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UMA NOVA QUESTÃO RELIGIOSA NO BRASIL


Dom João Evangelista Martins Terra, S.J.

No último quartel do período imperial, a Igreja Católica no Brasil foi abalada por
um violento entrechoque com a justiça imperial. Tratava-se da célebre “Questão
Religiosa” provocada pelo Ministério Rio Branco, 12 de junho de 1874: a prisão e
condenação do Arcebispo de Olinda e Recife: Dom Frei Vital Maria Gonçalves de
Oliveira.
Essa questão religiosa provocou a queda do Ministério Rio Branco; 17 de setembro
de 1875. Escrevi um livro a esse respeito: “Maçonaria e Igreja Católica” Ed. Santuário (o
livro está em sua 14ª edição).
É uma monografia que trata detalhadamente da “Questão Religiosa”. O fautor
da ‘questão’ foi Visconde do Rio Branco, chefe do gabinete imperial. Primeiro Ministro.
Grão-Mestre do Grande Oriente. A vítima foi o Arcebispo de Recife: D. Frei Vital Maria
Gonçalves de Oliveira. Foi acusado perante o Supremo Tribunal. Foi juridicamente
processado, condenado e tornou-se o primeiro mártir do Brasil católico imperial. Houve
um processo vergonhoso que manchou o Brasil em face a opinião pública mundial. Mas
pelo menos houve um arremedo de processo. Como D. Vital tinha previsto a
arbitrariedade monstruosa do processo fajuto, já tinha escolhido para substituto no
governo da diocese três sacerdotes virtuosos: primeiro, segundo e terceiro governador
diocesano.
A previsão do Arcebispo realizou-se. Cada um dos governadores eleitos foi
sucessivamente encarcerado pela prepotência sectária do Visconde Rio Branco. A
contestação mundial contra essa arbitrariedade provocou a queda do gabinete de Rio
Branco. Duque de Caxias, eleito para o cargo, exigia, como condição para a aceitação, a
anistia e a reparação devida ao Arcebispo.
Agora participamos de uma “Nova Questão Religiosa” muito mais escabrosa e
vergonhosa para o Brasil. Pela primeira vez, na história do Brasil e talvez na história
universal, um membro do Colégio Apostólico e toda a Cúria Diocesana é violentamente
agredida e aprisionada por uma justiça ignorante e irresponsável. A Igreja Católica tem
uma tradição jurídica bimilenar. E, de acordo com o código jurídico eclesiástico o Bispo
D. José Ronaldo e a cúria diocesana não cometeram nenhum delito. Todas as ações e
atuações do Bispo são ilibadas e estão respaldadas pela legislatura canônica e são
absolutamente honestas e legais.
Para elucidar ao leitor católico sobre a veracidade desta afirmação terei que dar
uma explicação. Fá-lo-ei em três pontos.
Primeiro ponto: que é Direito Canônico ou direito eclesiástico? Segundo ponto:
quem é o Bispo Dom José Ronaldo? Terceiro ponto: quem sou eu para pretender falar em
nome da Igreja Católica?
PRIMEIRO PONTO: Que é o direito canônico?
A Igreja Católica é uma sociedade perfeita. Tem um corpo jurídico bimilenar.
Possui um código jurídico completo, bem elaborado. É um acervo de 1752 leis, ou
cânones, divididos em 7 LIVROS. LIVRO PRIMEIRO: ‘Normas Gerais’ (7-203) (cada
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número indica um cânone). LIVRO SEGUNDO: ‘Povo de Deus’ (204-746). Este livro
contém três partes: primeira parte: ‘ I – Os fiéis. II – Hierarquia da Igreja: a) Suprema
autoridade, b) Igrejas Particulares (DIOCESE) (OS BISPOS), ORGANIZAÇÂO DA
DIOCESE = a) o conselho presbiteral (495-502). b) A CÚRIA diocesana (469-494). c) O
VIGÁRIO GERAL (495-502).
