeto de observação tanto por parte dos funcionários
quanto por parte das próprias colegas. Como diz Foucault (1987, p. 158),
A extinção do asilo
Conclusão
Referências
ABRANTES, Elizabeth Sousa. Educação feminina em São Luís: século XIX. In: COS-
TA, Vagner Cabral (Org.). História do Maranhão: novos estudos. São Luís: EDUF-
MA, 2004.
CONDURÚ, Dom Felipe Pachêco. História eclesiástica do Maranhão. São Luís: De-
partamento de Cultura do Estado do Maranhão, Lux, 1968.
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A fundação francesa de São Luís e seus mi-
tos. São Luís: EDUFMA, 2000.
LOURO, Guacira L. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORE, Mary (Org.). História
das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997.
RAMOS JÚNIOR, Manoel da Silva. A elite maranhense. In: ______. Ideário abolicio-
nista e o republicano na construção da intelectualidade maranhense: 1880-1890.
Monografia (Graduação)--UEMA, São Luís, 2002.
SANTOS, Monica Luise; SILVA, Rosilda Germano; MADEIRA, Maria das Graças de
Loiola. O ensino de ofícios no Império em Alagoas. In: ENCONTRO DE PESQUISA
EDUCACIONAL DO NORTE E NORDESTE, 18., 2008, Maceió. Anais eletrônicos.
Pôsteres. Alagoas: UFAL, 2008.
Introdução
A Instituição Pia Nossa Senhora das Graças foi legitimada como inter-
nato no ano de 1949, porém, nos anos anteriores essa entidade era a Associa-
ção da Juventude Antoniana, com personalidade jurídica, conforme publica-
ção do Diário Oficial nº 14.347, de 11 de maio de 1943, e filial da Pia União de
Santo Antônio do Pão dos Pobres. Esse projeto filantrópico tinha como idea-
lizadores os frades capuchinhos e D. Ilda Seabra de Almeida Martins, entre
outros sócios. Nos anos 1940, a instituição mantinha-se por meio de doações
da sociedade da época, como médicos, religiosos e pessoas com considerável
condição financeira, denominados de sócios.
A finalidade dessa associação, conforme a ata de 16 de janeiro de 1944,
era “assistir com esmolas as crianças órfãs”. As reuniões sempre se iniciavam
com orações e havia muito apelo por parte do assistente eclesiástico em en-
contrar cada vez mais sócios para as obras divinas. Os frades capuchinhos
pregavam a caridade, e com esse discurso tentavam estimular o maior número
Por volta dos anos 1960, a instituição passava por dificuldades financei-
ras, e na Figura 8 identificamos uma publicação de matéria intitulada Apelo:
Socorram-nos no jornal A Província do Pará, que revelava a necessidade do
poder público em ajudar a instituição. A matéria apelava ao poder público e ao
povo da terra na doação de lençóis, camas, roupas, calçados e alimentos com o
apelo de “ajudem a salvar a infância abandonada”. Destacava ainda a ajuda de
um deputado estadual, que, penalizado com a situação das criancinhas, doou
ao Instituto Pia Nossa Senhora das Graças 20 mil cruzeiros.
O olhar para a infância abandonada é um sentimento forte, nas palavras
de D. Ilda Martins, diretora da instituição. Diz ela:
Considerações finais
Referências
Ata de 16 jan. 1944. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1914.
Ata de 29 out. 1944. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1944.
Ata de 28 mar. 1945. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1945.
Ata de 1º maio 1945. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1945.
Ata de 2 fev. 1947. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1947.
Ata de 7 nov. 1948. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1958.
Ata de 6 fev. 1949. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1949.
Ata de 6 mar. 1949. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1949.
Ata de 25 set. 1949. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1949.
Ata de 4 dez. 1949. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1949.
Ata de 29 jan. 1950. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1950.
Ata de 5 fev. 1950. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1950.
Ata de 2 abr. 1950. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1950.
Ata de 1957. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1957.
Ata de 5 jan. 1958. Biblioteca Instituto Pia Nossa Senhora das Graças, 1958.
______. A criança órfã desamparada vai também possuir sua casa. Belém, 1954.
______. São crianças desamparadas que necessitam de sua ajuda! Belém, 1961.
RIZZINI, Irene. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para infân-
cia no Brasil. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Sobre o Colégio Pedro II, este foi criado na Corte em 1837, com o intui-
to de orientar as iniciativas das províncias em torno desse nível de ensino, um
estabelecimento de estudos secundários para servir como modelo para todas
as províncias brasileiras.
Por isso, entende-se que a falta da disciplina é que parece gerar ações
indisciplinadas. Sobre a disciplina Foucault (1987, p. 127):
Nesse sentido, Luckesi (1999, p. 48) explica que as condutas dos estu-
dantes consideradas inviáveis por uma parcela de professores eram motivos
suficientes para a aplicação dos castigos.
ELIAS, Nobert. O processo civilizador: uma história dos costumes. v. 2. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar, 1994.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro
como fonte de virtude. 1999. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/
pdf/ideias_08_p133-140_c.pdf>. Acesso em: 12 out. 2007.
MATO GROSSO. Livro de Registro das Escolas do Estado de Mato Grosso. Arquivo
Público de Mato Grosso (APMT). Livro IP-003-90, Cuiabá, 1889 a 1920.
SAYÃO, Rosely. Não dê castigo ao filho, aplique sanção. Disponível em: <http://www.
uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2111200213.htm>. Acesso em: 15 set. 2007.
Introdução
3 - O referido artigo da Carta Estadual prescreve que o governador do estado poderá solicitar
urgência para apreciação de projetos de lei de sua iniciativa (STONE, 2005).
4 - Atualmente essas secretarias são, respectivamente, assim denominadas: Secretaria de Estado
da Casa Civil, Secretaria de Estado de Administração e Gestão (Sead), Secretaria de Estado de
Saúde (Susam), Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e Secretaria de Estado de Educação e
Qualidade do Ensino (Seduc) (AMAZONAS, 2015a).
História e Educação na Amazônia | 189
Acatada a solicitação do executivo estadual para o regime de urgência
do Projeto de Lei, o então presidente da Assembleia Legislativa, deputado José
Lupércio Ramos de Oliveira (PFL), designou para relator da matéria o tam-
bém deputado Belarmino Lins de Albuquerque (PTB), e determinou a distri-
buição do projeto as Comissões de Constituição, Justiça e Redação Final; de
Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia; e de Economia, Finanças
e Orçamento, para a emissão de parecer sobre a matéria, bem como a inclusão
em pauta durante dois dias,5 com a finalidade de receber emendas.
Durante o prazo previsto para apresentação de propostas de emendas
ao Projeto de Lei nº 128/2000, apenas uma foi apresentada, a emenda aditiva
de autoria do deputado Manoel do Carmo Chaves Neto (PFL), que sugeriu
que fosse “[...] asseguradas 50% (cinquenta por cento) das vagas dos diversos
cursos da Universidade Estadual, aos alunos que tenham concluído o curso
médio em Escolas da Rede Pública de Ensino” (ALEAM, 2000a, p. 15).
Ao fundamentar sua proposição, o deputado Manoel do Carmo, justi-
ficou que
5 - O Projeto de Lei nº 128/2000, foi incluído nas reuniões ordinárias da convocação extraordi-
nária dos dias 18 e 19 de dezembro de 2000 (ALEAM, 2000a).
190 | História e Educação na Amazônia
um melhor nível de informações.
Ademais é fácil concluir que os abastados não teriam
maiores dificuldades. Afinal, poderiam também custear
seus cursos superiores nas Universidades Particulares,
hoje em um número significativo, inclusive em nosso Es-
tado (ALEAM, 2000a, p. 16).
A UEA deve ser dirigida por um reitor,11 auxiliado pelo vice-reitor e pró
-reitores, nomeados por ato normativo do chefe do Poder Executivo (AMA-
ZONAS, 2001c, 2001d, 2007a). No concernente a Estrutura Organizacional
dessa instituição de ensino superior, ela foi assim definida pelo Decreto nº
21.666/2001:
11 - Desde a sua criação, até 1º de abril de 2014, a UEA possuiu quatro reitores pro tempore:
I – Prof. Lourenço dos Santos Pereira Braga (2/2/2001 a 9/5/2007), II – Prof.ª Dr.ª Marilene Cor-
rêa da Silva Freitas (9/5/2007 a 31/3/2010), III – Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira (13/7/2010
a 25/3/2013), IV – Prof. Dr. Cleinaldo de Almeida Costa (25/3/2013 a 1º/4/2014). Durante o
período de 1º/4/2010 a 12/7/2010, ficou no exercício de reitor, o então vice-reitor, Prof. Carlos
Eduardo de Souza Gonçalves. Vale ressaltar, que a Lei nº 3.656, de 1º de setembro de 2011,
determinou que o processo de escolha do reitor e vice-reitor da Universidade do Estado do
Amazonas, dar-se-á por votação direta da comunidade universitária, sem, no entanto, estabele-
cer a partir de qual data esta escolha devesse ocorrer. Fato sanado com a edição do Decreto nº
34.433/2014, o qual aprovou as normas para a realização de processo de escolha de reitor e vice
-reitor da UEA. E em 20 de março de 2014, o Prof. Dr. Cleinaldo de Almeida Costa e o Prof. MSc
Mário Augusto Bessa de Figueiredo, foram eleitos pela comunidade acadêmica da Universidade
do Estado do Amazonas, para os cargos de reitor e vice-reitor, respectivamente, e tomaram pos-
se, aos 2 de abril de 2014, para um mandato de quatro anos (AMAZONAS, 2001f, 2007b, 2007c,
2010a, 2010b, 2011a, 2013b, 2013c, 2014a, 2014b; UMA DÉCADA..., 2011; UEA; CEG, 2014).
História e Educação na Amazônia | 197
(AMAZONAS, 2001d, p. 1).
