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Belém-PA
2012
Hellen Maria Alonso Monarcha
Belém-PA
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sílvia Helena Vale de Lima –CRB-2/819
302.4
M735r Monarcha, Hellen Maria Alonso.
Redes sociais e sociedades indígenas: entre dígitos e
jenipapo / Hellen Maria Alonso Monarcha. – Belém, 2012.
129f. il.
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________________________
Presidente/orientador: Profª Drª Ivânia dos Santos Neves (UNAMA)
_____________________________________________________________________
Professora Drª Maria Ataíde Malcher – Examinadora Externa (PPGCOM/UFPA)
_____________________________________________________________________
Professor Dr. Agenor Sarraf Pacheco – Examinador Interno (UFPa e UNAMA)
Resultado _____________________________________________________________
Pela torcida silenciosa e sofrida, agradeço aos meus pais, João Afonso e Maria do
Carmo. Especialmente, agradeço a minha mãe, Maria do Carmo. Por sempre estar disposta
a ajudar, por ser incansável, por conseguir tudo através de trabalho, com dedicação e amor.
Este foi o exemplo maior que tive. Minha história e minha memória.
Aos meus amigos de toda a vida e lida, próximos ou distantes, Wagner Ramos,
Fabienne Costa, Luiz Carlos e Fernanda Andrade, que estiveram o tempo todo me
incentivando, rezando e colaborando no que era possível. Estavam comigo no Facebook,
no sms, no fixo, no móvel e até no sofá de casa. Muito obrigada por tudo, pelo antes, pelo
durante e pelo depois..., mas, principalmente, pela amizade infinita.
Aos meus colegas e amigos do mestrado, a famosa “turma mágica”, muito obrigada
pela convivência e compartilhamentos de experiências. Em especial, agradeço ao amigo
Zema, pelos conselhos e amizade, ao Jaime, por sua “supersinceridade” e apoio, ao Marcos
Valério, pelas valiosas contribuições, ao Orlando Simões, à Liliane, ao Welton, à Fátima, à
Sônia, ao Carlos, ao Valdir, ao Zoca, à Dani, à Benedita, à Walquíria, à Maura, à Vera, à
Tânia, à Jolse e ao Vidal. Obrigada pela memória que construímos. Também agradeço às
queridas Isabel e Isis que dividiram bons momentos conosco.
Agradeço a todos os parentes destas sociedades com as quais convivi nas redes
sociais, e encerro com a mensagem que há poucos dias o Paiter Oyexiener Suruí, o Xener,
de 17 anos, deixou em meu Facebook:
A primeira parte deste trabalho é resultado de uma pesquisa participativa realizada durante
a execução do projeto “Crianças Suruí-Aikewára: entre a tradição e as novas tecnologias
na escola”, realizado pelo curso de Comunicação Social e pelo Mestrado de Comunicação,
Linguagens e Cultura, da UNAMA - Universidade da Amazônia, financiado pela parceria
Rede Globo, UNESCO e CNPq, junto a indígenas da sociedade Suruí-Aikewára, da aldeia
em Sororó, localizada entre os municípios de São Domingos do Araguaia e São Geraldo do
Araguaia, no sudeste do estado do Pará, aproximadamente a 800 km da capital Belém. No
segundo momento, a pesquisa na web foi realizada com a sociedade Suruí-Aikewára e
outras sociedades indígenas ativas na internet, principalmente a partir do 1º Simpósio
Índigena sobre Usos da Internet no Brasil, que ocorreu na USP - Universidade de São
Paulo(2010). Seu principal objetivo foi analisar como as sociedades indígenas se
relacionam com a web. Minha metodologia de pesquisa definiu-se a partir da inquietação
que conduziu o meu olhar, a perspectiva teórica proposta por Michel Foucault, em
“Arqueologia do Saber”, que estabelece um movimento de regularidades e dispersões na
constituição histórica dos discursos. Minhas análises se fundamentaram nos usos sociais da
comunicação e também nas discussões teóricas propostas por Martín-Barbero (2003 e
2004), por J.B. Thompson (2008) e por Douglas Kellner (2001). Entre os movimentos de
sentido analisados, um se destacou: simplesmente, com carvão, urucum e jenipapo, o
universo online, a inda que nos pequenos espaços por onde os usuários que assumem uma
identidade indígena transitam, também ganhou estas cores e o grafismo indígena é uma
recorrência entre eles.
The first part of this work is the result of a participatory research made during the project
"Children Suruí-Aikewára: between tradition and new technologies in school," conducted
by the Social Communication course and the Masters of Communication, Languages and
Culture, UNAMA - Amazon University, funded by the partnership between Globo
Network, CNPq and UNESCO, along with Indian society Suruí-Aikewára, from the village
Sororó, located between the cities of São Domingos do Araguaia and São Geraldo do
Araguaia, in the southeastern state Pará, approximately 800 km from the capital, Belém.
Afterwards, the web research was performed with the society-Aikewára Surui and other
indigenous societies active on the Internet, mostly from the 1st Symposium on indigenous
Uses of Internet in Brazil, which occurred at USP - São Paulo University (2010). Its main
objective was to analyze how indigenous societies relate to the world wide web. My
research methodology was defined by the uneasiness that caught my eye, using the
theoretical perspective proposed by Michel Foucault's "Archaeology of Knowledge,"
which establishes a movement and dispersion of regularities in the historical constitution of
analysis. My analysis were based on the social uses of communication and also in
theoretical discussions proposed by Martin-Barbero (2003 and 2004), by JB Thompson
(2008) and Douglas Kellner (2001). Among the movements of meaning analyzed, one
stood out: simply, with coal, annatto and genipap, the online universe, even though in
small spaces where users assume that an indigenous identity pass, also won these colors, as
the graphics indigenous expression is common amongst them.
INTRODUÇÃO
No terceiro encontro com eles, conheci Taraí Suruí. Ela esteve envolvida num
acontecimento muito significativo durante a realização do projeto.
[m]as havia algumas crianças que declaravam dois nomes: um
Aikewára e outro o nome “branco”. Taraí, uma índia de 10 anos, disse
que preferia ser chamada pelo seu nome “branco”, que era Talita. Ela
alegava ser mais fácil de aprender. O nome Talita a deixava mais
incluída na cultura ocidental. Além de tudo, achava mais bonito.
(...)
Alguns meses depois dos primeiros registros, uma das crianças
entrevistadas pela Rede Globo foi Taraí, que no início preferia ser
chamada de Talita. Na hora que a jornalista perguntou seu nome, ela
respondeu: “Taraí, Taraí Suruí”. Depois que acabou de falar, ela foi
até a Lariza Gouvêa, uma das bolsistas do projeto e pediu: “Vê lá,
Lariza, vê se a moça anotou meu nome direito. Vê se tá escrito Taraí
Suruí!”. (NEVES: 2010, 10-11)
Atualmente, no Brasil, vivem 238 povos indígenas, que falam 180 línguas
diferentes. Embora, historicamente, o índio seja tomado como uma generalização, cada
sociedade viveu e vive sua própria história. Se hoje existe uma terra indígena na cidade
de São Paulo e duas na região metropolitana de Porto Alegre (NEVES: 2009), as
14
Meu arquivo é bastante irregular, priorizei aquilo que Michel Foucault chama de
dispersões. A partir de uma regularidade, uma assumida identidade indígena, saí pela
internet procurando enunciados que davam conta de diferentes lugares de fala:
lideranças indígenas nacionais, professores de tecnologia, jovens usuários que se
travessam profundamente pelas culturas urbanas.
Para analisar estes enunciados, tomei como importante ferramenta a definição de
memória discursiva.
Toda produção discursiva se efetua em determinadas condições conjunturais
de produção e remete, põe em movimento e faz circular formulações
anteriormente já enunciadas, como um efeito de memória na atualidade de
um acontecimento. (COURTINE: 1981)
relações de poder que constituem as identidades indígenas nos novos espaços de sentido
produzidos pela internet e as possibilidades de apropriação e resistência diante das
novas tecnologias da informação e da comunicação.
No primeiro capítulo desta dissertação, intitulado Aikewára: os Suruí do Pará,
apresento a primeira parte desta pesquisa. Neste primeiro momento, participei das ações
do projeto “Crianças-Suruí-Aikewára”, que aconteceram em Belém, nos anos de
2010/2011. Alguns dos Aikewára mais atuantes estiveram presentes em eventos com
temática voltada para as sociedades indígenas e envolvendo debates sobre cultura,
comunicação, mídia, internet e letras. Estes eventos foram realizados pela Universidade
da Amazônia-UNAMA.
Também acompanhei as atividades de produção do blog aikewara.blogspot.com,
dos filmes Aikewára, lançados em diversas mídias, redes sociais, como o Youtube,
DVDs e que foram exibidos durante os eventos relacionados aos projeto.
Apresento a segunda parte da minha pesquisa, no capítulo dois, Entrando na
rede.... Este momento ocorreu na internet. Exponho aí os procedimentos metodológicos
da pesquisa na web.No ambiente virtual é possível encontrar discursos atualizados a
respeito das tradições indígenas e também discursos inventados e preconceituosos.
Neste contexto, encontrei materializações das relações de poder que também ocorrem
fora deste ambiente.
Analiso, ainda neste capítulo, alguns mecanismos de controle possíveis de serem
identificados na web, geralmente associada a um ambiente democrático e colaborativo.
Os discursos a respeito da democracia e ausência de controle na internet e nas redes
sociais, a neutralidade dos diversos discursos colocados em circulação na web, entre
outros temas relevantes para este entendimento, atravessam todos os capítulos desta
dissertação.