LIVRO TERCEIRO: O Magistério da Igreja: Múnus de ensinar (747-833).
LIVRO QUARTO: Múnus de SANTIFICAR (834-1253).
LIVRO QUINTO: Os bens temporais da Igreja (1254-1310). A administração
dos bens (1254-1272).
LIVRO SEXTO: As sanções da Igreja. Direito Penal (1311-1399).
LIVRO SÉTIMO: OS PROCESSOS (1400-1752). O juízo em geral. O juízo
contencioso. O processo penal.
Dentro desta ampla estrutura do Direito Eclesial, estão distribuídos 1752
cânones jurídicos. Apresentei este amplo esquema geral para que o leitor possa ter uma
fácil compreensão do Código de Direito da Igreja Católica. O que nos interessa neste
momento é o LIVRO II do Código de Direito Canônico, na sua edição oficial definitiva
de 1983. LIVRO II: Povo de Deus: Seção 1 A DIOCESE e o BISPO DIOCESANO (368-
430). A PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA (Arquidiocese) o Metropolita (431-459).
O regime da Diocese não é democrático. É teocrático. O BISPO DIOCESANO
é o príncipe absoluto. Só ele tem o poder absoluto de: ensinar, santificar e governar. Ele
deve escolher vários tipos de assessores. Mas todos assessores, inclusive o Bispo Auxiliar
só tem poder consultivo. Ninguém, a não ser o bispo diocesano, pode ter o poder
deliberativo. O Bispo Diocesano só depende do Papa, que pode nomeá-lo, transferi-lo, ou
depô-lo. É autônomo. Não depende da Conferência Episcopal, que não é de origem
divina. Cada diocese está inserida numa Província eclesiástica (A Arquidiocese) o
Arcebispo é o Metropolita. O Metropolita não tem nenhum poder nas dioceses
sufragâneas. Mas compete-lhe vigiar para que não haja abusos na disciplina eclesiástica
numa diocese sufragânea (436).
Cânon 381: Compete ao BISPO DIOCESANO todo poder ordinário próprio e
imediato (não recebe do Papa) para o exercício de seu tríplice poder (governar, ensinar,
santificar)
Can. 384: O Bispo deve ter especial solicitude pelos padres como seus auxiliares
e conselheiros (que não podem ter poder deliberativo). O Bispo deve ouvi-los, mas
somente ele é responsável pelas suas resoluções. O Bispo diocesano deve zelar que os
padres e conselheiros cumpram devidamente as obrigações próprias de seu estado (na
vida espiritual, intelectual e social). Deve cuidar igualmente de assegurar a eles honesto
sustento e assistência social.
Can. 391: Compete ao Bispo diocesano governar a Igreja particular que lhe é
confiada, com poder legislativo, executivo e judiciário
Can. 386-387: O Bispo Diocesano é o ‘responsável’ pela execução do poder de:
ensinar, santificar e governar com integridade na sua diocese.
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Can. 393: EM TODOS OS NEGÓCIOS JURÍDICOS da Diocese, o Bispo


Diocesano é o único representante. Na tradução oficial do CDC, no Brasil, este cânone é
sublinhado e vem com uma nota explicativa: ‘Deve-se alertar a autoridade cível sobre a
importância deste cânone. Pois Autoridade civil muitas vezes ignora e não compreende a
organização eclesiástica’ (CDC. Can. 393, nota)
Numa diocese pode haver paroquias riquíssimas e paroquias paupérrimas. O
Bispo pode consultar o conselho administrativo ou outro conselho a este respeito. Mas é
competência exclusiva dele remediar, de modo fraterno, as desigualdades alarmantes.
Na. 394: Cuide o Bispo diocesano que todos os ministérios e apostolados sejam
coordenados sob sua direção pessoal.
VIGARIO GERAL
Can. 477. O Vigário é nomeado livremente pelo Bispo e pode ser livremente
removido por ele.