I – ÓRGÃOS COLEGIADOS:
a) Conselho Curador
b) Conselho Universitário
IV – ÓRGÃOS DE ATIVIDADE-MEIO:
a) Pró-Reitoria de Administração
1. Coordenadoria de Orçamento, Finanças e Contabili-
dade
2. Coordenadoria de Recursos Humanos
3. Coordenadoria de Administração
4. Coordenadoria de Material e Patrimônio
5. Coordenadoria de Documentação e Arquivo
6. Coordenadoria de Manutenção de Prédios
V – ÓRGÃOS DE ATIVIDADE-FIM:
a) Pró-Reitoria de Ensino de Graduação
1. Coordenadoria Geral de Qualidade de Ensino
2. Coordenadoria de Apoio ao Ensino
3. Coordenadoria de Ensino Mediado Tecnológico
4. Coordenadoria de Legislação e Normas
5. Coordenadoria de Programas Acadêmicos
d) Pró-Reitoria de Interiorização
e) Escolas Superiores:
1. Escola Superior de Ciências Sociais (ESO)
2. Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA)
3. Escola Superior de Tecnologia (EST)
4. Escola Superior de Artes e Turismo (Esat)
5. Escola Normal Superior (ENS)
12 - Entre o segundo semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016, foram concluídas as cons-
truções dos seguintes núcleos de ensino superior: Núcleo de Ensino Superior de Boa Vista do
Ramos (Nesbovir), Núcleo de Ensino Superior de Barcelos (Nesbar), Núcleo de Ensino Superior
História e Educação na Amazônia | 199
1. Núcleo de Ensino Superior de Boca do Acre (Nesbca)
2. Núcleo de Ensino Superior de Carauari (Nescar)
3. Núcleo de Ensino Superior de Coari (Nescoa)
4. Núcleo de Ensino Superior de Eirunepé (Neseir)
5. Núcleo de Ensino Superior de Humaitá (Neshum)
6. Núcleo de Ensino Superior de Manacapuru (Nesmpu)
7. Núcleo de Ensino Superior de Manicoré (Nesmcr)
8. Núcleo de Ensino Superior de Maués (Nesmau)
9. Núcleo de Ensino Superior de Novo Aripuanã (Nes-
nap)
10. Núcleo de Ensino Superior de Presidente Figueiredo
(Nespfd)
11. Núcleo de Ensino Superior de Careiro Castanho
(Nescac) (AMAZONAS, 2007a, 2011c, 2011d, 2014c).
de Ipixuna (Nesipi), Núcleo de Ensino Superior de Nova Olinda do Norte (Nesnon) e Núcleo
de Ensino Superior de São Sebastião do Uatumã (Nessasu). Vale ressaltar que estão sendo cons-
truídos núcleos de ensino superior da UEA, nas seguintes cidades: Apuí, Autazes, Beruri, Borba,
Careiro, Barreirinha, Envira, Fonte Boa, Itamarati, Itapiranga, Jutaí, Nhamundá, Santo Antônio
do Içá, São Paulo de Olivença, Tapauá e Urucará.
200 | História e Educação na Amazônia
Figura 1:
Visão sistêmica
das unidades
acadêmicas
da UEA no
Amazonas.
13 - Também conhecido como Sistema Presencial Mediado pela Tecnologia, consiste na trans-
missão das aulas em tempo real por professores titulares, acompanhadas pelos alunos nas salas
de aula distribuídas nas sedes municipais do estado do Amazonas, sob a orientação de professo-
res assistentes (UEA, 2006, 2009b). “Esta ferramenta [é] utilizada pela Universidade do Estado
do Amazonas para vencer as distâncias e as dificuldades de logística características da região
amazônica [...]. No total, por este sistema, a UEA beneficiou mais de 20 mil alunos em todos os
municípios do Estado” (UEA, 2009a, p. 11).
202 | História e Educação na Amazônia
sua sede, foro, jurisdição e as autonomias didático-científica, administrativa e
de gestão financeira e patrimonial.
Alterações importantes ocorridas em 2011, foi na composição do Con-
selho Curador14 e do Conselho Universitário15 da Universidade do Estado do
Amazonas, pois em suas composições originárias não era previsto a repre-
sentação de docentes nestes órgãos colegiados, os quais são, respectivamente,
definidores tanto da política administrativa e de gestão da instituição, quanto
da acadêmica.
Acredita-se que a criação da
Considerações finais
14 - Sua atribuição é atuar como órgão colegiado de caráter consultivo e deliberativo da política
administrativa e de gestão da UEA, em assuntos de relevância (AMAZONAS, 2001d). É de
competência desse conselho, estabelecer as políticas e diretrizes gerais administrativas dessa
instituição de ensino superior, bem como a promoção e a viabilização de planos, programas e
projetos que almejem o seu fortalecimento institucional (AMAZONAS, 2001c).
15 - Atua como órgão colegiado de caráter normativo, consultivo e deliberativo da política aca-
dêmica da Universidade (AMAZONAS, 2001d).
História e Educação na Amazônia | 203
de vida, a cidadania e a integridade cultural e ambiental da Amazônia (UEA,
2009a).
Essa instituição de ensino superior surge enquanto resposta as reivin-
dicações de conhecimento dos amazonenses, e busca interiorizar a formação
no ensino superior. E para estar presente em todos os municípios do estado,
foi, e ainda o é, necessário superar desafios e vencer distâncias, pois “o acesso à
maioria dos municípios é feita por via fluvial e pode demorar mais de dez dias
em embarcações regionais” (UEA, 2006, p. 10).
Como afirma Telles (2010), a criação da Universidade do Estado do
Amazonas, corresponde sim, ao anseio de oportunizar o acesso dos estudantes
do interior amazonense a educação superior, assim como também, ao desafio
de interiorizar o conhecimento enquanto pressuposto indispensável para o
aprimoramento dos indivíduos e reforma das estruturas sociais interioranas,
as quais são beneficiadas com a presença das unidades da UEA.
Referências
______. Decreto de 27 de junho de 2014. Nomear, nos termos do artigo 7º, II, da Lei
nº 1.762, de 14 de novembro de 1986, o Professor Doutor CLEINALDO DE ALMEI-
DA COSTA, para exercer o cargo de Reitor e o Professor Mestre MÁRIO AUGUSTO
BESSA DE FIGUEIREDO, para exercer o cargo de Vice-Reitor da Universidade do
Estado do Amazonas, para um mandato de 04 (quatro) anos, a contar de 02 de abril
de 2014. In: Diário Oficial do Estado do Amazonas. Manaus, n. 32.830, p. 15, 27 jun.
2014b. Ano CXX.
______. Decreto de 13 de julho de 2010. Nomeia o Dr. José Aldemir de Oliveira para
exercer o mandato de reitor, pro tempore, da Universidade do Estado do Amazonas,
nos termos do artigo 34, §§ 1º e 2º, da Lei nº 3.098, de 13 de dezembro de 2006. In:
Diário Oficial do Estado do Amazonas. Manaus, n. 31.870, p. 4-5, 13 jul. 2010a. Ano
CXIV.
______. Lei nº 2.640, de 5 de abril de 2001. Modifica a redação dos dispositivos que
indica, da Lei nº 2.637, de 12 de janeiro de 2001. In: Diário Oficial do Estado do Ama-
zonas. Manaus, n. 29.626, p. 1, 5 abr. 2001a. Ano CVII.
______. Lei nº 3.595, de 11 de abril de 2011. Altera, na forma que especifica, a Lei De-
legada nº 114, de 18 de maio de 2007, que dispõe sobre a Universidade do Estado do
Amazonas – UEA, definindo sua estrutura organizacional, fixando seu quadro de car-
gos comissionados e estabelecendo outras providências. In: Diário Oficial do Estado
do Amazonas. Manaus, n. 32.050, p. 1-2, 11 abr. 2011c. Ano CXVII.
______. Lei nº 4.116, de 29 de dezembro de 2014. Altera, na forma que especifica, a Lei
Delegada nº 114, de 18 de maio de 2007, e dá outras providências. In: Diário Oficial
do Estado do Amazonas. Manaus, n. 32.952, p. 1, 29 dez. 2014c. Ano CXXI.
______. Lei nº 4.169, de 26 de março de 2015. Altera, na forma que especifica, a Lei nº
4.163, de 9 de março de 2015. In: Diário Oficial do Estado do Amazonas. Manaus, n.
33.010, p. 1, 26 mar. 2015b. Ano CXXI.
UMA DÉCADA de desafios. A Crítica. Manaus, ano LXI, n. 21.635, 24 jun. 2011. C4
– Cidades.
A Escola Nova
na Amazônia
Introdução
2 - Quanto ao tratamento dos ciclos econômicos, verifica-se que neste momento inicia-se o se-
gundo ciclo monopólico caracterizado por uma crise, que se inscreve à historiografia designada
como a Grande Depressão, cujo fenômeno emblemático foi o crash da bolsa de valores de Nova
York, em 1929. Ver Brito (2008), Dobb (1963).
212 | História e Educação na Amazônia
do processo de industrialização e urbanização. Tal contexto caracteriza-se por
um processo de transição do modelo social que ainda busca consolidar suas
bases, portanto, se define como período intermediário entre o sistema agrá-
rio-comercial e o urbano-industrial, os dois grandes ciclos da vida econômica
brasileira. Integra esse momento um grande esforço para alterar as bases do
poder e a função do Estado, principalmente no campo educacional. Consta-
ta-se a preocupação com a democratização do ensino: enfim está na pauta do
debate a “educação do povo” com a finalidade explícita de arregimentar forças
no sentido de consolidar a nação brasileira e o regime político imanente à
nova Federação, fazendo emergir um sentimento de pertencimento à Pátria.
Profundas alterações nos setores sociais,3 quer sejam de ordem política
quer sejam de ordem econômica e social, marcam o início do século XX. Fren-
te às contingências, tratava-se de Republicanizar a República, ou seja, batalhar
pela consolidação dos velhos e prementes ideais proclamados desde o advento
do novo modelo político instalado em 1889. Tal contexto marcado por pro-
fundas mudanças estruturais desencadeia a emersão do “entusiasmo pela edu-
cação e o otimismo pedagógico”, uma vez que a educação passa a ser concebida
como o problema vital do qual dependeria o progresso do País. Verifica-se
que tal corrente de pensamento constituiu a mais expressiva bandeira de luta
hasteada na década de 1920. A questão educacional se sobrepõe em grau de
importância ante os demais problemas, sejam de natureza política, econômica
ou social, vista como a única alternativa que possibilitaria a resolução deles. A
instrução torna-se cada vez mais laureada no sentido de atuar na desintegra-
ção da velha formação social considerada resultado da incultura e ignorância.
Diante dessa breve exposição, a luta ideológica que vem na esteira do
período que se estende dos anos de 1910 aos 1920 encontra espaço propí-
cio para se fortalecer com os reformadores e, por conseguinte, o processo de
viabilização de um novo paradigma educacional culmina no lançamento do
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, destinado “ao povo e ao
governo”, elaborado por Fernando de Azevedo e assinado por 26 educadores
brasileiros. O documento, por sua vez, sintetiza os princípios necessários à tão
premente renovação educacional ao conferir uma direção mais objetiva ao
campo educacional, ganhando terreno e respaldo no plano das medidas polí-
ticas adotadas pelo presidente Getúlio Vargas a partir de 1930, principalmente
quando da promulgação da Constituição de 1934.
3 - Sobre os Setores Sociais correspondentes ao período, ver Nagle (2001), na Primeira Parte,
“Os setores da sociedade brasileira”. Ali é empreendido um estudo aprofundado acerca dos as-
pectos imanentes aos setores político, econômico e social, sobretudo ao integrá-los dialetica-
mente ao movimento da Escola Nova.