No capítulo dois, dou ênfase ao contato que tive com outras sociedades
indígenas no ciberespaço, as sociedades mais presentes neste ambiente e que se
mostraram acessíveis a partir de minha abordagem. As sociedades com as quais mais
interagi ao longo de toda minha pesquisa, além dos Suruí-Aikewára (PA), foram a
Baniwa (AM), que se autodenomina Walimanai, a Suruí-Paiter (RO) e a Guarani (MS).
No terceiro capítulo, intitulado Movimentos de sentido em torno da internet e as
sociedades indígenas, analiso duas situações que deixam ver essas movimentações na
web, que envolvem sociedades indígenas. Analiso uma situação que está bastante
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Capítulo 1
Aikewára: os Suruí do Pará
vem o acesso à informação, à assistência médica, por exemplo, também impõe práticas
religiosas, educacionais e midiáticas que podem silenciar as tradições indígenas.
As crianças Aikewára, bem cedo, são expostas à escola ocidental, e às novas
tecnologias da informação (televisão, telefonia celular, internet), o que é natural para
quem vive nas fronteiras culturais. O problema é que grande parte destas crianças, antes
da realização do projeto “Crianças Suruí-Aikewára: entre a tradição e as novas
tecnologias na escola”, só tinha acesso às produções culturais do ocidente e havia
apenas poucos livros, algumas revistas e uma pequena coleção de vídeos produzida pelo
projeto Vídeos na Aldeia, que não tinha nada dos Aikewára. Situação bastante
recorrente entre as sociedades indígenas no Brasil.
ficam na orla de Icoaraci são conhecidos por servir, principalmente, pratos com peixes
regionais e mariscos em geral. No caminho, as primeiras conversas que estabelecemos
foram, entre outras coisas, sobre pratos preferidos e este assunto abriu uma rede de
histórias entrelaçadas, sobre comidas típicas e seus preparos. Durante o projeto
“Crianças Suruí-Aikewára”, quatro filmes foram produzidos sobre a cultura Aikewára,
um deles é “A Comida Aikewára”. A conversa, portanto, logo chegou às tecnologias da
informação.
No segundo dia, após o primeiro contato, tivemos nossa experiência inicial com o
computador e a internet. Tiapé e Murué possuíam e-mail, por causa de suas
participações no blog “Aikewára: entre histórias, castanhas e estrelas”, criado em junho
de 2010, junto com um pequeno grupo de Aikewára, numa cidade próxima de Sororó.
Fonte: http://aikewara.blogspot.com
Foi só nesta vinda para Belém, no entanto, que os dois fizeram as primeiras
postagens neste blog. A festa do Karuara aconteceu em agosto daquele ano, mas só
durante a vinda deles, foram postadas algumas fotos e um texto de Murué Suruí. Eles
mesmos queriam escrever sobre este ritual.
O Karuwara é uma festa espiritual que é realizada de quatro em quatro
anos, depois das queimadas das roças. Para nós, povo Aikewára é
muito importante realizar essa festa, porque o Karuwara é o espírito
dos nossos antepassados. Alguns homens da aldeia fazem uma casa
igualzinha as dos antepassados para que durante a festa, os espíritos se
reúnam dentro da casa para assistirem a dança.
(Aikewara.blog.com, em 02/11/2010)
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Uma indígena entre as mais velhas da aldeia, Arihêra, que estava por perto quando
a Murué Suruí, o Tiapé Suruí e eu acessávamos o Twitter, ficou o tempo todo atenta ao
que estávamos fazendo. Quando acessei o blog Aikewára pelo meu celular e disse que
aparecia uma foto dela postada no blog, ela ficou do meu lado e me perguntando: "vai
aparecer mesmo?"
Arihêra aparece em alguns dos filmes do projeto "Crianças Suruí-Aikewára”.
Tanto ela, quanto os outros indígenas mais velhos comentavam que era muito bom
poder guardar fotos e filmes dos Aikewára e lamentavam não ter imagens de alguns
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deles que já se foram. Talvez esta relação que já estabeleciam com as câmeras tenham,
de certa forma, familiarizado Arihêra com objetos tecnológicos do Ocidente, e ela
queria se ver também nas telas do telefone celular
Thompson (2008, p. 160) afirma que:
Em meu segundo encontro com os Aikewára, em abril de 2011, conheci mais uma
Aikewára, a Taraí Suruí, de 13 anos, que se apresentou como Talita. A forma como ela
se identifica oscila. Esta mesma menina, durante a matéria que a Rede Globo fez em
Sororó, na hora de aparecer na televisão, fez questão de ser chamada de Taraí Suruí. Em
Belém, ela voltou a se apresentar como Talita, seu “nome de branco.”
Tiapé, em um momento de descontração, nos disse que na aldeia, após o almoço,
eles caminhavam, faziam alguma atividade, diferente dos kamarás (não-índios) que
sentavam ou deitavam, por isso não havia índios perekuí (gordos) entre os Aikewára.
Ele aproveitou para revelar sua torcida pelo time do Paysandu, no estado do Pará e
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sobre ser capitão do time de futebol da aldeia. Homens e mulheres Aikewára jogam
futebol, disputando torneios. Ficava muito clara a existência de diferentes papéis sociais
entre os Aikewára, uma pluralidade que é própria da constituição das identidades, mas
distorcida no imaginário social.
Fonte: http://aikewara.blogspot.com/
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Tiapé fala, entre outras coisas, da primeira tecnologia ocidental com a qual os
Aikewára tiveram contato na aldeia.
machado. Era de pedra mesmo, não sei como eles poliam, tinha um
acabamento bem bom, não quebrava. Aquilo lá cortava a árvore,
qualquer coisa, cortava lenha e não quebrava aquela pedra.
De lá para cá, a tecnologia veio avançando. Antigamente, quando o
pessoal era “brabo” ainda e não tinha contato. A primeira coisa, o
primeiro contato, lá na floresta onde a gente vivia, no caminho que os
antigos ficavam passando, no acampamento deles, aquele padre Frei
Gil e outro lá, eles penduravam o facão, o machado, pra poder mostrar
para o nosso povo. Nossos pais, nossos avós, eles viam aquilo lá e
ninguém sabia pra que era aquele facão pendurado. Achavam que era
armadilha. (SURUÍ, 2011)
Ivânia: Só, Tiapé, que eles não viam sentido social nenhum 'praqueles'
objetos tecnológicos. E ainda não eram nem objetos eletrônicos, eram
objetos tecnológicos de ferro ou de pedra. Porque o ferro, ou a pedra,
não era uma tecnologia usada por eles. (NEVES, 2011)
Ivânia: Mas o que não quer dizer que vocês não tivessem tecnologia.
E isso tem que ficar bem gravado. O terçadinho com a pedra era uma
tecnologia e uma tecnologia eficiente, que servia. (NEVES, 2011)
Tiapé: Um dia nós fomos pra floresta e tinha um menino com GPS, da
brigada do corpo de bombeiros. Ele parou, começou a teimar comigo
e falou assim: “O caminho de vocês está errado, o caminho não é por
aí!”. Eu perguntei: “Por que tá errado?”. Ele respondeu: “ Porque tá
errado, vocês não estão vendo? A gente tá indo só pra esquerda, então
vamos ver, daqui a pouco o GPS mostra que a gente tem que ir para
direita”. O menino falou: “nós vamos sair lá onde nós entramos”. Só
que isso não aconteceu. Ele disse que o GPS mostra certinho, mas lá
errou. Então tem hora que a tecnologia funciona na mata e outras
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Por alguma interferência daquela região, o GPS não foi tão eficiente como
geralmente é em ambientes urbanos. O importante, porém, no relato de Tiapé, é
perceber que sem a tecnologia conhecida pelos Aikewára, o rapaz do corpo de
bombeiros estaria perdido na floresta. Na seqüência da entrevista, Tiapé conceitua:
Hoje, os Aikewára também têm sua cultura atravessada pelo universo tecnológico
digital. Não somente através dos usos que fazem da internet (blog, Twitter, e-mail),
ainda limitado em alguns aspectos como a ausência do ponto na aldeia, mas desde sua
participação no processo eleitoral, através dos dígitos que utilizam para votar, através
dos registros instalados pela companhia elétrica na aldeia, seus cartões bancários
fornecidos pelo governo, os aparelhos receptores das parabólicas de suas casas e os
aparelhos celulares.
No início de minhas pesquisas, somente Tiapé possuía um aparelho celular e em
seguida Murué. No início de 2012, período em que finalizo a pesquisa, uma parcela
significativa de jovens Aikewára possui um aparelho e utilizam diversos dos seus
recursos.
A tecnologia sempre se modifica, assim como seus usos. Apesar de o celular ter se
tornado um objeto comum entre os Aikewára, com as limitações de alcance do sinal das
operadoras na aldeia, eles são usados principalmente para ouvir músicas, tirar fotos e
assistir vídeos. Tiapé e Murué utilizam as funções de telefonia dos seus aparelhos
quando vão para a cidade.
[...] certos dias, as mãos dos índios Aikewára são “pretadas” pelo
jenipapo misturado com carvão. Pelo corpo deles, a floresta, que se
manifesta através de seus animais e árvores. Os Aikewára se pintam
para dançar o Sapurahai... Os Aikewára se pintam segundo Arihêra
Aikewára: “Porque isso é nossa cultura!” (NEVES et CORRÊA: 2011,
p.05)
Fonte: www.aikewara.blogspot.com
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De todo modo, o contato com outras sociedades fez com que os Aikewára
também ressignificassem seus grafismos, em função do interesse dos não-índios pelas
belas formas e traços precisos de sua pintura
O grafismo, na contemporaneidade, também representa um importante elemento
das identidades indígenas, principalmente na Amazônia, onde o jenipapo pode ser
encontrado sem muita dificuldade. Por outro lado, como pude observar durante uma
oficina de grafismo Aikewára, na UNAMA, (figura 11) os jovens da cidade, embora não
entendam bem os significados das pinturas, demonstram interesse por elas e muitos
querem se pintar. Para eles, também o grafismo materializa a identidade indígena.