Can. 480. O Vigário Geral deve referir ao Bispo as atividades já realizadas ou por
realizar; nunca proceder contra suas vontades e sua mente.
CHANCELER E NOTÁRIOS
Can. 483. O chanceler e os notários devem ser de forma inatacável e acima de
qualquer suspeita.
Can. 485. O Bispo Diocesano pode livremente destituir os notários.
ARQUIVO SECRETO
Can. 486. Em cada Cúria haja um arquivo fechado onde se guarda todos os escritos
e documentos de ordem espirituais e temporais.
Can. 487 Somente o Bispo tenha a chave desse arquivo secreto
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ECÔNOMO
Can. 492. O Bispo deve nomear conselho de economia e ecônomo peritos em
economia e direito civil. Can. 494. O ecônomo deve administrar os bens da diocese sob
autoridade do Bispo, ao qual deve prestar contas de sua administração.
CONSELHO PRESBITERAL
Can. 493. O Bispo Diocesano deve constituir um conselho presbiteral (um grupo
de sacerdotes = o senado do Bispo), com estatutos aprovados pelo Bispo.
Can. 500. Compete ao Bispo convocar e presidir o conselho
Can. 500 §2: O CONSELHO PRESBITERAL TEM VOTO SOMENTE
CONSULTIVO.
500 §3: O conselho NUNCA pode agir sem o Bispo Diocesano.
Can. 501 §3: O Bispo pode dissolver o conselho presbiteral.
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CONSELHO PASTORAL
Can. 514. Compete exclusivamente ao Bispo Diocesano convocar e presidir o
conselho pastoral que tem o voto CONSULTIVO.
PARÓQUIAS
Can. 515. Somente o Bispo Diocesano pode erigir, modificar ou suprimir
paróquias.
Can. 519. O Pároco exerce seu ministério sob autoridade do Bispo Diocesano,
como participante do ministério do Bispo.
Can. 328. É obrigação do Pároco o ministério da Palavra § 1 e o ministério da
Eucaristia § 2.
Can. 531.. Compete ao BISPO DIOCESANO PROVER À DESTINAÇÃO DAS
OFERTAS RECEBIDAS DOS FIEIS E ENTREGUES A CAIXA PAROQUIAL.
A Diocese de Formosa é sufragânea da Arquidiocese de Brasília. A única pessoa
competente, prevista pelo Direito Canônico para julgar se houve alguma violação da
disciplina eclesiástica na Diocese de Formosa é o Metropolita de Brasília. O Ministério
Público de Goiás e o Tribunal da Justiça de Goiás cometeram uma extrapolação de poder,
cometendo ato jurídico irresponsável e deram um testemunho de ignorância crassa no seu
proceder que atropela a alçada jurídico-eclesiástico do Metropolita de Brasília.
CRIME JURÍDICO DA JUDICATURA GOIANA
A judicatura goiana condena o bispo D. José Ronaldo pelo crime de violar leis
trabalhistas e desse modo ela comete o crime de violar o Decreto Nº 7, 107 de fevereiro
de 2010 que promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a
Santa Sé RELATIVO AO ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA DO
BRASIL.
Vários parágrafos são violados, de modo especial o ARTIGO 16 § I: “ I vínculo
entre os ministros ordenados (=sacerdotes) e a Diocese (=bispo) é de caráter religioso e
NÃO GERA VÍNCULO EMPREGATÍCIO.
O § II: As tarefas de molde apostólico, assistencial, de promoção humana são
realizadas a título voluntário.
Artigo 3º: A Diocese pode LIVREMENTE criar ou extinguir suas instituições
eclesiásticas.
Artigo 5º: OS Bispos Diocesanos podem, além dos fins religiosos, visar fins de
assistência e solidariedade social (por exemplo: cuidar de jovens, marginalizados e
excluídos) e prover ao desenvolvimento da própria atividade, gozando de todos os
direitos, imunidades, isenção e benefício atribuída às entidades com fim de natureza
semelhante.