História e Educação na Amazônia | 213
Configuração do Movimento Renovador: precedentes do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova (1932)
Considerações finais
Referências
DEWEY, John. Liberalismo, liberdade e cultura. Tradução Anísio Teixeira. São Pau-
lo: Nacional; USP, 1979.
______. Vida e Educação. Tradução Anísio Teixeira. 10. ed. São Paulo: Melhoramen-
tos; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978.
______. História das idéias pedagógicas no Brasil. 3. ed. Campinas: Autores Asso-
ciados, 2010. (Coleção Memória da Educação).
1 - Este trabalho foi publicado como artigo na Revista HISTEDBR on-line de dezembro de 2012
como parte de uma pesquisa de mestrado que resultou na dissertação intitulada A concepção de
infância presente no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932: a presença do pensamen-
to de John Dewey (1859-1952), a qual contou com o financiamento da Coordenação de Aperfei-
çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sob forma de bolsa de mestrado.
História e Educação na Amazônia | 225
ção do lucro em lugar da lógica de viver, e que possuíam
competência suficiente, energia, rudeza e ambição. As
distrações eram mínimas. Não havia uma velha nobreza
para seduzir os homens com títulos, e nem o exemplo
tentador da vida descontraída de uma aristocracia agrá-
ria. A política era antes algo para se comprar do que para
se praticar, exceto, evidentemente, como outro meio de
fazer dinheiro.
2 - A utilização do termo “liberais sociais” pode parecer estranha, e, em certa medida, é, mas
cabe a distinção por entender que o pensamento liberal, ao longo da história, sofreu algumas
modificações, todas elas com o mesmo objetivo: manter a ordem social e econômica nos pa-
drões estabelecidos pela burguesia. A adjetivação social está sendo empregada no sentido dado
pelos liberais à época, de tratar as questões sociais (educação, saúde, cultura, habitação etc.)
como algo que necessitaria de uma intervenção maior do Estado com duas intenções claras:
a primeira, na formulação e execução de políticas sociais que amenizassem as desigualdades
sociais e econômicas produzidas pelo sistema de produção capitalista; a segunda, afastar e de-
sacreditar as ideias de outra sociedade que não seja a capitalista. Dentre os “liberais sociais”, po-
demos identificar Dewey como um dos que percebem a necessidade de mudar a forma e o agir
na sociedade. De acordo com Galiani (2009, p. 143), “[...] o contexto social que determinou as
bases do pensamento de Dewey acentua este papel do Estado que a um só tempo promove a am-
pliação das desigualdades, ao permitir os investimentos na produção capitalista, sem interferên-
cia, mas, ao perceber que a ampliação das desigualdades ameaçavam a própria ordem burguesa,
estabelece uma reformulação política, nos moldes do new deal, como um meio de proporcionar
o equilíbrio nas relações econômicas, com medidas intervencionistas, assim, permite recompor
e conservar a ordem burguesa no país”.
234 | História e Educação na Amazônia
de produção capitalista. Logo, a participação do Estado deveria ser colocada
como sendo o agente responsável em manter a harmonia das relações confli-
tuosas entre as classes sociais, de modo que suas políticas sociais garantissem
o acesso das camadas populares aos benefícios mínimos produzidos pela “ma-
ravilhosa” máquina do capital.
Nesse sentido, a educação pensada por Dewey, adepto da nova forma
de conceber o liberalismo, cumpriria um duplo papel, ambos essenciais para
manter o ordenamento social. Num primeiro momento, a educação teria fun-
ção de reorganização social, no sentido de trazer para si a responsabilidade
moral de “remediar” as mazelas produzidas pelo capital, isto é,
Para tanto, o nosso trabalho buscou nas principais obras de Dewey seu
3 - Neste trabalho, entendemos o termo infância e criança na perspectiva adotada por Araújo
(2007). Segundo o autor, “[...] a infância é uma etapa da vida. Assim como são as fases da vida
a adolescência, a juventude, a adultícia e a velhice. O termo criança se refere concretamente à
pessoa que está vivendo a infância” (ARAÚJO, 2007, p. 186, grifos do autor). Logo, “Infância,
etimologicamente, vem do verbo fari – que significa falar, ter a faculdade e o uso da fala; daí a
derivação como infans, antis (que não fala; que tem pouca idade, infantil, criança). Portanto,
infantia significa dificuldade ou incapacidade de falar, nudez. Já o terno criança tem sua etimo-
logia vinculada ao verbo criar + anca, que significa o indivíduo na infância” (ARAÚJO, 2007, p.
189, grifos do autor).
236 | História e Educação na Amazônia
uma coisa por si mesma (DEWEY, 1979, p. 370-371).
Para ilustrar melhor essa relação, Dewey (1979, p. 25) explica a dife-
rença de três palavras – direção, controle e guia, que podem ter sentidos pró-
ximos, porém com implicações distintas. Segundo o autor, o sentido de guiar
está mais próximo do sentido da educação, pois “[...] a ideia de auxiliar, por
meio da cooperação, as aptidões naturais dos indivíduos [...]” possibilita à es-
cola explorar atividades que promovam o desenvolvimento e crescimento dos
educandos.
Nesse sentido, é possível perceber que a ideia de criança, para o autor,
está associada à liberdade e à proatividade do indivíduo, pois o desenvolvi-
mento e o crescimento da criança dependerão dessa relação, ou seja, não ocor-
rerá por uma imposição de hábitos e valores do adulto. Por outro lado, isso
não quer dizer que a criança viva num mundo paralelo, separado do mundo
do adulto com interesses próprios e distintos, mas que a incorporação dos há-
bitos e valores do grupo social tem que fazer sentido na vida das crianças, tem
que pulsar em seus movimentos e fazê-las dispor de sua energia para com-
preendê-los e exercê-los.
Considerações finais
Referências
______. Experiência e educação. Tradução Anísio Teixeira. 2. ed. São Paulo: Nacio-
nal, 1976.
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2.
ed. São Paulo: Contexto, 2010.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. p. 7-54.
______; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia ale-
mã em seus em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo
alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Tradução Rubens Enderle, Nélio Sh-
neider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. Tradução José Teixeira Coelho Neto. 4. ed. São
Paulo: Perspectiva. 2008.
Introdução
Considerações finais
Referências
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2012.
UCHÔA, Julio. Em plena acção! Revista de Educação, Manaus, anno II, n. 3, p. 9-10,
ago./set. 1932a.
Introdução
Comprovação de tal colapso é que, dos 180 sócios, ficaram apenas 40,
com visíveis prenúncios do aniquilamento da sociedade.
Considerações finais
SOUZA, Eunice Serrano Telles. Breves palavras sobre alguns pontos da Escola Nova.
Revista de Educação, Manaus, anno II, n. 5, p. 6-8, dez. 1932/ jan. 1933.
UCHÔA, Julio. Uma grande victoria! Revista de Educação, Manaus, anno II, n. 5, p.
8, dez. 1932/ jan. 1933.
Introdução
2 - São poucos os trabalhos que versam sobre esse tema em Mato Grosso. Referenciam-se aqui
somente a obra Nas trilhas do ensino, publicada em 1998, de autoria de Laci Maria Alves, que
dedica parte do segundo capítulo às repercussões da proposta escolanovista no estado, e o artigo
Os caminhos da Escola Nova no estado de Mato Grosso nas primeiras décadas do século XX: notas
sobre a Escola Normal e o ideário escolanovista, publicado em 2007, de autoria de Nilce Apare-
cida Fedatto e Almerinda Rodrigues, que analisa os princípios escolanovistas na formação de
professores para a escola primária.
274 | História e Educação na Amazônia
“[...] sobre o pretexto de propagar o ensino, multiplicam-se inutilmente as
escolas, para transformá-las em meras sinecuras, sem fiscalização alguma”. A
solução do problema, continua, não dependia
5 - No entanto, cabe ressaltar que a redação final das novas diretrizes elaboradas pela comissão
instituída passou por uma reavaliação por parte do próprio governo, que lhe adicionou alguns
artigos e deu-lhe nova redação (CORRÊA DA COSTA, 1927).
6 - Foi investido no cargo o Coronel Alexandre Magno Addor.
História e Educação na Amazônia | 279
Lamenta, em discurso posterior (1929, p. 87), a escassez de recursos
para a ampliação de inspetores de ensino (comissionados), que poderiam as-
segurar resultados benéficos e compensadores, “melhorando a situação do
corpo docente, punindo os maus professores, estimulando os bons e propor-
cionando aos novos, ensejo de uma aprendizagem didática, aos poucos, mi-
nistrada pelos próprios inspetores”.7 Ressalta que os inspetores distritais, “[...]
na maioria dos casos, sob pretexto de não auferirem remuneração alguma dos
cofres públicos, [...] limitam-se a passar, sem fiscalização alguma, os atestados
de exercício dos professores”.
Como técnica de planejamento, o citado regulamento, em seu artigo
76, institui “[...] o recenseamento escolar a cada dois anos, no mês de junho,
em todo estado, num raio de 3 km em torno de cada escola pública [...]” e, no
parágrafo único, prescreve a realização pelos inspetores gerais e pelas autori-
dades policiais de um levantamento constante dos “[...] núcleos desprovidos
de escola em perímetro de 3 km de raio, a partir do ponto principal do núcleo
[...]”. Devido a uma peculiaridade da região, cuja população se dispersa em
uma ampla área territorial, o documento propõe, em seu artigo 78, a participa-
ção de todos os envolvidos com a educação no recenseamento escolar.
Nesse caso, a não remuneração dos inspetores distritais dificultava ou
até mesmo impedia o serviço de estatística escolar porque eles, segundo o
presidente do estado, não forneciam à diretoria geral da Instrução Pública as
informações necessárias para a organização do quadro estatístico das escolas
públicas e particulares existentes (CORRÊA DA COSTA, 1929), deixando os
governantes sem a noção do número de crianças que não frequentavam os
bancos escolares, “dificultando” a campanha contra o analfabetismo.
Relativamente à situação do magistério, a reforma voltou-se para a for-
mação inicial e continuada do professor. Através do Decreto nº 742 de 29 de
setembro de 1926, que estabelece um novo regulamento para a Escola Normal,
foram criadas duas disciplinas – higiene e ginástica –, que, conforme o art. 7º
do § 1º, não tinham como foco somente a comunicação dos conhecimentos
necessários
Considerações finais
Referências
ALVES, Laci Maria Araújo. Nas trilhas do ensino. Cuiabá: EdUFMT, 1998.