No último capítulo, analiso como o grafismo está presente nos espaços da web.
Apesar de todas as diferenças históricas que existem entre os povos indígenas e das
formas como se relacionam com as mídias. O grafismo é uma recorrência, nas primeiras
imagens sobre sociedades indígenas, nas primeiras fotos, nos primeiros registros
audiovisuais, e como não poderia deixar de ser, também na web.
Nos próximos capítulos, tratarei mais especificamente da parte da pesquisa
realizada na web. Em alguns momentos, retorno a esta experiência com os Aikewára,
pois, de certa forma, existem algumas semelhanças com outras sociedades que este
contato com eles ajudou a compreender.
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Assim como ocorreu com a primeira geração da internet, as redes sociais foram
criadas com uma proposta inicial que difere dos diversos usos hoje praticados por
milhões de usuários no mundo todo, conforme seus interesses particulares. Esse
comportamento pode ser relacionado ao que Jauss (1979, p.60) diz sobre a experiência
estética:
[...] a experiência estética não se distingue apenas do lado de sua
produtividade, como criação através da liberdade, mas também do
lado da sua receptividade, como “aceitação em liberdade”. À medida
que o julgamento estético pode representar tanto o modelo de um
julgamento desinteressado, não imposto por uma necessidade, quanto
o modelo de um consenso aberto, não determinado a priori por
conceitos e regras, a conduta estética ganha, indiretamente,
significação para a práxis da ação.
Fonte: http://www.numclique.net/tag/Facebook
Fonte: http://www.Facebookfacil.com.br/Facebook-bate-papo-lateral-filter-bubble.html
Fonte: www.google.com.br
48
Gedhin (2011) explica que, independente do objeto em questão ser uma simples
janela de bate-papo, o fenômeno do filter bubble se dá deste modo, através de um
conjunto de pequenas intervenções algorítmicas que cria uma grande bolha de filtro.
Além disso, o usuário final provavelmente só irá percebê-lo se, de alguma forma, ele
interferir em sua navegação.
Por outro lado, ainda que na internet existam, e certamente ficarão cada vez mais
sofisticadas, as estratégias de controle, não podemos desconsiderar que os internautas,
os telespectadores, os leitores, enfim, os receptores dos processos midiáticos, sempre
foram, ainda que em diferentes níveis de autonomia, receptores ativos. Práticas
discursivas que reforçam a ideia de que as sociedades se uniformizam pelo uso da
tecnologia, remetem ao equívoco de que os conflitos e diferenças deixam de existir
neste espaço, onde aparentemente todos falam com todos, como alerta Martín-Barbero,
(2004, p.178):
O autor parte destas reflexões para fomentar um importante debate a respeito das
tecnologias da informação, especialmente na América latina. Para ele, precisamos nos
preocupar como as tecnologias da comunicação constituem-se a partir de diversidades
culturais e não ficar limitados a analisar os seus “efeitos”.
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No caso dos Aikewára, e de outras sociedades indígenas que não possuem ponto
de internet na aldeia, a tevê passa a ser o único meio de acesso imediato às produções
audiovisuais. São poucos os indígenas que se deslocam até lan houses ou fazem viagens
para outras cidades para participarem de eventos ou navegarem na internet. Estes
deslocamentos são geralmente realizados pelas lideranças de cada sociedade.
Na web, por exemplo, é comum a criação de identidades falsas (fakes), o que faz
parte do universo virtual. Na contemporaneidade, as identidades são consideradas
fluidas e podem ser construídas discursivamente e depois descartadas. Como, então,
classificar as “verdadeiras” identidades indígenas na web? São todas identidades
discursivas, formuladas devido a uma identificação? O que é subjetivo e o que é
objetivo dentro deste campo de pesquisa?
1
A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação
indígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras internacionais já
ocupavam essa área antes da criação das divisões entre os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos
indígenas no Brasil do que do Brasil. (Instituto Socioambiental: 2011)
54
Fonte: http://www.usp.br/nhii/simposio/
Estas diferentes realidades podem ser facilmente percebidas nas redes sociais,
como o Facebook, onde alguns indígenas postam informações diariamente, enquanto
outros passam meses sem publicar qualquer informação. Nas conversas que estabeleci
com vários indígenas, através da internet, perguntei para eles sobre os usos que faziam
da web e a partir de suas respostas, foi possível perceber como estão expostos a
diferentes realidades em relação ao acesso à rede. No próximo capítulo, aprofundo mais
as análises sobre esta questão.
Fonte: https://www.Facebook.com/profile.php?id=100001988945608
58
Fonte: https://www.Facebook.com/messages/
Fonte: https://www.Facebook.com/messages/
perfis do Facebook, Twitter e Orkut o que qualquer jovem de sua idade postaria, muitas
vezes sem qualquer caracterização que lembre a cultura indígena.
***
As sociedades indígenas não acessam as redes sociais da web da mesma forma.
Vários aspectos históricos e políticos, de que continuarei a tratar no próximo capítulo,
regulam os usos que os indígenas fazem da internet, mas não se deve imaginar que não
existem relações de poder que administram os gestos de leitura na web. A linguagem
não é neutra.
Neste capítulo, procurei mostrar algumas estratégias de controle na web e as
diferentes formas de acesso das sociedades indígenas. No próximo, analisarei mais
especificamente como estas relações de poder atravessam os blogs assinados por
indígenas.
61
CAPÍTULO 3
Movimentos de sentido em torno da internet e as sociedades indígenas
Discussões sobre tecnologia e usos dos meios digitais são assuntos recorrentes
nos sites e perfis indígenas nas redes sociais, como no blog Nodanakaroda, da sociedade
Baniwa (AM).
Os Baniwa também receberam esta denominação dos não-índios, eles se
autodenominam Walimanai e vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e a
Venezuela, em aldeias localizadas às margens do Rio Içana, em São Gabriel da
Cachoeira, no estado do Amazonas. A maior parte da popolação deste município é
constitída por indígenas e há acontecimentos da história recente deste município que são
bastante significativos nas relações de poder entre o Estado brasileiro e a sociedade
local. São Gabriel foi a primeira cidade brasileira a oficializar além da língua
portuguesa, três línguas indígenas: Tukano, Baniwa e Nheengatu. “Completando os motivos
pelos quais São Gabriel da Cachoeira (AM) é mesmo especial, 90% do município é indígena,
incluindo o prefeito e seu vice, eleitos em 2008.” (TERRA: 2012)
62
Acredito que estas conquistas políticas se traduzem nas práticas culturais destas
sociedades indígenas e a participação na internet de um professor Baniwa também está
relacionada a este movimento. O estado do Amazonas foi o primeiro da região a criar o
Terceiro Grau indígena e não se pode desconsiderar, portanto, que há um investimento
estadual na formação dos professores indígenas.
Quando cheguei a Ray Benjamin, ainda não sabia da história recente de São
Gabriel da Cachoeira. Fui atrás desta informação a parti de conversas com minha
orientadora. Encontrar este professor Baniwa atuante na web, provavelmente, já é
consequência dos investimentos feito nesta região. A posição do professor, inclusive,
deixa ver os benefícios da chegada destas tecnologias, mas também ele se preocupa em
demonstrar que existem problemas em relação ao acesso.
Ray Benjamin Baniwa é professor de novas tecnologias na escola Pamáali, em
sua aldeia. Ele possui vários blogs, perfil no Flirck, perfil no Facebook e no Twitter.
Apesar disso, a aldeia não possui ponto de internet. Quando não está viajando, ele fica
bastante tempo sem acessar seus perfis, como me explicou pelo MSN. A seguir, um
trecho de parte de uma entrevista que realizei com ele.
R@y diz:
12:32:05
desde 2004 comecei a usar o computador, e daí comecei a usar a
internet
12:32:33
apartir de 2005 foi indicado para assumir o `Telecentro da escola
Hellen diz:
12:32:40
e vc dá aulas sobre como usar né?
R@y diz:
63
12:32:50
isso
12:33:21
participei de alguns cursinhos de informatica e internet
Hellen diz:
12:34:01
mas o que você acha? No caso dos Baniwa, você acha que é um uso
mais para lutas, preservação, ou tem um pouco de diversão
também...o que acha?
12:34:57
Pode falar só sua opinião tb, não precisa falar por todos...
R@y diz:
12:35:06
no Içana (regiao onde os Baniwa vivem), ainda há poucos usuarios de
internet
12:35:24
mas, os que ja sao, usam para um pouco do que vc disse
Hellen diz:
12:35:33
igual com os Aikewára... e eles tem que sair da aldeia pra se conectar
R@y diz:
12:35:38
mas, talvez, pouco para diversao
Hellen diz:
12:36:35
humm, queria ouvir de você. Então é isso mesmo, mais para mostrar a
cultura, denúncias, preservação...isso né?
R@y diz:
12:36:51
isso
O professor Ray usa as redes sociais, entre outras coisas, para divulgar as
atualizações de seus blogs, inclusive, quando dizem respeito ao design da página. Em
seus blogs, ele utiliza estratégias discursivas bastante atrativas para os usuários da web,
de forma geral, tanto na maneira de envolver o leitor com suas narrativas, quanto na
preocupação com o design. Ele esteve no Simpósio da USP e participa de muitos
eventos sobre tecnologia, independente de estarem relacionados a sociedades indígenas.