Artigo 6º § I: A República Federativa do Brasil, em atenção ao princípio da
cooperação, reconhece que a finalidade própria desses bens eclesiásticos... deve ser
salvaguardada pelo ordenamento jurídico brasileiro.
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SEGUNDO PONTO: Quem é o Bispo Dom José Ronaldo Ribeiro?


Bispo de Formosa-GO, Dom José Ronaldo Ribeiro, nasceu em Uberaba,
graduado em Filosofia e Teologia pelo Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Brasília.
Desde o ano de sua ordenação começou uma obra social para jovens de rua, em
situação de risco social. Ele sozinho fez um apostolado social cultural de grande alcance.
Reuniu jovens marginalizados e excluídos socialmente e conseguiu reintegrá-los na
convivência social. Construiu um grande Centro Comunitário, construiu um notável
centro catequético e logrou construir uma belíssima igreja Nossa Senhora da Imaculada
Conceição.
Seu trabalho social teve grande repercussão na Capital Federal. Foi agraciado
com inúmeros títulos e honrarias conferidas pela Câmara Legislativa, pela Academia de
polícia, pelo Departamento da Polícia Federal. Recebeu o título de Cidadão Honorário de
Brasília, pela Câmara Legislativa e várias outras condecorações.
Em 2005 o Arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz, reconhecendo seu
apostolado extraordinário, nomeou-o como único Vigário geral da Arquidiocese de
Brasília e coordenador do Conselho Arquidiocesano de Assuntos Econômicos e
presidente do Centro Comunitário Imaculada Conceição.
No ano de 2007, o Papa Bento XVI o nomeou Bispo de Janaúba – MG, Diocese
criada no ano de 2000, que estava numa situação muito crítica com 13 paróquias com
parte do clero desorientada pela analise marxista da teologia. Em sete anos conseguiu
uma profunda reforma do clero, insistindo na fidelidade à oração e à vida espiritual.
Transferiu seus seminaristas para o Seminário Mater Eclesiae dos Padres Legionários de
Cristo, que, para mim, é um dos melhores seminários do Brasil. Organizou um notável
Centro Comunitário para os jovens de rua. Conseguiu recuperar para a convivência social
um número grande de cidadãos. Em 2012 convidou-me para pregar o retiro para o clero
diocesano. Admirei a probidade e zelo apostólico dos padres diocesanos
No dia 24 de setembro de 2014, O Papa Francisco nomeou D. José Ronaldo
bispo de Formosa-Go. A Diocese de Formosa foi criada em 1961. O primeiro Bispo foi
um padre religioso holandês: Dom Victor Joannes, SsCc. Foi Bispo de Formosa por 36
anos (1961-1997). O Segundo Bispo foi um franciscano conventual polonês Dom João
Wilk (1998-2005). O terceiro foi D. Roberto Beloto (2006-2014). Dom José Ronaldo
Ribeiro é o quarto Bispo de Formosa. Tomou posse no dia 22 de novembro de 2014.
Governa a Diocese há três anos apenas.
Tive a chance de atuar algumas vezes na Diocese de Formosa. Em 1996, o bispo
Dom Victor convidou-me para dar um curso de Bíblia ao clero. Em 2004, o Bispo D. João
Wilk convidou-me para uma semana intensiva de estudos bíblico para o clero. Durante o
governo de Dom Paulo Beloto visitei algumas vezes a Diocese a convite do governador
Roriz. Não fui convidado a dar nenhum curso.
Durante o governo de D. Victor, a Diocese tinha algumas residências religiosas
dos padres dos ‘Sagrados Corações’. Em 2010 parece que já não havia religiosos
masculinos atuantes na Diocese. Mas havia doze casas de freiras com 4 colégios. Formosa
possui então 22 Paróquias e 23 sacerdotes diocesanos. Dom José conseguiu, apesar da
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oposição do clero, construir um Mosteiro Cisterciense (beneditino). Quis trazer outros


padres religiosos para a Diocese, mas encontrou uma feroz oposição clerical.