______. ______. Arquivo Público de Mato Grosso, Livro 60, 1921. p. 22-30.
FEDATTO, Nilce Aparecida da Silva Freitas; RODRIGUES, Almerinda Maria dos Reis
Vieira. Os caminhos da escola nova no estado de Mato Grosso nas primeiras décadas
do século XX: notas sobre a escola normal e o ideário escolanovista. Educação e Fron-
teiras, v. 1, p. 101-118, 2007.
PÓVOAS, Lenine. História Geral de Mato Grosso. Cuiabá: L. C. Póvoas, 1995. v.II.
ROSA, Elizabeth Pippi da. Cartilha do dever: a instrução pública primária em Mato
Grosso nas primeiras décadas republicanas (1891-1910). Dissertação (Mestrado em
Educação-- UFMT, Cuiabá, 2002.
História e Educação na Amazônia | 285
ROSA, Maria da Glória Sá. Memória da cultura e da educação em Mato Grosso do
Sul. Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1990.
VIDAL, Diana Gonçalves. Escola Nova e Processo Educativo. In: LOPES, Eliane Marta
Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes de; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). 500
anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 497-518.
Grupos Escolares e
Escolas Reunidas
na Amazônia
3 - Essa citação foi retirada de um trecho em que a autora inicia uma discussão sobre cultura
histórica no seu sentido mais amplo e não se refere à problemática educacional particularmente.
História e Educação na Amazônia | 291
que entendem que não há uma “única” nacionalidade, mas várias.
Um pouco diferente do que se pensa sobre a cultura histórica, que se
caracteriza pela “[...] relação que uma sociedade mantém com seu passado”
(LE GOFF apud GOMES, 1998, p. 122), a cultura educacional expressa tanto
as determinações do passado (cultura histórica educacional) quanto expressa
as leituras e possibilidades apresentadas no presente que é “efêmero”, uma
vez que imediatamente se transforma em passado, mas que ao mesmo tem-
po pode ser “duradouro” porque pode permanecer. Nesse sentido, podemos
indicar que os grupos escolares foram “efêmeros” porque tão brevemente dei-
xaram de existir (1893-1971, apenas 78 anos), no entanto duradouros porque
marcaram a escola com características que demarcam a organização da escola.
Podemos considerar, nesse sentido, que essas permanências são ele-
mentos constituintes não somente de culturas escolares e de práticas educa-
tivas assentadas na tradição que se processaram no interior da escola, mas
também considerar que elas podem ter alcançado uma dimensão extrainstitu-
cional escolar. Nesse sentido, alimentaram ou contribuíram para a constitui-
ção de uma cultural educacional (PINHEIRO, 2009).
Como dito, a tradição é parte significativa da cultura educacional e so-
mente se mantém enquanto os sujeitos sociais encontram-se “satisfeitos” com
a forma, os procedimentos estabelecidos ou dominantes e principalmente
quando os resultados atendem aos interesses daqueles que estão envolvidos,
tanto entre os que predominantemente fazem, produzem e elaboram quan-
to entre aqueles que absorvem, aprendem e reproduzem. Quando as formas,
os procedimentos e principalmente os resultados não mais satisfazem aos in-
tegrantes do ambiente cultural, inicia-se o processo de invenção de nova(s)
tradição(ões), que é (são) forjada(s) no espectro da tensão, do conflito e da
disputa. Para Hobsbawm e Ranger (1997, p. 9), essas novas tradições somente
se efetivam a partir de
a produção da cultura educacional não está restrita aos educadores ou, mais
ainda, restrita aos historiadores da educação.
Nessa perspectiva, entendemos que a cultura educacional constitui-se
e é constituída a partir de diversos atores sociais. O referido autor nos re-
mete aos estudos dos manuais escolares como um aspecto privilegiado para
entendemos como a cultura histórica pode perpetuar ou esquecer momentos,
Referências
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meiros grupos escolares de Curitiba. In: ______. (Org.). História da educação, arqui-
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VIDAL, Diana Gonçalves. (Org.). Grupos escolares: cultura escolar primária escolari-
zação da infância no Brasil (1893-1971). Campinas: Mercado de Letras, 2006.
Introdução
1 - Reforma José Tomaz de Porciúncula, de 1890; Reforma Lourenço de Sá, de 1891; Reforma
Cunha Martins; Reforma Benedito Leite, de 1895; Regulamento da Instrução Pública do Mara-
nhão, 1896; e Reforma da Instrução Pública, 1899.
História e Educação na Amazônia | 299
Pacotilha, de 1904, onde J. Palhano de Jesus, cronista caxiense ao se referir ao
relatório do Ministro do interior, José Joaquim Seabra, ressalta a importante
contribuição que poderia ter sido dada ao ensino público primário no Mara-
nhão se fossem criadas as “Casas de Ensino”, e se também fossem abolidas as
nomeações de pseudoprofessores. No entanto, acreditamos que o fato de sim-
plesmente converter as escolas públicas primárias, existentes no perímetro de
São Luís no ano de 1903, em grupos escolares, foi uma medida precipitada do
governador do estado, Alexandre Collares Moreira Junior, uma vez que essas
escolas deveriam apresentar características peculiares que as diferenciassem
das típicas escolas públicas isoladas ou mistas, até então existentes, e o que
comprometeria, de certa forma, o tão idealizado projeto.
As instituições públicas de ensino, existentes tanto em São Luís como
no interior do estado, consistiam em escolas isoladas ou mistas que ofereciam
um ensino rudimentar. No perímetro de São Luís, por volta de 1903, havia
somente seis escolas estaduais de nível primário, dentre as quais apenas duas
apresentavam condições de funcionamento, além da Escola Modelo Benedito
Leite.
No caso do Maranhão, embora os discursos republicanos exaltassem a
eficiência dos grupos escolares, estes não apresentaram as mesmas vantagens
dos implantados em São Paulo, Pará e Minas Gerais, devido, essencialmente, à
fragilidade econômica e política vivenciada pelo Maranhão durante o período
de sua criação.
Fonte: Lei nº 348, de 17 de maio de 1904; Lei nº 508, de 27 de março de 1909 e tabela de
despesa nº 5, de 1911 a 1912.
Fonte: Lei nº 348, de 17 de maio de 1904; Lei nº 508, de 27 de março de 1909 e tabela de
despesa nº 5, de 1911 a 1912.
Afirma ainda:
[...] por vezes, para que a classe superior não fique sem
alunos, as professoras respectivas se tem interessado pes-
soalmente com as famílias dos alunos, no sentido de os
manterem no instituto, tem sido, entretanto muito limi-
tada essa frequência.11
Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir dos relatórios do diretor dos grupos escolares
– Barbosa de Godóis – enviados à Inspetoria da Instrução Pública do Maranhão (1904-
1909).
Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir dos relatórios do diretor dos grupos escolares –
Barbosa de Godóis – enviados à Inspetoria da Instrução Pública do Maranhão (1904-1909).
Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir dos relatórios do diretor dos grupos escolares –
Barbosa de Godóis – enviados à Inspetoria da Instrução Pública do Maranhão (1904-1909).
Conclusão
Referências
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larização da infância no Brasil (1893-1971). Campinas: Mercados das Letras, 2006.
ESCOLA PREPARATORIA
Peço-vos a creação d’esta Escola na Capital da Privincia.
Será destinada a instruir os candidatos ao magistério tan-
to nas matérias como no methodo do ensino.
Deverão vir frequental-a, por um espaço de tempo rasoa-
vel, os actuaes professores de instrucção primaria, a fim
de estudarem o methodo do ensino e se habilitarem nas
2 - Esses funcionários ocupavam posição estratégica na província, sendo determinado um por
região, tendo a incumbência de suspender professores, nomear substitutos, inspecionar eles
próprios as escolas e principalmente nomear visitadores para cada localidade onde existisse uma
escola pública, os quais tinham o encargo de inspecionar e fiscalizar, sendo que seu dever era
de pelo menos uma vez por ano percorrer as escolas do seu distrito ou quando fosse ordenado
por seu superior para examinar a assiduidade dos alunos na frequência às aulas, a disciplina das
escolas, do aproveitamento do ensino e o procedimento moral do professor.
320 | História e Educação na Amazônia
respectivas matérias.
Collocado a frente acquisição de bons Professores e uni-
formisar o ensino em toda a Provincia.
Para melhor explicar as suas licções o Professor da Escola
preparatória deve tomar á si uma das Escolas primárias
da capital ensinando ao mesmo tempo aos alunos e aos
candidatos ao professorado.
4 - A arquitetura dos prédios dos grupos escolares do início do século XX em geral segue o
padrão eclético, que, no Brasil, refere-se a um movimento arquitetônico predominante desde
meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Essa tendência arquitetônica
324 | História e Educação na Amazônia
mais prédios escolares do resto do Brasil, como é relatado no discurso de Lau-
ro Sodré, quando da apresentação da reforma da Escola Normal:
reúne vários estilos arquitetônicos do passado para a criação de uma nova linguagem arquite-
tônica, combinando elementos vindos da arquitetura clássica, medieval, renascentista, barroca
e neoclássica. Assim, o ecletismo se desenvolveu ao mesmo tempo e em íntima relação com
a chamada arquitetura historicista, que buscava reviver a arquitetura antiga e gerou os estilos
"neos" (neogótico, neorromânico, neorrenascença, neobarroco, neoclássico etc.). Do ponto de
vista técnico, a arquitetura eclética também se aproveitou dos novos avanços da engenharia do
século XIX, como a que possibilitou construções com estruturas de ferro forjado. Além do uso e
da mistura de estilos estéticos históricos, a arquitetura eclética, de maneira geral, se caracterizou
pela simetria, busca de grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza
decorativa.
História e Educação na Amazônia | 325
A preocupação imediata da administração estadual era garantir a fixa-
ção do ensino normal, ou seja, elevar o seu nível sem muitas preocupações
com estrutura física, que tinha garantido para esse intuito o Colégio Nossa Se-
nhora do Amparo e o prédio do Liceu Paraense. Contudo, como consequência
da falta de atenção, quando o Colégio Nossa Senhora do Amparo precisou
passar por reformas, suas alunas tiveram que ser alocadas no Liceu, o que,
segundo Vianna (1987), foi motivo de comoção popular. Como analisa Vas-
concelos (1992, p. 30), tal estrutura revelava que:
5 - Uma das características diferenciadoras do grupo escolar das demais instituições de ensino
é por seu prédio ter mais de duas salas de aulas, como classifica Rosário (2006), sendo que uma
sala caracterizava a escola isolada e duas salas a escola reunida.
História e Educação na Amazônia | 327
professor um phenomeno quase negativo. Assim, pois,
pensantes muito bem, reduzindo as escolas isoladas do
interior.