A experiência de Ray Benjamin com o mundo digital, apesar das limitações de
acesso em sua aldeia, evidencia, como coloca Martín-Barbero (2004), a tensão entre o
presente e o passado, entre tecnologia e cultura, que agora se torna ostensiva, em função
das novas tecnologias de comunicação.
64
Fonte: http://rbaniwa.wordpress.com/?s=I+F%C3%B3rum+da+Internet+no+Brasil
Foi através do blog do Ray Benjamin, no artigo Começar sempre numa folha de
papel (2011), que soube quando e como o Twitter foi planejado para a web. De um
modo geral, os livros a respeito do microblog mencionam somente a data de lançamento
65
da plataforma, em 2006. Ray explica, neste artigo, alguns conceitos que aprendeu em
uma oficina realizada em São Gabriel da Cachoeira- AM, sobre as Redes Sociais, e
destaca a importância de se iniciar qualquer projeto para a web a partir de um rascunho,
numa folha de papel. Ele destaca que esta foi uma das principais orientações dadas pelo
instrutor da oficina, João Ramirez (BANIWA: 2011).
Fonte: http://rbaniwa.wordpress.com/?s=come%C3%A7ar+na+folha+de+papel
Na maioria das coisas boas que tem na rede, foram feitas sem querer.
Algumas como Facebook para coisas ruim (quando foi criado, de
acordo como é contado a história no filme) e outros, como Orkut, que
foi criado por Orkut, sem querer…E logo se tornou uma das redes
mais populares da rede..a mais acessada do Brasil. Quando conto isso,
é porque quero dizer que ao longo das experiências os blogs criados
na oficina irão direcionando seus caminhos para vários assuntos.. E
que vai acontecer naturalmente, dependendo dos interesses e
objetivos. Sempre melhorando..(BANIWA:2011)
Fonte: http://rbaniwa.wordpress.com/?s=Imagens+do+dia%3A+S%C3%A3o+Gabriel+da+Cachoeira
http://rbaniwa.wordpress.com/?s=pam%C3%A1ali+volta+a+se+conectar
http://rbaniwa.wordpress.com/?s=pam%C3%A1ali+volta+a+se+conectar
68
Figura 27: Lançamento do livro bilíngue Figura 28: Transporte dos alunos da
Pamáali
Fonte: http://pamaali.wordpress.com/
Fonte: http://pamaali.wordpress.com/
Segundo Neves (2009) atualmente existem três etnias que compõem o que
entendemos por sociedades indígenas Guarani. Pela localização de suas terras indígenas,
considerando que há uma aldeia indígena na cidade de São Paulo e outra na área
metropolitana de Porto Alegre, eles poderiam ser os indígenas mais atuantes na internet.
Porém as questões históricas que envolvem a maior parte das sociedades Guarani, de
certa forma, se traduzem no pouco acesso destes indígenas.
De acordo com o blog Tekoa Virtual (2011):
http://www.tekoavirtualguarani.net/
http://www.tekoavirtualguarani.net/index.php?option=com_content&view=article&id=55&Itemid=65
71
Não tenho a pretensão de fazer uma cartografia geral da presença indígena nas
redes sociais. Como já disse, meu recorte foi se delineando a partir, principalmente, das
dispersões históricas das postagens de usuários que assumiam a identidade indígena. A
produção disponível postada pelos Kariri-Xocó me chamou bastante atenção por uma
peculiaridade, o detalhamento das postagens sobre sua “inclusão digital”. Como aparece
nos enunciados a seguir, existe todo um procedimento de demonstração que vai da
pintura da casa onde funcionaria o telecentro, até a reflexões ecológicas sobre os usos
da internet.
Neste primeiro enunciado, o padrão linguístico materializa um lugar de fala, no
mínimo, ambíguo.
Fonte: http://telakx.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html
Também aqui cabe outra indagação: O que justifica toda esta preocupação?
No texto a respeito da reunião do dia oito de outubro, aparece, como uma das
atividades que devem ser executadas pelos freqüentadores do telecentro Kariri-Xocó, o
registro da memória social. Em sua página pessoal, Nhenety Kariri-Xocó se apresenta
como alguém que gosta, entre outras coisas, de memória digital. “Professor indígena
que gosta do meio ambiente e principalmente história do Povo Indigena Kariri-Xocó.
Gosto de turismo, desenho animado, artes, gosto da Memoria Digital, artes marciais,
carnaval, magia, mitlogia, lendas, esoterismo, etc.” (KARIRI-XOCÓ: 2011)
O assunto Memória é tratado na academia como sendo de grande complexidade,
com divergências entre os autores estudiosos do tema, diferentemente de como está
colocado pelos indígenas de Kariri-Xocó. É possível perceber muito mais dispersões
que recorrências neste blog, que fazem questionar qual imagem da inclusão digital
indígena ele sugere? E ainda, por que, depois de tanta conscientização e gestão, as
postagens no blog cessaram? No total, só foram realizados cinco posts e nenhum deles
registra a memória das atividades que haviam sido propostas e que já deveriam ter
ocorrido. Pelas postagens, não é possível saber o que houve com o telecentro em 2011 e
2012.
Fonte: http://www.Orkut.com.br/Main#Profile?uid=12106490459962231941
Perguntei se havia produzido esta foto, por estar usando um boné na cor verde,
estar tomando uma bebida com embalagem igualmente verde e ter ao fundo um
gramado. Ele disse que nem havia percebido e me enviou um link de outra fotografia,
dizendo que, neste caso (figura 33), era “por querer” a produção.
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=212298888806974&set=a.144129322290598.16539.1000008059222
68&type=3&theater
mídia, os modos como o público se apropria dela e a usa, além dos modos como
imagens, figuras e discursos da mídia funcionam dentro da cultura em geral.”
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=320059201364275&set=a.14
https://www.Facebook.com/profile.php?id=100000485186629 4129322290598.16539.100000805922268&type=3&theater
77
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=257019497668246&set=a.206838496019680.47634.1000008059
22268&type=3&theater
Fonte: www.midiassociais.net
2
Handicap_vantagem do mais fraco; desvantagem imposta a um competidor forte.
80
A ideologia pressupõe que “eu” sou a norma, que todos são como eu,
que qualquer coisa diferente ou outra não é normal. Para a ideologia,
porém, o “eu”, a posição da qual a ideologia fala, é (geralmente) a do
branco masculino, ocidental, de classe média ou superior; são
posições que vêem raças, classes, grupos e sexos diferentes dos seus
como secundários, derivativos, inferiores e subservientes. A ideologia,
portanto, diferencia e separa grupos em dominantes /dominados e
superiores/inferiores, produzindo hierarquias e classificações que
servem aos interesses das forças e das elites do poder. (KELLNER:
2001, p.83)
Há até pouco tempo, não existiam no Twitter comandos em português, eles apenas
podiam ser visualizados nos idiomas inglês, espanhol, italiano, francês, alemão e
japonês. Segundo Comm (2009), o Twitter surgiu em 2006, mas somente em 2011
ganhou sua versão em português.
A rede social Orkut, uma das primeiras a conseguir abrangência mundial,
inicialmente, também não tinha uma versão em português, porém o volume de usuários
brasileiros, o qual superava o de muitos países que possuíam facilitações no uso da
ferramenta, “obrigou” a plataforma a se reelaborar.
O Facebook, que neste início de 2012 é a rede social que apresenta o maior
crescimento em termos de participação no Brasil, também elaborou sua versão em
português somente depois de algum tempo.
Ainda que os comandos utilizados nas plataformas das redes sociais tenham uma
tendência ao idioma inglês e que o português seja um dos últimos idiomas a integrarem
a lista de opções das ferramentas, existem outros idiomas que, apesar de não comporem
nenhuma das listas oficiais até o momento disponibilizadas, aparecem nos posts de seus
falantes, como no post a seguir, de Ray Benjamin, escrito em língua baniwa.
81
Fonte: https://www.Facebook.com/benjamimray?ref=ts
***
Neste capítulo, procurei mostrar as dispersões históricas em que se constituem as
postagens de usuários brasileiros que assumem uma identidade indígena na internet. Os
casos analisados falam de situações singulares em relação às sociedades indígenas, mas
que são recorrentes em relação a todos os grupos minoritários, isto é, aqueles que
historicamente tiveram pouco acesso às novas tecnologias de informação e comunicação
do Ocidente.
No próximo capítulo, meu olhar se voltará não mais para as dispersões, mas para
uma regularidade nas postagens de indígenas brasileiros na rede mundial de
computadores, que é a utilização do grafismo como marca identitária.
83
Capítulo 04
Sobre dígitos e jenipapo: uma regularidade?
Figura 39: Oyexiener Suruí dos Paiter (RO) pintando sua amiga
não-índia
Fonte:
https://www.Facebook.com/media/set/?set=a.206838496019680.47634.10000080
5922268&type=3
Houve, por parte dos amigos de Oyexiener Suruí, uma série de comentários
relacionados a esta foto. Logo abaixo dela, há o pedido de outras amigas para serem
igualmente pintadas. E observem que os usos sociais que pretendem fazer das pinturas
corporais, em nada lembram os rituais tradicionais em que os povos indígenas usavam o
grafismo.