Dom José Ronaldo instituiu várias comissões e pastorais. Mas os responsáveis
dessas pastorais só possuem o poder consultivo. Segundo o Direito eclesiástico nunca
podem ter o poder deliberativo. O Bispo Diocesano é autônomo e único responsável pela
existência e atuação dessas pastorais e comissão (cân. 1254).
O Direito Canônico Católico declara que o poder civil é incompetente para
intervir na administração da Diocese. (1254)
Cân. 1259 “ A Igreja pode adquirir bens temporais”
Cân. 1254 “ A diocese, independemente do poder civil, pode adquirir e alienar
bens temporários em vista de seus fins próprios. Os fins próprios da diocese são: cuidar
convenientemente do sustento do clero diocesano, praticar obras de caridade,
principalmente em favor dos pobres (cân 222 §2).
Cân. 1255: “A diocese tem capacidade jurídica para adquirir, administrar e
alienar bens temporais, de acordo com o direto eclesiástico.
Cân. 1256 “Todos bens temporais da diocese, são bens eclesiásticos e se regem
pelos cânones do direito canônico.
Cân. 1259: “ A diocese (o bispo diocesano) pode adquirir bens temporais.
Cân. 1261: “O bispo diocesano tem a obrigação de exigir dos fiéis o
cumprimento do Cân. 222: ‘os fiéis têm obrigação de socorrer às necessidades da Igreja
para as obras de caridade e para o honesto sustento dos ministros. Cân. 222 §2: “Os fiéis
têm a obrigação de promover a justiça social e socorrer os pobres com as próprias rendas”
Cân. 1263. “ O bispo diocesano tem o direto de exigir na sua diocese um tributo
em favor dos necessitados. Cân. 1276 § 2 Cabe ao bispo diocesano providenciar a
organização geral de administração dos bens de diocese”.
Cân. 1281: “Os atos praticados pelos administradores nomeados pelo bispo
diocesano são inválidos quando excedem os limites e o modo da administração ordinária”
Cân. 1281 § 2: “Compete ao bispo diocesano determinar quais são os atos que
excedem o limite e o modo da administração ordinária”
Cân. 1288: “ Os administradores não introduzam nem contestem nenhuma
lide (questão judicial) diante de um tribunal civil, sem licença escrita do bispo
diocesano. ”
Depois do Concílio Vaticano II, surgiram na Igreja Católica vários Movimentos
eclesiais. Esses movimentos é que dão vida às paróquias. Sem eles as paróquias (às vezes
com mais de 50.000 pessoas) estão mortas. O Pároco sozinho não pode conhecer e atender
a cada fiel paroquiano. Os diversos movimentos eclesiais são as células vivas da Paróquia.
Cada Pároco é alertado e incentivado por cada uma dessas células. Evidentemente, os
Párocos zelosos são constantemente despertados para agir. Para os Párocos preguiçosos
e irresponsáveis, esses movimentos são uns transtornos. Por isso, o clero de Formosa se
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opõe decididamente à instalação de um movimento eclesial. Prefere fazer uma opção pelo
marasmo e a morte.
Vou dar o exemplo de uma Diocese modelo. A Arquidiocese de Brasília-DF
possui 10 atuantes comissões pastorais, 13 pastorais, 10 movimentos eclesiais, 14
fraternidades, 24 comunidades novas.
A Diocese de Formosa não tem nenhum ‘Movimento Eclesial’. O Bispo Dom
José Ronaldo tem tentado desesperadamente introduzir alguns desses movimentos, como,
por exemplo, o ‘Caminho Neo-catecumenal’, a ‘Renovação Carismática Católica (RCC),
‘Shalom’, ‘Focolares’, ‘Palavra Viva’, etc. Mas nenhuma Paróquia aceita dar-lhes abrigo.