Dediquei cumprimento ás vossas determinações, pelos
decretos 27 de novembro, 6 e 26 de dezembro de 1901 e 9
de janeiro de 1902. Em virtude desses decretos e mais dos
que organizaram na capital e no interior novos grupos
escolares […] (PARÁ, 1902, p. 34).
6 - O sistema de ensino do estado do Pará era realizado em níveis, sendo o ensino primário
ofertado nos grupos escolares, escolas agremiadas, escolas isoladas, escolas municipais e parti-
culares e escolas mantidas pelas colônias de pescadores; o ensino secundário ofertado no Ginásio
Paes de Carvalho, Escola Normal, escolas de comércio e colégios particulares; o ensino profissio-
nal ofertado no Instituto Lauro Sodré, Instituto Gentil Bittencourt, Patronato Agrícola Manoel
Barata, Escola de Aprendizes Artífices, Escola de Aprendizes Marinheiros e Curso de Química
Industrial; o ensino superior ofertado na Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina, Facul-
dade de Farmácia, Escola de Odontologia e Escola de Agronomia e Veterinária (PARÁ, 1927).
328 | História e Educação na Amazônia
turais e materiais do início do século XX, ter alcançado a meta de 34 prédios
escolares com os padrões de arquitetura eclética, como sugeria os prédios do
período, significava ter feito grandes investimentos no setor educacional.
Mapa dos estados do Pará e do Amapá, indicando as cidades onde até 1907
foram edificados os grupos escolares.
- Capital do estado do Pará (Belém), onde, no governo de Paes de Carvalho (1897 a 1901),
foi construído o Primeior Grupo Escolar; no governo de Augusto Montenegro (1901 a 1908)
foram edificados seis grupos; no governo de Eneas Martins (1912 a 1916) um grupo foi desativa-
do; no segundo governo de Lauro Sodré (1917 a 1920) foi construído um grupo; no governo de
Dyonísio Ausier Bentes (1925 a 1928) foram construídos dois grupos. Ao todo foram edificados
na capital 11 grupos escolares.
Fonte: Subsídios teóricos que fundamentaram este estudo.
Isso leva sua administração a amputar partes dos serviços públicos para
8 - No governo de José Malcher já eram sete grupos escolares, mas em 1916 Eneas Martins de-
sativa o sétimo grupo, diminuindo a quantia para seis grupos.
História e Educação na Amazônia | 333
equilibrar as despesas, diminuindo o déficit público.9 Nesse sentido, cortes
ocorreram na educação, atingindo os grupos escolares, pois
12 - Brasil (1961).
342 | História e Educação na Amazônia
nº 5.692/1971,13 que promoveram o ensino segundo os parâmetros da época.
Destarte, é presumível que o que seria concreto material, como os pré-
dios, utensílios e objetos, podem ter sido extirpados, mas o que seria o concre-
to imaterial, incorporado na forma jurídica na política educacional do ensino
primário dos grupos escolares, apenas tenha seguido outros rumos para se
adaptar aos novos tempos de modo a não promover rupturas na estrutura
do ensino, mas dar continuidade ao programa de desenvolvimento do ensino
primário.
Referências
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Introdução
Considerações finais
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Introdução
Considerações finais
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Formação de
Professores e Política
Educacional
na Amazônia
História e Educação na Amazônia | 381
382 | História e Educação na Amazônia
O dilema da relação entre teoria e
prática na formação dos profissionais da
educação no Brasil: da Escola Normal ao
Instituto de Educação
LUCIANA CRISTINA SALVATTI COUTINHO
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Universidade do Vale do Sapucaí (Univás)
Encaminhamentos finais
Referências
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1 - Essa diversificação foi particularmente forte até os anos 1920, quando os reflexos da nova
divisão internacional do trabalho fez-se sentir com mais intensidade em Mato Grosso, por força
das mudanças provocadas em âmbito mundial, com a transição para a fase monopólica da so-
ciedade capitalista. Será nesse momento, com o ocaso desse processo de dinamização econômi-
ca, que a região começou a se firmar como zona de pecuária extensiva e de exportação de gado
em pé (ALVES, 1984).
2 - Denominação, entre 1835 até 1938, do município de Santo Antônio do Leverger (IBGE,
2015).
402 | História e Educação na Amazônia
a competição do produto oferecido pelas colônias inglesas do Oriente.
O terceiro desses enclaves foi a extração da erva-mate, realizada por
meio da Companhia Mate Laranjeira, detentora dos direitos de arrendamento
e usufruto de grande parte dos ervais nativos do extremo sul do estado. O
quarto foi representado pelas casas comerciais, cuja intensa atividade, através
da bacia Platina e tendo como polo dinâmico a cidade de Corumbá, foi res-
ponsável, até meados dos anos 1930, pelo abastecimento da capital do estado,
Cuiabá, e demais cidades do norte (Cáceres, Santo Antônio do Leverger etc.) e
sudeste de Mato Grosso, como Campo Grande, Coxim, Aquidauana, Miran-
da, entre outras. Na verdade, as casas comerciais, ao centralizarem o comércio
de importação e exportação no estado, acabavam atuando como polo dinami-
zador do conjunto das atividades econômicas, que utilizavam esses serviços
em seu processo de escoamento, dentro e fora de Mato Grosso.
Assim, na segunda metade da década de 1920, Mato Grosso era, por
um lado, um território ainda marcado pela presença de grandes latifúndios
(pecuária e erva-mate), ocupado por uma população rarefeita, principalmente
em se tratando de sua zona rural. Por outro, também possuía importante fra-
ção de sua classe dominante ligada às usinas de açúcar e ao beneficiamento da
carne bovina e, contraditoriamente, criara as condições para o aparecimento
de um homem cosmopolita, como os proprietários de estabelecimentos co-
merciais em Corumbá, afeitos, graças à sua atividade profissional, aos conta-
tos estreitos e permanentes com os principais centros econômicos e sociais do
Brasil, da região platina e do continente europeu.
Com esses contornos, os anos 1930 iniciaram-se com o estado sentindo
os reflexos da crise econômica que abalava o País, ainda sob o impacto dos
acontecimentos que envolveram o conjunto do mundo capitalista, principal-
mente a partir de 1928/1929. Uma das principais consequências desses abalos
foi sentido com a queda nos preços das mercadorias relacionadas à pecuária,
principal produto da pauta produtiva de Mato Grosso. Além dessa, também
foram atingidas a comercialização da erva-mate e a borracha, os outros dois
produtos importantes na economia local. Também em função disso, essa crise
no plano econômico, a partir do final dos anos 1920 e que se estendeu sobre-
tudo até o início dos anos 1940, atingiu também outras importantes fontes de
renda do estado – a produção de borracha, a erva-mate e o açúcar –, que tive-
ram sua produção diminuída e, consequentemente, conduziram a uma queda
simultânea nas receitas públicas.
Essa crise, contudo, também contribuiu para dar continuidade ou
iniciar algumas modificações na base produtiva de Mato Grosso, sobretudo
6 - Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso tinha
um rebanho bovino estimado em 7.956.200 cabeças em 1955, ou 12,51% do total existente no
País, que chegava a 63.607.580 animais (IBGE, 1956).
7 - É interessante notar que a maioria dessas antigas áreas de colonização transformara-se em
grandes propriedades que se ligaram, nas décadas seguintes, ao processo de formação da agroin-
dústria em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Isso significa dizer que se organizaram dentro
dos mais avançados padrões tecnológicos e de relações de produção dentro do campo agrícola,
em termos capitalistas.
406 | História e Educação na Amazônia
novos mercados, inclusive aqueles atendidos pelas empresas corumbaenses –
as suas similares no município mato-grossense passaram a enfrentar a concor-
rência da produção chegada à cidade, pelo trem ou a partir do final dos anos
1970 – principalmente nas duas décadas seguintes, pela via rodoviária. Nesse
sentido, o parque industrial corumbaense foi desarticulado, gradualmente, a
partir de então.
Além disso, o processo de urbanização em curso naquele momento em
todo o País e em particular no estado de Mato Grosso deu ensejo ao desmem-
bramento de áreas territoriais e criação de novos municípios. Dessa forma
surgiu, em 1953, o município de Ladário, antigo distrito de Corumbá, sede do
Distrito Naval, abrigando o comando central da região Centro-Oeste. É im-
portante assinalar ainda que o fortalecimento do município de Campo Gran-
de, que se afirmou não só como polo regional, mas como principal centro
urbano do estado. Assim ultrapassou, em população, o município da capital,
Cuiabá: enquanto Cuiabá cresceu 5,7% no decênio 1940-1950, Campo Grande
teve um ganho populacional de 20,9% (IBGE, 1953; 1956).
Corumbá, em função dos processos sociais anteriormente descritos,
acabou por ter um crescimento relativo maior que a própria Campo Grande,
embora permaneça no terceiro posto entre as cidades mais populosas do es-
tado. Denotando a importância que a atividade agrícola alcançou no período,
despontava o município de Dourados, com um crescimento de 54% em sua
população; no período, essa foi a maior variação relativa entre as cidades con-
sideradas. Ponta Porã, município do extremo sul do estado, foi a única uni-
dade municipal a apresentar decréscimo populacional, para o que certamente
contribuiu o desmembramento de parcelas de seu território para a formação
do município de Amambai, além da perda de importância relativa da erva
-mate, fator fundamental no processo de fixação populacional nessa região
de Mato Grosso. Três Lagoas, por sua vez, aproximou-se da variação média
verificada para o total da população do estado, registrando um crescimento
de 25,5%.
Assim, com uma procura menor desse tipo de curso pela população
masculina, pode-se entender o porquê da permanência de um mesmo número
de cursos durante todos esses anos. A posterior anexação da escola normal
8 - Pode-se inferir, pelos dados disponíveis, que os alunos remanescentes da antiga Escola Nor-
mal, no município de Cuiabá, em 1939, em número de 226, estavam cursando a Seção Normal
daquela escola, que era a “[...] remanescente da antiga Escola Normal”. Dada a pequena matrí-
cula registrada no curso de especialização de professores nos anos seguintes, infere-se que, após
a encampação de 1938/39, os novos alunos e futuros candidatos ao magistério primário, tanto
em Cuiabá como em Campo Grande, acabaram por terminar seus estudos na escola secundária,
não optando posteriormente pela escola especializada de professores, que se seguiria ao secun-
dário.
História e Educação na Amazônia | 409
dade de Cuiabá,9 e as instituições do sul do estado pode ser explicado quando
se observa, conforme exposto na primeira parte deste trabalho, que o processo
de expansão e desenvolvimento mais acentuados do sul de Mato Grosso deu-
se efetivamente a partir da segunda década do século XX.