Figura 40: Comentários da foto em que pinta amiga
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=315016241868571&set=a.206838496019680.47634.100
000805922268&type=3&theater
87
Outro aspecto a ser observado na figura 40 é a forma como a linguagem está sendo
utilizada pelos jovens que comentam a fotografia, com as particularidades da web e não
de uma cultura específica. Há alguns emoticons, como ;D, significando um sorriso largo
e uma piscadela, e também *--*, atualmente muito utilizado com algumas variações,
significando um olhar surpreso. Há termos em inglês, como fake, abreviaturas unindo
mais de uma palavra (pdc: pode crer) e letras repetidas simbolizando sons de risadas e
gritos de euforia.
Ubiratan Suruí posta um enunciado, que dentro deste contexto, fica bastante
ambíguo. Por que razão ele haveria estragado o braço da moça? Pelo grafismo, que
marca uma identidade indígena ou pela pouca habilidade do amigo? Do que exatamente
ele estaria zoando? O fato é que depois desta postagem, encerra-se a conversa.
Na sequência, outra foto e seus comentários suscitam outro aspecto do grafismo.
https://www.Facebook.com/media/set/?set=a.206838496019680.47634.100000805
922268&type=3
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=206838509353012&set=a.206838496019680.47634.
100000805922268&type=3&theater
Fonte: https://www.Facebook.com/benjamimray
Abaixo da imagem ele escreveu: “Essa é para vc curtir” (figura 43). O professor
selecionou algumas fotografias em que as pessoas utilizam roupas da cultura ocidental e
outras em que estão pintadas. São quatro fotografias com pinturas corporais e quatro
com roupas ocidentais. Conscientemente, ou não, ele dispôs essas imagens,
alternadamente, dentro do símbolo baniwa, representando bem a sua realidade entre
dígitos e jenipapo.
O que podemos observar na web, nos livros de autoria indígena, na produção
audiovisual e em todas as possibilidades do nosso tempo é que, dentro das
90
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=429808727033146&set=a.234904626523558.7
6888.100000120670122&type=1&theater
91
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=429808727033146&set=a.234904626523558.76888.100000120670122&type=
1&theater
92
Fonte: https://www.Facebook.com/ctaquino1
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=299174216823193&set=a.275265079214107.66486.100001918523377&type=
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=380475685326638&set=a.163225937051615.30967.100000926285273&type=1&theater
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=380475685326638&set=a.163225937051615.30967.100000926285
273&type=1&theater
Augusto menciona que “atacaria a bela índia, não tão inocente...”, o que sugere o
seu encantamento pela indígena e sua percepção de que a fotografia foi produzida para
este fim, de chamar a atenção para sua beleza. A partir deste comentário, há uma
sequência de enunciados enaltecendo as características “delicadas e puras” de Stefânnia,
como dizer que “ela é uma flor de pessoa...” Porém, nos comentários seguintes, as
96
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=380475685326638&set=a.163225937051615.30967.1000009262
85273&type=1&theater
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=380475685326638&set=a.163225937051615.30967.100000926285273&type
=1&theater
Fonte:
https://www.Facebook.com/photo.php?fbid=380475685326638&set=a.163225937051615.30967.100000926285273&type=1&theat
er
Fonte: https://www.Facebook.com/SabedoriaIndigena
100
Fonte: https://www.Facebook.com/SabedoriaIndigena
Fonte: https://www.Facebook.com/SabedoriaIndigena
Apesar do significado que uma página como a Sabedoria Indígena poderia ter
para as sociedades indígenas no Facebook, esta página não deixa clara a identidade
indígena de seu administrador. Ela também não conta com a participação, nos
compartilhamentos e nos botões curtir, de nenhum dos indígenas das diversas etnias
ligados a mim nesta rede social. Os pensamentos estão em língua portuguesa e os índios
nas fotos são da América do norte. Não há mensagens em línguas indígenas. A página é
mais uma representação do indígena na web, mas que tipo de representação do indígena
ela pretende ser? E para quem?
Fonte:
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/da_cultu
ra_a_perversao_7.html
Considerações finais
Ao decidir trabalhar com a rede social Twitter, que em 2010, quatro anos após seu
lançamento, ainda era desconhecida por muitos, sabia de algumas das dificuldades que
enfrentaria e das limitações de referências bibliográficas a respeito do assunto. As redes
sociais, de um modo geral, ainda são classificadas como ‘novas mídias’, por serem um
campo relativamente recente, mesmo com a velocidade atribuída ao que ocorre na
internet, a qual considera o período de dois anos como tempo suficiente para tornar
ferramentas e seus usos obsoletos.
Ao me encontrar com minha orientadora, a pesquisa foi acrescida de um novo e
igualmente complexo desafio, analisar o Twitter e a participação indígena no microblog,
algo que parecia improvável, mesmo para ela, que já estava acostumada com projetos
envolvendo sociedades indígenas, além da sociedade Suruí-Aikewára, e que também já
havia aprovado o projeto “Crianças-Suruí-Aikewára”, que já era relacionado a diversas
mídias tecnológicas.
O tema se tornou interessante até por que precisaria ser desenhado durante o
próprio desenvolvimento do processo de pesquisa. A soma de áreas de conhecimentos
não tão obviamente afins e até mesmo conflituosas, ao mesmo tempo pareceram
imediatamente representar o desafio proposto pelo próprio programa de pós-graduação
do mestrado da UNAMA, interdisciplinar, atravessado pelas Comunicações, pelas
Linguagens e pelas Culturas.
A cada passo de minha pesquisa, descobria o quanto estava imersa no romantismo
estático e sem dinâmica histórica que é atribuído à cultura indígena, que logo se tornou
plural para mim: culturas indígenas, na proporção em que avancei e “entrei nas redes”.
Observei que institutos respeitados, como o ISA, também atualizaram informações em
seus sites, a partir das trocas sociais na web. O blog aikewara.blogspot.com passou a ser
citado pelo ISA, em 2010, em função da visibilidade ampliada dos Aikewára,
possibilitada também por algumas ações na internet através da pesquisa participativa
necessária a esta dissertação.
Tudo o que já havia sido realizado pôde ser mediado pelas redes sociais, porém,
eu estava no lugar certo, no momento certo, pois foi também em 2010 que foi realizado
o 1º Simpósio sobre Usos da Internet no Brasil, na USP. Este evento, como foi possível
observar ao longo do texto, foi uma de minhas principais fontes de acesso aos indígenas
105
Ser índio é muito mais do que fazer parte de uma sociedade peculiar, pois ser índio
envolve uma série de sociedades e suas peculiaridades. Ser índio também é muito mais
do que autorizar quem pode ser índio, pois ser índio é muito mais que reinventar uma
identidade. Ser índio não é estar na internet e nem é estar fora dela, não é ser jovem e
não é ser velho. Ser índio não é falar uma língua oficial estabelecida na constituição
brasileira e também não é falar uma língua não-oficial. Ser índio não é se reconhecer
índio ou não se reconhecer. Ser índio pode ser tudo isso, parte disso ou nada disso.
Porém, as sociedades indígenas, entre discursos que protagonizaram e discursos
forjados na internet, entre outros discursos, decidiram, sem necessariamente utilizar de
mediações e redes sociais entre elas, ainda que convivendo em meio a tudo, às tensões,
aos conflitos e às contradições, pintarem seus corpos, escreverem sua história e de suas
culturas, também sem letras, sem dígitos.
As sociedades indígenas, num movimento disperso, quase reuniram as mais de
238 etnias em uma recorrência. Na web. Não agendada pela mídia e nem pelos
organismos governamentais, ou até mesmo pelos projetos envolvendo suas
participações e a de não-índios. Simplesmente, com carvão, urucum e jenipapo, o
universo online foi pintado... E, hoje, as movimentações já são outras.
Enquanto esta dissertação é finalizada, o que é recorrência gera novas dispersões,
novos conflitos e a discussão sobre o que é ser índio se reinicia. Este texto deixa mais
questionamentos que respostas, pois os movimentos de sentido não se esgotam e não se
esgotarão. As negociações sempre precisarão ocorrer em todos os aspectos aqui
apresentados, e em outros que podem ser aprofundados em uma nova pesquisa, mas o
lugar de que cada sociedade e de que cada indígena fala, já não é e não será mais o
mesmo.
107
Referências
Livros
COMM, Joel. O poder do twitter: estratégias para dominar seu mercado e atingir
seus objetivos com um tweet por vez. São Paulo: Editora Gente, 2009.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Tradução Viviane Ribeiro.
Bauru: EDUSC, 2002.
SURUÍ, Murué. História dos índios Aikewára. Belém: Editora UNAMA, 2011.
Capítulos de livros
KITTLER, Friedrich. A História dos meios de comunicação. In: LEÃO, Lúcia. O Chip
e o Caleidoscópio: reflexões sobre as novas mídias. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2005. p.73-100.
Artigos
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/4829/3687>
Acesso: 20 de outubro de 2011
O’REILLY ,Tim. O que é Web 2.0? Tradução: Miriam Medeiros. Revisão técnica:
Julio Preuss. Novembro 2006.
Disponível em: <http://www.cipedya.com/doc/102010> Acesso em: 03 de outubro de
2010
SOUZA, Levi Leonel de. Tatuagem, a escrita na pele como inscrição. 2008.
Disponível em: <http://opensadorselvagem.org/psicologia/existencianalise/tatuagem-a-
escrita-na-pele-como-inscricao.html> Acesso em: 15 de Novembro de 2010
Revistas e Periódicos
Teses
Hellen: Vocês estavam conversando sobre Ivânia: Não era para eles pegarem, Tiapé? Eu
tecnologia (Ivânia e Tiapé). Qual foi a primeira acho que era para pegarem.
tecnologia ocidental com a qual vocês tiveram Tiapé: Pois é, acho que era para pegar.
contato lá na aldeia?