Alguns Párocos vivem amasiados, são dependentes de droga, irresponsáveis; não
celebram nos dias de semana, não rezam, não celebram a liturgia das horas. Dom Ronaldo
tentou recuperá-los para Cristo. Mas eles contra reagiram. Atropelaram o direito
eclesiástico. Apelaram para o direito civil. E nesse momento ficaram automaticamente
excomungados. De acordo com o cânone 1370 § 2, quem leva o bispo ao tribunal civil
fica automaticamente excomungado (pena latae sententiae). Alguns leigos facultosos
mamavam verozmente nos bens da Diocese. Eles e alguns Párocos irresponsáveis
depredaram a Diocese comprando alguns juízes e policiais, pagos nababescamente para
corromper secretários venais, orientando-os a manipular diariamente, durante dois anos,
os documentos da Cúria Diocesana, e ensinando as tricas e chicanas judiciais para
caluniar e denegrir o Bispo e os Padres honestos. Durante dois anos um sistema jurídico
e policial solerte adestrou padres e leigos corruptos a saturar a internet de calúnias vis
contra o Bispo e os fiéis honestos.
O Bispo tentou em vão desmascarar essas calúnias violentas arquitetadas por
uma justiça civil ignara e falaz. Certamente esses ‘Pilatos’ goianos não se esbaldaram
gratuitamente, durante dois anos, para arquitetar essa trama soez, para enredar um Bispo
Diocesano e denegrir toda a Igreja Católica. Certamente correram rios de dinheiro. Tudo
estava planejado para explodir na Semana Santa, que se transformou num satânico
‘feriadão’. A Diocese de Formosa e toda a Igreja Católica foram achincalhadas aviltadas
pela justiça e polícia goiana. A Diocese foi apodada de ‘quadrilha’ e o Bispo Diocesano
acusado de ‘chefe da quadrilha’. A justiça de Goiás foi hipostasiada por Pilatos e Caifás.
Dom José Ronaldo teve a ‘glória’ de encarnar a Paixão de Cristo.
O Direito Canônico comina a pena de interdito e excomunhão a toda aquele que
usar de violência contra pessoa revestida de dignidade episcopal (1370 §1). Dom José
Ronaldo, durante dois anos, foi violentado e vilmente caluniado. Foi grosseiramente
espoliado de seu traje episcopal e de sua cruz peitoral, impedido de celebrar a Eucaristia
e de receber visitas, foi preso num camburão de criminosos, apodado de chefe de
quadrilha pela enrustida judicatura goiana. A imagem da Igreja Católica espezinhada foi
estadeada pela suprema autoridade jurídica goiana e veiculada por todos os meios de
comunicação.
A odisseia e a via sacra do Bispo foram filmadas e vendidas para o Fantástico,
certamente por uma avultada soma. Foi teleportado para todo o planeta. Para denegrir e
achincalhar a Igreja Católica, o poder judiciário goiano não tergiversou e certamente terá
arrecadado uma fortuna fabulosa com suas tramoias fantásticas.
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No dia 7 deste mês, Dom José Ronaldo veio a Brasília para informar ao
Metropolita sobre a dolorosa situação da diocese sufragânea, por causa do seu denodado
esforço em santificar e aprimorar o clero, e sua obsessão em envidar todas suas forças na
recuperação de jovens excluídos da convivência social e em situação do risco. O
Metropolita achava-se ausente do Brasil, em Roma. Então Dom José Ronaldo veio
almoçar comigo, na minha residência. Convidou-me a pregar um retiro para o clero de
Formosa, na esperança de um possível aprimoramento de seu presbitério. Tive receio de
já não ter força para esse ministério. Pediu-me conselho. Aconselhei-o a convidar um
bom canonista para dar um curso de direito canônico ao clero. Ele convidou um dos
melhores doutores em Direito Canônico do Brasil. Ao chegar à Formosa, o canonista foi
acintosa e arbitrariamente aprisionado sob o pretexto de que teria vindo a Formosa para
ameaçar padres rebeldes.