Foi somente a partir das políticas nacionalistas e desenvolvimentis-
tas de modernização de Getúlio Vargas, no início da República Nova, que a
educação ganhou espaço no cenário nacional. Como a educação também era
peça-chave da estratégia de desenvolvimento liberal forjado pelo governo cen-
tral, viu-se assim a necessidade da criação de uma escola normal também em
Campo Grande.10 Outro motivo importante para a abertura da escola normal
na referida cidade estava na rivalidade política entre as regiões norte e sul do
estado. Frente à crescente disseminação do ensino primário em todo o País,
ter uma escola normal em Campo Grande significava não precisar ter apenas
professoras cuiabanas nas escolas públicas atuando no sul do estado (ARAÚ-
JO, 1997).
De acordo com Rodríguez e Oliveira (2006, p. 5),
9 - É importante destacar que a primeira instituição escolar estatal para formação de professores
que teve durabilidade em seu funcionamento foi a Escola Normal de Cuiabá, em 1910, aten-
dendo em particular a capital, sede administrativa e política do estado, e a região norte de Mato
Grosso. Essa iniciativa, parte das políticas do governo de Pedro Celestino Corrêa da Costa, tinha
como intuito criar as condições para o fortalecimento do ensino primário na região, entendido
como “[...] base fundamental de todo o verdadeiro progresso social, que é tanto que o primeiro
passo a dar para esse fim é a formação de bons professores” (MATO GROSSO, 1910 apud POU-
BEL E SILVA, 2006, p. 20).
10 - É importante frisar ainda que outra escola normal foi instalada em Campo Grande no mes-
mo ano de 1930, e que também teve papel importante na história da educação no sul do estado:
a Escola Normal Dom Bosco. Essa escola privada era mantida pelas freiras da Congregação
Salesiana (ARAÚJO, 1997).
410 | História e Educação na Amazônia
Em péssimo estado de conservação se encontra o edifí-
cio da Escola Normal onde funccionam também a esco-
la modelo e o curso annexo. A impressão que se tem ao
penetrar-se nelle é desoladora. Urge uma limpeza geral,
assim como a reparação das vidraças das janelas que se
acham todas quebradas. Edifício acanhado, sem lotação
suficiente para nelle funcionar um grupo escolar, pois
somente seis salas de aula, sente-se, a direção do estabe-
lecimento em sérios embaraços para nele fazer funccio-
nar as duas outras escolas annexas. No próximo anno,
com a promoção dos alunnos do 1º anno para o 2º anno
normal, não terá a Directoria, uma sala para collocar es-
ses alunnos. [...] A lotação actual do edifício é para 240
alunnos e só na escola modelo a matrícula é de 541, com
uma freqüência de 434 se juntarmos ainda 24, da Escola
Normal e 17 do Curso Complementar [...] um total de
582 alunnos, freqüentando um edifício com lotação para
240 ou 480, com funcinamento em dois turnos (MATO
GROSSO, 1931 apud RODRÍGUEZ; OLIVEIRA, 2006, p.
5).
Fui assim para a Escola Normal com muita base. Ali tive,
como professor de Português, Vitor de Paula Correa,
homem de grande preparo, mas sem nenhuma energia,
com quem aprendi a redigir. O diretor da Escola Normal
Joaquim Murtinho11 era o professor Múcio Teixeira. Se a
Escola Normal de Cuiabá era modelo, a nossa deixava a
desejar. Tanto o aprendizado, quanto o material didáti-
co eram extremamente deficientes. Haviam professores
esforçados e outros que estavam ali só porque tinham in-
fluência política. Tive um professor de didática que cos-
tumava dizer: Sou farmacêutico formado, de didática não
entendo nada (ROSA, 1990, p. 40).
11 - Essa denominação foi atribuída à citada instituição escolar em 1947, quando as escolas
normais foram reabertas em todo o estado de Mato Grosso (ROSA, 1990).
História e Educação na Amazônia | 411
de professores e diretores da instituição (BRITO, 2001; ROSA, 1990).
A Escola Normal Anexa foi fechada em 1940, com o encerramento to-
tal de suas atividades. Essa interrupção foi motivada pelo interventor Júlio
Müller, que instituiu uma nova política de formação de professores em Mato
Grosso, na qual propunha que ela fosse realizada por um curso de especiali-
zação de duração de um ano, vinculado aos liceus, conforme exposto ante-
riormente. É importante frisar que, nesse momento histórico, como destaca
Romanelli (1986, p. 163):
Nesse sentido, considera-se que o Brasil, a partir dos anos 1930, sofreu
modificações que redundaram numa nova configuração social. Foi nesse con-
texto, marcado por um amplo debate, que se desencadearam as reformas edu-
cativas. Dessas reformas resultou a necessidade de ampliação da rede escolar
em todo o País; a modificação da infraestrutura e a organização administrati-
va; a introdução de um novo ideário educacional, com uma orientação peda-
gógica também diversa, em função das concepções do escolanovismo. Nesse
contexto, a escola normal ganhou vitalidade e centralidade, porque era a ins-
tituição encarregada de prover os professores que viabilizariam o processo de
expansão, bem como divulgar e propagar os novos métodos pedagógicos.
Essas transformações também se evidenciavam no sul do estado de
Mato Grosso, determinadas pelo desenvolvimento produtivo e pelo aumen-
to populacional ocorrido na região, o que motivou a implantação de várias
instituições escolares primárias naquela área, levando à necessidade de incre-
mentar-se a formação de professores. Nesse sentido, entre 1930 e 1970 houve
a criação de sete novas instituições, além daquela já existente desde 1904 em
Corumbá. Dentre as novas escolas normais, cinco eram públicas e estavam
situadas nos municípios de Campo Grande, Aquidauana, Ponta Porã, Três
Lagoas e Dourados; as outras duas, confessionais, eram situadas em Campo
Grande e Dourados.
Apesar disso, a documentação legal evidencia que, afora o contexto
“modernizante” e “progressista”, a expansão do ensino normal na região sul
de Mato Grosso teve dificuldades de ordem política e pedagógica, sobretudo
no tocante às escolas públicas. Estas últimas inicialmente tiveram um fun-
cionamento precário, dadas as condições materiais deficitárias e o reduzido
número de professores – muitos, inclusive, provinham de Cuiabá e de São
Paulo. A intervenção política também repercutiu na organização pedagógica
Referências
BRITO, Silvia Helena Andrade de. Educação e sociedade na fronteira Oeste do Bra-
sil: Corumbá (1930-1954). 2001. Tese (Doutorado em Educação)-- Faculdade de Edu-
cação, Unicamp, Campinas, 2001.
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Campos, 1984.
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Nossa Senhora da Conceição no município de Dourados/MS. In: CONGRESSO BRA-
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nível em: <http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe5/pdf/144.pdf>. Acesso em:
10 fev. 2013.
______. Relatório apresentado ao Sr. Dr. Getúlio Vargas pelo Bel. Julio Strübing
Müller, no período de 1941 a 1942. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1942.
QUEIROZ, Paulo Roberto Cimo. Uma ferrovia entre dois mundos: a E. F. Noroeste
do Brasil na primeira metade do século XX. Bauru: Edusc; Campo Grande: UFMS,
2004.
______. A escola normal no sul do estado de Mato Grosso (1930-1950). In: FERRO,
Olga Maria dos Reis (Org.). Educação em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (1796-
2006): história, historiografia, instituições escolares e fontes. Campo Grande: UFMS,
2009. p. 99-127.
VARGAS, Getúlio. A nova política do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938-
1945. 10 v.
Introdução
Criar uma escola normal fazia parte das discussões dos parlamentares
e reformadores, a julgar pelos discursos. Essa, entretanto, não surgia pela falta
de um prédio próprio e de pessoal especializado. Somente em 1880, na presi-
dência do Dr. Satyro de Oliveira Dias, foi apresentado à Assembleia Legislati-
va um projeto de lei autorizando reformas no ensino público e reorganização
do Liceu Provincial. Esse
1 - “[…] período marcado por uma efervescência intelectual, cultural e busca acelerada da cha-
mada modernidade, refletindo em todos os setores da atividade humana. Movimento irradia-se
a partir da França, refletindo-se em quase todos os países do ocidente” (DIAS, 1999, p. 33).
História e Educação na Amazônia | 427
Escola Normal foi instalada próximo à antiga Camara Municipal de Manaus
e o Palácio Rio Branco, antiga sede da Assembleia Legislativa Provincial do
Amazonas.
Poucos foram os registros encontrados sobre o prédio que sediou a pri-
meira escola normal, que abrigara também o Asilo Orfanológico Elisa Souto,
o Liceu Provincial e a Secretaria de Polícia da Província, e que fora transfor-
mado, no final do século XIX, em um dos mais luxuosos hotéis em Manaus – o
Hotel Cassina. Não foram localizados registros sobre o engenheiro que o pro-
jetou. Porém, encontram-se entre os documentos encontrados a planta baixa
da fachada (Figuras 2, 3 e 4). Sob a orientação eficiente da arquiteta-urbanista
Regina da Costa Pinto foi realizada uma análise técnica formal da estrutura
dessa construção.
A fachada principal estava voltada para a Praça D. Pedro II, antigo Lar-
go do Quartel do Pelourinho. O prédio integra um importante conjunto ur-
banístico composto:
Interinos
Dr. João M. de Aguiar e Mello; primeiras cadeiras do 1º e
2º anno; Carlos Pereira de Pinho, 1ª cadeira do 3º anno;
Padre Dr. Israel Freire da Silva, 3ª cadeira do 4º anno.
Professores Interinos
Música – Adelelmo F. do Nascimento.
História e Educação na Amazônia | 431
Desenho – Dr. Lauro Baptista Bittencourt (JORNAL
AMAZONAS, 1890, s.p.).
A Escola Normal foi criada para formar professores. Todavia, por causa
das dificuldades financeiras pelas quais passava a província, foram contrata-
dos professores da instrução secundária, de acordo com a necessidade, sendo
alguns deles pertencentes ao quadro docente do Liceu. Foram nomeados para
as regências interinas das seguintes cadeiras os respectivos professores:
Considerações finais
O descaso para com a Instrução Pública foi uma constante, por qua-
Referências
______. Código de Postura. Lei nº 23, de 06 de maio de 1893, decretado pela In-
tendência Municipal de Manaus.
AZEVEDO, Fernando de. As origens das instituições escolares. In: ______. A cultura
brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro: UFRJ; Brasília: UnB, 1997.
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fuentes. In: FERNANDEZ, Celso Almuiña et al. Cultura y Civilizaciones. In: CON-
GRESO DE LA ASOCIACIÓN DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA, 3., Valladolid:
Secretariado de Publicaciones e Intercambio Cientifico, Universidad de Valladolid,
1998.
GINZBURG, Carlo. Mitos emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1989.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução Bernando Leitão et al. 4. ed. Campi-
nas: Unicamp, 1996.