Maurício: Presente!
Tiapé: Como eu tava falando para a Ivânia. Esta
Ivânia: Presente, era presente.
primeira tecnologia é muito antiga. Eu não
cheguei a testar, mas eu cheguei a ver: o Tiapé: Teve um até que queria pegar. Só que o
machado. Era de pedra mesmo, não sei como chefe deles, quando ele via, ele não deixava os
eles poliam, tinha um acabamento bem bom, outros pegarem, porque podia ter alguma coisa
não quebrava. Aquilo lá cortava a árvore, de mal. Ele achava que tinha doença, alguma
qualquer coisa, cortava lenha e não quebrava coisa pra eles morrerem. Então eles não
aquela pedra. pegavam. Só que continuaram colocando,
De lá para cá, a tecnologia veio avançando. tiravam, botavam café, açúcar. Toda vez aquilo
Antigamente, quando o pessoal era “brabo” pendurado, eles derramavam, jogavam fora,
ainda e não tinha contato. A primeira coisa, o pegavam aquele terçado, até que viram que não
primeiro contato, lá na floresta onde a gente era doença.
vivia, no caminho que os antigos ficavam Ivânia: Tiapé, eles não viam sentido social
passando, no acampamento deles, aquele padre nenhum naqueles objetos tecnológicos. E ainda
Frei Gil e outro lá, eles penduravam o facão, o não eram nem objetos eletrônicos, eram objetos
machado, pra poder mostrar para o nosso povo. tecnológicos de ferro, mas o ferro não era uma
Nossos pais, nossos avós, eles viam aquilo lá e tecnologia usada por eles.
ninguém sabia pra que era aquele facão
Hellen: É interessante, porque tem sempre isso.
pendurado. Achavam que era armadilha.
A tecnologia estava ali presente no meio, mas
Hellen: Mas era colocado pra intimidar? para aquelas pessoas não tinha um sentido claro
Tiapé: Eu acho que sim, né? de uso. De um modo geral, é isso que acontece,
não importa a tecnologia.
Hellen: Mas não dava certo?
Ivânia: O que não quer dizer que vocês não
Tiapé: Não.
tivessem tecnologia. E isso tem que ficar bem
gravado. O terçadinho com a pedra era uma elétrica aqui?
tecnologia e uma tecnologia eficiente, que
Tiapé e Murué: Em 2007.
servia.
Ivânia: Quando chegou o telefone público lá na
Maurício: Tem tecnologia na construção da
aldeia, pouco tempo depois roubaram os fios da
casa, na forma de fazer a mochila. Tu chegaste a
instalação. Por que vocês não impediram?
ver a mochila deles?
Tiapé: Não, porque nós pensávamos que era
Tiapé: Eles faziam tipo um cipózinho.
gente da manutenção.
Hellen: Quem faz a mochila? Todos fazem, os
Ivânia: Com quem é que vocês mantém contato
mais velhos fazem?
por telefone?
Tiapé: Eu aprendi também a fazer. Quando a
Murué: Com outras cidades.
gente vai para a mata, os mais velhos, sempre
Ivânia: Na época dos primeiros contatos com os
quando tão com a gente, eles cobram que a
não índio, todos os Aikewára tinham o mesmo
gente tem que aprender. Um dia eles vão morrer
nível de contato, que era o não contato, tanto
e a gente vai ficar só.
crianças quanto jovens, quanto velhos olhavam
Ivânia: Uma das grandes dificuldades da
aqueles primeiros objeto pelo frei e tinham
floresta é saber entrar e saber sair. Também isso
aquele estranhamento. Hoje diante do telefone
requer tecnologia, não é? Nenhuma sociedade
público, a geração de vocês, pensa de uma
consegue sobreviver sem tecnologia. Nós aqui
forma, porque vocês já têm um contato maior
usamos o carro ou o ônibus como meio de
com as culturas urbanas, já os mais velhos tem
locomoção. Será que a nossa tecnologia serve
dificuldade. Mas eu me lembro da Arihêra, que
para floresta?
quando a Hellen mostrou o celular, ela duvidou
Tiapé: Um dia nós fomos pra floresta e tinha pudesse aparecer dentro daquele aparelhinho.
um menino com GPS, da brigada do corpo de Então, mesmo entre os mais velhos há
bombeiros. Ele parou, começou a teimar comigo diferenças.
e falou assim: “O caminho de vocês está errado, A tecnologia não chega de forma para todas as
o caminho não é por aí!”. Eu perguntei: “Por sociedades e as pessoas de uma mesma
que tá errado?”. Ele respondeu: “ Porque tá sociedade também não recebem de forma
errado, vocês não estão vendo? A gente tá indo homogênea.
só pra esquerda, então vamos ver, daqui a O Tiapé está falando de uma utilização que ele
pouco o GPS mostra que a gente tem que ir para faz do celular. Para ti o que importa é ligar,
direita”. O menino falou: “nós vamos sair lá quando vai para a cidade. Na aldeia, as crianças
onde nós entramos”. Só que isso não aconteceu. usam só para ouvir músicas. Aí você já tem uma
Ele disse que o GPS mostra certinho, mas lá relação diferenciada, já não é a mesma coisa,
errou. Então tem hora que a tecnologia funciona provavelmente a Ywatiniwa, ela sim vai nascer
na mata e outras vezes não. Nós voltamos pelo no computador.
caminho que eu conhecia.
Voltando lá para o machadinho de pedra, entre
Ivânia:Vocês sabem quando chegou a energia os antepassados de vocês. Também não era todo
mundo que sabia usar, não é? Assim, tem que um modelo legal, eles querem comprar. Lá é
pensar que aqui em Belém, nem todo mundo assim, quando começou essa história de
sabe usar o computador. Então a tecnologia é aparelho de som, um queria ter um maior do que
assim: ela é heterogênea, a sociedade usa a outro.
tecnologia de forma diferenciada.
Murué: A gente tinha um som e não olhava
Tiapé: Para mim, eu entendo assim, tem dois muito pra essa disputa. A gente queria era
tipos de tecnologia: a tecnologia natural e a dançar e se divertir
tecnologia eletrônica. A tecnologia da natureza,
Tiapé: O primeiro som que eu tive foi uma
a gente pega e transforma em nosso beneficio.
radiola, que funcionava à pilha. Porque
Em relação à tecnologia inventada, minha mãe e
antigamente era disco, depois passou pra fita,
meu pai nem chegam perto da televisão, eles
CD e agora é só no celular! É incrível, no
nem sabem mexer. Eu tenho de ensinar pra eles
aparelhozinho cabe muita coisa. Antigamente
ligarem, mas não tem jeito, não. Para os mais
num CD cabia pouca música. Cada vez mais o
jovens essa tecnologia é como brinquedo.
celular vai diminuído e vai chegar num tamanho
Hellen: O celular também foi assim como a de grão de areia.
televisão?
Ivânia: É interessante, Tiapé, este movimento
Tiapé: O celular na terra Sororó não pega, já da tecnologia de reproduzir as coisas menores,
pegou um dia. Quando a gente vai para a cidade, pode até mesmo evitar, essa grande quantidade
ele é uma forma de se comunicar, porque fica de lixo eletrônico. Onde vão parar essas coisas
muito difícil a gente voltar pra aldeia. Às vezes antigas? Isso é um problema! Pensar num país
a gente liga para o telefone público da aldeia só como o Japão, um país que tem mais recurso, a
para perguntar se é para trazer mais alguma quantidade de computador que vai para o lixo é
coisa da cidade. grande, eles não tem onde colocar esse lixo
tecnológico.
Ivânia: Em 2008, quando realizava meu
trabalho de campo do doutorado, em Porto Hellen: Aí que vem aquela fala de ainda agora
Alegre, encontrei com um Cacique Mbyá- em relação à disputa. As pessoas disputam para
Guarani e perguntei por que ele tinha aquele ver quem tem o aparelho melhor, ainda que nem
celular. Ele me respondeu: “Eu acho bonito, tá saibam usar todos os recursos. É o estimulo do
pensando que a gente só pode ter coisa ruim da consumo. Não é nem para se contentar, é
sociedade de vocês? A gente também tem que porque eu tenho que comprar, não porque está
ter o que é bom! Tá pensando que só vocês velho, é porque já tem alguma coisa no novo,
podem ter essa tecnologia bonita?”. que já não no antigo.
Vocês, Aikewára, tem muito contato com as
Ivânia: Agora falando em novidade, quando
coisas ruim, então por que não ter contato com
vocês viram aquele registro da companhia de
aquilo que é bom? Eu me lembro de ter visto lá
energia elétrica? As pessoas entenderam logo
na aldeia alguns celulares bonitos.
que é ele que mede o valor em dinheiro que
Tiapé: É, o pessoal acompanha a tecnologia! vem na conta?
Aparece assim uma coisa boa, eles querem, tem
Tiapé: quando chegou a energia lá, veio um Hellen: Os mais jovens é que tem mais? Os
representante da companhia e eles explicaram o mais velhos não tem? A Arihêra usa o celular
consumo e a nova tecnologia. Antes a gente para se comunicar?
usava de qualquer jeito sem se preocupar, agora
Tiapé: Não. São os mais novos. O meu irmão,
não, é diferente lá.
que é jogador de futebol, quando ele vai para a
Ivânia: Mas eles conseguem entender que eles cidade, ele coloca as coisas no celular, leva pra
vão pagar aquilo que tá marcando ali naquele aldeia e passa para os outros.
papel?