Santo Deus! Desde quando um doutor em Direito pode fazer pressão. O poder
coercitivo é da polícia, não dos doutores. O doutor eclesiástico só tem o poder da verdade
e da interpretação da Lei. Será que no Brasil, nossos queridos juristas católicos não estão
vendo a eclipse total da judicatura, em Goiás.
PILATOS foi muito mais honesto que esses fajutos juízes goianos. Pelo menos
Pilatos teve a hombridade de declarar que ‘não via crime algum em Jesus’ (Lc 23,4). Teve
a coragem de procurar saber ‘qual era a verdade?’ (Jo 18,38). Coisa desconhecida e
desprezada pela justiça goiana que despreza a verdade.
A igreja não tem aqui na terra, um poder civil e um poder penal policial, mas
tem um poder penal divino. LIVRO VI (cânones 1311-1752). Possui um processo jurídico
que trata dos delitos e penas, na perspectiva dos direitos do homem (Cânones 1364-1399).
DELITOS CONTRA AS AUTORIDADES ECLESIÁSTICA E CONTRA A
LIBERDADE A IGREJA. Cânones 1370-1377.
O can. 1370 comina a pena de excomunhão a quem age contra pessoa revestida
de dignidade episcopal. Os padres que cometerem este crime além de excomungados,
ficam suspensos de poder de ordem e de poder de regime (Cân. 1333).
Os padres que não obedecem ao bispo diocesano e não acatam suas proibições
incorrem nas penas canônicas (Cân. 1371 § 2).
Cân. 1373 “Quem exorta publicamente aversão ou ódio dos súditos contra o
bispo diocesano ou incita os súditos à desobediência ao bispo, incorre em interdito e
excomunhão (Cân. 1374).
Cân. 1375 “Quem impede a liberdade no exercício do ministério eclesiástico
deve ser punido com justa causa”.
Cân. 1377 “Quem aliena bens eclesiásticos sem a licença do bispo deve ser
punido”.
Cân. 1385 “Quem ilegitimamente aufere lucro de espórtula de missas, seja
punido com censura eclesiástica”.
Cân. 1386 “ Quem visando lucro dá ou promete alguma coisa para alguém que
exerce cargo na Igreja, incorre na mesma pena canônica”.
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É inútil continuar. O poder civil não tem nenhum poder coercitivo no âmbito da
violação do direito eclesial. Uma interferência do poder civil no regime do direito
canônico da Igreja Católica é um crime, isto é, pecado mortal; quem viola gravemente
cânones do Direito eclesiástico incorre em excomunhão. A Igreja não tem poder de
excomungar, colocar no inferno. Ela só tem o poder de salvar. O poder de colocar no céu,
o poder de canonizar. Quando a Igreja excomunga, declara a um transgressor que, pelo
seu comportamento, ele se coloca fora da Igreja, fora da comunhão da fé cristã. Cristo
não faz nenhum milagre de castigo. A Igreja também não castiga ninguém. O bispo Dom
José não castiga ninguém. Ele procura desesperadamente mostrar aos rebeldes que eles
estão no caminho da condenação eterna. Devem arrepender-se para conseguir o perdão
divino.
TERCEIRO PONTO: Quem sou eu?
Não tenho nenhum título eclesiástico ou civil para escrever este artigo. Só tenho
minha idade de 93 anos, meu desmesurado amor à Igreja Católica, minha vivência de 76
anos de jesuíta e minha prolongada experiência sacerdotal de 62 anos em todos os
continentes: Europa, Ásia, África e América.
Para atrever-me a comunicar aos meus irmãos católicos meu parecer sobre a
situação da Diocese de Formosa e da humilhação sistemática da Igreja Católica por parte
do governo goiano, é que estou escrevendo.
Nasci em 1925, com 17 anos, em 1942 entrei na Companhia de Jesus. Em 1949
obtive minha licença em Filosofia, em Nova Friburgo. Em 1956 fui ordenado sacerdote.