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geral da civilização brasileira. 4. ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 1976. Tomo III, v. 2,
cap. VII.
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[Manaus]: Superintendência Cultural do Amazonas, 1998. (Coleção Reconquista do
Brasil, 2ª série; v. 195).
TANURI, Leonor Maria. O ensino normal no Estado de São Paulo (1890-1930). São
Paulo: Faculdade de São Paulo, 1979. (Estudos e Documentos, v. 16).
VINCENT, Guy; LAHIRE, Bernard; THIN, Daniel. Sobre a história e a teoria da forma
escolar. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 33, jun. 2001.
4 - RIZZINI, Irma. Educação Popular na Amazônia Imperial: crianças índias em internatos para
formação de artífice, 2006.
5 - Nas primeiras décadas do Império brasileiro, o espaço geográfico que compreende hoje qua-
se toda a região Norte do Brasil, pertencia à Província do Grão-Pará com sede em Belém. Em
5 de setembro de1850, por carta Imperial, D Pedro II cria a Província do Amazonas, desmem-
brando-a da Província do Pará. Em 1º de janeiro de 1852, João Baptista de Figueiredo Tenreiro
Aranha, nomeado pelo então imperador, instala e dá início à administração da nova Província
do Império, a do Amazonas, Cidade da Barra que foi denominada de Manaus.
História e Educação na Amazônia | 447
reiro Aranha relata o “estado de atraso em que se achavam essas escholas, de
enunciar a minha opinião sobre a reforma radical de que necessita o ensino
elementar em toda a Província”. Para além, a mensagem inscreve o alto índice
existente de analfabetos, o que impedia o governo de “aproveitar elementos”
das várias localidades do interior do Amazonas, não só para o exercício do ma-
gistério, uma vez que afirma não ser “[...] raro um cidadão letrado, acumular
várias funções porque a maioria da população não sabe ler e nem escrever”.6
Relata ainda que a Instrução Primária na Província encontrava-se redu-
zida a oito escolas. E mais, comunica à Assembleia Legislativa a necessidade
de alfabetizar ‒ ler, escrever e contar ‒ para capacitar minimamente o “in-
dividuo idôneo” para cargos de funcionários de que a Província necessitava.
Em relatório, informa que nos anos anteriores à criação da Província existiam
apenas oito escolas primárias, distribuídas em algumas vilas e povoados. As
aulas eram ministradas pelos professores citados no quadro abaixo com o res-
pectivo número de alunos.
encontrava a Província do Amazonas, depois da instalação desta, e de ter tomado posse o pri-
meiro presidente Sr. João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha (AMAZONAS, 1852c).
História e Educação na Amazônia | 449
O Padre - combaterá pela catechese os defeitos Moraes
da população e a palavra sagrada do Evangelho – produ-
zirá seus efeitos.
Não temos - vapor - nem - Padre -: impõe limites a ne-
cessidade a que se faça mais do que possuir-se algumas
poucas escolas por esse logarejos, não tendo o professor
nem capacidade profissional, nem tão pouco quem o ins-
pecione.
Nestas contigencias e no seu estreito circulo, não há pre-
cisão de discutir-se theoria e methodos de ensino.8
A “fala” do diretor geral da Instrução Pública nos revela que, com a au-
sência do “padre” e do “vapor”, não era possível fazer uma “revolução cultural
nos hábitos culturais e sociais” da população amazônica para que, dessa ma-
neira, a escola, como um estatuto social, frutificasse os ensinamentos do ler,
escrever e contar, aprendizados úteis e peça fulcral à nova ordem administrati-
va independente da província que quer ser moderna, alfabetizada e civilizada.
O discurso “revolucionário” do diretor geral vai ao encontro do en-
tendimento, naquele tempo histórico, de que a Amazônia brasileira era com-
preendida como “natureza, espaço desumanizado e vazio de cultura” e que a
sua população deveria perder seus traços socioculturais indígena, selvagem e
caboclo, impróprio e vulgar para a jovem Província, assim como para toda a
nação brasileira. Na subscrição do relato, a educação seria peça fulcral para se
atingir a modernidade civilizatória.
Na Província do Amazonas, a transformação de seus habitantes de “sel-
vagem bruto em cidadão polido” implicava ir além do tão somente conheci-
mento relativo ao ler, escrever e contar, era ir mais. Era ir além, ir à busca dos
direitos e deveres como população livre, defendido pelos agentes educacionais
e políticos situados na sede da Província e de outras do Império. As autori-
dades educacionais da Província, como diretores e inspetores da Instrução,
cujos relatos estão referidos nas fontes por nós interrogadas, nos dão a ver a
alargada importância de imputar o aprendizado da língua portuguesa e fixar a
população do interior nas vilas e povoados, pois “[...] os familiares vivem em
sítios isolados e, para bem dizer, entregues á seus próprios recursos”.9 Como
nos mostra uma dessas falas:
18
19
Fontes: Amazonas (1869, p. 19), (1871), (1872a, Anexo 3, p. 13), (1874, p. 21), (1878b, p.17),
(1882, p. 24).
Referências
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sociais das línguas na Amazônia. Tese (Doutorado) -- PPL/UERJ, Rio de Janeiro, 2003.
LEI do Ventre Livre. Lei nº 2.040, de 28 de março de 1871. Disponível em: <www.
suapesquisa.com/historiadobrasil>. Acesso em: 2 nov. 2013.
RIZZINI, Irma. O cidadão polido e o selvagem bruto: educação dos meninos desva-
lidos na Amazônia Imperial. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS/PPGHIS,
2004.
Introdução
Liberdade de ensino
Conferências pedagógicas
Jardins de infância
1 - Trechos transcritos do artigo “Salas de asylo – Escolas de educação primária”, escrito por
Antonio Borges Leal Castello-Branco no dia 22 de dezembro de 1863.
476 | História e Educação na Amazônia
ellas necessitam para converterem-se em forças vivas e
beneficas do progresso, é o meio certo e seguro de enca-
minhal-as para a liberdade, para a verdade e felicidade na
vida real (MARANHÃO, 1881, p. 19).
Conclusão
Referências
BOURDIEU, Pierre. Economia das trocas linguísticas. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983b. p. 156-183.
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MARANHÃO. Falla com que o exm. sr. dr. Cincinnato Pinto da Silva, presidente
História e Educação na Amazônia | 479
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ranhão em 19 de fevereiro de 1881. Maranhão: Typ. Imperial de Ignacio José Ferrei-
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Acesso em: 3 abr. 2013.
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2.a sessão da 26.a legislatura. Maranhão, Typ. do Paiz [n.d.]. Disponível em: <http://
www.crl.edu/brazil/provincial/maranh%C3%A3o>. Acesso em: 5 abr. 2013.
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dirigiu á Assembléa Provincial por occasião da installação de sua 2ª sessão da 24ª
legislatura, no dia 20 de maio de 1883. Maranhão: Empreza do Paiz, 1883. Disponível
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ranh%C3%A3o>. Acesso em: 5 abr. 2013.
______. Relatorio apresentado por s. exc. o snr. presidente da provincia, dr. Luiz
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de sua installação no dia 13 de fevereiro do corrente anno. Maranhão, Typ. do Paiz,
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Acesso em: 3 abr. 2013.
______. Relatorio com que o exm. sr. Dr. Silvino Elvidio Carneiro da Cunha passou
a administração da provincia no dia 4 de outubro de 1873 ao exm. sr. Dr. Augusto
Olympio Gomes de Castro. Maranhão: Typ. do Paiz, 1874. Disponível em: <http://
www.crl.edu/brazil/provincial/maranh%C3%A3o>. Acesso em: 25 mar. 2013.
______. Relatorio com que o exm. sr. vice-presidente da provincia, dr. Carlos Fer-
nando Ribeiro, installou no dia 9 de maio de 1878 a Assembléa Legislativa Pro-
vincial. Maranhão: Typ. do Paiz, 1878. Disponível em: <http://www.crl.edu/brazil/
provincial/maranh%C3%A3o>. Acesso em: 2 abr. 2013.
______. Relatorio com que o presidente da provincia, o exm. sr. senador Frederico
480 | História e Educação na Amazônia
d’Almeida e Albuquerque, abriu a Assembléa Legislativa Provincial no dia 20 de
junho de 1876. Maranhão: Typ. do Frias, 1876. Disponível em: <http://www.crl.edu/
brazil/provincial/maranh%C3%A3o>. Acesso em: 29 mar. 2013.
______. Relatorio lido pelo excellentissimo senhor presidente, dr. Augusto Olim-
pio Gomes de Castro, por occasião da installação da Assembléa Legislativa des-
ta provincia no dia 3 de maio de 1871. San’ Luiz do Maranhão. Maranhão: Typ.
B. de Mattos, 1871. Disponível em: <http://www.crl.edu/brazil/provincial/maran-
h%C3%A3o>. Acesso em: 24 mar. 2013.
______. Relatorio que o exm. snr. dr. Luiz de Oliveira Lins de Vasconcellos leo per-
ante a Assembléa Legislativa Provincial, por occasião de sua installação no dia 22
de setembro de 1879; acompanhado do que lhe apresentou o exm. snr. coronel José
Caetano Vaz Junior á 24 de julho, ao passar-lhe a administracção [sic] da provincia,
na qualidade de 3º vice-presidente. Maranhão: Typ. Imperial de Ignacio José Ferrei-
ra, 1879. Disponível em: <http://www.crl.edu/brazil/provincial/maranh%C3%A3o>.
Acesso em: 2 abr. 2013.
______. Relatorio que o exm. snr. presidente da provincia, dr. Lafayette Rodrigues
Pereira, apresentou á Assembléa Legislativa Provincial, por occasião de sua aber-
tura dia 3 de maio de 1866. Maranhão: Typ. do Frias, 1866. Disponível em: <http://
www.crl.edu/brazil/provincial/maranh%C3%A3o>. Acesso em: 14 mar. 2013.
______. Relatorio que sua excellencia o sr. dr. Francisco Maria Correia de Sá e Ben-
evides, no dia 18 de outubro de 1877, apresentou á Assembléa Legislativa Provin-
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1877. Disponível em: <http://www.crl.edu/brazil/provincial/maranh%C3%A3o>.
Acesso em: 29 mar. 2013.
______. Relatorio que sua excellencia o sr. vice-presidente da provincia, dr. José da
Silva Maya, apresentou no dia 18 de maio de 1870 perante a Assembléa Legislativa
Provincial, por occasião da installação de sua sessão ordinaria. S. Luiz do Maran-
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brazil/provincial/maranh%C3%A3o>. Acesso em: 24 mar. 2013.
MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37,
p. 7-32, 1999.