Ivânia: Mas ele leva coisas dos Aikewára na
Tiapé: É a gente paga o que vem ali. Mas internet?
quando chega a conta de energia alta, a gente vê
Tiapé: Encontra! Mas tem celular que pega
gente reclamando.
coisa da internet e tem celular que não pega não.
Ivânia: Aqui em Belém há pessoas que sempre
Ivânia: E como para vocês se verem na
arrumam um jeito de burlar a conta de energia
internet?
alta.
Tiapé: É bom a gente se ver e ter como arquivar
O mundo digital já atravessa a cultura de vocês.
o que se passa na aldeia no dia a dia.
Além dos registros da companhia elétrica,
quando nós produzimos os DVDs, as fotos, o Hellen: Continua o mesmo interesse dos
blog tudo isso aí é digital. Esta tecnologia, Aikewára em relação aos vídeos na casona? O
assim como os terçados do passado pode ser que vocês estão assistindo? Estão assistindo de
usada para favorecer a vida, mas também pode outras comunidades?
ser usada para matar as pessoas. A mesma coisa
Tiapé: A gente se reúne e acompanha os filmes
acontece com o digital. O ambiente digital
dos Guarani, mas vê o Chaves também.
depende muito do que as pessoas vão fazer com
ele.
Minha pesquisa na internet iniciou de forma exploratória, em 2010, utilizando palavras-chaves no Google e no Twitter, quando os tweets
(textos de 140 caracteres) eram meu corpus de pesquisa. Neste primeiro momento, fiz download de artigos, explorei sites, blogs e perfis no
Twitter que assumiam alguma identidade indígena.
Passei a observar alguns tweets dos perfis encontrados, de maneira aleatória, somando uma média de 8h de pesquisa semanais, geralmente
no turno da tarde. De todo modo, a timeline (linha do tempo) da plataforma possibilitava o acesso aos conteúdos postados em qualquer horário,
caso não tivessem sido removidos.
Selecionei, em seguida, os conteúdos mais relevantes de pessoas e instituições ligadas às sociedades indígenas. Foi quando passei a
acompanhar os perfis do Instituto Socioambiental e seus programas Povos Indígenas no Brasil e Povos Indígenas no Brasil Mirim.
Minha dissertação ainda se delineava em paralelo a isso, tanto quanto às referências teóricas, como quanto ao trabalho de campo. Foi
quando ocorreu o 1º Simpósio Indígena de Usos da Internet no Brasil, realizado pela Universidade de São Paulo (USP), em novembro de 2010.
Após o evento, pude assistir aos vídeos disponibilizados pelo site, ter acesso aos nomes completos dos participantes indígenas e a uma listagem
de 34 links com os blogs e sites de etnias naquele momento atuantes na web, inclusive etnias que não estiveram presentes no evento. Além dos
blogs e sites, neste momento, meu trabalho também se direcionava para a rede social Facebook.
Em meio à velocidade das transformações do nosso tempo, o Facebook cresceu bastante em importância em relação a outras plataformas,
nos últimos três anos. Seus mais de 700 milhões de usuários a fizeram, inclusive, ganhar as telas do cinema com o longa-metragem intitulado “A
Rede Social”, dirigido por David Fincher. Sua estrutura, que reúne características aprimoradas da rede social Orkut, com algumas ferramentas do
Twitter, conquistou rapidamente a sociedade global, aparecendo, nas pesquisas, posicionada entre as redes sociais preferidas do público de
diversos países, em especial do brasileiro.
As sociedades indígenas, de diversas etnias, em pouco tempo já faziam parte dos usuários desta plataforma. Neste momento, minha
dissertação migrou para o Facebook, onde representantes dos povos participantes do simpósio da USP se encontravam e onde pude visualizar
com maior intensidade as possibilidades da recepção ativa na web e as relações de poder estabelecidas nos discursos colocados em circulação
neste meio.
A presença destes indígenas no Facebook conferia um novo sentido para a minha pesquisa. Além do contato com os Aikewára, a partir
deste momento, passei a investigar as possibilidades de recepção ativa na internet com sujeitos que assumiam uma identidade indígena.
No período entre 30 de junho de 2011 e 10 de julho de 2011, realizei um mapeamento destes 34 links do simpósio, considerando de onde
eram as postagens, de que estados, se suas características eram de sites ou blogs, possibilitando comentários e outras participações em rede, o
total de posts publicados até o período da pesquisa, o início da atuação destes blogs e sites, os autores dos discursos no espaço ou alguma
ocorrência a ser destacada.
O mapeamento me permitiu uma melhor seleção dos próprios indígenas com os quais eu poderia interagir nas redes sociais. Os mais
atuantes escreviam nestes espaços, respondiam a perguntas, compartilhavam informações. Pude conhecer algumas realidades diferentes destas
sociedades, pelas próprias apresentações gráficas dos conteúdos. Após selecionar histórias e artigos relevantes para a dissertação, retornei ao
Facebook e mais esporadicamente ao Orkut e ao Twitter, para acompanhar ocorrências, os discursos colocados em circulação.
Meu acesso ao Facebook se tornou constante, mais de 20h semanais em média, de acordo com minha disponibilidade de tempo. A partir de
posts nesta rede social, eu “era levada” a outras redes sociais, a sites, a blogs, a bate-papos no próprio Facebook e fora dele, no MSN. Neste
momento, eu estava transitando por toda a rede e o Facebook passou a representar uma mediação mais completa pela maior participação indígena
na plataforma.
COLETA DE DADOS ENTRE OS DIAS 30/06/2011 E 10/07/2011
Links Onde? Total de Início Quem posta? / Ocorrência
posts
1. Blog Aikewára PA 71 4/05/2010 • Tiapé Suruí
• Gil Xavier
• Maurício Neves
• Mairá Suruí
• Ivânia Neves
• Lariza Gouvêa
• Alda Cristina
• Murué Suruí
*Colaboração do Blog Breados Online
2. Blog Ajindo – Ação MS 32 29/06/2009 As matérias não são assinadas. Há um espaço para comentários, pouco utilizado.
de Jovens A participação indígena é quase nula nos espaços assinados.
Indígenas de Coordenadora Geral: Prof. Maria De Lourdes Beldi de Alcantara
Dourados Coordenador Local: Itacir Pastore.
No setor de contatos, os jovens não assinam com sobrenomes indígenas.
3. Blog Aldeia MA 16 2009 A maioria das postagens são assinadas genericamente: Aldeia Zutiua. Alguns
Azutiua (Zutiua) artigos são assinados por indígenas especificamente. Ex.: Zezico Rodrigues
Guajajara
Professor e Líder Indígena Da Aldeia Presídio.
4. Site Aldeia Guarani SP _ (apenas 2000 Olívio Jekupé - Presidente
Krukutu descrições Nelson Karai Mirim - Vice Presidente
do site e Luiz Carlos Karai Rodrigues - Secretário
links, sem Marcelino da Silva - Segundo Secretário
dinâmica) José Karai Pires de Lima - Tesoureiro
Fabio Popygua - Segundo Tesoureiro
Obs: Na seção “escritores”, o presidente Olívio Jekupé escreve em 1ª pessoa,
mas o outro escritor indígena Luiz Carlos Karai não: Moro na Aldeia Krukutu
em São Paulo/SP, atual presidente da associação da aldeia, sou casado e tenho 4
filhos. Sou escritor e sou apaixonado pela natureza, pois além dela nos dar tudo,
me dá também a inspiração para escrever.
E : Escritor das coisas do dia a dia da comunidade indígena, é paranaense e mora
em São Paulo. Faz palestras para crianças e adultos, é monitor do Projeto CECI e
do Projeto de turismo da aldeia.Trabalha também como professor da língua
guarani Mbya e consultor de informática da aldeia. Gosta muito de viajar,
conhecer novos lugares e fazer novas amizades.
5. Site Aldeia Guarani RJ idem 2008 O pedagogo Domingos Nobre (principal)
Sapukai Na home há uma citação a respeito do indígena mais velho da aldeia.
Na seção “quem somos” aparece em primeiro lugar o indígena Algemiro da
Silva Karai Mirim
Todo o restante da equipe é formada por não-índios. Total da equipe: 6 pessoas.
6. Blog Aldeia Wederã MT 36 27/10/2007 Presidente: Paulo Cipassé Xavante
Tesoureiro: Leando Parinai´á
Secretária: Severiá Maria Idioriê Xavante
Consultor: Sonia M.C. Oliveira
As postagens são assinadas de forma codificada. Ex.: Cl@rix
Os textos são bem informais, diálogos sobre o cotidiano, etc.
7. Blog Apiwtxa AC 234 01/06/2007 Gal Rocha (Rede Povos da Floresta)
(em 2011 Comunidade Apiwtxa Ashaninka (genericamente)
somente Marcelo Piedrafita Iglesias,antropólogo (Direto do Amazonia.org.br)
3) Enlacenacional (site de notícias do Peru)
Leila Soraya Menezes (RCA Brasil)
((Carta de Moisés da Silva Pinhanta (Presidente da Apiwtxa - Associação
Ashaninka do Rio Amônia))_ Assinado genericamente: Apiwtxa
((Manifesto de Luiz Valdenir de Souza Nukini
Coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá
(OPIRJ);Fernando Henrique Kaxinawá
Presidente da Associação Kaxinawá do Rio Breu (AKARIB);Benki Piyãko
Ashaninka Vice-Presidente da Associação Ashaninka do Rio Amônia
(APIWTXA))_Assina genericamente: Apiwtxa
Altino Machado, jornalista
Líbia Almeida, Assessora Técnica da Apiwtxa Associação Ashaninka do Rio
Amônia
José Carlos dos Reis Meirelles chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental da
Funai na fronteira do Brasil com o Peru. Direto do Blog do Altino
Obs.: Prevalecem as assinaturas genéricas da Comunidade, porém pode-se
perceber as muitas ‘parcerias’, participações e links com instituições e pessoas.