Em 1957 consegui o mestrado em teologia e filosofia em São Leopoldo, RS. Fui destinado
a ser professor de Filosofia na Universidade Gregoriana, em Roma, professor de Teologia
na mesma Universidade romana e professor de Sagrada Escritura no Pontifício Instituto
Bíblico de Roma. Antes, porém, deveria obter o doutorado em Filosofia e Teologia, na
Gregoriana, e o doutorado em Sagrada Escritura no Pontifício Bíblico, nas respectivas
faculdades romanas. Fiquei 11 anos em Roma. Enquanto elaborava minhas teses de
láurea, nesse tempo, fui Diretor Acadêmico (repetidor) do Pontifício Collegio Brasiliano,
seminário romano das dioceses do Brasil!
De 1961 a 1964, estudei durante 4 anos na Universidade de Münster, i.W., na
Alemanha, obtendo a graduação em Orientalística, Línguas Semíticas e Arqueologia. Em
1964, fui destinado à Universitè Saint Joseph, de Beirute, no Líbano e participei de todas
as escavações arqueológicas que se realizavam no Líbano, na Síria, na Palestina e em
Israel. Durante dois anos fui capelão do grupo dos ‘alauítas’, na Síria, nos arredores de
Safita e de Tartous.
Em 1987 fui professor nos Estados Unidos, na LOYOLA University, em New
Orleans. Em 1986 passei um ano fazendo pesquisas na Universidade de Insbruck, na
Áustria.
Defendi minhas teses de láurea em Roma. A tese de Filosofia intitulada “ O Deus
dos Indo-Europeus” foi publicada pela LOYOLA e ganhou o prêmio Jabuti no ano 2000.
A tese de Teologia intitulada “A Angelologia de Karl Rahner” foi publicada pela Editora
Santuário. A tese de Sagrada Escritura, intitulada: “O Deus dos Semitas” foi publicada
pela LOYOLA.
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Em 1974 fui nomeado teólogo do CELAM (Conferência Episcopal da América


Latina). Durante dez anos (1974-1984) trabalhei como teólogo em Medellín e Bogotá.
Em 1984, o Papa João Paulo II nomeou-me membro da “Pontifícia Comissão Bíblica”
em Roma. Durante 10 anos (1984-1994) trabalhei com o Cardeal Ratzinger (Bento XVI)
como único representante da América Latina na P.C.B.
Em 1998 quando fui a Roma para assumir o múnus ao qual estava destinado pelo
Geral dos jesuítas, o Papa João Paulo II nomeou-me bispo auxiliar de Olinda e Recife.
Fui um bispo-professor. Dei aula de Teologia e Sagrada Escritura em todos os seminários
do Nordeste II e em 17 seminários de todo o Brasil. Preguei 50 retiros ao clero de várias
dioceses do Brasil. Mais de 150 bispos e 2 cardeais foram meus alunos. O número de
sacerdotes que foram meus alunos durante meus 70 anos de magistério, só Deus sabe!
Terminando este artigo quero recordar aos sacerdotes, leigos, juristas e policiais
responsáveis (irresponsáveis) pela prisão do Bispo de Formosa e pela profanação da
“Semana Santa”, aviltando a imagem da Igreja Católica, que estão automaticamente
(latae sententiae) excomungados. Recordo que a excomunhão não é castigo, mas um ato
de extremada misericórdia que alerta o culpado e o convida a se converter, a reparar a sua
falcatrua e assim voltar a comunhão eclesial para lograr a salvação eterna.
Eu também, no anseio de ver a querida Igreja que “Cristo santificou para vê-la
toda bela, sem mancha, sem ruga e sem defeito” (Ef. 5,25), lanço a excomunhão a todos
os que foram responsáveis e a todos os membros de suas famílias, esposas e filhos, na
esperança de que se arrependam, se convertam e reparem suas falcatruas. E assim
consigam ter uma Santa Páscoa, em vista da vida eterna. Amém.

Dom João Evangelista Martins Terra, S.J.


Bispo auxiliar emérito de Brasília-DF

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