1 - Discurso de uma professora de Cacoal em uma reunião em 25 de julho de 2014. Nesse caso, a
professora se referia a hábitos próprios da cultura rondoniense: em função das longas distâncias
entre os espaços, os moradores preferem ter uma motocicleta a reformar e ampliar suas casas,
História e Educação na Amazônia | 489
O sistema de representações estabelecido pelo grupo de professores
parece ter criado uma situação contraditória: ao mesmo tempo em que elas
minimizam sua identidade de professoras, sendo chamadas de “tias”, mistur-
am autoridade docente com autoridade familiar, formatando um quadro em
que outras pessoas (os alunos e suas famílias) são responsáveis pela situação
de vulnerabilidade em que se encontram. O medo do desconhecido motiva
as pessoas a criar representações sociais sobre os fenômenos (MOSCOVICI,
1982). Objetos sociais estranhos provocam medo, porque eles ameaçam o sen-
tido de ordem das pessoas e sua sensação de controle sobre o mundo. Uma
vez representado sob uma feição mais familiar, o objeto social se torna menos
ameaçador e o processo nos ajuda a entender por que as Linhas foram inicia-
das ancoradas a representações do estigma, da miséria e da acomodação sobre
o determinismo imposto pelo capital. Para ratificar a percepção, transcreve-
mos parte do discurso da professora de uma das escolas pesquisadas para a
pergunta: “Por que a senhora acredita que seus alunos vêm para a escola?”:
os moradores dormem após o almoço por pelo menos uma hora em que o sol está mais forte,
entre outros.
2 - A fala da Professora consta da tese de doutorado da autora e compôs essa reflexão por rati-
ficar uma percepção de que, talvez, fosse necessário uma sensibilização sobre os contextos da
região Norte antes de contratar professoras para organizar as rotinas pedagógicas. A Professora
R. é do Paraná e as referências que carrega, embora tenha sua origem na zona rural, misturam-
se à sua melancolia e lembranças sobre sua terra natal e uma escola que, talvez, exista só em seu
imaginário.
490 | História e Educação na Amazônia
O discurso da professora mistura referências de dois mundos em que
ela transita: uma localizada em uma escola de seu imaginário, na qual as cri-
anças têm fardinhas e cadernos, no qual ela pode usar o flanelógrafo; e o mun-
do das crianças da Linha, sem fardinha e necessitando ter mais sorte.
Com variações sobre o mesmo tema, esta parece ser a representação das
professoras das Linhas sobre seu núcleo pedagógico e a função da escola na
vida das crianças. Na verdade, o que muda nas cidades de Cacoal e Vilhena
é que há uma grande quantidade de pessoas do interior do Paraná e do Rio
Grande do Sul e seus descendentes morando nas Linhas. Mais ao Norte, a
grande maioria dos moradores das Linhas são nordestinos, haitianos, bolivi-
anos e indígenas.
A prática pedagógica das professoras das Linhas está imbricada com as
representações organizadas sobre si mesmas e a importância que adquiriram
perante a comunidade, os alunos e as famílias. Ao definirem-se como profes-
soras, se descrevem a partir de um compromisso de entendimento de qual seja
sua função diante desse contexto explicitado. Buscam respostas para o fato de
viverem, produzirem e sobreviverem no meio da floresta como se estivessem
em um dos mais desenvolvidos núcleos urbanos. Ou como ser para sempre
migrante sem nunca ter saído do mesmo espaço geográfico.
Referências
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pinas: Papirus Editora, 2005.
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e
som. Petrópolis: Vozes, 2002.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: EdUSP, 1987.
HOBSBAWM, Eric John Ernest. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
Introdução
1 - O higienismo foi uma medida que influenciou muitas práticas e políticas públicas fortemente
implantadas no Brasil. Pode-se dizer que o higienismo, como uma forma de pensar, é um desdo-
bramento da medicina social. A urbanização sem planejamento decorrente da industrialização
emergente que acontecia no Brasil no final do século XIX e início do século XX traz como
consequência problemas de toda ordem, entre os quais se destacam os de natureza médica: as
condições sanitárias ameaçadoras e os surtos epidêmicos. Morria-se de uma ampla variedade
de doenças, como varíola, febre amarela, malária, tifo, tuberculose, lepra, disseminadas mais
facilmente pela concentração urbana.
2 - Arthur Moncorvo Filho cria modelos ideológicos e institucionais de assistência à infância,
idealizados e promovidos no começo do século XX. Esse médico brasileiro expressamente asso-
ciava criança e assistência infantil à nação, defendendo o controle, por parte do governo federal,
de todas as instituições destinadas a proteger a infância. Ele acreditava que o poder público
500 | História e Educação na Amazônia
o primeiro Instituto de Proteção e Assistência à Infância no Brasil (Ipai).
O Ipai é uma instituição privada, de caráter filantrópico, que, nascen-
do sob a bandeira da República e sobretudo dos valores positivistas, encontra
respaldo para sua criação em ideias médico-higienistas. É o início do conflito
entre caridade e filantropia. Enquanto a primeira era campo exclusivo das Ir-
mãs de Caridade,3 a segunda tem compromisso com a ciência. Inicia-se uma
campanha contra os asilos de caridade e o sistema de roda, levada a cabo por
médicos e juristas. A questão da racionalização da saúde do menor é levanta-
da devido às altas taxas de mortalidade infantil, tanto na sociedade em geral
quanto nos asilos.
Sabe-se que no período do Brasil colônia não havia cuidados especiais à
criança. No século XVIII, com a urbanização das cidades brasileiras, requer-se
a intervenção médica nas questões de higiene e saúde e gradativamente mu-
dam os cuidados com a criança (GONDRA, 2003). No século XIX, com as
proposta higienistas e os médicos preocupados com a alarmante mortalidade
infantil e com os cuidados que se deveria ter com a criança, negligenciada até
então, criam-se instituições de proteção às crianças pobres e desvalidas. No
século XX se inicia a institucionalização dos saberes educacionais, médicos e
psicológicos aplicados à infância, e é quando podemos verificar mais registros
sobre que cuidados eram reservados à criança no Pará (RIZZINI, 2009).
Durante o século XVIII e parte do século XIX, predominava a prática
deveria assumir o papel reservado aos pais das crianças pobres, a fim de protegê-las da miséria
e da delinquência prevalecentes nas cidades brasileiras. Para Moncorvo Filho, as crianças pos-
suíam um valor intrínseco, pois representavam a matéria-prima a partir da qual a futura força
de trabalho poderia ser moldada. Por meio das instituições que organizou, esperava instaurar
um modelo institucional de assistência à infância, a partir do qual o governo poderia criar um
sistema nacional centralizado de proteção aos menores carentes. Em 1891, Moncorvo Filho cria
no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e Assistência à Infância. Ficou conhecido como o
grande defensor das causas da infância e crítico das instituições asilares, condenadas de acordo
com os preceitos científicos e sociais da higiene como foco de doenças e causadoras das altas
taxas de mortalidade infantil.
3 - Segundo Nascimento (2008, p. 54), “[...] a palavra caridade deve ser entendida na acepção do
amor universal ou moral – o ágape do grego −, o amor que promove o bem do próximo. Des-
locada das franjas dos preceitos cristãos para posição central de uma nova postura da doutrina
católica desde fins do século XI, as obras pias ganharam relevo na atitude de alguns padres secu-
lares e em experiências eremíticas, levando a Igreja a adotar a caridade como uma condição para
a salvação. O dispositivo da caridade, gestado e colocado em funcionamento através do discurso
e da prática da Igreja Católica, se consolidou como uma prática de poder, de dominação e de
controle. Se, por um lado, estimulava o acolhimento e a criação dos expostos por parte dos féis,
por outro, virava moeda de troca, à medida que abria para o católico mais uma possibilidade de
dar visibilidade a sua fé, ampliando seu campo de exercício da misericórdia e da piedade, e com
a prática de melhor ação adiantava seus passos em direção à salvação eterna”.
História e Educação na Amazônia | 501
preferencialmente caritativa no zelar pelas crianças pobres que se materiali-
zava no ato de recolher crianças órfãs e expostas. O melhor exemplo desse
modelo foi a “roda dos expostos”, que foi implantada em várias províncias do
Brasil. Entretanto, esse modelo foi considerado inadequado e principalmente
incompatível com a nova mentalidade do século XIX. Coube aos higienistas a
crítica ao sistema de assistência caritativa baseado nos conhecimentos adqui-
ridos pela ciência médica e psicológica. O alvo das críticas era que a “roda dos
expostos”, de um lado, incentivava o abandono de crianças de uniões ilícitas
e assim livravam-se os pais da responsabilidade de criá-los, ferindo o preceito
da higiene moral, pois as “roda” serviam para acobertar os filhos bastardos,
“nascidos do pecado”; de outro, o amontoado de crianças nos asilos feria to-
dos os preceitos da higiene médica, o que era constatado com índice elevado
de crianças que morriam nessas instituições por falta de asseio, de alimentação
e de arejamento das casas (VENÂNCIO, 1999).
No século XIX, em decorrência da urbanização, os médicos passaram
a ter preocupação com os cuidados e a higiene dos locais e das pessoas, tais
como: a localização de cemitérios, controle dos espaços físicos, controle das
epidemias, sobretudo os cuidados com as crianças e as mulheres. A grande
preocupação era neutralizar os perigos que ameaçavam a saúde da sociedade.
As medidas higienistas abrangiam os cuidados com a saúde da criança nos
primeiros anos de vida, cuidados com a gravidez e o parto, além de cuidados
com a amamentação realizada pelas amas de leite (RIZZINI, 2008).
Sentados: o Dr. Ophir Loyola, diretor, à direita, e o Dr. Penna de Carvalho, chefe de
clínica, à esquerda. De pé: o Dr. Evaristo Silva, chefe de clínica, à direita, e o cirurgião
dentista, Dr. Raymundo Cabral, chefe do gabinete dentário, à esquerda.
Fonte: Personalidades Históricas do Pará (Diário do Pará, 2010).
Considerações finais
Referências
BORDALO, Alípio Augusto (Org.). A Sociedade Médico-Cirúrgica e a Medicina no
Pará. Belém: Gráfica Sagrada Família, 2002.
FERREIRA, António Gomes Alves; GONDRA, José Gonçalves. Idade da vida, infân-
cia e a racionalidade médico-higiênica em Portugal e no Brasil (século XVII-XIX).
In: LOPES, Alberto; FARIA FILHO, Luciano Mendes; FERNANDES, Rogério (Orgs.).
Para a compreensão histórica da infância. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
GONDRA, José Gonçalves. Medicina, higiene e educação escolar. In: LOPES, Eliane
Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cyntia Greive (Orgs.). 500
anos de educação no Brasil. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
PRIORE, Mary Del. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 1999.
RIZZINI, Irene. O século perdido: raízes históricas das políticas para a infância no
Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.