A presença de Marina Silva em fotografias é constante, inclusive no São Paulo
Fashion Week _SPFW com uma roupa do povo Ashaninka
8. Site Associação MT _ (apenas (Entidade Depoimento do ancião Top´tiro, de idade desconhecida à Owa´u Ruri´õ
Warã descrições 1997) Legendas de Owa´u Ruri´õ.
do site e Texto de Hiparidi Dzutsi´wa Top´tiro
links, sem Legendas de Owa´u Ruri´õ.
dinâmica) Texto de Owa´ú Ruri´õ
Legendas de Tseretó Tsahobö.
Texto de Owa´ú Ruri´õ
Legendas de Tiago Tseretsu.
Depoimento do ancião Top´tiro, de idade desconhecida à Owa´u Ruri´õ
Acervo Warã
Legendas de Tseretó Tsahobö.
Os depoimentos sobre os rituais são de Hiparidi D. Top´tiro , Tiago Tseretsu e
Paixão Wahum´hi coletados pela etnóloga Sonia Dorta para a exposição "Viver a
Vida Xavante".
Desenho: Lucas Ruri´õ
9. Blog Baniwa Online AM 82 03/06/2008 Daniel (Dan Baniwa) primo de Ray Benjamin Baniwa
10. Blog do AM 41 17/04/2007 Ray Benjamin (professor da EIBC-Pamáali)
RaiBenjamim
11. Blog Sites SP 6 09/2007 Glaucia Pachoal (antropóloga)
Indigenas *Blog
com a
divulgaçã
o de links.
12. Blog BA 15 05/2010 Potyra Tê Tupinambá (ela tem outros dois blogs)
Cibercidadania *Copiado *Remete bastante ao site Índios Online
Indígena s de
outros
sites.
13. Site COIAB *9 _ 29/11/2007 Diversos: pessoas, instituições...
Estados. Não encontrei indígenas “falando” em minha amostra.
Sede em
Manaus;
Uma
represen
tação
em
Brasília.
14. Blog Coletivo MT 81 21/01/2010 Takumã kuikuro representando sua aldeia e as atividades de documentário
Kuikuro de Cinema produzidas pelo seu povo
15. Blog Escola MT 2 16/05/2010 Cl@rix, Clarix, Smyx, Cwx, Escola da aldeia wederã "Etenhiritipá "
indígena da Aldeia *As fotos dos perfis são de pessoas muito jovens, exceto a Smyx, uma jovem
Wederã senhora, aparentemente.
A Smyx é mãe de uma das Claras (Clarix, Cl@rix). Todas tem traços indígenas.
Cwx usa uma caricatura de “moleque” (de boné, etc)
16. Blog Escola AM 3 2004 Há um espaço no blog onde está escrito: “quem faz os posts” Raimundo
Paámali *A Benjamim- Comunicação Pamáali
respeito *Interage com internautas não-índios.Responde perguntas, dialoga.
das 3 **O blog organiza e enfatiza os comentários dos visitantes.
seções do
site. O
resto são
comentári
os de
visitantes.
17. Grupo Literatura A escritora Eliane Potiguara coordena esse grupo restrito à associados no Yahoo
_______ ________ _________ grupos.Não pude acessar!
Indígena Nos links é possível conhecer o seu site oficial.
18. Blog GTA – grupo Amazôn _ (apenas *Início do O Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), fundado em 1992, reúne 602 entidades
de trabalho ia Legal descrições grupo filiadas e está estruturado em nove estados da Amazônia Legal e dividido em
amazônico Sede: do site e 1992 dezoito coletivos regionais. Fazem parte da Rede GTA organizações não-
DF links, sem governamentais (ONGs) e movimentos sociais que representam diversos
dinâmica) segmentos.
“Em 1992, quando uma conferência mundial no Rio de Janeiro reconheceu que o
futuro do planeta dependeria do meio ambiente, movimentos sociais ecoaram em
todos os continentes que esse futuro ambiental também estava ligado com uma
outra justiça social e cultural. No Brasil, centenas de entidades populares e
técnicas da Amazônia uniram-se em uma rede denominada Grupo de Trabalho
Amazônico (GTA) criada para promover a participação das comunidades da
floresta nas políticas de desenvolvimento sustentável. A Rede GTA é formada
por 18 coletivos regionais em nove estados brasileiros que ocupam mais da
metade do tamanho do país, envolvendo mais de 600 entidades representantivas
de agricultores, seringueiros, indígenas, quilombolas, quebradeiras de côco
babaçu, pescadores, ribeirinhos e entidades ambientalistas, de assessoria técnica,
de comunicação comunitária e de direitos humanos.”
Sobre projetos e campanhas, concluídas e em andamento.
Possui citações indígenas.
Nas representações nacionais do GTA, só o indígena Almir Suruí aparece como
titular ou suplente.
Rubens Gomes é o Presidente do GTA
19. Blog Hutukara AM e _ (apenas *É possível Davi Kopenawa Yanomami
RR descrições ver os Presidente da Hutukara
do site e views dos davikopenawa@hutukara.org
links, sem vídeos, Mauricio Tome Rocha
dinâmica) linkados Vice-Presidente
aos mauricio.yekuana@hotmail.com
youtube, mauricioyekuana@hutukara.org
iniciando Dário Vitorio Xiriana
em Outubro Coordenador Setor de Saúde
Anexo 03: Discursos sobre inclusão social
A web 2.0 representa o ambiente em que os mais diferentes sujeitos podem ser
lidos, ouvidos, vistos e assistidos. Ela institucionaliza um novo tipo de conduta, não
mais limitado apenas às relações de poder que estabeleceram a administração dos gestos
de leitura no ocidente.
Por outro lado, considero importante mostrar esta realidade, para não reforçar
um discurso do governo Federal que afirma ter realizado a inclusão digital dos povos
indígenas no Brasil. No Simpósio realizado na UFBA, em outubro de 2011, na
conferência de Abertura: Redes Sociais na Internet, o professor Massimo di Felice,
fundador do Centro de Pesquisa ATOPOS (ECA/USP), coordenador das pesquisas
‘Redes Digitais e Sustentabilidade’ e a pesquisa comparativa internacional
‘Netativismo: ações colaborativas em redes digitais’ afirmou que as sociedades
indígenas brasileiras já passaram por um intenso processo de inclusão social, financiado
pelos pontos de cultura do MINC.
Em minha pesquisa, não encontrei uma participação indígena que confirme esta
afirmação.
08/06/2009 | Na Mídia, Notícias, Pernambuco, Região Nordeste
Mais Cultura promove inclusão digital de comunidades indígenas
Jornal iTeia (PE) - 08/06/2009 21:36h
MinC implantará 150 Pontos de Cultura em comunidades indígenas até 2010. Rodas de conversa iniciam
dia 3 de junho.
Na próxima quarta-feira (3), o Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura, inicia uma série de
rodas de conversa para promover a inclusão digital de comunidades indígenas de todo o Brasil. As
rodas fugirão do modelo tradicional de capacitação e buscam envolver as comunidades indígenas
com as novas tecnologias da informação (TICs) e com a produção de conteúdos audiovisuais a partir
de seus próprios referenciais. A ação será desenvolvida em parceria com a Fundação Nacional do
Índio (FUNAI) e com a Associação Cultura e Meio Ambiente (ACMA) – Rede Povos da Floresta,
responsável pela implantação do projeto e pela formação dos indígenas.
De 3 a 5 de junho, a roda de conversa acontece no Ponto de Cultura Indígena de Rio Branco, no Acre.
De 10 a 12 de junho, a roda será realizada no Centro Yorenka Ãtame, localizado no município de
Marechal Thaumaturgo, também no território acreano. De 20 a 22 de junho, o encontro será na sede
da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), no município de São Gabriel da
Cachoeira, Estado do Amazonas.
Cada Ponto de Cultura receberá um kit multimídia. O objetivo é que as comunidades indígenas
utilizem as novas tecnologias como ferramentas para a preservação e fortalecimento de sua
identidade cultural. De acordo com o secretário da Identidade e Diversidade Cultural do Ministério
da Cultura, Américo Córdula, “o uso de equipamentos multimídia nas comunidades indígenas, ao
contrário do que se imagina, têm reforçado a tradição oral e a busca dos mais jovens pelos
fundamentos de suas culturas tradicionais, que passam a ser objeto de uma enorme produção de
conteúdos audiovisuais e motivo para a intensificação das trocas com outras comunidades indígenas
e com os não-índios, que fomentaremos ainda mais através da articulação com a Rede Povos da
Floresta, a rede de Pontos de Cultura e a rede criada a partir do Prêmio Culturas Indígenas, dentre
outras.”
Composição do Kit Multimídia: Computador desktop com acesso à internet banda larga, leitor e
gravador de DVD, monitor 17 polegadas, teclado, mouse, par de caixas de som e placa de vídeo para
edição; servidor, placa de rede, cabos, conectores, no break, web cam, fone de ouvido com microfone,
placa de captura de vídeo, material para montagem de rede e estabilizador; filmadora digital, câmera
fotográfica digital, microfone supercardioide, bateria para filmadora, fone de ouvido e fita minidv;
kits de painel fotovoltaico, bateria, controlador de carga, módulo solar e inversor de voltagem de
12vcc para 110 V.
Fonte: http://clipmail2.interjornal.com.br/clipmail.kmf?clip=kqj1gp65q3&grupo=354515